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GESTÃO ESTRATÉGICA DA MARCA E PERCEPÇÃO DIGITAL W BA 06 37 _v 1. 0 © 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Mariana Ricken Barbosa Priscila Pereira Silva Coordenador Mariana Ricken Barbosa Revisor Tatiane Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Hâmila Samai Franco dos Santos Leonardo Ramos de Oliveira Campanini Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Aleixo, Tayra Carolina Nascimento A366g Gestão estratégica da marca e percepção digital / Tayra Carolina Nascimento Aleixo, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 112 p. ISBN 978-85-522-1026-9 1. Branding (marketing). 2. Marca registrada. I. Aleixo, Tayra Carolina Nascimento. II. Título. CDD 300 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ mailto:editora.educacional%40kroton.com.br?subject= http://www.kroton.com.br/ Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 3 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 04 Tema 01 – Introdução à Gestão de Marcas 06 Tema 02 – Identidade e Personalidade de Marca 22 Tema 03 – (Re)Posicionamento da Marca 38 Tema 04 – Branding Sensorial 50 Tema 05 – Aspectos Legais 66 Tema 06 – Risco e Crise em Gestão de Marcas 83 Tema 07 – Storytelling 99 Tema 08 – Personal Branding 114 GESTÃO ESTRATÉGICA DA MARCA E PERCEPÇÃO DIGITAL 4 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Apresentação da disciplina Gestão de Marcas, ou simplesmente branding, designa o conjunto estra- tégico de atividades voltadas para construção, gestão e manutenção do valor intangível referente às marcas (KELLER; MACHADO, 2006). No cenário competitivo de hoje, a concorrência ultrapassa as fronteiras dos países, configurando uma arena de atuação global. Neste sentido, a combinação de elementos como qualidade e preço justo deixa de ser o diferencial, cedendo lugar para o valor da marca em meio aos consumido- res (KELLER; MACHADO, 2006). Com base nesta linha de raciocínio, esta disciplina se desenvolve em oito capítulos. Com exceção do primeiro, que possui um caráter sumário e introdutório, cada um dos demais temas busca trazer um enfoque espe- cífico no que tange o conjunto de atividades voltadas para o branding. Desta forma, o capítulo dois articula o processo de criação e desenvol- vimento de identidade e personalidade da marca, trazendo indícios de como a marca, hoje, acaba formulando uma personalidade para tratar com os consumidores, por exemplo, no ambiente digital. Serão objetos deste capítulo, também, arquitetura e extensão de marca. O capítulo três tenciona os movimentos de posicionamento e reposicio- namento de marca. De acordo com as circunstâncias do mercado, a mar- ca precisa se reinventar, alterando sua estratégia de valor (brand equity) junto aos consumidores. Sobre as estratégias relacionadas à percepção do consumidor, o capítulo sobre branding sensorial traz uma interessante discussão acerca de no- vas possibilidades em detrimento do número exacerbado de publicida- des que utilizam recursos visuais e auditivos. O capítulo delineia novas possibilidades sensoriais que estão sendo trabalhadas pelas marcas. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 5 Já no campo jurídico, serão discutidos no capítulo cinco alguns aspectos legais que a gestão de marca guarda no seu escopo de atividades, tais como: direitos autorais, licenciamento e patentes. O capítulo seis traz informações sobre a gestão de risco dentro da área de branding, traçando alguns métodos de recuperação de marca e estra- tégias de sustentabilidade. Atualizando toda discussão, o capítulo sete busca localizar toda discussão da disciplina na realidade digital contemporânea. Teorias da comunica- ção serão convidadas para compor a temática, incluindo os conceitos de transmedia e storytelling. Por fim, mas não menos importante, o capítulo oito apresenta estraté- gias de marketing pessoal, ou seja, como encarar você mesmo como uma marca e desenvolver artifícios que o promovam nas relações interpesso- ais travadas no dia a dia, tanto no trabalho como também na vida pessoal. Tenha uma ótima leitura! Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 6 TEMA 01 INTRODUÇÃO À GESTÃO DE MARCAS Objetivos • Apresentar o conceito de marca; • Introduzir a noção de branding, ou gestão de marcas, bem como o conceito de brand equity; • Descrever e exemplificar os diversos riscos atrelados a produtos e serviços que o consumidor pondera na hora da compra, localizando, neste processo, a razão de ser das marcas. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 7 Introdução A gestão de marcas, ou branding, é encarada hoje como fator de dife- renciação no mercado organizacional global. O escopo de seus processos prevê uma série de atividades, tais como: design, naming, proteção legal, pesquisa de mercado, avaliação financeira, posicionamento e comunica- ção (KELLER; MACHADO, 2006). Essas atividades serão tratadas em capí- tulos subsequentes, ao longo de toda a disciplina. Em contrapartida, na apresentação do livro “Gestão Estratégica de Marcas”, de Keller e Machado (2006), o autor Marcos Machado (2006) propõe uma diferença entre os termos gestão de marcas e branding. Para ele, o se- gundo visa otimizar o primeiro através de um conjunto de atividades que estabelecem diferenciais competitivos, perante o mercado, para a organi- zação detentora da marca trabalhada. Branding seria, portanto, o próprio esforço em agregar valor, brand equi- ty, nos produtos e serviços da marca. Neste sentido, brand equity seria a atividade de marketing voltada exclusivamente para a marca (KELLER; MACHADO, 2006). O mercado, por sua vez, deve ser encarado a nível global. A construção de uma marca requer uma gestão contínua que busca, o tempo todo, posicionar a marca perante os eventos que ocorrem, sejam eles internos ou externos, estabelecendo relações harmoniosas com a sociedade para além do cenário local. Não obstante, a marca busca suprimir os riscos percebidos pelo cliente, influenciando o mesmo em seu processo de compra. Sobre isso, o capí- tulo traz breves definições e exemplos que o ajudarão a entender a razão de ser das marcas. 8 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 1. Marcas: algumas definições preliminares Uma marca geralmente é expressa através de desenho, símbolo, termo e nome, ou ainda, através da combinação desses diferentes signos (KELLER; MACHADO, 2006). Além disso, a marca remete a rápidas associações na mente do consumidor, imprimindo conhecimento prévio sobre os atribu- tos de determinado produto ou serviço. PARA SABER MAIS Existem diversos rankings de marcas que buscam hierarqui- zar as marcas mais presentes na mente do consumidor, me- diante pesquisa de mercado. As marcas que alcançam as po- sições de maior prestígio são chamadas “top of mind”, sendo assim conhecidas também as próprias pesquisas que bus- cam esses dados junto ao consumidor. O prêmio Top do Top, criado em 1993, apontou as quatro marcas mais lembradas pelo brasileiro noano de 2017, são elas: Omo (7%), Coca-Cola (4%), Nike (4%) e Samsung (4%). Fonte: GREGORIO, Rafael. Omo, Coca-Cola, Nike e Samsung são as marcas mais lem- bradas no Brasil. Folha de São Paulo, Especial Top of Mind, 30/10/2017. Além do conhecimento citado acima, a reputação e a proeminência são características das marcas (KELLER; MACHADO, 2006). Uma vez que a marca pode endossar um produto por meio de sua reputação, também pode, através de sua proeminência no mercado, influenciar o processo de decisão de compra do consumidor. Dito de outra maneira, a marca tem potencial de diferenciar o produto dos demais, ofertados por outros players. Essas diferenças podem residir no terreno racional e tangível, como aspectos de desempenho e design Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 9 do produto, como também no âmbito intangível, mais ligado ao emocio- nal, portanto, aquilo que a marca pode representar para o consumidor (KELLER; MACHADO, 2006). EXEMPLIFICANDO Em 1985, a Coca-Cola criou a New Coke como resposta às ações de marketing realizadas pela Pepsi. Nos vários testes cegos aplicados pela concorrente, a preferência do consumi- dor sempre se dava no gosto adocicado da Pepsi. Temendo a repercussão dessas ações, a Coca resolveu modificar sua fór- mula original para igualar ao sabor da concorrente. Acontece que a empresa teve que recuar na decisão devido à enxurra- da de críticas vindas dos seus consumidores. A marca Coca- Cola não remete, portanto, apenas ao sabor da sua bebida, mas também traz nostalgia e sentimento patriótico para os estadunidenses. Este fiasco demonstra como a Coca-Cola ne- gligenciou vários fatores de sua própria marca ao modificar sua fórmula. Fonte: WINTERS, Patricia. “For New Coke, ‘what price the sucess?’”. Advertising Age, 20 mar. 1989, p. S1-S2. O papel que a marca desempenha pode ser alterado se visto do ponto de vista dos consumidores ou dos fabricantes. Enquanto o primeiro entende a marca como um recurso para identificar a procedência do produto, re- duzindo potenciais riscos da compra ou contratação devido a indicativos relacionados à qualidade, o fabricante, por sua vez, pode contar com o aparato legal para estabelecer a proteção junto a seus ativos geradores de lucro, permitindo que a empresa invista seguramente em suas marcas (KELLER; MACHADO, 2006). Para os fabricantes, a marca exerce ainda fonte de vantagem competiti- va, servindo como meio de criação de “associações exclusivas” (KELLER; MACHADO, 2006, p. 7). A vantagem competitiva, dentro do contexto glo- bal de transações financeiras, refere-se a algo primordial na estratégia de qualquer negócio e visa sustentar a proeminência da marca no mercado. 10 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital No entanto, para projetar a marca no mercado, as empresas devem suprir suas decisões com informações, podendo recorrer, para isso, aos painéis de consumidores. Esses painéis geralmente são gerenciados por agências ou instituições de pesquisa que buscam levantar dados e opiniões junto aos consumidores de determinado segmento ou mediante um conjunto de atributos dos consumidores propriamente ditos. PARA SABER MAIS O Painel BAP foi o primeiro painel de consumidores criado no Brasil para afro-brasileiros – parcela da população que re- presenta 54% dos brasileiros que se auto-identificam como pardos, sendo que a maioria deles não se sente represen- tada pelas marcas presentes na mídia. Baseado na filosofia Ubuntu, o Painel BAP prega o ciclo da prosperidade, o painel busca presentear aqueles que participam de suas pesquisas, em contrapartida, oferece este meio como forma de promo- ver as marcas que disponibilizam esses brindes para o pai- nel. Visite através do site: <https://www.painelbap.com.br>. Acesso em: 26 julho 2018. Para conquistar o cliente, a marca deve propor soluções únicas, superio- res ou pelo menos exclusivas para o cliente. Algum elemento da marca deve ser sobressalente, buscando a proeminência frente os concorrentes. Para isso, o esforço em alinhar necessidades e desejos dos clientes com os atributos dos produtos se faz crucial. 1.1. Riscos e a percepção do cliente A marca pode prover o cliente de informações intrínsecas ao produto na hora da compra, diminuindo possíveis riscos percebidos pelo cliente. Segundo Keller e Machado (2006) esses riscos podem ser divididos em seis diferentes categorias, são elas: funcional, físico, financeiro, social, psi- cológico e de tempo. https://www.painelbap.com.br Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 11 Dito de outro modo, a marca tende a diminuir os riscos percebidos pelo consumidor. Apesar dos valores semeados no seio do comum, o indiví- duo “ao mesmo tempo que percebe, atribui um valor e, claro, determina- da orientação de conduta” (SODRÉ, 1999). Ainda sobre a percepção, quanto mais alinhada ao posicionamento da marca, maior será a qualidade da lembrança na mente do consumidor (COBRA, 2009). Este resgate na memória do consumidor tende a reafir- mar ou contrariar os atributos tangíveis e intangíveis da marca em cada ponto de contato com o cliente. Os subitens a seguir buscam definir cada risco, além de trazer exemplos positivos e negativos para cada um deles. Vale a pena considerar que as estratégias de branding são infinitas e devem ser gerenciadas segundo a espinha dorsal que sustenta o planejamento de marca. 1.1.1. Risco funcional Neste risco percebido pelo cliente, o produto pode não entregar aquilo que promete. Apesar das regulações existentes no que tange a prática publicitária (Conar, Código do Consumidor, etc.), muitos fabricantes pro- metem desempenhos e características ausentes ou insuficientes em seu produto. Essa falta de alinhamento entre o que é anunciado do que é realmente entregue acaba ferindo a credibilidade da empresa junto ao consumidor. Neste caso, perante novas ocasiões, o consumidor pode preterir o produ- to deste fabricante em detrimento de algum concorrente. Ao passo que, se a experiência foi positiva e o produto surpreendeu o cliente, muito provavelmente haja uma inclinação deste em escolher no- vamente aquela determinada marca. Por isso, o esforço deve ser empreendido no sentido de encantar o clien- te, entregando não somente o prometido nas funcionalidades do produto em si, mas também um atendimento de pós-venda, por exemplo, exce- lente e que atenda e fidelize este consumidor. 12 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Marcos Cobra (2006) atribui a qualidade de sedução para marcas que sur- preendem, ou seja, encantam seus consumidores. Segundo o autor, se esta magia entra em crise, considerando uma marca global, passa exis- tir a necessidade de criar esforços no sentido de aumentar novamente a identificação dos consumidores perante a marca. EXEMPLIFICANDO O esforço de encantar o cliente deve levar em consideração a cultura dos países menos engajados com relação à marca global em questão. Na tentativa de se aproximar do brasi- leiro, por exemplo, a estratégia da Walt Disney Company foi criar o personagem Zé Carioca, em 1940 (COBRA, 2006). 1.1.2. Risco físico O risco físico diz respeito às ameaças que o produto pode representar para o bem-estar ou saúde física do consumidor ou qualquer outra pessoa. Em outras palavras, se ainda na etapa de fabricação desse produto houver algum prejuízo para comunidades de pessoas, o consumidor final poderá levar isto em consideração na hora de decidir por uma marca ou outra. A norma internacional ISO 26000, sobre responsabilidade social, foi cria- da em 2010 e discorre sobre a responsabilização das organizações acerca do seu impacto social e ambiental (ABNT NBR, 2010). Apesar de a negligência poder acontecer em qualquer ponto da cadeia produtiva, existe o princípio da responsabilidade compartilhada. Deste modo, a empresa, mesmo desconhecendo possíveis falhas sociais ou am- bientais em suas fornecedoras, pode pagar com prejuízos à sua marca. Apesar das regulamentações acerca da responsabilidadesocial e da res- ponsabilidade compartilhada prevista por lei, algumas empresas se en- volvem em escândalos tanto sociais como ambientais. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 13 Foi o que aconteceu com a Nike. Em 1996, a revista Life divulgou uma foto de uma bola sendo costurada por um menino do Paquistão, de lá para cá a empresa busca reverter a imagem de conivência que gerou na mente do consumidor (EXAME, 2014). Isto ocorre porque, nas palavras de Sachs (2000, p. 48), “a opinião pública tornou-se cada vez mais consciente”. De outra perspectiva, cada vez mais os stakeholders estão munidos de fontes de informação para vigiar as or- ganizações, prezando por fatores que vão além do modelo de negócios tradicional. Baseado na sustentabilidade, o conceito do Triple Bottom Line, cunhado por Elkington (1997), prevê a prestação de contas da empresa no que diz res- peito aos âmbitos econômico, ambiental e de responsabilidade social, sen- do esses fatores básicos para o estabelecimento de marcas líderes de mer- cado. Do contrário, a imagem da empresa pode ser prejudicada a ponto de ser sabotada pelos consumidores, levando a empresa a alterar o nome da marca - perdendo todo investimento feito até então - ou mesmo à falência. Vale destacar também que o conceito prevê a profundidade desta consci- ência, expressa na forma como as decisões são tomadas dentro da orga- nização, bem como sua relação e contribuição perante a sociedade como um todo. Portanto, não basta incorporar as regulamentações, mas sim promover uma nova atuação (consciente) da empresa e dos funcionários (BENITES; POLO, 2013). ASSIMILE Algumas pessoas deixam de consumir não somente marcas, como também os produtos em si, mediante o risco físico. É o que acontece com os vegetarianos. Um documentário chama- do “What the health?” problematiza, dentre outras coisas, as doenças proliferadas por criadouros de porcos nos Estados Unidos. Além disso, faz um confronto entre o que integra o discurso sobre a saúde pela Organização Mundial da Saúde e aquilo que é incentivado, pela publicidade, a ser consumido. 14 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 1.1.3. Risco financeiro O desequilíbrio entre a equação valor-desempenho é expresso neste ris- co. Se o consumidor teme pagar um valor elevado para aquilo que o pro- duto representa, ele está considerando o risco financeiro. Acontece com compradores que buscam alternativas na internet, por exemplo. Dentro de sites como o Mercado Livre, muitas opções são ofer- tadas a uma variação de preço significativa, colocando dúvidas na cabeça do consumidor na hora de fechar negócio com uma ou outra loja. Por exemplo, o consumidor quer adquirir um determinado tênis. No en- tanto, o tênis possui uma marca desconhecida por ele, nova no mercado. A estratégia da marca foi introduzir o produto a um preço elevado, na tentativa de imprimir valor ao produto ofertado. A estratégia pode ser um tiro que vai sair pela culatra, uma vez que o cliente vai ponderar entre o preço sugerido e os atributos do novo tênis. 1.1.4. Risco social Prezar pelo sucesso do seu cliente deveria constituir um elemento básico de vendedores de lojas físicas de vestuário. No lugar de metas e comis- sões, o atendente poderia buscar aconselhar o cliente a vestir aquilo que condiz com o seu biótipo ou numeração. Deste modo, o risco social poderia ser diminuído na área da moda. Muitas vezes a pessoa não tem certeza se aquela peça surtirá um efeito contrário ao que ela espera, optando por levar opções que sempre compra. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 15 1.1.5. Risco psicológico Se o produto representa uma ameaça ao âmbito psicológico do consumi- dor, este pode deixar de comprá-lo. Por exemplo, ingerir produtos aluci- nógenos pode resultar em sequelas irreversíveis. Outro exemplo pode ser observado nos escândalos junto a uberistas. Algumas pessoas têm relatado assédio moral ou sexual nas corridas do aplicativo, gerando risco psicológico e afetando a reputação da marca Uber. 1.1.6. Risco de tempo Caso o produto não entregue as funcionalidades mínimas, o consumidor po- derá dispender tempo na compra de um novo produto, provavelmente tam- bém de uma outra marca. A sensação deste risco é a de perda de tempo. Se você sabe da existência de uma loja longe que possui o produto que você quer, mas eles não fazem entregas via correios, a dúvida em comprar um substituto mais acessível pode pairar sobre seu processo de compra. LINK Contrariamente ao que pregam programas como Esquadrão da Moda, a jornalista e youtuber Alexandra Gurgel (canal Alexandrismos) promove, dentre outras coisas, a liberdade de escolha de gordos e gordas no que tange vestuário. Essa impo- sição de gostos e diferenciação que a moda faz entre gosto po- pular e gosto refinado pode provocar desequilíbrios financei- ros e até mesmo baixa autoestima, pois se os artigos de “bom gosto” são mais caros, nem todos podem comprar, ao passo que, se não “andarem na moda”, algumas pessoas podem ter efeitos negativos em sua autopercepção mediante julgamen- tos que permeiam a sociedade. Canal disponível em: <https:// www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ/ featured>. Acesso em: 17 abr. 2018. https://www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ/featured https://www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ/featured https://www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ/featured 16 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Imagine decidir em comprar o substituto e depois ter que buscar aquele que você já queria. Ou ainda, dispender tempo indo buscar, sendo que o similar pode entregar a mesma experiência prevista naquele? A marca deve servir para diminuir essa dúvida. A gestão de marcas, aqui, deve cuidar dos pontos de venda disponíveis ao consumidor. Saber se ele prefere market place (loja física) ou market space (internet) e investir no canal mais apropriado. EXEMPLIFICANDO Em 2016, a Natura inaugurou sua primeira loja física. Baseada no modelo de venda direta, a empresa busca ago- ra diversificar o canal de venda junto aos clientes. No en- tanto, para não criar possíveis atritos com as revendedoras, a marca criou um programa de investimento disponibiliza- do exclusivamente para as consultoras da marca, a fim de tê-las à frente de suas franquias. Disponível em: <https:// g1.com/economia/pme/noticia/natura-passa-a-oferecer-o- modelo-de-franquia-com-vendas-em-lojas-fisicas.ghtml>. Acesso em: 30 mar. 2018. 2. Desafios e oportunidades do branding Para concluir, este item trata das oportunidades e desafios postos atual- mente à gestão de marcas. O primeiro deles se refere ao nível de infor- mações que o consumidor tem contato hoje, dificultando a aproximação de marcas entrantes no mercado ou mesmo a manutenção das marcas já consolidadas (KELLER; MACHADO, 2006). https://g1.globo.com/economia/pme/noticia/natura-passa-a-oferecer-o-modelo-de-franquia-com-vendas-em-lojas-fisicas.ghtml https://g1.globo.com/economia/pme/noticia/natura-passa-a-oferecer-o-modelo-de-franquia-com-vendas-em-lojas-fisicas.ghtml https://g1.globo.com/economia/pme/noticia/natura-passa-a-oferecer-o-modelo-de-franquia-com-vendas-em-lojas-fisicas.ghtml Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 17 Além de bem informado, o consumidor ainda possui à disposição as ex- tensões de linha das marcas. O número de variações que um creme den- tal pode ter, por exemplo, dificulta as decisões de marketing a serem to- madas (KELLER; MACHADO, 2006). Essas decisões também são desafiadas no que tange o número de meios de comunicação existentes hoje. Como compor uma estratégia bem amar- rada com os hábitos do público-alvo, considerando também o posiciona- mento da marca, representa um grande desafio (COBRA, 2006), além tam- bém de uma oportunidade para inovar na comunicação. Novos players são incorporados ao mercado como forma de atender de- sejos e necessidades de consumidores cada vez mais interessados em produtos únicos,de caráter artesanal. Além de ser uma oportunidade para diversos empresários e empresárias, também representa uma ame- aça para as grandes marcas. ASSIMILE Sites como Buscapé e Zoom munem o consumidor de infor- mações, acerca de bens e serviços, de forma comparativa. Ou seja, o tempo todo o consumidor pode comparar preços, como também o conjunto de atributos de cada produto. As marcas, portanto, estão sendo o tempo todo comparadas e precisam estar atentas na sua vantagem comparativa no mercado em que atua. EXEMPLIFICANDO Produtos sazonais, como ovos de Páscoa, podem ser um ponto de partida para empreendedores. Considerando um aumento de até 130% no preço deste produto do ano de 2017 para 2018, muitas pessoas optaram por adquirir produtos artesanais de amigos, colegas ou até mesmo decidiram produzir em casa, 18 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Além dos desafios e oportunidades brevemente traçados neste item, outros ainda podem ser identificados no cenário atual, tais como: ama- durecimento de mercado, redução de fidelidade à marca, dificuldade de diferenciação, aumento dos gastos promocionais, orientação para curto prazo e até mesmo rotatividade de funcionários nas empresas (KELLER; MACHADO, 2006). Vale destacar que desafios sempre representam oportunidades. Dito isso, os gestores devem estar atentos ao todo que caracteriza suas marcas, buscando mantê-las atuais e bem quistas pelos consumidores. visto que proporcionalmente o peso da barra de chocolates era superior ao peso do ovo sob o denominador preço. Disponí- vel em: <https://g1.globo.com/ minas-gerais/triangulo-minei- ro/noticia/2017/04/pesquisa-sobre-precos-de-ovos-de-pas- coa-e-divulgada-em-araxa.html>. Acesso em: 30 mar. 2018. Considerando as marcas de games que circulam mundo afora, qual impacto das diferentes culturas com relação à aceitação deste novo ambiente de esportes? Ou ainda, como estão sendo trabalhadas as marcas de games online em diferentes países? Será que a configura- ção de mídia permanece a mesma em contextos nos quais campeo- natos mundiais de jogos multiplayer são aclamados e em contextos nos quais os e-sport ainda não conquistou tanta visibilidade, como acontece no Brasil? Essas oscilações de visibilidade influenciam dire- tamente na percepção do consumidor. Por isso, faz sentido aplicar a análise a um segmento tão novo de mercado quanto à penetração da internet na rotina das pessoas. A proposta deste item de reflexão deve partir de pesquisas de levantamento de dados sobre o e-sport para, em seguida, analisar suas imbricações em termos de branding. QUESTÃO PARA REFLEXÃO https://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2017/04/pesquisa-sobre-precos-de-ovos-de-pascoa-e-divulgada-em-araxa.html https://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2017/04/pesquisa-sobre-precos-de-ovos-de-pascoa-e-divulgada-em-araxa.html https://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2017/04/pesquisa-sobre-precos-de-ovos-de-pascoa-e-divulgada-em-araxa.html Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 19 3. Considerações finais • A noção de branding pode variar de autor para autor, mas a maioria concorda que essa atividade está relacionada exclusivamente à mar- ca. Deste modo, brand equity funcionaria como um denominador comum para avaliar diferentes marcas e analisar suas estratégias de marketing (KELLER; MACHADO, 2006). • As atividades empreendidas pela gestão de marcas devem caminhar de forma integrada, buscando promover a coerência entre as ações no que diz respeito ao posicionamento da marca perante a mente do consumidor. • A marca busca suprimir os riscos percebidos pelo cliente, influen- ciando seu processo de compra. Os riscos elencados neste capítulo foram: funcional, físico, financeiro, social, psicológico e de tempo. • Desafios representam oportunidades para diversos empreendedo- res interessados em prosperar no mercado. Necessário ressaltar a incessante importância do planejamento e gestão em prol da cria- ção e crescimento de um negócio. Glossário • Brand: do inglês, marca. • Painel de consumidores: repositório de informações e pesquisas acerca de consumidores ou nichos de mercado. • Signo: palavra emprestada da semiótica que sugere a unidade dos elementos visuais que temos contato. • Stakeholders: todos aqueles que possuem algum interesse em determinada organização. Podem configurar governo, consumido- res, acionistas, fornecedores, ativistas, etc. • Top of mind: do inglês, mais lembradas. No contexto da gestão de marcas, as pesquisas que buscam descobrir as marcas mais presen- tes na mente do consumidor são também chamadas de top of mind. 20 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 01 1. A gestão de marcas apresenta em seu escopo uma série de atividades voltadas para construir, gestar e manter uma marca. Dentre essas atividades estão, por exemplo, pes- quisas de mercado, design e elementos comunicacionais. Assinale a alternativa que identifica como essa gestão tam- bém pode ser conhecida: a) Brand equity. b) Brandr. c) Naming. d) Branding. e) Gestão de marcas. 2. Existe um risco atrelado à marca que diz respeito ao bem- -estar. Caso um cliente ingira um determinado produto, este pode representar um risco à sua saúde. Assinale a alternativa abaixo que completa adequadamen- te a lacuna acima: a) Psicológico. b) Financeiro. c) Físico. d) Emocional. e) Sentimental. 3. Denominador comum que busca comparar o valor entre diferentes marcas, como também analisar suas estraté- gias de marketing. Estamos nos referindo a(ao): a) Gestão de marcas. b) Brand. c) Branding. d) Marketing. e) Brand equity. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 21 Referências Bibliográficas ABNT NBR ISO 26000. Diretrizes Sobre Responsabilidade Social. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 2010. BENITES, Lira L. L.; POLO, Edison F. A sustentabilidade como ferramenta estratégica empresarial: governança corporativa e aplicação do Triple Bottom Line na Masisa. Revista de Administração UFSM, Santa Maria, v. 6, edição especial, mai. 2013, p. 195-210. COBRA, Marcos. Administração de Marketing no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. ELKINGTON, J. Cannibals With Forks: the Triple Bottom Line of 21st Century Business. Oxford: Capstone, 1997. KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Gestão Estratégica de Marcas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Marketing Essencial: Conceitos, Estratégias e Casos. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. SODRÉ, Muniz. Claros e Escuros: Identidade, Povo e Mídia no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. Gabarito – Tema 01 Questão 1 – Resposta: D Branding é o outro nome dado para a área do marketing chamada gestão de marcas. Questão 2 – Resposta: C Atrelado ao risco que ameaça a saúde do consumidor ou de qual- quer outra pessoa, está o risco ao bem-estar físico. Questão 3 – Resposta: E Brand equity é o conceito utilizado para interpretar diferentes estra- tégias de marca, como também mensurar o valor da mesma. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 22 TEMA 02 IDENTIDADE E PERSONALIDADE DE MARCA Objetivos • Explicar a construção de identidade de marca, incluin- do aspectos da arquitetura e extensão; • Discorrer sobre a formação da personalidade de marca; • Articular diferentes estratégias utilizadas para fomen- tar percepções positivas com relação à marca. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 23 Introdução Na tentativa de facilitar a identificação dos consumidores junto à marca, as empresas decidem por delinear uma identidade e personalidade de marca latentes. Isso é feito através da combinação de signos, ou seja, de- senhos, cores, fontes, formas, embalagens, etc. Mesmo variando de plataforma para plataforma, as ações comunicativas da marca devem carregar o conjunto de signoscitado acima, ancorando sua presença na mente do consumidor. Desta forma, os diferentes pon- tos de contato com o cliente servem para construir a identidade da marca e tornar rápidas as associações mentais feitas por ele. A construção desta identidade de marca passa também pela personali- dade. Especialmente nas mídias sociais, as marcas invocam uma persona para tratar com seus consumidores ou prospects. De outra maneira, essa marca tem sentimentos, valores, identidade própria e por aí vai. Além disso, a identidade também passa pela arquitetura e extensão da marca. No primeiro caso, a identidade é sustentada pela coerência com que o portfólio de produtos da marca é organizado. Já no que se refere à extensão, a identidade deve ser reafirmada nas novas categorias de pro- dutos criadas para ampliar o alcance da marca. Boa leitura! 1. Identidade de marcas “Branding significa dotar produtos com o poder de uma marca” (KOTLER; KELLER, 2013, p. 155). Este poder estaria relacionado com as impressões duradouras que a marca estabelece na mente do consumidor, fazendo-o pagar até 20-25% a mais no preço do produto. 24 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Além disso, o consumidor é exposto a uma média de 6 mil anúncios por dia e 25 mil novos produtos por ano. Isso expressa a necessidade de subsidiar as escolhas do consumidor, levando a identidade através do veículo dos sentidos humanos, como a visão, o olfato e a audição (WHEELER, 2012). Neste sentido, a questão gira em torno do processo de reconhecimento da marca. Quanto mais rapidamente o consumidor identifica determina- da marca, maior as chances de ele passar por um outdoor em uma rápida avenida ou rodovia, por exemplo, e receber aquela mensagem que tem como finalidade, em primeiro lugar, fixar a marca ou reafirmá-la presente na vida deste consumidor. A criação desses pontos de contato, ou seja, qualquer experiência com o consumidor pode acontecer, até mesmo, no ambiente de jogos virtuais. Se alinhada com a estratégia de personalidade da marca, essa associação pode contribuir com “as estruturas mentais que ajudam os consumidores a organizar seu conhecimento com relação à oferta, aclarando sua tomada de decisões e fornecendo valor à empresa” (KOTLER; KELLER, 2013, p. 155). Brand equity diz respeito ao valor da marca, percebido pelo cliente. Nas pa- lavras dos autores P. Kotler e K. L. Keller (2013, p. 155): “o brand equity é o valor agregado atribuído a produtos”, enquanto a identidade da marca “reúne elementos díspares e os unifica em sistemas integrados” voltados para a per- cepção do consumidor (WHEELER, 2012, p. 14). PARA SABER MAIS Conhecimento de marca refere-se a “todos os pensamen- tos, sentimentos, imagens, experiências e crenças associa- dos à marca” (KOTLER; KELLER, 2013, p. 156). Mediante esta definição, o branding deve estabelecer esforços para criar e manter associações “fortes, favoráveis e exclusivas” (KOTLER; KELLER, 2013, p. 156) na mente do seu público-alvo. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 25 Com relação à construção, reforço e preservação do brand equity, existem alguns critérios voltados para composição dos elementos de marca, que seriam propriamente os elementos que identificam e diferenciam deter- minada marca em detrimento das outras (KOTLER; KELLER, 2013). Para a construção da marca, os critérios são: memorável (facilidade de identificar e lembrar da marca), significativo (elementos que tenham rela- ção direta com os benefícios do produto) e cativante (desejo inerente ao produto). Já para defender a marca, os critérios utilizados são: transferível (possibilidade de utilizar a mesma marca em outras linhas e extensões de produtos), adaptável (capacidade de inovação) e protegido (em termos legais, jurídicos) (KOTLER; KELLER, 2013). No entanto, vale diferenciar a ideia de imagem de marca daquela volta- da para a identidade da mesma. Enquanto o primeiro expressa o modo como os consumidores enxergam a marca, o segundo se refere ao modo como a marca gostaria de ser percebida. Nesta segunda orientação, os gestores devem embasar a identidade segundo critérios mais amplos que criam valor diferenciado para a marca em questão (AAKER, 2007). A identidade se encarrega de impregnar de significado, trazendo finalida- des e sentido para uma determinada marca. Já as associações revelam o sustento da identidade da marca, funcionando como “tijolos” na constru- ção da identidade da marca (AAKER, 2007). Dito de outra maneira, “a identidade da marca é um conjunto exclusivo de associações com a marca” (AAKER, 2007, p. 73). Essa identidade pode ser combinada entre identidades central e expandida, onde a primeira é atemporal e reflete a essência da marca e a segunda diz respeito aos ele- mentos da marca (AAKER, 2007). 26 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Se embasadas nos atributos dos produtos, a marca pode encontrar limita- ções, tais como: fracasso na diferenciação de seus produtos, o que torna a marca passível de cópia, pressupõe consumidores que tomam decisões estritamente racionais, limitam a expansão da marca e, por fim, reduzem a flexibilidade no que diz respeito às estratégias (AAKER, 2007). Ou seja, a marca não pode ter sua identidade baseada exclusivamente em atributos de seus produtos. A identidade central da marca pode, inclusive, remeter aos valores da empresa. Este âmbito central da identidade pode fomentar uma amplitude e apelo emocional maior junto ao seu público consumidor (AAKER, 2007). Por isso, a identidade expandida pode ser utilizada para fazer associações mais palpáveis na mente do consumidor. A personalidade de marca, por exemplo, faz parte do escopo da identidade expandida e é articula no próximo item. 2. Personalidade de marcas A personalidade de marca pode ser definida como um conjunto de carac- terísticas humanas associadas a uma determinada marca (AAKER, 1995). Ou seja, revestir de personalidade uma marca significa atribuir sentimen- tos e atitude a ela. EXEMPLIFICANDO A identidade central da marca de esportes e moda Nike se concentra no ímpeto do produto, perfil dos usuários, desem- penho e melhoria na qualidade de vida. Já no escopo da iden- tidade expandida se encontram: personalidade da marca, re- lacionamento, suas submarcas, logotipo e slogan (“Just do it”), associações feitas com outras organizações, endosso de atle- tas renomados e, por fim, o valor da tradição (AAKER, 2007). Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 27 Irritado com os incessantes contatos telefônicos de determinada opera- dora de telecomunicações, um consumidor pode expressar sentimentos à empresa como se esta fosse uma outra pessoa: “parece que ela só faz para me irritar”. Do mesmo jeito que um cliente pode se referir a um pub como seu melhor amigo, e assim por diante. Deste modo, os termos voltados para descrever a personalidade de uma pessoa podem ser utilizados também para as marcas. Esses termos po- dem se referir ao perfil demográfico (faixa etária, sexo, raça, classe social), de estilo de vida (tudo aquilo que diz respeito a atividades, interesses ou opiniões) ou a personalidade propriamente dita (por exemplo, a agrada- bilidade) (AAKER, 2007). Ao diagnosticar a percepção das pessoas com relação à prefeitura de Curitiba (julgavam-na como fria e distante), o gestor de marketing Marcos Giovanella buscou recursos e uma estratégia sustentável para mudar a percepção negativa das pessoas através da criação de uma personalidade mais amigável (MARTINO; ALEIXO, 2016). Com uma linguagem disruptiva, fala em primeira pessoa e uma série de memes protagonizados por uma mascote (uma capivara), a prefeitura de Curitiba passou a receber maior número de interações em suas mídias sociais sendo, inclusive, chamada carinhosamente de “prefs”. Este traba- lho tanto desafogou as demandas de outros departamentos da prefeitu- ra, como também possibilitou modificar a imagem da prefeitura junto aos munícipes e demais internautas,residentes de outros pontos geográficos (MARTINO; ALEIXO, 2016). PARA SABER MAIS Conheça a fundo as diversas dimensões da personalida- de de marca em artigo de Karlan Muller Muniz e Renato Marchetti. Considerando o contexto brasileiro, os autores trazem a discussão acerca da personalidade de marca à luz da escala de uma das maiores referências na área, Jennifer Aaker. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ enanpad2005-mkta-0933.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2018. http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-mkta-0933.pdf http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-mkta-0933.pdf 28 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital No que compete à construção, a personalidade da marca pode invocar atri- butos da empresa ou do produto. No caso do primeiro, a marca pode re- meter às particularidades de um determinado país (empresa norte-ameri- cana X) e invocar o perfil daquele determinado povo. Já no caso do produto, uma marca de tênis, por exemplo, pode invocar uma personalidade jovial e atlética e, por outro lado, uma marca de banco pode invocar uma persona- lidade mais séria e também mais velha em termos de idade (AAKER, 2007). Se fortes, as marcas podem subsidiar a expressão dos próprios consumi- dores. É o que acontece com os adeptos da marca Harley-Davidson. Deste modo, a escolha da marca ultrapassa o princípio da funcionalidade, atin- gindo o âmbito do compromisso e autoexpressão (AAKER, 2007). 3. Arquitetura de marcas A arquitetura de marcas diz respeito à combinação de elementos que a marca deve atribuir para todos os produtos e serviços que oferece. Dito de outra maneira, os elementos de marca devem permear o portfólio de produtos da marca (KOTLER; KELLER, 2006). Nas palavras da autora Alina Wheeler (2012, p. 32): “a arquitetura de mar- ca se refere à hierarquia das várias marcas existentes dentro de uma mes- ma empresa [...] e deve refletir a estratégia de marketing”. Neste sentido, a empresa acaba elevando o potencial de vendas através da postura con- sistente em sua arquitetura de marca, inter-relacionando desde a marca corporativa até a versão de um dos produtos do seu portfólio. LINK Para conhecer a estratégia da prefeitura de Curitiba, acesse o artigo científico disponível no link: <www.journals.usp.br/ Rumores/article/view/115736>. Acesso em: 06 abr. 2018. http://www.journals.usp.br/Rumores/article/view/115736 http://www.journals.usp.br/Rumores/article/view/115736 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 29 Para melhor visualizar as relações entre marcas e produtos, o gestor pode utilizar a matriz marca/produto que nada mais é do que a representa- ção gráfica que exprime as correlações entre produtos e linhas de marca (KOTLER; KELLER, 2006). A matriz é desenvolvida a partir de linhas de marcas existentes na em- presa, expressas na parte horizontal da matriz, ou seja, nas linhas pro- priamente. Enquanto que os produtos correspondentes ocupam as co- lunas desta mesma matriz, estabelecendo pontos de encontro entre as linhas de marca. Nas palavras dos autores Phillip Kotler e Kevin L. Keller (2006, p. 212): As linhas da matriz representam relações marca/produto e retratam a estra- tégia de extensão de marca da empresa em termos do número e da nature- za dos produtos vendidos sob suas marcas. Uma linha de marca consiste em todos os produtos – o produto original e suas extensões de linha e catego- ria – vendidos sob uma certa marca [...]. As colunas da matriz, por sua vez, representam relações produto/marca e retratam a estratégia do portfólio de marcas em termos do número e da natureza de marcas a promover em cada categoria. O portfólio de marcas é o conjunto de todas as marcas que uma determinada empresa oferece (KOTLER; KELLER, 2006, p. 212). PARA SABER MAIS Existem três tipos de arquitetura de marcas: a monolítica (uti- lização de uma grande marca para nomear todas as demais, como por exemplo, a FedEx e suas marcas FedEx Corporation, FedEx Express, FedEx Ground, etc.), a endossada (é caracte- rizada pela associação entre produto e marca de presença naquela divisão, por exemplo, Oreo Nabisco), e, por último, pluralística (composta por várias marcas conhecidas, como o caso das marcas da Unilever) (WHEELER, 2012). 30 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Além da matriz comentada nos parágrafos acima, a empresa pode ainda fazer conexões entre produtos e suas marcas, combinando e relacionan- do-os de modo a reafirmar os elementos que compõem sua identidade. Para tanto, existe a hierarquia de marcas (KOTLER; KELLER, 2006). A hierarquia de marcas representa as inúmeras associações feitas para promover a marca-mãe ou a marca-família. Uma possível representação seria através da seguinte sequência, de cima para baixo: marca corpo- rativa ou da empresa, marca de família, marca individual e modificador (KOTLER; KELLER, 2006). ASSIMILE O portfólio de marcas deve criar sinergia para a empresa de modo a fortalecer a visibilidade e coerência estratégica entre seus produtos e serviços. A clareza também deve ser respei- tada, caso contrário poderá resultar em confusão até mesmo para os vendedores da empresa. Cada marca deve expressar uma função clara para todos os envolvidos, desde colabora- dores até consumidores finais (AAKER, 2015). EXEMPLIFICANDO Um exemplo seria o do Fiat Palio Adventure Weekend ou ELX: Fiat representa a marca da empresa, Palio seria a mar- ca-família, enquanto a marca individual recebe o nome de Adventure, sendo seu modificador, ou seja, os elementos es- pecíficos da marca individual, as designações Weekend ou ELX (KOTLER; KELLER, 2006). Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 31 A imagem da marca corporativa possui ampla gama de possíveis asso- ciações. Além disso, ela também ganha cada vez mais peso na decisão de compra do consumidor: as percepções destes com relação à empresa vão desde a forma como ela lida com seus funcionários até seu papel na sociedade (KOTLER; KELLER, 2006). O escopo da marca corporativa pode diferir do escopo das marcas de fa- mília, apesar de ambas sustentarem diferentes categorias de produtos. Algumas empresas preferem tornar a marca corporativa invisível, o que pode diminuir o impacto de fracassos de suas marcas em detrimento da sua integridade (KOTLER; KELLER, 2006). Diferente das duas anteriores, a marca individual é restrita apenas a uma única categoria de produto, sendo possível que este produto apresente variações indicadas sob a designação dos modificadores (por exemplo, sabor, tamanho, embalagem, etc.) (KOTLER; KELLER, 2006). David Aaker (2015) propõe uma outra relação de termos para descrever as funções ou associações entre as marcas: marca mestre (aquela que representa um ponto de referência para as demais), a marca endossante (serve para fornecer credibilidade ou visibilidade para outra marca), sub- marca (diz respeito à estratégia com relação à entrada da marca mestre em novas situações de mercado, como penetração em novas categorias ou com relação aos atributos do produto), e, por fim, descritores (pos- suem a função de descrever, mais especificamente, aquela oferta, e po- dem não ser consideradas marcas de fato). Vale lembrar que um dos motivos pelos quais as marcas fracassam é o excesso de informações acerca de determinados produtos. Desta forma, o princípio da simplicidade deve ser aplicado, inclusive, nas decisões com- petentes à hierarquia de marcas (KOTLER; KELLER, 2006). 4. Extensões de marcas Ao introduzir um novo produto no mercado, a empresa pode: criar uma nova marca para nomear o produto, construindo o brand equity de maneira 32 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital isolada; aproveitar uma das marcas que já integram seu portfólio; ou, ain- da, fazer combinações entre marcas existentes e novas marcas (KOTLER; KELLER, 2006). As duas últimas podem ser relacionadas com as chamadas extensões. As extensões, por sua vez, podem ser de três tipos: extensão de mar- ca que consiste nolançamento de novos produtos com a utilização de uma marca já existente; extensão de linha que utiliza uma marca-mãe para lançar produtos dentro de uma categoria de atuação da marca (exemplo: Seda Ceramidas, Omo Cores); e, por fim, a extensão de cate- goria seria a ampliação da atuação da marca, lançando-a em uma nova categoria de produto (exemplo: perfumes Ferrari, relógios Porsche) (KOTLER; KELLER, 2013). Em todos os casos apresentados acima, a empresa aproveita o poder da marca existente para revestir de valor novos produtos ou atuações, es- tendendo sua visibilidade e reconhecimento a novos produtos, linhas ou categorias. Em especial, nas extensões de marca, a empresa empreende novos lan- çamentos imprimindo sua marca (já existente e reconhecida pelo consu- midor), e, consequentemente seu brand equity, visando um cenário de melhor penetração deste novo produto. ASSIMILE Marca-mãe refere-se a uma “marca existente que origina uma extensão de marca ou submarca”. A marca-mãe pode tornar- se uma marca-família, também conhecida como marca guar- da-chuva, a partir do momento que dá conta de mais de uma categoria de produtos e podem ser expressas em marcas cor- porativas ou da empresa (KOTLER; KELLER, 2013, p. 165). Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 33 A prática de embutir uma marca já existente a um novo produto é pre- sente em 80-90% dos novos lançamentos realizados todo ano. Isso ocor- re porque o lançamento de novos produtos tem o orçamento reduzido quando revestido do valor que representa e da visibilidade que tem a marca-mãe, livrando a campanha da etapa de conscientização (KOTLER; KELLER, 2013). Uma vez utilizada a marca-mãe, a empresa pode concentrar esforços e re- cursos apenas nas informações acerca do produto em si, pois a marca já é conhecida do consumidor e dispensa “apresentações”. Além disso, essa estratégia acaba servindo como redutora de riscos na percepção do clien- te, dentro do seu processo de decisão de compra, incentivando a escolha dos novos produtos em questão. Em contrapartida, o risco apresentado na utilização de marca em exten- sões refere-se à diluição da mesma. Em outras palavras, se utilizada em diversas linhas, extensões e categorias, a marca corre o risco de não ser associada, diretamente, a nenhum produto, o que poderia, em contrapar- tida, ser benéfico em termos de posicionamento (KOTLER; KELLER, 2013). Além disso, se houver inconsistência da marca com relação a estes lança- mentos, o consumidor ainda pode punir a empresa deixando de comprar seus produtos. Neste caso, o consumidor passa a questionar a integri- dade da empresa, causando percepções negativas e queda nas vendas (KOTLER; KELLER, 2013). O conceito de sistema de marcas, portanto, pode fornecer sinergia para a composição das marcas e suas extensões, como também incoerência. Este sistema seria composto pelo entrelaçamento e sobreposição de mar- cas e submarcas de uma empresa (AAKER, 2007). Aqui, o ponto de encontro entre extensão e identidade de marca é a con- sideração do segundo para formulação estratégica do primeiro. Caso a empresa desconsidere qualquer estrutura de conhecimento com relação à marca, na mente do consumidor, ela pode acabar prejudicando o lança- mento dos novos produtos ou, até mesmo, a credibilidade da marca em si (KOTLER; KELLER, 2013). 34 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 5. Considerações finais • As marcas devem reafirmar, através de combinações específicas de signos e em todos os pontos de contato com o cliente, sua identida- de e personalidade. • A arquitetura e extensão da marca devem estar alinhadas com a identidade e personalidade da mesma. Facilitando, assim, a rápida identificação por parte do consumidor. • Criar uma identidade de marca implica em ampliar os esforços de marketing no que diz respeito à visibilidade. Portanto, a construção da identidade de marca tem potencial de ancoragem maior. • As extensões de marca, dentro da arquitetura, devem estar alinha- das às estratégias de marketing e à manutenção da identidade e personalidade da marca propriamente dita. Glossário • Portfólio: neste contexto, conjunto de produtos ou serviços ofere- cidos por uma empresa. • Prospects: prováveis clientes, ou seja, consumidores em potencial. • Signos: neste contexto, elementos que servem para compor ima- gens na mente do consumidor. Como construir uma personalidade de marca que possa atuar nas di- versas plataformas de comunicação existentes hoje e que não perca a coerência e a identidade da marca de vista? QUESTÃO PARA REFLEXÃO Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 35 VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 02 1. A da marca busca fomentar rápidas as- sociações mentais no consumidor. Deste modo, o esforço de marketing ganha impulso para construir e manter a vi- sibilidade da marca em questão. Assinale a alternativa que complete adequadamente a la- cuna acima: a) Identidade. b) Extensão. c) Personalidade. d) Arquitetura. e) Reação. 2. As estão subordinadas à da marca. Desta forma, esta organização do portfólio de produtos pode ser previamente planejada e expressar, após implementação, as estratégias comunicacionais da marca em questão. Qual a alternativa que completa corretamente as lacunas acima? a) Personalidades – identidade. b) Identidades – extensão. c) Extensões – identidade. d) Arquiteturas – extensão. e) Extensões – arquitetura. 3. I. A marca de creme dental (hipotética) Sorteeth acaba de lançar uma linha infantil com os personagens da Disney. PORQUE 36 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital II. As extensões de marca buscam ampliar a atuação e vi- sibilidade da mesma, conquistando novos consumidores. Julgue as asserções acima e assinale a alternativa correta: a) Ambas as asserções estão incorretas. b) Ambas as asserções estão corretas, mas não possuem relação entre si. c) Ambas as asserções estão corretas, sendo que a segun- da justifica a primeira. d) A primeira asserção está correta e a segunda está incorreta. e) A primeira asserção está incorreta e a segunda está correta. Referências Bibliográficas AAKER, David A. Construindo Marcas Fortes. Porto Alegre: Bookman, 2007. AAKER, David. On Branding: 20 Princípios que Decidem o Sucesso das Marcas. Porto Alegre: Bookman, 2015. AAKER, Jennifer L. Conceptualizing and Measuring Brand Personality: A Brand Personality Scale. Tese, Universidade de Standford, dez. 1995. KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Gestão Estratégica de Marcas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Marketing Essencial: Conceitos, Estratégias e Casos. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. MARTINO, Luís Mauro Sá; ALEIXO, Tayra C. N. Usos do Entretenimento Como Estratégia de Visibilidade Política na Página da Prefeitura de Curitiba no Facebook. Revista Rumores, v. 10, n. 20, 2016. WHEELER, Alina. Design de Identidade da Marca: Guia Essencial Para Toda Equipe de Gestão de Marcas. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 37 Gabarito – Tema 02 Questão 1 – Resposta: A A identidade da marca é o fator de sustentação que busca causar rá- pidas associações na mente do consumidor. Sua concepção deve ser reafirmada em todos os pontos de contato com seu público-alvo, im- pulsionando o esforço de marketing no que diz respeito à visibilidade. Questão 2 – Resposta: E As extensões de marca estão localizadas na hierarquia da arquitetu- ra de marcas. Em toda sua criação, manutenção e gestão, a arquite- tura deve reafirmar a identidade da marca, considerando também a personalidade da mesma. Questão 3 – Resposta: C Ambas as asserções estão corretas, sendo que a segunda expressa o argumento de ampliação do escopo de produtos, capaz de con- quistar novos consumidores, que justifica a criação de extensões de marca. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 38 TEMA 03 (RE)POSICIONAMENTO DA MARCA Objetivos • Apresentar os conceitosde posicionamento e reposi- cionamento de marca; • Articular valor e percepção de marca e como são tra- balhadas essas construções; • Relacionar a noção de brand equity, já introduzida em capítulos anteriores, com o conceito de posicionamento. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 39 Introdução Os consumidores acumulam associações mentais que resultam na per- cepção positiva ou negativa de determinada marca. Qualquer contato que tenham pode acumular percepções que acabam formando o valor da marca para si próprio ou um conjunto de consumidores (perfil de consumidor). Para ajustar os resultados dessas percepções, as empresas buscam po- sicionar suas marcas para formar uma imagem favorável, ampliando sua margem de vendas perante os demais players (concorrentes diretos e substitutos). Segundo Kevin L. Keller e Marcos Machado (2006, p. 70), “a criação de as- sociações de marca fortes, favoráveis e exclusivas” refletem o posiciona- mento da marca através de suas estruturas de conhecimento comunica- das ao mercado. Em outras palavras, a empresa formula o conhecimento da marca desejado para, então, angariar brand equity. Lembrando, brand equity equivale ao acúmulo de valor intangível que resulta em ampliação nas vendas. Vale ressaltar que, em momentos de necessários planos de contingên- cia ou incerteza de mercado, a estratégia de (re)posicionamento também serve para respaldar a marca frente ao mercado consumidor e demais stakeholders. 1. Construção de brand equity A ideia de valor e a ideia de percepção caminham juntas. Por exemplo, mesmo com uma multidão de pessoas que desgosta de uma determi- nada marca, acaba contribuindo para sua visibilidade e relevância, pois contribuem com o montante de conteúdo, comentários e conversas guiados à mesma. 40 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Por exemplo, a construção da marca Justin Bieber nasceu de um viral na internet. O artista acumulou inúmeros fãs por todo o mundo, ao passo que era comum ouvir alguém criticando o que ficou conhecido como “be- liebers” - as fãs incondicionais de Justin Bieber. Segundo Beller et al. (2014), esta autodefinição está no grupo dos seguidores (followers) e endossam a figura pública em questão, no caso, Justin Bieber. Neste sentido, a máxima “falem mal, mas falem de mim” acaba revelando a força que possui a visibilidade quando se trata de marca. Ou seja, quanto mais relevante, mais pessoas gastarão tempo apreciando ou julgando de- terminada marca, sendo, ambas as medidas, diretamente proporcionais. ASSIMILE A proeminência pode ser pensada como elemento circular. Sua retroalimentação acontece mediante imagem da marca presente na realidade do consumidor, ao passo que se o con- sumidor adquire seus produtos ou serviços, pode acabar am- pliando sua visibilidade perante outros consumidores que te- rão contato indireto com a mesma. Por exemplo, quando uma pessoa manifesta sua lealdade por produtos da Apple, adqui- rindo todo o portfólio “I” (Iphone, Ipod, Imac, entre outros), pessoas em seu entorno acabam tendo contato “por tabela”. Essa apreciação pode ser feita também com relação ao posicionamento de marca. A marca de desodorantes e outros produtos masculinos Old Spice, por exemplo, em suas peças publicitárias, resgata a figura do “ma- chão” dentro de uma áurea selvagem, servindo-se disto como alicerce de sua comunicação. Frente às discussões sobre gênero presentes na mídia, o posicionamento da marca acaba funcionando como propulsor de visibilidade, seja para o lado positivo como para o negativo. Com seu slogan “sinta o poder da na- tureza”, termos como “cabra macho”, playlists como “A história da home- nidade” e o protagonista Terry Crews, a marca consegue chamar a aten- ção e atrair defensores e distratores com uma comunicação peculiar. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 41 A forma como a marca é percebida acarreta juízos de valor com relação ao seu posicionamento. Desta forma, a marca deve comunicar seu posi- cionamento de maneira clara e sucinta, diminuindo a margem de possí- veis interpretações negativas com relação aos valores ali transmitidos. “Existe uma estratégia de posicionamento por trás de toda marca de su- cesso, impulsionando o planejamento, o marketing e as vendas”, diz a autora Alina Wheeler (2012, p. 24). O posicionamento acaba funcionando como álibi para a empresa aproveitar as constantes nuances do mercado. Ou seja, a partir de estratégias de (re)posicionamento, a marca consegue angariar ganhos potenciais em situações diversas, a começar dos diferen- tes cenários macroeconômico, cultural, político e social de cada localida- de geográfica que atua. PARA SABER MAIS A hipótese da Agenda Setting pode elucidar a relação entre a pauta midiática e o conteúdo das conversas interpessoais. Tal hipótese defende que a agenda pública veiculada pelas transmissoras de rádio e TV pautam as conversas cotidia- nas das pessoas. Neste sentido, os critérios utilizados para construção das pautas midiáticas acabam influenciando di- retamente no conteúdo tratado em determinado intervalo de tempo por todos (ou pelo menos a maioria) que compar- tilham sua audiência (MARTINO, 2013). LINK Conheça a playlist “A história da homenidade” no canal da marca Old Spice, no Youtube, disponível em: <https://www. youtube.com/playlist?list=PLDRZQYeRhRR8rxgy6e6LVoOuP G6v5JcL9>. Acesso em: 27 mai. 2018. https://www.youtube.com/playlist?list=PLDRZQYeRhRR8rxgy6e6LVoOuP G6v5JcL9 https://www.youtube.com/playlist?list=PLDRZQYeRhRR8rxgy6e6LVoOuP G6v5JcL9 https://www.youtube.com/playlist?list=PLDRZQYeRhRR8rxgy6e6LVoOuP G6v5JcL9 42 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital O conjunto de percepções do consumidor com relação à marca influencia diretamente o valor percebido. Estudos empíricos mostram a diferença de percepção em testes cegos nos quais saber ou não de que marca se trata induz apreciações desiguais. PARA SABER MAIS Considerando o conceito dos quatro “Ps” (produto, preço, pra- ça e promoção), Al Ries e Jack Trout cunharam o termo posicio- namento de marca, em 1981. Os autores explicaram a noção de posicionamento, propriamente dito, como uma plataforma de criação de marcas e estratégias para além da função de ampliar o relacionamento junto ao cliente (WHEELER, 2012). EXEMPLIFICANDO Em média, 95% das decisões de compra são guiadas por fatores emocionais, cujo significado ou valor o consumidor não conse- gue verbalizar. O neuromarketing busca conhecer tais reações que influenciam o processo de compra através de técnicas es- pecíficas, como: eye tracking (análise dos caminhos oculares) e face reading (leitura das expressões faciais) (ROCHA, 2015). Para ilustrar, um teste de degustação convidou pessoas para provarem vinhos de duas garrafas diferentes, mas com pre- ços, respectivamente, de 10 e 90 dólares. Os pesquisados atribuíram melhor sabor à garrafa mais cara, mas, o que eles não sabiam era que se tratava do mesmo vinho, mas em gar- rafas diferentes. O peso do preço na decisão de compra, por exemplo, não é definidamente explicado através das técnicas tradicionais de marketing e, neste ponto, o neuromarketing vem ganhando relevância na hora de compor uma campa- nha eficaz de marketing. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 43 De outro modo, conhecer ou não a marca na hora de julgá-la acarreta diferenças significativas no resultado dos testes. O que mostra a impor- tância da construção do brand equity, uma vez que este valor contribui com a fidelização do cliente, tornando a demanda mais elástica no que diz respeito à precificação (KELLER; MACHADO, 2006). O conceito de elasticidade se refere à sensibilidade do consumidor com relação ao preço praticado. Quanto maior a qualidade da reputação e fidelidade do público-alvo mais elástica a demanda, ou seja, maior o in- tervalo de preços tolerado pelo consumidor (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Em contrapartida, quanto mais inelástica a demanda, menor a tolerân- cia poraumentos nos preços. Exemplo de demanda inelástica pode ser encontrado em commodities (produtos que não diferem em termos de brand equity, por ausência de marca, como legumes e verduras no super- mercado) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). O subitem a seguir traz as etapas do processo de construção de brand equity para, em seguida, sustentar a discussão do conceito de (re)posicio- namento da marca como estratégia de marketing. 1.1. Construindo brand equity O primeiro passo para criar brand equity refere-se à proeminência, ou seja, o estabelecimento da identificação da marca na mente do consumidor. Esta etapa é basilar na construção do brand equity (KELLER; MACHADO, 2006). Depois de fixada a base da pirâmide de construção de brand equity, há a segunda camada com desempenho e imagem que dão significado à mar- ca. Enquanto isso, o terceiro nível diz respeito aos julgamentos e senti- mentos que competem às respostas com relação à marca propriamente dita (KELLER; MACHADO, 2006). Por último, no topo da pirâmide, existe a noção de ressonância atrelada aos relacionamentos construídos com os clientes. Neste ponto, a marca é alastrada através do seu cliente fiel que serve como multiplicador na estratégia de marketing utilizada (KELLER; MACHADO, 2006). 44 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Muitos consumidores decidem adquirir produtos de marcas conhecidas, mesmo na ausência de experiências e associações com elas. Isto ocorre por conta da proeminência que se torna suficiente para atingir um núme- ro maior de consumidores. É o que acontece com a Nike. Em pesquisas top of mind, a Nike lidera no ranking de roupas e acessórios de esportes. Neste sentido, seu posiciona- mento é proeminente na memória do consumidor, fixando sua atuação no mercado de moda esportiva. Por outro lado, há uma tendência de moda chamada Athleisure que tende a retirar a funcionalidade da roupa para exercícios físicos e fixá-la como roupa casual. Este reposicionamento amplia as vendas deste tipo de ves- tuário, pois, uma vez reposicionada, tende a alterar o enquadramento da categoria para roupas confortáveis, independente da ocasião. Mediante exemplos sobre o conceito de posicionamento, bem como a ne- cessidade de reposicionamento da marca, o item a seguir pretende apro- fundar a discussão acerca do tema proposto neste capítulo. 2. Posicionamento e reposicionamento da marca A estratégia de posicionamento da marca pode ser proposta através da criação de uma subcategoria na qual exclui ou coloca os concorrentes em desvantagem (AAKER, 2015). À título de ilustração, a marca Dove oferece hidratação ao consumidor. A comunicação da marca gira em torno de um elemento relevante acerca do produto, fazendo com que seja referência nos cuidados com a pele. Segundo David Aaker (2015), investir no enquadramento da subcategoria (como a hidratação para a Dove) significa investir na marca em si, pois a coloca em evidência perante os demais players. Deste modo, se a subca- tegoria vence, a marca vence junto. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 45 Aplicando a ideia de enquadramento no presente contexto, esta diz respei- to ao conjunto de referências mentais utilizadas para significar um evento comunicacional ou, no caso da discussão sobre branding, uma marca e os desdobramentos que ela pode trazer na mente das pessoas. PARA SABER MAIS Proposto nos anos 70, Framing Theory ou Efeito de Enquadramento é um modelo de comunicação que expli- ca a relação entre a mídia e a maneira como as pessoas in- terpretam o mundo. Dito de outra maneira, as notícias são veiculadas com “molduras” que balizam a interpretação da audiência que, por sua vez, é sustentado por esquemas de representação mentais prévios em relação aos novos fatos apresentados (MARTINO, 2013). Voltando ao exemplo da marca Dove, a promessa imediata da marca é tra- duzida no posicionamento que a mesma assume na manutenção da sub- categoria apresentada aos consumidores. Deste modo, o posicionamento se torna versátil na mesma proporção do seu potencial de mutabilidade. A Nextel, referência na comunicação via rádio, precisou alterar sua es- tratégia de posicionamento. Com a ampla penetração dos smartphones e, consequentemente, serviços de mensagem instantânea via internet (como, por exemplo, o WhatsApp), a Nextel precisou reposicionar a marca para ampliar seu escopo de atuação e associação na mente do consumi- dor. A mensagem é clara: não somos mais a mesma empresa, inovamos para atender você (para além do serviço de rádio). LINK Conheça o comercial da Nextel voltado para reposicionar a marcacom o “ruivo da Vivo”, disponível em: <https://www.you tube.com/watch?v=-k0SLlB1N8M>. Acesso em: 27 mai. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=-k0SLlB1N8M https://www.youtube.com/watch?v=-k0SLlB1N8M 46 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Em situações de contingência, a marca deve promover reposicionamen- tos capazes de garantir a manutenção e sobrevivência no mercado. Visto de outra perspectiva, a complexidade do mercado atual exige uma abor- dagem contingencial do marketing, uma vez que uma mesma estratégia pode surtir efeito diverso daquele alcançado outrora, no mesmo recorte geográfico (ROCHA, 2015). Em resumo, o posicionamento da marca deve estar alinhado tanto aos objetivos da empresa, quanto às circunstâncias do mercado. Se trata, por- tanto, de um trabalho estratégico contínuo e inovativo. 3. Considerações finais • O reposicionamento de marca pode contribuir para reconstrução da reputação de marca em períodos de turbulência. Esta ideia está associada à abordagem contingencial do marketing. • Geralmente, o posicionamento de marca é concebido mediante estudos da hierarquia de valores do público-alvo, pois tal estrutura serve como ponto de partida para criação de campanhas eficazes de marketing. • Existem inúmeros exemplos que ilustram o movimento de posicio- namento e reposicionamento da marca, o que acaba revelando a flutuação constante do cenário competitivo na realidade atual. • A estratégia tratada neste capítulo auxilia a marca na composição adequada perante cada recorte geográfico em que atua, conside- rando suas características e peculiaridades para proposta de valor a ser trabalhada. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 47 Glossário • Brand: do inglês, marca. • Equity: do inglês, valor. • Athleisure: tendência da moda que reposiciona a moda esportiva como roupa casual. VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 03 1. A estratégia de da marca sustenta o potencial de ampliação nas vendas mediante “a criação de associa- ções de marca fortes, favoráveis e exclusivas” na mente do consumidor (KELLER; MACHADO, 2006, p. 70). a) Elasticidade. b) Reconhecimento. c) Posicionamento. d) Marketing. e) Proeminência. 2. A ideia de elasticidade da demanda é diretamente relacio- nada à flutuação de preços e seu impacto sobre as vendas. Em outras palavras, quanto maior a qualidade da relação marca-consumidor: a) menor a sensibilidade a preço. b) maior a sensibilidade a preço. c) maior a dependência com relação a ajustes no preço. d) menor a independência com relação a ajustes no preço. e) menor a ineslasticidade com relação ao preço. 3. Investir no enquadramento da subcategoria significa inves- tir na marca em si PORQUE a relação entre investimentos 48 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital em subcategoria como estratégia para promover a marca é diretamente proporcional aos ganhos com relação à pro- eminência da marca no mercado. Com relação às asserções acima, bem como a relação en- tre elas, assinale a alternativa correta: a) A primeira asserção está correta e a segunda, incorreta. b) A primeira asserção está incorreta e a segunda, correta. c) Ambas as asserções estão corretas, mas não possuem relação entre si. d) Ambas as asserções estão corretas e possuem relação entre si. e) Ambas as asserções estão incorretas. Referências Bibliográficas AAKER, David. On Branding: 20 Princípiosque Decidem o Sucesso das Marcas. Porto Alegre: Bookman, 2015. BELLER, Charley; KNOWLES, Rebecca; HARMAN, Craig; BERGSMA, Shane; MITCHELL, Margaret; VAN DURME, Benjamin. I’m a belieber: social roles via self-identification and conceptual attributes. Proceedings of the 52nd Annual Meeting of the Association for Computational Linguistics (Short Papers), Baltimore, Maryland, USA, jun. 23-25, 2014, p. 181–186. KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Gestão Estratégica de Marcas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MARTINO, Luís Mauro Sá. Teorias da Comunicação: Ideias, Conceitos e Métodos. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. ROCHA, Marcos (org.). Marketing: Novas Tendências. São Paulo: Saraiva, 2015. WHEELER, Alina. Design de Identidade de Marca: Guia Essencial Para Toda a Equipe de Gestão de Marcas. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 49 Gabarito – Tema 03 Questão 1 – Resposta: C A estratégia de posicionamento promove a marca na mente dos con- sumidores através da comunicação desenhada para torná-la rele- vante e proeminente frente aos demais players. Questão 2 – Resposta: A Quanto maior o grau de fidelidade do consumidor com a marca, me- nor a sensibilidade com relação ao preço. Em outras palavras, caso a marca ajuste os preços praticados, menor o impacto com relação às vendas. Questão 3 – Resposta: D Segundo David Aaker (2015), investir no enquadramento da subca- tegoria significa investir na marca em si, pois a coloca em evidên- cia perante os demais players. Deste modo, se a subcategoria vence, a marca vence junto, aumentando sua proeminência no mercado competitivo. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 50 TEMA 04 BRANDING SENSORIAL Objetivos • Apresentar a noção de branding sensorial; • Expor o potencial que esta estratégia de branding representa para a marca, em termos multissensoriais; • Ilustrar o conceito com alguns exemplos práticos. Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 51 Introdução Ao enumerar estratégias de escolha com relação aos elementos da marca, Keller e Machado (2006) negligenciam elementos percebidos, pelo clien- te, através do olfato e paladar. Na tentativa de englobar todas as marcas, os autores apontaram nome, domínio na internet, logotipo e símbolos, personagens, slogans, jingles e embalagem (único que engloba o tato ao indicar a funcionalidade em termos de consumo do produto) como os elementos da marca. Tais elementos da marca excluem os sentidos indicados acima e, conse- quentemente, possíveis composições sensoriais que possam sustentar e promover a marca no que diz respeito ao trabalho de branding. Ou seja, não reconhecerem que fragrâncias e cheiros, pulverizados no interior das lojas físicas, poderiam configurar um elemento (forte) da marca. Por outro lado, Keller e Machado (2006) reconhecem a eficácia daquilo que chamam de “alma da marca”. Esta é uma noção capaz de extrapolar o entendimento sobre posicionamento de marca que, no caso, serve para localizar a marca na competição estabelecida no mercado, frente aos pro- dutos concorrentes ou substitutos. A “alma da marca” seria a forma com que a marca pode expressar sua es- sência através de valores expressos em elementos tangíveis. Deste modo, a marca pode alinhar expectativas com clientes, colaboradores e outros stakeholders de maneira mais efetiva. Estabelecendo um conjunto central de valores, portanto, a marca pode expandir e compor diversos posicio- namentos sem ferir aquilo que ela, de fato, representa no mercado para os consumidores. 52 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 1. Branding sensorial: uma breve explicação O branding sensorial representa uma ferramenta de branding voltada para criação de estímulos que sustentarão gatilhos que aumentam o valor da marca, tornando-a distinta das concorrentes. Lembrando que branding compreende tanto as ferramentas que fortalecem a marca, como o pro- cesso de gestão em si (ROCHA, 2015). A justificativa acerca do branding sensorial vai de encontro com o número de anúncios veiculados, todos os dias, a cada segundo, perante o mer- cado consumidor. A consequência deste assédio de mensagens publici- tárias pode ser traduzida na criação de barreiras na mente do público, transformando os possíveis pontos de contato em comunicação indeseja- da (ROCHA, 2015). Isso acontece porque o número de anúncios visuais acaba banalizando os estímulos recebidos pela visão (LINDSTROM, 2012). Este cenário afasta o potencial fixado no primeiro momento acerca das composições visuais para promoção da marca. Não obstante, o ser humano resgata afetos e memórias através de ca- deias associativas. Essas associações extrapolam o campo da visão, ou seja, este complexo reticular da mente humana é multissensorial e deve ser trabalhado, inclusive, no branding, a fim de atingir outro nível de expe- riência e envolvimento do consumidor com a marca (BATEY, 2010). Além disso, como lembra os autores Oliveira e Braga (2013), a utilização exclusiva da visão nos anúncios publicitários acaba excluindo uma parce- la de consumidores: os deficientes visuais. Neste sentido, a inclusão serve também como perspectiva social na adoção de estratégias de branding sensorial. Portanto, seja para atingir um patamar mais requintado de envolvimen- to marca-cliente ou para incluir a todos, utilizar a estratégia sensorial no Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital 53 branding pode ser útil e eficaz. Para vislumbrar algumas possibilidades, o próximo item traz algumas definições e exemplos práticos que elucidam a questão multissensorial no terreno do branding. 2. Multissensorialidade O ser humano recebe estímulos do ambiente externo através dos cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. Esses estímulos são cap- tados via receptores sensoriais por meio do processo de transdução que, em seguida, são transformados em potencial de ação (MAURER, 2014). EXEMPLIFICANDO Extraindo um exemplo técnico do livro “Fisiologia humana ilustrada”, a explicação acima pode ser ilustrada através da definição do que vem a ser um estímulo adequado que, por sua vez, “é um estímulo específico para o sistema sensorial, capaz de estimular os receptores sensoriais em questão (e somente estes). Assim, uma luz com um comprimento de onda de 400 a 700 nm estimula os fotorreceptores da retina” (MAURER, 2014, p. 170). Neste sentido, compor uma estratégia de branding sensorial traz a possi- bilidade de fortalecer a marca na mente do consumidor a fim de torná-la a única escolha possível dentro da sua percepção que, muitas vezes, foge do senso racional (cerca de 95% das decisões são tomadas no subcons- ciente), como visto no capítulo anterior sobre posicionamento. Para tanto, o branding sensorial pode realizar associações através da es- tratégia de co-branding. Combinando uma marca com outra que tenha apelo emocional em determinado público-alvo, a primeira ganha poten- cial de “falar”, mais intimamente, com este grupo de consumidores. 54 Gestão Estratégica da Marca e Percepção Digital Por exemplo, ao lançar cadernos com capas de personagens da Disney, a marca Tilibra está chamando atenção do público infanto-juvenil. A co- municação se torna mais eficaz por trabalhar elementos íntimos e talvez até afetivos do repertório deste público. Outro exemplo ainda seria uma marca de doces trazendo esses mesmos personagens da Disney para “conversar” melhor com este público. Daí, há uma estratégia que combina elementos visuais e gustativos. Neste sentido, a criação de uma experiência mais completa recai na uti- lização de outros pontos de contato que não apenas o visual. Ou seja, o branding sensorial envolve o consumidor em mais de um nível de consci- ência, promovendo a marca a patamares superiores em termos de me- mória e comunicação. Nas palavras de Marcos Rocha
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