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0 UNIVERSIDADE PAULISTA ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA BYANCA SANTOS DE QUEIROZ GISELE PAPETI DE SOUZA MARCELO NAVES RENATA MARQUES ALVES ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: uma revisão sistemática das produções científicas SÃO PAULO 2019 1 ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA BYANCA SANTOS DE QUEIROZ GISELE PAPETI DE SOUZA MARCELO NAVES RENATA MARQUES ALVES ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: uma revisão sistemática das produções científicas Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de graduação em Psicologia apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento SÃO PAULO 2019 2 FICHA CATALOGRÁFICA 3 ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA BYANCA SANTOS DE QUEIROZ GISELE PAPETI DE SOUZA MARCELO NAVES RENATA MARQUES ALVES ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: uma revisão sistemática das produções científicas Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de graduação em Psicologia apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ________________________/__/____ Prof.ª Ma. Angela Maria Sieiro de Toledo Piza Universidade Paulista – UNIP ________________________/__/____ Prof.ª Dr.ª Renata Capeli Silva Andrade Universidade Paulista – UNIP ________________________/__/____ Prof.ª Dr.ª Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento Universidade Paulista – UNIP 4 DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho – feito com muito amor e devoção – a todos os jovens aos quais a ideia do suicídio já foi ou ainda é uma opção. 5 AGRADECIMENTOS À Deus, princípio e fim de tudo. Ao meu esposo Luiz Carlos e meus filhos Jhennifer, Guilherme e Giovana que emergem em mim a resiliência para os embates da vida. Às professoras Angela Piza, Fernanda Ronca, Heloísa Chiattone, Renata Capeli, Tânia Cociuffo pela formação valiosa e inesquecível transmissão de conhecimento. Alessandra Morais Paulino Oliveira Aos meus pais, Lucimara e Sérgio, que sempre estiveram ao meu lado. Ao meu irmão Wellinton, minha grande alegria. Aos meus queridos avós, Maria e Milton (in memoriam). À Adriana Borges e Vera Lúcia por estarem ao meu lado em muitos momentos. A todos que me auxiliaram, incentivaram e inspiraram nessa jornada. Byanca Santos de Queiroz Aos meus maiores amores Lívia e Fabio. Aos meus pais, pelo amparo essencial. Aos meus queridos amigos, parte da minha história. À Angela Piza, pelas aulas e conversas, que abriram tantos caminhos! À Renata Capeli, pelo carinho e disposição! Gisele Papeti de Souza À minha família - Adriana, Andréia, Felipe, Lara, Luísa, Marcelo e Nino (in memoriam) – em especial minha mãe Elzy, pelo apoio, cuidado e ajuda na realização dos meus sonhos. Aos meus amigos, pelas relações genuínas e por serem o alicerce da minha vida. À Oníria Arruda Figueiredo (in memoriam), pela base de formação e por me estender as mãos; e à Professora Angela Piza pelo encontro que transformou meu caminho e minha vida, por despertar o meu amor pela Psicologia, pela generosidade exalada em cada movimento e por ser minha fonte inesgotável de inspiração. Marcelo Naves À minha filha, razão da minha vida e maior amor do mundo. Aos meus pais pelo estímulo e incentivo ao conhecimento. Ao meu amor Edward pela compreensão e colaboração nas minhas escolhas de vida e pelo amor incondicional que vivemos. Aos meus professores pela difusão profunda do saber tão importante em minha formação. Renata Marques Alves E todo o grupo agradece a Professora Doutora Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento, pela orientação e generosidade em compartilhar seus conhecimentos. 6 “Estátuas e cofres e paredes pintadas Ninguém sabe o que aconteceu Ela se jogou da janela do quinto andar Nada é fácil de entender”. (trecho de Pais e Filhos, Legião Urbana) 7 RESUMO ALVES, Renata M.; NAVES, Marcelo; OLIVEIRA, Alessandra M. P.; QUEIROZ, Byanca S. de; SOUZA, Gisele P.; NASCIMENTO, Vanda Lúcia V. do (orientadora). ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: uma revisão sistemática das produções científicas. Curso de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, UNIP - Universidade Paulista. Campus Pinheiros, 2019. Ao notarmos que a questão do suicídio fora pouco abordada durante nossa formação em Psicologia – ao mesmo tempo em que há uma crescente nas taxas de suicídio entre jovens no Brasil contemporâneo, optamos por realizar uma revisão sistemática da produção científica, considerando a suicidologia, antropologia, sociologia, psiquiatria etc., acerca do fenômeno do suicídio na adolescência contemporânea, nos últimos dez anos e especificamente o que a psicologia tem também publicado sobre o assunto no mesmo período. Fundamentamos nossa pesquisa em um arcabouço teórico na literatura especializada, envolvendo autores como Evelyn Kuczynski, Karina Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega e Roosevelt Cassorla, e consideramos o ser humano adolescente em sua dimensão biopsicossocial, levando em conta fatores intra e intersubjetivos e sua relação social, familiar e cultural. Também consideramos as particularidades da fase adolescente e o que os autores e pesquisadores têm a dizer sobre esta persona. As diversas pesquisas destacadas neste trabalho, apesar de suas particularidades, foram unânimes em demarcar a importância da adolescência enquanto fase de especificidades marcantes em termos de desenvolvimento biopsicossocial; nenhuma das pesquisas considerou a temporalidade contemporânea. Além disso, notamos que poucos são os trabalhos científicos sobre o assunto nas bases de dados pesquisadas, mas há muito o que se falar sobre o assunto nos meios de comunicação e nas mídias sociais. Palavras-chave: Suicídio; Adolescência; Saúde Mental; Psicologia da Saúde; Psicologia Social. 8 ABSTRACT ALVES, Renata M.; NAVES, Marcelo; OLIVEIRA, Alessandra M. P.; QUEIROZ, Byanca S. de; SOUZA, Gisele P.; NASCIMENTO, Vanda Lúcia V. do (orientadora). ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: uma revisão sistemática das produções científicas. Curso de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, UNIP - Universidade Paulista. Campus Pinheiros, 2019. Noting that the issue of suicide was little addressed during our background in Psychology - while there is a rising rate of suicide among young people in contemporary Brazil, we chose to conduct a systematic review of scientific production considering suicidology, anthropology, sociology, psychiatry, etc., about the phenomenon of suicide in contemporary adolescence in the last ten years and specifically what psychology has also published about it in the same period. We base our research on a specialized literature, involving authors such as Evelyn Kuczynski, Karina Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega and Roosevelt Cassorla, consider the adolescent human being in its biopsychosocial dimension, taking into account intra and intersubjective factors and their social, family and cultural relationship. We also consider the particularities of the adolescent phase and what the authors and researchers have to say about this persona. The various studies highlighted in this work, despite their particularities, were unanimous in highlighting the importance of adolescenceas a phase of striking specificities in terms of biopsychosocial development; none of the research considered contemporary temporality. In addition, we note that few scientific papers on the subject are published in leading research sources, but there is much to talk about in the social media. Keywords: Suicide; Adolescence; Health Psychology; Mental Health; Social Psychology. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1 – The Suicide of Dorothy Hale, 1938 – por Frida Kahlo..............................12 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da BVS...................28 Tabela 2 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da SciELO..............29 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13 1.1 Apresentação ............................................................................................. 13 1.2 Revisão da literatura .................................................................................. 14 1.2.1 A adolescência ...................................................................................... 17 1.3 Objetivos ..................................................................................................... 23 1.3.1 Geral ...................................................................................................... 23 1.3.2 Específicos ............................................................................................ 23 1.4 Justificativa ................................................................................................ 23 2 MÉTODO ............................................................................................................. 25 2.1 Amostra ....................................................................................................... 25 2.2 Procedimento de coleta de dados ............................................................ 26 2.3 Procedimento para análise de dados ....................................................... 26 2.4 Ressalvas Éticas ........................................................................................ 27 3 RESULTADOS .................................................................................................... 28 4 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 31 4.1 O adolescente e a contemporaneidade .................................................... 33 4.2 Suicídio na adolescência ........................................................................... 37 4.3 Subjetividade e adolescência ................................................................... 46 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 12 Imagem 1 – The Suicide of Dorothy Hale, 1938 – por Frida Kahlo Fonte: fridakahlo.org 13 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Esta pesquisa refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso cujo propósito foi investigar, por meio de uma revisão sistemática de literatura, o fenômeno do suicídio na adolescência contemporânea. Diante da concepção do fenômeno, apresentamos, inicialmente, os interesses que motivaram o grupo a escolher este tema. Após discussões e debates entre os integrantes do grupo, elencamos diversos fatores para a escolha do tema. Em um primeiro momento, nos deparamos em nossa formação acadêmica com uma questão importante: “Por que o suicídio foi pouco abordado em nossas aulas?”. Mediante esta questão, pesquisamos onde o tema é discutido no universo científico, e, então, vislumbramos a possibilidade de aprofundar esta temática a fim de acrescentar à nossa formação profissional e pessoal e, também, contribuir ao meio acadêmico. Nossa escolha vincula-se também a um assunto que está em voga na atualidade, devido ao aumento do número de casos se destacando na mídia, como verificamos em matéria da BBC Brasil de 2017, que faz menção a um aumento de 10% taxa de suicídio entre jovens entre 2002 e 2017. Decidimos, então, pesquisar o suicídio na adolescência contemporânea. A partir dessa perspectiva, levantamos o questionamento: “O que está se passando com a juventude atualmente para que tantas vezes o suicídio apareça em cena?”. Nossa pesquisa, então, segue um percurso para compreendermos o fenômeno a partir de um trabalho de revisão sistemática, fundamentada em um arcabouço teórico, considerando o ser humano em um registro de sua dimensão psicológica, histórica, social e cultural. Salientamos também que outros saberes adquiridos ao longo de nossa trajetória de vida são fonte de inspiração para estudarmos o tema, como a literatura e a arte. No campo literário têm destaque as obras: Anna Karenina, de Liev Tolstói; Madame Bovary, de Gustave Flaubert; Romeu e Julieta, de William Shakespeare e, principalmente, “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Johan Wolfgang von Goethe. 14 Já na arte, são destacáveis, dentre diversas outras obras, a pintura “O suicida” de Édouard Manet e “O suicídio de Dorothy Hale” de Frida Kahlo, destacada neste trabalho. Lembramos que essas obras trazem apenas o fenômeno a ser apresentado, funcionando como um resgate pessoal de nossa história, mas não contemplam um embasamento teórico que compreenda o fenômeno. 1.2 Revisão da literatura Nossa revisão sistemática buscou estabelecer um diálogo entre o que a produção científica de maneira geral publicou nos últimos dez anos acerca do tema suicídio no período da adolescência e o que a psicologia tem publicado. O trabalho tem como eixo contextualizar o tema em uma perspectiva histórica, social e cultural, além da questão psicológica. Consideramos as questões que cercam o suicídio, colocando o adolescente frente ao tema em um cenário contemporâneo como forma de conduzir o trabalho. Em uma das principais obras referentes ao tema, Émile Durkheim (2000) define suicídio como um caso de morte que resulta de forma direta ou indireta de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato em que esta sabia produzir este resultado. Em estudo mais recente, Alberti (2009), em concordância com o pensamento de Durkheim, entende a morte por suicídio como uma abdicação à existência, ou seja, à vida. Ressaltamos ainda que o indivíduo pode desejar a própria morte e concretizá-la, ou, em algumas situações, não ter a clara intenção e o desejo de morrer (FAIRBAIRN, 1999). Foi preciso, também, discriminar o assunto em três vertentes: suicídio, ideação suicida e tentativa de suicídio. O suicídio, já referido anteriormente, é um ato autoagressivo realizado pelo próprio sujeito; já a ideação suicida refere-se ao pensamento de se matar; a tentativa de suicídio seria um ato não letal, que acontece de forma proposital, porém, sem franca intenção de morte (SIMONSEN, 2015). O suicídio é objeto de estudo de diversas disciplinas; além da suicidologia, a antropologia, a sociologia, a psiquiatria e a psicologia, têm estudado o assunto em diferentes épocas. Historicamente o suicídio foi considerado de diversas formas, de acordo com a cultura, o espaço e o tempo. A complexidade do fenômeno mostra a 15 necessidade de uma continuidade de estudos sobre o tema, em um processo histórico, de sua gênese e transformações a fim de que se possam conhecer diferentes contextos e circunstânciasde sua ocorrência, assim como diminuir o estigma associado ao fenômeno. O suicídio é um problema de saúde cujas origens não estão restritas ao que, genericamente, se chama de saúde mental. Entende-se que saúde é relativa ao pleno desenvolvimento do ser humano (ROEHE; DUTRA, 2017). Destacamos a importância de uma investigação psicológica, social e antropológica que considerasse fatores intra e intersubjetivos, sociais e a própria dinâmica familiar como compreensão do fenômeno. Entendemos que o suicídio pode ser uma última declaração do sujeito às pessoas que lhe são significativas ou à sociedade, o que pode revelar uma riqueza da semântica e da polissemia das expressões humanas (CAVALCANTE; MINAYO, 2004). Nesse caminho, compreendemos o suicídio profundamente atrelado a fatores sociais que transcendem os indivíduos, e sua fomentação varia de acordo com a cultura. As taxas de suicídio refletem uma determinada forma de organização social que reforça a relação entre a alta incidência de casos de suicídio em jovens e a nossa sociedade que pode estar deixando os jovens desamparados frente a situações de violência (ALBERTI, 2009). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 800.000 pessoas morrem em decorrência do suicídio e que 20 vezes este número envolve as tentativas “sem sucesso”; também diz que especificamente em jovens de 15 a 29 anos a segunda maior causa de morte é decorrente do suicídio (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO, 2019). Estes números nos levam cada vez mais a acreditar na necessidade de estudar o tema e colocar em evidência a importância do assunto. Destacamos com este trabalho, portanto, o quão essencial é considerar e reconhecer a importância do lugar que o adolescente ocupa hoje em nossa sociedade, a partir de um mundo que promoveu rupturas e novas estruturas de pensamento e funcionamento. Cavalcante e Minayo (2004) apontaram, por exemplo, que os principais fatores de risco para o suicídio, considerando o contexto familiar, estão 16 relacionados a conflitos e traumas ligados a abusos, a ausências, perdas (reais ou imaginárias) e separações, transtornos mentais ou outras doenças graves, falta de perspectivas de futuro e antecedentes de suicídio na família. Rodriguez e Kovács (2005) apontam que por trás dos casos de suicídio analisados podem ter ocorrido traumas decorrentes de rompimentos afetivos mal resolvidos, dificuldades na própria diferenciação em relação à família, bem como casos de assédio, além de outros relacionados com o bullying na adolescência. Sobre o adolescente e o suicídio, Alberti (2009) coloca que, no jovem, a fronteira entre a vida e a morte é muito frágil, sendo difícil viver quando há uma nova tensão a todo instante. Seguindo uma visão psicanalítica, o eu e a cultura estão em constante oposição na adolescência. Ao fazer uma análise do aumento de casos de suicídio entre jovens em nossa sociedade, Birman (2006) afirma que o sujeito suicida está tomado por uma angústia impossível muitas vezes de ser traduzida em palavras, mas, também, não se pode perder de vista o fato de que essa experiência se conjuga com o estatuto do individualismo vigente desde a modernidade. É comum que a boa performance seja uma exigência subjetiva bastante importante, e, muitas vezes, a promoção de si mesmo aparece como uma marca da própria subjetividade na contemporaneidade. Por isso, pode não ser tão espantoso que as taxas de suicídio aumentem numa sociedade marcada por dúvidas constantes frente a tantas adversidades atuais, sendo possível dizer que os jovens estão mais expostos a esses processos, pois devem construir seus percursos num meio de alta competitividade. A partir da premissa de que a adolescência e a sociedade estão intrinsicamente relacionadas, questionamos o que poderia estar ocasionando um alto grau de sofrimento psíquico que incita o jovem à passagem ao ato do suicídio. Não podemos nos abster de afirmar que por vezes a sociedade atual fracassa em sua tarefa de conter os impulsos dos adolescentes. Na conjectura do mundo contemporâneo em que vivemos se percebe uma busca incessante, a qualquer preço, de felicidade, querendo eliminar qualquer sofrimento e, para isto, todo mal-estar será banido, tratado e curado. Então, nesse contexto, a condição de sofrimento humano a que todos estamos sujeitos, não tem lugar na sociedade e não há espaço para estar triste, frágil, ou 17 diferente do modo proposto pela sociedade capitalista e de consumo que prevalece na atualidade. Dessa forma, o mundo torna-se cada vez mais hostil para o ser humano, que desprende suas raízes e perde paulatinamente a sua identidade dentro de uma coletividade (FIGUEIREDO, 1996). No caso do adolescente este cenário parece ainda mais hostil, considerando que esta seja uma etapa da vida em que, além das inúmeras descobertas prazerosas, traz também novos conflitos e sofrimentos angustiantes, principalmente pela necessidade de tomada de decisões impostas pelo meio (OUTEIRAL, 2008), então como esconder estas angústias? A relação que estabelecemos aconteceu entre o contexto social atual e o aumento da incidência de sofrimento psíquico entre os jovens, que utilizam o recurso do suicídio como opção frente a uma situação de forte sentimento de desamparo extremo. Portanto, dada a complexidade do fenômeno do suicídio, não é possível considerá-lo a partir de uma única perspectiva. O desafio do presente trabalho é, então, o de delinear possíveis compreensões que abarquem o tema explorado. 1.2.1 A adolescência Apesar de somente a partir do século anterior esta etapa ser considerada particular no desenvolvimento humano, a adolescência é reconhecida já há muito tempo. A palavra adolescência provém do latim adolescere, que significa crescer; é possível encontrar menção a ela em textos filosóficos da antiguidade, onde é caracterizada por sua impulsividade e excitabilidade. A palavra em si foi utilizada pela primeira vez na língua inglesa, em 1430, para denominar indivíduos entre os 12 e 21 anos de idade (SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010). Porém, em nosso aparato teórico para este trabalho, concordamos que a inauguração – por assim dizer – do indivíduo adolescente é concedida a Granville Stanley Hall em 1904, que a tratou com ênfase na teoria biológica, influenciado por formulações psicanalíticas como um período de tensão especial. Sigmund Freud não a identificou como uma fase distinta do desenvolvimento, mas a considerou como momento de grande importância, devido a reativação dos impulsos sexuais e agressivos, necessários para adaptação do indivíduo em seu novo papel social. Ele apontou para uma ressignificação edípica ao tratar do período da puberdade e chegou a considerar a esfera social, principalmente em ambiente familiar e escolar, com 18 reedições sobre os pais e o professor (COUTINHO, 2015; PALACIOS, 2004; SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). Fora, até então, definida a adolescência como etapa marcada por mudanças dramáticas, grandes tensões e sofrimentos psicológicos. Uma fase universal, inevitável e turbulenta do desenvolvimento. Apesar do autor reconhecer a influência da cultura e valorizar as diferenças individuais do adolescente (SENNA; DESSEN, 2012), ainda assim a considera universal e a-histórica, determinando uma certa identidade adolescente (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005). Este período desenvolvimentalista foca em alterações psicologizantes e biologizantes, responsabilizando as mudanças físicas e hormonais por características psicológico-existenciais do adolescente. Aqui, ainda é possível notar a proximidade com descrições filosóficas e bíblicas da Antiguidade e fica instaurada uma espécie de temporada transitória entre a infância e a adultez – o adolescente não é nem criança,nem adulto, mas praticamente um rito de passagem. A adolescência é ainda considerada uma fase estressante da vida, devido às inúmeras e intensas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Nesta fase ocorrem movimentos de dependência e independência extrema caracterizando uma etapa de ambivalências, conflitos e contradições (MOREIRA; BASTOS, 2015). Porém, até este momento histórico ainda não se considerava a questão social como parte determinante das questões da adolescência. Margaret Mead, em sua experiência em Samoa no ano de 1928, contradisse essa definição desenvolvimentalista, com base antropologia cultural. A antropóloga afirmou que a adolescência nada mais é do que um produto cultural, moldado pelas práticas sociais e pelo ambiente, já que na sociedade corpus de sua pesquisa os adolescentes vivenciavam um período agradável, de fácil transição, com introdução gradual para a vida adulta e discussões abertas sobre quaisquer conflitos (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005; PALACIOS, 2004; SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). Depois disso, Erik Erikson, entre as décadas de 1960 e 1970, integrou o desenvolvimento psicossocial e a antropologia cultural e, ainda de forma 19 desenvolvimentalista, apresentou uma interligação entre fatores biológicos, cognitivos, comportamentais, sociais e culturais nesta fase do desenvolvimento. O autor propõe a Teoria Psicossocial, em que o ambiente é participante na construção do indivíduo, com fatos sociais e psicológicos que dependem do contexto em que ele estiver inserido (COUTINHO, 2015; PALACIOS, 2004; SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). Neste mesmo período, Winnicott também traz contribuições da psicanálise, ao desenvolver aquilo que havia sido apontado por Freud, mostrando que a adolescência vai além da puberdade física e que entra em confronto com o ambiente, com as tradições da cultura e com o adulto: um vínculo entre o psíquico e o social. Winnicott assenta sobre as expressões do adolescente, que muitas vezes mesclam uma dependência regressiva e uma independência desafiadora na relação com o adulto. Ele estaria em uma situação paradoxal entre depender do adulto e do ambiente e em realizar suas saídas criativas e reinventadas, colocando em xeque as tradições da cultura e negando ser compreendido, justamente por este ser um momento de descoberta pessoal, apesar de toda a sua imaturidade e necessidade do adulto e do ambiente para "sentir-se real" (COUTINHO, 2015). Lacan também oferece suas contribuições psicanalíticas acerca da adolescência, considerando esta fase uma interseção entre o pulsional (energia psíquica) e o social e um afastamento das figuras parentais da infância e encontro com a cultura. Notemos que a Psicanálise nestas últimas abordagens está sempre atrelada ao contexto social e próxima do surgimento da Psicologia Social, que virá para contribuir com esta relação entre questões da psicologia e das ciências sociais, já que se percebe com frequência a importância do meio para a constituição psicológica do ser humano. Este é, então, um grande passo para evolução do que se define por adolescente biopsicossocial e que separa significativamente a definição de puberdade e de adolescência, mas ainda é aqui considerada uma “moratória social”, um período de simples transição, espera e preparação para seu papel de adulto. No âmbito da educação, as teorias de Jean Piaget também colaboraram para determinada evolução no conceito de adolescência, privilegiando os processos 20 cognitivos do desenvolvimento na adolescência e determinando uma forma própria de compreender e criar sistemas filosóficos, ético e políticos e entrando na fase adulta pela inserção na sociedade; uma forma descontinuada das fases do desenvolvimento (PALACIOS, 2004; SENNA; DESSEN, 2012). Distribuindo o aperfeiçoamento da definição de adolescência em fases, como fizeram Senna e Dessen (2012), chegamos em uma segunda etapa por volta da década de 1970, onde surgem os novos modelos contextualistas, considerando o constante desenvolvimento do ser humano e seu contexto sócio-histórico. Neste momento, estudos colaborativos de diversos profissionais e disciplinas apresentam a Teoria do Curso de Vida, propondo considerar mudanças históricas e ambientais e estágios temporais, contextuais e processuais da vida e do desenvolvimento humano. Os sujeitos passam a ser reconhecidos como agentes de mudança influenciados pelo seu contexto social e histórico; com múltiplos caminhos e interrelações. Esta já pode ser considerada a definição contemporânea do desenvolvimento humano, em que a adolescência passa a ser mais uma etapa, com seus problemas específicos, assim como em todas as outras. A partir desta definição contemporânea pudemos perceber que todas as definições anteriores possuem sentido em sua temporalidade e foram aprimoradas por estudos, pesquisas e experiências. Agora, o que precisamos considerar neste nosso estudo são as marcas mais atuais da sociedade em que hoje vivemos: nós e nossos adolescentes. Vivemos em um contexto de mudanças aceleradas, tecnologia cada vez mais avançada, maior liberdade – e facilidade – de expressão (principalmente por meio da internet e redes sociais), acesso rápido e prático a informações de todo o planeta, comunicação também acelerada e na palma da mão (cada vez mais digital e menos pessoal), diferenças gritantes entre padrões sociais de gerações em convívio e muita concorrência, em todos os sentidos. Todo este perfil acelerado e desnudo da era digital possibilita ainda mais reações impulsivas e intolerantes, isolamento no mundo digital, busca sofrida para atender a demandas narcísicas exageradas, pouca tolerância a frustrações e falta de capacidade de assumir responsabilidade por determinados atos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO, 21 2019). Isso posto, há que se considerar as inúmeras possibilidades que o adolescente tem em mãos para se expressar, ser influenciado e encontrar meios próprios de demonstrar seus sentimentos, de forma a evidentemente causar confusão na interpretação do que é – e do que não é – exposto por ele. Em seu estudo, Schoen-Ferreira et al. (2002) apresentam a posição de Papalia e Olds (2000, apud SCHOEN-FERREIRA et al., 2002), em que eles: alertam para o perigo da suposição de que a “rebeldia da adolescência” é normal e necessária, a qual leva muitos pais e professores a acreditar que por si mesmos os adolescentes irão superar essa fase, deixando de reconhecer quando um jovem está apresentando comportamentos de risco e necessita de ajuda. (p. 80). Esta suposição estereotipada pode, inclusive, interferir em diagnósticos e prejudicar um possível tratamento/acompanhamento profissional. Este problema está ligado ao que Schoen-Ferreira, Aznar-Faris e Silvares (2010) consideraram em seu trabalho ao referenciarem a Síndrome da Adolescência Normal de Aberastury e cols. nos anos 80 (1980 apud SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010), em que diversos comportamentos considerados patológicos, ao serem percebidos na adolescência, passam a ser considerados normais e esperados. Percebemos então que, apesar dos avanços nos conceitos sobre adolescência, o sentido estereotipado do adolescente como naturalmente desequilibrado ainda está vivo nas pessoas com quem este adolescente convive e que, em muitos momentos, depende e se inspira. Está também ainda vivo no meio acadêmico e profissional, além de entranhado em um consenso social preconceituoso. A importância de trazermos à luz uma conceitualização mais fiel à realidade e menos engessada é indiscutível e, portanto, faz parte importante na discussão do presente estudo sobre o suicídio na adolescência contemporânea. Coimbra e Nascimento (2005) evidenciam que até mesmo a definiçãodo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sobre o adolescente é orientada por esse posicionamento universalizado (2005), quando diz no artigo 6º que esta é uma “condição peculiar de pessoas em desenvolvimento” (BRASIL, 1990). O ECA, lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, considera a fase humana da adolescência entre os 12 e 18 anos de idade (BRASIL, 1990) e é hoje, apesar da 22 denúncia de Coimbra e Nascimento (2005), uma das mais avançadas legislações de proteção aos jovens. Infelizmente, apesar de toda a sua abrangência e competência legislativa, nossa realidade social e governamental ainda não é capaz de aplicá-la em sua completude, pois o ECA não considera as situações reais e impérvias do dia-a- dia do adolescente e seus conflitos familiares, escolares e sociais. Além disso, a mídia criminaliza, repreende, estigmatiza e subestima o jovem, principalmente se inserido em contexto menos favorecido, o que atrapalha a disseminação e conhecimento público dos direitos e deveres reais deste cidadão estereotipado (MELLO, 1999). Ainda assim, desde a virada do século XX ao XXI e suas rápidas e consideráveis mudanças, os governos se conscientizam da importância de proteger o desenvolvimento humano e passaram a considerar a adolescência como parte vital deste processo, o que fez com que as leis e conceitos fossem atualizados, mas, como já dito, isso não garantiu uma mudança significativa na realidade do pensamento social acerca do adolescente. As novas leis postergaram o casamento, aumentaram o tempo de estadia na moradia com os pais, ampliaram o tempo para o preparo até a fase adulta, distanciaram a obrigação ao ingresso no mercado de trabalho e permitiram a gestação fora do matrimônio. Isso tudo pode ser positivo e negativo ao mesmo tempo, considerando o convívio social e familiar e os julgamentos ainda desatualizados e mais tradicionais (SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010). A Organização Mundial da Saúde também está atualizada a este perfil biopsicossocial da adolescência contemporânea, mas ela amplia esta fase à segunda década da vida humana, ou seja, entre os 10 e 20 anos de idade, assim como o Ministério da Saúde do Brasil e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010). É também importante considerar todas estas definições defendidas por nossas Políticas Públicas para prosseguirmos com nosso trabalho e as considerarmos ao depararmo-nos com as possíveis situações que levam o adolescente contemporâneo ao suicídio, à tentativa de suicídio ou sua ideação. 23 1.3 Objetivos 1.3.1 Geral Esta pesquisa teve por objetivo compreender o fenômeno social do suicídio de adolescentes na contemporaneidade. 1.3.2 Específicos Pesquisamos os possíveis fatores desencadeantes do quadro em questão e/ou preponderantes a ele na atualidade, como também buscamos compreensão dos aspectos psicológicos, sociais, históricos e culturais que podem influenciar o fenômeno, e os eventuais desdobramentos dessa influência na subjetividade dos adolescentes. Estudar a difusão e a visão desta temática, na contemporaneidade, entre profissionais que intervêm no processo de cuidado destes adolescentes e na sociedade como um todo é o desígnio deste trabalho. Apresentar o que a psicologia tem publicado acerca da problemática que abarca o assunto nos últimos dez anos, as possibilidades de intervenções capazes de contribuir para prevenção de desfechos trágicos, bem como a ampliação das discussões sobre as especificidades dos atendimentos aos adolescentes, seus familiares e as escolas. 1.4 Justificativa O crescimento do número de adolescentes envolvidos em episódios de tentativas de suicídio é alarmante atualmente, conforme apontam dados como o do título da matéria publicada para a BBC Brasil em abril de 2017: “Crescimento constante: taxa de suicídio entre jovens sobe 10% desde 2002” (ESCÓSSIA, 2017). A partir disso, emergem questões relevantes acerca do que pode estar acontecendo com estes jovens, e quais fatores poderiam ser desencadeantes deste quadro e/ou preponderantes. Há um perfil destes adolescentes possível de ser delineado? Tal perfil viabilizaria pensar possibilidades de intervenções capazes de contribuir para evitar um desfecho trágico do fenômeno? Condições e características socioculturais da contemporaneidade influenciam o fenômeno? Quais seriam elas? 24 Entendemos que este estudo, por meio da revisão sistemática da literatura científica nos últimos dez anos, contribui para a investigação e análise da problemática que abrange o suicídio na adolescência na atualidade, entrepassada nas escolas e na sociedade contemporânea; e também para a necessária e urgente ampliação do conhecimento que permeia as discussões sobre as especificidades do fenômeno do suicídio na adolescência na atualidade. Este conhecimento é um importante instrumento para os atendimentos a esses adolescentes. A análise do quadro atual permite que emerjam novas formas de intervir de forma preventiva, levando em conta os contextos sociais, históricos, culturais, de vida e a subjetividade dos jovens contemporâneos. Considerando, então, tanto as particularidades do atendimento – e do entendimento – ao adolescente e as minúcias que podem levá-lo a quadros relacionados com o suicídio, finalizamos nosso pensamento introdutório com um trecho do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, que diz: “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para gente é no meio da travessia” (ROSA, 1994, p.86). 25 2 MÉTODO Nosso propósito para definição do método foi o de compreender a problemática que envolve o tema, por meio da revisão sistemática da literatura científica, em periódicos publicados entre 2009 e 2019, sobre o suicídio na adolescência. Esta pesquisa procura ampliar uma discussão referente ao tema suicídio com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos, base de dados, artigos indexados e outros. Foi feita análise dos dados coletados, apresentação e discussão dos dados, e, por fim, conclusão da revisão (MARTINS; PINTO, 2001). Numa revisão sistemática, o pesquisador entra em contato com o que foi escrito sobre determinado assunto; dessa forma, não podemos dizer que ela é uma mera repetição dos assuntos, mas sim, proporciona um exame de um tema a partir de um novo enfoque (MARCONI; LAKATOS, 2007). A revisão em questão foi realizada por meio dos seguintes passos: estabelecimento do problema, seleção da amostra, análise dos resultados, apresentação e discussão dos resultados e apresentação final da revisão. Completamos nossa pesquisa por meio da fomentação do contato pessoal com teorias, o que leva a interpretações e a raciocínios próprios (DEMO, 2006), enriquecendo e ampliando a aquisição de conhecimento. 2.1 Amostra Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada revisão sistemática da literatura de produções científicas, em periódicos nacionais do período de 2009 a 2019, sobre suicídio na adolescência, considerando também tentativas e ideações suicidas, por estarem correlacionados à temática. Estabelecemos como questão: qual a contribuição da psicologia nas investigações científicas publicadas em periódicos, nos últimos dez anos, acerca do suicídio na adolescência? 26 2.2 Procedimento de coleta de dados A seleção foi realizada a partir da leitura criteriosa dos resumos de artigos, teses e dissertações encontradas em bases de dados, sendo selecionados apenas artigos que atendiam aos critérios de inclusão definidos na amostra. Foi feita a seleção de amostras, utilizadas como fundamentação teórica para fornecer um caminho adequado à solução do problema proposto, nas seguintes base de dados: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) eSciELO (Scientific Eletronic Library OnLine), por meio dos descritores: suicídio e adolescentes num primeiro momento, com os filtros: Brasil, língua portuguesa, anos 2009 a 2019. Em seguida, acrescentamos aos descritores a palavra psicologia, refinando a busca. Após essa consulta fizemos outra, trocando o descritor adolescentes por adolescência, seguida da consulta com o acréscimo do descritor psicologia, e comparamos os dados coletados. A coleta de dados foi norteada pelas leituras: exploratória do material selecionado e seletiva, com o registro das informações extraídas das fontes em instrumento específico (autores, ano, método, resultados e conclusões). Foi, então, realizada uma leitura analítica dos resumos dos periódicos com a finalidade de ordenar e sintetizar as informações obtidas, de forma que estas possibilitassem a obtenção de respostas à problemática apresentada na pesquisa. Foram incluídas apenas as publicações que responderam à questão do estudo, publicadas no período de 2008 a 2018, no Brasil, com todos os tipos de delineamentos metodológicos indicados. 2.3 Procedimento para análise de dados A partir da coleta de dados, foram definidos os artigos para leitura analítica de todo o material encontrado e as principais informações a serem compiladas na discussão. Posteriormente, foi realizada uma análise descritiva dos artigos, buscando estabelecer uma compreensão e uma ampliação do conhecimento sobre o tema pesquisado e elaboração do referencial teórico. Então, foi elaborada uma discussão dos resultados e das considerações finais, que foram analisadas e discutidas a partir do referencial teórico relativo à temática do estudo. 27 2.4 Ressalvas Éticas Houve o comprometimento de citar os autores utilizados no estudo respeitando a norma brasileira regulamentada (NBR 6023), que dispõe sobre os elementos incluídos e que orienta a compilação e produção de referências. Os dados coletados foram utilizados exclusivamente com finalidade científica. 28 3 RESULTADOS Foram encontrados, por meio das consultas realizadas nas bases de dados utilizadas nesta pesquisa – BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library OnLine) –, antes da inclusão do descritor psicologia, cerca de 60% de periódicos a mais do que o número restante após esta inclusão, em ambas as bases consultadas, mas eles não foram utilizados no seu total. Os artigos encontrados depois da inserção de todos os descritores aplicados nesta pesquisa – suicídio, adolescência e psicologia – seguem nas tabelas abaixo: Tabela 1 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da BVS. Ano Título Autores Periódicos 2016 Comportamento de risco à saúde de adolescentes escolares Barbosa, Franck Nei Monteiro; Casotti, Cezar Augusto; Nery, Adriana Alves Texto contexto - enferm. 2014 Tentativas de suicídio atendidas em unidades públicas de saúde de Fortaleza-Ceará, Brasil Oliveira, Maria I.; Bezerra Filho, José G.; Gonçalves-Feitosa, Regina F. Rev. salud pública 2014 Fatores de risco relacionados com suicidios em Palmas (TO), Brasil, 2006-2009, investigados por meio de autopsia psicossocial Sena-Ferreira, Neci; Pessoa, Valdir Filgueiras; Boechat-Barros, Raphael; Figueiredo, Ana Elisa Bastos; Minayo, Maria Cecilia de Souza Ciênc. Saúde Colet 2012 Risco de suicídio e comportamentos de risco à saúde em jovens de 18 a 24 anos: um estudo descritivo Ores, Liliane C.; Quevedo, Luciana A.; Jansen, Karen; Carvalho, Adriana B.; Cardoso, Taiane A.; Souza, Luciano D. M.; Pinheiro, Ricardo T.; Silva, Ricardo A. Cad. saúde pública 2011 Condutas de risco à saúde e indicadores de estresse psicossocial em adolescentes estudantes do Ensino Médio Carvalho, Priscila Diniz de; Barros, Mauro Virgilio Gomes de; Lima, Rodrigo Antunes; Santos, Carla Menêses; Mélo, Edilânea Nunes Cad. saúde pública 2011 Comportamento de violência e fatores associados entre estudantes de Barra do Garças, MT Castro, Marta de Lima; Cunha, Sergio Souza da; Souza, Delma P Oliveira de Rev. saúde pública 2009 Planejamento suicida entre adolescentes escolares: prevalência e fatores associado Baggio, Lissandra; Palazzo, Lílian S; Aerts, Denise Rangel Ganzo de Castro Cad. saúde pública 2009 Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil Botega, Neury José; Marín-León, Letícia; Oliveira, Helenice Bosco de; Barros, Marilisa Berti de Azevedo; Silva, Viviane Franco da; Dalgalarrondo, Paulo Cad. saúde pública 2009 Prevalência de transtornos mentais nas tentativas de suicídio em um hospital de emergência no Rio de Janeiro, Brasil Santos, Simone Agadir; Lovisi, Giovanni; Legay, Letícia; Abelha, Lúcia Cad. saúde pública 2009 Sentimento de discriminação em estudantes: prevalência e fatores associados Bittencourt, Alex Avelino; Aerts, Denise Rangel Ganzo de Castro; Alves, Gehysa Guimarães; Palazzo, Lílian; Monteiro, Lisiane; Vieira, Patrícia Conzatti; Freddo, Silvia Letícia Rev. saúde pública 29 Tabela 2 – Periódicos científicos encontrados na base de dados SciELO. Foram encontrados periódicos científicos nos campos da psiquiatria (2), de enfermagem (1), de psicologia (8) e de saúde pública e coletiva (11). Na base de dado SciELO a maioria das publicações são da Psicologia, em periódicos da área, já na BVS os artigos são das demais áreas, como esperado por se tratar da Biblioteca Virtual em Saúde. Nos respectivos resultados, a maior parte dos artigos encontrados trata da temática do suicídio na adolescência de forma indireta. Isto poderia ser um indicativo de que pouco se tem publicado, no meio da Psicologia, acerca de um tema tão importante. Uma área específica para tratar do tema, chamada, atualmente, de suicidologia, tem se dedicado a pesquisar e a publicar mais sobre o assunto, embora suas publicações não estejam contidas nestas bases de dados que utilizamos neste trabalho. A área da Educação também tem se debruçado mais sobre o tema, dado que o cenário do suicídio entre jovens em período escolar tem tido destaque nos últimos tempos. Esses dois campos de conhecimento salientam onde o fenômeno do suicídio está presente na sociedade contemporânea. Ano Título Autores Periódicos 2018 Adolescência em atos e adolescentes em ato na clínica psicanalítica Jucá, Vládia dos Santos, Vorcaro, Angela Maria Resende Psicologia USP 2018 Prevalência de pensamentos e comportamentos suicidas e associação com a insatisfação corporal em adolescentes Claumann, Gaia Salvador, Pinto, André de Araújo, Silva, Diego Augusto Santos, Pelegrini, Andreia Jornal Brasileiro de Psiquiatria 2017 Depressão em Adolescentes: Revisão da Literatura e o Lugar da Pesquisa Fenomenológica Melo, Anna Karynne, Siebra, Adolfo Jesiel, Moreira, Virginia Psicologia: Ciência e Profissão 2015 Prevalência e fatores associados à ideação suicida na adolescência: revisão de literatura Moreira, Lenice Carrilho de Oliveira, Bastos, Paulo Roberto Haidamus de Oliveira Psicologia Escolar e Educacional 2014 Adolescência, comportamento sexual e fatores de risco à saúde Assis, Simone Gonçalves de, Gomes, Romeu, Pires, Thiago de Oliveira Revista de Saúde Pública 2013 Tipos e consequências da violência sexual sofrida por estudantes do interior paulista na infância e/ou adolescência Teixeira-Filho, Fernando Silva, Rondini, Carina Alexandra, Silva, Juliana Medeiros, Araújo, Marina Venturini Psicologia & Sociedade 2010 Fatores de risco para problemas de saúde mental na infância/adolescência Sá, Daniel Graça Fatori de, Bordin, Isabel A. Santos, Martin, Denise, Paula, Cristiane S. de Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010 Representação social da depressão em uma Instituição de Ensinoda Rede Pública Ribeiro, Karla Carolina Silveira, Coutinho, Maria da Penha de Lima, Nascimento, Emily da Silva Psicologia: Ciência e Profissão 2010 Ideação suicida na adolescência: um enfoque psicossociológico no contexto do ensino médio Araújo, Luciene da Costa, Vieira, Kay Francis Leal, Coutinho, Maria da Penha de Lima Psico-USF 2010 Ideação suicida na adolescência: prevalência e fatores associados Souza, Luciano Dias de Mattos, Ores, Liliane, Oliveira, Gabriela Teixeira de, Cruzeiro, Ana Laura Sica, Silva, Ricardo Azevedo, Pinheiro, Ricardo Tavares, Horta, Bernardo Lessa Jornal Brasileiro de Psiquiatria 2010 Transtornos alimentares na visão de meninas adolescentes de Florianópolis: uma abordagem fenomenológica Nunes, Arlene Leite, Vasconcelos, Francisco de Assis Guedes de Ciência & Saúde Coletiva 2008 Tentativas de suicídio em jovens: aspectos epidemiológicos dos casos atendidos no setor de urgências psiquiátricas de um hospital geral universitário entre 1988 e 2004 Ficher, Ana Maria Fortaleza Teixeira, Vansan, Gerson Antonio Estudos de Psicologia (Campinas) 30 Retomaremos estas questões na discussão dos resultados aqui presentes, entretanto, já podemos mencionar que em uma busca randômica na internet, fora das bases de dados da BVS e SciELO, encontramos uma vasta quantidade de pesquisas em torno do tema publicadas em outros veículos de circulação. Este fato denota que há uma preocupação, investigação e produção de material científico que abrange a temática do suicídio na adolescência na contemporaneidade, mas que escapa das bases de consulta mencionadas e este dado é de importante consideração, colocando em questão se essas bases reconhecidas e amplamente utilizadas não têm alcançado mais uma abrangência significativa, ao menos para a pesquisa que nos propusemos realizar, para ampliar a discussão acerca do tema deste trabalho. 31 4 DISCUSSÃO Consideramos o suicídio um fenômeno com múltiplas especificidades, que perpassa por diversos campos de conhecimento, durante qualquer tentativa de entende-lo e estudá-lo em variados aspectos, que envolvem fatores culturais e sociais (políticos, familiares, crenças religiosas, grupos econômicos e sociais), predisposições orgânicas e psíquicas, além da influência do ambiente, conforme bem apontado por Kuczynski (2014). O fenômeno é uma preocupação em voga nos últimos anos, considerando que os casos de automutilação e tentativas de suicídio na adolescência têm aumentado, conforme já mencionado na introdução (ESCÓSSIA, 2017). O período da adolescência suscita por si mesmo turbulências típicas da fase de amadurecimento e de mudanças físicas e psíquicas do ser humano em desenvolvimento. As características da sociedade de nossa época têm sua importância muitas vezes destacada como uma possível influência direta nas atitudes e nos desdobramentos das consternações que já são, mesmo, pertencentes a este período da vida, considerando-se as construções e acontecimentos histórico-sociais. Uma questão que se apresenta é se essas influências podem ser decisivas para ações de autoagressão que têm feito parte de uma caracterização da juventude atual dentro de um quadro de epidemia de automutilação e de tentativas de suicídio crescentes, caracterizando-se como um grave problema de saúde pública. Os estudos encontrados nos periódicos das bases de dados pesquisadas apresentam recortes específicos aprofundados dentro de uma faceta bastante singular acerca do suicídio na adolescência. São destacados, principalmente, aspectos em torno do que pode representar fatores de risco à saúde e integridade dos adolescentes. O destaque da adolescência gira em torno da vulnerabilidade nessa fase da vida, por se tratar de uma etapa muito considerada como mera transição, onde não se é mais criança, mas ainda não está definida a condição de adulto; onde também há inúmeras alterações físicas, hormonais e novas experiências com o próprio corpo. As condições psíquicas típicas, portanto, podem ser disparadores específicos. Entretanto, o que as pesquisas apontam é que fatores orgânicos não são os maiores associados aos casos, e sim os aspectos sociais, com destaque para a 32 insegurança e instabilidade sociais, episódios de bullying, e uma amplificada ausência de perspectiva de futuro diante da crescente instabilidade socioeconômica vivida atualmente no país; o que também pode caracterizar situação vulnerável diante da sociedade como um todo. Para tratarmos a evidente complexidade deste assunto, alguns dos autores expoentes sobre o suicídio no Brasil nos serviram como referenciais teóricos, como: Evelyn Kuczynski, Karina Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega e Roosevelt Cassorla. A articulação dos estudos destes autores, juntamente com os periódicos encontrados nas bases de dados consultadas resultou na eleição das seguintes categorias analíticas: o adolescente e a contemporaneidade, suicídio na adolescência e subjetividade e adolescência (em seus principais aspectos psicológicos, sociais, históricos e culturais em relação ao adolescente). Buscamos, então, relacionar tais categorias analíticas com nossos apontamentos enquanto estudiosos em formação na área de Psicologia. Cabe-nos, enquanto pesquisadores/as e profissionais da saúde, questionar estes dados à nossa disposição e nos prepararmos para o momento de turbulência com casos que envolvem angústias, ansiedades e sofrimentos que permeiam a vida dos adolescentes, que estão recorrendo cada vez mais a atos extremos, em uma sociedade que cada vez mais recorre a medicamentos e internações sem perceber como a temática apresentada neste trabalho ainda é um tabu social a ser analisado e discutido com maior amplitude, tendo maior abrangência entre os profissionais e a sociedade. Propomos, para tanto, algumas reflexões: estes dados são reflexos de uma sociedade acelerada e adoecida? Faltam limites aos adolescentes? O comportamento do jovem na contemporaneidade reflete um sofrimento frente ao que entendem que se espera deles? Que futuro anseiam? Apresentaremos, então, as seguintes categorias analíticas para nortear e ampliar a discussão acerca do tema, com destaque para os discursos dos autores e autoras da revisão sistemática, apresentada no capítulo de resultados, que 33 apresentam narrativas em torno das concepções e compreensões sobre a adolescência e o suicídio: O adolescente e a contemporaneidade Suicídio na adolescência Subjetividade e adolescência 4.1 O adolescente e a contemporaneidade Para tratarmos casos de suicídio especificamente na fase da adolescência, cabe procurarmos definir – até certo ponto – esta persona, que na contemporaneidade já difere bastante daquilo que foi apresentado em nossa introdução e há muito descrito como adolescente. Procuramos, então, destacar um perfil biopsicossocial contemporâneo de acordo com o que encontramos em nossa pesquisa. Baggio, Palazzo e Aerts (2009) fazem um apontamento da adolescência como fase de profunda reorganização física, psíquica e social que reflete conflitos internos, sentimentos depressivos e ansiosos, em que a escola desempenha um importante “papel estratégico para a promoção e proteção da saúde dos alunos, pois é o local onde são reproduzidos os padrões de comportamentos e relacionamentos que podem pôr em risco a saúde dos jovens” (p. 143). Menciona, então, a relevância do meio para o adolescente, que vive uma fase em que pensamento de morte são bastante frequentes, principalmente em jovens do sexo feminino. O estudo desses autores também considera que, na adolescência, “a identificação com amigos e o sentimento de pertencer a um grupo são muito importantes na estrutura da personalidade, tendo efeito de apoio e proteção” (BAGGIO; PALAZZO; AERTS, 2009, p. 148),o que aponta, novamente, para a importância do meio nessa etapa da vida, e a devida capacitação dos profissionais da rede escolar para que sejam aptos a trabalhar os temas de importância na vida dos jovens, identificando riscos e realizando ações que viabilizem maior envolvimento familiar (BAGGIO; PALAZZO; AERTS, 2009). Como fora levantado por autores das amostras coletadas para a presente pesquisa, adolescer diz respeito a um ciclo de agudo trabalho psíquico, buscando se 34 engajar por meio de novos significados. A adolescência implica um remanejamento da organização psíquica e da relação do sujeito com o mundo. Ela é reveladora do nosso funcionamento social, denuncia e desvela aos nossos olhos, algo que pertence ao nosso tempo e cultura (JUCA; VORCARO, 2018). A constituição do adolescente não ocorre de forma alheia ao contexto que vive, pois ele se constitui com e no mundo, não sendo possível compreender esse sujeito restringindo o olhar aos seus aspectos individuais (MELO; SIEBRA; MOREIRA, 2017). Tendo isso dito, é fato que a cultura e as relações sociais interferem e influenciam de modo significativo esta fase do desenvolvimento humano. O adolescente, que também passa por mudanças corporais significativas, mudança de ambiente escolar para algo mais impessoal e maior, afastamento da sua relação com os pais e fragilidade em seu processo de individualização (SCHOEN- FERREIRA et al., 2002; SIMONSEN, 2015), ao se deparar com toda essa cobrança do contexto em que está inserido, pode facilmente apresentar queixas psicológicas significativas e perigosas, como inclusive foram estudadas por Schoen-Ferreira et al. (2002) em seu estudo sobre o encaminhamento de adolescentes ao Centro de Atendimento e Apoio Psicológico ao Adolescente – CAAA. Ficher e Vansan (2008), em sua pesquisa, identificaram comportamentos suicidas, por exemplo, entre os jovens de lares desfeitos, perdas parentais, separação dos pais, adolescentes que se sentem intensamente desvalorizados, rejeitados e desprezados pelos familiares. O adolescente se encontra com múltiplas situações que podem contribuir para alterações de humor e de comportamento, portanto entendemos que a percepção que o sujeito tem de determinadas situações irá influenciar a maneira como ele vai lidar com elas. O que é apontado por Castro, Cunha e Souza (2011) é que a adolescência é uma fase caracterizada por mudanças “biológicas, socioculturais e psíquicas em que o ser humano tenta superar comportamentos antissociais, cujos efeitos são prejuízos e frustrações incompreendidos pelo mundo adulto” (p. 1060). Os mesmos autores ainda pontuam a adolescência enquanto uma fase “de conflitos que merecem respeito e apoio constantes para que o adolescente possa vir a ser um adulto seguro nas suas escolhas e decisões de vida” (p. 1060). 35 Para pensar o adolescente é necessário ter a polidez de reconhecer que a adolescência não é a mesma para todos e, por isso, é fundamental ter cuidado com generalizações como aquelas que posicionam de antemão o adolescente no lugar de um rebelde. Assim, é preciso observar como se efetiva a transição para cada um. Por outro lado, apoiamos a hipótese de que há algo em comum: a adolescência como operação na qual definições importantes irão se processar, caminhando para a compreensão de que a adolescência também nos revela algo do seu tempo (JUCA; VORCARO, 2018). Com toda sua evidente complexidade, este é um período de intensas oscilações, como vimos, e de muita singularidade. Uma maneira para compreender essa experiência é propiciar um espaço onde o adolescente possa descrever o seu mundo e seus significados, saindo de uma atitude natural pautada em realidades objetivas para abarcar as condições de possibilidade dessa experiência. Sena-Ferreira et al. (2014) associam a adolescência a uma fase propensa a impulsos autodestrutivos associados à “falta de apoio, de segurança e de estabilidade familiar, entre outros aspectos” (p. 122). Eles também consideram em sua pesquisa a importância do suporte ao jovem, que passa por um período de “episódios de ansiedade, comprometimento na socialização e adaptação” (p.7), refletidos num caso apresentado no artigo, de um garoto de 16 anos de idade com TDAH que comete suicídio. O caso a que estes autores se referem reflete, do ponto de vista deles, uma questão em voga: certa negligência e incapacidade de lidar com a complexidade das questões e sofrimentos em casos de pessoas com maior vulnerabilidade psíquica. Na adolescência são percebidas indagações que se referem ao processo de estruturação psíquica e entendemos que nela existe a necessidade de pensar o processo de constituição psíquica na ligação entre o tempo lógico e o tempo cronológico. Neste sentido, podemos pensar como um modo de funcionamento psíquico no laço social, sendo possível a ocorrência de rupturas do sujeito adolescente. Os adolescentes utilizaram da linguagem e das ferramentas atuais para “fazerem a passagem” – e aqui nós consideramos ser importante apontar para este detalhe de caráter limitante no mencionado artigo em relação a esta etapa da vida como puramente transicional – circulando, por um lado, entre espaços grupais, como 36 as redes sociais e, por outro, vivendo a experiência de se tornar homem e/ou mulher solitariamente, reflexo de um modelo único em uma sociedade de indivíduos. O adolescente hoje faz suas próprias marcas (JUCA; VORCARO, 2018). O artigo de Castro, Cunha e Souza (2011) aborda a adolescência de forma associada a violências do ponto de vista do uso de armas, agressões e tentativas de suicídio. A pesquisa deles busca conhecer a “magnitude da violência, sua prevalência e fatores associados, subsidiando as políticas públicas de prevenção e tratamento” (p. 1059). Comportamentos de violência, neste artigo, foram ligados a comportamentos considerados de risco, como não-uso de preservativos em relações sexuais, consumo de drogas psicoativas ilegais, uso de álcool, dificuldades escolares, e cuidados familiares em relação à atenção da família em relação às amizades dos adolescentes. Destacamos também a puberdade em seus diversos aspectos, como um fenômeno que pode deixar os jovens em situação de desconforto até mesmo com sua imagem corporal. Os sintomas que predominam nesses casos são baixa autoestima, ansiedade e depressão, que podem predispor comportamentos que levam a pensamentos e comportamentos suicídios, concluindo que a imagem corporal pode ser um possível fator de risco para o suicídio nessa fase da vida (CLAUMANN et al., 2018). Outros fatores de risco que precisam ser considerados são o absentismo escolar, dificuldade para dormir, ocorrência de injúrias e sentimentos de solidão e tristeza, no entanto não é possível afirmar se esses fatores são causas ou consequências (BITTENCOURT et al., 2009). Ores et al. (2012) também concordam que a adolescência é um período caracterizado por mudanças e experiências de vida que, apesar de serem parte do desenvolvimento humano, são capazes de desencadear comportamentos de risco e problemas emocionais, dentre os quais estão sintomas depressivos e risco de suicídio. As transformações inerentes a esta etapa (físicas, emocionais, sociais e familiares) costumam provocar ansiedade e angústia (ORES et al., 2012). Os comportamentos de risco que podem prejudicar a saúde geral dos jovens, então se presentificam seja pelo caráter exploratório típico dessa fase da vida, seja por influência do meio. Todavia, não há clareza em termos de causa, ou seja, não há 37 apontamento de evidências que indiquem que comportamentos de risco precedam o risco de suicídio, nem o inverso. Apesar disso, Cassorla (2000), ao falar sobre jovens que tentam suicídio, faz associações entre as turbulências próprias desta fase e a puberdade, a revivescênciade fantasias edípicas e o desprendimento definitivo das figuras parentais para que possam atingir a adultez. Com tudo isso, surgem variadas ansiedades primitivas e confusões entre a relação sujeito-objeto (bom ou mau). Para livrar-se de possíveis objetos maus – e aqui o autor fala especificamente das relações familiares e românticas –, o adolescente pode desejar voltar a um estado de fusão idealizada primitiva e nirvânica por meio da morte. A adolescência, como podemos perceber, é uma fase ainda muito destituída de referências, enraizamento e clareza sobre seus fatores. A abordagem da pesquisa de Castro, Cunha e Souza (2011) em relação ao suicídio, a partir das perspectivas dos próprios adolescentes, chegou ao fato de que este é um tema pouco investigado e de etiologia complexa e multifatorial. Portanto, emerge a necessidade de mais pesquisas e de um apoio profissional mais positivo e menos detrator, dependente de atualização contínua e insistente deste perfil biopsicossocial contextualizado e complexo, em busca de encorajamento e de um lugar para chamar de seu na sociedade, antes que possíveis transtornos psicológicos o façam negar sua existência (SIMONSEN, 2015). 4.2 Suicídio na adolescência Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos e o Brasil está entre os dez países com maior número de suicídios. Além disso, foi observado que os fatores de suicídio mudaram da faixa mais idosa para as faixas mais jovens da população (BOTEGA et al., 2009). São cerca de 1.920 pessoas que morrem por suicídio a cada dia. Uma a cada 45 segundos, no mundo (BOTEGA, 2014). O suicídio é, consideravelmente, um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo com desdobramentos que resultam em danos econômicos, psicológicos e sociais para indivíduos, famílias e comunidades. Diversos pesquisadores de distintas áreas do conhecimento investigam os comportamentos e pensamentos – estes podem ser categorizado em ideação suicida e tentativa de 38 suicídio, levando a terceira categoria: o suicídio consumado (MOREIRA; BASTOS, 2015) – como um dos primeiros prognósticos do suicídio consumado, de modo a possibilitar o desenvolvimento de estratégias para a prevenção, reduzindo as mortes por essa causa (CLAUMANN et al., 2018). Em nosso lugar de psicoterapeutas, estar diante de casos que envolvam a ideação e tentativa de suicídio é algo muito complexo e desafiador. Coloca-nos diante do sofrimento humano mais desesperado, a ponto de preferir arrancar a própria vida. Fukumitsu (2014), em sua avaliação sobre o psicoterapeuta diante do comportamento suicida, explicita bem a complexidade de estar diante desta situação, em que é preciso lidar com a morte existencial do indivíduo e seu desprazer pela vida, além de precisar se aproximar do lugar deste paciente e desenvolver empatia em relação a este sofrimento, em busca de novas perspectivas. Isso tudo diante da possibilidade de o psicoterapeuta perder seu paciente a qualquer momento, em meio ao tratamento. O termo ideação suicida pertence a uma ideia de autodestruição, englobando atitudes, desejos e planos que o sujeito tem para colocar um fim à própria vida. Essas ideias participam do processo de passagem da infância para adolescência à medida que se relacionam com problemas existenciais e busca uma tentativa de compreensão da vida, da morte e o sentido da existência (MOREIRA; BASTOS, 2015). A ideação suicida também é considerada um fator de risco na adolescência. Estudos indicam que em 60% dos casos de suicídio, em algum momento, existiu a ideação prévia, tornando os jovens mais vulneráveis, devido aos conflitos existenciais do momento, crises de identidade, além de como lidar com o sentido da vida e morte. (ARAÚJO; VIEIRA; COUTINHO, 2010). Em seu artigo, Oliveira, Bezerra-Filho e Gonçalves-Feitosa (2014) conceituam o suicídio como um ato eletivo e consciente cujo resultado sabido é o autoextermínio. Citam dados acerca do suicídio de um modo geral, no mundo e no Brasil, que enfatizam que este é uma das principais causas de morte principalmente entre jovens, e que a elevação atual das taxas de suicídio entre os adolescentes tem sido vista como uma pauta de discussão de saúde pública no mundo todo. De acordo com Castro, Cunha e Souza (2011), o suicídio é considerado uma violência atuada contra 39 si próprio e resultante de “causas externas” (p. 1056), e tem aumentado na população jovem de nossas cidades, impactando a saúde pública. As tentativas de suicídio, como vimos, são consideradas atualmente um grave problema de saúde pública, que alcançam cada vez mais jovens e produzem graves danos à saúde (SANTOS et al., 2009) e resultam em impactos psicológicos e sociais do jovem, causando danos não somente ao adolescente, mas as pessoas que circulam sua rede de relacionamento, como já dito, demonstrando a necessidade de acompanhamento, acolhimento e amparo aos adolescentes que apresentam comportamentos e pensamentos suicidas (CLAUMANN et al., 2018). Nas últimas décadas, houve um crescimento na ocorrência de suicídio na fase da adolescência. Considerado um sério problema de saúde pública, o suicídio na adolescência traz consequências negativas não só para a família da vítima, mas também para o meio social no qual o adolescente está inserido (MOREIRA; BASTOS, 2015, p. 451). É importante destacar o que fora apontado por Botega (2014) sobre a tentativa de suicídio: ela supera em, no mínimo, dez vezes o número de suicídios consumados. Este ato é o principal fator de risco para a consumação e já pode gerar por si só danos individuais, familiares e sociais. O suicídio é também considerado atualmente um dos principais problemas de saúde em populações jovens, estando entre as três principais causas de morte nos Estados Unidos, Suíça e Canadá entre jovens de 15 a 24 anos e uma das dez principais causas de morte no mundo (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 2011). Observa- se uma alta representatividade do suicídio como causa de morte entre jovens de países desenvolvidos na última década, e no Brasil também (CARVALHO et al., 2011). São cerca de 27 mortes por dia somente em território nacional (BOTEGA, 2014), onde a região Sul apresenta mais casos de suicídio que o restante do país (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 2011). O assunto denota que o problema deve ser investigado através de metodologias adequadas à nossa realidade (SANTOS et al., 2009), considerando também que o suicídio entre adolescentes jovens é pouco pesquisado e sua etiologia é “complexa e envolve fatores biológicos e psicológicos (história de vida, emoções), além do contexto socioeconômico” (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 2011, p. 1059). 40 Os fatores associados ao suicídio são diversos e, em nossas amostras e nos artigos de autoridades no assunto, encontramos: ausência de apoio social, falta de amigos, sentimento de rejeição, características sociais e demográficas, ausência de crença religiosa, doenças mentais, problema(s) de saúde geral, bullying - “atitudes preconceituosas, insultos e agressões emocionais” (SENA-FERREIRA et al., 2014, p. 122), principalmente quando associados a ausência de apoio, segurança e estabilidade familiar –, eventos estressantes, forte intenção suicida, histórico de suicídio na família, conhecer alguém que tentou o suicídio, doença física debilitante, falecimento de algum familiar próximo ou dos pais, organização familiar e história de tentativa de suicídio anterior (MELO; SIEBRA; MOREIRA, 2017; MOREIRA; BASTOS, 2015; OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; GONCALVES-FEITOSA, 2014; SANTOS et al., 2009; SENA-FERREIRA et al., 2014; SOUZA et al., 2010). Dos transtornos mentais relativos às tentativas de suicídio, destaca-se a dependência/ abuso de medicamentos, substâncias psicoativas, álcool e drogas, depressão, esquizofrenia, transtorno deestresse pós-traumático, transtorno de ansiedade, transtorno bipolar e transtorno de personalidade antissocial (BOTEGA, 2014; CARVALHO et al., 2011; OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; GONCALVES- FEITOSA, 2014; SANTOS et al., 2009; SENA-FERREIRA et al., 2014). A situação se agrava, principalmente, quando há associação de mais de um desses e outros possíveis transtornos mentais (BOTEGA, 2014). Dos fatores socioeconômicos influenciadores destacados por Sena-Ferreira et al. (2014) surgiram: “ser do sexo masculino, solteiro, de cor parda, estar na faixa etária de 20 a 40 anos e com ensino fundamental” (p.115) além de “residir em áreas urbanas, estar aposentado ou desempregado”, “estratos econômicos extremos (os mais ricos ou mais pobres) ” (p. 116) e não ter um cônjuge. O fato de não estudar é também um aspecto levantado como alto risco para os jovens, pela escola representar um “local privilegiado para identificação precoce de situações problemáticas” (OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; GONCALVES-FEITOSA, 2014, p. 691). De acordo com Teixeira- Filho et al. (2013), existem evidências identificadas na adolescência que sofreu algum tipo de violência sexual de que o fato aumenta a probabilidade de ideação e/ou cometerem suicídio, em diversas faixas-etárias, sexos e classes sociais. 41 A depressão é considerada um fator destaque nos artigos coletados para esta pesquisa e que pode predispor uma possível tentativa de suicídio. Neste sentido, se pensarmos em ideação suicida somada a depressão e sentimento de desesperança, podemos compreender a ideia global como um fator de risco para a efetivação do suicídio, não podendo ser menosprezados sinais como um pedido de ajuda, de carinho ou limites e a expressão de angústias e dúvidas (MOREIRA; BASTOS, 2015). Ribeiro, Coutinho e Nascimento (2010) destacam que a depressão não está associada somente ao estar triste; adolescentes deprimidos podem não aparentar tristeza, podem apresentar irritação injustificada, crises explosivas, entre outras, comuns neste período como a diminuição de seu rendimento escolar, isolamento social, alteração de relacionamento familiar, baixa autoestima, direcionando-os para uma ideação suicida. Atualmente, de acordo com Assis, Gomes e Pires (2014), jovens pertencentes a minorias sexuais – homossexuais ou bissexuais – vivenciam mais fatores de risco do que os jovens que não pertencem a essas minorias, os heterossexuais. Os problemas de saúde encontrados com jovens homo e bissexuais em sua pesquisa são: altos níveis de tentativas de suicídios, uso elevado de substâncias, sintomas de depressão e outros problemas de saúde mental, frequentes comportamentos sexuais de risco, incluindo HIV, doenças sexualmente transmissíveis (DST), gravidez na adolescência, abuso físico ou sexual, distúrbios alimentares e rejeição familiar (ASSIS; GOMES; PIRES, 2014). Os adolescentes requerem maior atenção e necessitam ser alvos de estratégias de prevenção ao suicídio. Os estudos de Moreira e Bastos (2015), por exemplo, apontam que são adolescentes do mundo todo que parecem carecer de ajuda para impedir que suas vidas sejam perdidas. Sena-Ferreira et al. (2014) ainda mencionam que a maioria das pessoas que se suicidaram, consideradas na pesquisa, procuraram ajuda médica e/ou hospitalar poucos meses antes do suicídio, e que esta busca poderia ter sido decisiva para encaminhamentos à profissionais que pudessem ajudá-los. Segundo Araújo, Vieira e Coutinho (2010), alguns jovens apresentam certos comportamentos, chamados parassuicídios, cuja intenção não seria de cometer de imediato o suicídio. Existe uma tendência de comportamentos modificarem o ambiente no qual está inserido, a “chamada de atenção”, em que conseguem manipular o seu 42 meio, muitas vezes com caráter de chantagem emocional. Ficher e Vansan (2008) também destacam que o fenômeno muitas vezes, é comunicado pelos jovens indiretamente, dentro de seu convívio familiar, muito anterior ao ato, como se houvesse um pedido de ajuda inconsciente e é neste momento que deveria entrar em ação a percepção dos familiares. No tratamento psicológico, por exemplo, é muito importante que o terapeuta mantenha algum contato com os familiares deste adolescente e com outros profissionais, além de deixar claro ao paciente que o sigilo será mantido enquanto não houver risco de morte, pois a vida dele deve ser priorizada (FUKUMITSU, 2014). Argumentamos que o tratamento em casos de comportamento suicida, principalmente com adolescentes, requer respeito, compreensão, tolerância, disponibilidade e flexibilidade. Não se trata de “fé”, crença. Sena-Ferreira et al. (2014) ainda expõem que há uma ambivalência de busca pela morte ao mesmo tempo em que são dados sinais da intenção na busca por uma intercessão de alguém. Eles destacaram que “a inabilidade do setor de saúde em lidar com esta questão está presente em vários trabalhos que abordam a questão do suicídio” (p. 121), e o descrédito e falta de percepção de risco real das pessoas à volta do suicida são frequentes. Para o Ores et al. (2012), o comportamento suicida traz com ele diversos elementos que ajudam a explicá-lo, como “ideias, desejos e manifestações da intenção de querer morrer, o planejamento de como, quando e onde executá-lo, e também o pensamento de como o suicídio irá impactar a vida dos outros” (p. 305). É, portanto, para este autor, uma tendência à autodestruição que varia de grau de gravidade entre a ideação e o suicídio de fato, cuja avaliação é um grande desafio aos profissionais de saúde, com mais urgência do que o entendimento de sua etiologia. Fukumitsu (2014) também aborda este desafio e a importância de entender que o comportamento suicida é um fenômeno multifatorial, e precisa ser tratado como tal, sem arriscarmos focar em características individuais ou somente familiares ou sociais. É importante ressaltar que em um momento inicial é preciso tomar precaução para que as tentativas não sejam naturalizadas, e nem banalizadas, visto que nessa etapa é aguardada uma tendência aos impulsos (JUCA; VORCARO, 2018). De acordo 43 com Castro, Cunha e Souza (2011), há um processo no comportamento suicida, que parte de uma ideia de encerrar a própria vida, podendo avançar para o planejamento de execução do ato (onde e como), que pode culminar numa tentativa. Mais uma vez o papel do profissional da saúde envolvido em casos de suicídio se faz tão importante, no sentido de notar tais sinais de comportamentos com ideação suicida, o que pode ser prejudicado fortemente na fase da adolescência se o profissional se deixar levar por padrões preconceituosos sobre esta fase da vida, como já levantamento neste trabalho, onde o adolescente ocupa o lugar de pessoa naturalmente problemática e em simples transição. Nos estudos de Melo, Siebra e Moreira (2017) foram listadas características que se relacionam entre os adolescentes, com a intenção de elaborar um quadro clínico congruente e próprio da depressão, considerando que o suicídio entre adolescentes consiste na terceira maior causa de morte entre eles. Mencionamos, aqui, as seguintes características: agressividade, angústia, ansiedade e inquietação; desapontamento consigo mesmo; desesperança; dificuldade em lidar com sentimentos de baixa autoestima, desamparo e inferioridade; inutilidade; qualidade do sono; queda de desempenho escolar e uso abusivo de álcool, drogas lícitas e ilícitas. Oliveira, Bezerra Filho e Gonçalves-Feitosa (2014) consideram a possibilidade de prevenir tentativas de suicídio por meio da identificação de pessoas vulneráveis, conhecimento das circunstâncias influenciadoras do ato e intervenções que possam minimizá-los (p.685). Os autores justificam sua pesquisa diante da falta de dados acerca do tema na referida cidade, objetivando com a pesquisa caracterizar as vítimas de tentativas
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