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Objeto e finalidade da introdução ao estudo do direito APRESENTAÇÃO A sociedade está em constante transformação e é fundamental acompanhar as transições sociais sob o prisma jurídico, que pretende promover a convivência social de forma ordenada e equilibrada. É importante entender o Direito como meio de regulação social e compreender como suas definições basilares contribuem para a assimilação dos diversos ramos em que se divide. O Direito permite a percepção da abrangência de sua aplicabilidade na vida social, bem como colabora no entendimento do quanto a linguagem é importante para a correta incidência das normas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá compreender qual é o objeto e a finalidade do estudo do Direito, conhecerá a importância dos conceitos introdutórios da área para os diversos ramos do Direito e de que forma a linguagem jurídica contribui para a aplicação e o desenvolvimento das leis. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o objeto e a finalidade da introdução ao estudo do Direito.• Relacionar a disciplina introdução ao estudo do Direito às demais áreas relacionadas.• Reconhecer a importância da linguagem no Direito.• INFOGRÁFICO O Direito é dividido em duas grandes áreas: público e privado. Em cada uma dessas áreas, concentram-se ramos que regulam as mais diversas esferas da nossa vida em sociedade. Conheça alguns dos mais importantes ramos do Direito público e privado. CONTEÚDO DO LIVRO Para compreender os desdobramentos do Direito, é fundamental conhecer os conceitos iniciais dessa ciência, que embasam todo o sistema jurídico do Brasil. Neste Capítulo Objeto e Finalidade do Estudo do Direito da obra Introdução ao Estudo do Direito, você irá conhecer as definições básicas de Direito, as áreas que essa ciência se divide e qual a linguagem utilizada para sua expressão. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 G429i Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira. Introdução ao estudo do direito [ recurso eletrônico ] / Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli , Magnum Koury de Figueiredo Eltz ; revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna. – Porto Alegre: SAGAH, 2017. ISBN 978-85-9502-219-5 1. Direito – História. I. Eltz, Magnum Koury de Figueiredo. II.Título. CDU 340.111 Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o objeto e a finalidade da introdução ao estudo do Direito. � Aproximar a disciplina introdução ao estudo do Direito às demais áreas do Direito. � Reconhecer a importância da linguagem no Direito. Introdução A sociedade está em constante transformação, e é fundamental acompa- nhar as transições sociais sob o prisma jurídico, que pretende promover a convivência social de forma ordenada e equilibrada. Entender o Direito como meio de regulação social e compreender as suas definições basilares contribuem para a assimilação dos diversos ramos em que se divide e permitem a percepção da abrangência da sua aplicabilidade na vida social, além de colaborar no entendimento do quanto a linguagem é importante para a correta incidência das normas. Neste capítulo, você vai identificar qual é o objeto e a finalidade do estudo do Direito, bem como reconhecer a importância dos conceitos introdutórios da área para os diversos ramos do Direito e de que forma a linguagem jurídica contribui para a aplicação e o desenvolvimento das leis. O que é e por que estudamos Direito? Aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um dos seus membros. Assim, quem age de con- formidade com essas regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto. Direção, ligação e obrigatoriedade de um comportamento, para que possa ser considerado lícito, parece ser a raiz intuitiva do conceito de Direito. A palavra lei, segundo a sua etimologia mais provável, refere-se a ligação, liame, laço, relação, o que se completa com o sentido nuclear de jus, que invoca a ideia de jungir, unir, ordenar, coordenar. Podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois ne- nhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade. É a razão pela qual um grande jurista contemporâneo, Santi Romano, cansado de ver o Direito concebido apenas como regra ou comando, concebeu-o antes como “realização de convivência ordenada”. De “experiência jurídica”, só podemos falar onde e quando se formam relações entre os homens, por isso denominadas relações intersubjetivas, por envolverem sempre dois ou mais sujeitos. Daí a sempre nova lição de um antigo brocardo: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade, está o Direito). A recíproca também é verdadeira: ubi jus, ibi societas, não se podendo conceber qualquer atividade social desprovida de forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra jurídica que não se refira à sociedade. O Direito é, por conseguinte, um fato ou fenômeno social; não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Uma das características da realidade jurídica é, como se vê, a sua socialidade, a sua qualidade de ser social. Considerando que as formas mais antigas de vida social já implicavam um esboço de ordem jurídica, é necessário desde logo observar que, durante milênios, o homem viveu ou cumpriu o Direito, sem se propor o problema do seu significado lógico ou moral. É somente em um estágio bem maduro da civilização que as regras jurídicas adquirem estrutura e valor próprios, independentemente das normas religiosas ou costumeiras e, por consequência, é só então que a huma- nidade passa a considerar o Direito como algo merecedor de estudos autônomos. Essa tomada de consciência do Direito assinala um momento crucial e decisivo na história da espécie humana, podendo-se dizer que a conscientização do Direito é a semente da ciência do Direito. Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito2 Passou-se a entender o Direito como, de um lado, instrumento para nos proteger do poder arbitrário, exercido à margem de qualquer regulamentação, salvando o indivíduo da maioria caótica e da ditadura, dando oportunidades iguais a todos e, ao mesmo tempo, amparando os desfavorecidos. Por outro lado, é também um instrumento manipulável que pode frustrar as aspirações dos menos privilegiados e permitir o uso de técnicas de controle que, devido à sua complexidade, são acessíveis a apenas alguns especialistas no assunto. A palavra direito, em português, guardou tanto o sentido daquilo que é consagrado pelo ideal de justiça (em termos de virtude moral) quanto o que é o exercício fundamenta do aparelho judicial. Isso pode ser observado pelo fato de que hoje se utiliza o termo tanto para significar o ordenamento vigente (o direito brasileiro), como também a possibilidade concedida pelo ordenamento de agir e fazer valer uma situação (direito de alguém). Dessa forma, podemos afirmar que o estudo do Direito é fundamental para que possamos compreender a sociedade em que vivemos e contribuir para o seu desenvolvimento sadio e organizado. Entender o Direito como parte da nossa vida — tendo em vista que está presente em todos os atos que praticamos diariamente — é o primeiro passo para uma conduta que nos protege e torna dignos da vida em sociedade. Chamamos de Direito Positivo o conjunto de normas instituído pelo Estado: é a lei escrita, quevaria de acordo com cada país. Já o Direito Natural é a ideia universal de justiça e baseia-se no bom senso: o direito à vida, por exemplo. O Direito Positivo e o Direito Natural nem sempre convergem, mas ambos são diretrizes fundamentais para a regulação da vida em sociedade. O Direito em diversos contextos Como fato social e histórico, o Direito se apresenta sob múltiplas formas, em função de múltiplos campos de interesse, o que se reflete em distintas estruturas normativas. Mas é inegável que, apesar das mudanças que se sucedem em diferentes contextos sociais, continuamos a referir-nos sempre a uma única realidade: a sociedade em que vivemos. 3Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito Antes de se fazer o estudo de determinado campo do Direito, impõe-se uma visão de conjunto: ver o Direito como um todo, antes de examiná-lo por meio das suas partes especiais. O Direito se divide, em primeiro lugar, em duas grandes classes: o Direito Privado e o Direito Público. As relações que se referem ao Estado e traduzem o predomínio do interesse coletivo são chamadas relações públicas, ou de Direito Público. Porém, o homem não vive apenas em relação com o Estado, mas também — e principalmente — em ligação com os seus semelhantes: a relação que existe entre pai e filho ou entre quem compra e quem vende determinado bem não é uma relação que interessa de maneira direta ao Estado, mas ao indivíduo enquanto particular. Essas são as relações de Direito Privado. Essas classes, por sua vez, subdividem-se em vários outros ramos, como, por exemplo, o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, no campo do Direito Público; o Direito Civil, o Direito Comercial, no campo do Direito Privado. O Direito é, pois, um conjunto de estudos discriminados; abrange um tronco com vários ramos, ou seja, um sistema de enlaces, destinados a balizar o comportamento dos indivíduos de qualquer idade ou classe social, bem como as atividades dos entes coletivos e do próprio Estado. Há, em cada comportamento humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico — o Direito está pelo menos pressuposto em cada ação do homem que se relacione com outro homem. O médico, que receita para um doente, pratica um ato de ciência, mas exerce também um ato jurídico. Talvez não o perceba, nem tenha consciência disso, nem ordinariamente é necessário que haja percepção do Direito que está sendo praticado. Na realidade, porém, o médico que redige uma receita está no exercício de uma profissão garantida pelas leis do País e em virtude de um diploma que lhe faculta a possibilidade de examinar o próximo e de ditar-lhe o caminho para restabelecer a saúde; outro homem qualquer, que pretenda fazer o mesmo, sem iguais qualidades, estará exercendo a Medicina ilicitamente. Não haverá para ele o manto protetor do Direito; ao contrário, O seu ato provocará a repressão jurídica para a tutela de um bem, que é a saúde pública. O Direito é, sob certo prisma, um manto protetor de organização e de direção dos comportamentos sociais. Posso, em virtude do Direito, ficar na minha casa, quando não estiver disposto a trabalhar, assim como posso dedicar- -me a qualquer ocupação, sem ser obrigado a estudar Medicina no lugar de Direito, a ser comerciante, não agricultor. Todas essas infinitas possibilidades de ação se condicionam à existência primordial do fenômeno jurídico. O Direito, Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito4 por conseguinte, tutela comportamentos humanos — para que essa garantia seja possível é que existem as regras, as normas de direito como instrumentos de salvaguarda e amparo da convivência social. Existem tantas espécies de normas e regras jurídicas quantos os possíveis comportamentos e atitudes humanas. Se o comportamento humano é de de- linquência, tal comportamento sofre a ação de regras penais, mas se a conduta visa à consecução de um objetivo útil aos indivíduos e à sociedade, as normas jurídicas cobrem-na com o seu manto protetor. A interação dos diversos temas e contextos em que se aplica o Direito é a principal razão para que se estudem os aspectos basilares e introdutórios dessa ciência: não existe um Direito Comercial que nada tenha a ver com o Direito Constitucional, por exemplo. Ao contrário, os temas jurídicos representam e refletem um fenômeno jurídico unitário que precisa ser examinado. O Direito Ambiental é um recente ramo do Direito, que surgiu em meados do século XX devido à crise ambiental que o planeta passou a enfrentar, quando então se tornou necessário regular a ação humana no que se refere aos impactos ambientais. Os ramos do Direito se desenvolvem, portanto, de acordo com a necessidade social. A importância da linguagem para o Direito Cada ciência se exprime em uma linguagem. Dizer que há uma Ciência Física é dizer que existe um vocabulário da Física. É por esse motivo que alguns pensadores modernos ponderam que a ciência é a linguagem mesma, porque na linguagem se expressam os dados e valores comunicáveis. Assim, onde quer que exista uma ciência, existe uma linguagem correspondente. Cada cientista tem a sua maneira própria de expressar-se, e isso também acontece com a Ciência do Direito. Os juristas falam uma linguagem própria e devem ter orgulho da sua lin- guagem multimilenar, dignidade que bem poucas ciências podem invocar. Às vezes, as expressões correntes, de uso comum do povo, adquirem, no mundo jurídico, um sentido técnico especial. 5Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito Vejam, por exemplo, o que ocorre com a palavra “competência” — adjetivo: competente. Quando dizemos que o juiz dos Feitos da Fazenda Municipal é competente para julgar as causas em que a Prefeitura é autora ou ré, não estamos absolutamente apreciando a “competência” ou preparo cultural do magistrado. Competente é o juiz que, por força de dispositivos legais da organização judiciária, tem poder para examinar e resolver determinados casos, porque competência, juridicamente, é “a medida ou a extensão da jurisdição”. Um uma palavra pode mudar de significado, quando aplicada na Ciência Jurídica. Dizer que um juiz é incompetente para o homem do povo é algo de surpreendente. Não se trata do valor, do mérito ou demérito do magistrado, mas da sua capacidade legal de tomar conhecimento da ação que nos propúnhamos intentar. É necessário, pois, que se dedique a maior atenção à terminologia jurídica, sem a qual não se pode frequentar no mundo do Direito. Assim, podemos afirmar que a língua é vista como um sistema de sím- bolos que possuem significados de acordo com as atribuições humanas. O que deve ser levado em conta é o uso desses conceitos, que variam de acordo com o contexto. A linguagem no universo jurídico tem por finalidade persuadir e convencer. E, para fazê-lo, os fatos devem ser expostos de forma clara, demonstrando que a conclusão do raciocínio é a sentença que se espera. Presume-se que os indivíduos de uma dada sociedade, ao edificarem o Direito que vai reger as suas relações sociais e limitar a satisfação das suas necessidades, tanto aceitem como legítimo o poder que cria as normas quanto válidas (e também aceitáveis) os conteúdos destas. É importante destacar, também, que a linguagem jurídica é mediadora entre o poder social e as pessoas. Por isso, deve expressar com fidelidade os modelos de comportamento a serem seguidos, evitando-se, dessa forma, distorções na aplicação do Direito. Os vocábulos técnicos e a linguagem precisa exercem a função de contribuir para a compreensão do Direito e para a eficácia do ato da comunicação jurídica. O emprego da palavra, portanto, Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito6 no âmbito jurídico, deve ser exato, claro e conciso a fim de evitar sutilezas semânticas e dubiedades na interpretação e na aplicação das leis. Contudo, alguns estudiosos do Direito contestam que a tecnicidade e re- buscamento da linguagem jurídica sejamprejudiciais em algum aspecto. O argumento utilizado quase sempre é o de que o Direito é ciência (assim como a medicina, a matemática e outros ramos do conhecimento) e, por isso, tem as suas peculiaridades linguísticas que se limitam ao conhecimento dessa “elite jurídica”. O Direito, entre os diversos campos do conhecimento especializado, é um dos que mais interessam à sociedade, uma vez que é a ordem jurídica que proíbe, obriga ou permite certas ações, penalizando aqueles que não se comportam conforme o estabelecido. Contudo, não se pode confundir a linguagem técnica do Direito com o chamado “juridiquês”, que é uma das maiores críticas ao Direito — sendo um ramo do conhecimento que interessa tanto a sociedade, além de “conduzi-la” à ordem social, alguns autores argumentam sobre a necessidade de uma democratização do discurso. O site juridiques.adv.br se propõe a “traduzir” a lin- guagem jurídica! Nele, qualquer pessoa pode, além de acessar materiais sobre o Direito, conhecer os termos jurídicos em linguagem mais acessível. Acesse por meio do código ao lado. FERRAZ JR. T. S. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2008. NADER, P. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Editora Forense, 2010. REALE, M. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2010. SANTANA, S. B. P. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça: uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 15, n. 105, out. 2012. Disponível em: <http://www.ambito juridico.com. br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316>. Acesso em: 18 set. 2017. 7Objetivo e finalidade da introdução ao estudo do Direito Conteúdo: DICA DO PROFESSOR O vídeo a seguir ressalta a importância do Direito como regulador da sociedade, a fim de garantir o equilíbrio da vida social. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA Alberto e Cristina foram casados por muitos anos. Alberto era professor e Cristina dona de casa. Em meados de 2016, Alberto adoeceu e logo em seguida faleceu, deixando Cristina sem condições de subsistência. Para que Cristina não passe por dificuldades e consiga manter-se com dignidade, ela poderá solicitar ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) uma pensão em virtude do falecimento de Alberto e, uma vez apresentados os documentos necessários e atendidos os requisitos legais, a pensão por morte será concedida à Cristina, que poderá viver com tranquilidade financeira. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro Sobre a introdução ao estudo do Direito que apresenta diretrizes gerais para a compreensão das normas brasileiras. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A distinção entre público e privado e sua caracterização no âmbito do Estado brasileiro O artigo visa problematizar a dicotomia entre as esferas pública e privada no contexto do Estado brasileiro. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Direito, hermenêutica e linguagem Leia neste site o artigo que versa sobre o discurso jurídico e Hermenêutica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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