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Direito, interpretação e hermenêutica
APRESENTAÇÃO
O Direito é uma ciência que estuda as normas como construção social e a aplicação destas no 
mundo dos fatos. No entanto, para que as normas sejam aplicadas no mundo real, o sujeito da 
norma ou o julgador, em um caso concreto, devem interpretá-la para adequar a situação de fato 
ao suporte fático normativo –ou o suporte fático normativo às especificidades do caso concreto. 
A este processo de concretização das normas, dá-se o nome de Interpretação Normativa. Esta 
interpretação é realizada a partir das ferramentas elaboradas pelo ramo teórico da Hermenêutica 
Jurídica.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá as diferenças entre Interpretação e Hermenêutica, as 
diversas ferramentas de interpretação normativa existentes e seu processo evolutivo, bem como 
as suas relações com a Hermenêutica Filosófica.
Bons estudos.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Compreender as diferenças entre Interpretação e Hermenêutica.•
Analisar os métodos de Interpretação Normativa.•
Identificar a importância da Hermenêutica Filosófica na Interpretação Normativa.•
INFOGRÁFICO
Nesse infográfico, você verá as relações entre a Filosofia, a Hermenêutica Filosófica, a 
Hermenêutica Jurídica e a Aplicação da Norma.
 
CONTEÚDO DO LIVRO
Os conceitos de Hermenêutica e de Interpretação são utilizados de forma corrente como 
sinônimos, porém, na ciência jurídica, tratam-se de conceitos distintos, tendo esta distinção 
implicações práticas para o estudo de um e de outro.
No capítulo Direito, interepretação e hermenêutica, da obra Introdução ao estudo do Direito, 
você verá as diferenças entre Hermenêutica e Interpretação Normativa, bem como os diferentes 
métodos de interpretação e suas relações com a Hermenêutica Filosófica.
INTRODUÇÃO 
AO ESTUDO 
DO DIREITO
Magnum Eltz
Revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna 
Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional 
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação 
e pós-graduação em Direito
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147
G429i Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira.
Introdução ao estudo do direito [ recurso eletrônico ] / 
Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli , Magnum Koury de 
Figueiredo Eltz ; revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna. 
– Porto Alegre: SAGAH, 2017.
ISBN 978-85-9502-219-5
1. Direito – História. I. Eltz, Magnum Koury de 
Figueiredo. II.Título.
CDU 340.111
Hermenêutica e 
interpretação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Distinguir interpretação de hermenêutica.
 � Analisar os métodos de interpretação normativa.
 � Identificar a importância da hermenêutica filosófica à interpretação 
normativa.
Introdução
O Direito é uma ciência que estuda as normas como construção social 
e a sua aplicação no mundo dos fatos. No entanto, para que as normas 
sejam aplicadas no mundo real, o sujeito da norma ou o julgador, em um 
caso concreto, devem interpretá-la para adequar a situação de fato ao 
suporte fático normativo ou o suporte fático normativo às especificidades 
do caso concreto. A esse processo de concretização das normas dá-se 
o nome de interpretação normativa, realizada a partir das ferramentas 
elaboradas pelo ramo teórico da hermenêutica jurídica.
Neste capítulo, você vai ler a respeito das distinções entre interpreta-
ção e hermenêutica, das diversas ferramentas de interpretação normativa 
existentes e do seu processo evolutivo, bem como das suas relações com 
a hermenêutica filosófica.
Hermenêutica e interpretação no Direito
Os conceitos de hermenêutica e interpretação são utilizados de forma corrente 
como sinônimos. No entanto, na ciência jurídica, trata-se de conceitos distintos, 
e essa distinção tem implicações práticas para o estudo de um e de outro.
Conforme ensina (NADER, 2001, p. 253):
A palavra hermenêutica provém do grego Hermeneúein, interpretar, e deriva 
de Hermes, deus da mitologia grega, filho de Zeus e de Maia, considerado 
o intérprete da vontade divina. Habitando a Terra, era um deus próximo à 
Humanidade, o melhor amigo dos homens.
Todo conhecimento humano, de acordo com F. Gény, desdobra-se em dois 
aspectos; os princípios e as aplicações. Os princípios provêm da ciência e 
as aplicações, da arte. No mundo do Direito, hermenêutica e interpretação 
constituem um dos muitos exemplos de relacionamento entre princípios e 
aplicações. Enquanto que a hermenêutica é teórica e vista a estabelecer prin-
cípios, critérios, métodos, orientação geral, a interpretação é de cunho prático, 
aplicando os ensinamentos da hermenêutica. Não se confundem, pois, os 
dois conceitos apesar de ser muito frequente o emprego indiscriminado de 
um e de outro. A interpretação aproveita os subsídios da hermenêutica. Esta, 
conforme salienta Maximiliano, descobre e fixa os princípios que regem a 
interpretação. A hermenêutica estuda e sistematiza os critérios aplicáveis na 
interpretação das regras jurídicas.
Dessa forma, a hermenêutica é o ramo científico por trás da sistematiza-
ção do estudo como uma organização dos pensamentos filosóficos que são 
anteriores à prática e a interpretação é o conceito ligado à hermenêutica. 
Ambos os conceitos compõem a práxis jurídica.
Conforme ensina (KELSEN, 1999, p. 897-388), o âmbito da aplicação 
ocorre:
Quando o direito é aplicado por um órgão jurídico, este necessita de ficar 
o sentido das normas que vai aplicar, tem de interpretar estas normas. A 
interpretação e, portanto, uma operação mental que acompanha o processo 
da aplicação do Direito no seu progredir de um escalão superior para um 
escalão inferior. Na hipótese em que geralmente se pensa quando se fala de 
interpretação, na hipótese da interpretação da lei, deve responder-se à questão 
de saber qual o conteúdo que se há de dar à norma individual de uma sentença 
judicial ou de uma resolução administrativa, norma essa a deduzir da norma 
geral da lei na sua aplicação a um caso concreto.
Mas há também uma interpretação da Constituição, na medida em que de 
igual modo se trate de aplicar esta – no processo legislativo, ao editar de-
Hermenêutica e interpretação130
cretos ou outros atos constitucionalmente imediatos – a um escalão interior; 
e uma interpretação dos tratados internacionais ou das normas do Direito 
internacional geral consuetudinário, quando estas e aquelas têm que ser 
aplicadas, num caso concreto, por um governo ou por um tribunal ou órgão 
administrativo, internacional ou nacional. E há igualmente uma interpretação 
das normas individuais, de sentenças judiciais, de ordens administrativas, de 
negócios jurídicos, etc. em suma, de todas as normas jurídicas, na medida 
que hajam de ser aplicadas.
[...]
Mas há também os indivíduos que têm — não de aplicar, mas — de observar 
o Direito, observando ou praticando a conduta que evita a sanção, precisam 
de compreender e, portanto, de determinar o sentido das normas jurídicas 
que por ele hão de ser observadas.
Assim, enquanto a hermenêutica estabelece os parâmetros de estudo das 
normas, o seu método de análise e uma organização dos pensamentos filo-
sóficos, a aplicação ocorre quando se descendem as normas do seu âmbito 
ideal para um nível menos elevado, em que se encontra o caso concreto, ou 
seja, os fatos ocorridos no mundo real.
Como ensina Nader (2001, p. 254), “A efetividade do Direito depende de 
um lado, do técnico que formula as leis, decretos e códigos e, de outro lado, 
da qualidade da interpretação realizada pelo aplicador das normas”. Ou seja, 
ao passo em que o legislador formula o texto das normas legais, o juiz, o 
aplicador do direito (seja advogado, promotor, etc.) ou mesmo o indivíduo deve 
interpretar esse texto normativo, e a qualidade da interpretação é medida pela 
técnica interpretativa aplicada, desenvolvida pela hermenêutica. 
Como resume o autor:
Comotodo objeto cultural, o Direito encerra significados. Interpretar o Di-
reito representa revelar o seu sentido e alcance. Temos assim: a) revelar o seu 
sentido: a lei que concede férias anuais ao trabalhador tem o significado, a 
finalidade de proteger e de beneficiar a sua saúde física e mental; b) fixar o 
alcance das normas jurídicas: ignifica delimitar o seu campo de incidência. 
Dentro do exemplo citado, temos que apenas os trabalhadores assalariados, isto 
é, que participam em uma relação de emprego, fazem jus às normas trabalhadas. 
De igual modo, as normas contidas no Estatuto dos Funcionários Públicos 
da União têm o seu campo de incidência limitado (NADER, 2001, p. 225).
131Hermenêutica e interpretação
A partir das ferramentas de hermenêutica, o aplicador, ao interpretar o texto, deve reve-
lar o sentido da norma e fixar o alcance dessas ferramentas. Deve pressupor, portanto, 
que o texto normativo não é necessariamente claro o suficiente para que o seu leitor 
saiba, a partir da sua literalidade, quais são todos os elementos necessários para a sua 
aplicação. Eis a importância do desenvolvimento de um aparato hermenêutico para que 
o interprete possua as ferramentas adequadas dentro de um sistema científico jurídico.
Assim, é possível estabelecermos que a hermenêutica é teórica, responsável 
pelo desenvolvimento de ferramentas anteriores à aplicação, e a interpretação 
é a ponte entre o campo normativo abstrato e a aplicação das normas no caso 
concreto, seja por meio de uma sentença, seja por meio da própria vivência 
de acordo com as normas jurídicas vigentes pelo cidadão.
Os métodos de interpretação da norma jurídica
Como você viu na seção anterior, a hermenêutica é o campo responsável pelo 
desenvolvimento das ferramentas de interpretação para que o aplicador do Direito 
possa fazê-lo em conformidade com a ordem normativa vigente. Para tanto, a 
ciência jurídica apresenta diversas ferramentas, que espelham uma evolução 
científica da própria hermenêutica e, portanto, da interpretação da norma jurídica.
Bobbio (1982) contextualiza a discussão evolutiva da hermenêutica jurídica 
a partir do desenvolvimento do dogma da completude em oposição ao reco-
nhecimento de lacunas no ordenamento jurídico. Conforme o autor:
O dogma da completude, isto é, o princípio de que o ordenamento jurídico 
seja completo para fornecer ao juiz em casa caso, uma solução sem recorrer à 
equidade, foi dominante e o é em parte até agora, na teoria jurídica europeia 
de origem romana. Por alguns é considerado como um dos aspectos salientes 
do positivismo jurídico.
[...]
Nos tempos modernos, o dogma da completude tornou-se parte integrante da 
concepção estatal do Direito, isto é, daquela concepção que faz da produção 
jurídica um monopólio do Estado. Na medida em que o Estado moderno crescia 
em potência, iam-se acabando todas as fontes de direito que não fossem a Lei 
ou o comando soberano (BOBBIO, 1982, p. 119-120).
Hermenêutica e interpretação132
Dessa forma, se há completude no ordenamento jurídico, não há necessidade 
de interpretação, pois a literalidade da norma e o conjunto normativo são 
suficientes para a aplicação do Direito a todos os casos concretos.
Para melhor compreendermos a completude a que se refere Bobbio (1982, 
p. 114-115), trazemos a conceituação do autor:
Por “completude” entende-se a propriedade pela qual um ordenamento jurídico 
tem uma norma para regular qualquer caso. Uma vez que a falta de uma norma 
se chama geralmente “lacuna” (num dos sentidos do termo “lacuna”), “com-
pletude” significa “falta de lacunas”. Em outras palavras, um ordenamento é 
completo quando o juiz pode encontrar nele uma norma para regular qualquer 
caso que se lhe apresente, ou melhor, não há caso que não possa ser regulado 
com uma norma tirada do sistema. Para dar uma definição mais técnica de 
completude, podemos dizer que um ordenamento é completo quando jamais se 
verifica caso de que a ele não de podem demonstrar pertencentes nem a uma 
certa norma nem a norma contraditória. Especificando melhor, a incompletude 
consiste no fato de que o sistema não compreende nem a norma que proíbe 
um certo comportamento nem a norma que o permite. De fato, se se pode 
demonstrar que nem a proibição nem a permissão de certo comportamento 
são dedutíveis do sistema, da forma que foi colocado, é preciso dizer que o 
sistema é incompleto e que o ordenamento jurídico tem uma lacuna.
A partir dessa definição mais técnica de completude, entende-se melhor qual 
é o nexo entre o problema da completude e o da coerência. [...] podemos de 
fato definir a coerência como aquela propriedade pela qual nunca se dá o caso 
em que se possa demonstrar a pertinência a um sistema e de certa norma e 
da norma contraditória. [...] diremos “incoerente” um sistema no qual exis-
tem tanto a norma que proíbe um certo comportamento quanto aquela que 
o permite; “incompleto”, um sistema no qual não existem nem a norma que 
proíbe um certo comportamento nem aquela que o permite. [...] de fato, o que 
tentamos estabelecer é sempre a unidade: unidade negativa, com a eliminação 
de contradições; a unidade positiva, com o preenchimento de lacunas.
Dessa forma, o dogma da completude encara que o sistema não possui 
qualquer lacuna, ou seja, que todos os casos estão considerados no sistema e 
que esse sistema é coerente, e que, portanto, não há contradições entre uma 
norma e outra, ou expectativa de frustração de determinado comportamento e 
ausência de norma que o proíba. Por outro lado, se entendemos que o sistema é 
incompleto, e, portanto, possui lacunas, ou que há controvérsias entre normas 
existentes dentro de um sistema normativo, há necessidade de aplicação de 
normas interpretativas para resolução desses casos.
133Hermenêutica e interpretação
Nader (2001, p. 257) sintetiza a discussão em seu trabalho:
Outrora, vigorava o princípio in claris cessat interpretatio. Pensavam os 
juristas antigos que um texto bem redigido e claro dispensava a tarefa do 
intérprete. Havia a ideia errônea de que o papel do intérprete era o de “torcer 
o significado das normas”, para coloca-las de acordo com o interesse do 
momento. A confirmar a desconfiança no trabalho dos intérpretes, encon-
tramos em Hufeland a declaração de que “é um mal que a lei precise de uma 
interpretação. As leis não devem estar sujeitas às chicanas jurídicas”. O jurista 
brasileiro Paula Batista, autor de uma apreciada “Hermenêutica Jurídica”, 
esposou esta tese, há mais de meio século, afirmando: “Ou existem motivos 
para dúvidas do sentido de uma lei, ou não existem. No primeiro caso cabe 
interpretação, pela qual fixamos o verdadeiro sentido da lei e a extensão do 
seu pensamento; no segundo, cabe apenas obedecer ao seu preceito literal”.
Para a compreensão dos diversos métodos interpretativos da norma, é im-
portante ressaltarmos as diferenças entre a compreensão das lacunas trazidas 
por Bobbio, sendo as primeiras as lacunas ditas reais ou seja, a ausência fática 
de normas escritas sobre determinada conduta de maneira positiva ou negativa, 
e ideológicas, que, segundo o autor, não são “a falta não já de uma solução, 
qualquer que seja ela, mas de uma solução satisfatória, ou em outras palavras, 
já a falta de uma norma, mas de uma norma justa” (BOBBIO, 1982, p. 140).
Bobbio (1982, p. 143) também distingue lacunas próprias e impróprias: 
“A lacuna própria é uma lacuna do sistema ou dentro do sistema; a lacuna 
imprópria deriva da comparação do sistema real com um sistema ideal”. Além 
disso, o autor diferencia as lacunas ditas objetivas das subjetivas: 
Subjetivas são aquelas que dependem de algum motivo imputável ao le-
gislador; objetivas são aquelas que dependem do desenvolvimento das rela-
ções sociais, das novas invenções, de todas aquelas causas que provocam um 
envelhecimento dos textos legislativos e que, portanto, são independentes da 
vontade do legislador (BOBBIO, 1982, p. 144).
Ainda, o autor distingue lacunas voluntárias e involuntárias: 
Involuntáriassão aquelas que dependem de um descuido do legislador, que 
faz parecer regulamentado um caso que não é, ou faz deixar de lado um caso 
que talvez se considere pouco frequente, etc. Voluntárias são aquelas em que 
o próprio legislador deixa de propósito, quando a matéria é muito complexa e 
não pode ser regulada com regras muito miúdas, é melhor confiá-la, caso por 
caso, à interpretação do juiz. Em algumas normas muito gerais que podem 
ser chamadas de diretrizes (BOBBIO, 1982, p. 140-144).
Hermenêutica e interpretação134
Finalmente, Bobbio (1982, p. 145) diferencia as lacunas Preter legem e 
inter legem:
As primeiras existem quando as regras, expressas por serem muito particula-
res, não compreendem todos os casos que podem apresentar-se a nível dessa 
particularidade; as segundas têm lugar, ao contrário, quando as normas são 
muito gerais e revelam, no interior das disposições dadas, vazios ou buracos 
que caberá o interprete preencher. As lacunas voluntárias são normalmente 
inter legem.
O autor Paulo Nader também traz na obra Introdução ao estudo do Direito 
uma sistematização da evolução dos conceitos interpretativos, da literalidade 
à vontade da lei, da vontade do legislador à interpretação histórica-evolutiva, 
à investigação científica do Direito e finalmente à escola do Direito livre, em 
que destacamos os seguintes ensinamentos:
Escola tradicional da exegese: predominância do meio gramatical e da lógica 
interna do sistema jurídico (não estuda elementos de outros ordenamentos ou 
princípios gerais do direito), é reflexo do momento histórico-legal codicista, 
em que todas as normas deveriam estar organizadas sob Códigos de forma 
sistemática, clara e objetiva; Possui como postulados básicos: Dogmatismo 
Legal; Subordinação à Vontade do Legislador; O Estado como Único Autor 
do Direito (NADER, 2001, p. 273).
Método Histórico-Evolutivo: segundo esta escola que surgiu no final do século 
XIX, o intérprete possui um papel relevante. Cumprindo ao judiciário manter 
o Direito sempre vivo, atual, de acordo com as exigências sociais do momento 
histórico (NADER, 2001, p. 274).
Livre investigação científica do Direito: concepção do jurista François Gény, 
no final do século XIX, admite alguns pontos da escola da Exegese e rejeita 
a outros, aceita que o interprete deva pesquisar a vontade do legislador, não 
concordando com a tese de que a lei seja a única fonte formal do direito; admite 
a falibilidade do código, portanto e que o interprete deva preencher as lacunas 
a partir de um processo, obedecendo a vontade do legislador, e a atualização 
dos conceitos genéricos de ordem pública e bons costumes conforme o con-
texto histórico. Gény entende que há uma necessária interdependência entre 
a lógica e a interpretação gramatical. Segundo essa corrente, o Direito possui, 
na sua versão duas categorias: o dado e o construído. O dado corresponde à 
realidade observada pelo legislador, às fontes materiais do Direito, como os 
elementos econômico, moral, cientifico, técnico, cultural, histórico, político, 
etc. O construído é uma operação lógica e artística que, considerando o dado, 
subordina os fatos a uma ordem de fins. (NADER, 2001, p. 275-276)
Finalmente, a corrente do Direito Livre: escola que se opõe diretamente à 
Exegese, que concede ampla liberdade, inclusive em relação ao texto legal, 
135Hermenêutica e interpretação
se considerar como incapaz de fornecer uma solução justa ao caso. Se a lei 
for justa, deve ser aplicada, se for injusta deve ser colocada de lado de acordo 
com critérios de justiça. Reichel, aponta três características principais desta 
escola: Repúdio à doutrina da suficiência absoluta da lei; afirmação de que o 
juiz deve realizar, precisamente pela insuficiência dos textos, um labor pes-
soal e criador; e a aproximação paulatina do julgador à atividade legislativa 
(NADER, 2001, p. 277).
Uma vez compreendidas as diversas escolas da interpretação normativa, 
passaremos à classificação dos métodos propriamente dita.
Os métodos de interpretação normativa podem ser classificados e ca-
racterizados como:
Método integrativo — uma vez compreendido um determinado sistema 
como lacunoso, há dois métodos de integração desse sistema segundo a ter-
minologia de Carnelutti, conforme referenciado por Norberto Bobbio (1982), 
a heterointegração ou de autointegração. O primeiro método consiste na 
integração operada por meio do:
1. recurso a ordenamentos diversos;
2. recurso a fontes diversas daquela que é dominante (identificada, nos 
ordenamentos que temos sob os olhos com a lei). 
Dessa forma, podemos compreender que o método literal e a vontade da lei 
são formas de autointegração, ainda que não reconheçam as lacunas existentes 
no sistema, enquanto a heretointegração é composta por diferentes métodos 
como histórico, Direito comparado e princípios interordenamentais como 
direitos naturais, humanos, etc.
Autointegração — segundo Bobbio (1982), o método de autointegração se 
apoia particularmente em dois procedimentos:
1. analogia, o procedimento pelo qual se atribuir a um caso não regula-
mentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante;
2. princípios gerais do direito, com os quais o legislador pretende ou 
presume que, em caso de lacuna, a regra deve ser encontrada no âmbito 
mesmo das leis vigentes, sem recorrer a outros ordenamentos nem a 
fontes diversas da lei.
Hermenêutica e interpretação136
Método literal ou gramatical — Tratando-se de Direito escrito, é pelo ele-
mento gramatical que o intérprete toma o primeiro contato com a proposição 
normativa. Malgrado a palavra se revele, às vezes, um instrumento rude de 
manifestação do pensamento, pois nem sempre consegue traduzir as ideias, 
constitui a forma definitiva de apresentação do Direito, pelas vantagens que 
oferece do ponto de vista da segurança jurídica. Cumpre ao legislador aper-
feiçoar os processos da técnica legislativa, objetivando sempre uma redação 
simples, clara e concisa. O elemento gramatical se compõe da análise do valor 
semântico das palavras empregadas no texto, da sintaxe, da pontuação, etc. No 
Direito antigo, o processo literal era mais importante do que hoje. Ocorria, às 
vezes, que os códigos eram escritos em línguas mortas, o que exigia esforço 
concentrado do intérprete. Modernamente, a crítica que se faz a esse elemento 
não visa, como é natural, à sua eliminação, mas à correção dos excessos que 
surgem com a sua aplicação. Objetiva-se evitar o abuso daqueles que se apegam 
á literalidade do texto, com prejuízo a mens legis.
Método de busca da vontade da lei e do legislador — conforme visto, a 
exegese compreendia a vontade do legislador como um parâmetro endógeno 
de interpretação literal. Essa ferramenta deriva dos tempos da antiguidade, em 
que a lei era ditada pelos deuses e que, portanto, somente o seu criador poderia 
mudar o seu sentido. A partir da criação da figura do legislador legitimado pelo 
povo, a exegese estabeleceu que a lei que pode ser interpretada de maneira 
subjetiva, ou seja, pelo estudo comparativo do emprego de vocábulos de 
determinada forma pela pessoa do legislador, chamada de mens legislatoris, 
ou pela dedução da sua vontade pelo sistema da ordem jurídica. De qualquer 
sorte, o resultado encontrado deveria ser aplicado, mesmo que inócuo ou 
absurdo. Já o método objetivo leva o intérprete a pesquisar a vontade da lei. 
O legislador não cria a lei no seu intelecto, mas apropria-se das fórmulas 
que a organização social sugere para transfundi-las nos textos. No dizer de 
Maximiliano, “o indivíduo que legisla é mais ator do que autor, traduz apenas 
o pensar e sentir alheios, reflexamente, às vezes, usando meios inadequados 
de expressão quase sempre” (NADER, 2001, p. 260).
Método de Interpretação sistemática — segundo Nader (2001), não há 
nenhum dispositivo, na ordem jurídica, que seja autônomo, autoaplicável. A 
norma jurídica somente pode ser interpretada e ganhar efetividade quando 
analisada no conjunto de normas que dizemrespeito a determinada matéria. 
137Hermenêutica e interpretação
Quando um magistrado profere uma sentença, não aplica regras isoladas: 
projeta toda uma ordem jurídica ao caso concreto. O ordenamento jurídico 
compõe-se de todos os atos legislativos vigentes, bem como das normas 
costumeiras válidas que mantém entre si perfeita conexão.
Método de Interpretação histórica — muitas vezes o conhecimento gra-
matical e lógico do texto legislativo não é suficiente para a compreensão do 
espírito da lei, sendo necessário recurso à pesquisa do elemento histórico. 
Como força viva que acompanha as mudanças sociais, o Direito se renova, ora 
aperfeiçoando os institutos vigentes, ora criando outros para atender o desafio 
dos novos tempos. Em qualquer situação, o Direito se vincula à história e o 
jurista que almeja um conhecimento profundo da ordem jurídica, forçosamente 
deverá pesquisar as raízes históricas do Direito Positivo.
Método de Interpretação Teleológica — na moderna hermenêutica, o ele-
mento teleológico assume papel de primeira grandeza. Tudo o que o homem faz 
e elabora é em função de um fim a ser atingido. A lei é obra humana e, assim, 
contém uma ideia de fim a ser alcançado. Na fixação do conceito e alcance 
da lei, sobreleva de importância o estudo teleológico, isto é, o estudo dos fins 
colimados pela lei. Enquanto a occasio legis se ocupa dos fatos históricos 
que projetaram a lei, o fator teleológico investiga os fins que a lei visa atingir.
Outra forma de classificar os métodos interpretativos são:
Interpretação declarativa — nem sempre o legislador bem se utiliza dos 
vocábulos, ao compor os atos legislativos. Muitas vezes, expressa-se mal, 
utilizando com impropriedade os termos. Quando dosa as palavras com ade-
quação aos significados que deseja imprimir na lei, falamos que a interpretação 
é declarativa. O intérprete chega à constatação de que as palavras expressam, 
com medida exata, o espírito da lei.
Interpretação restritiva — quando ocorre, porém, que o legislador é infeliz 
ao redigir o ato normativo, dizendo mais do que queria dizer, a interpretação 
é restritiva, pois o intérprete elimina a amplitude das palavras. Exemplo: a lei 
diz descendente, quando, na realidade, queria dizer filho.
Interpretação extensiva — é a hipótese contrária à anterior. O intérprete 
constata que o legislador se utilizou com impropriedade dos termos, dizendo 
menos do que queria afirmar. Ocorrendo tal hipótese, o intérprete alegará o 
campo de incidência da norma, em relação aos seus termos. O exemplo anterior 
Hermenêutica e interpretação138
é útil, ainda: se o legislador, desejando referir-se a descendente, emprega o 
vocábulo filho.
Também podemos classificar os métodos pelo critério do elemento lógico. 
Segundo Nader (2001, p. 267), “por ser estrutura linguística que pressupõe 
vontade e raciocínio, o texto legislativo exige os subsídios da lógica para a 
sua interpretação”.
Lógica interna — pela lógica interna, o interprete submete a lei à ampla 
análise, considerando a própria inteligência do texto legislativo, alheando-se 
dos elementos de informação extra legem.
Lógica externa — visando completar o sentido da lei, sem contrariá-la, essa 
lógica se guia na lição dos fatos. Orienta-se pela observação dos acontecimentos 
que provocaram a formação do fenômeno jurídico, indagando, ainda, os fins 
que ditaram as regras jurídicas. Estudam-se, portanto, a ocasio legis e a ratio 
legis. Pode o interprete descer ao exame da história dos institutos e, ainda, 
ao Direito comparado.
A lógica do “razoável” — Recaséns Siches, que expõe a doutrina da lógica 
do razoável, julga que foi um erro maiúsculo cometido pela teoria e prática 
jurídica do séc. XIX o emprego, em assuntos jurídicos, dos métodos da 
lógica tradicional, também chamada de matemático-física, silogística, que 
se originou com o Organon, de Atistoteles. Na sua opinião, essa metodologia 
se ajusta à matemática, física e outras ciências da natureza, revelando-
-se, porém, inservível para os problemas ligados à conduta humana, afir-
mando que há razões diferentes do racional de tipo matemático, de tipo 
formalista-silogista. 
Nader ainda traz as inovações da Lei de introdução ao Código Civil (LICC), 
hoje Lei de introdução ao Direito brasileiro (LIDB), em que a divisão doutri-
nária entre a obrigatoriedade ou não dos seus métodos é aplicada na prática 
jurídica pátria. Segundo o autor, no art. 5º da LIDB, “o sistema jurídico brasi-
leiro rompeu com a exegese tradicional, que impedia o intérprete de conciliar os 
textos com as exigências dos casos concretos” (NADER, 2001, p. 262). O juiz 
deixaria, assim, aquela condição de “ente inanimado”, conforme Montesquieu 
concebera, ou então, como descreve Roscoe Pond, em relação à teoria mecâ-
nica, que reduz o juiz à condição de operador de máquinas automáticas: “[...] 
ponham-se os fatos no orifício de entrada, puxe-se uma alavanca e retire-se 
a decisão pré-formulada” (NADER, 2001, p. 263).
Segundo o autor, o art. 5º da LICC (NADER, 2001, p. 263): 
139Hermenêutica e interpretação
[...] revela, de início, o descontentamento do legislador com os critérios tradi-
cionais de hermenêutica seguidos em nosso País até aquela época. Apesar de a 
formula adotada não oferecer com segurança os novos critérios, foi cometido 
ao intérprete um papel importante na revelação do Direito.
[...] A expressão fins sociais visa a eliminar a possibilidade de que meros 
caprichos pessoais possam surgir em detrimento da coletividade. Quando 
houver conflito entre o interesse individual e o social, este último deve pre-
valecer. Tal colocação não tem a finalidade de esmagar o indivíduo em favor 
do elemento social. Há situações em que o individual pode prevalecer, de 
acordo com os critérios fixados pelo próprio legislador.
Finalmente, Pontes de Miranda (2013) refere que os métodos exegéticos 
aplicáveis às leis não aproveitam os negócios jurídicos e vice-versa. Para o 
autor, interpretar o negócio jurídico é revelar quais elementos do suporte fático 
entrarão no mundo jurídico e quais efeitos que, em virtude disso, produzem. 
Destaca alguns critérios a serem observador no momento da interpretação 
do negócio jurídico. 
1. Princípio da integração: é indispensável a interpretação sistemática do 
conteúdo integral do negócio jurídico. O interprete deverá examinar cada 
parte do conjunto em conexão aos demais.
2. Princípio da fixação genérica: na apuração do real sentido do negócio jurí-
dico, não se deve levar em consideração “ao que é pessoal de cada figurante, 
ou ao destinatário”. O interprete deverá fixar-se primeiramente no texto, 
examinando os elementos gramaticais e depois a lei pertinente à matéria, 
podendo inclusive, se for necessário, recorrer aos usos;
3. Princípio da classificação técnica: com apoio no conhecimento fornecido 
pela doutrina e pela lei, o intérprete classifica o negócio jurídico, a fim de 
determinar-lhe as consequências jurídicas (MIRANDA, 2013, p. 322–327).
Conforme complementa Nader (2001, p. 268): 
[...] na interpretação dos contratos, destacam-se as chamadas teoria objetiva 
ou da declaração e a teoria subjetiva da vontade. Ao considerar que o contrato 
faz lei entre as partes, a teoria objetiva preconiza, consoante expõe Miguel 
Reale, a interpretação objetiva, analogamente ao processos de interpretação 
da lei, pelo qual não se leva em conta o pensamento do legislador. [...] Para a 
teoria subjetiva, ou da vontade, o interprete é orientado no sentido de descobrir 
a intensão das partes. A interpretação literal é condenada e a subordinação 
do intérprete ao conteúdo semântico dos vocábulos é condicionada à plena 
adequação das palavras ao elemento volitivo.
Hermenêutica e interpretação140
Em resumo, é possível concluir que a evolução da interpretação normativa 
possui como fio condutor o balanço entre o apego à norma e aos elementos 
internos de determinado sistema normativo (e especificidades dos seus 
costumes ou vontades empregadas nas normas) e a liberdadede disposição 
do aplicador da norma frente à fontes de outros ordenamentos jurídicos, a 
partir do Direito comparado, dos princípios gerais de Direito ou mesmo 
de uma análise histórica-evolutiva da norma — quando não descartada a 
literalidade da norma em prol de um preenchimento idealista das lacunas 
normativas existentes. 
O maior limitador interpretativo na noção de bem comum está disposta na LIDB, em 
nosso ordenamento jurídico, e nos princípios gerais do Direito Natural, que transpassam 
a noção de um ordenamento jurídico específico.
A importância da hermenêutica filosófica 
para a interpretação normativa
A hermenêutica jurídica é o ramo teórico que contribui para a formação 
da metodologia utilizada na aplicação das normas a partir do processo de 
interpretação normativa. Já a hermenêutica filosófica é o ramo anterior que 
disponibiliza ferramentas teóricas para todos os ramos das ciências, podendo 
ser aplicadas por seus respectivos ramos aplicados.
Não são raras as contribuições da filosofia para a ciência jurídica, começando por suas 
construções sobre o próprio conceito de justiça, passando pelas discussões sobre os 
direitos naturais até a positivação das normas e teorias sobre as ciências políticas, eco-
nômicas e sociais que permeiam a construção das normas e da interpretação jurídica.
141Hermenêutica e interpretação
Como visto, a hermenêutica jurídica evolui de acordo com a dicotomia 
entre a pureza da norma e a possibilidade de preenchimento de lacunas entre 
fatores endógenos e exógenos ao ordenamento jurídico, como a história, 
economia, sociologia e filosofia.
Esse debate, no entanto, é anterior à própria concepção da norma e à sua 
força textual positivada, conforme os ensinamentos de Streck (1999, p. 99):
A questão da linguagem sempre esteve posta em diferentes épocas. Pode-se 
colocar como a primeira obra de filosofia da linguagem o escrito de Crátilo, de 
Platão, do ano de 388 a.C. Nele, além de Sócrates, há mais dois personagens: 
Hermôgenes, que represente os sofistas e Crátilo, que representa Heráclito 
(pré-socrático que justamente com Parmênides, inaugura a discussão acerca 
do “ser” e do “pensar”, e do logos superando o mythos). Crátilo é um tratado 
acerca da linguagem e, fundamentalmente, uma discussão crítica sobre a 
linguagem. São contrapostas duas teses/ posições sobre a semântica: o natu-
ralismo, pela qual cada coisa tem nome por natureza (o logos está na phisys), 
tese defendida no diálogo por Crátilo; e o convencionalismo, posição sofís-
tica defendida por Hermógenes, pela qual a ligação do nome com as coisas 
é absolutamente arbitrária e convencional, é dizer, não há qualquer ligação 
das palavras com as coisas.
Assim, o conteúdo das nomenclaturas é uma das bases da própria discussão 
filosófica de Platão, entre a arbitrariedade e a lógica aplicada nas regras de 
criação das expressões ordinárias.
O autor segue narrando a obra de Platão:
[...] Desse modo, no Crátilo, para discutir a questão relacionada à justeza 
dos nomes, Sócrates toma como modelo a atividade do artesão, onde há uma 
finalidade própria a cada coisa e a cada ação e que, analogamente aos ins-
trumentos adequados a cada atividade artesanal, há também um responsável 
pelo estabelecimento dos nomes para as coisas, o nomoteta (onomaturgo), o 
sábio legislador (espécie de fala autorizada...): “Nem todo homem é capaz de 
estabelecer um nome, mas apenas um artista de nomes; e este é o legislador, 
o mais raro dos artistas entre os homens. Mas o nomoteta não nomeia as 
coisas arbitrariamente. Para exercer sua atividade, ele se guia por um modelo 
ideal, pois parece haver uma certa exatidão natural de um nome em relação 
ao objeto (STRECK, 1999, p. 100).
A noção Platônica sobre o nomoteta, ou aquele que legisla sobre o uso das 
palavras, é uma das primeiras raízes remotas de uma exegese literal, em que 
a defesa de uma lógica por trás da escolha das palavras legitimaria o seu uso 
conforme o emprego arbitrado pelo “artesão das palavras”.
Hermenêutica e interpretação142
 Streck (1999, p. 103-104) segue a sua história sobre o discurso sobre a 
formação das palavras em Aristóteles:
(Aristóteles em) sua “Primeira filosofia” pretende estudar o ser das coisas 
(ousia), que quer dizer a sua essência, naquilo que elas são em si mesmas, 
não importando o que elas pareçam e pelas mudanças que sofrem. Por isso, 
Jacobus Thomasius, no séc. XII, afirmou que a primeira filosofia deveria 
chamar-se de ontologia.
Para os objetivos (e limites) desta abordagem, é importante referir que, em 
Aristóteles, a linguagem continua tendo um papel secundário. No fundo, o 
sistema aristotélico, é uma releitura do pensamento de Platão, uma vez que 
Aristóteles descobre uma brecha no sistema de seu mestre: como podemos falar 
de essências subsistentes? Nele, a linguagem não manifesta, mas significa as 
coisas. A palavra é (somente um) símbolo, e sua relação com a coisa não é por 
semelhança ou por imitação, mas (apenas) por significação. A questão está 
na adequatio, é dizer, na conformidade entre a linguagem e o ser. Pressupõe 
uma ontologia. Ou seja, Aristóteles acreditava que as palavras só possuíam 
um sentido definido porque as coisas possuíam uma essência. [...] A essência 
das coisas que confere às palavras a possibilidade de sentido. Desse modo, 
exemplificadamente, o que garante à palavra cão uma significação uma é o 
mesmo que faz o cão ser cão.
Dessa forma, o pensamento Aristotélico, ainda que como um reflexo da 
filosofia de Platão, encontra um eco no mundo das essências em que as pala-
vras podem (e devem) refletir a essência do que representam, subordinando 
a criação das palavras a fenômenos que descrevem, não o contrário, de forma 
que, o que garante à palavra a sua significação, é o fenômeno que torna o 
objeto descrito ele mesmo.
Em relação aos sofismos relacionados à composição das palavras na sua 
essência, Streck (1999, p. 155) relaciona as contribuições da filosofia à discussão 
hermenêutica dentro da ciência jurídica:
No âmbito da interpretação da lei, naquilo que tradicionalmente chamamos 
de hermenêutica jurídica, é preciso chamar a atenção (dos juristas) para o fato 
que “nós, não temos mais um significante primeiro, que se buscava tanto em 
Aristóteles, como na Idade Média, como ainda em Kant; significativamente 
primeiro que nos daria a garantia de que os conceitos em geral remetem a 
um único significado”. Daí por que um rompimento com essa tradição do 
pensamento jurídico dogmático é difícil e não se faz sem ranhuras: “A recusa 
de uma concepção metafísica do Direito não se faz sem problemas. O mesmo 
ocorre, aliás, com a afirmação dessa concepção. Crer que há uma essência 
verdadeira em si mesma do Direito – como que à espera de ser captada em sua 
inteireza pelo sujeito do conhecimento, seja mediante um trabalho estritamente 
racional de índole dedutiva, em que as normas do Direito racional, isto é, as 
143Hermenêutica e interpretação
chamadas leis da natureza, seriam aprendidas como autênticos corolários a 
que se acederia pelo raciocínio a essa essência na dinâmica da vida social, 
através da investigação sociológica do fenômeno jurídico; seja buscando-a na 
exegese dos textos legais -, crer nisso, não deixa de ser confortável.
Assim, a crença em um sistema autossuficiente da exegese e codificadores é 
baseada na crença de que o Direito e o texto normativo advêm de uma essência 
e que isso legitimaria a perfeição de um sistema oriundo da observação da 
natureza humana — ainda que, como descreve Streck (1999), desde a construção 
positivista, haja uma separação entre o Direito e a metafísica filosófica que, 
como bem alerta o autor, não se faz sem a perda da segurança que a unidade 
interpretativa traria ao ordenamento jurídico.
Outra importante contribuição narrada pelo autor encontra-se no ramo 
aplicado da filosofia jurídica que trouxe a abertura do sistema como uma 
possibilidade de aplicação da discricionariedade do juiz, não por um acaso, 
no âmbito da construçãoda common law:
No âmbito do Direito, o grande contributo é do direito anglo-saxão, mormente 
na obra de Hart e seus polemizadores (Raz; Dworkin). Na teoria de Hart, a 
dinâmica das normas somente pode ser explicitada através da análise das 
chamadas regras secundárias (adjudicação, mudança, reconhecimento), que 
permitem a justificação e existência do sistema jurídico. Para Hart, o direito 
possui uma zona de textura aberta que permite a livre manifestação do poder 
discricionário do juiz. Essa postura é criticada por Dworkin, que entende 
que o Direito sempre proporciona uma boa resposta, já que o juiz, ao julgar, 
escreve a continuidade de uma história, uma espécie de romance escrito em 
continuidade, onde a boa resposta seria aquela que melhor enfrentasse a dupla 
exigência que se impõe ao juiz, ou seja, fazer com que a decisão se harmonize 
o melhor possível com a jurisprudência anterior e ao mesmo tempo a atualize 
(justifique) conforme a moral política da comunidade. Lamego, assevera que 
o modo como Hart introduz a problemática da hermenêutica, através de um 
ponto de vista interno, tem a vantagem de “economizar” uma série de refle-
xões antropológicas sobre a teoria do conhecimento e da ação que a questão 
evidentemente co-envolve (STRECK, 1999, p. 156).
Nas discussões entre a discricionariedade de Hart, em que a norma é revelada 
na sua concretude, a justificação da sua imputação é a confrontação com a sua 
essência verificada nos fatos concretos e a postura de Dworkin, em que o romance 
jurídico necessita de uma vinculação lógica entre os casos precedentes e o caso 
concreto, sendo o último consequência do ordenamento que o antecede. Há como 
pano de fundo a própria discussão sobre a nomenclatura e a discricionariedade 
ou ciência da nomeação das coisas, eis que a norma precede de uma essência 
observadora de fenômenos prévia ou no momento da sua aplicação.
Hermenêutica e interpretação144
Finalmente, ao tratar especificamente da hermenêutica filosófica, Streck 
(1999, p. 157–158) sintetiza o debate da filosofia pura e jurídica nas seguintes 
contribuições dessa escola:
Embora esses avanços, somente graças à hermenêutica filosófica (Gadmer; 
Ricoeur) é que a antiga tensão entre a dogmática jurídica e a sociológica vem 
a ser superada, na medida em que a linguagem e os textos, é dizer, a enuncia-
ção, são colocados no centro das discussões. Os contributos da hermenêutica 
filosófica para o direito trazem uma nova perspectiva para a hermenêutica 
jurídica, assumindo grande importância as obras de Heidegger e de Garmer. 
Como efeito, Heidegger, desenvolvendo a hermenêutica no nível ontológico, 
trabalha com a ideia de que o horizonte do sentido é dado pela compreensão, 
é na compreensão que se esboça a matriz do método fenomenológico. A com-
preensão possui uma estrutura em que se antecipa o sentido. Ela se compõe 
de aquisição prévia, vista prévia e antecipação, nascendo desta estrutura a 
situação hermenêutica. Já Gaddamer, seguidor de Heidegger, ao dizer que 
ser que pode ser compreendido é linguagem, retoma a idéia de Heidegger da 
linguagem como casa do ser, onde a linguagem não é simplesmente objeto, 
e sim, horizonte aberto e estruturado. Daí que, para Gadamer, ter um mundo 
é ter uma linguagem. As palavras são especulativas, e toda a interpretação é 
especulativa, uma vez que não se pode crer em um significado infinito, o que 
caracteriza o dogma. A hermenêutica, desse modo, é universal, pertence ao ser 
da filosofia, pois, como assinala Palmer, a concepção especulativa do ser que 
está na base da hermenêutica é tão englobante como a razão e a linguagem. 
Dessa forma, é possível concluir que as contribuições da filosofia para a 
hermenêutica jurídica são:
 � a discussão sobre a precisão dos termos;
 � uma discussão prévia sobre a possibilidade de lacunas entre a arbitra-
riedade do legislador e a essência dos fenômenos que tenta descrever;
 � a construção das normas como um construto metafísico natural.
Já as contribuições da hermenêutica filosófica para a hermenêutica jurídica são: 
 � a crítica às limitações das palavras escritas; 
 � o uso dos princípios como guias, por se tratarem de especulações do 
interprete; 
 � a compreensão da linguagem como horizonte aberto e estruturado para 
aplicação no caso concreto;
 � a conceituação da compreensão e interpretação a partir da bagagem do 
interprete, despida de uma “pureza teórica”.
145Hermenêutica e interpretação
BOBBIO, N. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: UnB, 1982.
KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MIRANDA, P. de. Tratado de Direito privado. São Paulo: RT, 2013. t. 3.
NADER, P. Introdução ao estudo do Direito: de acordo com a constituição de 1988. 21. 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
STRECK, L. L. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999.
Hermenêutica e interpretação146
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Nesta Dica do Professor, você verá os diversos métodos de aplicação do Direito e suas 
características na prática.
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NA PRÁTICA
Enquanto algumas áreasdo Direito, como o Direito Privado, por exemplo, sofrem influências de 
métodos avançados, como o método histórico e a livre interpretação do Direito. Alguns ramos 
ainda sofrem com as limitações da aplicação tópica da literalidade da norma e da vontade do 
legislador, notadamente no Direito Público, por força do princípio da legalidade. No caso a 
seguir, é possível observar a aplicação destes dois métodos clássicos desenvolvidos pela exegese 
codificadora.
 
 
Assim, a observância do princípio da legalidade impõe a restrição interpretativa à determinados 
ramos do Direito pela construção exegética, ainda que a doutrina possa construir interpretações 
mais ousadas, como é o caso recorrente da Doutrina Garantista dentro do âmbito penal.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
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O que é Hermenêutica? Uma explicação sobre o termo através de uma viagem à Mitologia 
Grega.
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Neoconstitucionalismo e a nova hermenêutica dos princípios e direitos fundamentais 
O presente artigo aborda o tema do novo paradigma do Direito Constitucional nas 
Constituições do pós-guerra e a sua relevante influência na hermenêutica das normas 
Constitucionais pela inserção dos princípios como normas do sistema jurídico.
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A análise dos Relatórios do Desenvolvimento Humano (RDHs/PNUD/ONU) e as 
aproximações com a perspectiva histórico-hermenêutica 
Este texto visa explicitar os procedimentos de investigação que estão orientando as 
reflexões sobre os RDHs.
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