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Epidemiologia da dor

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Alice Bastos 
Epidemiologia da dor 
A ocorrência de dor é crescente em decorrência dos 
novos hábitos da vida, da maior longevidade do 
indivíduo, do prolongamento da sobrevida dos doentes 
com afecções clínicas naturalmente fatais, das 
modificações do meio ambiente, do reconhecimento 
de novas condições álgicas e, provavelmente, da 
aplicação de novos conceitos que traduzem seu 
significado. 
Os estudos epidemiológicos possibilitam a análise da 
distribuição e dos determinantes da ocorrência de dor 
em populações ou grupos de indivíduos e contribuem 
para caracterizar a história natural das doenças. 
 As informações epidemiológicas confiáveis 
possibilitam o planejamento de políticas 
públicas relacionadas à prevenção, ao 
tratamento e à reabilitação da população 
cometida. 
Existem várias barreiras teóricas e metodológicas que 
dificultam a investigação epidemiológica da dor; 
 A natureza complexa, subjetividade de 
expressão e grande diversidade das 
apresentações, repercussões e fatores causais 
orgânicos, ambientais, psicossociais e sazonais 
da dor e ausência de critérios apropriados de 
classificação das afecções álgicas. 
A dor é uma condição muito prevalente na população 
e exerce um impacto significativo no indivíduo e na 
sociedade. 
 Causa um impacto desfavorável nas atividades 
sociais, no lazer e no trabalho. 
Dor na população geral 
A dor aguda é de ocorrência quase universal, 
constituindo o sintoma que primariamente alerta os 
indivíduos para a necessidade de assistência médica. 
Estudos epidemiológicos estimam que a prevalência de 
dor crônica no mundo esteja em torno de 10,1 a 55,5%, 
com uma média de 35,5%; 
 No Brasil, embora não haja muitos estudos 
epidemiológicos, algumas pesquisas 
confirmam prevalência semelhante. 
Em estudo conduzido pela OMS (feito no Rio de 
Janeiro), estimou-se que a dor mais prevalente é a 
lombar, seguida pela cefaleia e pelas artralgias em 
geral; 
 Em 67,9% dos pacientes incluídos, havia o 
acometimento de dor em pelo menos duas 
áreas anatômicas. 
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde 
(OMS), entre as 10 doenças que mais matam no 
mundo, pode-se constatar a “dor” como sintoma 
presente em todas. 
 Quando esta dor não recebe tratamento 
adequado, causa sofrimento e perda na 
qualidade de vida desnecessários. 
Dor nas regiões do Brasil 
Há uma variação da prevalência da dor crônica entre as 
regiões: 
 Centro-Oeste: 24%; 
 Nordeste: 28%; 
 Norte: 36%; 
 Sudeste: 38%; 
 Sul: 42%. 
Os indivíduos do Sudeste relataram a ocorrência mais 
frequente de incapacidade física em consequência da 
dor. 
Dor em unidades assistenciais 
A dor é uma das mais frequentes razões das consultas 
médicas. 
No Brasil, a dor manifesta-se em mais de 70% dos 
doentes que procuram consultórios por razões diversas 
e é a razão das consultas para um terço dos doentes; 
 50% dos doentes brasileiros procuram 
consultórios devido à dor aguda e 50%, para o 
tratamento da dor crônica. 
No Brasil, a dor é o motivo mais frequente pelo qual os 
pacientes procuram um departamento de emergência, 
representando mais de 70% dos atendimentos. 
Alice Bastos 
As dores decorrentes das afecções do aparelho 
locomotor e as cefaleias generalizadas e crônicas são 
as mais comuns; 
 Nos adultos, predominam a epigastralgia, a dor 
à micção e outras dores abdominais, as 
cefaleias, as artralgias, as lombalgias, a dor 
torácica e/ou a dor nos membros; 
 As dores mais incapacitantes foram a 
lombalgia, as cefaleias, as epigastralgias e a dor 
musculoesqulética generalizada. 
Dor nas faixas de idade 
A dor e as razões para sua ocorrência variam segundo 
as faixas etárias. 
A prevalência de dor crônica aumenta com a vida 
adulta, com um pico em torno da sétima década; 
A dor em alguns locais específicos, particularmente no 
membro inferior, aumenta a prevalência ao longo da 
faixa etária, enquanto outras, como a dor lombar, 
diminuem em idades mais avançadas; 
 Tal redução tem sido hipotetizada como sendo 
relacionada a mudanças na percepção da dor, 
expectativa de dor em idades mais avançadas 
e comorbidades. 
A dor crônica e recorrente não associada a uma doença 
é muito comum na infância e adolescência. 
Estima-se que 20% a 50% dos idosos provenientes da 
comunidade apresentem problemas importantes 
relacionados à dor, número que aumenta para 45% a 
80% em pacientes institucionalizados. 
Dentre as principais causas de dor crônica no idoso, 
destacam-se: doenças osteoarticulares, a osteoporose 
e suas consequências, fraturas, doenças reumáticas, 
neoplasias, doença vascular periférica, neuropatias, 
desordens musculoesqueléticas e quaisquer condições 
com prejuízo de mobilidade. 
As mulheres idosas têm maior prevalência de dor 
crônica comparativamente aos homens idosos. 
Dor e gênero 
Os fatores sexo e idade modificam a experiência 
dolorosa em seres humanos. 
As mulheres percebem e relatam mais dor que 
homens, procuram auxílio médico com maior 
frequência que homens e fazem uso de analgésicos em 
maior quantidade; 
Existem alguns fatores que são considerados como 
contribuintes para a maior queixa de dor entre o sexo 
feminino: 
 Mulheres podem perceber o evento da dor 
com maior seriedade, pois as múltiplas 
responsabilidades e papéis, resultantes de 
cuidados com parentes e administração do lar, 
são razões para elas considerarem a dor 
ameaçadora; 
 O significado da dor para homens e mulheres 
pode ser influenciada por normas sociais e 
culturais que permitem à mulher a expressão 
ou manifestação de dor enquanto encorajam 
os homens a desconsiderá-la. 
Comparadas aos homens de idade semelhante, as 
mulheres correm maior risco de desordens 
relacionadas ao estresse e às dores crônicas, como, por 
exemplo, na fibromialgia; 
As mulheres relatam dor mais intensa, episódios mais 
frequentes, mais difusos anatomicamente e mais 
duradouros do que os homens com doenças 
semelhantes; 
Há uma grande prevalência de dores crônicas em 
mulheres; 
 As taxas de prevalência das condições de dores 
crônicas mais comuns são mais altas entre as 
mulheres do que entre os homens. 
As mulheres têm mais probabilidade que os homens de 
experimentar dores múltiplas de forma simultânea. 
Dor e escolaridade 
Indivíduos com nível de escolaridade mais baixo 
apresentam maiores percentuais de dor crônica 
quando comparados aos níveis médio e alto; 
 Isso é explicado pelo fato de terem menos 
conhecimento sobre a importância da 
avaliação e tratamento adequado da dor e 
menores condições financeiras, se 
automedicam com frequência e tem menos 
acesso aos serviços de saúde. 
 
 
Alice Bastos 
Dor e trabalho 
A dor é muito comum em ocupações sedentárias; 
 Por exemplo, atividades administrativas. 
A lombalgia é uma das dores ocupacionais mais 
frequentes. 
Dor e atividade física 
A prevalência de dor crônica é menor entre as pessoas 
fisicamente ativas; 
 A prática de atividades físicas proporciona 
oportunidades para uma vida mais ativa, 
saudável e independente (há uma melhora da 
qualidade de vida); 
 Além disso, a prática de atividade física pode 
influenciar os mecanismos endógenos de 
controle da dor. 
Referências 
SERRANO, S. C.; TEODORO, A. L.; SOUZA, A. P. 
Epidemiologia da dor. In: POSSO, I. P. et al. Tratado de 
dor: publicação da Sociedade Brasileira para Estudo da 
Dor. 1. Ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. p. 33-48. 
VASCONCELOS, F. H.; ARAÚJO, G. C. Prevalence of 
chronic pain in Brazil: a descriptive study. Brazilian 
Journal of Pain, São Paulo, v. 1, n.2, p. 176-179, 
abr./jun. 2018.

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