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V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Nadja Cristiane Lappann Botti, Natalia Milagre Brezolini, Aline Conceição Silva, Érica Domingues de Souza, Daniela Aparecida de Faria, Daniella Almeida Silva Brum, Lidiani Vanessa da Silva, Michele Mariano Rodrigues, Talita Rosália Santos Teles, Suzane Pereira Lopes , Camila Corrêa Matias Pereira Di ag ra m aç ão A na E lis a La pp an n Bo tt i M ir an da REV ISA DO Nadja Cristiane Lappann Botti Natalia Milagre Brezolini Aline Conceição Silva Érica Domingues de Souza Daniela Aparecida de Faria Daniella Almeida Silva Brum Lidiani Vanessa da Silva Michele Mariano Rodrigues Talita Rosália Santos Teles Suzane Pereira Lopes Camila Corrêa Matias Pereira 1a edição Divinópolis UFSJ 2018 Valorização da vida na adolescência Ferramentas vivenciais B751v Botti, Nadja Cristiane Lappann. Valorização da vida na adolescência: ferramentas vivenciais. [recurso eletrônico] / Nadja Cristiane Lappann Botti, Natália Milagre Brezolini e Aline Conceição Silva. – Divinópolis: UFSJ, 2018. 106p.: Il. ISBN: 978-85-8141-099-9 1. Suicídio - prevenção. 2. Saúde mental. 3. Valorização da vida. 4. Adolescência. I. Botti, Nadja Cristiane Lappann. II. Brezolini, Natalia Milagre. III. Silva, Aline Conceição. IV. Souza, Érica Domingues de. V. Faria, Daniela Aparecida de. VI. Brum, Daniella Almeida Silva. VII. Silva, Lidiani Vanessa da. VIII. Rodrigues, Michele Mariano. IX. Teles, Talita Rosália Santos. X. Lopes, Suzane Pereira. XI. Pereira, Camila Corrêa Matias CDU: 94.86:614(81) “Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... que me tornam mais pessoa, mais humano, mais completo. E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de ‘nós’.” Cora Coralina Prefácio .................................................................................... 6 Capítulo 1 Particularidades do Comportamento Suicida na Adolescência ... 10 Capítulo 2 Conceitos Fundamentais da Suicidologia .................................. 21 Capítulo 3 Enquadre Teórico .................................................................... 32 Capítulo 4 Enquadre Metodológico .......................................................... 42 Capítulo 5 Dinâmicas de grupo para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida ......................................................... 50 Dinâmica de grupo: Tomografia da vida ................................... 51 Dinâmica de grupo: Flor-E-Ser................................................. 53 Dinâmica de grupo: Eletrocardiograma da esperança .............. 56 Dinâmica de grupo: Ponte da Vida .......................................... 58 Capítulo 6 Rodas de Conversa para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida .......................................................... 61 Roda de conversa: 13 Alertas .................................................. 62 Roda de conversa: Cordel para Vida ....................................... 65 Roda de conversa: I life ........................................................... 67 Roda de conversa: Marcadores de valorização da vida ............ 69 Roda de conversa: CD da sofrência .......................................... 71 Capítulo 7 Jogos para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida ................................................................................... 74 Jogo: Quebra cabeça .............................................................. 75 Jogo: Acróstico de valorização da vida .................................... 77 Jogo: Pilares da Vida .............................................................. 79 Jogo: Tabuleiro do Mito X Verdade ........................................... 81 SUMÁRIO Capítulo 8 Ferramentas Virtuais para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida .......................................................... 84 Ferramenta virtual: CVV chat................................................... 85 Ferramenta virtual: Facebook ................................................. 86 Ferramenta virtual: Twitter ..................................................... 88 Ferramenta Virtual: Instagram ............................................... 89 Ferramenta virtual: Tumblr..................................................... 90 Ferramenta virtual: Google ..................................................... 91 Referências ............................................................................. 93 Sobre os autores ................................................................... 103 SUMÁRIO V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Prefácio Este livro é uma iniciativa do Grupo de Trabalho de Valorização da Vida e Suicidologia da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Campus Centro Oeste Dona Lindu, como produto da linha de pesquisa: Valorização da Vida. Essa linha visa o desenvolvimento de metodologias inovadoras de valorização da vida e prevenção do suicídio; efetivação de parcerias acadêmico-institucionais para capacitação comunitária e profissional sobre prevenção e posvenção do suicídio e divulgação dos processos, produtos e resultados do grupo. Valorização da vida na adolescência – ferramentas vivenciais foi incubado durante a disciplina Tópicos Avançados em Suicidologia ministrada no 1º semestre de 2017 na UFSJ. Nesta disciplina tivemos a apresentação de produtos de valorização da vida e prevenção do suicídio entre adolescentes. As ferramentas vivenciais apresentadas neste livro são adaptações e/ou construções próprias dos autores. Como especial contribuição tivemos a colaboração de: Bruna Pena, Arielle Martins, Michele Mileib, Érika Lagares e Adriana Resende Milagre. No 2º semestre de 2017 as ferramentas vivenciais foram utilizadas em oficinas de capacitação para intervenção de valorização da vida e prevenção do suicídio pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adolescente (REMSA) da UFSJ. Portanto, esse livro reúne ferramentas vivenciais de valorização da vida e prevenção do suicídio na adolescência e tem como objetivo: favorecer a criação de rede de apoio e detecção precoce de comportamentos de risco; fortalecer redes de proteção e apoio ao adolescente (saúde, assistência social, educação e familiar); promover saúde mental na adolescência e facilitar a identificação precoce de adolescentes em risco. O 1º capítulo desse livro - Particularidades do Comportamento Suicida na Adolescência – apresenta o problema do comportamento suicida na adolescência; mitos e epidemiologia do suicídio no mundo, nas Américas e no Brasil; política pública de prevenção do suicídio e intervenções de valorização da vida e prevenção entre adolescentes. 6 No 2º capítulo - ConceitosFundamentais da Suicidologia, apresentamos conceitos importantes para o entendimento do campo da suicidologia como: ameaça, comunicação e conduta suicida, fatores de proteção e de risco, ideação, intencionalidade e plano suicida, posvenção, prevenção (indicada, seletiva e universal), psychache, resiliência, risco suicida, suicídio, tentativa de suicídio e vulnerabilidade. No 3º capítulo - Enquadre Teórico – encontramos as temáticas geradoras que orientaram a construção das dinâmicas de grupo, rodas de conversa e jogos de valorização da vida e prevenção do comportamento suicida. As temáticas utilizadas foram: fatores de proteção e de risco, razões para viver, resiliência, habilidades sociais e desesperança. Em seguida, vem o 4º capítulo - Enquadre Metodológico – com as ferramentas vivenciais que orientaram o desenvolvimento das diversas ações. Acreditamos que as ferramentas vivenciais podem operar como instrumento facilitador do processo de valorização da vida e prevenção do suicídio. No 5º capítulo - Dinâmicas de grupo para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida – descrevemos dinâmicas de grupo que visam fortalecer fatores de proteção do comportamento suicida; identificar fatores de risco; ampliar o repertório de habilidades sociais e refletir sobre a importância de razões para viver e da resiliência em nossas vidas. Já no 6º capítulo - Rodas de Conversa para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida - descrevemos rodas de conversa que tem como objetivo: favorecer a expressão de fatores de proteção e de risco do comportamento suicida; esclarecer dúvidas sobre mitos e verdades; favorecer a integração dos participantes de forma que possam compartilhar suas experiências de vida valorizando a diversidade de saberes e proporcionar espaço efetivo de expressão e reflexão. 7 Em seguida, vem o 7º capítulo - Jogos para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida – com a descrição dos jogos que visam de forma lúdica desenvolver habilidades e conhecimentos acerca dos fatores de risco e proteção do comportamento suicida, além de favorecer a construção de habilidades sociais, prática de convivência e integração dos participantes. No 8º capítulo - Ferramentas Virtuais para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida – descrevemos as ferramentas virtuais para valorização da vida e prevenção do suicídio como CVV Web, Facebook, Twitter, Instagram, Tumblr e Google. Por último, Sobre os Autores – apresentamos o mini currículo dos autores. Enfim, desejamos que façam boa leitura desse livro, pois acreditamos que os capítulos aqui expostos reúnem ferramentais vivenciais valiosas do potencial de práxis e reflexões para os interessados em enveredar no campo da valorização da vida e prevenção do suicídio. Que façamos desta leitura instrumento de inquietação e de militância por saberes e fazeres engajados na valorização da vida e prevenção do suicídio 8 V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Capítulo 1 Particularidades do Comportamento Suicida na Adolescência A adolescência é uma etapa do desenvolvimento do ciclo da vida humana marcada por inúmeras transformações físicas, emocionais e sociais; por isso um sofrimento vivenciado nessa etapa pode deixar profundas marcas. O comportamento suicida pode ocorrer como reflexo de conflitos internos, sentimentos de depressão e ansiedade que acompanham a reorganização física, psíquica e social, comum nessa fase da vida (MOREIRA et al., 2010). É comum, comportamentos ligados a doença, lesões, mortalidade ou outras condições negativas terem sua origem na adolescência. Consumo de álcool e cigarro, uso de drogas ilícitas, comportamentos sexuais de risco, agressão e delinquência apresentam maior índice de surgimento nessa etapa da vida (HALE; VINER, 2016). Os comportamentos auto prejudiciais na adolescência, comumente tido como resposta de rebeldia, podem, de fato, ter associação com sentimentos de tristeza ou desesperança (JAMES et al., 2017). O quadro de emergência psiquiátrica mais comum entre adolescentes é o comportamento suicida. Dentre os adolescentes que recorrem aos serviços de pronto-atendimento por motivos psiquiátricos, mais de 75% têm acima de 13 anos (maioria do sexo feminino) e 50% dos atendimentos envolvem tentativas de suicídio (QUEVEDO; CARVALHO, 2014). O comportamento suicida é um fenômeno multifacetado, que ultrapassa os limites de um único campo do conhecimento; multifatorial, com fatores sociais (credo religioso, família, política, grupo social), disposições psíquicas e características do ambiente físico e social. Ressaltamos que os processos cognitivos de imitação são preocupantes por sua importante prevalência como fator associado do suicídio na adolescência (KUCZYNSKI, 2014). Ressaltamos que o comportamento suicida é: - um fenômeno complexo - não possui uma única causa - influenciado por diversos fatores que atuam em múltiplos níveis (individual, familiar e social) 10 Os adolescentes podem apresentar ideação suicida como forma de expressão de sofrimento, geralmente em função de um conflito interno, e por isso a morte pode ser encarada como solução. Nesse caso, esses pensamentos podem assinalar algo que, de fato, ultrapassa as características próprias da adolescência (MOREIRA; BASTOS, 2015). A prevalência de ideação suicida entre adolescentes é alta e, geralmente, relacionada com depressão, consumo de álcool e de outras drogas, violência física, problemas de relacionamento com pais, tristeza e solidão. Portanto, a ideação pode ser prevenida, desde que o adolescente receba acompanhamento nessas situações (MOREIRA; BASTOS, 2015). Como fatores associados à ideação suicida encontramos: baixa escolaridade da mãe, dificuldade escolar do adolescente, sedentarismo, consumo de álcool e outras drogas e comportamento agressivo (SOUZA et al., 2010). As ideias suicidas (na infância e adolescência) fazem parte do processo de desenvolvimento de estratégias para que possam lidar com problemas existenciais. Ressaltamos que a preocupação surge quando o suicídio se coloca como única alternativa de resposta aos problemas e dificuldades (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2012). Assim, a ideação suicida precisa ser diferenciada dos pensamentos +/-mórbidos que buscam responder interrogações existenciais características da adolescência. Os aspectos que distinguem um jovem saudável de um que se encontra em crise suicida referem-se: - A intensidade, profundidade e duração dos pensamentos - O contexto em que os pensamentos surgem - A impossibilidade de se distanciar dos pensamentos (SOUZA, 2010; SOUZA et al., 2010). Os adolescentes que apresentam ideação suicida se auto representam como pessoas sozinhas, com sentimentos de desesperança e solidão e que expressam pedido de ajuda diante do sofrimento (ARAÚJO; VIEIRA; COUTINHO, 2010). 11 Os fatores de risco são elementos que podem desencadear ou associar-se ao desenvolvimento do comportamento suicida, não sendo, necessariamente, o fator causal. Os adolescentes são mais propensos ao imediatismo e impulsividade e em detrimento da imaturidade emocional podem encontrar maior dificuldade para lidar com estressores agudos tornando-se desencadeantes de atos suicidas (BOTEGA, 2015). A seguir apresentamos o esquema dos principais fatores de risco do comportamento suicida infantojuvenil: (HAWTON; SAUNDERS; O’CONNOR, 2012; NOCK, 2014; BOTEGA, 2015) 12 Adolescentes que tentam suicídio sentem desespero e desesperança. O desespero decorre do desejo de mudanças urgentes na vida e a desesperança em função de dúvidas se tais mudanças ocorrerão e da crença que a vida é impossível se as mudanças não acontecerem. Os principais acontecimentos vitais que costumam desencadear uma tentativa de suicídio são:perdas e/ou rompimentos afetivos, desentendimentos familiares e experiências de humilhação que diminuem a autoestima (como o fracasso escolar) (HAWTON; SAUNDERS; O’CONNOR, 2012; NOCK, 2014; BOTEGA, 2015). Ressaltamos a importância da reflexão sobre mitos comuns do comportamento suicida juvenil: (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014) 13 O Relatório Global para Prevenção do Suicídio, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresenta dados relevantes sobre a epidemiologia do comportamento suicida: (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014) 14 O Relatório Sobre Mortalidade por Suicídio nas Américas, publicado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), mostra dados epidemiológicos importantes das Américas e Brasil: * Estima-se em 6,4% o percentual de subnotificação em relação aos registros de mortalidade por suicídio. (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 2014) 15 O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz é responsável pela elaboração do Mapa da Violência no Brasil que contem estudos detalhados sobre os índices de violência. Ele afirma que a violência não é um fenômeno natural, mas determinado por fatores específicos que podem ser removidos. A seguir apresentamos o retrato da mortalidade brasileira por suicídio entre adolescentes: Em 2012, de acordo com o Mapa da Violência, encontramos 117 mortes por suicídio entre adolescentes de 10 e 14 anos e 675 mortes entre 15 e 19 anos. Assim, entre 1980 e 2012, houve aumento de 61,8% e 25,6%, respectivamente, dos registros de suicídios entre adolescentes (WAISELFISZ, 2014). No país, entre 2000 e 2008, foram registrados 6.574 suicídios de adolescentes (10 a 19 anos), portanto uma média de 730 mortes/ano (SOUZA, 2010). O Boletim Epidemiológico, publicado pelo Ministério da Saúde, apresenta dados relevantes sobre a situação epidemiológica das lesões autoprovocadas e das tentativas de suicídio no país: (WAISELFISZ, 2014) 16 Nesse contexto de aumento da incidência de suicídio entre jovens e maior frequência entre 15 e 19 anos, torna-se necessário a criação de estratégias de saúde do adolescente que permitam valorização da vida e prevenção do comportamento suicida a fim de evitar perdas de potenciais anos de vida (CANTÃO; BOTTI, 2014). Ressaltamos que é no ambiente escolar, no qual o adolescente estabelece importantes vínculos que tem efeitos a longo prazo sobre seu comportamento que intervenções direcionadas para promoção de estilos de vida saudáveis são investimentos seguros a favor da saúde mental (MARTINS; HORTA; CASTRO, 2013; MINAS GERAIS, 2006; SANTOS, 2014). A escola pode desempenhar importante papel no desenvolvimento saudável do adolescente por ser ambiente privilegiado para práticas promotoras de saúde (BRASIL, 2009). Encontramos como importantes ações: desenvolvimento de competências pessoais e sociais, aumento da resiliência, promoção da autoestima, criatividade, esperança e autonomia, criação de clima de convivência amigável, sensibilização para o autocuidado e promoção da equidade entre os alunos. Essas ações que devem incluir todos membros da comunidade escolar além de pais e profissionais da saúde (MINAS GERAIS, 2006; SANTOS, 2014). (BRASIL, 2017) 17 A OMS reconhece jovens como grupo vulnerável ao comportamento suicida, por isso são necessários esforços de prevenção para esse grupo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014). A partir da década de 1990, a OMS passou a considerar o suicídio como problema de saúde pública incentivando a criação de planos nacionais para sua prevenção. No Brasil, em 14 de agosto de 2006, foi publicada a Portaria nº 1.876 instituindo as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio e recomendando várias estratégias preventivas (BRASIL, 2010). Em 2017, tivemos a publicação da Agenda de Ações Estratégicas, visando a ampliação e o fortalecimento das ações de vigilância e prevenção do suicídio (BRASIL, 2017). O conjunto de ações estratégicas para a promoção de saúde, vigilância, prevenção do suicídio e atenção à saúde foi estruturado em Eixos de Atuação relacionados com as Diretrizes Nacionais. Encontramos como Eixos de Atuação: - Eixo I: Vigilância e Qualificação da Informação - Eixo II: Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde - Eixo III: Gestão e Cuidado (BRASIL, 2017). Ações estratégicas do Eixo II: “Fortalecer e disseminar, em articulação com o Ministério da Educação, as ações, conteúdos, materiais do componente de promoção da saúde do Programa Saúde na Escola ou iniciativas já existentes de prevenção de violências e promoção da cultura da paz, prevenção do uso prejudicial de álcool e outras drogas, prevenção do suicídio e desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais para estudantes, professores, demais profissionais da escola, familiares e comunidade” (BRASIL, 2017, p. 17). 18 Como importantes intervenções de valorização da vida e prevenção do suicídio temos: • Projeto + Contigo - intervenção em rede que inclui profissionais de saúde, educação, alunos, pais ou responsáveis e tem como objetivos: - promover a saúde mental e bem-estar em jovens - prevenir comportam] entos da esfera suicida - combater o estigma em saúde mental - criar uma rede de atendimento de saúde mental - promover habilidades sociais, autoconceito, capacidade de resolução de problemas e assertividade na comunicação - melhorar a expressão e gestão de emoções - detectar precocemente situações de distúrbio mental - fortalecer redes de apoio nos serviços de saúde • Programa de conscientização da depressão entre adolescentes – programa curricular que busca informar alunos, professores e dirigentes sobre a depressão em função de considerá-la como principal causa do risco suicida, especialmente em adolescentes • Sinais do Suicídio - programa que contém dois componentes principais. O 1º é um conjunto de materiais didáticos que inclui vídeo e guia de discussão contendo: dramatização de sinais de depressão e risco de suicídio, recomendações frente alguém deprimido e com comportamento suicida e entrevistas com pessoas cujas vidas foram marcadas pelo suicídio. O 2º componente é um instrumento de triagem usado para avaliar o risco de depressão e suicídio • Cuidar, Avaliar, Responder, Empoderar - desenvolvimento de uma rede entre alunos, professores e familiares a fim de acolher adolescentes com ideação suicida identificados por screening computacional realizado na escola. Os alunos com maior risco também participam de sessões de aconselhamento • Fonte de Força - capacitação de diretores e representantes dos alunos que possuem a missão de identificar o risco suicida e pedir ajuda em tais casos (SANTOS et al., 2013; BUSTAMANTE; FLORENZANO, 2013). 19 V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Capítulo 2 Conceitos Fundamentais da Suicidologia Nesse capítulo apresentamos conceitos importantes para entendimento da suicidologia. Como suicidologia encontramos o estudo científico (ciência) do comportamento suicida em seus aspectos de: prevenção, intervenção e reabilitação (FECHIO, 2008). O termo é derivado da palavra suicídio, surgindo no final do século XVII, como campo de pesquisa que tem como objeto de estudo o fenômeno do suicídio (MELEIRO; TENG; WANG, 2004). Ainda encontramos suicidologia como estudo de diversas áreas de conhecimento sobre assuntos relacionados ao suicídio (VABO et al., 2016). Reconhecemos a suicidologia como uma área de estudo multiprofissional dedicada ao estudo de fenômenos suicidas e sua prevenção (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Ameaça suicida Ameaça suicida refere-se ao ato interpessoal de comunicação ou sugestão de que um comportamento suicida poderá ocorrer num futuro próximo (SANTOS, 2009). Portanto, a ameaça é uma informação que transmite a ideia de um possível ato de uma pessoa acabar com a própria vida (AMERICAN PSYCHOLOGICALASSOCIATION, 2010). Como ameaça suicida encontramos as comunicações verbais ou escritas a pessoas próximas revelando o desejo ou intenção de se matar (FECHIO, 2008). Comunicação suicida Comunicação é a transmissão de informações, de maneira verbal (oral ou escrita) ou não verbal (atitudes e comportamentos). Em função da comunicação torna-se possível comunicar sentimentos, experiências e propósitos sociais, pessoais ou interpessoais. Na comunicação suicida as informações se referem aos pensamentos, sentimentos e comportamentos que transmitem o desejo suicida ou as causas apontadas para o ato (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). A comunicação suicida, verbal ou não-verbal, inclui direta e indiretamente expressões de desesperança, intolerância à dor física e emocional e aquisição de objetos que possam ser utilizados como meios de suicídio (BARBOSA; ASNTOS; PERES, 2011). 21 Classificação da comunicação suicida: • Direta verbal – expressam explicitamente os desejos de uma pessoa colocar fim a sua vida (“Vou me matar”, “Vou suicidar”, “O que tenho que fazer é acabar com a vida de uma vez por todas”) • Direta não verbal – expressam determinados atos que indicam a possibilidade de que ocorra, em breve, um ato suicida (procurar acesso aos métodos, deixar notas de despedida, distribuir bens, etc.) • Indireta verbal - expressam intenções suicidas que estão implícitas em sua mensagem (“Quem sabe não nos veremos mais”, “Quero ser lembrado como uma pessoa que, apesar de tudo, não foi má”) • Indireta não verbal - realização de atos que não indicam uma possibilidade suicida iminente mas estão relacionados com uma morte prematura (fazer testamento, planificar os funerais, ter predileção por temas relacionados ao suicídio etc.) (FECHIO, 2008). Conduta suicida Conduta suicida também referida como comportamento suicida caracteriza-se como comportamento de uma pessoa em ocasião específica que demonstra a intenção de suicidar ou de condutas autodestrutivas (FECHIO, 2008; AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010; OLIVEIRA, AMÂNCIO E SAMPAIO, 2012). Como conduta suicida encontramos o continnum envolvendo pensamentos, intenção suicida, tentativas de suicídio e o próprio suicídio (FECHIO, 2008). Nesse sentido refere-se a qualquer ato de: tentativa em si, ideação suicida sem tentativas, risco de suicídio, planificação e execução do suicídio independente do grau ou intenção de letalidade (KOHLRAUSCH et al., 2008; BTESHE, 2013). Fatores de proteção Como fatores de proteção temos as ações que modificam, melhoram ou alteram a resposta de uma pessoa a algum perigo que predispõe a riscos de desadaptação ou que influenciam a ter uma vida mais saudável e produtiva (BRINO, GIUSTO BANNWART, 2011) 22 Esses fatores estão relacionados, de modo geral, com habilidades cognitivas, flexibilidade emocional e integração social (BOTEGA, 2015). Em relação ao suicídio caracterizam-se como fatores de proteção: as características, situações ou circunstâncias que minimizam os impactos dos fatores de risco e a possibilidade de suicídio (BERTOLOTE, 2012; BRAGA; DELL’AGLIO, 2013). Esses fatores podem estar ligados a fonte de prazer, contato gratificante com familiares ou amigos, estilo cognitivo, característica de personalidade, habilidade de resolução de problemas e conflitos, apoio da família e da comunidade e cuidados de saúde (GONÇALVES; FREITAS; SEQUEIRA, 2011). Fatores de risco Como fatores de risco temos os atributos que conferem a uma pessoa grau variável de suscetibilidade para contrair determinada enfermidade ou alteração de saúde ou circunstâncias específicas que aumentam a probabilidade de desenvolver uma doença ou condição clínica (FECHIO 2008). Assim, os fatores de risco são variáveis que tendem a aumentar a probabilidade de uma pessoa apresentar problemas físicos, sociais e emocionais (POLETTO; KOLLER, 2008). Os fatores de risco podem ser divididos em: - Predisponentes relacionado a predisposição e acontecimentos passados distantes - Precipitantes relacionados a acontecimentos mais recentes, que antecederam o desenvolvimento da condição de uma pessoa (BOTEGA, 2015). Em relação ao suicídio caracterizam-se como fatores de risco: as características, situações ou circunstâncias que aumentam a probabilidade de uma pessoa cometer o suicídio, sem perspectiva de causalidade para sua ocorrência. Os fatores de risco podem ser: - Proximais ou precipitantes – situações que têm proximidade com o ato suicida - Distais ou predisponentes – condições mais permanentes de vida ou personalidade (BERTOLOTE, 2012). 23 No caso do suicídio são fatores que aumentam a probabilidade de sua ocorrência como: características de personalidade (impulsividade e agressão), isolamento social, condições econômicas, transtornos psiquiátricos, depressão, meios disponíveis, abuso de drogas, histórico de abuso, etc. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014). Ideação suicida A ideação suicida configura-se como importante preditor de risco de suicídio por isso é considerada o primeiro “passo” para sua efetivação (BRAGA; DELL’AGLIO, 2013; FONSECA; LOBO, 2015). Como ideação suicida entendemos quaisquer pensamentos, imagens, crenças, vozes ou outras cognições relacionadas a terminar intencionalmente com a própria vida (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). Se refere a pensamento que engloba desejos, atitudes ou planos que a pessoa tenha para se matar ou uma preocupação com o suicídio (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Ressaltamos que a ideação suicida por si só pode não progredir para a tentativa de suicídio (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Intencionalidade suicida A intencionalidade suicida se refere à determinação de colocar um fim em sua própria vida, portanto a intenção e intensidade do desejo de colocar esse fim (BOTEGA, 2015). Essa intencionalidade apresenta-se como atos com metas e desejos suicidas, escolha de comportamentos que condizem com a realização do suicídio (meio para o fim) e atenção consciente para o estado desejado (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Ressaltamos que a pretensão ou desejo de morrer, qualquer que seja o nível, está associado a um risco real de morte (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). A intencionalidade suicida pode assumir a forma de uma curva de crescimento, por isso encontramos: - Início com ideias de morte (imagina como seria seu velório, quem iria, quais pessoas sofreriam mais), passando para ideias de suicídio, planos de como se matar, pesquisa sobre o poder letal, chegando a providências pós morte (elaboração de testamento, comunicado à família sobre seguro de vida, etc.) (BOTEGA, 2015). 24 A gravidade da intencionalidade é determinada por 2 fatores concorrentes: - A intensidade da motivação suicida - O grau com que essa motivação é contrabalanceada pelo desejo conflitante de continuar vivendo (BOTEGA, 2015). Graus de intencionalidade suicida: • 1º grau - a veleidade suicida (o ato existe no plano verbal) • 2º grau - a ideia ou pensamento suicida (o ato existe virtualmente) • 3º grau - a ameaça suicida (a pessoa anuncia seu ato) • 4º grau - o gesto suicida • 5º grau - a tentativa de suicídio ambivalente • 6º grau - a tentativa de suicídio deliberada • 7º grau - o suicídio propriamente dito (MELEIRO; TENG; WANG, 2004). Plano suicida Plano suicida configura-se como a organização para execução de um ato suicida (como reunir meios letais, escrever um bilhete, doar pertences importantes). A atividade mental de planejamento associada ao desejo e intenção suicida é uma forma de identificá-la (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). Como trata-se do plano de uma pessoa para efetivar o ato de acabar com a própria vida inclui: como, onde e quando planeja se matar (BOTEGA, 2015). Nessa situação os pensamentos ou ideias suicidas encontram-se estruturadas e definidas pela pessoa que deseja suicidar (método, momentoe providências para não ser descoberta) (FECHIO, 2008). Em termos de continuum, se inicia com a ideação suicida (ideias sobre morrer e/ou morte), e depois, dependendo da intensidade, vemos o plano suicida. 25 Ressaltamos, que ainda é possível o suicídio impulsivo (que não houve planejamento) finalizando como o próprio suicídio ou tentativa frustrada (MACHADO; LEITE; BANDO, 2014). Posvenção De forma geral, se refere à toda intervenção realizada após um suicídio, a fim de prevenir outro ato suicida, portanto considerada medida preventiva. Configuram-se como atividades que auxiliam os sobreviventes de suicídio a elaborar melhor o luto complicado, e assim, atenuar o impacto do suicídio (FUKUMITSU et al., 2015). Portanto, são atividades que favorecem a expressão de ideias e sentimentos relacionados ao trauma e elaboração do luto visando evitar a morbidade psicológica nos enlutados (BOTEGA, 2015). O termo posvenção foi criado, em 1971, pelo suicidologista Edwin Shneidman, referindo-se ao apoio que necessita tanto quem tenta o suicídio quanto os familiares de quem suicidou (FECHIO, 2008). Um fator que influencia fortemente a elaboração do luto é a capacidade do enlutado para procurar ajuda e encontrá-la, por isso o relacionamento interpessoal, a ajuda na superação de conflitos e a rede de apoio podem operar como fator fundamental de prevenção do suicídio (FUKUMITSU et al., 2015). Prevenção Ato ou efeito de antecipar às consequências de uma ação no intuito de prevenir seu resultado, corrigindo-o e redirecionando-o por segurança (RIOS, 1999). Refere-se como qualquer medida que intervém na causa de uma doença ou agravo antes que ela atinja uma pessoa ou minimizando seu impacto (BERTOLOTE, 2012). Configuram-se como prevenção as intervenções comportamentais, biológicas ou sociais destinadas a reduzir o risco de transtornos, doenças ou problemas sociais, tanto de forma individual quanto coletiva (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). A primeira definição de prevenção foi determinada em 1964, sendo conceituada como modelo primário, secundário e terciário (LEANDRO-FRANÇA; MURTA, 2014). 26 Na perspectiva tradicional da saúde mental temos: - Prevenção primária com objetivo de redução da ocorrência de novos caso é destinada à população exposta a fatores de risco, mas ainda sem transtorno - Prevenção secundária focada nas pessoas que já apresentam sinais iniciais de algum transtorno - Prevenção terciária direcionada aos que possuem um diagnóstico e tem como objetivo reduzir seus prejuízos e consequências (LEANDRO-FRANÇA; MURTA, 2014). Em 1987 foi proposto um modelo de prevenção baseado em níveis de risco (prevenção universal, seletiva e indicada) (BERTOLOTE, 2012). Prevenção indicada Refere-se as estratégias destinadas a grupos específicos, pessoas que apresentam risco considerável ou já começaram a manifestar o comportamento-alvo ou grupo com altíssimo risco de suicídio (pessoas que já tentaram suicídio, sobretudo quanto mais recente a tentativa) (BERTOLOTE, 2012; BOTEGA, 2015; SANTOS et al, 2015). Prevenção seletiva Destinada a pessoas que apresentam grau baixo de risco e ainda não começaram a apresentar o comportamento-alvo visando impedir a instalação do mesmo ou o surgimento de suas consequências. Refere- se a estratégias de minimização de fatores de risco voltadas para grupos mais vulneráveis, isto é com maior risco de suicídio (pessoas que sofrem de transtornos mentais) (BERTOLOTE, 2012; BOTEGA, 2015; SANTOS et al, 2015). Prevenção universal Destinada a toda população, sem necessariamente apresentar algum grau de risco. Seu principal objetivo é impedir o início do comportamento que desencadeie em suicídio . Referem-se como estratégias que diminuem o risco de suicídio: melhoria do acesso a ajuda, fortalecimento de fatores protetivos, apoio social, Setembro Amarelo, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, restrição de acesso a meios letais e divulgação adequada da mídia (BERTOLOTE, 2012; BOTEGA, 2015; SANTOS et al, 2015). 27 Psychache Psychache caracteriza-se como dor psicológica: - Insuportável e aguda comumente associada ao comportamento suicida pela urgência de cessação da dor - Intolerável, como um conflito emocional interminável, em que parece não haver saída (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014; BOTEGA, 2015). Essa dor associa-se a angústia, sentimento de culpa, vergonha, solidão e medo. Na qual a morte pode ser entendida, pela pessoa, como saída para detê-la, mesmo não sendo uma solução adequada para resolver os problemas (FENSTERSEIFER; WERLANG, 2005). Para Shneidman, a vivência de uma dor emocional intolerável (psychache) é o que melhor caracteriza o estado de uma pessoa próximo a cometer o suicídio. Em função da sensação de turbulência interna e de estar preso em si mesmo, assim a ideia de suicídio surgiria numa situação de constrição do estado perceptivo (estreitamento afetivo e intelectual) (CHACHAMOVICH et. al, 2009). Resiliência A resiliência refere-se como processo e resultado de se adaptar a experiências de vida difíceis ou desafiadoras a partir da flexibilidade mental, emocional e comportamental e do ajustamento as demandas externas e internas. Inúmeros fatores contribuem para as pessoas se adaptam bem ou mal as adversidades como sua percepção do mundo, disponibilidade e qualidade de recursos sociais, estratégicos e enfrentamento específico (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). O termo resiliência tem sua origem na Física como a capacidade de um material para receber energia de deformação sem sofrê-la de modo permanente. Nas ciências humanas, poderíamos definir inicialmente como a capacidade de superar as adversidades; a partir daí descortina-se uma gama de conceitos de suporte, fatores e características que definem o processo resiliente (TABOADA, LEGAL, MACHADO, 2006). 28 Ainda encontramos como conceitos: - Resistência ao estresse ou associada a processos de recuperação e superação de abalos emocionais causados pelo estresse (FONTES, 2012) - Capacidade inata das pessoas de aproveitar recursos ou apoio familiar e social para desenvolver seu potencial de viver, crescer, dar e cuidar de outras pessoas e, quando necessário, sobreviver a situações dramáticas e, a partir delas, aprender e fortalecer-se (MOLINA-LOZA, 2003). Risco suicida Encontramos como risco suicida o conjunto de informações relevantes que articuladas permite um parecer, embasado teoricamente, do risco que uma pessoa tem de suicidar, permitindo assim a priorização de ações dirigidas (BOTEGA, 2015). O risco suicida é dado, em geral, por indicadores de natureza sociodemográfica, clínica, genética, familiar etc. (BERTOLOTE; MELLO-SANTOS; BOTEGA, 2010). Devemos distinguir os fatores: predisponentes (remotos e distais que criam terreno no qual eclodem o comportamento suicida) e os precipitantes (proximais ou estressores associados ao risco de comportamento suicida). Os fatores precipitantes encontram-se associados a variedade de situações que implicam perdas (reais ou simbólicas) ou mudanças de status, no geral, para pior (BERTOLOTE; MELLO-SANTOS; BOTEGA, 2010). Realizamos a avaliação do nível de risco a partir da presença e intensidade dos fatores de risco, porém frente a complexidade do comportamento humano, não é precisa em termos de “previsão de suicidabilidade”. Caracterização do grau de risco de suicídio: • Baixo - a pessoa tem pensamento suicida, mas não desenvolveu plano, ou ainda a pessoa nunca tentou o suicídio e não planeja como se matar • Moderado - a pessoa tem pensamentos sobre morrer e um plano, mas não pretende se matar imediatamente ou ainda a pessoa tem tentativa prévia de suicídio e suicídio visto como solução • Alto - a pessoa tem planos, meios e pretende realizar prontamente, apresenta tentativa de suicídio recente ou múltiplas tentativas num curto espaço detempo, rigidez de pensamento atual e abuso/dependência de álcool (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014; NEVES et al., 2014; BOTEGA, 2015). 29 Ressaltamos que o risco suicida se refere a possibilidade de uma pessoa suicidar. Objetivos do profissional para avaliação do risco de suicídio: • Identificar a existência de ideação/planejamento suicida atual • Caracterizar a gravidade de tentativas anteriores e da ideação suicida atual • Identificar fatores de risco e protetivos • Caracterizar o suporte social • Identificar existência de diagnóstico psiquiátrico de base • Instituir terapêutica inicial (em caso de condições de base) • Garantir a inserção do paciente em serviços de saúde mental (DEL-BEN et al, 2017). Suicídio O termo suicídio está relacionado ao ato voluntário de terminar com a própria vida (BOTEGA, 2015), morte intencional e deliberadamente autoprovocada (NEVES et al., 2014; WENZEL; BROWN; BECK, 2010) ou morte produzida por um ato positivo ou negativo da própria vítima, direta ou indiretamente, do qual a mesma sabia decorrer esse resultado (DURKHEIM, 1978). O suicídio é marcado por: - Ambivalência (entre o desejo de viver e o de acabar com a dor) Impulsividade - Rigidez do pensamento (a pessoa não encontra outra saída para seus problemas) (FUKUMITSU, 2015). Tentativa de suicídio A morte, no espectro do comportamento suicida, aparece como ponta do iceberg, abaixo dele, em geral, estão as tentativas (BOTEGA, 2015). Caracterização de tentativas de suicídio: • Ato intencional de autoagressão não resultando em morte mas, dependendo da gravidade pode ou não necessitar hospitalização ou atendimento médico (SOUZA et al., 2011) • Qualquer ação autodirigida realizada pela própria pessoa que conduzirá à morte, caso não interrompida (FONSECA; LOBO, 2015) • Ato suicida interrompido ou não consumado (DURKHEIM, 1978) • Comportamento não-fatal, autoinfligido, potencialmente danoso, com intenção de morrer, podendo ou não resultar em ferimento) (WENZEL; BROWN; BECK, 2010) 30 • Ato autoagressivo não-fatal sem desejo explícito de morrer (por ex. desejo de vingar-se de alguém ou provocar culpa (MELEIRO; TENG; WANG, 2004) • Ato de tentativa sem a consumação desse comportamento (BOTEGA, 2015) • Tentativa deliberada, mas fracassada de cometer o suicídio (nomeada de suicídio tentado) (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). Vulnerabilidade Entende-se como vulnerabilidade a disposição de uma pessoa em desenvolver condição, transtorno ou doença se exposta a agentes ou condições específicas (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). No campo da saúde, os termos vulnerabilidade e vulnerável são empregados para designar suscetibilidade das pessoas a problemas e danos de saúde. Portanto, vulnerabilidade não é um estado ou uma característica essencial de determinada pessoa, mas uma situação que apresenta natureza potencialmente instável e por isso pode se alterar em função do tempo, relações ou características do contexto social (NICHIATA et al., 2008). Ainda encontramos como vulnerabilidade: • Grau de suscetibilidade ou de risco de sofrer danos a que está exposta uma pessoa ou uma população • Relação existente entre a intensidade do dano resultante e a magnitude de uma ameaça, evento adverso ou acidente • Probabilidade definida por estudos técnicos de uma determinada pessoa, comunidade ou área geográfica ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre (NICHIATA et al., 2008) A vulnerabilidade, em relação ao suicídio, se refere a situações ou condições de maior chance de suicídio, ao invés de determinismo (já que não necessariamente a exposição aos fatores de risco leva ao comportamento). Temos a presença de transtorno mental ou histórico pessoal ou familiar de tentativa de suicídio como condições de vulnerabilidade (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010). 31 V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Capítulo 3 Enquadre Teórico Fatores de proteção Fatores de proteção para o suicídio referem-se como recursos pessoais ou sociais que diminuem ou neutralizam as possibilidades do risco de um ato suicida (ARAÚJO; VIEIRA; COUTINHO, 2010). Na adolescência encontramos diversos aspectos que podem atuar como protetivos, entre eles: sentimento de bem-estar, autoestima elevada, capacidade para buscar ajuda, abertura a novas experiências, flexibilidade emocional, confiança em si mesmo, capacidade de resolução de problemas, viver em uma comunidade que valoriza o apoio social, ter família e amigos compreensivos e competência escolar (SCHLOSSER; ROSA; MORE, 2014; BURKE et al., 2016; AGGARWAL et al., 2017; SEDIVY et al., 2017). Assim existem fatores protetivos específicos da adolescência, sendo importante identificá-los, traçar estratégias para reforçar os que já existem e também para desenvolver novos quando se objetiva a prevenção do suicídio e a valorização da vida. Sendo de extrema importância para a prevenção, o aumento dos fatores protetivos e diminuição dos fatores de risco, em nível individual e coletivo (BOTEGA et al., 2006). Ressalta-se que os fatores protetivos do comportamento suicida são aqueles que diminuem ou evitam a ocorrência de um ato suicida (FERNÁNDEZ; BARRERO; MONTOYA, 2017). Como enquadre teórico entendemos as temáticas geradoras que orientaram a construção das ferramentas vivenciais de valorização da vida e prevenção do comportamento suicida. As temáticas geradoras utilizadas foram fatores de proteção e de risco, desesperança, razões para viver, resiliência e habilidades sociais 32 Caracterização dos fatores protetivos do comportamento suicida: - São individuais - um fator de proteção para determinada pessoa pode não ser para outra ou ainda, de modo contrário pode se comportar como fator de risco - São relativos ao gênero - um fator de proteção para uma mulher pode não ser para um homem - São geracionais - um fator de proteção para uma criança pode não ser para um adolescente, adulto ou idoso - Estão associados a cultura - os fatores de proteção em determinado contexto cultural podem não ser para outros - Estão determinados por um momento histórico - os fatores que protegiam do suicídio no século V não são protetivos na atualidade (FERNÁNDEZ; BARRERO; MONTOYA, 2017). Viktor Frankl, em 1946, no livro Em Busca de Sentido, retrata sua experiência como prisioneiro de um campo de concentração e assim, propõe um método psicoterapêutico para encontrar razão para viver. Ele afirma: “[...] nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido (FRANKL, 1991). Ou, em outras palavras, como atribuído a Nietzsche: “Quem tem um por que viver pode suportar quase qualquer como”. Nessa direção entendemos que atividades que estimulem a verbalização de sentimentos, busquem o autoconhecimento e reflitam sobre o sentido da existência operam como fatores protetivos, pois o sentido de vida “não se trata [...] de um sentido para vida em termos gerais, mais um sentido pessoal para vida de cada pessoa, que este escolhe, quando encontrado” (SOUSA; GOMES, 2012, p.55). Razões para viver Como razões para viver compreendemos as causas, motivos ou motivações que levam uma pessoa a querer viver. Esses motivos são considerados como um amortecedor frente a situações estressantes. Portanto, relações significativas, satisfação com a vida e existência de motivos para viver configuram-se como indicadores de proteção em relação ao comportamento suicida (HEISEL, FLETT, 2004). Ao contrário, poucos motivos para viver encontram-se associados a comportamentos de risco (LINEHAN et al., 1983). 33 Determinadas crenças orientadas para a vida podem mitigar o desenvolvimento do comportamento suicida e evitar que uma pessoa tome a decisão de suicidar. Temos como crençasou razões que uma pessoa considera importantes para não cometer suicídio: - Sobrevivência e coping (“Tenho coragem para enfrentar a vida”) - Medo do suicídio (“Receio que o método não funcione”) - Medo de desaprovação social (“Outras pessoas pensariam que sou fraco e egoísta”) - Responsabilidade com a família ( “Não queria que a minha família pensasse que fui egoísta ou covarde”) - Preocupações com os filhos (“Não seria justo deixar meus filhos para os outros cuidarem”) - Objeções morais ("Minha crença religiosa me proíbe de fazê-lo”) (LINEHAN et al., 1983). Pessoas com história de tentativas de suicídio, em geral, apresentam menos razões para viver quando comparadas com aquelas sem história (LINEHAN et al., 1983). Como as razões para viver operam como fatores protetivos aos comportamentos de riscos, assim quanto maiores razões para viver, menor possibilidade de comportamentos de riscos. Encontramos como motivos para viver : • Relacionamentos significativos – suporte social como os afetos e sentimentos voltados para familiares e amigos (“Poder desfrutar da proteção da família", “Ser importante para os familiares”, “Compartilhar amizades”, “Convivência com pessoas queridas”) • Atração pela vida - amor pela vida expresso pelo amor à própria vida e viver e pelo desejo de vivenciar momentos positivos e de viver com entusiasmo e otimismo (“O amor pela vida”, “A vontade de viver”, “Poder usufruir dos momentos que a vida oferece”, “O entendimento de que a vida é bela e vale a pena viver”) • Planos para o futuro – planos e objetivos futuros (“Realizar conquistas”, “Realizar os sonhos que fazem parte da vida”, “Desejo de colocar em prática todos os projetos de vida”) 34 • Aspectos relacionados ao Eu – autoconhecimento, auto aperfeiçoamento e valorização pessoal (“A busca do meu equilíbrio interior”, “A busca da realização profissional”, “A vontade de aprender a cada dia”, “A busca da felicidade”) • Virtudes – espiritualidade, humanidade, justiça e transcendência (“A certeza que a vida é um presente divino”, “Fazer o bem”, “Acreditar em dias melhores”) (GOMES, 2015). Os motivos para viver, satisfação com a vida e relações significativas atuam como fator protetivo de comportamentos de risco , como o comportamento suicida (HEISEL, FLETT, 2004). Resiliência Na prevenção do comportamento suicida é importante enfatizarmos fatores protetivos como a resiliência. A resiliência pode ser entendida como capacidade de se recuperar frente às adversidades da vida (MELEIRO, MELLO-SANTOS, WANG, 2007) ou “capacidade de enfrentar positivamente uma adversidade e de encarará-la como oportunidade de aprendizagem e crescimento” (SOUZA, 2015). Uma pessoa resiliente consegue captar recursos internos e externos para gerar competências que lhe permitam responder de forma ajustada à determinada situação. Ela varia de acordo com a percepção de cada pessoa, sendo portanto particular e por isso, contribui para realização pessoal, bem-estar físico e psicológico e fortes relações interpessoais (SOUZA, 2015). Apesar da inexistência de um consenso quanto à definição de resiliência, a Associação Americana de Psicologia a define como “processo de adaptação bem- sucedido frente às adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou fontes significativas de estresse” (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2018). Podemos observar a resiliência em fatores sociais, culturais, familiares e ambientais. Entre as características da resiliência relacionadas ao estilo cognitivo e a personalidade que favorecem a proteção ao comportamento suicida temos: senso de valor pessoal, confiança em si mesmo e em sua própria situação, busca de ajuda frente a dificuldades, aceitar conselhos diante de escolhas importantes, abertura para experiência, flexibilidade para aprendizagem e habilidade de comunicação (MELEIRO; MELLO- SANTOS; WANG, 2007). 35 A adoção de valores e tradições culturais específicos, espiritualidade, bom relacionamento interpessoal, apoio de pessoas significativas, integração social, participação em atividades esportivas e culturais e senso de propósito na vida representam características da resiliência dos fatores sociais e culturais protetivos do comportamento suicida. Entre as características da resiliência relacionadas ao padrão familiar verificam-se boas relações familiares, apoio familiar e laço materno e/ou paterno consistentes que favorecem a proteção ao comportamento suicida. Boa alimentação e sono, luz solar e exercício físico representam características da resiliência dos fatores ambientais protetivos (MELEIRO; MELLO-SANTOS; WANG, 2007). Pessoas resilientes, em geral, apresentam como características: apoio social, habilidades e força interna e externa, assim: - O apoio social - "Eu tenho" - relaciona-se a fatores protetivos familiares e dos pares - As habilidades - "Eu posso" - relaciona-se a autoconfiança e ao autocontrole - A força interna - "Eu sou" - associa-se a autoestima e empatia - A força interna - "Eu sou" - associa-se a autonomia e autoconfiança. Estas características permitem a pessoa enfrentar situações adversas e ainda, emergir mais forte delas (MUNITS et al., 1998). Sabemos que a adolescência se caracteriza por um período de intensas mudanças físicas, psicológicas e culturais que permeia várias vulnerabilidades para comportamentos disfuncionais. Assim, compreendemos que favorecer a resiliência entre adolescentes implica superar potenciais efeitos negativos produzidos pela exposição a riscos através de estratégias positivas e de fortalecimento. Reconhecemos que jovens resilientes tem maior probabilidade de seguirem trajetórias positivas na vida adulta, independente das dificuldades enfrentadas (SOUZA, 2015; RAMOS-DÍAZ et al., 2015). Adolescentes resilientes avaliam com sucesso sua trajetória de vida, experimentam mais emoções positivas e menos emoções negativas (RAMOS-DÍAZ et al., 2015). Portanto, identifica-se relação entre resiliência e comportamento suicida, ou seja, quanto maior o nível de resiliência, menor o nível de ideação suicida (SOUZA, 2015). Ressalta-se que a limitação identificada pelo paradoxo fragilização versus resiliência, isto é, da fragilização como um processo de perdas de seguranças existenciais e/ou sociais 36 e a resiliência como resistência, pode ser superada pelo entendimento de que a resiliência é a capacidade de realizar um percurso inovador dentro do limite que as circunstâncias vivenciadas permitem, reconhecendo a fragilidade como própria do ser humano, assim ter capacidade resiliente em qualquer nível é ser saudável (OVIEDO, CZERESNIA, 2015). Habilidades sociais Diante de acontecimentos dolorosos torna-se importante avaliar se uma pessoa consegue encontrar soluções para um problema e dispõe de alternativas válidas e aceitáveis de enfrentamento. A resiliência emocional, a capacidade para resolver problemas e habilidades sociais podem reduzir o impacto das adversidades e, assim, contrabalançar o peso dos fatores de risco para o comportamento suicida (BOTEGA, 2015). Habilidades sociais são constructos descritivos de desempenhos individuais demandados por um contexto interpessoal específico garantindo uma maneira adequada de lidar com a situação (ROSIN- PINOLA, DEL PRETTE, 2014). A aprendizagem de habilidades sociais e o aperfeiçoamento da competência social constituem processos que ocorrem “naturalmente”, por meio das interações sociais cotidianas ao longo da vida. Na infância e na adolescência, as práticas educativas na família e escola, juntamente com a experiência de convivência com os colegas, são as principais condições para a aquisição e o aperfeiçoamento das habilidades e competência social. Porém, quando essas práticas são desfavoráveis, surgem déficits de habilidades sociais e problemas de competência social que impactam negativamente as relações interpessoais e a qualidadede vida (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2011). Categorização das habilidades sociais: • De comunicação: fazer e responder perguntas, gratificar e elogiar, pedir e dar feedbacks nas relações pessoais, iniciar, manter e encerrar uma conversa, adequabilidade de componentes verbais na forma de comunicação, duração, latência e regulação de fala 37 • De civilidade: dizer “por favor”, agradecer, apresentar-se, cumprimentar, despedir-se • Assertivas de enfrentamento: manifestar opinião, concordar, discordar, fazer, aceitar e recusar pedidos, desculpar-se e admitir falhas, estabelecer relacionamento afetivo/sexual, encerrar relacionamentos, expressar raiva e pedir mudanças de comportamento, interagir com autoridades, lidar com críticas • Empáticas: parafrasear, refletir sentimentos e expressar apoio • De trabalho: coordenar grupo, falar em público, resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos • De expressão de sentimentos positivos: fazer amizades, expressar solidariedade e cultivar o amor (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001). Os comportamentos que compõem as habilidades assertivas e empáticas se complementam para maior aquisição de ganhos pessoais e da qualidade das relações com os outros. Nessas habilidades, os déficits estão associados a dificuldades nas relações interpessoais, o que pode levar ao isolamento social e transtornos psicológicos (FERNANDES; FALCONE; SARDINHA, 2012). Aspectos sócio emocionais do vínculo parental, de amizade e escolar são essenciais para o desenvolvimento das práticas sociais assertivas da criança e do jovem adulto. Nessa direção identificamos a parceria entre escola e família como importante influência no desenvolvimento das habilidades sociais (GAVASSO, FERNANDES, ANDRADE, 2016). Em geral, estudantes jovens com depressão tem risco aumentado de suicídio assim, se os sintomas são identificados precocemente e os jovens participarem de programas de intervenções para desenvolver suas habilidades sociais, os riscos poderão ser minimizados produzindo mais saúde e desempenhos social e escolar (ARADILLA- HERRERO; TOMÁS-SÁBADO; GÓMEZ-BENITO, 2014). Fatores de risco A palavra risco, etimologicamente do francês risque, se traduz por perigo ou possibilidade de estar em perigo. O risco é compreendido em epidemiologia pela possibilidade de ocorrência de uma doença, agravo, óbito ou condição relacionada em determinado grupo (BOTEGA, 2015). 38 Encontramos como grupo de risco o "conjunto de pessoas que por apresentarem determinados atributos ou por terem sido expostas a circunstâncias específicas (fatores de risco), passam a ter maior probabilidade de desenvolver uma doença ou condição clínica” (BOTEGA, 2015). A determinação de fatores de risco auxilia na intervenção precoce na saúde. Os fatores de risco do comportamento suicida possuem intensidade, duração e influência diferentes dependendo da fase da vida. Esses fatores podem ser divididos em predisponentes e precipitantes, sendo como predisponentes os fatores distais (situações traumáticas que aconteceram no passado distante) e como precipitantes os fatores de risco atuais (próximo ao comportamento suicida) (BOTEGA, 2015). Como fatores predisponentes vemos: transtornos psiquiátricos, tentativa prévia de suicídio, história de suicídio ou abuso sexual na infância, impulsividade/agressividade, isolamento social, doenças incapacitantes/incuráveis e alta recente de internação psiquiátrica. Como fatores precipitantes citamos: desilusão amorosa, separação conjugal, conflitos relacionais, derrocada financeira, perda de emprego, desonra/vergonha, embriaguez e fácil acesso a meio letal (BOTEGA, 2015). Principais fatores de risco para o comportamento suicida juvenil: • Fatores sócio demográficos e educacionais - sexo (feminino, tentativa; masculino, suicídio), baixo status econômico, LGBT, dificuldade escolar • Eventos negativos de vida individual e adversidades familiares - divórcio, separação ou morte parental, experiências adversas na infância, história de abuso físico ou sexual, história de transtorno psiquiátrico ou suicídio na família, discórdia parental ou familiar; bullying, dificuldades interpessoais • Fatores psiquiátricos e psicológicos - transtorno mental (em especial depressão, ansiedade, TDAH), abuso de álcool e outras drogas; impulsividade, baixa autoestima e de resolutividade de problemas; perfeccionismo, desesperança (HAWTON; SAUNDERS; O’CONNOR, 2012). 39 Desesperança Destacamos como principais fatores de risco para o suicídio a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, estigma associado à busca de ajuda, desastres e guerras, trauma e abuso, conflitos relacionais, falta de rede social de apoio, perdas, transtornos mentais, desesperança, dor crônica, fatores genéticos, tentativas anteriores de suicídio (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014). Desesperança é sinônimo de desânimo, descrença, desespero, desengano, desilusão, desalento e desconsolação. Ela apresenta papel central para o ato e pensamentos suicidas, portanto, principal preditor de comportamentos suicidas (HERRESTAD; BIONG, 2010; HAYASHI, et al., 2012). A pessoa desesperançosa apresenta sentimentos e pensamentos negativos sobre o futuro, tende a prever o futuro sem expectativas, perde a motivação pela vida e pelo desejo de viver (MARBACK; PELISOLI, 2014). Pensamentos comuns de uma pessoa desesperançosa: • “Eu não tenho nada a esperar, as coisas nunca vão melhorar” • “Eu não vejo nada melhorar, não há razão para viver” • “Eu não consigo suportar a vida, jamais poderei ser feliz” • “Eu sou um peso para meus familiares, é melhor que fiquem sem mim” • “Eu me sinto infeliz e só tenho uma saída” (BECK, 2013) Com esses pensamentos, ela pode não conseguir vislumbrar outra saída que não seja acabar com a própria vida, que apresenta-se como única maneira para lidar com problemas sem solução) (BECK, 2013). A pessoa desesperançosa também se sente anormal, defeituosa, imperfeita e, diante disso: - Acredita que não tem valor - Subestima suas potencialidades - Tem propensão a analisar negativamente experiências - Interpreta erroneamente as interações com o ambiente - Tem visão negativa do futuro - Espera por frustrações e infindáveis dificuldades - Acredita na derrota (BECK, 2013). 40 V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Capítulo 4 Enquadre Metodológico O primeiro passo para o processo de adaptação ou elaboração de novas ferramentas vivencias consiste em responder as perguntas: • Por que (objetivo da tarefa ou motivo pelo qual será realizada) • O que (conteúdo que será trabalhado, o que é preciso saber, observar, desenvolver, etc.) • Quem (grupo, público-alvo ou pessoas que o facilitador intercederá) • Onde (local que serão realizadas as intervenções) • Quando (duração da intervenção) • Quanto (verbas e custos) (FAILDE, 2010). Ressaltamos que a melhor aprendizagem é a vivencial, para tal torna-se importante percorrer cinco fases: Como enquadre metodológico apresentamos as ferramentas vivencias que orientaram o desenvolvimento de ações de valorização da vida e prevenção do comportamento suicida. As ferramentas propostas devem ser utilizadas em grupo de promoção da saúde. Entendemos esses grupos como uma intervenção coletiva e interdisciplinar de saúde caracterizada como um conjunto de pessoas ligadas por constantes de tempo, espaço e limites de funcionamento, que interagem cooperativamente a fim de realizar a tarefa da promoção de saúde (SANTOS et al., 2006). As ferramentas vivenciais podem operar como instrumento facilitador do processo de valorização da vida. 42 • Vivência propriamente dita (atividade) • Relato das emoções • Avaliação do desempenho e o feedback recebido • Analogias (insights) • Compromisso com as atitudes de mudança (GRAMIGNA, 1997). A atividade planejada respeitandoessas fases possibilita o estímulo tanto do hemisfério direito (nas fases de vivência e relato) quanto do esquerdo (nas fases de avaliação, análise e analogias). Assim, o trabalho de equilíbrio entre os hemisférios resulta num comportamento pautado pelo compromisso de forma racional e emocional (SILVA; MENDES, 2012). O uso de ferramentas vivenciais, como possibilidade de aprendizagem vivencial, oportuniza aos participantes experimentarem determinada situação, analisá-la de forma crítica e aplicar o aprendido no cotidiano. As etapas do Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV) servem de base para a aplicação dessas ferramentas (GRAMIGNA, 1997). Etapas do Ciclo de Aprendizagem Vivencial: • Vivência: é a fase de fazer uma atividade que pode ser individual ou em grupo. Essa atividade deve estar de acordo com o objetivo da intervenção e ser atrativa, lúdica e interessante • Relato: é o momento de expressar os sentimentos e emoções que pode ser individual ou coletiva. Essa expressão pode ser por relatos verbais, mural com registros, discussão livre (intermediada pelo facilitador), uso de figuras, símbolos ou cores, etc. • Processamento: é a hora da análise do processo realizada pelo grupo. Pode-se utilizar analogias, questionários ou roteiros pré- estabelecidos para avaliar dificuldades e facilidades, liderança, organização, planejamento, comunicação e administração de conflitos • Generalização: é o momento da comparação entre a vivência e a realidade. Aqui podemos introduzir temas, informações técnicas, referenciais teóricos, etc., sempre levando em consideração a clareza, objetividade, atratividade e delimitação do tempo 43 • Aplicação: etapa que encerra o ciclo de aprendizado com reflexão e comprometimento com a mudança. Nessa etapa o participante tem a oportunidade de estabelecer seu papel como corresponsável na busca de melhorias e o facilitador de orientar na elaboração dos planos individuais ou grupal (GRAMIGNA, 1997). Dinâmica de grupo É uma ferramenta lúdica e reflexiva que deve ser norteada em função de tema e objetivos concretos. Essa ferramenta vivencial favorece o processo de aprendizagem ao possibilitar reflexão coletiva, socialização do saber e produção de conhecimento grupal e formação de vínculos (AZEVEDO; MELLO, 2009). A dinâmica de grupo possibilita vivenciar uma experiência significativa por meio de uma situação simulada facilitando o processo de aprendizagem (KOLB, 1984). O aprendizado a partir da experiência permite ao participante ser, ao mesmo tempo, ativo e passivo, portanto agente transformador e também ser “transformado” pela vivência da experiência (SILVA, 2008). Os objetivos de uma dinâmica de grupo podem variar, sendo comum como atividades de: -Aquecimento - os participantes são incentivados a interagir e integrar - Atividades de aprendizagem - os participantes aprendem alguma habilidade, reflexão ou mudança atitudinal (SILVA, 2008). Elementos definidores de uma dinâmica: - Ações de curta duração, tempo limitado, objetivos específicos, procedimentos e materiais previamente estabelecidos e direcionada por um facilitador (SILVA, 2008). Assim, o facilitador assume papel importante e para desempenhá-lo de maneira a garantir o bom andamento da dinâmica é necessário que assuma postura adequada, disponha de habilidades e considere os aspectos: 44 • Habilidade de conduzir o grupo com espontaneidade • Promover a integração entre os participantes • Ter responsabilidade ética com o grupo, assumindo uma postura antiautoritária e humanista • Evitar generalizações em relação ao comportamento do grupo, lembrando que cada grupo é singular e ímpar • Evitar os juízos, sejam científicos ou provenientes de crenças populares, mitos ou pessoais que possam interferir no grupo • Não permitir preconceitos, juízos de valores ou posicionamentos unidirecionais decorrentes do convívio social (idade, sexo, raça, cultura, religião, traços físicos, trejeitos pessoais, etc. • Orientar-se pelo tempo dos participantes, observando os ritmos, rituais e crenças inerentes ao grupo e evitando atropelo (MOTA, 2006). Roda de conversa É um instrumento que possibilita a partilha de experiências e promoção de reflexões mediada pela interação com outras pessoas. Refere-se como uma conversa em um ambiente que possibilita o diálogo, a escuta e a segurança dos participantes para partilhar, complementar, discordar ou concordar (MOURA; LIMA, 2014). Considerada tecnologia simples, prática e pouquíssimo dispendiosa, representa uma metodologia que contribui diretamente para: - Saúde mental ao ampliar a comunicação interpessoal e promover a autonomia e empoderamento das pessoas frente aos desafios do viver (COSTA et al, 2015). - Educação em saúde pela ação pedagógico-transformadora da participação de grupos em diferentes contextos (SAMPAIO et al, 2014). A roda de conversa proporciona aprendizado mútuo em função da troca de experiência e compartilhamento de determinado fato, inquietude ou (in)satisfação (SILVA, 2012). 45 Apresenta duração média de uma hora e sua continuidade deve ser pactuada com os participantes. As rodas devem ser operacionalizadas de forma pactuada buscando refletir a flexibilidade das relações podendo, mesmo depois de combinado, ser retomada e modificada. Importantes pactuações nas rodas de conversa: - Respeito a fala alheia, aos diferentes saberes, a garantia do sigilo e ao horário (contrato de convivência) (SAMPAIO et al, 2014). Devemos organizar uma roda de forma que todos participantes possam se ver. Para organização do círculo podemos utilizar uma dinâmica e para iniciar a conversa utilizamos uma pergunta norteadora, história ou problema da temática a ser trabalhada (SAMPAIO et al, 2014). A proposta das rodas de conversa é coerente com a promoção da saúde ao defender a construção de pessoas autônomas, críticas, reflexivas e livres, que se constituem no encontro com o outro de forma coletiva, democrática e participativa (SAMPAIO et al, 2014). Jogos Ferramentas que permitem que o conhecimento seja adquirido e transposto para a realidade a partir de um ambiente lúdico e descontraído. Assim, os jogos podem ser utilizados para promover aquisição de conhecimentos e estímulo às ações de prevenção, controle dos agravos à saúde e ações transformadoras para a modificação de hábitos (MARIANO et al, 2013). O jogo educativo possui objetivo didático e, apesar de ser um entretenimento tem regras que possibilita a aquisição de conhecimento além da construção de estratégias pelos participantes (PANOSS; SOUZA; HAYDU, 2015). O jogo é um método que permite melhora do funcionamento cognitivo e habilidades psicomotoras, aumento da interação social e afetiva e armazenamento de informações com mais entusiasmo e estímulo por ser um entretenimento (GURGEL et al., 2017). 46 Benefícios dos jogos educativos: - Estímulo da memória, atenção, raciocínio e criatividade - Estímulo da autoconfiança, participação e expressão verbal - Auxílio para desinibição (VITTA et al., 2012; (GURGEL et al., 2017). A função motivadora dos jogos permite que o processo de aprendizagem desenvolva comportamentos que estimulem a solução de problemas, controle de estímulos e respeito as instruções (PANOSS; SOUZA; HAYDU, 2015). Na adolescência a formação de ideias, atitudes e personalidade estão em processo de construção por isso, é importante que o processo educativo seja libertador para que a eficiência ensino/aprendizado seja alcançada (MARIANO et al., 2013). Assim, a utilização de jogos na aprendizagem pode despertar o engajamento na participação e discussão de temas que permeiam o cotidiano do adolescente. Reconhecemos que os jogos como ferramentas que relacionam mecanismos adaptativos e recreativos favorecerem a discussão de problemas práticos, como o envolvimento dos participantes em questões específicas da áreada saúde (OLIVEIRA, 2014; ARAÚJO et al., 2016). Ferramentas virtuais A escrita online e/ou comunicação virtual são comuns na adolescência contemporânea (FREITAS; SILVA, 2014). Por isso, entendemos que as Redes Sociais Virtuais ajudam jovens com potenciais riscos em função de possibilitar: - Comunicação de problemas, alcance de opções de ajuda e avaliação/intervenção de risco (programas de prevenção ao suicídio) (LUXTON et al., 2012; CHENG et al., 2015). 47 No Brasil, temos como perfil dos usuários que utilizam a Internet: - 76% acessa a Web diariamente para busca de informações (67%), diversão e entretenimento (67%), passar o tempo livre (38%) e estudo (24%) - Maior acesso de jovens com até 25 anos (65%) - Maior utilização das Redes Sociais Virtuais: Facebook (83%), Whatsapp (58%), Youtube (17%), Instagram (12%) e Google (8%) (BRASIL, 2014). Ressaltamos que a mídia pode exercer papel de grande influência na prevenção do suicídio, independente da forma de sua apresentação (livros, jornais, revistas impressos ou no formato digital) (GOMES et al., 2014). Como característica ela veicula relatos de suicídio de maneira apropriada e cuidadosa ajudando na prevenção desse tipo de morte (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000). 48 V A L O R I Z A Ç Ã O D A V I D A N A A D O L E S C Ê N C I A F E R R A M E N T A S V I V E N C I A I S Capítulo 5 Dinâmicas de grupo para Valorização da Vida e Prevenção do Comportamento Suicida Neste capítulo descrevemos as dinâmicas de grupo para valorização da vida e prevenção do suicídio: • • Dinâmica de grupo: Tomografia da vida • Dinâmica de grupo: FlorEser • Dinâmica de grupo: Eletrocardiograma da esperança • Dinâmica de grupo: Ponte da Vida 50 Dinâmica de grupo: Tomografia da vida Temáticas geradoras: Fatores de proteção Razões para viver Objetivos: Identificar representações icônicas e verbais de razões para viver Refletir sobre as razões para viver Fortalecer fatores de proteção do comportamento suicida Participantes: Grupo de 15-20 adolescentes Tempo estimado: 60-90 minutos Material: Desenho dos hemisférios cerebrais impressos em papel A4, lápis ou canetas coloridas Espaço físico: Uma sala com mesas e cadeiras 51 Desenvolvimento: • Distribuir um desenho dos hemisférios cerebrais para cada participante. A partir de agora o desenho representará a CABEÇA de cada um • Explicar aos participantes que o cérebro é formado por dois hemisférios, o esquerdo e o direito. O hemisfério esquerdo é o responsável pelas atividades racionais e analíticas (linguagem, escrita, aritmética, pensamento linear e comunicação digital). Por sua vez, o hemisfério direito responde pelas atividades sensoriais, emocionais e globais (intuição, síntese, comunicação analógica e compreensão da linguagem, música, sonhos e gestos inconscientes) • Pedir aos participantes identificarem no desenho os hemisférios cerebrais (esquerdo e direito) • Então, perguntar: “O que tem no hemisfério cerebral esquerdo que apresenta valor na sua VIDA?” “Que números, datas, nomes, frases, histórias (representação verbal ou numérica) que tem valor na sua VIDA?” Cada participante deverá responder preenchendo o desenho • Em seguida perguntar: “O que tem no hemisfério cerebral direito que apresenta valor na sua VIDA?” “Que figuras, imagens, símbolos, desenhos (representação icônica ou imagética) que tem valor na sua VIDA?” Cada participante deverá responder preenchendo o desenho Fechamento O facilitador convida os participantes para fazerem um relato da experiência e significado da dinâmica Finalizar convidando a reflexão de que o valor da vida se encontra na identificação, construção e reconstrução das representações verbais ou numéricas e icônicas ou imagéticas significativas da história de vida de cada um Variações Podemos variar utilizando: - Revistas ou jornais e pedir aos participantes colarem nos respectivos hemisférios cerebrais o que tem valor na VIDA. - Pincéis e tintas e pedir que pintem o que tem valor na VIDA - Touca plástica descartável e pedir que pintem ou desenhe nos respectivos hemisférios cerebrais o que tem valor na VIDA 52 Dinâmica de grupo: Flor-E-Ser Temáticas geradoras: Fatores de proteção Resiliência Objetivos: Refletir sobre a importância da resiliência em nossas vidas Fortalecer fatores de proteção do comportamento suicida Participantes: Grupo de 20-30 pessoas A dinâmica pode ser aplicada em grupo formado por adolescentes, professores, pais ou responsáveis Tempo estimado: 60-90 minutos Material: Papel de seda recortados no tamanho de 10x15 cm de várias cores de acordo com o número de participantes Espaço físico: Sala ampla que acomode todos participantes A dinâmica pode ser realizada em roda com os participantes sentados em cadeiras ou no chão Desenvolvimento: • Distribuir uma folha de papel de seda da cor escolhida por cada participante. A partir de agora a folha de papel representará a VIDA de cada um • Pedir aos participantes que observem as características de cada lado da folha (um lado liso e brilhante e outro áspero e fosco). Perguntar ao grupo como relacionar essas características com a própria vida. Comentar que a folha, como a vida, é composta por momentos bons, tranquilos e agradáveis e outros duros, ruins e desagradáveis 53 • Pedir aos participantes segurarem as folhas numa das pontas, fazendo-as balançar para ouvir o barulho (a vibração). Então, perguntar: “O que faz sua vida vibrar e brilhar?", "O que faz sua vida, ter luminosidade?” Cada participante deverá responder. Comentar que nem sempre nossa vida vibra • Perguntar quais são as situações ou acontecimentos que fazem nossa vida perder o brilho e vibração (decepção, desrespeito, indiferença, traição, inveja, ciúme, violência etc.). Solicitar a ajuda do grupo para que citem outros exemplos, e cada palavra enunciada, pedir que amassem o papel, até ficar uma bolinha. Após cada um amassar o papel e verbalizar, questionar se acontecem somente com uma pessoa ou se em geral, todos podemos viver tais situações ou acontecimentos • Com a bolinha na mão, o facilitador pergunta ao grupo: “O que devemos fazer com esta bolinha agora?”. Talvez alguns digam para jogá-la fora. Nesse momento, questionamos: “Como vamos jogar fora a nossa vida? O que podemos fazer?”. Alguém poderá dizer para reconstruí-la. “Mas como?” O facilitador, então, deve motivar o grupo a falar palavras de vida (emprego, amor, amizade, justiça ...), e a cada palavra vai-se abrindo novamente a folha de papel • Com a folha de papel aberta, o facilitador pergunta: “Mas e agora? Está cheio de rugas? São as rugas do tempo; assim como na nossa vida. O que fazer? Vamos ver se a vida ainda vibra?”. Nesse momento, pede ao grupo para balançar a folha. Agora a vibração é bem menor. “Podemos abrir e tentar tirar as marcas alisando o papel, mas são permanentes e não vibrará tanto quanto antes. Essas marcas do papel e sua vibração menor com o que podemos relacionar com a vida?” • Solicitar que todos dobrem a folha ao meio e recortá-las em 2 partes. Juntando essas partes, pede para recortá-las novamente, ficando agora com 4 partes. A facilitadora pede aos participantes trocarem as partes, de maneira que cada um fique com 4 partes de cores diferentes • Agora pedir para formarem um asterisco com as partes e depois colocarem o dedo indicador no centro para modelar uma flor 54 Fechamento O facilitador convida os participantes para fazerem um relato de sua experiência e significado da dinâmica Finalizar convidando as reflexões: - A vida, por mais dolorida e cheia de rugas, ainda pode florescer - A vida, às vezes, perde a vibração, mas nunca é tarde para florescer - Que a gente possa florescer onde a vida nos plantar Variações Podemos variar utilizando: - Palito de churrasco como cabo da flor
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