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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO “Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO) e Desempenho em Vendas de Varejo no Rio de Janeiro”. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração e Economia das Faculdades Ibmec como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. DENIS FRED BENZECRY Orientadora: Professora Drª. Flávia Cavazotte. Rio de Janeiro – 2005 FACULDADESIIBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO EE EECCOONNOOMMIIAA PPRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EE PPEESSQQUUIISSAA EEMM FFAACCUULLDDAADDEESS IBBMMEECC Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. “Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO) e Desempenho em Vendas de Varejo no Rio de Janeiro”. Denis Fred Benzecry Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração e Economia das Faculdades Ibmec como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Comportamento Organizacional. Aprovada em 21 de dezembro de 2005. BANCA EXAMINADORA: Professora Drª. Flávia Cavazotte, Faculdades Ibmec – Orientadora Professora Drª. Fátima Cristina Bacellar, Faculdades Ibmec Prof. Dr. Erimaldo Matias Nicácio, (UFRJ) Benzecry, Denis Fred. Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO) e Desempenho em Vendas de Varejo no Rio de Janeiro. Denis Fred Benzecry. Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2005. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração e Economia das Faculdades Ibmec como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Comportamento Organizacional 1. Comportamento Organizacional, 2. Administração A D-US Todo poderoso, por fazer-se existir dentro de mim; A meus filhos Gisele e João Miguel, por serem a luz da minha vida e inspiração; À Ana Paula, esposa amada, por me inspirar, incentivar, ajudar e acreditar em mim; OFEREÇO A meus pais Fred e Lúcia pelo exemplo, incentivo e apoio sempre presentes; A meus irmãos Isaac ( In Memorian ) e Ivan José pelo amor, torcida e energia; À minha cunhada Silvana, pelo exemplo de dedicação profissional e acadêmico, e apoio; Aos meus sobrinhos Gabriel José e Luciana por serem a família que eu sempre quis; DEDICO AGRADECIMENTOS À Professora Flávia Cavazotte, pela dedicação, profissionalismo, orientação precisa e exemplo de docente dentro e fora de sala de aula, paciência, competência profissional, motivação e amizade; Aos professores Fátima Cristina Bacellar e Erimaldo Matias Nicácio, membros da banca examinadora, pelas valiosas contribuições no aprimoramento deste trabalho; Aos coordenadores, professores e funcionários das Faculdades Ibmec pelo apoio e dedicação; Ao querido primo Alain El Mann, diretor da Empresa pesquisada (Pontapé – Family Shoes) por toda dedicação, paciência, amizade e competência no fornecimento de dados precisos. Aos Funcionários da Pontapé (supervisora, gerentes, caixas, estoquistas e vendedores), pela presteza, educação e acolhimento e tempo dedicado nas respostas aos questionários na condução da pesquisa de campo; A todos os professores que tive, do pré-escolar, do ensino fundamental e do ensino médio (Instituto Batista Ida Nelson), da graduação (UFAM), pós-graduação (PUC-RJ) e mestrado em Educação (UNIG), pelos exemplos de amor à profissão e ao próximo. Aos meus alunos, ex-alunos e colegas professores do CIESA-AM, UNIG, Faculdades São José e UNIGRANRIO, pela troca de conhecimentos e experiências, e pela enorme satisfação que é a carreira docente, quando se pode sentir fazendo a diferença positiva na vida destas pessoas. SUMÁRIO Capítulo 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização.................................................................................... 1.2 Problema da Pesquisa............................................................................ 1.3 Objetivos................................................................................................ 1.4 Hipóteses................................................................................................ 1.5 Relevância do Estudo............................................................................ 1.6 Delimitação do Estudo.......................................................................... Capítulo 2 REVISÃO DA LITERATURA 11 13 14 15 15 16 2.1 O Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO)..................... 18 2.1.1 Aspectos Culturais do CCO....................................................... 2.1.2 Aspectos Culturais do Trabalho no Brasil................................. 2.1.3 Comparação do estudo entre Portugal e Brasil.......................... 23 25 28 2.2 A Percepção de Justiça Organizacional................................................ 2.3 A Performance de Grupos e Indivíduos ............................................... 29 39 Capítulo 3 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 Tipo de Pesquisa.................................................................................... 48 3.2 Amostra e Procedimentos...................................................................... 48 3.3 Instrumentos de Coleta dos Dados........................................................ 501 Capítulo 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Características Demográficas da Amostra............................................. 4.2 Resultados dos Testes de Hipóteses....................................................... Capítulo 5 CONCLUSÕES 5.1 Comentários Gerais................................................................................. 5.2 Limitações do Método........................................................................... Capítulo 6 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS.............................. 54 54 58 59 61 Capítulo 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................. APÊNCICE A Modelo de questionário utilizado............................................ 62 73 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 Representação Gráfica das Hipóteses................................................... Figura 2 As Diversas Camadas da Cultura......................................................... Figura 3 Suporte Organizacional........................................................................ . Figura 4 Formas de Justiça................................................................................ 15 27 29 32 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 Comparação de CCO Portugal/Brasil..............................................................28 Tabela 2 Comparação de Percepção de Justiça Portugal/Brasil.....................................28 Tabela 3 Casos processados- justiça distributiva...........................................................50 Tabela 4 Estatística de confiabilidade- justiça distributiva ...........................................50 Tabela 5 Casos processados – justiça procedimental.....................................................51Tabela 6 Estatística de confiabilidade – justiça procedimental......................................51 Tabela 7 Casos processados- justiça interacional...........................................................51 Tabela 8 Estatística de confiabilidade- justiça interacional...........................................51 Tabela 9 Casos processados- CCO................................................................................52 Tabela 10 Estatística de confiabilidade- CCO...............................................................52 Tabela 11 Relações entre as variáveis e as hipóteses de pesquisa................................53 Tabela 12 Regressão confirmatória da H1....................................................................55 Tabela 13 Variáveis da regressão.................................................................................. 56 Tabela 14 Regressão confirmatória da H2 e H3............................................................57 RESUMO Este estudo investiga o Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO), também chamado de comportamento pró-social no trabalho, em suas duas dimensões: comportamentos de cidadania voltados para a organização (CCOo) e comportamentos de cidadania voltados para o indivíduo (CCOi). A literatura sobre o assunto é revista, onde o conceito de CCO é definido, assim como seus antecedentes e conseqüências. O estudo investiga especificamente a relação entre justiça organizacional e CCO e, entre CCOo e CCOi e o desempenho de equipes de uma rede de varejo de calçados no Rio de Janeiro. Os resultados sugerem que tanto CCOo, quanto CCOi são importantes preditores de desempenho em vendas, e que a percepção de justiça organizacional está associada ao CCO. Palavras-chave: Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO), Justiça Organizacional, desempenho,vendas, Comportamento Organizacional. ABSTRACT This study investigates the Organizational Citizenship Behavior (OCB), also called pro-social behavior in the work, in its two dimensions: citizenship behaviors directed toward the organization (OCBo) and citizenship behaviors directed toward the individual (OCBi). Literature on the subject is reviewed, where the CCO concept is defined, as well as its antecedents and consequences. The study specifically investigates the relation between organizacional justice and OCB and, between OCBo and OCBi and the performance of teams of a retail footwear company in Rio de Janeiro. The results suggest that as much as CCOo, CCOi is an important preditor of performance in sales, and that the perception of organizacional justice is associated with the OCB. Key-words: Organizational Citizenship Behavior(OCB), Organizational Justice, sales performance, organizational behavior. Capítulo 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização. Estudos contemporâneos apontam para um aspecto importante que se relaciona ao comportamento das pessoas nas organizações. Trata-se do Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO), inicialmente identificado com este termo por Smith, Organ e Near (1983). No desempenho de suas atribuições, o trabalhador pode ter dois tipos de tarefas: • Tarefas que fazem parte de suas obrigações específicas no cargo ocupado; • Tarefas desempenhadas voluntariamente, que não são reconhecidas oficialmente pelo sistema de remuneração do cargo, mas que refletem a disposição da pessoa em ajudar sua empresa e seus colegas de trabalho, apontando para o favorecimento do aspecto pró-social. Tais atitudes incluem-se no CCO. Atualmente, pode-se notar um relativo aumento no desgaste emocional entre as pessoas de uma mesma empresa, afetadas pelo fenômeno da intensa competitividade dentro e fora do trabalho. Bolino, Turnley e Bloodgood (2002) apontam para a importância do CCO e do capital social em empresas, onde a competição entre os trabalhadores parece se agravar, à medida em que cargos são extintos. Cobra-se cada vez mais produtividade e as pessoas se isolam, substituindo valores sociais por valores individuais. Paradoxalmente, grupos de trabalho eficientes apontam para a necessidade de entrosamento e sinergia entre seus membros, aspectos estes que têm trazido como conseqüência, maior bem estar e efetividade no mundo empresarial, fato percebido por Moorman e Blakely (1995) quando estudaram valores de individualismo, em contraponto a valores de coletivismo. Segundo os autores, o CCO poderá causar um enriquecimento nas relações humanas no trabalho, bem como as relações entre as pessoas e as empresas, 11 acarretando em ganhos para ambos. Para tanto, pessoas e organizações devem tomar conhecimento de tal assunto, através da divulgação e discussão do tema, ampliando o escopo de informações sobre o mesmo. O conceito de Comportamento de Cidadania Organizacional apresenta ainda algumas divergências teórico-conceituais, além de uma quantidade relativamente limitada de estudos. Por ser um aspecto influenciado também pelo fenômeno cultural, como mostram Paine e Organ (2001), as diferenças entre regiões ou países são significativas. Parece interessante pesquisar o CCO no Brasil, visto que o mesmo tende a demonstrar uma relação vantajosa entre pessoas, empresas e sociedade. Para tornar esta pesquisa viável, seguiu-se a hipótese de estudos anteriores, nos quais o CCO se subdivide em duas categorias: CCOi , em que o comportamento de cidadania dirige-se a determinado(s) indivíduo(s) e o CCOo, no qual é dirigido à organização, como propõem Rioux e Penner (2001), LePine, Erez e Johnson (2002) e Williams e Anderson (1991). Em outro estudo, Organ e Ryan (1995) fizeram correlações entre o CCO e variáveis de atitude dos trabalhadores. As principais correlações foram com a satisfação no trabalho, justiça percebida, comprometimento organizacional e tratamento recebido da liderança. Optou-se por realizar uma pesquisa de campo com uma empresa constituída por uma rede de lojas no varejo, todas com aproximadamente o mesmo porte, com uma quantidade equivalente de pessoas e equipes por loja, trabalhando com a mesma linha de produtos, sendo estes, principalmente sapatos, além de bolsas e artigos de couro para vestuário. Aliado à conveniência de estudar o CCO de uma forma mais isolada, a empresa escolhida apresenta uma estrutura que possibilita uma relação interpessoal e influência intensa entre os funcionários e gerentes das unidades. Finalizando o rol de vantagens, há a fácil percepção e mensuração da performance em vendas, expressas em números absolutos e relativos e representativos dos grupos e indivíduos envolvidos. 12 1.2 O Problema da Pesquisa Esta pesquisa contém a observação da percepção de justiça organizacional, do comportamento de cidadania organizacional e da performance sob o ponto de vista teórico e prático, a partir de trabalhos científicos de importantes estudiosos do tema. As observações dos cientistas até aqui, limitam-se a um certo número de empresas de alguns setores da economia e a outros países, principalmente os Estados Unidos da América. Ao se estudar fenômenos comportamentais, deve-se considerar aspectos contextuais das pessoas e organizaçõesenvolvidas. No Brasil, permeado por uma grande diversidade cultural, ainda é pequena a quantidade de pesquisa relativa ao CCO. Neste tema, somam-se dois aspectos importantes. O primeiro é a busca constante por melhores desempenhos, fruto da crescente concorrência presente no mercado mundial. O segundo aspecto refere-se à qualidade de vida no trabalho (QVT). Grande parte dos dias passados pelos trabalhadores se dá dentro das empresas. É interessante que este convívio entre pessoas seja caracterizado por relações de harmonia, e priorização do bem- estar social, valores presentes no CCO. Sucesso apud Vasconcelos, (2001) apresenta uma síntese de alguns fatores que resultam em maior QVT: • Ter uma renda que satisfaça às expectativas pessoais e sociais; • Sentir orgulho pelo seu trabalho; • Viver emocionalmente satisfeito; • Possuir auto-estima; • A organização gozar de boa reputação junto à sociedade; • Conseguir o equilíbrio entre trabalho, família e lazer; • Trabalhar sob horários e condições sensatas; 13 • Possibilidades de oportunidades e perspectivas na carreira; • Poder usar seu potencial; • Ter seus direitos respeitados e; • Ser recompensado com justiça nas trocas que efetuar com a organização. Conforme Vasconcelos (2001), programas de QVT fazem com que os indivíduos tenham mais saúde, resistência ao stress, mais estabilidade emocional, maior motivação, eficiência, auto-imagem e melhores relacionamentos. Em contrapartida, as empresas têm menos absenteísmo, maior produtividade e maior CCO. Frente à relevância deste tema, esta pesquisa pretende responder à seguinte pergunta: Como a percepção de justiça organizacional afeta o Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO) dos vendedores da empresa comercial “X”? Que reflexos o CCO tem em seu desempenho? 1.3 Objetivos • Investigar o CCO, suas causas, com ênfase na percepção de justiça organizacional e suas conseqüências, com ênfase na performance em vendas no varejo, considerando a realidade brasileira. • Identificar, através de estudos previamente realizados, a fundamentação teórica e pesquisas experimentais que englobam o CCO e sua importância nas organizações. • Fornecer informações que levem a práticas corporativas baseadas nos valores expressados pelos CCO. 14 1.4 Hipóteses H1: Quanto maior for a percepção de justiça dos funcionários, maiores serão as demonstrações de CCO; H2: Quanto maior for o CCOi entre as pessoas de uma unidade de trabalho, maior será o desempenho resultante nesta unidade. H3: Quanto maior for o CCOo nas unidades de trabalho, maior será o desempenho da unidade. H2 H3 CCO Desempenho da equipe de vendas CCOo CCOi H1Percepção de Justiça organizacional Figura 1 Representação gráfica das hipóteses 1.5 Relevância do Estudo A relevância desta pesquisa está em trabalhar com dados e informações, não só teóricos, como empíricos, que venham a fornecer suporte para a realização de trabalhos científicos dentro da realidade brasileira, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro . Pretende-se explorar o Comportamento de Cidadania Organizacional sob o ponto de vista da sua principal causa, a percepção de justiça dos funcionários com relação à organização e a seus superiores. Espera-se como consequência, uma melhoria do desempenho em lojas de varejo, bem como incentivar o bom relacionamento entre as pessoas na organização, o que agregará vantagens para empresários e funcionários. Por ser um tema que envolve as pessoas e seu desempenho nas empresas, este estudo fornece parâmetros que podem ser aplicados 15 também em outros tipos de organizações, além das comerciais, tal como na indústria, prestação de serviços e outras. 1.6 Delimitação do estudo O CCO é um fenômeno presente, em menor ou maior grau, em qualquer tipo de organização. Esta pesquisa pretende avaliar o CCO em apenas determinado setor do comércio varejista, ou ainda em apenas uma empresa possuidora de algumas filiais. Tal procedimento origina uma série de observações limitadas a cada unidade, com suas particularidades contextuais, estruturais, culturais e pessoais. Estas peculiaridades afetam também o desempenho das pessoas e das unidades. Esta pesquisa fez a observação destas influências, mensurando a significância oriunda das mesmas e visou entender melhor o papel do CCO. Pode-se propor algumas tendências no comportamento e desempenho, guardadas as devidas diferenças. A empresa pesquisada possui unidades equivalentes que trabalham com a mesma linha de produtos, tem o mesmo porte, lay-out e organização administrativa . Foi isolada a percepção de justiça organizacional como principal antecedente do CCO apesar de haverem outros, como sugere Siqueira (1995): • As cognições dos trabalhadores; • A pré-determinação de estabelecer com a organização relações de troca sociais, materiais ou econômicas e; • A percepção da honestidade nesta relação de troca. Com relação aos fatores que podem afetar a performance dos trabalhadores, esta pesquisa isolou apenas o conceito de Comportamento de Cidadania Organizacional. Como exemplos de fatores extra-CCO que também podem afetar o desempenho sugere-se: • Localização das lojas (bairro, de rua ou de shopping, público-alvo atendido); • Turnos de trabalho; 16 • Perfil das equipes e líderes (personalidade, experiência, entrosamento, grau de instrução, rotatividade no trabalho); • Remuneração; • Diferenças de cultura organizacional e cultura do país ou região em que se encontra a organização; • Sazonalidade das vendas; • Influências da economia, como taxa de juros para financiamentos; • Inadimplência dos consumidores; • Treinamento da força de vendas e; • Mudanças na legislação tributária e/ou trabalhista. 17 Capítulo 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O Comportamento de Cidadania Organizacional (CCO) Já faz algum tempo que as Teorias Administrativas começaram a discutir o papel e a importância das atitudes das pessoas no trabalho . Tais estudos fazem parte do que se considera Comportamento Organizacional, assim definido por Wagner III e Hollembeck: “(...) é um campo de estudo voltado a prever, explicar, compreender e modificar o comportamento humano no contexto dasempresas”.(1999, p.6) Os autores complementam esta definição com algumas considerações. O Comportamento Organizacional analisa aqueles comportamentos que podem ser observados no desempenho normal do trabalho, sejam eles de ação interna, como pensar e decidir, como de ações externas. Tais comportamentos envolvem ainda os trabalhadores como indivíduos ou como integrantes de grupos maiores e a ação destes grupos entre si. O presente estudo está integrado a uma instituição de educação que promove ensino e pesquisa em administração. Bowditch e Buono consideram a administração como sendo um processo no qual os administradores conjugam os aspectos técnicos com os aspectos comportamentais, enfatizando o comportamento organizacional sob o ponto de vista dos gestores. “Sob este prisma da administração como processo, é mais freqüente se dar atenção aos papéis, comportamentos e habilidades necessárias para um desempenho gerencial eficaz. Algumas dessas habilidades comportamentais são a comunicação com pares, subordinados e chefes; a obtenção de informações e o ato de compartilhá-las; a condução de reuniões; a alocação de recursos a grupos diversos, e a solução de conflitos dentro de grupos ou entre eles. Essa compreensão dos processos administrativos, freqüentemente chamada de Comportamento Organizacional, amplia sim a formação dos administradores, levando-os ao estudo de pessoas, grupos e suas interações nas estruturas organizacionais”.(1992, p.1). Ao abordar o CCO, este estudo enfatiza a grande influência do Comportamento Organizacional no funcionamento das empresas. Fator de sucesso ou fracasso, dependendo da forma como é conduzida a estratégia de Recursos Humanos, envolvendo recrutamento e 18 seleção, avaliação de desempenho, política de cargos e salários e de remuneração, afirma Spector (2002). Em grupos de indivíduos, busca-se a melhor compreensão das relações existentes, visando o melhor aproveitamento das competências individuais e da unidade, como equipe. Baseando o comportamento em valores pró-sociais, ganha-se em participação e efetividade, dizem Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004). Tais valores assemelham-se ao que se considera cidadania. Buscou-se um conceito que traduzisse o fenômeno da preocupação que as pessoas têm em fazer diferença e serem incluídas em grupos. Há em todos indivíduos uma certa necessidade em pertencer. Afirma Matos, “O homem tem necessidade de identificação social. Referências à família, à empresa, ao credo religioso a uma entidade de prestígio e a qualquer grupo a que pertença são meios através dos quais procura afirmar seus valores.”(1996, p.322). Ao pertencer a um grupo, as pessoas estariam dispostas a comportamentos em prol deste grupo, obtendo o reconhecimento dos demais e satisfazendo esta necessidade básica de inclusão social, relatam Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004). Matos, (1996) identifica ainda duas condições primordiais para a ocorrência de cidadania no trabalho: • Dignidade, ao se respeitar os outros para também ser respeitado no ambiente da empresa; • Participação, que envolve a prática de decidir e poder ser solidário, sentir-se útil, contribuir e influenciar. Afirmam Siqueira, Gomide Júnior e Oliveira (2001), que o termo cidadania foi utilizado historicamente para explicar, através de condições sociais, políticas e jurídicas a condição do ser humano como detentor de direitos e deveres, enquanto membro de uma 19 sociedade. Do ponto de vista dos estudos de comportamento organizacional, a cidadania remete a atos voluntários que causariam benefícios ao sistema organizacional. Peter Drucker, um reconhecido estudioso de administração define também o termo cidadania: “Como termo legal, ‘cidadania’ indica mais uma identificação do que uma ação. Como termo político, ‘cidadania’ significa compromisso ativo. Significa responsabilidade. Significa fazer diferença na sua comunidade, na sua sociedade, no seu país. Cidadania significa a disposição para viver, ao invés de morrer pelo seu país”. (DRUCKER apud RESENDE, 2001, p.85). Organ é um dos principais pesquisadores do comportamento de cidadania organizacional (CCO) e o define como: “comportamento individual que é discricionário, não reconhecido direta ou explicitamente pelo sistema formal de remuneração e que, em adição, promove o funcionamento efetivo da organização. Por discricionário, nós dizemos que o comportamento não é uma exigência do papel ou da descrição do cargo, isto é, os termos claramente específicos do contrato de emprego da pessoa com a organização; O comportamento, ao invés disso, é uma questão de escolha pessoal, tanto que sua omissão não é geralmente, entendida como passível de punição.”(1988, p.513). Apesar do fato de que Bateman e Organ (1983) terem sido os primeiros a introduzir o termo “comportamentos de cidadania” na literatura científica, foram Katz e Kahn (1978) que primeiro viram o trabalhador como “cidadão organizacional”. Segundo estes, a legitimidade percebida nas normas organizacionais e no sistema de recompensas, aos quais os trabalhadores estivessem sujeitos, os fariam lembrar dos seus direitos e deveres em um Estado democrático. Katz e Kahn (1978) apresentaram seu conceito de cidadão organizacional baseando-o em cinco classes de ações espontâneas que beneficiariam a empresa: ajuda aos colegas de trabalho, proteção à organização, sugestões construtivas, contribuição para a reputação organizacional e autodesenvolvimento. O CCO despertou o interesse de vários pesquisadores a partir do início dos anos 80. Outros termos também foram utilizados para descrever o CCO: comportamento organizacional pró-social, comportamento extra-papel e espontaneidade organizacional. 20 Os comportamentos pró-sociais são realizados para benefício ou ajuda de outra(s) pessoa(s) do grupo, afirmam Brief e Motowidlo (1986). Este termo foi utilizado inicialmente por Brief e Motowidlo em 1986 e pode designar, tanto atos previstos no cargo, como atos voluntários, não recompensados pelo sistema. George e Bettenhausen (1990) citaram alguns exemplos, como ajudas dirigidas a colegas de trabalho, supervisores, subordinados, clientes ou à própria empresa. Os conceitos de comportamentos extra-papel foram utilizados por Pearce e Gregersen (1991) para explicar as atitudes que produzissem efetividade organizacional, tais quais as propostas Por Katz e Kahn. Em seus estudos, propuseram que os comportamentos extra-papel eram oriundos do senso de responsabilidade e independentes da influência de estados afetivos. George e Brief (1992) criticaram, tanto o conceito de comportamento de cidadania organizacional, o qual consideraram distante de ações de trabalho, como o de comportamentos organizacionais pró-sociais, que poderiam comprometer a efetividade organizacional, afirmam Siqueira, Gomide Júnior e Oliveira (2001). Ao introduzirem o conceito de espontaneidade organizacional, George e Brief (1992) incluíramo estado de ânimo positivo do trabalhador como sendo proveniente da sua história de vida, características contextuais, sua disposição afetiva e as características do grupo. Tal estado de ânimo positivo seria o principal motivador da espontaneidade organizacional. Embora tenha havido uma certa confusão relativa aos nomes e conceitos, algumas pesquisas empíricas foram desenvolvidas tendo como base a taxonomia proposta por Organ (1988). Foram apresentadas as seguintes dimensões ligadas ao CCO: • Comportamento de ajuda: demonstrado através do altruísmo, quando a pessoa dedica parte do seu tempo a ajudar seus colegas com problemas 21 de trabalho. Ao mostrar cortesia, consultando os outros antes de iniciar ações que os afetarão e prevenindo problemas com outras pessoas na empresa. Encorajando seus colegas quando os mesmos se encontram desanimados e atuando como um pacificador, ao intervir para a solução de conflitos na empresa. • Conscienciosidade: demonstrada pelo alto senso de responsabilidade do trabalhador com seus afazeres, e em atitudes além de sua jurisdição, que contribuam para o sucesso da companhia, tendo um genuíno interesse nos assuntos do trabalho. • Espírito esportivo: consiste em uma disposição do empregado em tolerar circunstâncias abaixo do ideal, sem reclamações. Muitas vezes, evitar posicionar-se contra um desprezo, real ou imaginário. Não superdimensionar pequenos problemas. Analisar os fatos pelo lado positivo e parar de só apontar para os erros da empresa. • Virtude cívica: é um comportamento indicando que o trabalhador participa responsavelmente e se importa com a vida da empresa. Participar de reuniões, encontros e trabalhos, mesmo quando não forem requisitados a ele, mas que ajudem a companhia. Acompanhar as mudanças na organização. Ter iniciativa para opinar e intervir nos procedimentos, imagem e operações da empresa, visando melhorá-los. O presente estudo identifica a necessidade de uma sólida definição do CCO, evitando-se erros de interpretação, como demonstrado no artigo de Lathan, Millman e Karambaya (1997). Tais autores investigaram entre diferentes percepções sobre a representatividade e o significado do CCO em itens relativos ao altruísmo, coletivismo e comprometimento. Grupos formados por pesquisadores, acadêmicos gerentes e sindicalistas 22 avaliaram o CCO para saber até que ponto cada um destes aspectos foi diferenciado. Apenas os pesquisadores de CCO puderam distinguir o CCO dos outros três assuntos. Os demais grupos confundiram os conceitos. Outra pesquisa conduzida por Morrison (1994) entrevistou 317 trabalhadores do clero e mostrou que eles divergiam quanto ao que sejam tarefas oficiais ou voluntárias. Também demonstraram mais iniciativa para o CCO quando julgavam-no parte de seu cargo. Essa autora sugere uma reconceitualização de CCO. 2.1.1 Aspectos Culturais do CCO O CCO afeta e é afetado pela dinâmica de relações sociais das organizações. Os comportamentos dos grupos podem apresentar algumas variações, em função de aspectos culturais, ensina Hofstede (1980). Este fato justifica o interesse pelo presente tema de estudo, considerando-se a cultura do Brasil. Dentre os artigos consultados na revisão teórica e relativos aos aspectos culturais , destaca-se o de Paine e Organ (2000). A globalização está diminuindo todas as distâncias no mundo e trazendo à tona questões de diversidade cultural. Torna-se primordial para o sucesso de empresas multinacionais que sua gestão esteja adaptada às diferenças culturais dos países que a acolhem. Hofstede (1980) apud Paine e Organ (2000) percebeu que práticas, tais como sistemas de remuneração em grupos e sistemas de avaliação de desempenho tem sua eficácia variável, de acordo com as diferentes culturas. Paine e Organ (2000) apontam lacunas nos estudos sobre CCO. A aplicabilidade destes conceitos em outras culturas ainda não foi pesquisada com a mesma extensão que a dos Estados Unidos. Talvez, outros contextos culturais possam incentivar ou limitar a prática de CCO. Outras questões também buscam maior esclarecimento: 23 • O termo CCO tem o mesmo significado em outras culturas? • Existem termos em outras línguas que definem o mesmo fenômeno? • Existem percepções de CCO diferentes? • As conseqüências serão as mesmas? • Os diferentes tipos de CCO, como altruísmo, conscienciosidade e espírito esportivo, presentes nos estudos americanos, correspondem aos análogos de outros países? • Como os profissionais de RH poderão reconhecer e maximizar o CCO em suas organizações? Os autores realizaram uma pesquisa qualitativa e exploratória com indivíduos de 26 países diferentes. Na primeira etapa, os trabalhadores responderam a um questionário e na segunda, foram entrevistados. Como resultado, sugerem que mais pesquisas sejam realizadas para formatar, entender e praticar mais o CCO em várias culturas. Mamman, Sulaiman e Faidel (1996) conduziram um estudo envolvendo quatro países investigando qual a preferência dos trabalhadores em sistemas de pagamento. Um dos principais antecedentes do CCO é a percepção de justiça organizacional, influenciada, dentre outros fatores, pela remuneração. Concluíram as diferenças culturais foram significantes nas diferentes preferências dos trabalhadores. A predisposição pessoal para cooperar é influenciada por valores obtidos da cultura de uma nação, enquanto a organização, por ela mesma, desenvolverá uma cultura resultante das virtudes de seus elementos, observam Redding, Norman e Schlander (1994) apud Paine e Organ (2000). “Os recursos humanos de uma organização devem ser gerenciados de forma sensível aos requisitos, valores e normas, únicos em cada cultura.” (1999, p.47). 24 2.1.2 Aspectos Culturais do Trabalho no Brasil Da Matta (1984) aponta a visão de trabalho, no Brasil, como castigo, algo doloroso imposto ao homem por Deus como castigo, conforme a tradição católica romana que herdamos de nossos colonizadores. Este fato diverge da visão anglo-saxã, proposta pela reforma de Calvino, que considera o trabalho como agir e fazer através de esforço e resultado. Da Matta também considera complicadas as relações de trabalho no Brasil: “(...) Essas relações são complicadas e, dizem os especialistas, muito difíceis de serem mantidas em nível produtivo. Pois aqui a relação vai do econômico ao moral, totalizando-se em muitas dimensões e atingindo diversas camadas sociais. Creio que isso embebeu de tal modo as nossas concepções de trabalho e suas relações, que até hoje misturamos uma relação puramente econômica com laços pessoais de simpatia e amizade, o queconfunde o empregado e permite ao patrão exercer duplo controle da situação. Ele assim pode governar o trabalho, pois é quem oferece o emprego, e pode controlar as reivindicações dos empregados, pois apela para a moralidade das relações pessoais que, em muitos casos, e sobretudo nas pequenas empresas e no comércio, tende a ofuscar a relação patrão-empregado.”(1984,p.32) Outra questão cultural levantada por Da Matta é a postura do brasileiro frente às regras e normas, pois desde a infância, sucedem-se exemplos em que as formas de fazer as vontades da pessoa têm precedência sobre as normas do bom-senso e da coletividade em geral. O dilema criado no Brasil é que, embora haja uma estrutura baseada em leis universais, que deveriam valer para todos, há os indivíduos que se valem do seu sistema de relações pessoais, criando um paradoxo em que coexistem a obediência às regras com o “jeitinho brasileiro” . Obviamente, esta particularidade do brasileiro permeia as relações entre pessoas na sociedade, no trabalho e destas com o governo. Conclui Da Matta: “Por tudo isso, não há no Brasil quem não conheça a malandragem, que não é só um tipo de ação concreta situada entre a lei e a plena desonestidade, mas também, e sobretudo, é uma possibilidade de proceder socialmente, um modo tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de conciliar ordens impossíveis de serem cumpridas com situações específicas e – também- um modo ambíguo de burlar as leis e as normas sociais mais gerais.”(1984,p.103). 25 Resende (2001) realizou vasto estudo com diversos analistas e avaliadores do comportamento dos brasileiros, apontando aspectos coerentes e consistentes, dividindo-o em comportamentos negativos e comportamentos positivos. Destaques nos pontos negativos: • Acha normais pequenos subornos para conseguir as coisas; • Desejo de ganhar dinheiro de modo fácil; • Alienado da política e muito conformista; • Carência de visão crítica; • Despreocupado com a proteção do meio-ambiente, pois desperdiça: energia, água, alimentos e outros recursos importantes; • Muda facilmente da depressão para a euforia, da tristeza para a alegria, da crítica para o elogio; • É impaciente quanto a resultados: espera que o técnico de futebol e o presidente da República tirem o seu time e o seu país de uma crise rapidamente. Destaques nos pontos positivos: • Criatividade e inovação para resolver situações e criar soluções diferenciadas; • Habilidade em atividades e profissões; • Alegria e comunicabilidade; • Otimismo; • Afeição ao trabalho, ajudada pela diversidade de raças que formam o povo brasileiro; • Responsabilidade, desde que os papéis estejam bem definidos no trabalho, na família e na sociedade; • Democracia e tendência pacifista, pois apreciam a liberdade e são aversos a conflitos; 26 • Solidariedade e generosidade, principalmente com quem está carente ou desprotegido. Gosta de ajudar o próximo e prover calor humano. Resende considera ainda a não-valorização do gerenciamento, como sendo também uma questão cultural em que a indicação, eleição e avaliação dos dirigentes das organizações como determinantes da performance: “A cultura predominante leva a pensar que os bons ou maus resultados destas dependem mais da capacidade das tecnologias instaladas, da eficiência dos processos, da existência de rotinas, dos esquemas de controles, etc., sem considerar que por trás de tudo isso está a gestão”.(2001, p.128). Atenta ao fenômeno das crescentes fusões e aquisições intra e internacionais entre organizações no atual panorama empresarial, Barros (2001) deu especial importância ao estudo das dimensões culturais. Afirma a autora que tanto a cultura nacional, como a cultura corporativa, podem se expressar através de estruturas identificáveis que englobam artefatos e comportamentos, normas e valores e premissas básicas, conforme a figura 2, As diversas camadas da cultura Premissas básicas - implícitas Normas e valores Artefatos e comportamento Figura 2 As diversas camadas da cultura Fonte: ( Barros, 2001. p.105) Barros cita importante pesquisa efetuada por Hofstede, um dos mais conhecidos estudiosos do tema inter-cultural, em que o mesmo avaliou 116 mil participantes de uma única empresa, a IBM em 40 países diferentes. 27 Os resultados da pesquisa de Hofstede mostram diferenças como, por exemplo, entre os países nordicos, os Estados Unidos e o Canadá, que possuem menor nível de concentração de poder, em contraste aos países latinos de forma geral, nos quais a diferença entre quem concentra menos poder para a que detém mais poder é maior. Tais diferenças levam a reflexões pertinentes sobre o investimento de tempo e outros recursos aplicados em teorias norte-americanas, a maior parte delas em países com bases culturais muito diferentes. Afirma Barros (2001): “Qualquer esforço deve ser feito e deve ser focado, para ajustar as diversas teorias de gestão à realidade local. Apesar de muito se falar sobre isso, não se percebem tantas ações nesse sentido.”(2001, p.113). 2.1.3 Comparação deste estudo entre Portugal e Brasil Através da utilização de escalas semelhantes de 7 itens validadas por Rego(2002) em seu estudo com 338 gestores de 61 organizações variadas em Portugal, podem-se comparar índices médios de CCO com os obtidos em estudo, com 103 trabalhadores no Brasil, conforme a tabela 1. Tabela 1 Comparação de CCO- Portugal/Brasil CCO em Portugal CCO no Brasil Média geral: 4,81 Média geral: 5,28 Fonte: Rego(2002, p.70) Rego (2002) entrevistou 449 trabalhadores em 51 organizações portuguesas, enquanto este estudo pesquisou 103 trabalhadores em 12 lojas da mesma empresa. As diferenças nos índices médios para justiça distributiva, procedimental e interacional estão mostradas na tabela 2. 28 Tabela 2 Comparação de Percepção de Justiça- Portugal/Brasil Justiça Portugal Brasil Distributiva 3,3 3,7 Procedimental 3,6 4,2 Interacional 4,4 3,8 Fonte: Rego (2002),p.197) . 2.2 A Percepção de Justiça Organizacional. Siqueira e Gomide Júnior analisam os vínculos do indivíduo com o trabalho e com a organização em um capítulo inteiro da obra de Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004). Um aspecto importante é a percepção de suporte organizacional, que são “Crenças globais acerca do quanto o empregador cuida do bem-estar e valoriza as contribuições de seus empregados” (2004, p.310). Tal como Eisenberger (1986) e Moorman (1991), queapontam as causas e conseqüências da percepção de suporte organizacional conforme a figura: Conseqüências para organizações • Menos faltas no trabalho • Menor intenção de sair da empresa • Maior desempenho • Maior satisfação no trabalho • Maior envolvimento • Maior comprometimento organizacional afetivo, calculativo e normativo • Maior comprometimento afetivo com a equipe • Mais cidadania organizacional Percepção de suporte organizacional Antecedentes • Justiça de procedimentos • Suporte de chefias • Retribuições organizacionais 29 Figura 3 Suporte Organizacional. Adaptado de: (Zanelli, Borges-Andrade e Bastos ,2004. P.311) Rego (2002) pesquisou 224 indivíduos que atuavam em várias áreas e em 18 organizações de diversos tipos, espalhadas por Portugal. Seu estudo relacionou 4 aspectos de CCO, a saber: harmonia interpessoal, espírito de iniciativa, conscienciosidade e identificação com a organização, com a percepção dos 3 tipos de justiça já mencionadas: distributiva, procedimental e interacional. Conclui com as seguintes palavras: “Pode-se, portanto admitir que os indivíduos comparam a justiça que lhes cabe pessoalmente com a justiça distribuída pelos outros membros organizacionais. Esta serve como fonte referente em função da qual tomam decisões de cidadania: se sentem favorecidos relativamente a outros membros organizacionais, reagem positivamente; se consideram desfavorecidos, atuam negativamente” (2002, p.53) Ao mencionar a justiça de procedimentos e para melhor compreensão da justiça, como um todo, que antecede o CCO, este estudo apresenta a classificação conforme Rego (2002) e Niehoff e Moorman (1993), onde são apresentadas três dimensões: justiça distributiva, procedimental e interacional. Foi Adams (1963) um dos pesquisadores pioneiros nos estudos de justiça organizacional. Considerou como “percepção de equidade” o fato de que as proporções e retribuições entre duas partes envolvidas numa relação estivessem em equilíbrio. Assim, a equidade estaria relacionada à idéia de retribuição. Seguindo-se a este trabalho, os estudos procuraram comprovar empiricamente este postulado, observando o comportamento de indivíduos que se sentiam injustiçados quanto ao retorno por suas contribuições. Ao investigar as relações de trabalho, estas pesquisas foram classificadas como “justiça distributiva”. Thibaut e Walster (1975) introduziram o conceito de “justiça de procedimentos”, baseada no fato de que a distribuição de retribuições e recompensas, para ser justa, deveria ser precedida de procedimentos para escolha de critérios justos. Leventhal (1980) estabeleceu um importante marco ao pesquisar a justiça de procedimentos. Segundo ele, haviam alguns critérios que sintetizavam a relação entre a justiça dos procedimentos e a distributiva. A saber: 30 • Consistência e impessoalidade das regras ao longo do tempo; • Clareza e precisão nas informações prestadas pelos tomadores de decisão; • Representatividade dos grupos sujeitos às decisões junto ao grupo que decide; • Manutenção de padrões éticos e morais. Outra importante contribuição para os estudos de justiça organizacional foi a definição de “justiça interacional”, de Bies e Moag (1986). Segundo este conceito, o supervisor deveria dispensar aos seus subordinados um tratamento justo e digno. Colquitt (2001), considerando a importância de questões ligadas aos relacionamentos permeando questões de justiça, realizou uma meta-análise de 183 estudos de justiça organizacional. Embora as classificações sejam muitas, elas vêm a colaborar no entendimento das questões de percepção de justiça. Este estudo comparou e relacionou diferentes dimensões entre as classificações existentes e suas conseqüências, como comprometimento, satisfação no trabalho, desempenho, CCO e avaliação de autoridade. Rego (2002) efetuou um estudo empírico em organizações portuguesas, no qual analisa a percepção de justiça. As questões de sua pesquisa com os empregados, oferece uma visão sobre cada um dos tipos de justiça considerados, conforme a figura 4. 31 Figura 4 Formas de Justiça. Justiça distributiva Em geral, as recompensas que recebo são justas. O meu salário é justo. Considerando os restantes salários pagos nesta organização, reconheço que o meu salário é justo. Tendo em conta minha experiência, sinto-me justamente recompensado. Tendo em conta o meu esforço, julgo que sou recompensado justamente. Justiça procedimental A minha organização tem um mecanismo que permite aos empregados apelarem das decisões. As questões que os empregados apontam a respeito da remuneração e da avaliação de desempenho são normalmente respondidas pronta e satisfatoriamente. Utilizando-se de vários canais, a minha organização tenta compreender as opiniões dos empregados relativamente às decisões e políticas de remuneração. Os empregados podem discordar ou apelar das decisões tomadas pelos seus chefes. Justiça interacional O meu superior mostra interesse genuíno em ser justo comigo. O meu superior é completamente sincero e franco comigo. O meu superior toma claro o que espera de mim. O meu superior trata-me com respeito e consideração. O meu superior explica muito claramente qualquer decisão relacionada com as minhas funções. Adaptado de: (REGO, A. Caderno de Pesquisas em Administração- USP. 2002. p. 43). Dois autores se destacam quando o assunto é a justiça organizacional como causadora do CCO. Arménio Rego, docente da Universidade de Aveiro, em Portugal, especialista em Comportamento Organizacional, e Sinésio Gomide Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia. Em seu livro “Justiça e Comportamentos de Cidadania nas Organizações”, Rego (2000) afirma que o desempenho dos trabalhadores é reduzido quando as empresas adotam comportamentos injustos, apesar de os gestores em Portugal ainda estarem pouco sensibilizados para esta realidade. 32 A justiça na maioria das organizações é considerada pelos gestores como uma matéria com pouco relevo para a eficácia empresarial. Em Portugal, ainda vigora um preconceito segundo o qual a justiça e os negócios são temas que não devem misturar-se. Na investigação que realizou, Rego (2000) constatou que os trabalhadoresportugueses, na sua maioria, afirmam que são tratados de forma injusta dentro das organizações. As pessoas a quem solicitou a opinião sobre as percepções de justiça manifestaram o desejo que as suas opiniões chegassem aos órgãos de gestão. A justiça nas organizações pode influenciar diretamente nos comportamentos de cidadania que os trabalhadores adotam: o fornecimento de sugestões construtivas, a defesa da reputação da organização e dos seus serviços junto dos serviços e família, a aceitação de alguns inconvenientes com algum desportivismo, a procura espontânea da melhoria de conhecimentos, a ajuda a um colega que se encontra em dificuldades, são algumas das ações que, mesmo não sendo recompensadas financeiramente, contribuem para a eficácia organizacional. Rego (2000) declara que para se criarem espaços de justiça e cidadania, não basta, porém, atuar sobre a justiça nos resultados, como por exemplo, recompensas. É igualmente necessário ser justo nos procedimentos e nas interações entre superiores e subordinados. Para ilustrar como se podem relacionar estes diferentes tipos de justiça, Arménio Rego dá um exemplo: Um colaborador pode considerar que a sanção disciplinar que lhe foi aplicada é justa (justiça distributiva), mas adotar reações negativas para com a empresa devido à injustiça dos procedimentos usados (justiça procedimental) e ao modo como o seu superior o tratou durante todo o processo e lhe comunicou o resultado (justiça interacional). Conforme Rego (2000), alguns fatores levam os funcionários a perceber injustiça nas organizações: 33 • Automação das pessoas, dando-lhes a entender que há justiça quando apenas existem intuitos manipuladores ; • Tomar decisões numa lógica de favorecimentos pessoais ; • Pedir sacrifícios às pessoas, e simultaneamente esbanjar recursos ; • Solicitar o empenho das pessoas em momentos difíceis, mas não partilhar os resultados positivos que advém dessa iniciativa ; • Tratamento desrespeitoso e indigno ; • Alegar confidencialidade na informação referente às respostas dos funcionários a questionários, mas violá-la na prática pelo uso de mecanismos inidôneos para conhecer as respostas das pessoas . Ainda segundo o autor, tais práticas injustas causam os seguintes resultados indesejados na empresa: • Nos níveis de desempenho individual, grupal e organizacional; • Na qualidade do trabalho executado; • Nos níveis de envolvimento das pessoas na organização; • Na rotatividade e absenteísmo; • Nas reações dos sobreviventes às demissões; • Na harmonia social; • Na satisfação; • Na confiança dos trabalhadores na organização e nas suas autoridades e; • Nos furtos e outros comportamentos de retaliação como: sonegar informação, despender tempo em assuntos pessoais durante o horário de trabalho, lançar rumores acerca dos colegas. 34 Há uma pesquisa que relacionou os métodos de monitoramento aos funcionários com os CCO, tendo a justiça percebida pelos empregados como mediadora. Niehoff e Moorman (1993) entrevistaram 213 funcionários que trabalhavam em 11 cinemas distintos de uma mesma empresa. Contrariando alguns estereótipos, a pesquisa sugere que regras de comportamento podem vir a incentivar os CCO, desde que aplicadas convenientemente. Outro estudo de igual teor foi realizado por Williams, Pitre e Zainuba (2002), no sudoeste dos Estados Unidos. Estes pesquisadores, da Texas Southern University, investigaram uma amostra de 114 funcionários de variado número de organizações e posições. Chegaram à conclusão de que há uma boa probabilidade de aumento nos CCO dos funcionários, desde que recebam justo tratamento de seus supervisores. O`Connel, Doverspike, Norris-Watts & Hattrup (2001) realizaram uma pesquisa que, assim como esta, relaciona o CCO a pessoas que trabalham em vendas no varejo. Sua amostra constituiu-se de 112 vendedores distribuídos entre três grandes lojas de departamentos na cidade do México. O trabalho buscou identificar múltiplas causas para o CCO. A correlação encontrada entre o volume de vendas quotizado e o CCO mostrou-se baixo, porém, personalidade e atitudes, principalmente a conscienciosidade, mostraram uma ligação mais forte. Quanto ao desempenho, seu estudo indica que a percepção de justiça correlaciona-se com mais estabilidade. De acordo com Riox e Penner (2001), conforme já citado, a maioria das conceitualizações anteriores de CCO sugere duas dimensões principais: Uma em que os comportamentos pró-sociais são dirigidos a indivíduos ou grupos específicos e outra em que tais comportamentos destinam-se à organização. Nos dois casos, prevalecem correlações entre variação de atitudes como satisfação no trabalho, percepção de justiça, comprometimento organizacional e tratamento recebido da liderança. 35 A justiça organizacional causa CCO, afirmam Riox e Penner (2001), Williams, Pitre e Zainuba (2002), Rego (2002) e Niehoff e Moorman (1993). É percebida em dois aspectos. Um é a justiça distributiva, relacionada à percepção dos empregados a partir das recompensas recebidas por desempenho. Outro aspecto é a justiça procedimental, quanto aos procedimentos adotados na organização. Lambert (2000) contraria os argumentos de que os benefícios trabalhistas dos empregados não estejam relacionados à performance e apoio organizacional. Esta autora desenvolveu um modelo que liga os benefícios trabalhistas ao CCO diretamente, através das obrigações decorrentes da mudança social e, indiretamente, através das crescentes percepções de apoio organizacional. Relações significantes e positivas foram encontradas entre as avaliações dos trabalhadores quanto à utilidade dos benefícios trabalhistas e medidas de cidadania organizacional. Embora o benefício contribua com o apoio organizacional, tal apoio não demonstrou favorecer a cidadania organizacional. Menguc (2000) examina empiricamente um modelo de troca social de comportamentos de cidadania organizacional (CCO) por situações de vendas da Turquia. O modelo de Menguc propõe que a justiça procedimental, pelo modelo de Moorman (1991) a confiança no gerente de vendas, pelo modelo de Podsakoff et. al. (2000), são antecedentes de CCO. As relações hipotéticas são testadas e os resultados demonstram que, isso percebido, a justiça procedimental se associa positivamente com CCO, direta e indiretamente, sendo a confiança no gerente um mediador parcial. Incentivos salariais e pagamentos por desempenho também já foram analisados como antecedentes de CCO. Deckop, e Mangel (1999) pesquisaram o fato em empresas industriais. Considerando duas correntes, uma que considera conflitantes os interesses das empresas com os dos empregados e outra que os considera alinhados, os autores sugerem que o pagamento por desempenho pode incentivar os comportamentos extra-tarefa daqueles cujos36 interesses coincidem com os da empresa e impactar negativamente nos CCO daqueles cujos interesses conflitam com os da organização. A pesquisa prévia em CCO sugere que os empregados que se ocupam de tal comportamento são “os bons soldados”, agindo espontaneamente em nome de suas organizações. Porém, tais comportamentos também podem ser a tentativa de causar uma boa impressão em proveito próprio. Em seu artigo, Bolino (1999) apresenta uma estrutura que mostra como preocupações da administração podem motivar o comportamento de cidadania e podem produzir as conseqüências de cidadania neste contexto, como também a interação entre estes motivos da administração e pesquisa prévia em cidadania. Riox e Penner (2001) complementaram o rol de causas identificáveis para o CCO através do estudo que desenvolveram, resgatando conceitos anteriores e pesquisando a influência dos motivos individuais para a prática do CCO. Os autores classificaram os motivos em três grupos: • Preocupação com a organização, traduzida em atitudes tais como: Querer entender como a empresa funciona; preocupar-se com o que acontece à organização; querer envolver-se completamente; sentir orgulho, sentir que a empresa valoriza seu trabalho; ter interesse genuíno em seu trabalho; querer manter-se um empregado bem informado; estar a par dos últimos desenvolvimentos da companhia; sentir-se bem tratado pela organização e sentir-se comprometido com a mesma. • Valores pró-sociais ,como sentir que é importante ajudar a quem esteja precisando; acreditar que está sendo cortês com os demais; preocupar- se com os sentimentos das outras pessoas; querer auxiliar seus colegas da forma que puder; sentir facilidade em ser prestativo; gostar de 37 interagir , divertir-se e conhecer melhor seus colegas; ser amigável e saber colocar-se no lugar do outro. • Comportamentos que impressionem a gerência, tais como evitar estar de cara feia em frente aos outros; evitar parecer preguiçoso; ter aparência melhor que a dos colegas; evitar ser repreendido pelo chefe; temer parecer irresponsável, parecer ocupado, manter-se longe de problemas; dar a devida importância às recompensas, querer aumento de salário e impressionar seus colegas. Outra pesquisa, de Moorman e Blakely (1995), também aponta para diferenças individuais como antecedentes de CCO. Para tanto, é utilizado o construto bi-polar de individualismo-coletivismo. Uma escala que vai de um extremo ao outro. Enquanto os individualistas colocam seus interesses próprios acima dos da coletividade, os coletivistas consideram os interesses comuns mais importantes. Os autores, baseados na obra de Hofstede (1980) apresentam como exemplo cidadãos americanos, mais propensos ao individualismo e cidadãos chineses, normalmente mais coletivistas. Tal observação coincide novamente com a relevância do aspecto cultural, apontado neste trabalho. Os resultados de Moorman e Blakerly (1995) sugerem que se um indivíduo detém valores coletivistas, estará mais disposto a praticar o CCO. Informações sobre o convívio entre os trabalhadores de uma mesma unidade e teorias de aprendizagem social foram utilizadas para hipotetizar que o CCO de um empregado sofre influência do CCO de seu grupo, conforme Bommer, Miles e Grover (2003). Uma medição agregada de CCO foi construída baseada nas medições de MacKenzie, Podsakoff e Fetter (1993) sobre a tipologia de Organ(1988), e o estudo foi repetido usando a taxação de 38 CCO dos supervisores e dos subordinados. A amostra incluiu 566 empregados em uma indústria manufatureira e sugere a existência de tal relação. Zellars, Tepper e Duffy (2002) conduziram um estudo entre 373 militares da guarda aérea nacional e seus supervisores. Verificaram que a supervisão abusiva inibe o CCO, fazendo com que os subordinados evitem comportamentos extra-papel, em retaliação. Milene Siqueira realizou uma pesquisa pioneira no Brasil, em que entrevistou 520 trabalhadores em 16 organizações distintas, no estado de Minas Gerais. Seus resultados estão em Siqueira, Gomide Júnior e Oliveira (2001). Em seu estudo, confirma suas hipóteses de interdependência entre cognições, elos afetivos e gestos de cidadania organizacional. 2.3 A Performance de grupos e indivíduos como conseqüência do CCO . Robbins (2003), fornece uma importante contribuição ao tema do CCO, ao considerar os atuais locais de trabalho como um ambiente flexível, de empregos auto- ajustáveis e com trabalho de equipe. Em tais situações, nem sempre as descrições de cargo incluem todas as tarefas importantes a serem realizadas, fato que demanda dos indivíduos um comportamento próprio de bom cidadão. Robbins (2003) não faz citações, mas afirma que estudos revelam um aumento no desempenho de unidades formadas por funcionários que demonstram o CCO. MacKenzie, Podsakoff e Fetter (1993) conduziram uma pesquisa sobre o impacto do CCO no desempenho de pessoal de vendas, segundo avaliação dos respectivos gerentes. A amostra consistia de três grupos distintos: O primeiro era composto por 261 agentes de seguros, o segundo por 204 representantes de vendas da área petroquímica e o terceiro por 108 gerentes regionais de vendas de uma grande companhia farmacêutica. Os resultados demonstraram que: 39 • Os gerentes reconheceram diferentes dimensões de comportamentos de cidadania e estes comportamentos diferem da produtividade almejada pelos objetivos de venda; • A produtividade em vendas combinada ao CCO variam mais significativamente na avaliação dos gerentes, do que no desempenho propriamente dito; • Os comportamentos de cidadania, considerados em conjunto, apontam para uma maior variação nas avaliações dos gerentes de que na produtividade em vendas. Em um estudo posterior, Podsakoff e MacKenzie (1994) resolveram questionar por que o desempenho real dos agentes diferira daquele avaliado pelos gerentes. Tal estudo dividiu-se em duas fases. Inicialmente, três dimensões do CCO (comportamento de ajuda, virtude cívica e espírito esportivo) foram obtidas de agentes de seguro, que trabalhavam em tempo integral e a avaliação de desempenho que os gerentes fizeram com relação a estes agentes. Em seguida, foi avaliado o efeito dos CCO no desempenho de uma unidade de vendas. Na primeira etapa, avaliaram uma amostra de 987 agentes de uma grande companhia de seguros. Na segunda fase, os dados individuais foram agregados para uma medição da unidade como um todo. Os autores concluíram que os CCO contribuem para o funcionamento efetivo da organização, mas não significativamente para seu desempenho em vendas. Também observaram que os empregados que demonstram CCO, tendem a ser mais bem avaliados por seus gerentes. Walz e Nichoff (1996) pesquisaram o CCO e seus efeitos em umacadeia de 34 restaurantes fast-food de comida mexicana, com aproximadamente 1000 empregados, baseando sua amostra na opinião dos gerentes. Para avaliação do desempenho, foram 40 considerados aspectos financeiros, satisfação dos clientes e alcance de metas. Pode-se sugerir que o CCO contribui para um melhor desempenho das unidades. Chen et. al. (2002) considera a relação do CCO com o trabalho de equipe, mostrando evidências de que tal comportamento provoca maior comprometimento e melhor desempenho dos grupos de trabalho. Podsakoff e MacKenzie (1997) conduziram uma revisão de pesquisas pré- existentes e relacionaram uma série de possíveis razões pelas quais o CCO influencia o trabalho de grupo e/ou o desempenho da organização. O CCO pode incrementar a produtividade entre colegas de trabalho, como quando um empregado transmite sua experiência para um colega, fazendo com que a produtividade deste cresça mais rápido com o tempo. Este comportamento de ajuda pode auxiliar a divulgar as melhores práticas em uma unidade ou grupo de trabalho. A produtividade da gerência também pode ser incrementada através do CCO. Se os empregados se engajarem em virtudes cívicas, o gerente poderá receber valiosas sugestões e feedback de suas idéias para incrementar a efetividade da unidade. Outra vantagem é que empregados corteses que evitam criar problemas para seus colegas, permitem que o gerente economize tempo que seria desperdiçado em gestão de crises. CCO pode liberar recursos para fins mais producentes. Se os empregados ajudarem-se um ao outro em questões de trabalho, o gerente não precisará fazê-lo e terá mais tempo para questões mais importantes, como o planejamento. Empregados responsáveis exigem menor supervisão gerencial, permitindo que o gerente lhes delegue mais tarefas. À medida em que os funcionários mais experientes ajudem no treinamento e orientação dos novatos, a empresa estará economizando recursos nestas atividades. Se os empregados tiverem senso de coleguismo, a gerência economizará tempo evitando queixas triviais. 41 Pode-se reduzir a necessidade de gastar recursos, já escassos, para simplesmente manter funções de rotina. Um natural comportamento de ajuda provoca um aumento no espírito de equipe, moral e coesão, reduzindo a necessidade dos membros do grupo em simplesmente, manter a rotina. Empregados que demonstram cortesia com os outros, reduzem os conflitos, reduzindo assim o tempo gasto com os mesmos. O CCO atua na coordenação de atividades entre membros de um time e entre grupos de trabalho. Demonstrar civismo ao atender voluntariamente aos encontros do grupo, faz com que os esforços estejam coordenados entre os membros da equipe, aumentando sua efetividade e eficiência. Um bom relacionamento com os membros de outros grupos funcionais na empresa diminui a probabilidade de problemas, que demandariam tempo e esforço para resolver. Através do CCO a empresa aumenta sua capacidade em atrair e manter as melhores pessoas, tornando-se um local mais atrativo para trabalhar. Comportamentos de ajuda podem aumentar no time: o moral, a coesão e o senso de pertencimento ao grupo, fatores que podem melhorar a performance, além de atrair e reter melhores empregados. O desempenho da organização tende a tornar-se mais estável na presença de CCO. Através de atitudes, tais como cobrir a folga de outros que estejam ausentes, ou que estejam sobrecarregados de trabalho, os colegas ajudam a reduzir a instabilidade no desempenho da unidade de trabalho. Empregados conscientes mantém, possivelmente, um maior índice de produtividade, contribuindo para o desempenho da sua unidade. Em um ambiente de constantes mudanças, o CCO pode aumentar a capacidade da organização em adaptar-se. Empregados que estejam em contato direto com as informações de mercado sobre mudanças e que apresentem sugestões para que a organização responda prontamente, estarão auxiliando quanto à adaptação da empresa. Aqueles trabalhadores que estejam atentos e que participem de reuniões podem ajudar a disseminar a 42 informação, aumentando assim a capacidade de resposta da organização. Empregados que apresentam espírito esportivo através da vontade para assumir novas responsabilidades ou aprender novas habilidades, ajudam a organização a adaptar-se às mudanças do ambiente. Motowidlo e Borman (2000) chamam a atenção para o fato de que o CCO implica em satisfação e maior motivação dos trabalhadores. Se houverem avaliações quanto à performance contextual, é provável que existirá uma política de recompensas. Isto somado trará como efeito um trabalhador mais motivado e comprometido. Apesar do amplo interesse no CCO, pouca pesquisa empírica tem testado a hipótese de que tais comportamentos afetam o desempenho. No estudo de Podsakoff, Ahearne e MacKenzie (1997), pesquisa-se o efeito quantitativo e qualitativo no desempenho de 218 operadores de máquina em uma fábrica de papel. Resultados indicam que: comportamento de ajuda e espírito esportivo tiveram efeitos significantes na quantidade do desempenho; e que o comportamento de ajuda teve um efeito significativo na qualidade do desempenho. Porém, virtude cívica não impactou nos resultados. Abordando a questão da qualidade dos serviços, Chun Hui, Lam e Schaubroeck (2001) fizeram uma experiência de campo, onde os clientes eram mais satisfeitos com a qualidade de serviço da filial de um banco multinacional onde tinham sido treinados bons cidadãos organizacionais, como líderes de qualidade de serviço, e os empregados da filial exibiram a conformidade mais alta ao esquema de qualidade do banco. Em uma filial onde os líderes de qualidade foram selecionados fortuitamente para treinar, satisfação de cliente e conformidade melhoraram mais que na filial onde nenhum líder de qualidade de serviço foi treinado. Bolino, Turney e Bloodgood (2002) abordam o capital social das empresas como uma importante conseqüência do CCO. Entenda-se aqui o capital social como sendo o aspecto humano que agrega valor à organização. Dizem estes autores: 43 “(...) é razoável acreditar que o capital social pode resultar da vontade dos empregados em ultrapassar suas obrigações formais de trabalho para ajudarem-se um ao outro, subordinar seus interesses individuais pelo bem da organização e adotar um genuíno interesse nas atividades e missão geral da organização.”(2002, p.505). Concluem estes autores que quando uma empresa é composta de bons cidadãos organizacionais, é como se acumulasse níveis mais altos de capital social. Um estudo realizado por Koys (2001) envolve a seguinte questão: se atitudes e comportamentos positivos
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