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Nadja Cristiane Lappann Botti, Natalia Milagre Brezolini, Aline Conceição Silva, Érica Domingues de 
Souza, Daniela Aparecida de Faria, Daniella Almeida Silva Brum, Lidiani Vanessa da Silva, Michele 
Mariano Rodrigues, Talita Rosália Santos Teles, Suzane Pereira Lopes , Camila Corrêa Matias Pereira 
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Nadja Cristiane Lappann Botti
Natalia Milagre Brezolini
Aline Conceição Silva
Érica Domingues de Souza
 Daniela Aparecida de Faria
Daniella Almeida Silva Brum
Lidiani Vanessa da Silva
Michele Mariano Rodrigues
Talita Rosália Santos Teles
Suzane Pereira Lopes 
Camila Corrêa Matias Pereira 
1a edição
Divinópolis
UFSJ
2018
Valorização da vida na 
adolescência
Ferramentas vivenciais
B751v       
        
        Botti, Nadja Cristiane Lappann.  
            Valorização da vida na adolescência: ferramentas vivenciais.              
        [recurso eletrônico] / Nadja Cristiane Lappann Botti, Natália Milagre
        Brezolini e Aline Conceição Silva. – Divinópolis: UFSJ, 2018.
             106p.: Il.
 
              ISBN: 978-85-8141-099-9 
 
              1. Suicídio - prevenção. 2. Saúde mental. 3. Valorização da vida. 4.    
         Adolescência. I. Botti, Nadja Cristiane Lappann. II.  Brezolini, Natalia    
         Milagre. III. Silva, Aline Conceição. IV. Souza, Érica Domingues de. V.  
         Faria, Daniela Aparecida de. VI. Brum, Daniella Almeida Silva. VII.      
         Silva, Lidiani Vanessa da. VIII. Rodrigues, Michele Mariano. IX. Teles,  
         Talita Rosália Santos. X. Lopes, Suzane Pereira. XI. Pereira, Camila      
          Corrêa Matias
 
                                                                         CDU: 94.86:614(81)
“Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa 
pela minha e que vou costurando na alma. 
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me 
fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... 
Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... 
que me tornam mais pessoa, mais humano, mais completo.
E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras 
gentes que vão se tornando parte da gente também. 
E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... 
haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.
Portanto, obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha 
vida e que me permitem engrandecer minha história com os 
retalhos deixados em mim. 
Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e 
que eles possam ser parte das suas histórias.
E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, 
um imenso bordado de ‘nós’.”
 
Cora Coralina
Prefácio .................................................................................... 6
Capítulo 1
Particularidades do Comportamento Suicida na Adolescência ... 10
 
Capítulo 2
Conceitos Fundamentais da Suicidologia .................................. 21
 
Capítulo 3 
Enquadre Teórico .................................................................... 32
 
Capítulo 4 
Enquadre Metodológico .......................................................... 42
 
Capítulo 5 
Dinâmicas de grupo para Valorização da Vida e Prevenção do 
Comportamento Suicida ......................................................... 50
Dinâmica de grupo: Tomografia da vida ................................... 51
Dinâmica de grupo: Flor-E-Ser................................................. 53
Dinâmica de grupo: Eletrocardiograma da esperança .............. 56
Dinâmica de grupo: Ponte da Vida .......................................... 58
 
Capítulo 6
Rodas de Conversa para Valorização da Vida e Prevenção do 
Comportamento Suicida .......................................................... 61
Roda de conversa: 13 Alertas .................................................. 62
Roda de conversa: Cordel para Vida ....................................... 65
Roda de conversa: I life ........................................................... 67
Roda de conversa: Marcadores de valorização da vida ............ 69
Roda de conversa: CD da sofrência .......................................... 71
 
Capítulo 7 
Jogos para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento 
Suicida ................................................................................... 74
Jogo: Quebra cabeça .............................................................. 75
Jogo: Acróstico de valorização da vida .................................... 77
Jogo: Pilares da Vida .............................................................. 79
Jogo: Tabuleiro do Mito X Verdade ........................................... 81
SUMÁRIO
Capítulo 8 
Ferramentas Virtuais para Valorização da Vida e Prevenção do 
Comportamento Suicida .......................................................... 84
Ferramenta virtual: CVV chat................................................... 85
Ferramenta virtual: Facebook ................................................. 86
Ferramenta virtual: Twitter ..................................................... 88
Ferramenta Virtual: Instagram ............................................... 89
Ferramenta virtual: Tumblr..................................................... 90
Ferramenta virtual: Google ..................................................... 91
 
Referências ............................................................................. 93
 
Sobre os autores ................................................................... 103
 
 
SUMÁRIO
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Prefácio
Este livro é uma iniciativa do Grupo de Trabalho de Valorização da 
Vida e Suicidologia da Universidade Federal de São João Del Rei 
(UFSJ), Campus Centro Oeste Dona Lindu, como produto da linha de 
pesquisa: Valorização da Vida.
Essa linha visa o desenvolvimento de metodologias inovadoras de 
valorização da vida e prevenção do suicídio; efetivação de parcerias 
acadêmico-institucionais para capacitação comunitária e profissional 
sobre prevenção e posvenção do suicídio e divulgação dos processos, 
produtos e resultados do grupo.
 
Valorização da vida na adolescência – ferramentas vivenciais foi 
incubado durante a disciplina Tópicos Avançados em Suicidologia 
ministrada no 1º semestre de 2017 na UFSJ. Nesta disciplina tivemos a 
apresentação de produtos de valorização da vida e prevenção do 
suicídio entre adolescentes.
 
As ferramentas vivenciais apresentadas neste livro são adaptações 
e/ou construções próprias dos autores. Como especial contribuição 
tivemos a colaboração de: Bruna Pena, Arielle Martins, Michele 
Mileib, Érika Lagares e Adriana Resende Milagre. No 2º semestre de 
2017 as ferramentas vivenciais foram utilizadas em oficinas de 
capacitação para intervenção de valorização da vida e prevenção do 
suicídio pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do 
Adolescente (REMSA) da UFSJ.
 
Portanto, esse livro reúne ferramentas vivenciais de valorização da 
vida e prevenção do suicídio na adolescência e tem como objetivo: 
favorecer a criação de rede de apoio e detecção precoce de 
comportamentos de risco; fortalecer redes de proteção e apoio ao 
adolescente (saúde, assistência social, educação e familiar); promover 
saúde mental na adolescência e facilitar a identificação precoce de 
adolescentes em risco.
 
O 1º capítulo desse livro - Particularidades do Comportamento Suicida 
na Adolescência – apresenta o problema do comportamento suicida 
na adolescência; mitos e epidemiologia do suicídio no mundo, nas 
Américas e no Brasil; política pública de prevenção do suicídio e 
intervenções de valorização da vida e prevenção entre adolescentes. 
6
No 2º capítulo - ConceitosFundamentais da Suicidologia, 
apresentamos conceitos importantes para o entendimento do 
campo da suicidologia como: ameaça, comunicação e conduta 
suicida, fatores de proteção e de risco, ideação, intencionalidade e 
plano suicida, posvenção, prevenção (indicada, seletiva e 
universal), psychache, resiliência, risco suicida, suicídio, tentativa 
de suicídio e vulnerabilidade.
 
No 3º capítulo - Enquadre Teórico – encontramos as temáticas 
geradoras que orientaram a construção das dinâmicas de grupo, 
rodas de conversa e jogos de valorização da vida e prevenção do 
comportamento suicida. As temáticas utilizadas foram: fatores de 
proteção e de risco, razões para viver, resiliência, habilidades 
sociais e desesperança.
 
Em seguida, vem o 4º capítulo - Enquadre Metodológico – com as 
ferramentas vivenciais que orientaram o desenvolvimento das 
diversas ações. Acreditamos que as ferramentas vivenciais podem 
operar como instrumento facilitador do processo de valorização 
da vida e prevenção do suicídio.
 
No 5º capítulo - Dinâmicas de grupo para Valorização da Vida e 
Prevenção do Comportamento Suicida – descrevemos dinâmicas 
de grupo que visam fortalecer fatores de proteção do 
comportamento suicida; identificar fatores de risco; ampliar o 
repertório de habilidades sociais e refletir sobre a importância de 
razões para viver e da resiliência em nossas vidas.
 
Já no 6º capítulo - Rodas de Conversa para Valorização da Vida e 
Prevenção do Comportamento Suicida - descrevemos rodas de 
conversa que tem como objetivo: favorecer a expressão de fatores 
de proteção e de risco do comportamento suicida; esclarecer 
dúvidas sobre mitos e verdades; favorecer a integração dos 
participantes de forma que possam compartilhar suas experiências 
de vida valorizando a diversidade de saberes e proporcionar 
espaço efetivo de expressão e reflexão.
7
Em seguida, vem o 7º capítulo - Jogos para Valorização da Vida e 
Prevenção do Comportamento Suicida – com a descrição dos jogos 
que visam de forma lúdica desenvolver habilidades e 
conhecimentos acerca dos fatores de risco e proteção do 
comportamento suicida, além de favorecer a construção de 
habilidades sociais, prática de convivência e integração dos 
participantes.
 
No 8º capítulo - Ferramentas Virtuais para Valorização da Vida e 
Prevenção do Comportamento Suicida – descrevemos as 
ferramentas virtuais para valorização da vida e prevenção do 
suicídio como CVV Web, Facebook, Twitter, Instagram, Tumblr e 
Google.
 
Por último, Sobre os Autores – apresentamos o mini currículo dos 
autores. 
 
Enfim, desejamos que façam boa leitura desse livro, pois 
acreditamos que os capítulos aqui expostos reúnem ferramentais 
vivenciais valiosas do potencial de práxis e reflexões para os 
interessados em enveredar no campo da valorização da vida e 
prevenção do suicídio. 
Que façamos desta leitura instrumento de 
inquietação e de militância por saberes e 
fazeres engajados na valorização da vida 
e prevenção do suicídio
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Capítulo 1
Particularidades do 
Comportamento Suicida 
na Adolescência
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento do ciclo da vida 
humana marcada por inúmeras transformações físicas, emocionais 
e sociais; por isso um sofrimento vivenciado nessa etapa pode 
deixar profundas marcas. O comportamento suicida pode ocorrer 
como reflexo de conflitos internos, sentimentos de depressão e 
ansiedade que acompanham a reorganização física, psíquica e 
social, comum nessa fase da vida (MOREIRA et al., 2010).
 
É comum, comportamentos ligados a doença, lesões, mortalidade 
ou outras condições negativas terem sua origem na adolescência. 
Consumo de álcool e cigarro, uso de drogas ilícitas, 
comportamentos sexuais de risco, agressão e delinquência 
apresentam maior índice de surgimento nessa etapa da vida 
(HALE; VINER, 2016). Os comportamentos auto prejudiciais na 
adolescência, comumente tido como resposta de rebeldia, podem, 
de fato, ter associação com sentimentos de tristeza ou 
desesperança (JAMES et al., 2017).
 
O quadro de emergência psiquiátrica mais comum entre 
adolescentes é o comportamento suicida. Dentre os adolescentes 
que recorrem aos serviços de pronto-atendimento por motivos 
psiquiátricos, mais de 75% têm acima de 13 anos (maioria do sexo 
feminino) e 50% dos atendimentos envolvem tentativas de suicídio 
(QUEVEDO; CARVALHO, 2014).
 
O comportamento suicida é um fenômeno multifacetado, que 
ultrapassa os limites de um único campo do conhecimento; 
multifatorial, com fatores sociais (credo religioso, família, política, 
grupo social), disposições psíquicas e características do ambiente 
físico e social. Ressaltamos que os processos cognitivos de imitação 
são preocupantes por sua importante prevalência como fator 
associado do suicídio na adolescência (KUCZYNSKI, 2014). 
Ressaltamos que o comportamento suicida é:
- um fenômeno complexo 
- não possui uma única causa
- influenciado por diversos fatores que atuam em 
múltiplos níveis (individual, familiar e social)
10
Os adolescentes podem apresentar ideação suicida como forma de 
expressão de sofrimento, geralmente em função de um conflito 
interno, e por isso a morte pode ser encarada como solução. Nesse 
caso, esses pensamentos podem assinalar algo que, de fato, 
ultrapassa as características próprias da adolescência (MOREIRA; 
BASTOS, 2015). 
 
A prevalência de ideação suicida entre adolescentes é alta e, 
geralmente, relacionada com depressão, consumo de álcool e de 
outras drogas, violência física, problemas de relacionamento com 
pais, tristeza e solidão. Portanto, a ideação pode ser prevenida, 
desde que o adolescente receba acompanhamento nessas situações 
(MOREIRA; BASTOS, 2015).
 
Como fatores associados à ideação suicida encontramos: baixa 
escolaridade da mãe, dificuldade escolar do adolescente, 
sedentarismo, consumo de álcool e outras drogas e 
comportamento agressivo (SOUZA et al., 2010). 
 
As ideias suicidas (na infância e adolescência) fazem parte do 
processo de desenvolvimento de estratégias para que possam lidar 
com problemas existenciais. Ressaltamos que a preocupação surge 
quando o suicídio se coloca como única alternativa de resposta aos 
problemas e dificuldades (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2012). 
Assim, a ideação suicida precisa ser diferenciada dos pensamentos 
+/-mórbidos que buscam responder interrogações existenciais 
características da adolescência. Os aspectos que distinguem um 
jovem saudável de um que se encontra em crise suicida referem-se:
- A intensidade, profundidade e duração dos pensamentos
- O contexto em que os pensamentos surgem
- A impossibilidade de se distanciar dos pensamentos
(SOUZA, 2010; SOUZA et al., 2010).
 
Os adolescentes que apresentam ideação suicida se auto 
representam como pessoas sozinhas, com sentimentos de 
desesperança e solidão e que expressam pedido de ajuda diante do 
sofrimento (ARAÚJO; VIEIRA; COUTINHO, 2010).
11
Os fatores de risco são elementos que podem desencadear ou 
associar-se ao desenvolvimento do comportamento suicida, não 
sendo, necessariamente, o fator causal. Os adolescentes são mais 
propensos ao imediatismo e impulsividade e em detrimento da 
imaturidade emocional podem encontrar maior dificuldade para 
lidar com estressores agudos tornando-se desencadeantes de atos 
suicidas (BOTEGA, 2015). 
 
A seguir apresentamos o esquema dos principais fatores de risco 
do comportamento suicida infantojuvenil:
 
(HAWTON; SAUNDERS; O’CONNOR, 2012; 
NOCK, 2014; BOTEGA, 2015)
 
12
Adolescentes que tentam suicídio sentem desespero e desesperança. 
O desespero decorre do desejo de mudanças urgentes na vida e a 
desesperança em função de dúvidas se tais mudanças ocorrerão e da 
crença que a vida é impossível se as mudanças não acontecerem.
Os principais acontecimentos vitais que costumam desencadear uma 
tentativa de suicídio são:perdas e/ou rompimentos afetivos, 
desentendimentos familiares e experiências de humilhação que 
diminuem a autoestima (como o fracasso escolar) (HAWTON; 
SAUNDERS; O’CONNOR, 2012; NOCK, 2014; BOTEGA, 2015).
 
Ressaltamos a importância da reflexão sobre mitos comuns do 
comportamento suicida juvenil:
 
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014)
 
13
O Relatório Global para Prevenção do Suicídio, publicado pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS), apresenta dados relevantes 
sobre a epidemiologia do comportamento suicida: 
 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014) 
14
O Relatório Sobre Mortalidade por Suicídio nas Américas, 
publicado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), 
mostra dados epidemiológicos importantes das Américas e Brasil:
* Estima-se em 6,4% o percentual de subnotificação em relação aos registros de 
mortalidade por suicídio. 
(ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 2014)
15
O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz é responsável pela elaboração 
do Mapa da Violência no Brasil que contem estudos detalhados 
sobre os índices de violência. Ele afirma que a violência não é um 
fenômeno natural, mas determinado por fatores específicos que 
podem ser removidos. A seguir apresentamos o retrato da 
mortalidade brasileira por suicídio entre adolescentes:
Em 2012, de acordo com o Mapa da Violência, encontramos 117 
mortes por suicídio entre adolescentes de 10 e 14 anos e 675 mortes 
entre 15 e 19 anos. Assim, entre 1980 e 2012, houve aumento de 
61,8% e 25,6%, respectivamente, dos registros de suicídios entre 
adolescentes (WAISELFISZ, 2014). No país, entre 2000 e 2008, 
foram registrados 6.574 suicídios de adolescentes (10 a 19 anos), 
portanto uma média de 730 mortes/ano (SOUZA, 2010).
 
O Boletim Epidemiológico, publicado pelo Ministério da Saúde, 
apresenta dados relevantes sobre a situação epidemiológica das 
lesões autoprovocadas e das tentativas de suicídio no país:
(WAISELFISZ, 2014)
16
Nesse contexto de aumento da incidência de suicídio entre jovens e 
maior frequência entre 15 e 19 anos, torna-se necessário a criação de 
estratégias de saúde do adolescente que permitam valorização da 
vida e prevenção do comportamento suicida a fim de evitar perdas 
de potenciais anos de vida (CANTÃO; BOTTI, 2014).
 
Ressaltamos que é no ambiente escolar, no qual o adolescente 
estabelece importantes vínculos que tem efeitos a longo prazo sobre 
seu comportamento que intervenções direcionadas para promoção 
de estilos de vida saudáveis são investimentos seguros a favor da 
saúde mental (MARTINS; HORTA; CASTRO, 2013; MINAS GERAIS, 
2006; SANTOS, 2014).
 
A escola pode desempenhar importante papel no desenvolvimento 
saudável do adolescente por ser ambiente privilegiado para 
práticas promotoras de saúde (BRASIL, 2009). Encontramos como 
importantes ações: desenvolvimento de competências pessoais e 
sociais, aumento da resiliência, promoção da autoestima, 
criatividade, esperança e autonomia, criação de clima de 
convivência amigável, sensibilização para o autocuidado e 
promoção da equidade entre os alunos. Essas ações que devem 
incluir todos membros da comunidade escolar além de pais e 
profissionais da saúde (MINAS GERAIS, 2006; SANTOS, 2014).
(BRASIL, 2017)
17
A OMS reconhece jovens como grupo vulnerável ao comportamento 
suicida, por isso são necessários esforços de prevenção para esse 
grupo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014). A partir da década 
de 1990, a OMS passou a considerar o suicídio como problema de 
saúde pública incentivando a criação de planos nacionais para sua 
prevenção. No Brasil, em 14 de agosto de 2006, foi publicada a 
Portaria nº 1.876 instituindo as Diretrizes Nacionais para Prevenção 
do Suicídio e recomendando várias estratégias preventivas (BRASIL, 
2010). Em 2017, tivemos a publicação da Agenda de Ações 
Estratégicas, visando a ampliação e o fortalecimento das ações de 
vigilância e prevenção do suicídio (BRASIL, 2017).
 
O conjunto de ações estratégicas para a promoção de saúde, 
vigilância, prevenção do suicídio e atenção à saúde foi estruturado 
em Eixos de Atuação relacionados com as Diretrizes Nacionais. 
Encontramos como Eixos de Atuação:
- Eixo I: Vigilância e Qualificação da Informação
- Eixo II: Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde 
- Eixo III: Gestão e Cuidado 
(BRASIL, 2017).
Ações estratégicas do Eixo II:
 
“Fortalecer e disseminar, em articulação com o Ministério da 
Educação, as ações, conteúdos, materiais do componente de 
promoção da saúde do Programa Saúde na Escola ou iniciativas 
já existentes de prevenção de violências e promoção da cultura 
da paz, prevenção do uso prejudicial de álcool e outras drogas, 
prevenção do suicídio e desenvolvimento de habilidades 
emocionais e sociais para estudantes, professores, demais 
profissionais da escola, familiares e comunidade” 
(BRASIL, 2017, p. 17).
18
Como importantes intervenções de valorização da vida e prevenção 
do suicídio temos:
• Projeto + Contigo - intervenção em rede que inclui profissionais de 
saúde, educação, alunos, pais ou responsáveis e tem como objetivos:
- promover a saúde mental e bem-estar em jovens
- prevenir comportam] entos da esfera suicida
- combater o estigma em saúde mental
- criar uma rede de atendimento de saúde mental
- promover habilidades sociais, autoconceito, capacidade de 
resolução de problemas e assertividade na comunicação
- melhorar a expressão e gestão de emoções
- detectar precocemente situações de distúrbio mental 
- fortalecer redes de apoio nos serviços de saúde
 
• Programa de conscientização da depressão entre adolescentes – 
programa curricular que busca informar alunos, professores e 
dirigentes sobre a depressão em função de considerá-la como 
principal causa do risco suicida, especialmente em adolescentes 
 
• Sinais do Suicídio - programa que contém dois componentes 
principais. O 1º é um conjunto de materiais didáticos que inclui vídeo e 
guia de discussão contendo: dramatização de sinais de depressão e 
risco de suicídio, recomendações frente alguém deprimido e com 
comportamento suicida e entrevistas com pessoas cujas vidas foram 
marcadas pelo suicídio. O 2º componente é um instrumento de 
triagem usado para avaliar o risco de depressão e suicídio 
 
• Cuidar, Avaliar, Responder, Empoderar - desenvolvimento de uma 
rede entre alunos, professores e familiares a fim de acolher 
adolescentes com ideação suicida identificados por screening 
computacional realizado na escola. Os alunos com maior risco 
também participam de sessões de aconselhamento 
 
• Fonte de Força - capacitação de diretores e representantes dos 
alunos que possuem a missão de identificar o risco suicida e pedir 
ajuda em tais casos 
 
(SANTOS et al., 2013; BUSTAMANTE; FLORENZANO, 2013).
19
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Capítulo 2
Conceitos Fundamentais 
da Suicidologia
Nesse capítulo apresentamos conceitos importantes para 
entendimento da suicidologia. Como suicidologia encontramos o 
estudo científico (ciência) do comportamento suicida em seus 
aspectos de: prevenção, intervenção e reabilitação (FECHIO, 2008).
 
O termo é derivado da palavra suicídio, surgindo no final do século 
XVII, como campo de pesquisa que tem como objeto de estudo o 
fenômeno do suicídio (MELEIRO; TENG; WANG, 2004).
 
Ainda encontramos suicidologia como estudo de diversas áreas de 
conhecimento sobre assuntos relacionados ao suicídio (VABO et al., 
2016). Reconhecemos a suicidologia como uma área de estudo 
multiprofissional dedicada ao estudo de fenômenos suicidas e sua 
prevenção (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010).
 
Ameaça suicida
Ameaça suicida refere-se ao ato interpessoal de comunicação ou 
sugestão de que um comportamento suicida poderá ocorrer num 
futuro próximo (SANTOS, 2009). Portanto, a ameaça é uma 
informação que transmite a ideia de um possível ato de uma pessoa 
acabar com a própria vida (AMERICAN PSYCHOLOGICALASSOCIATION, 2010). 
 
Como ameaça suicida encontramos as comunicações verbais ou 
escritas a pessoas próximas revelando o desejo ou intenção de se 
matar (FECHIO, 2008). 
 
 
Comunicação suicida
Comunicação é a transmissão de informações, de maneira verbal 
(oral ou escrita) ou não verbal (atitudes e comportamentos). Em 
função da comunicação torna-se possível comunicar sentimentos, 
experiências e propósitos sociais, pessoais ou interpessoais. Na 
comunicação suicida as informações se referem aos pensamentos, 
sentimentos e comportamentos que transmitem o desejo suicida ou as 
causas apontadas para o ato (AMERICAN PSYCHOLOGICAL 
ASSOCIATION, 2010). 
 
A comunicação suicida, verbal ou não-verbal, inclui direta e 
indiretamente expressões de desesperança, intolerância à dor física 
e emocional e aquisição de objetos que possam ser utilizados como 
meios de suicídio (BARBOSA; ASNTOS; PERES, 2011).
21
Classificação da comunicação suicida:
• Direta verbal – expressam explicitamente os desejos de uma pessoa 
colocar fim a sua vida (“Vou me matar”, “Vou suicidar”, “O que tenho 
que fazer é acabar com a vida de uma vez por todas”)
• Direta não verbal – expressam determinados atos que indicam a 
possibilidade de que ocorra, em breve, um ato suicida (procurar 
acesso aos métodos, deixar notas de despedida, distribuir bens, etc.)
• Indireta verbal - expressam intenções suicidas que estão implícitas 
em sua mensagem (“Quem sabe não nos veremos mais”, “Quero ser 
lembrado como uma pessoa que, apesar de tudo, não foi má”)
• Indireta não verbal - realização de atos que não indicam uma 
possibilidade suicida iminente mas estão relacionados com uma morte 
prematura (fazer testamento, planificar os funerais, ter predileção 
por temas relacionados ao suicídio etc.) 
(FECHIO, 2008).
 
Conduta suicida
Conduta suicida também referida como comportamento suicida 
caracteriza-se como comportamento de uma pessoa em ocasião 
específica que demonstra a intenção de suicidar ou de condutas 
autodestrutivas (FECHIO, 2008; AMERICAN PSYCHOLOGICAL 
ASSOCIATION, 2010; OLIVEIRA, AMÂNCIO E SAMPAIO, 2012).
 
Como conduta suicida encontramos o continnum envolvendo 
pensamentos, intenção suicida, tentativas de suicídio e o próprio 
suicídio (FECHIO, 2008). Nesse sentido refere-se a qualquer ato de: 
tentativa em si, ideação suicida sem tentativas, risco de suicídio, 
planificação e execução do suicídio independente do grau ou intenção 
de letalidade (KOHLRAUSCH et al., 2008; BTESHE, 2013).
 
 
Fatores de proteção
Como fatores de proteção temos as ações que modificam, melhoram 
ou alteram a resposta de uma pessoa a algum perigo que predispõe 
a riscos de desadaptação ou que influenciam a ter uma vida mais 
saudável e produtiva (BRINO, GIUSTO BANNWART, 2011) 
22
Esses fatores estão relacionados, de modo geral, com habilidades 
cognitivas, flexibilidade emocional e integração social (BOTEGA, 
2015). 
Em relação ao suicídio caracterizam-se como fatores de proteção: as 
características, situações ou circunstâncias que minimizam os 
impactos dos fatores de risco e a possibilidade de suicídio 
(BERTOLOTE, 2012; BRAGA; DELL’AGLIO, 2013). Esses fatores podem 
estar ligados a fonte de prazer, contato gratificante com familiares 
ou amigos, estilo cognitivo, característica de personalidade, 
habilidade de resolução de problemas e conflitos, apoio da família e 
da comunidade e cuidados de saúde (GONÇALVES; FREITAS; 
SEQUEIRA, 2011). 
 
 
Fatores de risco
Como fatores de risco temos os atributos que conferem a uma pessoa 
grau variável de suscetibilidade para contrair determinada 
enfermidade ou alteração de saúde ou circunstâncias específicas que 
aumentam a probabilidade de desenvolver uma doença ou condição 
clínica (FECHIO 2008). Assim, os fatores de risco são variáveis que 
tendem a aumentar a probabilidade de uma pessoa apresentar 
problemas físicos, sociais e emocionais (POLETTO; KOLLER, 2008).
 
Os fatores de risco podem ser divididos em: 
- Predisponentes relacionado a predisposição e acontecimentos 
passados distantes 
- Precipitantes relacionados a acontecimentos mais recentes, que 
antecederam o desenvolvimento da condição de uma pessoa 
(BOTEGA, 2015). 
 
Em relação ao suicídio caracterizam-se como fatores de risco: as 
características, situações ou circunstâncias que aumentam a 
probabilidade de uma pessoa cometer o suicídio, sem perspectiva de 
causalidade para sua ocorrência. 
Os fatores de risco podem ser:
- Proximais ou precipitantes – situações que têm proximidade com o 
ato suicida
- Distais ou predisponentes – condições mais permanentes de vida ou 
personalidade 
(BERTOLOTE, 2012).
23
No caso do suicídio são fatores que aumentam a probabilidade de sua 
ocorrência como: características de personalidade (impulsividade e 
agressão), isolamento social, condições econômicas, transtornos 
psiquiátricos, depressão, meios disponíveis, abuso de drogas, 
histórico de abuso, etc. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014).
 
Ideação suicida
A ideação suicida configura-se como importante preditor de risco de 
suicídio por isso é considerada o primeiro “passo” para sua efetivação 
(BRAGA; DELL’AGLIO, 2013; FONSECA; LOBO, 2015). Como ideação 
suicida entendemos quaisquer pensamentos, imagens, crenças, vozes 
ou outras cognições relacionadas a terminar intencionalmente com a 
própria vida (WENZEL; BROWN; BECK, 2010).
 
Se refere a pensamento que engloba desejos, atitudes ou planos que a 
pessoa tenha para se matar ou uma preocupação com o suicídio 
(AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Ressaltamos que 
a ideação suicida por si só pode não progredir para a tentativa de 
suicídio (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010).
 
 
Intencionalidade suicida
A intencionalidade suicida se refere à determinação de colocar um fim 
em sua própria vida, portanto a intenção e intensidade do desejo de 
colocar esse fim (BOTEGA, 2015). 
 
Essa intencionalidade apresenta-se como atos com metas e desejos 
suicidas, escolha de comportamentos que condizem com a realização 
do suicídio (meio para o fim) e atenção consciente para o estado 
desejado (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010).
 
Ressaltamos que a pretensão ou desejo de morrer, qualquer que seja o 
nível, está associado a um risco real de morte (WENZEL; BROWN; 
BECK, 2010). A intencionalidade suicida pode assumir a forma de uma 
curva de crescimento, por isso encontramos:
- Início com ideias de morte (imagina como seria seu velório, quem iria, 
quais pessoas sofreriam mais), passando para ideias de suicídio, 
planos de como se matar, pesquisa sobre o poder letal, chegando a 
providências pós morte (elaboração de testamento, comunicado à 
família sobre seguro de vida, etc.)
(BOTEGA, 2015). 
24
A gravidade da intencionalidade é determinada por 2 fatores 
concorrentes:
- A intensidade da motivação suicida
- O grau com que essa motivação é contrabalanceada pelo desejo 
conflitante de continuar vivendo 
(BOTEGA, 2015).
 
Graus de intencionalidade suicida:
• 1º grau - a veleidade suicida (o ato existe no plano verbal)
• 2º grau - a ideia ou pensamento suicida (o ato existe 
virtualmente)
• 3º grau - a ameaça suicida (a pessoa anuncia seu ato)
• 4º grau - o gesto suicida 
• 5º grau - a tentativa de suicídio ambivalente
• 6º grau - a tentativa de suicídio deliberada
• 7º grau - o suicídio propriamente dito 
(MELEIRO; TENG; WANG, 2004).
 
 
Plano suicida
Plano suicida configura-se como a organização para execução de um 
ato suicida (como reunir meios letais, escrever um bilhete, doar 
pertences importantes). A atividade mental de planejamento 
associada ao desejo e intenção suicida é uma forma de identificá-la 
(WENZEL; BROWN; BECK, 2010). 
 
Como trata-se do plano de uma pessoa para efetivar o ato de 
acabar com a própria vida inclui: como, onde e quando planeja se 
matar (BOTEGA, 2015). Nessa situação os pensamentos ou ideias 
suicidas encontram-se estruturadas e definidas pela pessoa que 
deseja suicidar (método, momentoe providências para não ser 
descoberta) (FECHIO, 2008).
 
Em termos de continuum, se inicia com a ideação suicida (ideias 
sobre morrer e/ou morte), e depois, dependendo da intensidade, 
vemos o plano suicida.
25
Ressaltamos, que ainda é possível o suicídio impulsivo (que não 
houve planejamento) finalizando como o próprio suicídio ou 
tentativa frustrada (MACHADO; LEITE; BANDO, 2014).
 
Posvenção
De forma geral, se refere à toda intervenção realizada após um 
suicídio, a fim de prevenir outro ato suicida, portanto considerada 
medida preventiva. Configuram-se como atividades que auxiliam os 
sobreviventes de suicídio a elaborar melhor o luto complicado, e 
assim, atenuar o impacto do suicídio (FUKUMITSU et al., 2015). 
Portanto, são atividades que favorecem a expressão de ideias e 
sentimentos relacionados ao trauma e elaboração do luto visando 
evitar a morbidade psicológica nos enlutados (BOTEGA, 2015).
 
O termo posvenção foi criado, em 1971, pelo suicidologista Edwin 
Shneidman, referindo-se ao apoio que necessita tanto quem tenta o 
suicídio quanto os familiares de quem suicidou (FECHIO, 2008).
Um fator que influencia fortemente a elaboração do luto é a 
capacidade do enlutado para procurar ajuda e encontrá-la, por isso 
o relacionamento interpessoal, a ajuda na superação de conflitos e 
a rede de apoio podem operar como fator fundamental de 
prevenção do suicídio (FUKUMITSU et al., 2015).
 
 
Prevenção
Ato ou efeito de antecipar às consequências de uma ação no intuito 
de prevenir seu resultado, corrigindo-o e redirecionando-o por 
segurança (RIOS, 1999). Refere-se como qualquer medida que 
intervém na causa de uma doença ou agravo antes que ela atinja 
uma pessoa ou minimizando seu impacto (BERTOLOTE, 2012). 
 
Configuram-se como prevenção as intervenções comportamentais, 
biológicas ou sociais destinadas a reduzir o risco de transtornos, 
doenças ou problemas sociais, tanto de forma individual quanto 
coletiva (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). 
 
A primeira definição de prevenção foi determinada em 1964, sendo 
conceituada como modelo primário, secundário e terciário 
(LEANDRO-FRANÇA; MURTA, 2014). 
26
 Na perspectiva tradicional da saúde mental temos:
- Prevenção primária com objetivo de redução da ocorrência de novos 
caso é destinada à população exposta a fatores de risco, mas ainda 
sem transtorno
- Prevenção secundária focada nas pessoas que já apresentam sinais 
iniciais de algum transtorno
- Prevenção terciária direcionada aos que possuem um diagnóstico e 
tem como objetivo reduzir seus prejuízos e consequências
(LEANDRO-FRANÇA; MURTA, 2014).
Em 1987 foi proposto um modelo de prevenção baseado em níveis de 
risco (prevenção universal, seletiva e indicada) (BERTOLOTE, 2012).
 
 
Prevenção indicada
Refere-se as estratégias destinadas a grupos específicos, pessoas que 
apresentam risco considerável ou já começaram a manifestar o 
comportamento-alvo ou grupo com altíssimo risco de suicídio 
(pessoas que já tentaram suicídio, sobretudo quanto mais recente a 
tentativa) (BERTOLOTE, 2012; BOTEGA, 2015; SANTOS et al, 2015).
 
 
Prevenção seletiva
Destinada a pessoas que apresentam grau baixo de risco e ainda não 
começaram a apresentar o comportamento-alvo visando impedir a 
instalação do mesmo ou o surgimento de suas consequências. Refere-
se a estratégias de minimização de fatores de risco voltadas para 
grupos mais vulneráveis, isto é com maior risco de suicídio (pessoas 
que sofrem de transtornos mentais) (BERTOLOTE, 2012; BOTEGA, 
2015; SANTOS et al, 2015).
 
 
Prevenção universal
Destinada a toda população, sem necessariamente apresentar algum 
grau de risco. Seu principal objetivo é impedir o início do 
comportamento que desencadeie em suicídio . Referem-se como 
estratégias que diminuem o risco de suicídio: melhoria do acesso a 
ajuda, fortalecimento de fatores protetivos, apoio social, Setembro 
Amarelo, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, restrição de acesso a 
meios letais e divulgação adequada da mídia (BERTOLOTE, 2012; 
BOTEGA, 2015; SANTOS et al, 2015).
27
Psychache
Psychache caracteriza-se como dor psicológica:
- Insuportável e aguda comumente associada ao comportamento 
suicida pela urgência de cessação da dor
- Intolerável, como um conflito emocional interminável, em que 
parece não haver saída 
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014; BOTEGA, 2015). 
 
Essa dor associa-se a angústia, sentimento de culpa, vergonha, 
solidão e medo. Na qual a morte pode ser entendida, pela pessoa, 
como saída para detê-la, mesmo não sendo uma solução adequada 
para resolver os problemas (FENSTERSEIFER; WERLANG, 2005).
 
Para Shneidman, a vivência de uma dor emocional intolerável 
(psychache) é o que melhor caracteriza o estado de uma pessoa 
próximo a cometer o suicídio. Em função da sensação de turbulência 
interna e de estar preso em si mesmo, assim a ideia de suicídio 
surgiria numa situação de constrição do estado perceptivo 
(estreitamento afetivo e intelectual) (CHACHAMOVICH et. al, 2009). 
 
 
Resiliência
A resiliência refere-se como processo e resultado de se adaptar a 
experiências de vida difíceis ou desafiadoras a partir da 
flexibilidade mental, emocional e comportamental e do ajustamento 
as demandas externas e internas. Inúmeros fatores contribuem 
para as pessoas se adaptam bem ou mal as adversidades como sua 
percepção do mundo, disponibilidade e qualidade de recursos 
sociais, estratégicos e enfrentamento específico (AMERICAN 
PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010).
 
O termo resiliência tem sua origem na Física como a capacidade de 
um material para receber energia de deformação sem sofrê-la de 
modo permanente. Nas ciências humanas, poderíamos definir 
inicialmente como a capacidade de superar as adversidades; a 
partir daí descortina-se uma gama de conceitos de suporte, fatores 
e características que definem o processo resiliente (TABOADA, 
LEGAL, MACHADO, 2006). 
28
Ainda encontramos como conceitos:
- Resistência ao estresse ou associada a processos de recuperação e 
superação de abalos emocionais causados pelo estresse (FONTES, 
2012) - Capacidade inata das pessoas de aproveitar recursos ou 
apoio familiar e social para desenvolver seu potencial de viver, 
crescer, dar e cuidar de outras pessoas e, quando necessário, 
sobreviver a situações dramáticas e, a partir delas, aprender e 
fortalecer-se (MOLINA-LOZA, 2003).
 
 
Risco suicida
Encontramos como risco suicida o conjunto de informações relevantes 
que articuladas permite um parecer, embasado teoricamente, do 
risco que uma pessoa tem de suicidar, permitindo assim a priorização 
de ações dirigidas (BOTEGA, 2015). O risco suicida é dado, em geral, 
por indicadores de natureza sociodemográfica, clínica, genética, 
familiar etc. (BERTOLOTE; MELLO-SANTOS; BOTEGA, 2010). 
 
Devemos distinguir os fatores: predisponentes (remotos e distais que 
criam terreno no qual eclodem o comportamento suicida) e os 
precipitantes (proximais ou estressores associados ao risco de 
comportamento suicida). Os fatores precipitantes encontram-se 
associados a variedade de situações que implicam perdas (reais ou 
simbólicas) ou mudanças de status, no geral, para pior (BERTOLOTE; 
MELLO-SANTOS; BOTEGA, 2010). 
 
Realizamos a avaliação do nível de risco a partir da presença e 
intensidade dos fatores de risco, porém frente a complexidade do 
comportamento humano, não é precisa em termos de “previsão de 
suicidabilidade”. 
Caracterização do grau de risco de suicídio:
• Baixo - a pessoa tem pensamento suicida, mas não desenvolveu 
plano, ou ainda a pessoa nunca tentou o suicídio e não planeja como 
se matar
• Moderado - a pessoa tem pensamentos sobre morrer e um plano, 
mas não pretende se matar imediatamente ou ainda a pessoa tem 
tentativa prévia de suicídio e suicídio visto como solução
• Alto - a pessoa tem planos, meios e pretende realizar prontamente, 
apresenta tentativa de suicídio recente ou múltiplas tentativas num 
curto espaço detempo, rigidez de pensamento atual e 
abuso/dependência de álcool
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014; 
NEVES et al., 2014; BOTEGA, 2015).
29
Ressaltamos que o risco suicida se refere a possibilidade de uma 
pessoa suicidar. 
Objetivos do profissional para avaliação do risco de suicídio: 
• Identificar a existência de ideação/planejamento suicida atual
• Caracterizar a gravidade de tentativas anteriores e da ideação 
suicida atual
• Identificar fatores de risco e protetivos
• Caracterizar o suporte social
• Identificar existência de diagnóstico psiquiátrico de base
• Instituir terapêutica inicial (em caso de condições de base)
• Garantir a inserção do paciente em serviços de saúde mental
(DEL-BEN et al, 2017).
 
Suicídio
O termo suicídio está relacionado ao ato voluntário de terminar com a 
própria vida (BOTEGA, 2015), morte intencional e deliberadamente 
autoprovocada (NEVES et al., 2014; WENZEL; BROWN; BECK, 2010) 
ou morte produzida por um ato positivo ou negativo da própria 
vítima, direta ou indiretamente, do qual a mesma sabia decorrer esse 
resultado (DURKHEIM, 1978).
 
O suicídio é marcado por: 
- Ambivalência (entre o desejo de viver e o de acabar com a dor)
Impulsividade 
- Rigidez do pensamento (a pessoa não encontra outra saída para 
seus problemas) (FUKUMITSU, 2015).
 
Tentativa de suicídio
A morte, no espectro do comportamento suicida, aparece como 
ponta do iceberg, abaixo dele, em geral, estão as tentativas 
(BOTEGA, 2015).
 
Caracterização de tentativas de suicídio:
• Ato intencional de autoagressão não resultando em morte mas, 
dependendo da gravidade pode ou não necessitar hospitalização ou 
atendimento médico (SOUZA et al., 2011)
• Qualquer ação autodirigida realizada pela própria pessoa que 
conduzirá à morte, caso não interrompida (FONSECA; LOBO, 2015)
• Ato suicida interrompido ou não consumado (DURKHEIM, 1978)
• Comportamento não-fatal, autoinfligido, potencialmente danoso, 
com intenção de morrer, podendo ou não resultar em ferimento) 
(WENZEL; BROWN; BECK, 2010)
30
• Ato autoagressivo não-fatal sem desejo explícito de morrer (por ex. 
desejo de vingar-se de alguém ou provocar culpa (MELEIRO; TENG; 
WANG, 2004)
• Ato de tentativa sem a consumação desse comportamento (BOTEGA, 
2015)
• Tentativa deliberada, mas fracassada de cometer o suicídio 
(nomeada de suicídio tentado) (AMERICAN PSYCHOLOGICAL 
ASSOCIATION, 2010).
 
 
Vulnerabilidade
Entende-se como vulnerabilidade a disposição de uma pessoa em 
desenvolver condição, transtorno ou doença se exposta a agentes ou 
condições específicas (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 
2010).
 
No campo da saúde, os termos vulnerabilidade e vulnerável são 
empregados para designar suscetibilidade das pessoas a problemas e 
danos de saúde. Portanto, vulnerabilidade não é um estado ou uma 
característica essencial de determinada pessoa, mas uma situação que 
apresenta natureza potencialmente instável e por isso pode se alterar 
em função do tempo, relações ou características do contexto social 
(NICHIATA et al., 2008).
 
Ainda encontramos como vulnerabilidade:
• Grau de suscetibilidade ou de risco de sofrer danos a que está 
exposta uma pessoa ou uma população
• Relação existente entre a intensidade do dano resultante e a 
magnitude de uma ameaça, evento adverso ou acidente
• Probabilidade definida por estudos técnicos de uma determinada 
pessoa, comunidade ou área geográfica ser afetada por uma ameaça 
ou risco potencial de desastre
(NICHIATA et al., 2008)
 
A vulnerabilidade, em relação ao suicídio, se refere a situações ou 
condições de maior chance de suicídio, ao invés de determinismo (já 
que não necessariamente a exposição aos fatores de risco leva ao 
comportamento). Temos a presença de transtorno mental ou histórico 
pessoal ou familiar de tentativa de suicídio como condições de 
vulnerabilidade (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010).
31
V A L O R I Z A Ç Ã O 
D A
V I D A
N A 
A D O L E S C Ê N C I A
F E R R A M E N T A S 
V I V E N C I A I S
Capítulo 3
Enquadre Teórico
Fatores de proteção
Fatores de proteção para o suicídio referem-se como recursos 
pessoais ou sociais que diminuem ou neutralizam as possibilidades do 
risco de um ato suicida (ARAÚJO; VIEIRA; COUTINHO, 2010). Na 
adolescência encontramos diversos aspectos que podem atuar como 
protetivos, entre eles: sentimento de bem-estar, autoestima elevada, 
capacidade para buscar ajuda, abertura a novas experiências, 
flexibilidade emocional, confiança em si mesmo, capacidade de 
resolução de problemas, viver em uma comunidade que valoriza o 
apoio social, ter família e amigos compreensivos e competência 
escolar (SCHLOSSER; ROSA; MORE, 2014; BURKE et al., 2016; 
AGGARWAL et al., 2017; SEDIVY et al., 2017).
 
Assim existem fatores protetivos específicos da adolescência, sendo 
importante identificá-los, traçar estratégias para reforçar os que já 
existem e também para desenvolver novos quando se objetiva a 
prevenção do suicídio e a valorização da vida. Sendo de extrema 
importância para a prevenção, o aumento dos fatores protetivos e 
diminuição dos fatores de risco, em nível individual e coletivo 
(BOTEGA et al., 2006).
 
Ressalta-se que os fatores protetivos do comportamento suicida são 
aqueles que diminuem ou evitam a ocorrência de um ato suicida 
(FERNÁNDEZ; BARRERO; MONTOYA, 2017).
Como enquadre teórico entendemos as temáticas 
geradoras que orientaram a construção das 
ferramentas vivenciais de valorização da vida e 
prevenção do comportamento suicida. 
 
As temáticas geradoras utilizadas foram fatores 
de proteção e de risco, desesperança, razões para 
viver, resiliência e habilidades sociais
32
Caracterização dos fatores protetivos do comportamento suicida:
- São individuais - um fator de proteção para determinada pessoa 
pode não ser para outra ou ainda, de modo contrário pode se 
comportar como fator de risco
- São relativos ao gênero - um fator de proteção para uma mulher 
pode não ser para um homem
- São geracionais - um fator de proteção para uma criança pode não 
ser para um adolescente, adulto ou idoso
- Estão associados a cultura - os fatores de proteção em determinado 
contexto cultural podem não ser para outros
- Estão determinados por um momento histórico - os fatores que 
protegiam do suicídio no século V não são protetivos na atualidade
(FERNÁNDEZ; BARRERO; MONTOYA, 2017).
 
Viktor Frankl, em 1946, no livro Em Busca de Sentido, retrata sua 
experiência como prisioneiro de um campo de concentração e assim, 
propõe um método psicoterapêutico para encontrar razão para 
viver. Ele afirma: “[...] nada no mundo contribui tão efetivamente 
para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que 
a vida da gente tem um sentido (FRANKL, 1991). 
Ou, em outras palavras, como atribuído a Nietzsche:
“Quem tem um por que viver pode suportar quase qualquer como”.
 
Nessa direção entendemos que atividades que estimulem a 
verbalização de sentimentos, busquem o autoconhecimento e 
reflitam sobre o sentido da existência operam como fatores 
protetivos, pois o sentido de vida “não se trata [...] de um sentido 
para vida em termos gerais, mais um sentido pessoal para vida de 
cada pessoa, que este escolhe, quando encontrado” (SOUSA; 
GOMES, 2012, p.55).
 
 
Razões para viver
Como razões para viver compreendemos as causas, motivos ou 
motivações que levam uma pessoa a querer viver. Esses motivos 
são considerados como um amortecedor frente a situações 
estressantes. Portanto, relações significativas, satisfação com a vida 
e existência de motivos para viver configuram-se como indicadores 
de proteção em relação ao comportamento suicida (HEISEL, FLETT, 
2004). Ao contrário, poucos motivos para viver encontram-se 
associados a comportamentos de risco (LINEHAN et al., 1983).
33
Determinadas crenças orientadas para a vida podem mitigar o 
desenvolvimento do comportamento suicida e evitar que uma pessoa 
tome a decisão de suicidar. Temos como crençasou razões que uma 
pessoa considera importantes para não cometer suicídio: 
 
- Sobrevivência e coping (“Tenho coragem para enfrentar a vida”)
- Medo do suicídio (“Receio que o método não funcione”)
- Medo de desaprovação social (“Outras pessoas pensariam que sou 
fraco e egoísta”)
- Responsabilidade com a família ( “Não queria que a minha família 
pensasse que fui egoísta ou covarde”) 
- Preocupações com os filhos (“Não seria justo deixar meus filhos para 
os outros cuidarem”) 
- Objeções morais ("Minha crença religiosa me proíbe de fazê-lo”)
(LINEHAN et al., 1983).
 
Pessoas com história de tentativas de suicídio, em geral, apresentam 
menos razões para viver quando comparadas com aquelas sem 
história (LINEHAN et al., 1983).
 
Como as razões para viver operam como fatores protetivos aos 
comportamentos de riscos, assim quanto maiores razões para viver, 
menor possibilidade de comportamentos de riscos. 
 
Encontramos como motivos para viver :
• Relacionamentos significativos – suporte social como os afetos e 
sentimentos voltados para familiares e amigos (“Poder desfrutar da 
proteção da família", “Ser importante para os familiares”, 
“Compartilhar amizades”, “Convivência com pessoas queridas”)
• Atração pela vida - amor pela vida expresso pelo amor à própria 
vida e viver e pelo desejo de vivenciar momentos positivos e de viver 
com entusiasmo e otimismo (“O amor pela vida”, “A vontade de 
viver”, “Poder usufruir dos momentos que a vida oferece”, “O 
entendimento de que a vida é bela e vale a pena viver”)
• Planos para o futuro – planos e objetivos futuros (“Realizar 
conquistas”, “Realizar os sonhos que fazem parte da vida”, “Desejo 
de colocar em prática todos os projetos de vida”)
34
• Aspectos relacionados ao Eu – autoconhecimento, auto 
aperfeiçoamento e valorização pessoal (“A busca do meu equilíbrio 
interior”, “A busca da realização profissional”, “A vontade de 
aprender a cada dia”, “A busca da felicidade”)
• Virtudes – espiritualidade, humanidade, justiça e transcendência (“A 
certeza que a vida é um presente divino”, “Fazer o bem”, “Acreditar 
em dias melhores”)
(GOMES, 2015).
 
Os motivos para viver, satisfação com a vida e relações significativas 
atuam como fator protetivo de comportamentos de risco , como o 
comportamento suicida (HEISEL, FLETT, 2004).
 
Resiliência
Na prevenção do comportamento suicida é importante enfatizarmos 
fatores protetivos como a resiliência. 
A resiliência pode ser entendida como capacidade de se recuperar 
frente às adversidades da vida (MELEIRO, MELLO-SANTOS, WANG, 
2007) ou “capacidade de enfrentar positivamente uma adversidade e 
de encarará-la como oportunidade de aprendizagem e crescimento” 
(SOUZA, 2015). 
 
Uma pessoa resiliente consegue captar recursos internos e externos 
para gerar competências que lhe permitam responder de forma 
ajustada à determinada situação. Ela varia de acordo com a 
percepção de cada pessoa, sendo portanto particular e por isso, 
contribui para realização pessoal, bem-estar físico e psicológico e 
fortes relações interpessoais (SOUZA, 2015). Apesar da inexistência 
de um consenso quanto à definição de resiliência, a Associação 
Americana de Psicologia a define como “processo de adaptação bem-
sucedido frente às adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou 
fontes significativas de estresse” (AMERICAN PSYCHOLOGICAL 
ASSOCIATION, 2018).
 
Podemos observar a resiliência em fatores sociais, culturais, 
familiares e ambientais. Entre as características da resiliência 
relacionadas ao estilo cognitivo e a personalidade que favorecem a 
proteção ao comportamento suicida temos: senso de valor pessoal, 
confiança em si mesmo e em sua própria situação, busca de ajuda 
frente a dificuldades, aceitar conselhos diante de escolhas 
importantes, abertura para experiência, flexibilidade para 
aprendizagem e habilidade de comunicação (MELEIRO; MELLO-
SANTOS; WANG, 2007). 
35
A adoção de valores e tradições culturais específicos, espiritualidade, 
bom relacionamento interpessoal, apoio de pessoas significativas, 
integração social, participação em atividades esportivas e culturais e 
senso de propósito na vida representam características da resiliência 
dos fatores sociais e culturais protetivos do comportamento suicida. 
Entre as características da resiliência relacionadas ao padrão 
familiar verificam-se boas relações familiares, apoio familiar e laço 
materno e/ou paterno consistentes que favorecem a proteção ao 
comportamento suicida. Boa alimentação e sono, luz solar e exercício 
físico representam características da resiliência dos fatores 
ambientais protetivos (MELEIRO; MELLO-SANTOS; WANG, 2007).
 
Pessoas resilientes, em geral, apresentam como características: apoio 
social, habilidades e força interna e externa, assim: 
- O apoio social - "Eu tenho" - relaciona-se a fatores protetivos 
familiares e dos pares
- As habilidades - "Eu posso" - relaciona-se a autoconfiança e ao 
autocontrole
- A força interna - "Eu sou" - associa-se a autoestima e empatia
- A força interna - "Eu sou" - associa-se a autonomia e autoconfiança. 
Estas características permitem a pessoa enfrentar situações adversas 
e ainda, emergir mais forte delas (MUNITS et al., 1998).
 
Sabemos que a adolescência se caracteriza por um período de 
intensas mudanças físicas, psicológicas e culturais que permeia várias 
vulnerabilidades para comportamentos disfuncionais. Assim, 
compreendemos que favorecer a resiliência entre adolescentes implica 
superar potenciais efeitos negativos produzidos pela exposição a 
riscos através de estratégias positivas e de fortalecimento. 
Reconhecemos que jovens resilientes tem maior probabilidade de 
seguirem trajetórias positivas na vida adulta, independente das 
dificuldades enfrentadas (SOUZA, 2015; RAMOS-DÍAZ et al., 2015). 
 
Adolescentes resilientes avaliam com sucesso sua trajetória de vida, 
experimentam mais emoções positivas e menos emoções negativas 
(RAMOS-DÍAZ et al., 2015). Portanto, identifica-se relação entre 
resiliência e comportamento suicida, ou seja, quanto maior o nível de 
resiliência, menor o nível de ideação suicida (SOUZA, 2015).
 
Ressalta-se que a limitação identificada pelo paradoxo fragilização 
versus resiliência, isto é, da fragilização como um processo de 
perdas de seguranças existenciais e/ou sociais
36
 e a resiliência como resistência, pode ser superada pelo 
entendimento de que a resiliência é a capacidade de realizar um 
percurso inovador dentro do limite que as circunstâncias vivenciadas 
permitem, reconhecendo a fragilidade como própria do ser humano, 
assim ter capacidade resiliente em qualquer nível é ser saudável 
(OVIEDO, CZERESNIA, 2015).
 
 
Habilidades sociais
Diante de acontecimentos dolorosos torna-se importante avaliar se 
uma pessoa consegue encontrar soluções para um problema e dispõe 
de alternativas válidas e aceitáveis de enfrentamento. A resiliência 
emocional, a capacidade para resolver problemas e habilidades 
sociais podem reduzir o impacto das adversidades e, assim, 
contrabalançar o peso dos fatores de risco para o comportamento 
suicida (BOTEGA, 2015). 
 
Habilidades sociais são constructos descritivos de desempenhos 
individuais demandados por um contexto interpessoal específico 
garantindo uma maneira adequada de lidar com a situação (ROSIN-
PINOLA, DEL PRETTE, 2014). 
 
A aprendizagem de habilidades sociais e o aperfeiçoamento da 
competência social constituem processos que ocorrem 
“naturalmente”, por meio das interações sociais cotidianas ao longo 
da vida. Na infância e na adolescência, as práticas educativas na 
família e escola, juntamente com a experiência de convivência com os 
colegas, são as principais condições para a aquisição e o 
aperfeiçoamento das habilidades e competência social. Porém, 
quando essas práticas são desfavoráveis, surgem déficits de 
habilidades sociais e problemas de competência social que impactam 
negativamente as relações interpessoais e a qualidadede vida (DEL 
PRETTE, DEL PRETTE, 2011).
 
Categorização das habilidades sociais: 
• De comunicação: fazer e responder perguntas, gratificar e elogiar, 
pedir e dar feedbacks nas relações pessoais, iniciar, manter e 
encerrar uma conversa, adequabilidade de componentes verbais na 
forma de comunicação, duração, latência e regulação de fala
37
• De civilidade: dizer “por favor”, agradecer, apresentar-se, 
cumprimentar, despedir-se 
• Assertivas de enfrentamento: manifestar opinião, concordar, 
discordar, fazer, aceitar e recusar pedidos, desculpar-se e admitir 
falhas, estabelecer relacionamento afetivo/sexual, encerrar 
relacionamentos, expressar raiva e pedir mudanças de 
comportamento, interagir com autoridades, lidar com críticas
• Empáticas: parafrasear, refletir sentimentos e expressar apoio 
• De trabalho: coordenar grupo, falar em público, resolver 
problemas, tomar decisões e mediar conflitos
• De expressão de sentimentos positivos: fazer amizades, expressar 
solidariedade e cultivar o amor
(DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001).
 
Os comportamentos que compõem as habilidades assertivas e 
empáticas se complementam para maior aquisição de ganhos 
pessoais e da qualidade das relações com os outros. Nessas 
habilidades, os déficits estão associados a dificuldades nas relações 
interpessoais, o que pode levar ao isolamento social e transtornos 
psicológicos (FERNANDES; FALCONE; SARDINHA, 2012).
 
Aspectos sócio emocionais do vínculo parental, de amizade e escolar 
são essenciais para o desenvolvimento das práticas sociais assertivas 
da criança e do jovem adulto. Nessa direção identificamos a parceria 
entre escola e família como importante influência no desenvolvimento 
das habilidades sociais (GAVASSO, FERNANDES, ANDRADE, 2016).
 
Em geral, estudantes jovens com depressão tem risco aumentado de 
suicídio assim, se os sintomas são identificados precocemente e os 
jovens participarem de programas de intervenções para desenvolver 
suas habilidades sociais, os riscos poderão ser minimizados 
produzindo mais saúde e desempenhos social e escolar (ARADILLA-
HERRERO; TOMÁS-SÁBADO; GÓMEZ-BENITO, 2014).
 
 
 
Fatores de risco
A palavra risco, etimologicamente do francês risque, se traduz por 
perigo ou possibilidade de estar em perigo. O risco é compreendido 
em epidemiologia pela possibilidade de ocorrência de uma doença, 
agravo, óbito ou condição relacionada em determinado grupo 
(BOTEGA, 2015).
 
38
Encontramos como grupo de risco o "conjunto de pessoas que por 
apresentarem determinados atributos ou por terem sido expostas a 
circunstâncias específicas (fatores de risco), passam a ter maior 
probabilidade de desenvolver uma doença ou condição clínica” 
(BOTEGA, 2015). A determinação de fatores de risco auxilia na 
intervenção precoce na saúde.
 
Os fatores de risco do comportamento suicida possuem intensidade, 
duração e influência diferentes dependendo da fase da vida. Esses 
fatores podem ser divididos em predisponentes e precipitantes, sendo 
como predisponentes os fatores distais (situações traumáticas que 
aconteceram no passado distante) e como precipitantes os fatores de 
risco atuais (próximo ao comportamento suicida) (BOTEGA, 2015). 
 
Como fatores predisponentes vemos: transtornos psiquiátricos, 
tentativa prévia de suicídio, história de suicídio ou abuso sexual na 
infância, impulsividade/agressividade, isolamento social, doenças 
incapacitantes/incuráveis e alta recente de internação psiquiátrica. 
Como fatores precipitantes citamos: desilusão amorosa, separação 
conjugal, conflitos relacionais, derrocada financeira, perda de 
emprego, desonra/vergonha, embriaguez e fácil acesso a meio letal 
(BOTEGA, 2015). 
 
Principais fatores de risco para o comportamento suicida juvenil:
• Fatores sócio demográficos e educacionais - sexo (feminino, 
tentativa; masculino, suicídio), baixo status econômico, LGBT, 
dificuldade escolar
• Eventos negativos de vida individual e adversidades familiares - 
divórcio, separação ou morte parental, experiências adversas na 
infância, história de abuso físico ou sexual, história de transtorno 
psiquiátrico ou suicídio na família, discórdia parental ou familiar; 
bullying, dificuldades interpessoais
• Fatores psiquiátricos e psicológicos - transtorno mental (em especial 
depressão, ansiedade, TDAH), abuso de álcool e outras drogas; 
impulsividade, baixa autoestima e de resolutividade de problemas; 
perfeccionismo, desesperança
(HAWTON; SAUNDERS; O’CONNOR, 2012).
39
Desesperança
Destacamos como principais fatores de risco para o suicídio a 
dificuldade de acesso aos serviços de saúde, estigma associado à 
busca de ajuda, desastres e guerras, trauma e abuso, conflitos 
relacionais, falta de rede social de apoio, perdas, transtornos 
mentais, desesperança, dor crônica, fatores genéticos, tentativas 
anteriores de suicídio (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014).
 
Desesperança é sinônimo de desânimo, descrença, desespero, 
desengano, desilusão, desalento e desconsolação. Ela apresenta 
papel central para o ato e pensamentos suicidas, portanto, principal 
preditor de comportamentos suicidas (HERRESTAD; BIONG, 2010; 
HAYASHI, et al., 2012). 
 
A pessoa desesperançosa apresenta sentimentos e pensamentos 
negativos sobre o futuro, tende a prever o futuro sem expectativas, 
perde a motivação pela vida e pelo desejo de viver (MARBACK; 
PELISOLI, 2014).
 
Pensamentos comuns de uma pessoa desesperançosa: 
• “Eu não tenho nada a esperar, as coisas nunca vão melhorar”
• “Eu não vejo nada melhorar, não há razão para viver”
• “Eu não consigo suportar a vida, jamais poderei ser feliz”
• “Eu sou um peso para meus familiares, é melhor que fiquem sem 
mim”
• “Eu me sinto infeliz e só tenho uma saída”
(BECK, 2013)
 
Com esses pensamentos, ela pode não conseguir vislumbrar outra 
saída que não seja acabar com a própria vida, que apresenta-se como 
única maneira para lidar com problemas sem solução) (BECK, 2013). 
 
A pessoa desesperançosa também se sente anormal, defeituosa, 
imperfeita e, diante disso:
- Acredita que não tem valor
- Subestima suas potencialidades
- Tem propensão a analisar negativamente experiências
- Interpreta erroneamente as interações com o ambiente
- Tem visão negativa do futuro
- Espera por frustrações e infindáveis dificuldades
- Acredita na derrota
(BECK, 2013).
40
V A L O R I Z A Ç Ã O 
D A
V I D A
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A D O L E S C Ê N C I A
F E R R A M E N T A S 
V I V E N C I A I S
Capítulo 4
Enquadre Metodológico
O primeiro passo para o processo de adaptação ou elaboração de 
novas ferramentas vivencias consiste em responder as perguntas:
• Por que (objetivo da tarefa ou motivo pelo qual será realizada)
• O que (conteúdo que será trabalhado, o que é preciso saber, 
observar, desenvolver, etc.)
• Quem (grupo, público-alvo ou pessoas que o facilitador 
intercederá)
• Onde (local que serão realizadas as intervenções)
• Quando (duração da intervenção) 
• Quanto (verbas e custos)
(FAILDE, 2010).
 
Ressaltamos que a melhor aprendizagem é a vivencial, para tal 
torna-se importante percorrer cinco fases: 
 
Como enquadre metodológico apresentamos as ferramentas 
vivencias que orientaram o desenvolvimento de ações de 
valorização da vida e prevenção do comportamento suicida. 
 
As ferramentas propostas devem ser utilizadas em grupo de 
promoção da saúde. Entendemos esses grupos como uma 
intervenção coletiva e interdisciplinar de saúde caracterizada 
como um conjunto de pessoas ligadas por constantes de tempo, 
espaço e limites de funcionamento, que interagem 
cooperativamente a fim de realizar a tarefa da promoção de 
saúde (SANTOS et al., 2006). 
 
As ferramentas vivenciais podem operar como instrumento 
facilitador do processo de valorização da vida.
42
• Vivência propriamente dita (atividade) 
• Relato das emoções
• Avaliação do desempenho e o feedback recebido
• Analogias (insights)
• Compromisso com as atitudes de mudança
(GRAMIGNA, 1997). 
 
A atividade planejada respeitandoessas fases possibilita o estímulo 
tanto do hemisfério direito (nas fases de vivência e relato) quanto do 
esquerdo (nas fases de avaliação, análise e analogias). Assim, o 
trabalho de equilíbrio entre os hemisférios resulta num 
comportamento pautado pelo compromisso de forma racional e 
emocional (SILVA; MENDES, 2012).
 
O uso de ferramentas vivenciais, como possibilidade de aprendizagem 
vivencial, oportuniza aos participantes experimentarem determinada 
situação, analisá-la de forma crítica e aplicar o aprendido no cotidiano. 
As etapas do Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV) servem de base 
para a aplicação dessas ferramentas (GRAMIGNA, 1997).
 
Etapas do Ciclo de Aprendizagem Vivencial:
• Vivência: é a fase de fazer uma atividade que pode ser individual ou 
em grupo. Essa atividade deve estar de acordo com o objetivo da 
intervenção e ser atrativa, lúdica e interessante
• Relato: é o momento de expressar os sentimentos e emoções que 
pode ser individual ou coletiva. Essa expressão pode ser por relatos 
verbais, mural com registros, discussão livre (intermediada pelo 
facilitador), uso de figuras, símbolos ou cores, etc.
• Processamento: é a hora da análise do processo realizada pelo 
grupo. Pode-se utilizar analogias, questionários ou roteiros pré-
estabelecidos para avaliar dificuldades e facilidades, liderança, 
organização, planejamento, comunicação e administração de conflitos
• Generalização: é o momento da comparação entre a vivência e a 
realidade. Aqui podemos introduzir temas, informações técnicas, 
referenciais teóricos, etc., sempre levando em consideração a clareza, 
objetividade, atratividade e delimitação do tempo
43
• Aplicação: etapa que encerra o ciclo de aprendizado com reflexão e 
comprometimento com a mudança. Nessa etapa o participante tem a 
oportunidade de estabelecer seu papel como corresponsável na 
busca de melhorias e o facilitador de orientar na elaboração dos 
planos individuais ou grupal
(GRAMIGNA, 1997).
 
 
Dinâmica de grupo 
 
É uma ferramenta lúdica e reflexiva que deve ser norteada em 
função de tema e objetivos concretos. Essa ferramenta vivencial 
favorece o processo de aprendizagem ao possibilitar reflexão 
coletiva, socialização do saber e produção de conhecimento grupal 
e formação de vínculos (AZEVEDO; MELLO, 2009).
 
A dinâmica de grupo possibilita vivenciar uma experiência 
significativa por meio de uma situação simulada facilitando o 
processo de aprendizagem (KOLB, 1984). O aprendizado a partir da 
experiência permite ao participante ser, ao mesmo tempo, ativo e 
passivo, portanto agente transformador e também ser 
“transformado” pela vivência da experiência (SILVA, 2008).
 
Os objetivos de uma dinâmica de grupo podem variar, sendo comum 
como atividades de:
-Aquecimento - os participantes são incentivados a interagir e 
integrar
- Atividades de aprendizagem - os participantes aprendem alguma 
habilidade, reflexão ou mudança atitudinal
(SILVA, 2008). 
 
Elementos definidores de uma dinâmica:
- Ações de curta duração, tempo limitado, objetivos específicos, 
procedimentos e materiais previamente estabelecidos e direcionada 
por um facilitador (SILVA, 2008). 
 
Assim, o facilitador assume papel importante e para desempenhá-lo 
de maneira a garantir o bom andamento da dinâmica é necessário 
que assuma postura adequada, disponha de habilidades e considere 
os aspectos: 
44
• Habilidade de conduzir o grupo com espontaneidade
• Promover a integração entre os participantes
• Ter responsabilidade ética com o grupo, assumindo uma postura 
antiautoritária e humanista
• Evitar generalizações em relação ao comportamento do grupo, 
lembrando que cada grupo é singular e ímpar
• Evitar os juízos, sejam científicos ou provenientes de crenças 
populares, mitos ou pessoais que possam interferir no grupo
• Não permitir preconceitos, juízos de valores ou posicionamentos 
unidirecionais decorrentes do convívio social (idade, sexo, raça, 
cultura, religião, traços físicos, trejeitos pessoais, etc.
• Orientar-se pelo tempo dos participantes, observando os ritmos, 
rituais e crenças inerentes ao grupo e evitando atropelo
(MOTA, 2006).
 
 
Roda de conversa 
 
É um instrumento que possibilita a partilha de experiências e 
promoção de reflexões mediada pela interação com outras pessoas.
Refere-se como uma conversa em um ambiente que possibilita o 
diálogo, a escuta e a segurança dos participantes para partilhar, 
complementar, discordar ou concordar (MOURA; LIMA, 2014). 
 
Considerada tecnologia simples, prática e pouquíssimo dispendiosa, 
representa uma metodologia que contribui diretamente para:
- Saúde mental ao ampliar a comunicação interpessoal e promover a 
autonomia e empoderamento das pessoas frente aos desafios do 
viver (COSTA et al, 2015).
- Educação em saúde pela ação pedagógico-transformadora da 
participação de grupos em diferentes contextos (SAMPAIO et al, 
2014).
 
A roda de conversa proporciona aprendizado mútuo em função da 
troca de experiência e compartilhamento de determinado fato, 
inquietude ou (in)satisfação (SILVA, 2012).
45
Apresenta duração média de uma hora e sua continuidade deve ser 
pactuada com os participantes. As rodas devem ser 
operacionalizadas de forma pactuada buscando refletir a 
flexibilidade das relações podendo, mesmo depois de combinado, ser 
retomada e modificada.
Importantes pactuações nas rodas de conversa:
- Respeito a fala alheia, aos diferentes saberes, a garantia do sigilo e 
ao horário (contrato de convivência) (SAMPAIO et al, 2014).
 
Devemos organizar uma roda de forma que todos participantes 
possam se ver. Para organização do círculo podemos utilizar uma 
dinâmica e para iniciar a conversa utilizamos uma pergunta 
norteadora, história ou problema da temática a ser trabalhada 
(SAMPAIO et al, 2014).
 
A proposta das rodas de conversa é coerente com a promoção da 
saúde ao defender a construção de pessoas autônomas, críticas, 
reflexivas e livres, que se constituem no encontro com o outro de 
forma coletiva, democrática e participativa (SAMPAIO et al, 2014).
 
 
 
Jogos 
 
Ferramentas que permitem que o conhecimento seja adquirido e 
transposto para a realidade a partir de um ambiente lúdico e 
descontraído. Assim, os jogos podem ser utilizados para promover 
aquisição de conhecimentos e estímulo às ações de prevenção, 
controle dos agravos à saúde e ações transformadoras para a 
modificação de hábitos (MARIANO et al, 2013).
 
O jogo educativo possui objetivo didático e, apesar de ser um 
entretenimento tem regras que possibilita a aquisição de 
conhecimento além da construção de estratégias pelos participantes 
(PANOSS; SOUZA; HAYDU, 2015).
 
O jogo é um método que permite melhora do funcionamento 
cognitivo e habilidades psicomotoras, aumento da interação social e 
afetiva e armazenamento de informações com mais entusiasmo e 
estímulo por ser um entretenimento (GURGEL et al., 2017). 
46
Benefícios dos jogos educativos: 
- Estímulo da memória, atenção, raciocínio e criatividade
- Estímulo da autoconfiança, participação e expressão verbal
- Auxílio para desinibição
(VITTA et al., 2012; (GURGEL et al., 2017). 
 
A função motivadora dos jogos permite que o processo de 
aprendizagem desenvolva comportamentos que estimulem a solução 
de problemas, controle de estímulos e respeito as instruções 
(PANOSS; SOUZA; HAYDU, 2015).
 
Na adolescência a formação de ideias, atitudes e personalidade estão 
em processo de construção por isso, é importante que o processo 
educativo seja libertador para que a eficiência ensino/aprendizado 
seja alcançada (MARIANO et al., 2013). 
 
Assim, a utilização de jogos na aprendizagem pode despertar o 
engajamento na participação e discussão de temas que permeiam o 
cotidiano do adolescente. Reconhecemos que os jogos como 
ferramentas que relacionam mecanismos adaptativos e recreativos 
favorecerem a discussão de problemas práticos, como o 
envolvimento dos participantes em questões específicas da áreada 
saúde (OLIVEIRA, 2014; ARAÚJO et al., 2016).
 
 
 
 
Ferramentas virtuais
 
A escrita online e/ou comunicação virtual são comuns na 
adolescência contemporânea (FREITAS; SILVA, 2014). Por isso, 
entendemos que as Redes Sociais Virtuais ajudam jovens com 
potenciais riscos em função de possibilitar: 
- Comunicação de problemas, alcance de opções de ajuda e 
avaliação/intervenção de risco (programas de prevenção ao suicídio)
(LUXTON et al., 2012; CHENG et al., 2015).
47
No Brasil, temos como perfil dos usuários que utilizam a Internet:
- 76% acessa a Web diariamente para busca de informações (67%), 
diversão e entretenimento (67%), passar o tempo livre (38%) e 
estudo (24%)
- Maior acesso de jovens com até 25 anos (65%) 
- Maior utilização das Redes Sociais Virtuais: Facebook (83%), 
Whatsapp (58%), Youtube (17%), Instagram (12%) e Google (8%) 
(BRASIL, 2014).
 
Ressaltamos que a mídia pode exercer papel de grande influência 
na prevenção do suicídio, independente da forma de sua 
apresentação (livros, jornais, revistas impressos ou no formato 
digital) (GOMES et al., 2014). 
 
Como característica ela veicula relatos de suicídio de maneira 
apropriada e cuidadosa ajudando na prevenção desse tipo de morte 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000).
48
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Capítulo 5
Dinâmicas de grupo para 
Valorização da Vida e 
Prevenção do 
Comportamento Suicida 
Neste capítulo descrevemos as dinâmicas de grupo para 
valorização da vida e prevenção do suicídio:
 
• 
• Dinâmica de grupo: Tomografia da vida
• Dinâmica de grupo: FlorEser 
• Dinâmica de grupo: Eletrocardiograma da esperança
• Dinâmica de grupo: Ponte da Vida
50
Dinâmica de grupo:
Tomografia da vida
 
Temáticas geradoras:
Fatores de proteção
Razões para viver
 
Objetivos:
Identificar representações icônicas e verbais de razões para viver
Refletir sobre as razões para viver
Fortalecer fatores de proteção do comportamento suicida
 
Participantes:
Grupo de 15-20 adolescentes
 
Tempo estimado:
60-90 minutos
 
Material:
Desenho dos hemisférios cerebrais impressos em papel A4, lápis ou 
canetas coloridas
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Espaço físico:
Uma sala com mesas e cadeiras
51
Desenvolvimento:
• Distribuir um desenho dos hemisférios cerebrais para cada 
participante. A partir de agora o desenho representará a CABEÇA de 
cada um
 
• Explicar aos participantes que o cérebro é formado por dois 
hemisférios, o esquerdo e o direito. O hemisfério esquerdo é o 
responsável pelas atividades racionais e analíticas (linguagem, escrita, 
aritmética, pensamento linear e comunicação digital). Por sua vez, o 
hemisfério direito responde pelas atividades sensoriais, emocionais e 
globais (intuição, síntese, comunicação analógica e compreensão da 
linguagem, música, sonhos e gestos inconscientes)
 
• Pedir aos participantes identificarem no desenho os hemisférios 
cerebrais (esquerdo e direito)
 
• Então, perguntar: “O que tem no hemisfério cerebral esquerdo que 
apresenta valor na sua VIDA?” “Que números, datas, nomes, frases, 
histórias (representação verbal ou numérica) que tem valor na sua 
VIDA?” Cada participante deverá responder preenchendo o desenho
 
 • Em seguida perguntar: “O que tem no hemisfério cerebral direito 
que apresenta valor na sua VIDA?” “Que figuras, imagens, símbolos, 
desenhos (representação icônica ou imagética) que tem valor na sua 
VIDA?” Cada participante deverá responder preenchendo o desenho
 
Fechamento
O facilitador convida os participantes para fazerem um relato da 
experiência e significado da dinâmica
Finalizar convidando a reflexão de que o valor da vida se encontra na 
identificação, construção e reconstrução das representações verbais 
ou numéricas e icônicas ou imagéticas significativas da história de 
vida de cada um
 
Variações
Podemos variar utilizando:
- Revistas ou jornais e pedir aos participantes colarem nos respectivos 
hemisférios cerebrais o que tem valor na VIDA.
- Pincéis e tintas e pedir que pintem o que tem valor na VIDA
- Touca plástica descartável e pedir que pintem ou desenhe nos 
respectivos hemisférios cerebrais o que tem valor na VIDA
52
Dinâmica de grupo:
Flor-E-Ser
 
Temáticas geradoras:
Fatores de proteção
Resiliência
 
Objetivos:
Refletir sobre a importância da resiliência em nossas vidas
Fortalecer fatores de proteção do comportamento suicida
 
Participantes:
Grupo de 20-30 pessoas
A dinâmica pode ser aplicada em grupo formado por adolescentes, 
professores, pais ou responsáveis
 
Tempo estimado:
60-90 minutos
 
Material:
Papel de seda recortados no tamanho de 10x15 cm de várias cores de 
acordo com o número de participantes
 
Espaço físico:
Sala ampla que acomode todos participantes
A dinâmica pode ser realizada em roda com os participantes sentados 
em cadeiras ou no chão
 
Desenvolvimento:
• Distribuir uma folha de papel de seda da cor escolhida por cada 
participante. A partir de agora a folha de papel representará a VIDA 
de cada um
 
• Pedir aos participantes que observem as características de cada 
lado da folha (um lado liso e brilhante e outro áspero e fosco). 
Perguntar ao grupo como relacionar essas características com a 
própria vida. Comentar que a folha, como a vida, é composta por 
momentos bons, tranquilos e agradáveis e outros duros, ruins e 
desagradáveis
53
• Pedir aos participantes segurarem as folhas numa das pontas, 
fazendo-as balançar para ouvir o barulho (a vibração). Então, 
perguntar: “O que faz sua vida vibrar e brilhar?", "O que faz sua vida, 
ter luminosidade?” Cada participante deverá responder. Comentar 
que nem sempre nossa vida vibra
 
• Perguntar quais são as situações ou acontecimentos que fazem nossa 
vida perder o brilho e vibração (decepção, desrespeito, indiferença, 
traição, inveja, ciúme, violência etc.). Solicitar a ajuda do grupo para 
que citem outros exemplos, e cada palavra enunciada, pedir que 
amassem o papel, até ficar uma bolinha. Após cada um amassar o 
papel e verbalizar, questionar se acontecem somente com uma pessoa 
ou se em geral, todos podemos viver tais situações ou acontecimentos
 
• Com a bolinha na mão, o facilitador pergunta ao grupo: “O que 
devemos fazer com esta bolinha agora?”. Talvez alguns digam para 
jogá-la fora. Nesse momento, questionamos: “Como vamos jogar fora 
a nossa vida? O que podemos fazer?”. Alguém poderá dizer para 
reconstruí-la. “Mas como?” O facilitador, então, deve motivar o grupo 
a falar palavras de vida (emprego, amor, amizade, justiça ...), e a cada 
palavra vai-se abrindo novamente a folha de papel
 
• Com a folha de papel aberta, o facilitador pergunta: “Mas e agora? 
Está cheio de rugas? São as rugas do tempo; assim como na nossa 
vida. O que fazer? Vamos ver se a vida ainda vibra?”. Nesse momento, 
pede ao grupo para balançar a folha. Agora a vibração é bem menor. 
“Podemos abrir e tentar tirar as marcas alisando o papel, mas são 
permanentes e não vibrará tanto quanto antes. Essas marcas do papel 
e sua vibração menor com o que podemos relacionar com a vida?”
 
• Solicitar que todos dobrem a folha ao meio e recortá-las em 2 partes. 
Juntando essas partes, pede para recortá-las novamente, ficando 
agora com 4 partes. A facilitadora pede aos participantes trocarem as 
partes, de maneira que cada um fique com 4 partes de cores diferentes
 
• Agora pedir para formarem um asterisco com as partes e depois 
colocarem o dedo indicador no centro para modelar uma flor
 
 
54
Fechamento
O facilitador convida os participantes para fazerem um relato de 
sua experiência e significado da dinâmica
Finalizar convidando as reflexões:
- A vida, por mais dolorida e cheia de rugas, ainda pode florescer
- A vida, às vezes, perde a vibração, mas nunca é tarde para 
florescer
- Que a gente possa florescer onde a vida nos plantar
 
Variações
Podemos variar utilizando:
- Palito de churrasco como cabo da flor

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