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Direito objetivo e direito subjetivo APRESENTAÇÃO O Direito pode ser dividido entre Direito Subjetivo e Objetivo, sendo esta distinção basicamente fruto das revoluções burguesas que substituem a figura de um Direito metafísico teológico por um ordenamento jurídico representado pelo Estado (Direito Objetivo), capaz de tutelar os direitos naturais inerentes aos sujeitos humanos (Direitos Subjetivos). Nesta Unidade de Aprendizagem, veremos as principais discussões da doutrina sobre a definição de Direitos Subjetivos e Objetivos, sua natureza jurídica e finalmente a classificação dos Direitos Subjetivos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a distinção entre Direito Subjetivo e Direito Objetivo.• Reconhecer a natureza jurídica dos Direitos Subjetivos.• Aplicar a classificação dos Direitos Subjetivos.• INFOGRÁFICO Neste Infográfico, você verá de forma simplificada a definição entre o Direito Subjetivo e o Direito Objetivo e as figuras que participam destas relações. CONTEÚDO DO LIVRO O Direito, a partir da visão histórica e positivista, pode ser classificado entre Objetivo e Subjetivo. Esta distinção é essencial para o desenvolvimento de argumentos consistentes e está diretamente ligada com as distinções entre Direitos Naturais e Positivos, Direito Privado e Direito Público. Neste Capítulo Direito Objetivo e Direito Subjetivo, da obra Introdução ao Direito, você verá a conceituação de ambos, além de reconhecer as diversas teorias sobre a natureza jurídica dos Direitos Subjetivos e suas classificações. Boa leitura. INTRODUÇÃO AO ESTADO DE DIREITO Magnum Eltz Direito objetivo e Direito subjetivo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Compreender a distinção entre Direito objetivo e Direito subjetivo. � Analisar a natureza jurídica dos direitos subjetivos. � Aplicar a classificação dos direitos subjetivos. Introdução O Direito pode ser dividido entre Direito subjetivo e Direito objetivo, sendo essa distinção basicamente fruto das revoluções burguesas que substi- tuem a figura de um direito metafísico teológico por um ordenamento jurídico representado pelo Estado (Direito objetivo) capaz de tutelar os direitos naturais inerentes à seus sujeitos humanos (Direitos subjetivos). Neste capítulo, você vai ler a respeito das principais discussões sobre a definição de direitos objetivos e subjetivos, sobre a sua natureza jurídica e, finalmente, sobre a classificação dos direitos subjetivos. Distinção entre Direito objetivo e Direito subjetivo O Direito, a partir da visão histórica e positivista, pode ser classificado como Direito objetivo ou subjetivo. Essa distinção é essencial para o desenvolvimento de argumentos consistentes e está diretamente relacionada com as distinções entre direitos naturais e positivos, Direito Privado e Direito Público. Segundo Ruolf von (apud JHERING, 1943, p. 150), essa divisão não pode ser atribuída ao Direito romano puro, eis que: A maneira de ver dos romanos (e, ao mesmo tempo, a síntese da explicação que se segue), pode exprimir-se, com exatidão, dizendo que consideravam a liberdade, não como uma coisa subjetiva, um bem, uma qualidade da pessoa, mas como uma propriedade objetiva indestrutível, independente da vontade pessoal, pertencente às instituições jurídicas. Dessa forma, não se poderia falar em uma dicotomia entre Direito objetivo e objetivo a essa época, pois eram indissolúveis como parte do ordenamento jurídico. No entanto, a noção romana que legou a construção de um Direito subjetivo em contraste à organização estatal é evidenciada por Jhering (1943, p. 87): Nenhum direito existe que não tenha procedido do esforço individual e cujas origens não se percam nas profundezas da força física. Para muitos povos, esse período de formação violenta do direito desapareceu completamente da memória dos que fundaram o mundo do direito com a rudeza de seus braços, para não falar mais que dos deuses, ou dos servidores dos deuses que deram aos homens o direito como presente, ou lh’o impuseram como regra. O suor e o sangue dos homens, que cimentaram a origem do direito, ficam ocultos pelo nimbo divino que este circunda. [...] Assim não acontece com o Direito Romano, no qual o tempo não pôde fazer desaparecer o vestígio de suor e de sangue com que a fadiga dos homens o maculou. Para a sua história, o princípio da força individual, como fonte do direito, é uma das verdades primordiais. [...] A força individual é a origem do direito, dissemos, e estas palavras são qua- se ininteligíveis para nós. Habituados a confiar tudo ao Estado, a definir o direito como se fora a vontade do Estado, e descurar a sua realização, apenas conhecemos a força individual. Onde quer que se mostre sem a autorização do Estado, perseguimo-la e castigamo-la como um atentado a ordem jurídica. Mas, assim como aos nossos olhos a força e o direito se diferenciam, assim, também, a intuição atual que temos dessas ideias difere da que possuíam os antigos romanos. A criação jusnaturalista de um direito essencial à liberdade, inerente a todos os homens, faz com que tornemos separados os direitos de criação e autonomia da vontade dos cidadãos apartados da organização estatal que criamos para defendê-los. E é nessa importante cisão com o Direito romano clássico que o Direito moderno, no seu positivismo, passa a criar uma dicotomia entre os direitos individuais, subjetivos, e os direitos que são impostos aos cidadãos pelo Estado como um direito objetivo. Direito objetivo e Direito subjetivo104 Essa evolução histórica é evidenciada por Jhering (1943, p. 134, 140): Nossa concepção atual da relação do Estado e da autoridade com o indivíduo é produto da relação do Estado e da autoridade com o indivíduo, é produto de um grande progresso, e não estamos, de modo algum, autorizados a considerar, nas épocas antigas, a superioridade da autoridade sobre o cidadão, como uma noção que se compreende por si mesma, senão que, ao contrário, temos o dever de examinar quando e como esta ideia pode nascer na antiga comunidade e Roma. [...] A antiga associação política, em nosso pensar, amalgama esses dois princí- pios — de coordenação e de subordinação. Assim, o Estado antigo tem suas raízes na família e, elevando seu tronco, esparge as ramagens na organização militar; ou em outros termos, as gentes e o respectivo lugar que ocupavam os indivíduos no seio delas, se fundam na ideia de família; as cúrias, as tribos, com seus chefes e o rei, no interesse militar. A partir do estudo histórico de Jhering, houve uma verdadeira correspon- dência entre a composição de vontades individuais para a criação da figura do Estado como uma extensão da família civil nos tempos romanos e a retomada da valorização da vontade no período moderno. Trata-se de uma evolução natural de uma construção teórica de um estado superior ao indivíduo, neces- sária para a perpetuação desse conceito, importante para garantir uma unidade militar, territorial e cultural aos povos e, mais tarde, uma desconstrução em que se evidencia que o poder estatal emana da própria vontade do povo, que se sujeita à sua criação para defender este dele mesmo ou de outros Estados. A diferença entre o Direito objetivo (organização estatal e o seu orde- namento jurídico) e o Direito subjetivo (direitos do cidadão) não deve ser confundido com o aspecto subjetivo da interpretação dos fatos reais em relação ao Direito objetivo estatal, como exemplifica Kelsen (1999, p. 3): Na verdade, o indivíduo que, atuando racionalmente, põe o ato, liga a este um determinado sentido que, se exprime de qualquer modo e é entendido pelos outros. Este sentido subjetivo, porém, pode coincidir com o significado obje- tivo que o ato tem do ponto de vista do Direito, mas não tem necessariamente de ser assim. Se alguém dispõe por escrito do seu patrimônio para depoisda morte, o sentido subjetivo deste ato é o de um testamento. Objetivamente, porém, do ponto de vista do Direito, não o é, por deficiência de forma. Se uma organização secreta, com o intuito de libertar a pátria de indivíduos nocivos, condena à morte um deles, considerado um traidor, e manda executar por um filiado aquilo que subjetivamente considera e designa como uma sentença de condenação à morte, objetivamente, em face do Direito, não estamos perante a execução de uma sentença, mas perante um homicídio, se bem que o fato exterior não se distinga em nada da execução de uma sentença de morte. 105Direito objetivo e Direito subjetivo Dessa forma, o entendimento subjetivo da organização, ao retirar o Direito subjetivo à vida do indivíduo, contrapõe-se ao sentido objetivo da norma penal, contemplado pelo Direito objetivo (ordenamento jurídico). Nesse sentido, há uma clara distinção entre o sentido subjetivo (interpretação dos fatos) da norma e o sentido objetivo (conteúdo da norma) e o Direito subjetivo (direitos do indivíduo) e o Direito objetivo (conjunto de regras que compõe a organização estatal). Ao definir as diferenças entre o Direito objetivo e Direito subjetivo, Kelsen (1999, p. 140) sintetiza esses conceitos no seguinte ensaio: Usualmente contrapõe-se ao dever jurídico o direito como direito subjetivo, colocando este em primeiro lugar. Fala-se no domínio do Direito, de direito e dever, não dever e direito (no sentido subjetivo) como no domínio da Moral onde se acentua mais aquele do que este. Na descrição do Direito, o direito (subjetivo) avulta tanto no primeiro plano, que o dever quase desaparece por detrás dele e aquele — na linguagem jurídica alemã e francesa — é mesmo designado pela própria palavra com que se designa no sistema das normas que forma a ordem jurídica: pela palavra Recht (direito), droit. Para se distinguir deste, tem o direito (Brerchtigung), como direito “subjetivo” (ou seja, pois, o direito de um determinado sujeito), de ser distinguido da ordem jurídica, como Direito “objetivo”. Na linguagem jurídica inglesa, dispõe-se da palavra right quando se quer designar o direito (subjetivo), o direito de um determi- nado sujeito, para distinguir da ordem jurídica, do Direito objetivo, da law. Em relação aos direitos subjetivos, alerta Jhering que não se encontram, como ilustrado pela ponderação de Kelsen (1999, p. 140) sobre a interpretação subjetiva, livres do controle estatal: O aniquilamento da liberdade por si mesma — Que a própria ideia de liber- dade parece tornar possível é a mais perfeita pedra de toque para controlar a concepção dessa ideia. O direito de ser livre, como tantas vezes temos repetido, implica necessaria- mente, a possibilidade de renunciá-lo, no todo ou em parte. Se é um direito, por que não podemos renunciá-lo? Se a vontade é livre, porque o seu exercício não poderá consistir em limitar-se em ligar-se, em encarceirar-se? A liberdade traz em si o gérmen de sua negação; da boa semente da liberdade pode brotar o gérmen da servidão. [...] Direito objetivo e Direito subjetivo106 Disto resulta, desde logo, para o indivíduo, que o seu direito à liberdade consti- tui, ao mesmo tempo, um dever; e resulta, depois, para o Estado, que não deve reconhecer e realizar senão a verdadeira liberdade, que se funda na moral. A missão do Estado, ante a liberdade individual, não é puramente negativa, nem de um espectador indiferente; ao contrário, é de natureza essencialmente positiva, para a realização da liberdade jurídica, assegurá-la contra o perigo de uma opressão exterior, ou uma supressão por parte do próprio indivíduo. Dessa forma, a liberdade, ao mesmo tempo em que é um direito subjetivo que requer a abstenção do Estado em restringi-la, é também um direito objetivo no sentido de que o Estado deve protegê-lo mesmo contra o seu detentor — eis a importância da criação abstrata do Estado como um defensor dos direitos subjetivos contra terceiros e contra o próprio detentor do direito subjetivo. Nesse sentido, sintetiza a discussão (NADER, 2001, p. 298), onde: O direito subjetivo apresenta-se sempre em relação jurídica. Apesar de re- lacionar-se com o Direito objetivo, ele se opõe correlativamente é ao dever jurídico. Um não existe sem o outro. O sujeito ativo da relação é o portador do direito subjetivo, enquanto o sujeito passivo é o titular de dever jurídico. Este possui o encargo de garantir alguma coisa àquele. O direito subjetivo apresenta duas esferas: a de licitude e a da pretensão. A primeira corresponde ao âmbito da liberdade da pessoa, agere licere, pelo qual movimentar-se e atuar na vida social, dentro dos limites impostos a todos pelo ordenamento jurídico. É ele quem garante a conduta livre dos indivíduos, por que o Direito objetivo impõe a toda a coletividade o dever jurídico de respeitar essa faixa de liberdade, bem como a integridade física e moral de cada um. Em resumo, pode-se dizer que os direitos subjetivos emanam dos Direitos Naturais de liberdade e igualdade trabalhados pela filosofia iluminista e positivada nas constituições modernas, contrapondo-se à organização estatal que se reconfigurou da sua noção romana de superioridade aos cidadãos para se tornar uma consequência da união de vontades dos cidadãos por meio da representação democrática moderna. Essa dicotomia, no entanto, não representa uma dissociação entre os interesses estatais objetivos e os direitos subjetivos dos seus sujeitos, uma vez que a figura do primeiro existe para a defesa dos últimos e, portanto, é essencial para a garantia dos direitos essenciais para a manifestação da vontade dos cidadãos nas suas relações protegidas pelo Estado Democrático de Direito. 107Direito objetivo e Direito subjetivo Principais teorias acerca da natureza do Direito subjetivo Como visto na seção anterior, o Direito subjetivo é um direito que protege o cidadão contra a atuação de um ou mais indivíduos, ou mesmo contra si próprio, a fim de manter os seus direitos essenciais, provenientes da teoria do Direito Natural, contrapondo-se ao Direito objetivo, compreendido como a ordem normativa estatal sobre a qual os seus sujeitos não podem se opor, exceto no uso dos seus direitos políticos. A natureza jurídica desses direitos subjetivos é o palco de grande discussão na doutrina juspositivista, esta compilada por Nader (2001) na obra Introdução ao estudo do Direito, que utilizaremos como base para explicar as principais teorias expostas pelos escritores clássicos. A primeira teoria apontada por Nader (2001, p. 301) é: A teoria da Vontade — Para Bernhard Windscheid (1817–1892), jurisconsulto alemão, o direito subjetivo “é o poder ou senhoria da vontade reconhecido pela ordem jurídica”. O maior crítico dessa teoria foi Hans Kelsen, que através de vários exemplos refutou, demonstrando que a existência do direito subjetivo nem sempre depende da vontade de seu titular. Como apontado por Jhering em nosso último ponto, a vontade privada é a grande fonte da construção do conceito de Estado Romano e a força mo- triz por trás da reconstrução jurídica jusnaturalista e a sua visão do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, a construção de Windscheid segue um raciocínio jusnaturalista histórico em que a vontade seria o principal fio condutor dos direitos naturais. Porém, conforme visto também em nosso último ponto, a vontade não é um direito subjetivo absoluto, pois, na lição de Kelsen, há limites para a disposição sobre os direitos subjetivos impostas pelo Direito objetivo compreendido como o ordenamento jurídico. A próxima teoria apontada por Nader (2001, p. 301) é a: Teoria do Interesse — Rufdolf von Ihering (1818–1892), jurisconsulto alemão, centralizou a ideia do direito subjetivo no elemento interesse, afirmando que o direito subjetivo seria “o interesse juridicamente protegido”. As críticas feitas à teoria da vontade são repetidas aqui, com pequena variação. Os incapazes, não possuindo compreensãodas coisas, não podem chegar a ter interesse nem por isso fiam impedidos de gozar de certos direitos subjetivos. [...] Muitos criticam ainda essa teoria entendendo que seu autor confundiu a finalidade do direito objetivo com a sua natureza. Direito objetivo e Direito subjetivo108 Não causa estranheza que o próprio Jhering viesse a conceituar a natureza jurídica dos direitos subjetivos como um elemento volitivo, uma vez já explicada a sua posição sobre o próprio ordenamento jurídico. No entanto, a crítica de Kelsen se repete quanto à vontade como um composto único ou uma parcela do elemento privado. O autor segue a sua lista com a Teoria Eclética de Georg Jellinek (1851–1911) (apud NADER, 2001, p. 301), onde: Georg Jellinek (1851–1911), jurisconsulto e publicitário alemão, considerou insuficientes as teorias anteriores, julgando-as incompletas. O que direito subjetivo não seria apenas vontade, nem exclusivamente interesse, mas a reunião de ambos. O sujeito subjetivo seria “o bem ou interesse protegido pelo reconhecimento do poder da vontade”. As críticas feitas isoladamente à teoria da vontade a à do interesse foram acumuladas no presente. Como bem ressalta Nader, em uma teoria que tenta conciliar duas faces de um mesmo conceito baseado na vontade, as críticas a uma parte ou outra desse conceito apenas se acumulam ante a tentativa de conceituação de Jellinek. Segue Nader com a lista histórica sobre os ensaios sobre a natureza jurídica com Duguit: Seguindo a linha de pensamento de Augusto Comte, que chegou a afirmar que “dia checará em que nosso único direito será o direito de cumprir o nosso dever... Em que um Direito Positivo não admitirá títulos celestes e assim a ideia do direito subjetivo desaparecerá...”, Léon Duguit (1859–1928), jurista e filósofo francês, no seu propósito de demolir antigos conceitos consagrados pela tradição, negou a ideia do direito subjetivo, substituindo-o pelo conceito de função social. Para Duguit, o ordenamento jurídico se fundamenta não na proteção dos direitos individuais, mas na necessidade de manter a estrutura social, cabendo a cada indivíduo cumprir uma função social (NADER, 2001, p. 302). Duguit, em uma tentativa de avançar sobre a teoria da vontade, apresenta um retorno ao conceito romanístico da supremacia do coletivo (Estado) sobre o indivíduo, a partir da construção da função social, negando a possibilidade de liberdade subjetiva. Essa teoria encontraria eco nas críticas de Kelsen à subjetividade: Para o renomado jurista e filósofo austríaco, a função básica das normas jurídicas é a de impor o dever e, secundariamente, o poder se agir. O direito subjetivo não se distingue em essência, do Direito objetivo. Afirmou Kelsen que “o direito subjetivo não é algo distinto do Direito objetivo, é o Direito 109Direito objetivo e Direito subjetivo objetivo mesmo, de vez que quando se dirige, com a consequência jurídica por ele estabelecida, contra um sujeito concreto, impõe um dever, e quando se co- loca à disposição do mesmo, concede uma faculdade” (NADER, 2001, p. 302). Para Kelsen, a divisão entre Direito subjetivo e objetivo se encontra apenas no “alvo” do dever imposto a uma pessoa ou em caráter geral, sendo a natureza jurídica do Direito subjetivo idêntica à do Direito objetivo como parte de um ordenamento jurídico a ser respeitado. As diversas teorias da natureza jurídica do Direito subjetivo podem ser compiladas, mas a partir da noção de que o Direito objetivo, em uma digressão histórica, é atrelado a uma vontade coletiva composta pela formação legal democrática — de modo que, em que pese o Direito subjetivo seja um reflexo do Direito objetivo enquanto um dever jurídico, o mesmo pode ser dito em relação ao Direito objetivo como um reflexo de um feixe de direitos subjeti- vos volitivos conduzidos por um devido processo legislativo que legitima a organização estatal e o ordenamento jurídico. Classificação dos direitos subjetivos Seguindo o trabalho de Paulo Nader, traremos a sua compilação sobre as classi- ficações dos direitos subjetivos, trabalhando as suas semelhanças e diferenças. A primeira classificação trabalhada pelo autor diz respeito aos direitos subjetivos públicos: [...] a distinção entre o direito subjetivo público e privado toma por base a pessoa do sujeito passivo da relação jurídica. Quando obrigado por pessoa de Direito Público, o direito subjetivo será público e, inversamente, quando na relação jurídica o obrigado for pessoa de Direito Privado, o direito subjetivo será privado. Esta distinção não é antiga, de vez que até há pouco tempo, relativamente não se admitia a existência de direito subjetivo público, em face do Direito, pois ele não estaria sujeito às suas normas. O direito subje- tivo público divide-se em direito de liberdade, de ação, de petição e direitos políticos (NADER, 2001, p. 303). Direito objetivo e Direito subjetivo110 Dessa forma, se o Direito subjetivo possui características que são conexas com um dever de abstenção de uma ou mais pessoas (física ou jurídica), estamos lidando com a categoria de direitos subjetivos privados; no entanto, se a proteção dos direitos subjetivos em questão requere uma abstenção do Estado, trata-se da categoria de direito subjetivo público. Como exemplo de Direito subjetivo privado, podemos destacar o direito de propriedade, em que a propriedade de uma pessoa sobre determinado objeto requer a abstenção de outras pessoas tomarem essa coisa para si. No caso de tomada de coisa alheia em proveito próprio, estamos diante do crime de furto ou roubo, a depender das circunstancias concretas. O mesmo exemplo pode ser utilizado para descrever um Direito subjetivo público, pois mesmo o Estado deve abster-se de utilizar a propriedade de outra pessoa, sendo a prerrogativa estatal de expropriação uma exceção à regra que gera o dever de compensação pela ruptura para com o seu dever de abstenção em relação ao direito subjetivo lesado. A segunda categoria elencada por Nader (2001, p. 303) diz respeito à divisão dos direitos subjetivos em categorias patrimoniais ou não patrimoniais: Direitos subjetivos privados — sob o aspecto econômico, os direitos subjeti- vos privados dividem-se em patrimoniais e não-patrimoniais. Os primeiros possuem valor de ordem material, podendo ser apreciados pecuniariamente, o que não sucede com os não-patrimonais, de natureza apenas moral. Dessa forma, se estamos tratando de um direito de propriedade sobre um veículo, o objeto veículo claramente possui valor econômico determinável, de modo que se trata de um direito subjetivo patrimonial; no entanto, se estamos diante da saúde psicológica de uma pessoa ou do seu sofrimento físico ou psíquico, estamos diante de categorias de difícil mensuração financeira, de modo que se trata de direitos subjetivos não patrimoniais, ou morais, cuja lesão enseja na norma de responsabilização sobre o bem lesado. Outra categoria trazida pelo autor diz respeito aos direitos subjetivos absolutos ou relativos: [...] nos direitos absolutos a coletividade figura como sujeito passivo da relação. São direitos que podem ser exigidos contra todos os membros da coletividade, por isso são chamados erga omnes. O direito de propriedade é um exemplo. Os relativos podem ser opostos apenas em relação a determinada pessoa ou pessoas, que participam da relação jurídica. Os direitos de credito, locação, familiais são alguns exemplos (NADER, 2001, p. 304). 111Direito objetivo e Direito subjetivo Nos direitos erga omnes, portanto, toda a coletividade deve se abster de realizar condutas que lesem o direito subjetivo em questão, como é o caso da vida, liberdade, igualdade, integridade física, etc. Já quanto aos direitos inter partes, como é o caso dos direitos negociais, apenas aqueles que concordaram em estabelecer os seus direitos e deveres recíprocos são obrigados pelo ato jurídico ao qual se vincularam. Por exemplo, apenas a empresa que realizou determinadaoferta é vinculada às suas condições, não podendo o consumidor exigir as mesmas condições de outro fornecedor do mesmo produto, visto que somente o Direito objetivo pode determinar regras de ordem geral aos privados — com exceção dos direitos naturais, essenciais à vida e ao cumprimento das funções dos seres humanos, conforme o jusnaturalismo recebido pelos direitos fundamentais constitucionais. A próxima classificação diz respeito aos direitos transmissíveis e não transmissíveis: Direitos transmissíveis e não-transmissíveis — como os nomes indicam, os primeiros são aqueles direitos subjetivo que podem passar de um titular para outro, o que não ocorre com os não-transmissíveis, seja por absoluta impossibilidade de fato ou por impossibilidade legal (NADER, 2001, p. 304). Como exemplo de direitos transmissíveis, temos os direitos de propriedade sobre coisas móveis, por exemplo, que podem ser transferidos por meio de compra e venda, em que a transmissão se dá mediante pagamento de dinheiro. Já como exemplo de direito não transmissível, pode ser exemplificado o direito à vida, em que é impossível, por limitações do mundo dos fatos (im- possibilidade de fato), a transferência da vida e uma pessoa a outra — mesmo se possível fosse, o ordenamento jurídico o vedaria por se tratar de um direito fundamental e natural do ser humano (impossibilidade legal). A penúltima categoria compilada pelo autor é a dos direitos principais e acessórios: Direitos principais e acessórios – os primeiros são independentes, autônomos, enquanto que os direitos acessórios estão na dependência do principal, não possuindo existência autônoma. No contrato de mútuo, o direito ao capital é o principal e o direito aos juros é acessório (NADER, 2001, p. 305). Direito objetivo e Direito subjetivo112 Outro exemplo de direitos principais e acessórios pode ser encontrado nas relações contratuais, em que o objeto de determinado negócio jurídico pode depender do cumprimento de determinadas obrigações acessórias, como a compra e venda de artefato na internet em relação ao dever acessório de trans- porte da coisa entre o comprador e o vendedor. Em que pese o cumprimento do dever principal de transmitir a coisa dependa do segundo, a modalidade de transporte, por exemplo, é acessória ao objeto principal, que é a tradição da propriedade. Finalmente, Nader traz como última categoria de classificação dos direitos subjetivos aqueles que são renunciáveis e aqueles que não são renunciáveis: Direitos renunciáveis e não-renunciáveis — os direitos renunciáveis são aqueles que o sujeito ativo, por ato de vontade, pode deixar a condição de titular do direito sem a intenção de transferi-lo a outrem, enquanto que nos irrenunciáveis tal fato é impraticável, como se dá com os direitos persona- líssimos (NADER, 2001, p. 305). Essa categoria, como vimos, é o pivô das principais críticas às teorias da natureza jurídica dos direitos subjetivos da vontade e da intenção, uma vez que há direitos sobre os quais o seu detentor não pode renunciar frente ao ordenamento jurídico, não dependendo, portanto, da sua vontade a proteção desses direitos — um exemplo é o direito subjetivo à liberdade. Em que pese os negócios jurídicos serem a expressão máxima da vontade dos indivíduos, é vedada a transação que tenha por objeto o trabalho escravo, frente ao direito personalíssimo da liberdade da pessoa humana; em contrapartida, o direito renunciável é aquele em que o ordenamento jurídico dispõe maior grau de liberdade para o indivíduo dispor dos seus direitos e transferi-los conforme a sua vontade, desde que respeitados os limites de validade que o Direito objetivo impõe; como é o caso da compra e venda, dos testamentos, legados, trabalho, etc. Assim, conforme a compilação trazida por Nader na obra Introdução ao estudo do Direito, os direitos subjetivos podem ser classificados quanto à sua disponibilidade, relação de necessariedade ou subsidiariedade, transmissibili- dade, grau de abstenção entre coletividades definidas ou indefinidas, e final- mente em relação à natureza jurídica de quem se abstém (pública ou privada). 113Direito objetivo e Direito subjetivo JHERING, R. V. O espírito do Direito romano. São Paulo: Alba. 1943. v. 1–2. KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. NADER, P. Introdução ao estudo do Direito: de acordo com a constituição de 1988. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. Leituras recomendadas BEVILACQUA, C. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Rio, 1975. GOMES, O. Introdução ao Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016. MIRANDA, P. de. Tratado das ações. Campinas: Bookseller, 2016. REALE, M. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2003. SAVIGNY, F. C. von. Sistema do Direito romano atual. Ijuí: Ijuí, 2004. Direito objetivo e Direito subjetivo114 DICA DO PROFESSOR Nesta Dica do Professor, estudaremos a natureza jurídica dos Direitos Subjetivos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA Na jurisprudência a seguir você verá como o Estado tutela os Direitos Subjetivos indisponíveis: Nesse caso, o Ministério Público age como representante das partes que não possuem condições de buscar a satisfação de seus próprios direitos (Subjetivos) a partir de seu dever enquanto Estado. Nesse caso o próprio Estado (Direito Objetivo, enquanto organização Estatal) foi demandado por negar tratamento ao indivíduo e, portanto, cerceando seu direito (Subjetivo) à saúde, pelo qual o Ministério Público agiu corretamente na busca pela tutela desse direito, deferido pelo judiciário ao negar o seguimento de apelação interposta pela administração pública representando o Sistema Único de Saúde (Direito Objetivo, enquanto ordenamento jurídico). Pode-se entender desse caso que, em que pese o ordenamento jurídico constitua o Direito Objetivo, e, portanto defensor dos direitos naturais dos seus súditos, os Direitos Subjetivos muitas vezes devem ser tutelados em face deste quando não cumpre com seu papel; muitas vezes ao ponderar entre o Direito Subjetivo de um sujeito e de outros sujeitos sob sua tutela. Cabe ao judiciário encontrar o equilíbrio entre o papel do Direito Objetivo e as postulações Subjetivas que buscam tutela a partir do sistema processual. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Direito Objetivo e Subjetivo, Direito Público e Privado. Normas jurídicas - sanção Neste vídeo você poderá revisar as diferenças entre os conceitos que caracterizam os diversos tipos de Direito. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Guilherme de Ockham e o Direito Subjetivo O artigo apresenta um aspecto do pensamento político e jurídico do filósofo Guilherme de Ockham como desdobramento de um processo de determinação conceitual. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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