Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
3 Ministério da Justiça e Segurança Pública Secretaria Nacional de Segurança Pública ANÁLISE CRIMINAL 1 – VERSÃO ATUALIZADA MJ BRASÍLIA 2017 4 Presidente da República Michel Temer Ministro da Justiça e Segurança Pública Torquato Lorena Jardim Secretário Executivo José Levi Mello do Amaral Júnior Secretário Nacional de Segurança Pública Carlos Alberto dos Santos Cruz Diretor do Departamento de Ensino, Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal Rinaldo de Souza Coordenadora-Geral de Ensino Ana Paula Garutti da Silva Coordenador de Análise de Eventos de Aprendizagem Armando Slompo Filho Secretaria Nacional de Segurança Pública 5 Ministério da Justiça e Segurança Pública Secretaria Nacional de Segurança Pública ANÁLISE CRIMINAL 1 – VERSÃO ATUALIZADA MJ BRASÍLIA 2017 6 © 2017 Secretaria Nacional de Segurança Pública Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte e não seja para venda ou qualquer fim comercial. Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Palácio da Justiça, Edifício Sede, 5º andar, Brasília-DF, CEP 70.064-900 Disponível também em: http://portal.mj.gov.br ISBN: Equipe Responsável Diretor do Departamento de Ensino, Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal Rinaldo de Souza Coordenadora-Geral de Ensino Ana Paula Garutti da Silva Coordenador de Análise de Eventos de Aprendizagem Armando Slompo Filho Ministério da Justiça Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP Créditos da 1ª versão Andrea de Oliveira Macedo – Mestre em Sociologia pela UnB Profa. Betânia Totino Peixoto – Professora da UFMG/CEDEPLA Prof. Marcelo Ottoni Durante – Professor Adjunto da Universidade de Viçosa Créditos da atualização (Fundação João Pinheiro) Alcendino Rezende Neto (bolsista) Betânia Totino Peixoto Eduardo Batitucci José Dias Neto Letícia Godinho de Souza http://portal.mj.gov.br/ 7 Câmara Técnica Antônio Casado de Farias Neto - SENASP Bernadete Cordeiro - Consultora Pedagógica Cristiane do Socorro Loureiro Lima Elias Milaré Junior - Benner Gustavo Camilo Batista Rafael Rodrigues de Sousa Vinicius Augusto de Mattos L Soares Roteirização Kátia Roseane Cortez dos Santos - Benner Vinícius dos Santos Villa - Benner Ilustração e Design Frank Paris - Benner Johnny Santos Oliveira - Benner Programação Jhonatan Edi Mervan Carneiro - Benner Jorge Ferreira Junior - Benner 8 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Ministério da Justiça 9 Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................................................................... 13 Objetivos do Curso .................................................................................................................................................................................. 14 Estrutura do Curso ................................................................................................................................................................................... 14 MÓDULO 1 ........................................................................................................................................................... 16 Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 16 Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 16 Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 16 Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação ......................................................................................................... 16 1.1 Dimensões do campo de aplicação ........................................................................................................................................ 16 1.2 Definição ........................................................................................................................................................................................... 17 Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento ..................................................................... 17 2.1 Nova perspectiva ............................................................................................................................................................................ 17 2.2 O trabalho do analista criminal ................................................................................................................................................ 18 Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos .................................................................................................................. 20 Aula 4 – Focalização das ações e o trabalho da análise criminal .................................................................................... 21 41. A dinâmica de trabalho do analista criminal ....................................................................................................................... 21 4.2 A focalização das ações ............................................................................................................................................................... 21 Aula 5 – Vertentes básicas ................................................................................................................................................................... 22 5.1 Vertentes da produção de conhecimento para segurança pública ............................................................................ 22 Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 25 Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 26 MÓDULO 2 ................................................................................................................................................................................................... 28 Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 28 Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 28 Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 28 Aula 1 – Métodos de abordagem ..................................................................................................................................................... 29 1.1 Abordagem e técnicas de análise ............................................................................................................................................29 1.2 Vantagens e limitações das técnicas de análise ................................................................................................................. 29 1.3 Métodos e técnicas X Aplicações ............................................................................................................................................. 32 Aula 2 – Contrução de um questionário ...................................................................................................................................... 32 2.1 Definição e relação com a pesquisa ....................................................................................................................................... 33 2.2 Elaboração de um questionário ............................................................................................................................................... 33 2.3 Contexto social da aplicação do questionário .................................................................................................................... 34 2.4 Estrutura lógica do questionário .............................................................................................................................................. 34 2.5 A estrutura do questionário ....................................................................................................................................................... 35 file://MGA-EAD001/Educação%20Interativa/Projetos%20Externos%20Clientes/Ministério%20da%20Justiça/1.%20Projeto%20MJ/3.%20Análise%20Criminal%201/5.%20Apostila/Apostila%20com%20ISBN/Apostila%20-%20AC%20-%20GB.docx%23_Toc488162065 file://MGA-EAD001/Educação%20Interativa/Projetos%20Externos%20Clientes/Ministério%20da%20Justiça/1.%20Projeto%20MJ/3.%20Análise%20Criminal%201/5.%20Apostila/Apostila%20com%20ISBN/Apostila%20-%20AC%20-%20GB.docx%23_Toc488162083 10 2.6 As perguntas .................................................................................................................................................................................... 35 2.7 Aspectos a serem observados ................................................................................................................................................... 36 2.8 Problemas que devem ser evitados ........................................................................................................................................ 36 2.9 Escala de respostas ........................................................................................................................................................................ 37 Aula 3 – Fontes de dados ..................................................................................................................................................................... 38 3.1 Fontes de dados ............................................................................................................................................................................. 39 3.2 SINESP – Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública ............................................................................. 40 3.3 Fontes alternativas de informação .......................................................................................................................................... 41 Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 44 Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 45 MÓDULO 3 ........................................................................................................................................................... 46 Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 46 Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 46 Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 46 Aula 1 – Conceitos básicos .................................................................................................................................................................. 47 1.1 Estatística e análise estatística criminal ................................................................................................................................. 47 1.2 Conceitos básicos .......................................................................................................................................................................... 47 1.3 Fluxo de execução da análise estatística ............................................................................................................................... 48 Aula 2 - Séries estatísticas .................................................................................................................................................................. 48 2.1 O que é uma série estatística? .................................................................................................................................................. 48 Aula 3 – Apresentação dos dados.................................................................................................................................................... 51 3.1 Construção de tabelas .................................................................................................................................................................. 51 3.2 Construção de gráficos ..................................................................................................................................................................... 52 Aula 4 – Estatística descritiva ............................................................................................................................................................ 54 4.1 Parâmetros para descrição dos dados ................................................................................................................................... 54 Aula 5 – Análise de regressão ............................................................................................................................................................ 65 5.1 Origem ............................................................................................................................................................................................... 65 5.2 Objetivos da regressão ................................................................................................................................................................ 66 Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 67 Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 69 MÓDULO 4 ........................................................................................................................................................... 70 Apresentação ...............................................................................................................................................................................................70 Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 70 Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 70 Aula 1 – Estatística espacial: conceitos básicos ....................................................................................................................... 70 1.1 Geoprocessamento ....................................................................................................................................................................... 70 1.2 Coleta de dados georeferenciados ......................................................................................................................................... 71 file://MGA-EAD001/Educação%20Interativa/Projetos%20Externos%20Clientes/Ministério%20da%20Justiça/1.%20Projeto%20MJ/3.%20Análise%20Criminal%201/5.%20Apostila/Apostila%20com%20ISBN/Apostila%20-%20AC%20-%20GB.docx%23_Toc488162107 file://MGA-EAD001/Educação%20Interativa/Projetos%20Externos%20Clientes/Ministério%20da%20Justiça/1.%20Projeto%20MJ/3.%20Análise%20Criminal%201/5.%20Apostila/Apostila%20com%20ISBN/Apostila%20-%20AC%20-%20GB.docx%23_Toc488162127 11 1.3 Coordenadas geográficas ........................................................................................................................................................... 71 Aula 2 – Projeções cartográficas ...................................................................................................................................................... 72 2.1 Projeções cartográficas ................................................................................................................................................................ 72 2.2 Tipos de projeções ........................................................................................................................................................................ 72 Aula 3 – Escala cartográfica ................................................................................................................................................................ 73 3.1 O que é uma escala cartográfica .............................................................................................................................................. 73 3.2 Formas de escala cartográfica ................................................................................................................................................... 73 Aula 4 – Construção de mapas no Sistema de Informação Geográfica (SIG)............................................................ 74 4.1 Representações de objetos geográficos ............................................................................................................................... 74 Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 78 Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 80 MÓDULO 5 ........................................................................................................................................................... 81 Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 81 Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 81 Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 81 Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal ............................................................................. 82 1.1 Abordagem ecológica do crime ............................................................................................................................................... 82 1.2. O objetivo da abordagem ecológica do crime ............................................................................................................. 82 1.3 Correntes teóricas .................................................................................................................................................................... 82 Aula 2 – Exemplos de gestão de políticas e ações de segurança pública ................................................................... 83 Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados ................................................................................................................... 85 Aula 4 – Estrutura do relatório de análise criminal ............................................................................................................... 89 4.1 Definição ..................................................................................................................................................................................... 89 4.2 A Estrutura do relatório de análise criminal .................................................................................................................. 89 Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 91 Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................................................... 94 file://MGA-EAD001/Educação%20Interativa/Projetos%20Externos%20Clientes/Ministério%20da%20Justiça/1.%20Projeto%20MJ/3.%20Análise%20Criminal%201/5.%20Apostila/Apostila%20com%20ISBN/Apostila%20-%20AC%20-%20GB.docx%23_Toc488162145 12 13 APRESENTAÇÃO Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso de Análise Criminal. A seguir, veja a apresentação do tema proposto, os objetivos esperados, a importância da análise criminal e como ela é fundamental para que se obtenham resultados efetivos no âmbito da segurança pública. Bons estudos! Segundo alguns autores há três tipos de mentiras sobre a estatística: as mentiras, as mentiras sérias e as estatísticas. Veja algumas delas: “Os números não mentem, mas os mentirosos forjam os números.” “Se torturarmos os dados por bastante tempo, eles acabam por admitir qualquer coisa.” O historiador Andrew Lang disse que algumas pessoas usam a estatística “como um bêbado utiliza um poste de iluminação – para servir de apoio e não para iluminar”. Quais são as razões para que essa visão persista? Por que fazer análise criminal? Estas são algumas das perguntas que servirão de base para os seus estudos sobre o tema em questão. As principais razões para a produção de impressões distorcidas da realidade a partir das estatísticas são: O uso de pequenas amostras. Distorções deliberadas. Perguntas tendenciosas. A elaboração de gráficos enganosos. Pressões políticas. Este curso tem como propósito a construçãode um alicerce que amplie a formação de analistas criminais no Brasil. Dessa forma, a perspectiva é contribuir para que novos conteúdos relacionados às modernas técnicas de análise sejam agregados em futuro próximo. Aqui você estudará os conceitos básicos da análise estatística que fundamentam o processo de análise criminal. 14 14 Objetivos do Curso Ao finalizar o curso, você será capaz de: Reconhecer a importância da análise criminal; Descrever os principais conceitos e aplicações da estatística criminal; Identificar as técnicas e instrumentos que possibilitam a coleta de informações; Aplicar os conceitos básicos relacionados à estatística para compreender melhor as técnicas utilizadas na análise criminal; Identificar os diferentes tipos de mapas, relacionando-os às suas informações; Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a ope- racionalização da análise criminal. Identificar os diferentes tipos de mapas relacionando às informações que reúnem; Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a operacionalização da análise criminal. Estrutura do Curso O curso está dividido nos seguintes módulos: Módulo 1 – Por que fazer análise criminal? Módulo 2 – Coleta de informações Módulo 3 – Análise Estatística Criminal Módulo 4 – Sistemas de Informação Geográfica Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal Bom curso! 15 16 16 Apresentação Seja bem-vindo(a) ao primeiro módulo deste curso! Neste módulo, você estudará a importância da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento e a sua contribuição para a gestão das ações de segurança pública. Objetivos do módulo Ao final do módulo, você será capaz de: Definir análise criminal e identificar as contribuições para a gestão da segurança pública; Compreender os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do foco nas ações de análise criminal; e Classificar a produção de conhecimento em segurança pública de acordo com as vertentes utilizadas. Estrutura do módulo O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento Aula 3 – Análise criminal X alocação de recursos Aula 4 – Focalização das ações da análise criminal Aula 5 – Vertentes básicas E, então, você está preparado(a) para iniciar a primeira aula? Nesta aula, você aprenderá mais sobre a análise criniminal e o seu campo de aplicação. Vamos lá! Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação 1.1 Dimensões do campo de aplicação O campo de aplicação da análise criminal pode ser descrito a partir de duas dimensões principais: Orientar os gestores quanto ao planejamento, execução e redirecionamento das ações do sistema de segurança pública, contribuindo para a melhoria na distribuição dos recursos materiais e humanos; e MÓDULO 1 POR QUÊ FAZER ANÁLISE CRIMINAL? 17 Dar conhecimento à população e a outros órgãos governamentais e não-governamentais quanto à situação da segurança pública, auxiliando suas participações efetivas na gestão e execução das ações. 1.2 Definição A definição de análise criminal abrange muito mais que um simples traçado de gráficos, tabelas e mapas. Constitui-se no uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles tirar CONCLUSÕES. A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos, por meio dos quais tratam as informações para tentar conhecer as causas que determinam o fenômeno da segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais influências cabem a cada uma dessas causas. Você concluiu a primeira aula! Vamos prosseguir? Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos cria a necessidade de repensar a forma como a segurança pública é feita. Os profissionais dessa área devem se questionar sobre os resultados esperados de sua atividade profissional, assim como sobre a forma de agir para cumprirem essa expectativa: como fazer mais com menos recursos? Para responder a questão levantada no slide anterior – como fazer mais com menos recursos? – é preciso passar da reação para a ação. Ao invés de apenas reagir diante de uma cadeia de incidentes, a principal estratégia para quebrar esse ciclo é a execução de ações preventivas para a criação de ambientes seguros. Importante! Essa é a nova perspectiva que contrasta com a forma tradicional de pensar policiamento. A atitude mais comum é o pronto atendimento à vítima, mas dessa forma, o alcance de resultados depende somente do aumento do efetivo e da compra de armas e viaturas. 2.1 Nova perspectiva A nova perspectiva de policiamento requer que: A polícia examine de modo detalhado cada um dos problemas a serem abordados, identifica do suas causas; Leve em consideração um conjunto bastante amplo de opções para intervir sobre essas causas; e 18 18 Escolha a opção a ser utilizada com base em uma relação de custo e benefício, pautada no alcance de resultados. Observa-se uma mudança na lógica de gestão, pois o objetivo prioritário deixa de ser apenas a solução dos crimes que já ocorreram e passa a ser a manutenção de um ambiente social onde não ocorra nenhum crime, as pessoas possam andar nas ruas tranquilamente e a sensação de segurança seja compartilhada por todos e todas, independentemente de suas características culturais, econômicas e naturais. 2.2 O trabalho do analista criminal Atualmente, o trabalho do analista criminal está limitado à tabulação dos registros sobre os crimes. Em poucas situações, observa-se a análise dos padrões de vitimização, tendo como foco principal a identificação do perfil de quem deve ser preso e, em situações escassas, essa análise busca identificar fatores urbanos e populacionais associados aos padrões de incidência criminal. Essa situação fica ainda mais precária quando se questiona o uso das conclusões dessas análises na gestão das ações e políticas de segurança pública. Os processos de tomada de decisão baseados na rotina e na autoridade, marcados pela indiferença quanto aos resultados a serem alcançados em perspectiva sistêmica, ainda prevalecem. Uma das explicações para essa situação é a grande falta de analistas criminais bem treinados e compromissados com sua atividade. Importante! O bom analista criminal não espera uma demanda de informação para iniciar seu trabalho. Espontaneamente, ele passa todo seu tempo de trabalho buscando identificar problemas que devem ser resolvidos, avalia as principais causas do problema para identificar as respostas com o maior potencial de efetividade e traça um projeto de execução que sempre parte da diretriz que é preciso aprender com os resultados alcançados, quer sejam positivos ou negativos. Outro importante ponto a ser destacado no trabalho do analista criminal é a existência, entre esses profissionais, de uma concepção modesta sobre a importância do seu trabalho, visto sempre como um trabalho de bastidores. É preciso repensar essa concepção. O analista criminal tem importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de segurança pública, pois tem influência direta sobre o processo de tomada de decisão, assim como sobre a forma de resolver o problema. Mais que uma fonte de informações, o analista criminal deve assumir o papel de conselheiro. Mais que um técnico especialistaem análise de dados, o analista criminal deve agir como um pesquisador que visa trazer as melhores contribuições possíveis da ciência para o aperfeiçoamento do trabalho policial. No quadro funcional dos órgãos de segurança pública, o analista criminal é a pessoa com maior conhecimento sobre o processo de produção e coleta de informações, a análise de dados e sobre a avaliação de resultados. Além disso, é a pessoa com maior capacidade de encontrar fontes alternativas de dados e 19 relatórios que podem ser utilizados para dar sustentação e aperfeiçoar as análises a serem empreendidas e as conclusões a serem alcançadas. A importância do trabalho do analista criminal foi demonstrada em uma pesquisa sobre a efetividade das estratégias de ação policial desenvolvida nos Estados Unidos, em 2003. Veja na Fgura 1 um quadro de avaliação de resultados de diferentes estratégias de policiamento. As estratégias selecionadas pela pesquisa foram distribuídas considerando dois eixos principais: a focalização do objeto alvo da ação (eixo horizontal) e a ampliação do conjunto de estratégias de policiamento utilizadas (eixo vertical). A partir da Figura 1, percebe-se que a perspectiva restrita apenas ao reforço da lei foi trocada por uma perspectiva mais abrangente que inclui uma aproximação da polícia com a comunidade, além da realização de ações sociais. 20 20 Observe que, no contexto da estratégia tradicional, a focalização é baixa e a estratégia envolve apenas o reforço da lei (perspectiva jurídica). A pesquisa conclui que não existem evidências empíricas de um resultado efetivo das ações em relação à redução da incidência criminal. Por outro lado, no policiamento orientado para o problema (Clarke & Eck, 2007), marcado pela focalização da ação e pelo uso de um conjunto diversificado de estratégias orientadas para a solução dos problemas abordados, a pesquisa identificou fortes evidências empíricas de um resultado efetivo em relação à redução da incidência criminal. O policiamento orientado para o problema tem como principal estratégia de intervenção a promoção de mudanças nas condições que fazem do crime um problema repetitivo. Ele apresenta um grande avanço em relação à estratégia tradicional de policiamento, pois objetiva um resultado mais efetivo do que o alcançado pelas respostas reativas aos incidentes e pelas patrulhas policiais preventivas. Nesta aula, você viu vários aspectos sobre o trabalho do analista criminal frente à nova perspectiva de policiamento! Vamos prosseguir para a próxima aula? Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos O aumento de recursos financeiros investidos é suficiente para o alcance de resultados? No âmbito nacional, uma constatação científica de Cerqueira e Lobão (2003) expôs que que a efetiva solução dos problemas de segurança pública nunca resultará apenas do aumento dos recursos gastos pelos órgãos de segurança pública. Baseados em informações sobre os fatores associados à incidência de homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre 1980 e 2003, eles concluíram que o aumento das despesas com segurança pública não está relacionado estatisticamente à redução da incidência de homicídios. Dos fatores considerados por Cerqueira e Lobão (2003), a redução da desigualdade social foi o único relacionado diretamente à redução da incidência de homicídios. Cabe ressaltar, no entanto, que os autores consideraram os gastos em segurança pública sem separá-los e sem analisar as possibilidades de distribuição e aplicação desses recursos efetivos na própria área. Para alcançar resultados reais, não basta aumentar o volume de recursos financeiros investidos. É preciso analisar as alternativas de intervenção e investir os recursos conforme as relações entre custo e benefício de cada alternativa. Essa questão aponta para a importância do analista criminal, que fornece o subsídio tanto para a tomada de decisão quanto para o investimento. Por fim, a pesquisa destaca a necessidade de trabalhar com estratégias de intervenção que ultrapassem o âmbito das ações tradicionais de polícia, pois a melhor perspectiva de resultado foi observada quando reunidas todas as estratégias de ação de forma conjunta: Ações policiais; Redução da desigualdade social; e 21 Aumento da renda per capita. SAIBA MAIS... Antes de prosseguir, leia o texto em anexo: Recorte 1: “A análise criminal contribuindo para mudanças na política nacional.”, que está nos anexos do curso. Nota: Há na REDE EAD um curso de Policiamento Orientado para o Problema. Matricule-se para o próximo ciclo, caso ainda não tenha cursado. Nesta aula, você estudou sobre a Análise criminal e a Alocação de recursos. Vamos prosseguir? Aula 4 – Focalização das ações e o trabalho da análise criminal 41. A dinâmica de trabalho do analista criminal Em relação à dinâmica de trabalho do analista criminal, pode-se, didaticamente, dividi-la em quatro etapas: Sistematização e análise dos dados de segurança pública, buscando identificar padrões de incidentes; Submissão desses padrões a uma profunda análise buscando identificar suas causas; Identificação de formas de intervenção nas relações causais encontradas para cessar a ocorrência dos incidentes; e Avaliação do impacto das intervenções e, caso haja ausência de impacto, reinício do processo. No contexto do policiamento orientado a problemas, as formas de intervenção devem ser concebidas de maneira ampla, não se restringindo apenas às ações tradicionais de polícia. Por outro lado, o fluxo de trabalho de análise envolve a contínua coleta e sistematização de novos dados que podem resultar em mudanças radicais nas ações que já vêm sendo executadas. 4.2 A focalização das ações Para a análise criminal ser mais eficiente, as quatro etapas expostas anteriormente precisam ser aplicadas a um problema focalizado. Dois pontos merecem destaque quando se discute a questão da focalização das ações: A valorização de uma perspectiva local de ação; e A focalização de tipos criminais específicos para intervenção. 22 22 4.2.1 A valorização de uma perspectiva local de ação Ao focalizar uma perspectiva mais local, o analista criminal faz com que sua instituição seja mais bem informada, eficiente e capaz de usar seus recursos para reduzir o crime. A perspectiva local atribui ao analista criminal maior capacidade para investigar e identificar as causas do problema abordado. Essa orientação do trabalho numa perspectiva local propõe que o analista: Converse com os policiais sobre como eles concebem seu trabalho; participe diretamente de atividades desenvolvidas pelos órgãos de segurança pública; troque informações com profissionais das empresas de segurança privada; crie uma rede com analistas criminais das regiões vizinhas; colete informações diretamente com agressores e vítimas; e busque contribuir para aprimorar os processos de coleta de informação. 4.2.2 A focalização de tipos criminais específicos para intervenção A focalização nos tipos criminais permite ao analista especificar as causas particulares, os atores e as dinâmicas de cada tipo de crime, permitindo uma análise mais apurada do fenômeno criminal. Caso essa focalização não seja realizada e uma categoria criminal ampla (roubo, por exemplo) seja considerada como problema, torna-se difícil identificar as causas do problema. Cada tipo de roubo – em estabelecimento comercial, residência, transporte coletivo, de carga, dentre outros – possui suas causas específicas, resulta de diferentes motivações e envolve atores distintos em termos de conhecimento, habilidade e organização. Importante! Cada tipo criminal específico tem causas particulares e recomenda-se que as intervenções sejam focalizadas em cada um deles separadamente. Parabéns, você está quase no fim deste módulo!Vamos prosseguir para a última aula? Aula 5 – Vertentes básicas 5.1 Vertentes da produção de conhecimento para segurança pública Magalhães (2007) destaca três grandes vertentes básicas do trabalho de produção de conhecimento voltadas para a gestão em segurança pública: Análise criminal estratégica; Análise criminal tática; e Análise criminal administrativa. Veja a seguir cada uma delas. 23 5.1.1 Análise criminal estratégica (ACE) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas influências a longo prazo. Entre seus principais focos estão: Formulação de políticas públicas; Produção de conhecimento para redução da criminalidade; Planejamento e desenvolvimento de soluções; Interação com outras secretarias na construção de ações de segurança pública; Direcionamento de investimentos; Formulação do plano orçamentário; Controle e acompanhamento de ações e projetos; e Formulação de indicadores de desempenho. Seu principal objetivo é: Trabalhar na identificação das tendências da criminalidade. Exemplificando... Se o analista identifica que o fenômeno criminal apresenta uma tendência ascendente, essa informação será utilizada para formular e determinar prioridades das ações dos operadores do sistema de segurança pública. 5.1.2 Análise criminal tática (ACT) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas influências em médio prazo. Essa vertente estuda o fenômeno criminal visando fornecer subsídios para os operadores de segurança pública que atuam diretamente “nas ruas”. Nesse sentido, o conhecimento é utilizado pelas polícias ostensivas e investigativas. No caso da Análise Criminal Tática, a produção de conhecimento serve para: Orientar as atividades de policiamento ostensivo nas atividades preventivas e repressivas. Exemplo: Identificação de pontos quentes, correlacionando dia e horários críticos; e Subsidiar a polícia investigativa nas soluções das ocorrências criminais, principalmente na busca da autoria e materialidade dos delitos. Seu principal objetivo é: Trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais. 5.1.3 Análise criminal administrativa (ACA) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público-alvo. A atividade nessa vertente se assemelha à de um editor-chefe, pois tem o objetivo de selecionar os assuntos divulgados para cada cliente. Entre seus principais focos estão: Fornecimento de informações sumarizadas para seus diversos públicos – cidadãos, gestores públicos, instituições públicas, organismos internacionais, organizações não-governamentais etc.; Elaboração de estatísticas descritivas; 24 24 Elaboração de informações gerais sobre tendências criminais; Comparações com períodos similares passados; e Comparações com outras cidades similares. Seu principal objetivo é: Trabalhar as estatísticas criminais de forma descritiva. Finalizando... Parabéns! Você finalizou este módulo! Aqui, você aprendeu que: A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos. Por meio deles, as informações são tratadas para que se possa conhecer as causas que determinam o fenômeno da segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais as melhores ações para cada uma dessas causas; O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos cria a necessidade de pensar melhor a forma de como se faz segurança pública; O analista criminal tem importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de segurança pública, pois tem influência direta sobre o processo de tomada de decisão, assim como sobre a forma de resolver o problema. Dos fatores considerados por Cerqueira e Lobão (2003), a redução da desigualdade social foi o único relacionado diretamente à redução da incidência de homicídios; Para a análise criminal ser mais eficiente, as quatro etapas da dinâmica de trabalho do analista precisam ser aplicadas a um problema focalizado. Dois pontos merecem destaque quando se discute a questão da focalização das ações: a valorização de uma perspectiva local de ação e a focalização de tipos criminais específicos para intervenção. Agora, para fixar o conteúdo é importante que você realize os exercícios propostos a seguir. No próximo módulo você aprenderá sobre: A descrição dos métodos de abordagem; A enumeração dos aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e A identificação das fontes de dados e informações de segurança pública. Bons estudos! 25 Exercícios Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 1, realize as atividades propostas a seguir. 1. Podemos definir segurança pública como: a) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair conclusões. b) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para traçar gráficos, tabelas e mapas. c) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para executar ações e políticas de segurança pública. d) É constituída de ferramentas para levantar informações. 2. A análise criminal se enquadra na perspectiva da segurança pública: a) Reativa b) Preventiva c) Passiva d) Proativa 3. A produção do conhecimento de gestão em segurança pública pode ser classificada segundo três vertentes. Considerando estas vertentes, associe a 2ª coluna de acordo com a 1ª: (1) Análise criminal estratégica (ACE) (2) Análise criminal tática (ACT) (3) Análise criminal administrativa (ACA) ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e suas influências em médio prazo. ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público-alvo. ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas influências no longo prazo. 26 26 Gabarito Resposta correta da atividade 1: alternativa “a”. Resposta correta da atividade 2: alternativa: “b”. Resposta correta da atividade 3: sequência: (2); (3); (1). 27 28 28 Apresentação Olá! Seja bem-vindo(a) ao módulo Coleta de Informações. Antes de iniciar o conteúdo desse módulo, que tal relembrar o que você estudou no anterior? Você viu a definição de análise criminal e identificou suas contribuições para a gestão da segurança pública; Compreendeu os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do foco nas ações de análise criminal; e Viu a classificação da produção de conhecimento em segurança pública de acordo com as vertentes utilizadas. Neste módulo, você estudará alguns dos métodos de abordagem dos fenômenos sociais que podem ser utilizados para a elaboração de diagnósticos sobre a situação da segurança pública e monitoramento de resultados das ações e políticas. Cabe destacar que um método não exclui o outro. Muitas vezes é preciso combiná-los, pois cada um possui vantagens e limitações; a combinação possibilita que se complementem. Objetivos do módulo Ao final do módulo, você deverá ser capaz de: Descrever os métodos de abordagem; Enumerar os aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e Identificar as fontes de dados e informações de segurança pública. Estrutura do módulo O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: Aula 1 – Métodos de abordagem Aula 2 – Construção de um questionário Aula 3 – Fontesde dados e informações de segurança pública MÓDULO 2 COLETA DE INFORMAÇÕES 29 Aula 1 – Métodos de abordagem 1.1 Abordagem e técnicas de análise A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens. Para cada uma das abordagens há técnicas de análise específicas, veja a seguir: 1. Observação do comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real. Análise de conteúdo. Estudo de caso. Análise de dados secundários. 2. Criação de situações artificiais e observação do comportamento antes das tarefas definidas para as situações. Avaliação de impacto (laboratório). 3. Realização de perguntas às pessoas sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram). Survey. Estudo de caso. 1.2 Vantagens e limitações das técnicas de análise Análise de conteúdo. Estudo de caso. Análise de dados secundários. Avaliação de impacto. Survey. Análise de conteúdo Alguns tópicos de pesquisa são suscetíveis ao exame sistemático de documentos, como romances, poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências etc. As informações trazidas pelos documentos são sistematizadas, buscando a existência de semelhanças. As principais desvantagens desta técnica são: O tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida mais apropriada da questão ou fenômeno a ser estudado. A análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade. 30 30 Estudo de caso O estudo de caso envolve a descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação social. Num estudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo de informações possíveis sobre o tema. Se o estudo é sobre a comunidade, você aborda a sua história, seus aspectos religiosos, políticos, econômicos, geográficos, sua composição racial etc. Em resumo, você procura a descrição mais abrangente e tenta determinar as inter-relações lógicas dos seus vários componentes. Enquanto a maioria das pesquisas busca diretamente o conhecimento generalizado, o estudo de caso busca o conhecimento abrangente de um só caso. Dessa forma, o conhecimento produzido não é necessariamente generalizável. Se o estudo de caso é realizado pelo pesquisador que é participante no evento ou grupo social estudado, este é denominado de Estudo de Caso com Observação Participante. Na prática, como observador participante, o pesquisador pode ou não se revelar como tal. Essa decisão tem importantes implicações metodológicas e éticas. O pesquisador que admitir que esteja realizando um estudo pode afetar diretamente o fenômeno que pretende estudar. Por outro lado, a não identificação do pesquisador pode ter implicações éticas relativas ao engano. Como estudo de caso, a observação participante busca colher informações muito detalhadas. A grande desvantagem desse método é que o pesquisador dificilmente consegue manter procedimentos sistemáticos de pesquisa. Análise de dados secundários A realização de pesquisas científicas não envolve, necessariamente, a coleta e análise de dados originais (pesquisa de campo). Alguns tópicos de pesquisa podem ser estudados analisando dados já coletados e compilados. A análise dos dados secundários tem a grande vantagem da economia. O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas, codificações, recrutamento de sujeitos experimentais etc. A principal desvantagem do método é que o pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados por outros, que podem não representar adequadamente a questão que lhe interessa. Avaliação de impacto A avaliação de impacto procura determinar os resultados das ações e políticas. Para mensurar esses resultados, não basta olhar o objeto de análise e ver o que aconteceu com ele depois da aplicação da política. Para garantir que as mudanças observadas são resultantes da política empreendida, é preciso comparar o grupo em que ela foi implementada – chamado de tratado – com um grupo similar que não a experimentou – chamado de controle. 31 TRATADO: Grupo em que foi implementada a política. CONTROLE: Grupo similar em que não foi implementada a política. Quando se está trabalhando com experimento aleatório, também chamado de experimento puro, é bastante simples medir o impacto. Os experimentos aleatórios são aqueles em que os “tratados” e “controles” são escolhidos de forma aleatória na população. Esse tipo de estudo é muito usado na medicina para testes de remédios. Das pessoas inscritas para o teste são selecionados dois grupos de forma aleatória, por sorteio. Para um grupo é distribuído o placebo (grupo controle) e para o outro grupo é dado o remédio (grupo tratado). Depois do tratamento, compara-se a condição de saúde dos dois grupos. Se o grupo tratado apresenta melhor condição de saúde de que o grupo controle, o remédio tem resultado positivo. Caso contrário, o remédio não tem resultado. Entretanto, na prática, é quase impossível implementar experimentos aleatórios no caso de políticas públicas, pois existe um problema ético e moral. PARA REFLETIR... Sendo o objetivo fazer uma política de prevenção à criminalidade em áreas de alta periculosidade da cidade, como escolher uma área que não vai receber essa política? Isto é justo com a população desse local? Normalmente, as ações e políticas têm desenhos não aleatórios e as avaliações devem buscar desenhos não experimentais, denominados por avaliações de estudos observacionais ou quase-experimentais. A implicação do desenho não experimental para a avaliação do impacto é que o “controle” não pode ser comparado diretamente com o “tratado”, pois os atributos de ambos não são, necessariamente, equivalentes. Para fazer essa comparação é necessário que se apliquem técnicas estatísticas que tornam o “controle” equivalente ao tratado. Existem várias técnicas para isso, as mais usadas são “pareamento com escore de propensão” e “diferenças em diferenças”. Neste curso não serão tratadas essas técnicas, pois exigem um conhecimento avançado em estatística. Para mais detalhes, veja Ravallion (2001; 2005) e Heckman et al. (1998). Survey Um survey é realizado quando se pretende construir enunciados sobre uma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos, avaliar o impacto de alguma política ou ação etc. Para que seja viável, em termos técnicos e econômicos, a pesquisa é realizada em uma amostra cientificamente selecionada da população, de forma a representá-la. Essa seleção científica da amostra permite a extrapolação dos resultados encontrados para a população, ou seja, se a amostra é composta por 50% de homens, pode-se extrapolar o resultado dizendo que nossa população é composta de 50% de homens. 32 32 A coleta de informações envolve sempre a aplicação de um questionário, que deve priorizar a construção de questões com respostas fechadas, retirando ao máximo a possibilidade de respostas abertas em formato de texto. Assim, esses instrumentos de coleta de informação favorecem o uso de técnicas quantitativas para análise dos dados. 1.3 Métodos e técnicas X Aplicações Os vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao tipo de pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a ser coletada. Eles também podem ser utilizados de forma complementar quando necessário. Veja abaixo alguns exemplos: Quando se precisa de informações representativas da situação de grandes grupos sociais com menor gasto de recursos e maior rapidez, são utilizados surveys e informações secundárias, sistematizadas continuamente por órgãos de estatística oficial. Essas informações se agregam no conjunto denominado de informações quantitativas e se caracterizam por buscar mensurar a questão estudada em números ou categorias. A grande limitaçãodos dados quantitativos na realização de pesquisas é que eles reduzem a realidade a algumas categorias, deixando de lado muita informação que seria útil para uma melhor compreensão do fenômeno estudado. Pesquisas com informações mais detalhadas: Quando se verifica a necessidade de trabalhar com informações mais detalhadas, partimos para outro conjunto de informações denominado por informações qualitativas. As pesquisas envolvendo a coleta dessas informações – análise de conteúdo e estudo de caso – são normalmente mais difíceis e mais caras de serem realizadas. Ao mesmo tempo em que se conhece a realidade de modo mais detalhado, perde-se capacidade de generalização dos conhecimentos produzidos. Pesquisas na área de segurança pública: Como exemplo de pesquisas na área de segurança pública, é possível citar: Pesquisas na área de segurança pública Técnicas de análise Pesquisa que analisam informações trazidas de bases de ocorrências registradas pelas polícias. Análises de dados secundários. Pesquisas de vitimização. Survey Pesquisas que buscam avaliar de forma mais detalhada a criminalidade, envolvendo entrevistas com moradores. Estudo de caso. Pesquisa mais detalhada realizada por alguém que convive com a comunidade. Estudo de caso ou, especificamente, pesquisa etnográfica. Aula 2 – Contrução de um questionário 33 Olá! Na aula anterior você conheceu os três métodos de abordagem dos fenômenos sociais e também estudou sobre as várias técnicas de análise de tais fenômenos. Dando sequência ao conteúdo deste módulo, agora você aprenderá a construir um questionário. Preparado(a)? Vamos lá! O que é um questionário? Um questionário pode ser definido como um: conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses, aspectos de personali- dade e informação biográfica. (YAREMKO et al., 1986). O objetivo de uma pesquisa determina a forma do questionário e a maneira da sua aplicação por meio dos conceitos e da população-alvo. 2.1 Definição e relação com a pesquisa É possível verificar as seguintes interdependências entre a elaboração de um instrumento e a estratégia de sua aplicação: O grau de complexidade dos conceitos determina o número de perguntas e sua forma de apresentação. Há uma relação recíproca entre características da população alvo e complexidade dos conceitos a serem investigados, pois ambos determinam a maneira de transformação dos conceitos em perguntas e sua administração. O tamanho da amostra determina o formato do questionário em relação ao tipo de entrevistas e ao tamanho do seu conteúdo. O tamanho da amostra é determinado pelos recursos disponíveis (tempo, dinheiro e recursos humanos). 2.2 Elaboração de um questionário Na elaboração de um questionário, o analista criminal deve estar atento também aos seguintes fatores: 1. Contexto social da sua aplicação; 2. Perguntas; 3. Estrutura lógica na organização dessas perguntas; e 4. Diferentes formas de coleta de informação. Em relação à administração do questionário, sendo ele observado como um instrumento de coleta de informações, é importante apontar que esse processo envolve sempre uma interação entre pesquisador e respondente. 34 34 A interação pode ocorrer no âmbito de uma entrevista presencial, na qual os dois atores são colocados frente a frente numa relação de entrevistador e entrevistado, ou no âmbito da resposta a um questionário encaminhado, por exemplo, via e-mail ou correio, no qual ocorre uma interação entre os dois atores pela apresentação do questionário (na maneira como as questões foram escritas, no agradecimento pela disponibilidade de responder ao questionário, dentre outros fatores). Ou seja, mesmo no preenchi- mento de um questionário, ocorre uma entrevista, mas nesse caso, a relação entre entrevistado e entrevis- tador é mediada pelo questionário. 2.3 Contexto social da aplicação do questionário A disposição do respondente em revelar algo sobre si mesmo, permitindo o pesquisador obter as informações desejadas, varia conforme a situação. O pesquisador não tem poder sobre o respondente e precisa convencê-lo de que vale a pena participar da pesquisa. Alguns aspectos do contexto social e cultural na interação entre entrevistado e entrevistador devem ser observados, como por exemplo: Criação e manutenção de um ambiente de cortesia durante a entrevista. Seriedade no processo de interação, favorecendo a obtenção de respostas autênticas. Boa impressão sobre a imagem do pesquisador e da organização representada por ele. Ênfase na relevância do assunto da pesquisa para o entrevistado. Promoção de uma aproximação do entrevistado e do entrevistador em termos culturais. Realização da pesquisa em um ambiente físico adequado para o alcance dos melhores resulta- dos na realização da pesquisa. 2.4 Estrutura lógica do questionário Segundo Dillman (1978), três coisas devem ser feitas para maximizar as respostas de um questionário: Minimizar o custo para o respondente. Maximizar as recompensas para o respondente. Estabelecer a confiança de que a recompensa será concedida. Lembre-se das seguintes recomendações para o estabelecimento da estrutura lógica do questionário: Muitas pessoas participam de pesquisas por se sentirem importantes em ter sua opinião valori- zada ou pela oportunidade de falar e serem ouvidos. Comunicar resultados e/ou facilitar o acesso a eles é outra forma importante de recompensar os respondentes. Estabelecer contato com o respondente em potencial e assegurar sua cooperação. Para estabelecer confiança, o entrevistador deve se apresentar e indicar com e para quem trabalha. A seguir, precisa capturar o interesse do respondente pelo tema e para isso, sugere-se ressaltar o quanto opiniões e experiências do respondente são importantes. São os primeiros momentos da 35 entrevista que importam para a disposição do respondente em cooperar. Nesse momento, o questionário e sua importância devem ser apresentados da forma mais completa. Como o respondente pode desistir da pesquisa a qualquer momento, persiste a necessidade de continuar a manter seu interesse durante a realização da entrevista. Alguns pontos merecem especial atenção para evitar a desistência no meio do processo da entrevista: a tarefa deve parecer ser breve, é preciso reduzir ao máximo o esforço mental e físico requerido, eliminar as possibilidades de embaraço, qualquer implicação de subordinação e custo financeiro. O mínimo de cortesia na despedida consiste em um agradecimento pela valiosa colaboração do respondente, seja de maneira verbalizada no fim da entrevista, seja de maneira escrita no fim do questionário. Muitas pessoas participam de pesquisa por se sentirem importantes em ter sua opinião valorizada ou por poder falar e ser ouvido. Comunicar resultados e/ou facilitar o acesso a eles é outra forma importante de recompensar os respondentes. 2.5 A estrutura do questionário Uma estrutura bem pensada contribui para reduzir o esforço físico e mental do respondente. Além disso, assegura que todos os temas de interesse do pesquisador sejam tratados numa ordem objetiva, mantendo o interesse do respondente em continuar. É preciso saber com precisão por que se está incluindo cada pergunta no questionário. Os princípios a seguir poderão ajudá-lo na estruturação: 1º Princípio: Procure sempre direcionar a estruturação do questionário da seguinte forma: do geral para o específico, do impessoal para o pessoal, do menos delicado para o mais delicado. 2º Princípio: Disponha as perguntas de modo a obedecer a uma lógica de aproximação. Exemplo: Ao se pesquisar a situação de insegurança, primeiro se pergunta sobre a cidade, depois sobre o bairro e, então, sobre a rua e a casa onde o respondentereside. 3º Princípio: Garanta que as perguntas referentes a uma mesma temática permaneçam sempre juntas e recebam uma introdução que ajude o respondente a concentrar-se nela. 2.6 As perguntas As perguntas iniciais servem para estabelecer um relacionamento de confiança entre respondente e pesquisador. Nunca se deve começar o questionário por perguntas burocráticas (nome, sexo, idade, renda familiar etc.), pois essas questões só terão respostas autênticas quando o respondente desenvolver certo grau de confiança no entrevistador. As perguntas burocráticas devem ser inseridas sempre no final do questionário. Cabe destacar também que perguntar o nome no início da entrevista contradiz qualquer afirmação sobre o caráter confidencial da entrevista. Quais são as características de uma boa pergunta? Uma boa pergunta é aquela que gera respostas fidedignas e válidas e, por essa razão, devem apresentar algumas características básicas: A pergunta precisa ser compreendida e comunicada consistentemente; 36 36 As expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para os respondentes; Os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e Os respondentes precisam estar dispostos a responder. 2.7 Aspectos a serem observados A seguir, você conhecerá os principais aspectos a serem observados na elaboração de uma pesquisa: Linguagem Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso ficar sempre atento à população-alvo da pesquisa. A compreensão da linguagem utilizada pode mudar de acordo com o público. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou sofisticados devem ser evitados. Há dois problemas nos questionários relacionados à linguagem. São eles: 1. A ambiguidade, ou seja, o questionário permite mais de uma interpretação da pergunta; 2. As perguntas podem direcionar as respostas, então é preciso ficar atento à escolha das palavras. Importante! Uma vez que as questões estiverem elaboradas, pergunte-se: O respondente está entendendo o que o entrevistador quis perguntar? O enunciado da pergunta induz a resposta de alguma forma? Quanto ao tipo de perguntas, é possível elaborar perguntas abertas e fechadas. Perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e variabilidade das possíveis respostas. Esse tipo de perguntas estabelece, no início da entrevista, um clima receptivo entre pesquisador e respondente e, no final, captura as opiniões não cobertas pelas perguntas fechadas. As perguntas abertas também servem para reforçar ao respondente o real interesse nas suas opiniões. Perguntas fechadas são aquelas em que são oferecidas opções para o respondente escolher como resposta. Devem ser utilizadas quando se conhece os tópicos que serão informados pelos respondentes. Além disso, esse tipo de pergunta deve ser usado quando existem muitos respondentes e pouco tempo para a pesquisa. 2.8 Problemas que devem ser evitados A forma com que as perguntas são formuladas e ordenadas no questionário podem gerar alguns problemas. Ao formular as perguntas é preciso verificar se elas não constituem ameaça ao respondente. Caso existam razões para supor que o respondente é “sensível” ao tema, é preciso verificar maneiras de encontrar a informação sem provocar constrangimento. 37 Outro problema diz respeito ao entrevistado fornecer respostas falsas às perguntas. Um dos motivos é que o respondente pode ter algo a esconder ou não saber como responder. Por fim, se o respondente não lembrar de alguma resposta, o entrevistador não deve deixá-lo constrangido. É preciso frisar que as perguntas não constituem em um teste e que é natural não ter respostas para todas as perguntas. 2.9 Escala de respostas Para tornar mais fácil a classificação das respostas às perguntas é necessário que se pense nas escalas de respostas. As escalas podem ser classificadas em: Escala Nominal; Escala Ordinal; Escala Intervalar. A Escala Nominal utiliza símbolos ou números somente para identificar as pessoas, objetos ou categorias. Por exemplo, o gênero, estado civil ou atributos como cor de cabelo, uso de bengala e existência de tatuagem. Mesmo para as medições em escala nominal, é preciso se preocupar em estabelecer um bom relacionamento com o respondente. Exemplo: A frase “Qual o estado civil de V.Sa?” soa melhor do que solicitar simplesmente “Estado civil”. Dependendo da população-alvo e do objetivo da pesquisa, um maior ou menor número de alternativas é apropriado. Exemplos: A raça pode ter como categoria apenas: (a) brancos e (b) não brancos OU (a) brancos, (b) negros, (c) pardos, (d) indígenas, (e) asiáticos e (f) outros. Lembre-se! O importante é que as opções sejam mutuamente exclusivas e cubram todas as alternativas. Na Escala Ordinal, além de se identificarem as pessoas, objetos ou categorias, ocorre uma ordenação desses elementos. Por exemplo, a hierarquização da percepção de níveis de violência entre diferentes locais de uma cidade, status social ou ordem de chegada em uma competição. Uma técnica de mensuração muito utilizada nas ciências sociais para levantar atitudes, opiniões e avaliações é a construção de escalas Likert. Nela, o respondente avalia um fenômeno numa escala de, geralmente, cinco alternativas. Para saber mais sobre as escalas Likert, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_Likert O conteúdo das alternativas varia de acordo com o tema abordado na pergunta. Um ponto interessante na utilização de escalas é a decisão quanto ao uso de número par ou ímpar de alternativas, pois o uso de um número ímpar de alternativas indica que se criou um ponto neutro no meio da escala, ou seja, foi aberto espaço para o entrevistado expor uma posição neutra sobre o tema abordado. http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_Likert 38 38 Independentemente do número de alternativas, é importante que as opções estejam balanceadas, isto é, as direções opostas de respostas devem possuir o mesmo número de opções. Veja abaixo dois exemplos de perguntas na escala ordinal. a) Em termos gerais, o quão satisfeito você está com as suas condições de trabalho? 1. Bastante satisfeito 2. Muito satisfeito 3. Pouco satisfeito 4. Nada satisfeito b) O quão seguro, você se sente ao andar sozinho pelas ruas na região onde reside ao anoitecer? 1. Muito seguro 2. Razoavelmente seguro 3. Nada seguro Na Escala Intervalar, as características são ordenadas conforme uma dimensão subjacente e os intervalos entre as alternativas têm tamanho conhecido e podem ser comparados. Exemplos: O tamanho da população. O número de crimes registrados. O número de inquéritos concluídos. Aula 3 – Fontes de dados Neste módulo você estudou as três abordagens dos fenômenos sociais e suas respectivas técnicas de análise. Além disso, você também aprendeu a construir questionários de forma apropriada. Agora, na próxima aula, você estudará sobre as fontes de dados. Vamos lá! O uso científico das informações de segurança pública e de justiça criminal para a gestão de políticas envolve não apenas informações específicas dessa área, mas também informações socioeconômicas e urbanas necessárias para se contextualizar a sua situação. Essa contextualização permite, por exemplo, identificar as causas sociais dos fenômenos de segurança pública e também aperfeiçoar a visão sobre o resultado alcançado. Possibilita, ainda, verificar se as mudanças que ocorrem na segurança pública têm também outras condições além da atuação dos órgãos dessa área. 39 Do ponto de vista da pesquisa social, há um consenso de que apenas as informações administrativas de agências de segurança pública e justiça criminal não são suficientes para a compreensão dos fenômenos relacionados à incidência criminal ou à violência. Para uma visão efetivamente compreensivados fenômenos relacionados a tal problemática, como enfatiza Kahn (2002), é necessário atentar para as condições gerais de vida da população. 3.1 Fontes de dados Em seu artigo sobre a importância dos indicadores como instrumento auxiliar à prevenção municipal da criminalidade, Kahn (2002) observa que o nível socioeconômico é um fator explicativo para o predomínio de eventos criminais específicos em determinadas localidades, muito embora a explicação da sua distribuição seja bastante complexa. Outros estudos buscaram entender a relação entre taxas de criminalidade e indicadores socioeconômicos. Soares (2008), por exemplo, busca analisar a relação entre desenvolvimento, desigualdade e homicídios a partir de uma revisão de vários estudos empíricos que abordam a relação entre taxas de homicídios e variáveis sociais e demográficas, tais quais renda, alfabetização, urbanização, migração, entre outras. Dessa forma, é desejável que os bancos de dados sobre criminalidade – geralmente compostos por dados administrativos policiais, como registros de ocorrências -, contenham informações socioeconômicas da população local e da infraestrutura urbana. Os dados frequentemente trabalhados em sistemas de segurança pública e justiça criminal são dados policiais, do Ministério Público, da Justiça e do sistema prisional, para fins de administração dos procedimentos de rotina. Em geral, essas informações não são utilizadas na área de gestão, pois somente os dados das polícias estão organizados em banco de dados. Já os demais, na maioria das vezes, não estão informatizados ou constituem arquivos de formulários. Geralmente, esses dados não contêm as informações necessárias para a avaliação de políticas públicas de segurança ou programas particulares. Faltam informações sociodemográficas, dos infratores ou demandantes dos serviços de justiça criminal, dentre outras. Em função disso, é preciso pensar criativamente na utilização de outras possíveis fontes para complementar ou checar as informações fornecidas pelas bases de dados oficiais. 3.1.1 Características e limitações dos registros das polícias militares e das polícias civis Polícia Militar: Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não abrangem o conjunto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base exclusiva de um sistema de informação criminal. O grande problema dessa base de dados está relacionado à subnotificação dos crimes, ou seja, muitos indivíduos não reportam os crimes à polícia. Polícia Civil: A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla gama de incidentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir crime. Um dos grandes problemas dessa base de dados também é a subnotificação dos crimes. Por causa das características dos dados gerados pelas polícias e suas limitações, muitas vezes são necessárias fontes alternativas de informações. 40 40 3.2 SINESP – Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública Desde o ano de 2004, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, vem despendendo esforços para a concretização de uma base nacional de dados e informações de segurança pública, com o apoio dos entes federados, órgãos federais e estaduais, instituições de segurança pública, profissionais em segurança pública, pesquisadores e demais parceiros. Uma grande ação foi a criação do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal – SINESPJC, implantado em 2004, com o módulo Polícia Civil e posteriormente com o módulo Polícia Militar em 2006. Este sistema teve como principal objetivo iniciar o processo informatizado de coleta de dados estatísticos junto das 27 UFs, em um cenário que contava apenas com 07 UFs com sistemas de registro de ocorrências informatizados. Neste contexto, a SENASP veio fomentando – junto dos entes federados e por meio de convênios com a União – o desenvolvimento, customização e ampliação de sistemas informatizados de registros de ocorrências policiais e sistemas de atendimento e despacho das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares. O objetivo foi o de melhorar os processos de envio, tratamento e análise de dados. Mesmo com o apoio da SENASP, as instituições de segurança pública não deixaram de arcar com o ônus de ter que alimentar, de forma manual ou minimamente informatizada, a base de dados nacional. Limitações do SINESPJC não permitiam que sistemas estaduais fossem integrados diretamente ao sistema nacional, tornando o processo de alimentação lento e árduo. Além disso, havia o problema da falta de padronização dos formulários de coleta nos Estados. Partindo deste novo cenário, identificados os problemas e desafios, a SENASP em maio de 2012, juntamente com representantes das Polícias Civis, Militares e Corpos de Bombeiros Militares das 27 Unidades de Federação, definiu os campos e conteúdos mínimos dos boletins de ocorrências e atendimento e despacho das instituições de segurança pública. Neste mesmo ano, foi promulgada a Lei 12.681, que institui o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas, com a finalidade de armazenar, tratar e integrar dados e informações para auxiliar na formulação, implementação, execução, acompanhamento e avaliação das políticas relacionadas à segurança pública; sistema prisional e execução penal; e enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas. Com isto, o SINESPJC torna-se o módulo de estatística do SINESP. Logo após a criação da lei do SINESP, o Ministério da Justiça, por meio da SENASP, toma o compromisso de firmar junto às Unidades da Federação 27 termos de adesão ao SINESP, ratificando o compromisso de todos em cooperar com a implantação, manutenção e atualização do sistema. O não envio dos dados previstos no Termo implica na impossibilidade de receber recursos ou celebrar parcerias com a União para financiamento de programas, projetos ou ações de segurança pública e do sistema prisional. Enviar os dados previstos no Termo. Possibilidade de receber recursos e celebrar parceiras com a União. 41 O SINESP tem como objetivo sanar o problema da má qualidade de informações de crime no Brasil. Essa má qualidade se deve aos diversos problemas estruturais que impediram, ao longo dos anos, uma melhor qualidade da informação, e, além disso, a particularidades dos próprios eventos criminais, que, por natureza, são difíceis de serem registrados pela população. Por exemplo, furtos e roubos de pequenos valores e casos de estupros, abusos, assédios e coerções, muitas vezes, estão inseridos dentro de contextos pessoais ou familiares, fazendo com que as vítimas raramente procurem as autoridades para registro dos fatos. 3.3 Fontes alternativas de informação Pesquisas de vitimização Na maior parte dos crimes, a única fonte alternativa possível são as pesquisas de vitimização, que permitem não apenas estimar a incidência real do fenômeno, mas também o tamanho e o perfil da subnotificação. No Brasil, a primeira pesquisa de vitimização realizada em âmbito nacional foi empreendida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1988. Depois disso, o IBGE empreendeu outra pesquisa nacional de vitimização, também como suplemento da PNAD, no ano de 2009. Cabe destacar a Pesquisa Nacional de Vitimização realizada pelo Ministério da Justiça, de 2010 a 2012, no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, pelo Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) e Datafolha. Para saber mais sobre essa pesquisa, acesse o arquivo “Pesquisa de vitimização”, que está nos anexos do curso. Outros exemplos de pesquisas de vitimização empreendidas no Brasil são expostos a seguir: Pesquisa de vitimização ILANUD: Essa pesquisa
Compartilhar