Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXPLICITAÇÕES DE FILIAÇÕES E RUPTURAS NUM PROCESSO DE PROBLEMAS ENVOLVENDO CONCEITOS DE GEOMETRIA Ivana de Oliveira Freitas 1– ivanafreitas.aluno@unipampa.edu.br Márcio André Rodrigues Martins 2 – marciomartins@unipampa.edu.br Ângela Maria Hartmann 3– angelahartmann@unipampa.edu.br Resumo: Este é um trabalho de pesquisa desenvolvido da componente curricular de Aprender e Criar em Ciências do curso de Licenciatura em Ciências Exatas da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA. Apresenta como problema de pesquisa “como se explicitam os processos de rupturas e filiações num contexto de aprendizagem escolar sobre a temática Geometria e envolvendo Modelagem Matemática?”, assim como objetivo geral que se pretende alcançar é mapear os processos em que ocorrem filiações e rupturas de conceitos relacionados à Geometria, durante a atividade envolvendo Modelagem Matemática. As filiações e rupturas são conceitos pertencentes a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, e possibilitam visualizar o processo de construção de esquemas, assim como os processos envolvidos na construção do conhecimento de estudantes. Serão desenvolvidos problemas que envolverão conceitos de Geometria, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular. Os esquemas desenvolvidos pelos estudantes ao procurarem a solução para os problemas propostos servirão de dados para análise. Palavras-chave: Teoria dos Campos Conceituais; Ensino de Geometria; Resolução de Problemas; Habilidades BNCC 1. INTRODUÇÃO Uma das dificuldades que os professores enfrentam na educação é fazer com que o estudante sinta-se atraído pela componente apresentada. Isso vale para todas as áreas do conhecimento. Na Matemática, além dessa dificuldade, os professores enfrentam alguns outros obstáculos, como o pressuposto de que a matemática é de difícil acesso. 1 Aluna de graduação do Curso de Licenciatura em Ciências Exatas pela Universidade Federal do Pampa, Campus Caçapava do Sul. 2 Professor do curso de Licenciatura em Ciências Exatas pela Universidade Federal do Pampa, Campus Caçapava do Sul. 3 Professora do curso de Licenciatura em Ciências Exatas pela Universidade Federal do Pampa, Campus Caçapava do Sul. 2 Além de sugestões, alguns documentos trazem dados importantes referentes ao cenário educacional brasileiro. O documento divulgado pelo MEC, CONSED e UNDIME “Compromisso Nacional pela Educação Básica” mostra que o Brasil apresenta baixos resultados educacional no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) quando comparado com os demais países da América Latina. Enquanto o Chile, em 2015, apresentou nota média de 443, o Brasil apresentou nota média de 395, estando acima apenas da nota média apresentada pelo Peru, que foi de 394. O PISA é a média das notas de ciências, leitura e matemática. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica trazem três princípios norteadores para a Educação Básica, que os sistemas de ensino e escolas adotarão nas políticas educativas, sendo eles: éticos, políticos e estéticos. Princípios éticos: segundo as DCNEB, tem como objetivo o desenvolvimento ético dos estudantes, sendo trabalhados conceitos humanistas como senso de justiça, de solidariedade, liberdade e autonomia, além disso, o conceito “de respeito à dignidade da pessoa humana [...] contribuindo para combater e eliminar quaisquer manifestações de preconceito e discriminação” (BRASIL, 2013, p. 107). Nos princípios políticos é desenvolvido com os alunos os conceitos de direitos e deveres de cidadania, e ainda respeitar o bem comum e preservar a democracia. A educação deve ser de livre acesso a todos, assim como saúde, trabalho e outros benefícios, e principalmente “a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; de redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais” (BRASIL. 2013, p. 107-108). Por fim, os princípios estéticos, onde são enriquecidas as formas de expressão, e estimulada a criatividade, e principalmente “valorização das diferentes manifestações culturais, especialmente as da cultura brasileira” (BRASIL, 2013, p. 108). Com o intuído de modificar essas concepções, diferentes metodologias são comumente elaboradas, testadas e apresentadas em eventos e revistas pelo mundo. Do mesmo modo, os documentos que direcionam a educação também trazem algumas sugestões de como abordar determinados conceitos e conteúdos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) traz em seu terceiro livro algumas considerações referentes a área da Matemática. Umas das principais características que aponta este documento é o de não trazer coisas prontas e definitivas no ensino da matemática, mas sim propiciar “a construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender 3 e transformar a sua realidade” (BRASIL, 1997, p. 19). Outro ponto importante e de destaque é o de que o ensino da matemática cabe relacionar observações do mundo real, cotidiano com aquilo que se é aprendido, como as representações geométricas, de esquemas, figuras, etc, além de conseguir relacionar essas representações com conceitos matemáticas (BRASIL, 1997). Dentro do campo da Geometria, ainda segundo a LDB, é um campo que está contido dentro do estudo do espaço e das formas, que faz parte, juntamente com o estudo dos números e das operações, e grandezas e medidas, que juntos compõem o currículo de Matemática. Temos que, de acordo com a LDB “os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no ensino fundamental [...]” (BRASIL, 1997, p. 39), pois a partir disso o aluno consegue compreender, descrever e representar com uma gama maior de ferramentas o mundo que o rodeia. Tem-se que uma das maneiras de se trabalhar com o campo da Geometria é através de situações problemas. Através desse tipo de abordagem consegue-se trabalhar com conceitos que vão além da simples Geometria. Essa abordagem “contribui para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula a criança a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar regularidades e vice-versa” (BRASIL, 1997, p. 39). 1.1 Problema e objetivos da pesquisa O problema de pesquisa gira em torno do seguinte questionamento: “Como se explicitam os processos de rupturas e filiações num contexto de aprendizagem escolar sobre a temática Geometria e envolvendo Modelagem Matemática?”. Já os objetivos são colocados em termos de objetivo geral e desdobrados em objetivos específicos conforme apresentados abaixo. O objetivo geral da pesquisa que se pretende alcançar é mapear os processos em que ocorrem filiações e rupturas de conceitos relacionados à Geometria, durante a atividade envolvendo Modelagem Matemática. 1.1.1 Objetivos específicos 4 Os objetivos específicos são: Construir questões de geometria voltadas ao 9º ano do Ensino Fundamental de acordo com a Base Nacional Comum Curricular que professores possam ter acesso; Criar condições aos estudantes que a geometria está presente no dia a dia; Divulgar o trabalho no meio acadêmico e principalmente entre professores da Educação Básica. 2. O ENSINO DE GEOMETRIA SEGUNDO A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR A Base Nacional Comum Curricular, ou BNCC, é um documento onde se encontram a definição orgânica e progressiva das aprendizagens que são importantes aos estudantes brasileiros, sendo essas aprendizagens desenvolvidas no decorrer da Educação Básica (E.B), indo desde a Educação Infantil, até o Ensino Médio. Na BNCC encontram-se conhecimentos, competências e habilidades que os estudantes brasileiros devem desenvolver no decorrer da Educação Básica, sendo ainda, este, um documento norteador para a construção dos currículos e propostas pedagógicas, tanto de escolas da rede pública,quanto da rede privada (BRASIL, 2019). Vale ressaltar que este não foi um documento elaborado por uma única pessoa, tampouco em um curto período de tempo, levaram-se cerca de trinta anos para que a BNCC fosse elaborada. Seu início se deu ainda em 1988 quando houve a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, onde no Art. 210 estava prevista a Base Nacional Comum Curricular, já com seu caráter normativo para todas as etapas da Educação Básica. A partir daí, outros documentos foram criados de modo que norteassem a construção dos currículos escolares nacionais, até a consolidação da BNCC, sendo esses documentos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 20 de dezembro de 1996; dez volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997 com a publicação do volume 1 de introdução aos PCNs e em 5 seguida mais dez volumes dos PCNs voltados para o Ensino Fundamental em 1998; os PCN+, que são os parâmetros voltados para o Ensino Médio (PCNEM) divididos em quatro partes; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNED), em 2010, cujo objetivo é nortear o planejamento curricular das escolas; o Plano Nacional de Educação (PNE) onde são estabelecidas vinte metas que visavam a melhoria da Educação Básica, onde quatro dessas metas eram referentes à BNCC, em 2014, que teria duração de dez anos; em 2015 é instituída uma comissão para elaboração da proposta da BNCC, e ainda neste ano, em 16 de setembro, uma primeira versão da BNCC é disponibilizada; a segunda versão da BNCC é disponibilizada em maio de 2016, e neste mesmo ano, já dá-se início a elaboração de uma terceira versão; em 2017 a BNCC é finalizada e homologada as partes que orientadoras referentes a Educação Infantil e Ensino Fundamental; a terceira versão da BNCC referente ao Ensino Médio é entregue em 2018 sendo homologada neste mesmo ano, tendo assim, uma base com todas as aprendizagens para todas as etapas da Educação Básica (BRASIL, 2019), tendo como prazo de adequação dos currículos, pelas instituições e/ou redes escolares, o início do ano letivo de 2020 (BRASIL, 2017). Ainda nas primeiras páginas da introdução da BNCC temos que ela compõe a política nacional da Educação Básica com a pretensão de alinhar políticas de ação “referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação” (BRASIL, 2018, p. 8). Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a “superar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e seja balizadora da qualidade da educação”. (BRASIL, 2018, p. 8). Importante salientar que a BNCC é apenas uma base para a construção dos currículos das escolas, ou seja, é um documento orientador, não sendo ele por si só algo pronto e definido como o próprio currículo. As instituições de ensino devem elaborar seu currículo tendo como base não somente a BNCC, mas também o ambiente no qual a escola está inserida, tendo em conta ainda, os alunos que a constituem. Quanto à estruturação da BNCC, temos que este foi dividido em três etapas, sendo elas Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Cada uma das etapas está organizada de uma determinada forma, levando em consideração os 6 objetivos, competências e habilidades. Como este trabalho terá como contexto os anos finais do Ensino Fundamental na área da Matemática, iremos olhar apenas como esta está estruturada. A etapa do Ensino Fundamental está dividida pelas áreas do conhecimento, cada uma dessas áreas possui suas competências específicas, onde deve ser desenvolvido no decorrer dos nove anos escolares do Ensino Fundamental. Há ainda algumas áreas que possuem mais de uma componente curricular, como é o caso das Linguagens e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias, e para essas são definidas as competências específicas para cada uma das componentes. Essas competências são divididas em Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental, onde em cada uma dessas há as unidades temáticas, objetos de conhecimento e as habilidades que devem ser desenvolvidas em cada área e/ou componente. Olhando para os anos finais encontraremos a área da Matemática. Esta área é dividida pelas unidades temáticas que devem ser abordadas no decorrer dos nove anos escolares, sendo elas: Números, Aritmética, Geometria, Grandezas e Medidas, e Estatística e Probabilidade. Temos que a Geometria, segundo a BNCC (2018) envolve conceitos e procedimentos de maneira ampla, que são necessários para que os estudantes consigam resolver problemas tanto do cotidiano, quanto envolvendo outras áreas do conhecimento. Considera-se para esta unidade temática: [...] estudar posição e deslocamentos no espaço, formas e relações entre elementos de figuras planas e espaciais pode desenvolver o pensamento geométrico dos alunos. Esse pensamento é necessário para investigar propriedades, fazer conjecturas e produzir argumentos geométricos convincentes. [...], considerar o aspecto funcional que deve estar presente no estudo da Geometria: as transformações geométricas, sobretudo as simetrias. As ideias matemáticas fundamentais associadas a essa temática são, principalmente, construção, representação e interdependência. (BRASIL, 2018, p. 271). Essa unidade temática deve ser desenvolvida tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais, assim, temos que nos anos finais o ensino da geometria deve ser de forma que os conceitos sejam ampliados. Conceitos como os de congruência e semelhança devem ser trabalhados nos anos finais, pois é a partir desses conceitos que os estudantes conseguiram ter as ferramentas necessárias (conceitos necessários) para “reconhecer as condições necessárias e suficientes para obter 7 triângulos congruentes ou semelhantes” (BRASIL, 2018, p. 272), sendo capazes, assim, de realizarem demonstrações simples, contribuindo para a construção do pensamento hipotético-dedutivo. Outro ponto a ser destacado é a aproximação da Álgebra com a Geometria, desde o início do estudo do plano cartesiano, por meio da geometria analítica. As atividades envolvendo a ideia de coordenadas, [...], podem ser ampliadas para o contexto das representações no plano cartesiano, como a representação de sistemas de equações do 1º grau, articulando, para isso, conhecimentos decorrentes da ampliação dos conjuntos numéricos e de suas representações na reta numérica. (BRASIL, 2018, p. 272). Quando a Matemática ser desenvolvida nos anos finais do Ensino Fundamental, as vivências e experiências dentro da área devem ser tidas em consideração, visto que esta área do conhecimento possui um ensino progressista, onde em cada ano novos conhecimentos vão se somando a conhecimentos e conceitos já vistos em anos anteriores. Os anos finais iniciam no 6º ano e vão até o 9º ano. Como no trabalho desenvolvido iremos abordar a Geometria, iremos mostrar no quadro 1, abaixo, os objetos de conhecimento e as habilidades, todas ligadas a unidade temática Geometria. Quadro 1 – Habilidades desenvolvidas na unidade temática Geometria de acordo com a BNCC para os Ensino Fundamental. CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF01MA11) 1º ano Localização de objetos e de pessoas no espaço, utilizando diversos pontos de referência e vocabulário apropriado. Descrever a localização de pessoas e de objetos no espaço em relação à sua própria posição, utilizando termos como à direita, à esquerda, em frente, atrás. (EF01MA12) Descrever a localização de pessoas e de objetos no espaço segundo um dado ponto de referência, compreendendo que, para a utilização de termos que se referem à posição, como direita, esquerda, em cima, em baixo, é necessário explicitar-se o referencial.(EF01MA13) Figuras geométricas espaciais: reconhecimento e relações com objetos familiares do mundo físico Relacionar figuras geométricas espaciais (cones, cilindros, esferas e blocos retangulares) a objetos familiares do mundo físico. EF01MA14) Figuras geométricas planas: reconhecimento do formato das faces de figuras geométricas espaciais Identificar e nomear figuras planas (círculo, quadrado, retângulo e triângulo) em desenhos apresentados em diferentes disposições ou em contornos de faces de sólidos geométricos. Continua 8 CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF02MA12) 2º ano Localização e movimentação de pessoas e objetos no espaço, segundo pontos de referência, e indicação de mudanças de direção e sentido Identificar e registrar, em linguagem verbal ou não verbal, a localização e os deslocamentos de pessoas e de objetos no espaço, considerando mais de um ponto de referência, e indicar as mudanças de direção e de sentido. C (EF02MA13) Esboço de roteiros e de plantas simples Esboçar roteiros a ser seguidos ou plantas de ambientes familiares, assinalando entradas, saídas e alguns pontos de referência. (EF02MA14) Figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera): reconhecimento e características. Reconhecer, nomear e comparar figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera), relacionando-as com objetos do mundo físico. (EF02MA15) Figuras geométricas planas (círculo, quadrado, retângulo e triângulo): reconhecimento e características. Reconhecer, comparar e nomear figuras planas (círculo, quadrado, retângulo e triângulo), por meio de características comuns, em desenhos apresentados em diferentes disposições ou em sólidos geométricos. (EF03MA12) 3º ano Localização e movimentação: representação de objetos e pontos de referência Descrever e representar, por meio de esboços de trajetos ou utilizando croquis e maquetes, a movimentação de pessoas ou de objetos no espaço, incluindo mudanças de direção e sentido, com base em diferentes pontos de referência. (EF03MA13) Figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera): reconhecimento, análise de características e planificações. Associar figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera) a objetos do mundo físico e nomear essas figuras. (EF03MA14) Descrever características de algumas figuras geométricas espaciais (prismas retos, pirâmides, cilindros, cones), relacionando-as com suas planificações. (EF03MA15) Figuras geométricas planas (triângulo, quadrado, retângulo, trapézio e paralelogramo): reconhecimento e análise de características. Classificar e comparar figuras planas (triângulo, quadrado, retângulo, trapézio e paralelogramo) em relação a seus lados (quantidade, posições relativas e comprimento) e vértices. (EF03MA16) Congruência de figuras geométricas planas Reconhecer figuras congruentes, usando sobreposição e desenhos em malhas quadriculadas ou triangulares, incluindo o uso de tecnologias digitais. (EF04MA16) 4º ano Localização e movimentação: pontos de referência, direção e sentido. Descrever deslocamentos e localização de pessoas e de objetos no espaço, por meio de malhas quadriculadas e representações como desenhos, mapas, planta baixa e croquis, empregando termos como direita e esquerda, mudanças de direção e sentido, intersecção, transversais, paralelas e perpendiculares. Paralelismo e perpendicularismo. Continuação 9 CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF04MA17) 4º ano Figuras geométricas espaciais (prismas e pirâmides): reconhecimento, representações, planificações e características. Associar prismas e pirâmides a suas planificações e analisar, nomear e comparar seus atributos, estabelecendo relações entre as representações planas e espaciais. (EF04MA18) Ângulos retos e não retos: uso de dobraduras, esquadros e softwares. Reconhecer ângulos retos e não retos em figuras poligonais com o uso de dobraduras, esquadros ou softwares de geometria. (EF04MA19) Simetria de reflexão Reconhecer simetria de reflexão em figuras e em pares de figuras geométricas planas e utilizá-la na construção de figuras congruentes, com o uso de malhas quadriculadas e de softwares de geometria. (EF05MA14) 5º ano Plano cartesiano: coordenadas cartesianas (1º quadrante) e representação de deslocamentos no plano cartesiano. Utilizar e compreender diferentes representações para a localização de objetos no plano, como mapas, células em planilhas eletrônicas e coordenadas geográficas, a fim de desenvolver as primeiras noções de coordenadas cartesianas. (EF05MA15) Interpretar, descrever e representar a localização ou movimentação de objetos no plano cartesiano (1º quadrante), utilizando coordenadas cartesianas, indicando mudanças de direção e de sentido e giros. (EF05MA16) Figuras geométricas espaciais: reconhecimento, representações, planificações e características. Associar figuras espaciais a suas planificações (prismas, pirâmides, cilindros e cones) e analisar, nomear e comparar seus atributos. (EF05MA17) Figuras geométricas planas: características, representações e ângulos. Reconhecer, nomear e comparar polígonos, considerando lados, vértices e ângulos, e desenhá-los, utilizando material de desenho ou tecnologias digitais. (EF05MA18) Ampliação e redução de figuras poligonais em malhas quadriculadas: reconhecimento da congruência dos ângulos e da proporcionalidade dos lados correspondentes Reconhecer a congruência dos ângulos e a proporcionalidade entre os lados correspondentes de figuras poligonais em situações de ampliação e de redução em malhas quadriculadas e usando tecnologias digitais. (EF06MA16) 6º ano Plano cartesiano: associação dos vértices de um polígono a pares ordenados. Associar pares ordenados de números a pontos do plano cartesiano do 1º quadrante, em situações como a localização dos vértices de um polígono. (EF06MA17) Prismas e pirâmides: planificações e relações entre seus elementos (vértices, faces e arestas). Quantificar e estabelecer relações entre o número de vértices, faces e arestas de prismas e pirâmides, em função do seu polígono da base, para resolver problemas e desenvolver a percepção espacial. Continuação 10 CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF06MA18) 6º ano Polígonos: classificações quanto ao número de vértices, às medidas de lados e ângulos e ao paralelismo e perpendicularismo dos lados. Reconhecer, nomear e comparar polígonos, considerando lados, vértices e ângulos, e classificá-los em regulares e não regulares, tanto em suas representações no plano como em faces de poliedros. (EF06MA19) Identificar características dos triângulos e classificá-los em relação às medidas dos lados e dos ângulos. (EF06MA20) Identificar características dos quadriláteros, classificá-los em relação a lados e a ângulos e reconhecer a inclusão e a intersecção de classes entre eles. (EF06MA21) Construção de figuras semelhantes: ampliação e redução de figuras planas em malhas quadriculadas. Construir figuras planas semelhantes em situações de ampliação e de redução, com o uso de malhas quadriculadas, plano cartesiano ou tecnologias digitais. (EF06MA22) Construção de retas paralelas e perpendiculares, fazendo uso de réguas, esquadros e softwares. Utilizar instrumentos, como réguas e esquadros, ou softwares para representações de retas paralelas e perpendiculares e construção de quadriláteros, entre outros. (EF06MA23) Construir algoritmo para resolver situações passo a passo (como na construção de dobraduras ou na indicação de deslocamento de um objeto no plano segundopontos de referência e distâncias fornecidas etc.). (EF07MA19) 7º ano Transformações geométricas de polígonos no plano cartesiano: multiplicação das coordenadas por um número inteiro e obtenção de simétricos em relação aos eixos e à origem. Realizar transformações de polígonos representados no plano cartesiano, decorrentes da multiplicação das coordenadas de seus vértices por um número inteiro. (EF07MA20) Reconhecer e representar, no plano cartesiano, o simétrico de figuras em relação aos eixos e à origem. (EF07MA21) Simetrias de translação, rotação e reflexão. Reconhecer e construir figuras obtidas por simetrias de translação, rotação e reflexão, usando instrumentos de desenho ou softwares de geometria dinâmica e vincular esse estudo a representações planas de obras de arte, elementos arquitetônicos, entre outros. (EF07MA22) A circunferência como lugar geométrico. Construir circunferências, utilizando compasso, reconhecê-las como lugar geométrico e utilizá-las para fazer composições artísticas e resolver problemas que envolvam objetos equidistantes. (EF07MA23) Relações entre os ângulos formados por retas paralelas intersectadas por uma transversal. Verificar relações entre os ângulos formados por retas paralelas cortadas por uma transversal, com e sem uso de softwares de geometria dinâmica. Continuação 11 CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF07MA24) 7º ano Triângulos: construção, condição de existência e soma das medidas dos ângulos internos. Construir triângulos, usando régua e compasso, reconhecer a condição de existência do triângulo quanto à medida dos lados e verificar que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é 180°. (EF07MA25) Reconhecer a rigidez geométrica dos triângulos e suas aplicações, como na construção de estruturas arquitetônicas (telhados, estruturas metálicas e outras) ou nas artes plásticas. (EF07MA26) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a construção de um triângulo qualquer, conhecidas as medidas dos três lados. (EF07MA27) Polígonos regulares: quadrado e triângulo equilátero. Calcular medidas de ângulos internos de polígonos regulares, sem o uso de fórmulas, e estabelecer relações entre ângulos internos e externos de polígonos, preferencialmente vinculadas à construção de mosaicos e de ladrilhamentos. (EF07MA29) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a construção de um polígono regular (como quadrado e triângulo equilátero), conhecida a medida de seu lado. (EF08MA14) 8º ano Congruência de triângulos e demonstrações de propriedades de quadriláteros. Demonstrar propriedades de quadriláteros por meio da identificação da congruência de triângulos. (EF08MA15) Construções geométricas: ângulos de 90°, 60°, 45° e 30° e polígonos regulares. Construir, utilizando instrumentos de desenho ou softwares de geometria dinâmica, mediatriz, bissetriz, ângulos de 90°, 60°, 45° e 30° e polígonos regulares. (EF08MA16) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a construção de um hexágono regular de qualquer área, a partir da medida do ângulo central e da utilização de esquadros e compasso. (EF08MA17) Mediatriz e bissetriz como lugares geométricos: construção e problemas. Aplicar os conceitos de mediatriz e bissetriz como lugares geométricos na resolução de problemas. (EF08MA18) Transformações geométricas: simetrias de translação, reflexão e rotação. Reconhecer e construir figuras obtidas por composições de transformações geométricas (translação, reflexão e rotação), com o uso de instrumentos de desenho ou de softwares de geometria dinâmica. (EF09MA10) 9º ano Demonstrações de relações entre os ângulos formados por retas paralelas intersectadas por uma transversal. Demonstrar relações simples entre os ângulos formados por retas paralelas cortadas por uma transversal. Continuação 12 Conclusão CÓDIGO ANO OBJETOS DE CONHECIMENTO DESCRIÇÃO (EF09MA11) 9º ano Relações entre arcos e ângulos na circunferência de um círculo. Resolver problemas por meio do estabelecimento de relações entre arcos, ângulos centrais e ângulos inscritos na circunferência, fazendo uso, inclusive, de softwares de geometria dinâmica. (EF09MA12) Semelhança de triângulos. Reconhecer as condições necessárias e suficientes para que dois triângulos sejam semelhantes. (EF09MA13) Relações métricas no triângulo retângulo. Teorema de Pitágoras: verificações experimentais e demonstração. Retas paralelas cortadas por transversais: teoremas de proporcionalidade e verificações experimentais. Demonstrar relações métricas do triângulo retângulo, entre elas o teorema de Pitágoras, utilizando, inclusive, a semelhança de triângulos. (EF09MA14) Resolver e elaborar problemas de aplicação do teorema de Pitágoras ou das relações de proporcionalidade envolvendo retas paralelas cortadas por secantes. (EF09MA15) Polígonos regulares Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a construção de um polígono regular cuja medida do lado é conhecida, utilizando régua e compasso, como também softwares. (EF09MA16) Distância entre pontos no plano cartesiano Determinar o ponto médio de um segmento de reta e a distância entre dois pontos quaisquer, dadas as coordenadas desses pontos no plano cartesiano, sem o uso de fórmulas, e utilizar esse conhecimento para calcular, por exemplo, medidas de perímetros e áreas de figuras planas construídas no plano. (EF09MA17) Vistas ortogonais de figuras espaciais Reconhecer vistas ortogonais de figuras espaciais e aplicar esse conhecimento para desenhar objetos em perspectiva. Fonte: BRASIL, 2018, p. 302 - 319 Percebe-se que desde o 1º até o 9º ano do Ensino Fundamental as habilidades desenvolvidas na unidade temática Geometria ocorrem de maneira progressista, ou seja, há uma continuidade entre as habilidades de um ano para o outro, de forma que os conceitos não se perdem entre os anos, mas sim, “sobem de nível” sendo trabalhados de maneira mais aprofundada cada conceitos desta unidade temática. Os objetos do conhecimento vão desde “localização de objetos e de pessoas no espaço [...]” (BRASIL, 2018, p. 302) no 1º ano até “vistas ortogonais de figuras espaciais” (BRASIL, 2018, p. 319) evidenciando que um conhecimento precede outro, pois para poder ocorrer vistas de figuras espaciais e necessário ter a 13 base do conceito de localização de objetos no espaço, para que assim, seja possível compreender a natureza tridimensional dos objetos no espaço. 3. A TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS Dentro da Teoria dos Campos Conceituais, o nome mais importante é o de Gérard Vergnaud. Esta teoria busca entender de que maneira as crianças constroem os conhecimentos ligados a Matemática, mas que também pode ser transposta e utilizada dentro de outras áreas do conhecimento. Pelas palavras de Vergnaud (1993) a Teoria dos Campos Conceituais “trata- se de uma teoria psicológica do conceito [...] que permite situar e estudar as filiações e rupturas entre conhecimentos” (VERGNAUD, 1993, p.1). Esta é, portanto, uma teoria cognitivista, ou seja, “busca propiciar uma estrutura coerente e alguns princípios básicos ao estudo do desenvolvimento e da aprendizagem das competências complexas” (VERGNAUD, 1993, p.1), porém, não pode ser considerada uma teoria didática, mesmo utilizando-a para estruturar à aprendizagem. Tem por finalidade, compreender as filiações e rupturas entre conhecimentos, tanto de crianças, quanto de adolescentes. Quando se fala em Teoria dos Campos Conceituais, Vergnaud (1993) nos mostra quatro ideias fundamentais, tanto para entendimento, quando para aplicação: conceitos, esquemas, situações e invariantes operatórios. Conceito:primeiramente, quando estamos falando de Teoria dos Campos Conceituais, não se pode simplesmente reduzir conceitos à suas definições, pois nesta teoria, analisamos o modo com que o aluno constrói, cognitivamente, esses conceitos. Isso é feito a partir de situações e problemas, pois é a partir deles que o aluno dará significado aos conceitos aprendidos. Quando se fala em conceitos, tem-se que ele é composto a partir de uma trinca de conjuntos, simbolizadas por C = (S, I, Y), onde C equivale a “conceito”, e S, I e Y são a trinca de conjuntos. O conjunto S é “das situações que dão sentido ao conceito” (VERGNAUD, 1993, p. 8), já o I é o “conjunto das invariantes em que se baseia a operacionalidade dos esquemas” (VERGNAUD, 1993, p. 8), e por fim, Y é o “conjunto das formas de linguagem (ou não) que permitem representar simbolicamente o conceito, suas propriedades, as situações e os procedimentos de 14 tratamento” (VERGNAUD, 1993, p. 8). Em outras palavras, S é o conjunto das referências, I do significado e Y do significante. Segundo Moreira (2002, p. 10) o conjunto de invariantes, que são os objetos utilizados (físicos ou não), as propriedades aprendidas e as relações realizadas, pode ser definido ainda como sendo “o conjunto de invariantes que podem ser reconhecidos e usados pelos sujeitos para analisar e dominar as situações do primeiro conjunto”. Do mesmo modo, Moreira (2002, p. 10) trás uma definição alternativa para o conjunto Y, sendo ele o conjunto das representações simbólicas, ou seja, é a linguagem utilizada para descrever/resolver o problema proposto e, consequentemente, descrever os conceitos. As representações podem ser tanto a linguagem natural (escrita), quanto linguagem gráfica, diagramas, e todas as demais formas de representações existentes. A relação de tríplice mostra que, quando um conceito é significativo para o aluno por meio de uma situação em que ele se encontra, seja ela proposta por um professor ou em seu cotidiano, mostra que diferentemente do que se pensa, naturalmente, a principal entrada de um campo conceitual advém da situação e não do conceito. Dai tem-se que um campo conceitual é formado por um conjunto de situações (VERGNAUD, 1988, p. 141), onde é necessário o domínio de vários conceitos distintos uns dos outros. Esquemas: para Vergnaud (1993, p. 2) esquema é “a organização invariante do comportamento para uma classe de situações dada”. È nos esquemas que a análise de como decorre a construção do conhecimento do aluno é realizada, a partir dos seus conhecimentos-em-ação, ou seja, é a partir dos elementos que o sujeito (estudante, nesse caso) utiliza em suas ações. Essas situações em que os esquemas são utilizados podem ser de duas formas, onde o conhecimento pode ou não ser operatório. Quando a situação é operatório, o estudante vai dispor das ferramentas necessárias para tratá-la, já nas não operatórias, o estudante não vai dispor de todas as ferramentas (conceitos) necessários, fazendo com que ele pare, reflita, e tente por outros meios, sendo ou não bem sucedido. Moreira (2002) trás outras quatro situações (quadro 2) distintas onde a aplicação de esquemas se diferem, onde são consideradas por Vergnaud (1990) como sendo ingredientes dos esquemas: 15 Quadro 2 – Situações que diferem a aplicação de esquemas SITUAÇÕES DESCRIÇÃO 1 Metas e antecipações Um esquema se dirige sempre a uma classe de situações nas quais o sujeito pode descobrir uma possível finalidade de sua atividade e, eventualmente, submetas; pode também esperar certos efeitos ou certos eventos. 2 Regras de ação do tipo "se... então". Que constituem a parte verdadeiramente geradora do esquema, aquela que permite a geração e a continuidade da sequencia de ações do sujeito. 3 Invariantes operatórios (teoremas-em-ação e conceitos-em-ação) que dirigem o reconhecimento, por parte do indivíduo, dos elementos pertinentes à situação; são os conhecimentos contidos nos esquemas; são eles que constituem a base, implícita ou explícita, que permite obter a informação pertinente e dela inferir a meta a alcançar e as regras de ação adequadas. 4 Possibilidades de inferência (ou raciocínios) que permitem "calcular", "aqui e agora”. As regras e antecipações a partir das informações e invariantes operatórios de que dispõe o sujeito, ou seja, toda a atividade implicada nos três outros ingredientes requer cálculos "aqui e imediatamente" em situação. Fonte: MOREIRA, 2002, p. 12-13. Tem-se que mesmo os esquemas sendo eficazes na maioria das vezes, nem sempre isso ocorre, principalmente quando o estudante utiliza de um esquema que se torna ineficaz para determinada situação, ou o estudante modifica este esquema, ou então ele descarta este esquema e vai em busca de outro. Situações: para Vergnaud, o conceito de situações é no sentido de tarefas, visto que uma situação pode ser caracterizada como sendo um conjunto de combinações de tarefas. Esse conceito é usualmente utilizado no meio da psicologia, já que os psicólogos consideram que “os processos cognitivos e as respostas do sujeito são função das situações com que ele se confronta” (VERGNAUD, 1993, p. 12). A partir disso teremos duas ideias, principais, sobre as situações: de variedade e da história. A de variedade nos diz que há uma gama de variedades de situações dentro de um campo conceitual, e a da história nos diz que a partir das situações que os 16 estudantes enfrentam, seus conhecimentos são elaborados. Tem-se ainda, de acordo com Vergnaud, que são as primeiras situações que enfrentamos são as responsáveis pelas concepções que temos, partindo do pressuposto que nessas primeiras situações enfrentadas fomos capazes, ou de dominá-las ou então de modificá-las. O objetivo é ter uma relação entre sujeito (estudante) com as situações, e simultaneamente com os significantes. Invariantes operatórios: o que nos leva até os invariantes operatórios são os esquemas. Os invariantes operatórios, termo abrangente para as expressões “conceito-em-ação” e “teorema-em-ação”, estão contidos nos esquemas, são os conhecimentos contidos nos esquemas, e são componentes essenciais dos esquemas. Vergnaud (1996; 1998) diz que o teorema-em-ação “é uma proposição tida como verdadeira” e o conceito-em-ação “é um objeto, um predicado, ou uma categoria de pensamento tida como pertinente, relevante”. Contudo, não se pode considerar um conceito-em-ação como sendo um conceito científico, e de forma análoga, não se pode considerar um teorema-em- ação como sendo um teorema verdadeiro e explícito. Não significa que eles não são de fato conceito e teorema, na verdade vai, além disso. Na ciência podemos discutir sobre a veracidade e pertinência de conceitos e teoremas, o que não ocorre, necessariamente, quando trata-se de invariantes operatórios. Eles fazem parte apenas de uma pequena parte visível de um iceberg, se comparado com um, pois para que seja um iceberg é necessário a parte que está submersa, sendo está formada pelos invariantes operatórios, dando assim, sentido a parte que está visível (conceitos e teoremas explícitos). Tem-se assim que tanto a parte explícita de conceitos e teoremas, quanto os invariantes são complementares. Quando se fala da utilização de conceitos e teoremas-em-ação pelos estudantes, deve-se ter em mente que eles não expressam através de linguagem natural os conceitos e teoremas que utilizam visto que, em sua maioria, eles nem fazem ideia de que estão utilizando-os. Isso não significa que os alunos não fazem uso, apenas que os utilizam de maneira implícita, podendo tornar-se explícitos a partir do intermédio de um professor a partir do ensino. Desta maneira, os conceitos- em-ação e os teoremas-em-ação podem tornar-se, verdadeiramente, conceitos e teoremas científicos explícitos, com o auxílio de um professor.17 3.1 Um enfoque nas filiações e rupturas Dentro da Teoria dos Campos Conceituais temos diversos aspectos importantes, principalmente quando utilizamos como ferramenta de análise com o intuito de observar de que maneira estudantes elaboram e constroem esquemas. Grings et al (2008) trazem um quadro (quadro 2) com as definições das principais categorias que devem ser analisadas ao se trabalhar com os estudantes segundo os trabalhos de Vergnaud. Dentre as categorias de Vergnaud, se dará enfoque nesta subseção as filiações e rupturas. Quando falamos de Teoria dos Campos Conceituais, a própria definição já trás as filiações e rupturas como sendo a principal finalidade. Ela é comumente utilizada para compreender as filiações e rupturas entre os conhecimentos tanto de crianças e adolescentes, mas que também é aceita quando trata-se de adultos, porém, com algumas ressalvas e modificações, visto que nos adultos as filiações e rupturas estão “ligadas aos hábitos e formas de pensamento adquiridas” (VERGNAUD, 1993, p. 1) Grings et al (2008) define filiações e rupturas. Nas filiações “identifica-se a necessidade de buscar em conhecimentos anteriores apoio para o desenvolvimento do novo conhecimento” (GRINGS et al., 2008, p. 8) e nas rupturas, de maneira oposta às filiações, “identifica-se a necessidade de romper com algum conhecimento anterior, uma vez que este conhecimento pode tornar-se obstáculo à nova conceitualização” (GRINGS et al., 2008, p. 8). Elas são, de certa maneira, complementares, e dentro do âmbito educacional, estão sempre aliada uma a outra, visto que dependendo da situação que o professor propõe ao estudante, ele irá buscar de maneira inconsciente conceitos conhecidos por ele capazes de construir esquemas para resolver a situação. Neste caso ocorrem as filiações. No entanto, quando o estudante se depara com dificuldades nesse processo de construção dos esquemas, ele se vê obrigado a repensar as estratégias e conceitos utilizados, reformular esses conceitos e em alguns casos até mesmo ir em busca de conceitos ainda não vistos por ele. Ocorrem as rupturas. As rupturas levam o estudante ou ao sucesso, ou ao fracasso. Ao sucesso quando as reformulações que ele faz resultam em algo positivo que soluciona a situação em que se encontra. Fracasso, pois ao ter que reformular e ir em busca de 18 conceitos ainda não vistos por ele, a chance do estudante construir um esquema insatisfatório para a situação é relativamente alta. Assim, ele é forçado a fazer uma reflexão da situação, explorar novas possibilidades e alternativas, e realizar novas tentativas e construções, que podem ou não serem falhas. Se forem falhas, ele retorna ao fracasso. Quando se fala em Teoria dos Campos Conceituais, fala-se também de tempo. Vergnaud (2011) define longo e curto prazo na aprendizagem, onde o longo prazo está intimamente ligado à ideia de filiação e ruptura. O longo prazo está infimamente relacionado com o desenvolvimento e sua perspectiva “não é em alguns dias ou semanas que uma criança adquire uma competência ou compreende um conceito [...] mas ao longo de vários anos de escola e de experiência” (VERGNAUD, 2011, p. 16). Enquanto isso, o curto prazo “são situações suscetíveis de serem utilmente propostas aos alunos em um ou outro momento do seu desenvolvimento (competências adquiridas total/parcial)” (VERGNAUD, 2011, p. 16, grifo nosso). Pode-se assim, ter outra definição para as filiações e rupturas que justificam a tese de longo prazo e curto prazo proposta por Vergnaud (2011), onde ela está infimamente ligada à ideia de “longo prazo”: Nas filiações “porque as competências novas apoiam-se, em parte, nas competências adquiridas antes” (VERGNAUD, 2011, p. 16); já as rupturas porque “a tomada de consciência necessária à formação de uma nova competência exige que a criança deixe de lado ideias e formas de agir. Por vezes, mesmo, é preciso que ela as rejeite” (VERGNAUD, 2011, p. 16). Essa tese teórica de longo e curto prazo, de acordo co Vergnaud (2011) permite que o educador e/ou pesquisador consiga visualizar com maior exatidão e assim captar as filiações e rupturas que ocorrem durante os processos de desenvolvimento cognitivo e conceitual dos estudantes com o passar do tempo. 4. METODOLOGIAS As estratégias metodológicas deste estudo serão organizadas em: metodologia de intervenção pedagógica (4.1) onde é apresentada as estratégias para elaboração/intervenção e metodologia da pesquisa (4.2) onde é apresentada as estratégias de coleta e análise dos dados obtidos. 19 4.1 Metodologia de investigação pedagógica A atividade baseia-se na elaboração de questões abertas com referência a geometria de acordo com os conceitos trabalhados no 9º ano do Ensino Fundamental disponibilizados na BNCC. Para elaboração dessas questões, será construído um projeto com os estudantes, onde o professor agirá como mediador, propondo desafios. Este projeto será dividido em cinco momentos. A metodologia da atividade é baseada na Resolução de Problemas – RP – no ensino/aprendizagem de Matemática. Optou-se por essa metodologia tendo em vista a necessidade que o professor tem de organizar suas aulas buscando sempre novas maneiras de fazer com que o estudante tenha prazer em aprender (MORAIS; ODY; SCHEIN, 2016). Além disso, procura-se trabalhar com a Matemática de maneira que os estudantes possam aplicá-la em seu cotidiano (implícita ou explicitamente) nas mais diversas situações. Temos assim que a RP é considerada uma metodologia de ensino, e sendo assim, ela é constituída de um conglomerado de estratégias e ações focadas ao ensino, neste caso, da Matemática e desenvolvimento da aprendizagem na mesma área (ALTOÉ, 2016). Os cinco momentos do projeto se baseiam nas quatro fases da RP, apresentadas no quadro 3 abaixo. Quadro 3 – Fases para Resolução de Problemas FASE DESCRIÇÃO 1 [...] compreender o problema, percebendo claramente o que é necessário para resolvê-lo. [...] Em vista disso, percebe-se a importância de o professor escolher de forma cautelosa os problemas a serem trabalhados em aula com os alunos, buscando organizá-los de forma clara, de fácil compreensão no início, mas aumentando o grau de dificuldade na resolução dos mesmos gradualmente. 2 [...] se deve estabelecer um plano para solucionar um problema. [...] Após ter compreendido o problema é necessário conhecer um pouco sobre o assunto, para que seja possível estabelecer um plano. 3 Realizada a sua compreensão, é necessário elaborar e colocar em prática o plano [...]. Analisar minuciosamente todos os passos realizados até o momento durante as fases para se chegar à resolução do problema é de extrema importância. 4 Após analisar e se certificar de todas as possíveis situações de erro é o momento de fazer o retrospecto ou verificação do plano. Esta última etapa é importante, pois proporciona ao aluno refletir sobre o esforço realizado na resolução de um problema e é uma boa oportunidade ao professor [...] de indagar seus alunos a respeito do resultado ou método utilizado, questionando se determinado modo de resolução pode ser aplicado em algum outro problema [...]. Fonte: MORAIS; ODY; SCHEIN, 2016, p. 3, grifo nosso. 20 Sendo assim, no primeiro momento será proposta aos alunos a construção de uma maquete representando bairros de uma cidade, ou localidades rurais, dependendo do local onde os alunos moram. Os alunos serão divididos em grupos de no mínimo 2 alunos e no máximo 4, onde cada grupo será responsável por construir uma quadra pertencente a uma cidade ou, no caso de alunos que residem na região urbana, ou chácaras/lavouras, no caso de alunos que residam no interior. No segundo momento será solicitado que os alunos construam uma casa onde a família (grupo formado por eles) irá morar, tendo como desafio a utilização da geometriapara explicar cada passo das construções realizadas. Todas as construções que os estudantes realizarem deverá ser descritas em um diário de bordo, e mesmo um grupo, cada componente deverá ter seu próprio diário de bordo. No momento seguinte, será proposto aos grupos que solucionem alguns problemas que surgirão nessa cidade fictícia, lembrando sempre que os problemas serão propostos tendo como pressupostos os conceitos de geometria, e sendo assim, espera-se que os estudantes à utilizem como ferramenta de resolução. O professor irá conversar com os alunos buscando entender os passos que eles estão seguindo para resolver os problemas propostos e auxiliar aqueles que solicitarem ou que o professor achar que necessitam de auxílio. O quarto momento é de desafios. Novos problemas serão propostos aos alunos, onde, assim como nos problemas anteriores, eles serão induzidos a utilizarem a geometria para resolver. O professor irá conversando com os grupos buscando entender de que maneira cada um está tentando solucionar os problemas. O quinto e último momento é de reflexão e diálogo. Cada grupo será convidado a mostrar, em um seminário curto, suas construções, assim como mostrar aos colegas os problemas que foram propostos e de que maneira os resolveram. Após o seminário, o professor irá recolher os diários de bordo de cada estudante, pois é a partir desse material que será realizada a análise visando observar se ouve filiações e/ou rupturas no processo de resolução de problemas. Como já dito, cada estudante terá de construir um diário de bordo, mas, além disso, será disponibilizado um diário comunitário, onde aquele grupo ou aluno que sentir necessidade de auxílio na resolução dos problemas propostos poderá solicitar auxílio de outro grupo. Além, também será disponibiliza duas caixas “fórum”, onde 21 os estudantes/grupo poderão deixar perguntas (anônima ou não) em um das caixas, e o professor deixara as respostas/sugestões na outra caixa. 4.2 Metodologia da pesquisa A metodologia da pesquisa se baseia na análise dos diários de bordos dos estudantes a partir das filiações e rupturas apresentadas pela Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, já apresentadas anteriormente na seção 3 e subseção 3.1. A partir do recolhimento dos diários de bordo dos estudantes, será feito uma análise preliminar visando separar apenas as informações que poderão ser analisadas de acordo com a proposta deste trabalho, ou seja, as informações dos diários de bordo que serão analisadas seguirão o objetivo geral estipulado para este trabalho “mapear os processos em que ocorrem filiações e rupturas de conceitos relacionados à Geometria”. Seguindo isso, cada diário será analisado separadamente um do outro, mesmo pertencendo a estudantes que compuseram o mesmo grupo, pois assim será possível observar o desenvolvimento de cada estudante isoladamente. Serão apenas analisadas as filiações e rupturas realizadas pelos estudantes, para que assim, seja otimizado o tempo e todos os materiais possam ser analisados da mesma maneira, adequadamente. Após, os dados coletados serão dispostos em duas planilhas, uma contendo as filiações e outra contendo as rupturas. Será construída, ainda, uma terceira planilha contendo os problemas que foram propostos a cada um dos grupos. Cada problema apresentara anotações referentes ao seu impacto nos estudantes, a partir dos relatos dos mesmos realizados, ou pelo diário de bordo, ou pelas caixas do “fórum”. Percebe-se que, além da Teoria dos Campos Conceituais, faz parte da metodologia da pesquisa a metodologia de RP, pois os problemas elaborados aos estudantes também fazem parte dos resultados desse trabalho. 5. RESULTADOS ESPERADOS 22 Espera-se como resultados conseguir observar os processos envolvidos no processo de filiações e rupturas dos estudantes ao tentarem resolver os problemas propostos, e ainda desmistifiquem a Matemática como sendo algo de difícil compreensão, e consigam, não somente perceber onde os conceitos de geometria são aplicados no mundo, mas também façam uso desses conceitos no dia a dia. O desenvolvimento cognitivo é outro resultado esperado, pois ao instigar os alunos a realizarem, principalmente rupturas, eles necessitam parar para refletir e elaborarem novas estratégias de se alcançar o objetivo proposto pelo professor. As filiações, como já mencionadas, auxiliam no crescimento cognitivo, mas também propicia ao estudante utilizar de ferramentas que ele já conhece, mesmo que não tenha percebido. Além disso, o fato dos estudantes terem que trabalharem em grupos, propicia a eles visão de como é trabalhar em equipe tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar, pois mostra a eles, mesmo que de maneira simplista, como as coisas ocorrem na sociedade, e estimulam neles a empatia, paciência, e principalmente, a compreensão, visto que cada estudante é diferente um do outro, possuindo pensamentos e crenças distintos. Já visualizando os prováveis resultados voltados ao professor, espera-se que a partir da elaboração de problemas que induzam o estudante a utilizar, não somente conceitos e ferramentas que o professor sugere, mas também as experiências que ele trás consigo das interações sociais que ele realiza tanto dentro do ambiente escolar, quanto na comunidade à qual pertence. Tal fato mostra ao professor de que maneira os estudantes pensam e elaboram seus esquemas, o que não somente facilitará no momento de analisar os esquemas conforme as filiações e rupturas que eles realizam, mas também onde cada estudante apresenta facilidades, e consequentemente, dificuldades. Por fim, espera-se divulgar este trabalho e todos os processos envolvidos na sua construção com a comunidade acadêmica, e principalmente, com os professores da Educação Básica, visto que um dos objetivos deste trabalho é a construção e elaboração de problemas envolvendo conceitos de Geometria segundo as habilidades descritas na BNCC, sendo este documento (a BNCC) norteador para a construção dos projetos políticos pedagógicos das escolas. 23 REFERÊNCIAS ALTOÉ, Renan Oliveira. Formulação de Problemas: uma possibilidade didática no ensino de matemática. XX Encontro Brasileiro de estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática. Curitiba, PR, 12 a 14 nov. 2016. BARASIL, Ministério da Educação Brasileira. Base Nacional Comum Curricular. [versão final]. 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_s ite.pdf>. Acessado em 28 set. 2020. BRASIL, Ministério da Educação Brasileira. Base Nacional Comum Curricular. [site] 2019. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acessado em 28 set. 2020. BRASIL, Ministério da Educação. Compromisso Nacional pela Educação Básica. MEC, CONSED, UNDIME. jul. 2019. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/images/11.07.2019_Apresentacao-ed-basica.pdf>. Acessado em 28 nov. 2020. BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI. 562 p. 2013. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1554 8-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&category_slug=abril-2014-pdf&Itemid=30192>. Acessado em 27 nov. 2020. BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática. Brasília: MEC/SEF. 142 p. 1997. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf>. Acessado em 25 nov. 2020. GRINGS, Edi Terezinha de Oliveira; CABALLERO, Concesa; MOREIRA, Marco Antonio. Uma proposta didática para abordar o conceito de temperatura a partir 24 de situações, á luz da teoria dos campos conceituais de Vergnaud. R. B. E. C. T., v. 1, n. 1, jan./abr., 2008. MORAIS, Nathalia Fernanda; ODY, Magnus Cesar; SCHEIN, Zenar Pedro. A resolução de problemas em Matemáticae a aprendizagem das estruturas aditivas e multiplicativas. XIII Encontro Nacional de Educação Matemática – educação Matemática na Contemporaneidade: desafios e possibilidade. São Paulo, SP, 13 a 16 jun. 2016. ISSN 2178-034X. MOREIRA, Marco Antonio. A Teoria dos Campos Conceituais de Vegnaud, o Ensino de Ciências e a pesquisa nessa área. Investigações em Ensino de Ciências, v. 7, n. 1, p. 7-29. Porto Alegre, RS, 2002. Disponível em: < https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/141212/000375268.pdf?sequen>. Acessado em 15 nov. 2020. VERGNAUD, Gèrard. La théorie dês champs conceptuels. Recherches em Didactique dês Mathématiques, v. 10, n. 23, p. 133-70, 1990. VERGNAUD, Gèrard. Long term and short term in mathematics learning (engl.). O longo e o curto prazo na aprendizagem da Matemática (port.). Educar em revista, Curitiba, PR. n. especial 1/2011, p. 15-27, editora: UFPR, 2011. VERGNAUD, Gèrard. Multiplicative structures. In Hiebert, H. and Behr, M. (Eds.). Research Agenda in Mathematics Education. Number Concepts and Operations in the Middle Grades. Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum. pp. 141-161. 1988. VERGNAUD, Gèrard. Psicologia do desenvolvimento cognitivo e didáctica das matemáticas. Um exemplo: as estruturas aditivas. Análise Psicológica, v. 1, p. 75- 90, 1986. VERGNAUD, Gèrard. Teoria dos Campos Conceituais. In Nasser, L. (Ed.) Anais do 1º Seminário Internacional de Educação Matemática do Rio de Janeiro, p. 1-26. 1993. Disponível em: < 25 http://odin.mat.ufrgs.br/usuarios/paula/Teoria_do_Campo_Conceitual_G.Vergnaud.p df>. Acessado em 25 mar. 2018.
Compartilhar