41476-Teoria geral dos recursos

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Teoria geral dos recursos
RECURSO
Conceito: é um meio voluntário de impugnação de decisões judiciais, interno ao processo, que visa à reforma, à anulação ou ao aprimoramento da decisão atacada (Marinoni, Arenhardt e Mitidiero, 2015, p. 923).
Competência Legislativa. Compete privativamente à União legislar sobre direito processual civil (art. 22, I, da CF). Portanto, os Estados, o DF e os Municípios não podem criar novos recursos em direito processual civil, podem criar apenas normas procedimentais. 
Atos processuais sujeitos a recurso
Só cabe recurso contra ato do JUIZ. Portanto, não cabe recurso de parecer do Ministério Público, ou de ato praticado por serventuário da justiça.
Só cabe recurso do ato do juiz, com carga decisória. (Obs: Art. 1.001, CPC. Dos despachos não cabe recurso)
 - Em primeira instância: de decisão interlocutória e de sentença.
 - Nos Tribunais: dos acórdãos e das decisões unipessoais (monocráticas). 
CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS
CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS
QUANTO À EXTENSÃO DA MATÉRIA
RECURSO TOTAL OU PARCIAL
QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO
LIVRE OU VINCULADA 
Quanto à extensão da matéria
Art. 1.002, CPC. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte. 
Recurso parcial: o Recorrente decide impugnar apenas uma parte ou capítulo da decisão. 
Ex: Na sentença o juiz condena o réu ao pagamento de danos materiais e morais, e o réu apresenta recurso apenas em relação aos danos morais. 
Recurso total: É aquele que abrange todo o conteúdo da decisão recorrida. Se o recorrente não especificar a parte em que impugna a decisão, o recurso deve ser interpretado como total (Fredie Didier Jr.).
Quanto à fundamentação
Recurso de fundamentação livre: nessa espécie, o recorrente tem ampla liberdade para fundamentar as suas razões recursais. 
Ex: Apelação e Agravo de instrumento. 
Recurso de fundamentação vinculada: nessa espécie, o recorrente está vinculado a um dos casos expressamente enumerados na Lei para interpor o seu recurso. 
Ex: Recurso especial p/STJ e recurso extraordinário p/STF.
Comparativo prático
Art. 1.009, CPC. Da sentença cabe apelação. (...)
Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)
III- julgar, em recurso especial (...), quando a decisão:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou, negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação diversa da que lhe haja atribuído outro tribunal. 
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO
Os recursos estão sujeitos a um duplo exame, ou seja, primeiro se verifica se o recurso preenche os requisitos mínimos de procedibilidade (juízo de admissibilidade). Após a análise do juízo de admissibilidade e, em caso positivo, se examinará a procedência ou não do que se postula no recurso (juízo de mérito).
O juízo de admissibilidade é sempre preliminar ao juízo de mérito. 
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
JUÍZO DE MÉRITO 
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE 
JUÍZO DE ADMISSIBILDIADE 
POSITIVO
CONHECE-SE O RECURSO OU ADMITE-SE O RECURSO
NEGATIVO 
NÃO SE CONHECE O RECURSO – NÃO SE ADMITE O RECURSO
MODELO DE VOTO RESUMIDO – STJ
REFERENTE AO JULGADO: A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder Judiciário substituir o mencionado índice. STJ. 1ª Seção. REsp 1.614.874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 625). 
(...)
Por meio da decisão de fls. 604-605, admiti o processamento do presente recurso especial sob a sistemática do art. 1.036, caput, e § 1º, do CPC/2015 e determinei, dentre outras providências, a suspensão, em todo o território nacional, dos processos pendentes que versem sobre a questão ora afetada (artigo 1.037, II, do CPC/2015).
(...)
Isso posto, nego provimento ao recurso especial. Por se tratar de recurso representativo de controvérsia, sujeito ao procedimento do artigo 1.036 do CPC/2015, determino, após a publicação do acórdão, a comunicação à Presidência do STJ, aos Ministros da Primeira Seção, aos Tribunais Regionais Federais, bem como aos Tribunais de Justiça dos Estados, com a finalidade de dar cumprimento ao disposto no artigo 1.040 do CPC/2015. É como voto.
OBJETO DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE 
O objeto é formado pelos requisitos de admissibilidade. Que, segundo a classificação de Barbosa Moreira, dividem-se em dois grupos:
Requisitos intrínsecos: que dizem respeito a própria existência do direito de recorrer. Sendo os seguintes: a) cabimento; b) legitimação; c) interesse e, d) inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. 
Requisitos extrínsecos: relativos ao modo do exercício de recorrer. Sendo os seguintes: a) preparo; b) tempestividade e, c) regularidade formal.
Juízo de admissibilidade
Requisitos intrínsecos 
Cabimento, legitimidade, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo.
Requisitos extrínsecos
Preparo, tempestividade e regularidade formal
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE: cABIMENTO
O requisito em tela pode ser materializado a partir da resposta de duas perguntas, quais sejam: a) a decisão é passível de recurso? b) qual o recurso cabível contra essa decisão?
Ex: Sentença de improcedência proferida em ação de usucapião: a decisão é recorrível (sentença) e o recurso cabível é a apelação. 
Em suma, o cabimento desdobra-se em dois elementos: a previsão legal do recurso e sua adequação: previsto o recurso em lei, cumpre verificar se ele é adequado a combater aquele tipo de decisão. Se for positiva a resposta, revela-se então, cabível o recurso.
CABIMENTO
PREVISÃO LEGAL DO RECURSO
ADEQUAÇÃO
LEGITIMIDADE PARA RECORRER
Art. 996, CPC. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
P.ú. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual.
Exemplos de terceiro prejudicado (aceitos pelo STJ):
a) servidor nomeado, diante de decisão que anula o concurso no qual foi aprovado, proferido em processo no qual não participou; b) o arrematante que não foi réu nos embargos à arrematação julgados procedentes; c) o fiador, diante da procedência do pedido de cobrança de aluguéis, proposta apenas contra o inquilino; d) proprietário de imóvel, por dívidas condominiais, perante cobrança ajuizada contra o locatário do imóvel. 
STJ: JURISPRUDÊNCIA
O proprietário de imóvel gerador de débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado em ação de cobrança ajuizada em face de locatário, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo passivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.663-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
INTERESSE RECURSAL
O interesse recursal está umbilicalmente relacionado com o interesse de agir.
Assim, para que haja o interesse recursal, o recurso deve visar uma situação mais vantajosa em favor do recorrente (útil), bem como ser necessário para a obtenção dessa busca por uma situação mais vantajosa (necessidade).
Pode-se relacionar o interesse recursal com a existência de sucumbência em desfavor do recorrente.
Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer
São conhecidos como requisitos negativos de admissibilidade, ou seja, para que o recurso seja admitido não podem ocorrer os fatos impeditivos ou extintivos do poder de recorrer.
Ex: O reconhecimento da procedência do pedido pelo réu, é um fato impeditivo de seu direito de recorrer.
Ex2: A renúncia ao direito de recorrer, é um fato extintivo ao poder de recorrer.
Art. 999, CPC. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.
Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-seaceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer.
JUÍZO A QUO E JUÍZO AD QUEM
Juízo a quo ou órgão a quo: o juízo ou órgão que proferiu a decisão recorrida.
Juízo ad quem ou órgão ad quem: juízo ou órgão para quem se destina o recurso, para reexame da matéria.
TRIBUNAL: juízo ad quem 2ª Instância
RECURSO: APELAÇÃO
SENTENÇA: juízo a quo 1ª Instância
REQUISITOS EXTRÍNSECOS
Dentro do estudo do juízo de admissibilidade, para que esse esteja presente, é necessário o preenchimento dos requisitos extrínsecos:
 
PREPARO;
TEMPESTIVIDADE;
REGULARIDADE FORMAL
PREPARO
CONCEITO: É o ato de efetivar o pagamento antecipado das despesas relativas ao processamento do recurso. 
DESERÇÃO: É nome técnico-processual que se atribui a ausência do preparo, quando exigido por Lei.
Como regra, deve ser comprovado o preparo no momento da interposição do recurso, por meio da apresentação da guia de recolhimento. 
O valor do preparo é composto pela soma, quando for o caso, da taxa judiciária e das despesas postais (portes de remessa e de retorno dos autos).
O valor do preparo não será devolvido, mesmo se o recurso não for conhecido. 
Art. 1.007, CPC. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive o porte de remessa e retorno, sob pena de deserção. 
QUESTÕES PRÁTICAS RELACIONADAS AO PREPARO
1) SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: No sistema dos Juizados Especiais Cíveis, é possível a realização do preparo do recurso inominado interposto contra a sentença, em até 48 horas após a sua apresentação- art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995.
2) AUSÊNCIA DE PREPARO OU EM VALOR INSUFICIENTE: Se caracteriza a insuficiência do preparo, quando realizado em valor menor que o efetivamente devido. Vige no sistema recursal, a regra segundo a qual, antes de considerar inadmissível o recurso, o relator deverá conceder o prazo de 05 dias para que o recorrente possa sanar o vício ou complementar a documentação exigida. Assim sendo, no caso de ausência de preparo, ou em valor insuficiente, ou havendo justo impedimento, ou ainda, no caso de equívocos no preenchimento da guia de pagamento, antes de ser decretada a deserção, deve ser oportunizada à parte recorrente “sanar” a irregularidade apontada, sob pena de não o fazendo, ai sim, decretar a deserção. 
Obs: Vide art. 932, Pú e art. 1.007, § § 2º,4º, 6º e 7º, do CPC. 
3) JUSTO IMPEDIMENTO: Quando houver justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção e concederá ao recorrente o prazo de 5 dias para efetivar o preparo. Art. 1.007, § 7º CPC.
Exemplos: no caso de greve bancária e enchente.
Súmula 484 STJ: Se o recurso for protocolado dentro do prazo, durante o expediente forense, mas após cessado o expediente bancário, vindo o preparo a ser efetuado no primeiro dia útil subsequente à atividade bancária, não há deserção.
4) SUJEITOS DISPENSADOS DO PREPARO: Não necessitam efetivar o preparo: a) O Ministério Público, a União, Estados, DF, Municípios e as respectivas autarquias; b) Os beneficiários da Gratuidade da Justiça – O pedido pode ser elaborado no próprio recurso. 
5) RECURSOS QUE NÃO NECESSITAM DE PREPARO: a) Embargos de declaração; b) Os recursos no ECA; c) Agravo interno; d) Agravo em recurso especial ou extraordinário; e) Os embargos infringentes de alçada – Art. 34, da Lei 6.830/80)
TEMPESTIVIDADE
O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em Lei. 
O prazo para a interposição dos recursos no atual CPC é de 15 DIAS. Com exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 05 DIAS. (art. 1.003, § 5º, CPC).
O termo inicial do prazo recursal é o da intimação da decisão. 
A tempestividade do recurso é verificada pela data do protocolo, com exceção dos recursos apresentados pelo correio, cuja tempestividade é auferida pela data da postagem. (art. 1.003, § 4º, CPC).
REGULARIDADE FORMAL
Para que determinado recurso seja admitido é necessário que estejam presentes determinados requisitos gerais e específicos de cada um desses recursos. Tais requisitos são materializados por meio de formas exigidas em Lei.
Como exemplos podemos citar, como requisitos gerais: a) a forma escrita (com exceção dos embargos de declaração no JEC); b) a necessidade de um pedido recursal; c) a apresentação das razões recursais, impugnando especificamente os fundamentos da decisão recorrida. E, como requisitos específicos: a) a juntada de documentos obrigatórios para a interposição do agravo de instrumento; b) a demonstração da repercussão geral para a apresentação do recurso extraordinário; c) no caso de recurso especial, demonstrar a prova da divergência jurisprudencial, com o cotejo entre a decisão recorrida e a decisão paradigma, quando o recurso se fundamentar na alínea c, inc. III, art. 105 da CF. 
Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: ELETROBRAS-ELETROSUl. Paulo ajuizou ação de cobrança contra Pedro, julgada procedente em primeiro grau de jurisdição. O processo tramita pelo meio eletrônico. Inconformado com a r. sentença Pedro apresenta recurso de apelação dentro do prazo legal, mas não comprova no ato da interposição do recurso, o recolhimento do preparo. Neste caso,
ATIVIDADES 
a) o Magistrado deverá aplicar imediatamente a pena de deserção à Pedro. 
b) Pedro será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro do valor do preparo, dispensado o porte de remessa e retorno, sob pena de deserção.
 c) Pedro será intimado, na pessoa de seu advogado, para recolher o valor do preparo, inclusive porte de remessa e retorno, sob pena de deserção.
d) Pedro será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro do valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
e) Pedro será intimado, na pessoa de seu advogado, para recolher o valor preparo, dispensado o porte de número e retorno, sob pena de deserção.
01- Quais são as pessoas legitimadas para a interposição de recurso no processo civil?
02- Qual a distinção entre recurso total e parcial?
03- O que é o juízo de admissibilidade? 
04- Com suas palavras explique o que é preparo, na linguagem recursal. 
05- Estabeleça a distinção entre os parágrafos 2º e 4º do art. 1.007 do CPC.