Buscar

TCC FINAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 62 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 62 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 62 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

0 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
 
 
 
ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA 
BYANCA SANTOS DE QUEIROZ 
GISELE PAPETI DE SOUZA 
MARCELO NAVES 
RENATA MARQUES ALVES 
 
 
 
 
 
 
ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: 
uma revisão sistemática das produções científicas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2019 
 
1 
 
 
 
 
ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA 
BYANCA SANTOS DE QUEIROZ 
GISELE PAPETI DE SOUZA 
MARCELO NAVES 
RENATA MARQUES ALVES 
 
 
 
 
 
 
ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: 
uma revisão sistemática das produções científicas 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do título de graduação em 
Psicologia apresentado à Universidade 
Paulista – UNIP. 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vanda Lúcia 
Vitoriano do Nascimento 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2019
 
2 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
ALESSANDRA MORAIS PAULINO OLIVEIRA 
BYANCA SANTOS DE QUEIROZ 
GISELE PAPETI DE SOUZA 
MARCELO NAVES 
RENATA MARQUES ALVES 
 
 
 
 
 
 
ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: 
uma revisão sistemática das produções científicas 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do título de graduação em 
Psicologia apresentado à Universidade 
Paulista – UNIP. 
 
 
 
Aprovado em: 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
________________________/__/____ 
Prof.ª Ma. Angela Maria Sieiro de Toledo Piza 
Universidade Paulista – UNIP 
________________________/__/____ 
Prof.ª Dr.ª Renata Capeli Silva Andrade 
Universidade Paulista – UNIP 
________________________/__/____ 
Prof.ª Dr.ª Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento 
Universidade Paulista – UNIP 
 
 
4 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
Dedicamos este trabalho – feito com muito amor e devoção – a todos os jovens aos 
quais a ideia do suicídio já foi ou ainda é uma opção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
À Deus, princípio e fim de tudo. Ao meu esposo Luiz Carlos e meus filhos Jhennifer, 
Guilherme e Giovana que emergem em mim a resiliência para os embates da vida. Às 
professoras Angela Piza, Fernanda Ronca, Heloísa Chiattone, Renata Capeli, Tânia 
Cociuffo pela formação valiosa e inesquecível transmissão de conhecimento. 
Alessandra Morais Paulino Oliveira 
Aos meus pais, Lucimara e Sérgio, que sempre estiveram ao meu lado. Ao meu irmão 
Wellinton, minha grande alegria. Aos meus queridos avós, Maria e Milton (in 
memoriam). À Adriana Borges e Vera Lúcia por estarem ao meu lado em muitos 
momentos. A todos que me auxiliaram, incentivaram e inspiraram nessa jornada. 
Byanca Santos de Queiroz 
 
Aos meus maiores amores Lívia e Fabio. Aos meus pais, pelo amparo essencial. Aos 
meus queridos amigos, parte da minha história. À Angela Piza, pelas aulas e 
conversas, que abriram tantos caminhos! À Renata Capeli, pelo carinho e disposição! 
Gisele Papeti de Souza 
À minha família - Adriana, Andréia, Felipe, Lara, Luísa, Marcelo e Nino (in memoriam) 
– em especial minha mãe Elzy, pelo apoio, cuidado e ajuda na realização dos meus 
sonhos. Aos meus amigos, pelas relações genuínas e por serem o alicerce da minha 
vida. À Oníria Arruda Figueiredo (in memoriam), pela base de formação e por me 
estender as mãos; e à Professora Angela Piza pelo encontro que transformou meu 
caminho e minha vida, por despertar o meu amor pela Psicologia, pela generosidade 
exalada em cada movimento e por ser minha fonte inesgotável de inspiração. 
Marcelo Naves 
À minha filha, razão da minha vida e maior amor do mundo. Aos meus pais pelo 
estímulo e incentivo ao conhecimento. Ao meu amor Edward pela compreensão e 
colaboração nas minhas escolhas de vida e pelo amor incondicional que vivemos. Aos 
meus professores pela difusão profunda do saber tão importante em minha formação. 
Renata Marques Alves 
E todo o grupo agradece a Professora Doutora Vanda Lúcia Vitoriano do Nascimento, 
pela orientação e generosidade em compartilhar seus conhecimentos. 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Estátuas e cofres e paredes pintadas 
Ninguém sabe o que aconteceu 
Ela se jogou da janela do quinto andar 
Nada é fácil de entender”. 
(trecho de Pais e Filhos, Legião Urbana) 
 
7 
 
 
 
 
RESUMO 
ALVES, Renata M.; NAVES, Marcelo; OLIVEIRA, Alessandra M. P.; QUEIROZ, 
Byanca S. de; SOUZA, Gisele P.; NASCIMENTO, Vanda Lúcia V. do (orientadora). 
ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: 
uma revisão sistemática das produções científicas. Curso de Psicologia, Instituto de 
Ciências Humanas, UNIP - Universidade Paulista. Campus Pinheiros, 2019. 
 
Ao notarmos que a questão do suicídio fora pouco abordada durante nossa formação 
em Psicologia – ao mesmo tempo em que há uma crescente nas taxas de suicídio 
entre jovens no Brasil contemporâneo, optamos por realizar uma revisão sistemática 
da produção científica, considerando a suicidologia, antropologia, sociologia, 
psiquiatria etc., acerca do fenômeno do suicídio na adolescência contemporânea, nos 
últimos dez anos e especificamente o que a psicologia tem também publicado sobre 
o assunto no mesmo período. Fundamentamos nossa pesquisa em um arcabouço 
teórico na literatura especializada, envolvendo autores como Evelyn Kuczynski, Karina 
Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega e Roosevelt Cassorla, e 
consideramos o ser humano adolescente em sua dimensão biopsicossocial, levando 
em conta fatores intra e intersubjetivos e sua relação social, familiar e cultural. 
Também consideramos as particularidades da fase adolescente e o que os autores e 
pesquisadores têm a dizer sobre esta persona. As diversas pesquisas destacadas 
neste trabalho, apesar de suas particularidades, foram unânimes em demarcar a 
importância da adolescência enquanto fase de especificidades marcantes em termos 
de desenvolvimento biopsicossocial; nenhuma das pesquisas considerou a 
temporalidade contemporânea. Além disso, notamos que poucos são os trabalhos 
científicos sobre o assunto nas bases de dados pesquisadas, mas há muito o que se 
falar sobre o assunto nos meios de comunicação e nas mídias sociais. 
Palavras-chave: Suicídio; Adolescência; Saúde Mental; Psicologia da Saúde; 
Psicologia Social. 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
ABSTRACT 
ALVES, Renata M.; NAVES, Marcelo; OLIVEIRA, Alessandra M. P.; QUEIROZ, 
Byanca S. de; SOUZA, Gisele P.; NASCIMENTO, Vanda Lúcia V. do (orientadora). 
ADOLESCÊNCIA, SAÚDE MENTAL E SUICÍDIO NA CONTEMPORANEIDADE: 
uma revisão sistemática das produções científicas. Curso de Psicologia, Instituto de 
Ciências Humanas, UNIP - Universidade Paulista. Campus Pinheiros, 2019. 
 
Noting that the issue of suicide was little addressed during our background in 
Psychology - while there is a rising rate of suicide among young people in 
contemporary Brazil, we chose to conduct a systematic review of scientific production 
considering suicidology, anthropology, sociology, psychiatry, etc., about the 
phenomenon of suicide in contemporary adolescence in the last ten years and 
specifically what psychology has also published about it in the same period. We base 
our research on a specialized literature, involving authors such as Evelyn Kuczynski, 
Karina Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega and Roosevelt 
Cassorla, consider the adolescent human being in its biopsychosocial dimension, 
taking into account intra and intersubjective factors and their social, family and cultural 
relationship. We also consider the particularities of the adolescent phase and what the 
authors and researchers have to say about this persona. The various studies 
highlighted in this work, despite their particularities, were unanimous in highlighting the 
importance of adolescenceas a phase of striking specificities in terms of 
biopsychosocial development; none of the research considered contemporary 
temporality. In addition, we note that few scientific papers on the subject are published 
in leading research sources, but there is much to talk about in the social media. 
Keywords: Suicide; Adolescence; Health Psychology; Mental Health; Social 
Psychology. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Imagem 1 – The Suicide of Dorothy Hale, 1938 – por Frida Kahlo..............................12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da BVS...................28 
 
Tabela 2 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da SciELO..............29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13 
1.1 Apresentação ............................................................................................. 13 
1.2 Revisão da literatura .................................................................................. 14 
1.2.1 A adolescência ...................................................................................... 17 
1.3 Objetivos ..................................................................................................... 23 
1.3.1 Geral ...................................................................................................... 23 
1.3.2 Específicos ............................................................................................ 23 
1.4 Justificativa ................................................................................................ 23 
2 MÉTODO ............................................................................................................. 25 
2.1 Amostra ....................................................................................................... 25 
2.2 Procedimento de coleta de dados ............................................................ 26 
2.3 Procedimento para análise de dados ....................................................... 26 
2.4 Ressalvas Éticas ........................................................................................ 27 
3 RESULTADOS .................................................................................................... 28 
4 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 31 
4.1 O adolescente e a contemporaneidade .................................................... 33 
4.2 Suicídio na adolescência ........................................................................... 37 
4.3 Subjetividade e adolescência ................................................................... 46 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 53 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
Imagem 1 – The Suicide of Dorothy Hale, 1938 – por Frida Kahlo 
Fonte: fridakahlo.org 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
1.1 Apresentação 
Esta pesquisa refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso cujo propósito 
foi investigar, por meio de uma revisão sistemática de literatura, o fenômeno do 
suicídio na adolescência contemporânea. Diante da concepção do fenômeno, 
apresentamos, inicialmente, os interesses que motivaram o grupo a escolher este 
tema. Após discussões e debates entre os integrantes do grupo, elencamos diversos 
fatores para a escolha do tema. 
Em um primeiro momento, nos deparamos em nossa formação acadêmica com 
uma questão importante: “Por que o suicídio foi pouco abordado em nossas aulas?”. 
Mediante esta questão, pesquisamos onde o tema é discutido no universo científico, 
e, então, vislumbramos a possibilidade de aprofundar esta temática a fim de 
acrescentar à nossa formação profissional e pessoal e, também, contribuir ao meio 
acadêmico. 
Nossa escolha vincula-se também a um assunto que está em voga na 
atualidade, devido ao aumento do número de casos se destacando na mídia, como 
verificamos em matéria da BBC Brasil de 2017, que faz menção a um aumento de 
10% taxa de suicídio entre jovens entre 2002 e 2017. Decidimos, então, pesquisar o 
suicídio na adolescência contemporânea. 
A partir dessa perspectiva, levantamos o questionamento: “O que está se 
passando com a juventude atualmente para que tantas vezes o suicídio apareça em 
cena?”. Nossa pesquisa, então, segue um percurso para compreendermos o 
fenômeno a partir de um trabalho de revisão sistemática, fundamentada em um 
arcabouço teórico, considerando o ser humano em um registro de sua dimensão 
psicológica, histórica, social e cultural. 
Salientamos também que outros saberes adquiridos ao longo de nossa 
trajetória de vida são fonte de inspiração para estudarmos o tema, como a literatura e 
a arte. No campo literário têm destaque as obras: Anna Karenina, de Liev Tolstói; 
Madame Bovary, de Gustave Flaubert; Romeu e Julieta, de William Shakespeare e, 
principalmente, “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Johan Wolfgang von Goethe. 
 
14 
 
 
 
 
Já na arte, são destacáveis, dentre diversas outras obras, a pintura “O suicida” de 
Édouard Manet e “O suicídio de Dorothy Hale” de Frida Kahlo, destacada neste 
trabalho. Lembramos que essas obras trazem apenas o fenômeno a ser apresentado, 
funcionando como um resgate pessoal de nossa história, mas não contemplam um 
embasamento teórico que compreenda o fenômeno. 
1.2 Revisão da literatura 
Nossa revisão sistemática buscou estabelecer um diálogo entre o que a 
produção científica de maneira geral publicou nos últimos dez anos acerca do tema 
suicídio no período da adolescência e o que a psicologia tem publicado. O trabalho 
tem como eixo contextualizar o tema em uma perspectiva histórica, social e cultural, 
além da questão psicológica. Consideramos as questões que cercam o suicídio, 
colocando o adolescente frente ao tema em um cenário contemporâneo como forma 
de conduzir o trabalho. 
Em uma das principais obras referentes ao tema, Émile Durkheim (2000) define 
suicídio como um caso de morte que resulta de forma direta ou indireta de um ato 
positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato em que esta sabia produzir este 
resultado. Em estudo mais recente, Alberti (2009), em concordância com o 
pensamento de Durkheim, entende a morte por suicídio como uma abdicação à 
existência, ou seja, à vida. Ressaltamos ainda que o indivíduo pode desejar a própria 
morte e concretizá-la, ou, em algumas situações, não ter a clara intenção e o desejo 
de morrer (FAIRBAIRN, 1999). 
Foi preciso, também, discriminar o assunto em três vertentes: suicídio, ideação 
suicida e tentativa de suicídio. O suicídio, já referido anteriormente, é um ato 
autoagressivo realizado pelo próprio sujeito; já a ideação suicida refere-se ao 
pensamento de se matar; a tentativa de suicídio seria um ato não letal, que acontece 
de forma proposital, porém, sem franca intenção de morte (SIMONSEN, 2015). 
O suicídio é objeto de estudo de diversas disciplinas; além da suicidologia, a 
antropologia, a sociologia, a psiquiatria e a psicologia, têm estudado o assunto em 
diferentes épocas. Historicamente o suicídio foi considerado de diversas formas, de 
acordo com a cultura, o espaço e o tempo. A complexidade do fenômeno mostra a 
 
15 
 
 
 
 
necessidade de uma continuidade de estudos sobre o tema, em um processo 
histórico, de sua gênese e transformações a fim de que se possam conhecer 
diferentes contextos e circunstânciasde sua ocorrência, assim como diminuir o 
estigma associado ao fenômeno. O suicídio é um problema de saúde cujas origens 
não estão restritas ao que, genericamente, se chama de saúde mental. Entende-se 
que saúde é relativa ao pleno desenvolvimento do ser humano (ROEHE; DUTRA, 
2017). 
Destacamos a importância de uma investigação psicológica, social e 
antropológica que considerasse fatores intra e intersubjetivos, sociais e a própria 
dinâmica familiar como compreensão do fenômeno. Entendemos que o suicídio pode 
ser uma última declaração do sujeito às pessoas que lhe são significativas ou à 
sociedade, o que pode revelar uma riqueza da semântica e da polissemia das 
expressões humanas (CAVALCANTE; MINAYO, 2004). 
Nesse caminho, compreendemos o suicídio profundamente atrelado a fatores 
sociais que transcendem os indivíduos, e sua fomentação varia de acordo com a 
cultura. As taxas de suicídio refletem uma determinada forma de organização social 
que reforça a relação entre a alta incidência de casos de suicídio em jovens e a nossa 
sociedade que pode estar deixando os jovens desamparados frente a situações de 
violência (ALBERTI, 2009). 
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 
800.000 pessoas morrem em decorrência do suicídio e que 20 vezes este número 
envolve as tentativas “sem sucesso”; também diz que especificamente em jovens de 
15 a 29 anos a segunda maior causa de morte é decorrente do suicídio (SOCIEDADE 
BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO, 2019). Estes números nos levam 
cada vez mais a acreditar na necessidade de estudar o tema e colocar em evidência 
a importância do assunto. 
Destacamos com este trabalho, portanto, o quão essencial é considerar e 
reconhecer a importância do lugar que o adolescente ocupa hoje em nossa sociedade, 
a partir de um mundo que promoveu rupturas e novas estruturas de pensamento e 
funcionamento. Cavalcante e Minayo (2004) apontaram, por exemplo, que os 
principais fatores de risco para o suicídio, considerando o contexto familiar, estão 
 
16 
 
 
 
 
relacionados a conflitos e traumas ligados a abusos, a ausências, perdas (reais ou 
imaginárias) e separações, transtornos mentais ou outras doenças graves, falta de 
perspectivas de futuro e antecedentes de suicídio na família. Rodriguez e Kovács 
(2005) apontam que por trás dos casos de suicídio analisados podem ter ocorrido 
traumas decorrentes de rompimentos afetivos mal resolvidos, dificuldades na própria 
diferenciação em relação à família, bem como casos de assédio, além de outros 
relacionados com o bullying na adolescência. 
Sobre o adolescente e o suicídio, Alberti (2009) coloca que, no jovem, a 
fronteira entre a vida e a morte é muito frágil, sendo difícil viver quando há uma nova 
tensão a todo instante. Seguindo uma visão psicanalítica, o eu e a cultura estão em 
constante oposição na adolescência. Ao fazer uma análise do aumento de casos de 
suicídio entre jovens em nossa sociedade, Birman (2006) afirma que o sujeito suicida 
está tomado por uma angústia impossível muitas vezes de ser traduzida em palavras, 
mas, também, não se pode perder de vista o fato de que essa experiência se conjuga 
com o estatuto do individualismo vigente desde a modernidade. É comum que a boa 
performance seja uma exigência subjetiva bastante importante, e, muitas vezes, a 
promoção de si mesmo aparece como uma marca da própria subjetividade na 
contemporaneidade. Por isso, pode não ser tão espantoso que as taxas de suicídio 
aumentem numa sociedade marcada por dúvidas constantes frente a tantas 
adversidades atuais, sendo possível dizer que os jovens estão mais expostos a esses 
processos, pois devem construir seus percursos num meio de alta competitividade. 
A partir da premissa de que a adolescência e a sociedade estão intrinsicamente 
relacionadas, questionamos o que poderia estar ocasionando um alto grau de 
sofrimento psíquico que incita o jovem à passagem ao ato do suicídio. Não podemos 
nos abster de afirmar que por vezes a sociedade atual fracassa em sua tarefa de 
conter os impulsos dos adolescentes. Na conjectura do mundo contemporâneo em 
que vivemos se percebe uma busca incessante, a qualquer preço, de felicidade, 
querendo eliminar qualquer sofrimento e, para isto, todo mal-estar será banido, tratado 
e curado. 
Então, nesse contexto, a condição de sofrimento humano a que todos estamos 
sujeitos, não tem lugar na sociedade e não há espaço para estar triste, frágil, ou 
 
17 
 
 
 
 
diferente do modo proposto pela sociedade capitalista e de consumo que prevalece 
na atualidade. Dessa forma, o mundo torna-se cada vez mais hostil para o ser 
humano, que desprende suas raízes e perde paulatinamente a sua identidade dentro 
de uma coletividade (FIGUEIREDO, 1996). No caso do adolescente este cenário 
parece ainda mais hostil, considerando que esta seja uma etapa da vida em que, além 
das inúmeras descobertas prazerosas, traz também novos conflitos e sofrimentos 
angustiantes, principalmente pela necessidade de tomada de decisões impostas pelo 
meio (OUTEIRAL, 2008), então como esconder estas angústias? 
A relação que estabelecemos aconteceu entre o contexto social atual e o 
aumento da incidência de sofrimento psíquico entre os jovens, que utilizam o recurso 
do suicídio como opção frente a uma situação de forte sentimento de desamparo 
extremo. Portanto, dada a complexidade do fenômeno do suicídio, não é possível 
considerá-lo a partir de uma única perspectiva. O desafio do presente trabalho é, 
então, o de delinear possíveis compreensões que abarquem o tema explorado. 
1.2.1 A adolescência 
Apesar de somente a partir do século anterior esta etapa ser considerada 
particular no desenvolvimento humano, a adolescência é reconhecida já há muito 
tempo. A palavra adolescência provém do latim adolescere, que significa crescer; é 
possível encontrar menção a ela em textos filosóficos da antiguidade, onde é 
caracterizada por sua impulsividade e excitabilidade. A palavra em si foi utilizada pela 
primeira vez na língua inglesa, em 1430, para denominar indivíduos entre os 12 e 21 
anos de idade (SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010). 
Porém, em nosso aparato teórico para este trabalho, concordamos que a 
inauguração – por assim dizer – do indivíduo adolescente é concedida a Granville 
Stanley Hall em 1904, que a tratou com ênfase na teoria biológica, influenciado por 
formulações psicanalíticas como um período de tensão especial. Sigmund Freud não 
a identificou como uma fase distinta do desenvolvimento, mas a considerou como 
momento de grande importância, devido a reativação dos impulsos sexuais e 
agressivos, necessários para adaptação do indivíduo em seu novo papel social. Ele 
apontou para uma ressignificação edípica ao tratar do período da puberdade e chegou 
a considerar a esfera social, principalmente em ambiente familiar e escolar, com 
 
18 
 
 
 
 
reedições sobre os pais e o professor (COUTINHO, 2015; PALACIOS, 2004; 
SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). 
Fora, até então, definida a adolescência como etapa marcada por mudanças 
dramáticas, grandes tensões e sofrimentos psicológicos. Uma fase universal, 
inevitável e turbulenta do desenvolvimento. Apesar do autor reconhecer a influência 
da cultura e valorizar as diferenças individuais do adolescente (SENNA; DESSEN, 
2012), ainda assim a considera universal e a-histórica, determinando uma certa 
identidade adolescente (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005). 
Este período desenvolvimentalista foca em alterações psicologizantes e 
biologizantes, responsabilizando as mudanças físicas e hormonais por características 
psicológico-existenciais do adolescente. Aqui, ainda é possível notar a proximidade 
com descrições filosóficas e bíblicas da Antiguidade e fica instaurada uma espécie de 
temporada transitória entre a infância e a adultez – o adolescente não é nem criança,nem adulto, mas praticamente um rito de passagem. 
A adolescência é ainda considerada uma fase estressante da vida, devido às 
inúmeras e intensas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Nesta fase ocorrem 
movimentos de dependência e independência extrema caracterizando uma etapa de 
ambivalências, conflitos e contradições (MOREIRA; BASTOS, 2015). Porém, até este 
momento histórico ainda não se considerava a questão social como parte 
determinante das questões da adolescência. 
Margaret Mead, em sua experiência em Samoa no ano de 1928, contradisse 
essa definição desenvolvimentalista, com base antropologia cultural. A antropóloga 
afirmou que a adolescência nada mais é do que um produto cultural, moldado pelas 
práticas sociais e pelo ambiente, já que na sociedade corpus de sua pesquisa os 
adolescentes vivenciavam um período agradável, de fácil transição, com introdução 
gradual para a vida adulta e discussões abertas sobre quaisquer conflitos (COIMBRA; 
NASCIMENTO, 2005; PALACIOS, 2004; SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; 
SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). 
Depois disso, Erik Erikson, entre as décadas de 1960 e 1970, integrou o 
desenvolvimento psicossocial e a antropologia cultural e, ainda de forma 
 
19 
 
 
 
 
desenvolvimentalista, apresentou uma interligação entre fatores biológicos, 
cognitivos, comportamentais, sociais e culturais nesta fase do desenvolvimento. O 
autor propõe a Teoria Psicossocial, em que o ambiente é participante na construção 
do indivíduo, com fatos sociais e psicológicos que dependem do contexto em que ele 
estiver inserido (COUTINHO, 2015; PALACIOS, 2004; SCHOEN-FERREIRA; 
AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010; SENNA; DESSEN, 2012). 
Neste mesmo período, Winnicott também traz contribuições da psicanálise, ao 
desenvolver aquilo que havia sido apontado por Freud, mostrando que a adolescência 
vai além da puberdade física e que entra em confronto com o ambiente, com as 
tradições da cultura e com o adulto: um vínculo entre o psíquico e o social. Winnicott 
assenta sobre as expressões do adolescente, que muitas vezes mesclam uma 
dependência regressiva e uma independência desafiadora na relação com o adulto. 
Ele estaria em uma situação paradoxal entre depender do adulto e do ambiente e em 
realizar suas saídas criativas e reinventadas, colocando em xeque as tradições da 
cultura e negando ser compreendido, justamente por este ser um momento de 
descoberta pessoal, apesar de toda a sua imaturidade e necessidade do adulto e do 
ambiente para "sentir-se real" (COUTINHO, 2015). 
Lacan também oferece suas contribuições psicanalíticas acerca da 
adolescência, considerando esta fase uma interseção entre o pulsional (energia 
psíquica) e o social e um afastamento das figuras parentais da infância e encontro 
com a cultura. 
Notemos que a Psicanálise nestas últimas abordagens está sempre atrelada 
ao contexto social e próxima do surgimento da Psicologia Social, que virá para 
contribuir com esta relação entre questões da psicologia e das ciências sociais, já que 
se percebe com frequência a importância do meio para a constituição psicológica do 
ser humano. Este é, então, um grande passo para evolução do que se define por 
adolescente biopsicossocial e que separa significativamente a definição de puberdade 
e de adolescência, mas ainda é aqui considerada uma “moratória social”, um período 
de simples transição, espera e preparação para seu papel de adulto. 
No âmbito da educação, as teorias de Jean Piaget também colaboraram para 
determinada evolução no conceito de adolescência, privilegiando os processos 
 
20 
 
 
 
 
cognitivos do desenvolvimento na adolescência e determinando uma forma própria de 
compreender e criar sistemas filosóficos, ético e políticos e entrando na fase adulta 
pela inserção na sociedade; uma forma descontinuada das fases do desenvolvimento 
(PALACIOS, 2004; SENNA; DESSEN, 2012). 
Distribuindo o aperfeiçoamento da definição de adolescência em fases, como 
fizeram Senna e Dessen (2012), chegamos em uma segunda etapa por volta da 
década de 1970, onde surgem os novos modelos contextualistas, considerando o 
constante desenvolvimento do ser humano e seu contexto sócio-histórico. Neste 
momento, estudos colaborativos de diversos profissionais e disciplinas apresentam a 
Teoria do Curso de Vida, propondo considerar mudanças históricas e ambientais e 
estágios temporais, contextuais e processuais da vida e do desenvolvimento humano. 
Os sujeitos passam a ser reconhecidos como agentes de mudança influenciados pelo 
seu contexto social e histórico; com múltiplos caminhos e interrelações. Esta já pode 
ser considerada a definição contemporânea do desenvolvimento humano, em que a 
adolescência passa a ser mais uma etapa, com seus problemas específicos, assim 
como em todas as outras. 
A partir desta definição contemporânea pudemos perceber que todas as 
definições anteriores possuem sentido em sua temporalidade e foram aprimoradas 
por estudos, pesquisas e experiências. Agora, o que precisamos considerar neste 
nosso estudo são as marcas mais atuais da sociedade em que hoje vivemos: nós e 
nossos adolescentes. 
Vivemos em um contexto de mudanças aceleradas, tecnologia cada vez mais 
avançada, maior liberdade – e facilidade – de expressão (principalmente por meio da 
internet e redes sociais), acesso rápido e prático a informações de todo o planeta, 
comunicação também acelerada e na palma da mão (cada vez mais digital e menos 
pessoal), diferenças gritantes entre padrões sociais de gerações em convívio e muita 
concorrência, em todos os sentidos. Todo este perfil acelerado e desnudo da era 
digital possibilita ainda mais reações impulsivas e intolerantes, isolamento no mundo 
digital, busca sofrida para atender a demandas narcísicas exageradas, pouca 
tolerância a frustrações e falta de capacidade de assumir responsabilidade por 
determinados atos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO, 
 
21 
 
 
 
 
2019). Isso posto, há que se considerar as inúmeras possibilidades que o adolescente 
tem em mãos para se expressar, ser influenciado e encontrar meios próprios de 
demonstrar seus sentimentos, de forma a evidentemente causar confusão na 
interpretação do que é – e do que não é – exposto por ele. 
Em seu estudo, Schoen-Ferreira et al. (2002) apresentam a posição de Papalia 
e Olds (2000, apud SCHOEN-FERREIRA et al., 2002), em que eles: 
alertam para o perigo da suposição de que a “rebeldia da adolescência” é 
normal e necessária, a qual leva muitos pais e professores a acreditar que 
por si mesmos os adolescentes irão superar essa fase, deixando de 
reconhecer quando um jovem está apresentando comportamentos de risco e 
necessita de ajuda. (p. 80). 
Esta suposição estereotipada pode, inclusive, interferir em diagnósticos e 
prejudicar um possível tratamento/acompanhamento profissional. Este problema está 
ligado ao que Schoen-Ferreira, Aznar-Faris e Silvares (2010) consideraram em seu 
trabalho ao referenciarem a Síndrome da Adolescência Normal de Aberastury e cols. 
nos anos 80 (1980 apud SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010), 
em que diversos comportamentos considerados patológicos, ao serem percebidos na 
adolescência, passam a ser considerados normais e esperados. 
Percebemos então que, apesar dos avanços nos conceitos sobre adolescência, 
o sentido estereotipado do adolescente como naturalmente desequilibrado ainda está 
vivo nas pessoas com quem este adolescente convive e que, em muitos momentos, 
depende e se inspira. Está também ainda vivo no meio acadêmico e profissional, além 
de entranhado em um consenso social preconceituoso. A importância de trazermos à 
luz uma conceitualização mais fiel à realidade e menos engessada é indiscutível e, 
portanto, faz parte importante na discussão do presente estudo sobre o suicídio na 
adolescência contemporânea. 
Coimbra e Nascimento (2005) evidenciam que até mesmo a definiçãodo 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sobre o adolescente é orientada por esse 
posicionamento universalizado (2005), quando diz no artigo 6º que esta é uma 
“condição peculiar de pessoas em desenvolvimento” (BRASIL, 1990). 
O ECA, lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, considera a fase humana da 
adolescência entre os 12 e 18 anos de idade (BRASIL, 1990) e é hoje, apesar da 
 
22 
 
 
 
 
denúncia de Coimbra e Nascimento (2005), uma das mais avançadas legislações de 
proteção aos jovens. Infelizmente, apesar de toda a sua abrangência e competência 
legislativa, nossa realidade social e governamental ainda não é capaz de aplicá-la em 
sua completude, pois o ECA não considera as situações reais e impérvias do dia-a-
dia do adolescente e seus conflitos familiares, escolares e sociais. Além disso, a mídia 
criminaliza, repreende, estigmatiza e subestima o jovem, principalmente se inserido 
em contexto menos favorecido, o que atrapalha a disseminação e conhecimento 
público dos direitos e deveres reais deste cidadão estereotipado (MELLO, 1999). 
Ainda assim, desde a virada do século XX ao XXI e suas rápidas e 
consideráveis mudanças, os governos se conscientizam da importância de proteger o 
desenvolvimento humano e passaram a considerar a adolescência como parte vital 
deste processo, o que fez com que as leis e conceitos fossem atualizados, mas, como 
já dito, isso não garantiu uma mudança significativa na realidade do pensamento 
social acerca do adolescente. As novas leis postergaram o casamento, aumentaram 
o tempo de estadia na moradia com os pais, ampliaram o tempo para o preparo até a 
fase adulta, distanciaram a obrigação ao ingresso no mercado de trabalho e 
permitiram a gestação fora do matrimônio. Isso tudo pode ser positivo e negativo ao 
mesmo tempo, considerando o convívio social e familiar e os julgamentos ainda 
desatualizados e mais tradicionais (SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; 
SILVARES, 2010). 
A Organização Mundial da Saúde também está atualizada a este perfil 
biopsicossocial da adolescência contemporânea, mas ela amplia esta fase à segunda 
década da vida humana, ou seja, entre os 10 e 20 anos de idade, assim como o 
Ministério da Saúde do Brasil e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 
(SCHOEN-FERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2010). É também importante 
considerar todas estas definições defendidas por nossas Políticas Públicas para 
prosseguirmos com nosso trabalho e as considerarmos ao depararmo-nos com as 
possíveis situações que levam o adolescente contemporâneo ao suicídio, à tentativa 
de suicídio ou sua ideação. 
 
23 
 
 
 
 
1.3 Objetivos 
1.3.1 Geral 
Esta pesquisa teve por objetivo compreender o fenômeno social do suicídio de 
adolescentes na contemporaneidade. 
1.3.2 Específicos 
Pesquisamos os possíveis fatores desencadeantes do quadro em questão e/ou 
preponderantes a ele na atualidade, como também buscamos compreensão dos 
aspectos psicológicos, sociais, históricos e culturais que podem influenciar o 
fenômeno, e os eventuais desdobramentos dessa influência na subjetividade dos 
adolescentes. 
Estudar a difusão e a visão desta temática, na contemporaneidade, entre 
profissionais que intervêm no processo de cuidado destes adolescentes e na 
sociedade como um todo é o desígnio deste trabalho. Apresentar o que a psicologia 
tem publicado acerca da problemática que abarca o assunto nos últimos dez anos, as 
possibilidades de intervenções capazes de contribuir para prevenção de desfechos 
trágicos, bem como a ampliação das discussões sobre as especificidades dos 
atendimentos aos adolescentes, seus familiares e as escolas. 
1.4 Justificativa 
O crescimento do número de adolescentes envolvidos em episódios de 
tentativas de suicídio é alarmante atualmente, conforme apontam dados como o do 
título da matéria publicada para a BBC Brasil em abril de 2017: “Crescimento 
constante: taxa de suicídio entre jovens sobe 10% desde 2002” (ESCÓSSIA, 2017). 
A partir disso, emergem questões relevantes acerca do que pode estar acontecendo 
com estes jovens, e quais fatores poderiam ser desencadeantes deste quadro e/ou 
preponderantes. Há um perfil destes adolescentes possível de ser delineado? Tal 
perfil viabilizaria pensar possibilidades de intervenções capazes de contribuir para 
evitar um desfecho trágico do fenômeno? Condições e características socioculturais 
da contemporaneidade influenciam o fenômeno? Quais seriam elas? 
 
24 
 
 
 
 
Entendemos que este estudo, por meio da revisão sistemática da literatura 
científica nos últimos dez anos, contribui para a investigação e análise da problemática 
que abrange o suicídio na adolescência na atualidade, entrepassada nas escolas e 
na sociedade contemporânea; e também para a necessária e urgente ampliação do 
conhecimento que permeia as discussões sobre as especificidades do fenômeno do 
suicídio na adolescência na atualidade. 
Este conhecimento é um importante instrumento para os atendimentos a esses 
adolescentes. A análise do quadro atual permite que emerjam novas formas de intervir 
de forma preventiva, levando em conta os contextos sociais, históricos, culturais, de 
vida e a subjetividade dos jovens contemporâneos. 
Considerando, então, tanto as particularidades do atendimento – e do 
entendimento – ao adolescente e as minúcias que podem levá-lo a quadros 
relacionados com o suicídio, finalizamos nosso pensamento introdutório com um 
trecho do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, que diz: “O real 
não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para gente é no meio da travessia” 
(ROSA, 1994, p.86). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
 
2 MÉTODO 
Nosso propósito para definição do método foi o de compreender a problemática 
que envolve o tema, por meio da revisão sistemática da literatura científica, em 
periódicos publicados entre 2009 e 2019, sobre o suicídio na adolescência. 
Esta pesquisa procura ampliar uma discussão referente ao tema suicídio com 
base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos, base de 
dados, artigos indexados e outros. Foi feita análise dos dados coletados, 
apresentação e discussão dos dados, e, por fim, conclusão da revisão (MARTINS; 
PINTO, 2001). 
Numa revisão sistemática, o pesquisador entra em contato com o que foi escrito 
sobre determinado assunto; dessa forma, não podemos dizer que ela é uma mera 
repetição dos assuntos, mas sim, proporciona um exame de um tema a partir de um 
novo enfoque (MARCONI; LAKATOS, 2007). A revisão em questão foi realizada por 
meio dos seguintes passos: estabelecimento do problema, seleção da amostra, 
análise dos resultados, apresentação e discussão dos resultados e apresentação final 
da revisão. 
Completamos nossa pesquisa por meio da fomentação do contato pessoal com 
teorias, o que leva a interpretações e a raciocínios próprios (DEMO, 2006), 
enriquecendo e ampliando a aquisição de conhecimento. 
2.1 Amostra 
Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada revisão sistemática da 
literatura de produções científicas, em periódicos nacionais do período de 2009 a 
2019, sobre suicídio na adolescência, considerando também tentativas e ideações 
suicidas, por estarem correlacionados à temática. 
Estabelecemos como questão: qual a contribuição da psicologia nas 
investigações científicas publicadas em periódicos, nos últimos dez anos, acerca do 
suicídio na adolescência? 
 
26 
 
 
 
 
2.2 Procedimento de coleta de dados 
A seleção foi realizada a partir da leitura criteriosa dos resumos de artigos, 
teses e dissertações encontradas em bases de dados, sendo selecionados apenas 
artigos que atendiam aos critérios de inclusão definidos na amostra. 
Foi feita a seleção de amostras, utilizadas como fundamentação teórica para 
fornecer um caminho adequado à solução do problema proposto, nas seguintes base 
de dados: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) eSciELO (Scientific Eletronic Library 
OnLine), por meio dos descritores: suicídio e adolescentes num primeiro momento, 
com os filtros: Brasil, língua portuguesa, anos 2009 a 2019. Em seguida, 
acrescentamos aos descritores a palavra psicologia, refinando a busca. Após essa 
consulta fizemos outra, trocando o descritor adolescentes por adolescência, seguida 
da consulta com o acréscimo do descritor psicologia, e comparamos os dados 
coletados. 
A coleta de dados foi norteada pelas leituras: exploratória do material 
selecionado e seletiva, com o registro das informações extraídas das fontes em 
instrumento específico (autores, ano, método, resultados e conclusões). Foi, então, 
realizada uma leitura analítica dos resumos dos periódicos com a finalidade de 
ordenar e sintetizar as informações obtidas, de forma que estas possibilitassem a 
obtenção de respostas à problemática apresentada na pesquisa. 
Foram incluídas apenas as publicações que responderam à questão do estudo, 
publicadas no período de 2008 a 2018, no Brasil, com todos os tipos de delineamentos 
metodológicos indicados. 
2.3 Procedimento para análise de dados 
A partir da coleta de dados, foram definidos os artigos para leitura analítica de 
todo o material encontrado e as principais informações a serem compiladas na 
discussão. Posteriormente, foi realizada uma análise descritiva dos artigos, buscando 
estabelecer uma compreensão e uma ampliação do conhecimento sobre o tema 
pesquisado e elaboração do referencial teórico. Então, foi elaborada uma discussão 
dos resultados e das considerações finais, que foram analisadas e discutidas a partir 
do referencial teórico relativo à temática do estudo. 
 
27 
 
 
 
 
2.4 Ressalvas Éticas 
Houve o comprometimento de citar os autores utilizados no estudo respeitando 
a norma brasileira regulamentada (NBR 6023), que dispõe sobre os elementos 
incluídos e que orienta a compilação e produção de referências. Os dados coletados 
foram utilizados exclusivamente com finalidade científica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
3 RESULTADOS 
Foram encontrados, por meio das consultas realizadas nas bases de dados 
utilizadas nesta pesquisa – BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e SciELO (Scientific 
Eletronic Library OnLine) –, antes da inclusão do descritor psicologia, cerca de 60% 
de periódicos a mais do que o número restante após esta inclusão, em ambas as 
bases consultadas, mas eles não foram utilizados no seu total. 
Os artigos encontrados depois da inserção de todos os descritores aplicados 
nesta pesquisa – suicídio, adolescência e psicologia – seguem nas tabelas abaixo: 
Tabela 1 – Periódicos científicos encontrados na base de dados da BVS. 
 
 
 
 
 
 
 
Ano Título Autores Periódicos
2016 Comportamento de risco à saúde de adolescentes escolares Barbosa, Franck Nei Monteiro; 
Casotti, Cezar Augusto; Nery, 
Adriana Alves
Texto contexto -
enferm.
2014 Tentativas de suicídio atendidas em unidades públicas de saúde de Fortaleza-Ceará, Brasil Oliveira, Maria I.; Bezerra Filho, José 
G.; Gonçalves-Feitosa, Regina F.
Rev. salud 
pública
2014 Fatores de risco relacionados com suicidios em Palmas (TO), Brasil, 2006-2009, investigados 
por meio de autopsia psicossocial
Sena-Ferreira, Neci; Pessoa, Valdir 
Filgueiras; Boechat-Barros, Raphael; 
Figueiredo, Ana Elisa Bastos; 
Minayo, Maria Cecilia de Souza
Ciênc. Saúde 
Colet
2012 Risco de suicídio e comportamentos de risco à saúde em jovens de 18 a 24 anos: um estudo 
descritivo
Ores, Liliane C.; Quevedo, Luciana 
A.; Jansen, Karen; Carvalho, Adriana 
B.; Cardoso, Taiane A.; Souza, 
Luciano D. M.; Pinheiro, Ricardo T.; 
Silva, Ricardo A.
Cad. saúde 
pública
2011 Condutas de risco à saúde e indicadores de estresse psicossocial em adolescentes estudantes 
do Ensino Médio
Carvalho, Priscila Diniz de; Barros, 
Mauro Virgilio Gomes de; Lima, 
Rodrigo Antunes; Santos, Carla 
Menêses; Mélo, Edilânea Nunes
Cad. saúde 
pública
2011 Comportamento de violência e fatores associados entre estudantes de Barra do Garças, MT Castro, Marta de Lima; Cunha, 
Sergio Souza da; Souza, Delma P 
Oliveira de
Rev. saúde 
pública
2009 Planejamento suicida entre adolescentes escolares: prevalência e fatores associado Baggio, Lissandra; Palazzo, Lílian S; 
Aerts, Denise Rangel Ganzo de 
Castro
Cad. saúde 
pública
2009 Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em 
Campinas, São Paulo, Brasil
Botega, Neury José; Marín-León, 
Letícia; Oliveira, Helenice Bosco de; 
Barros, Marilisa Berti de Azevedo; 
Silva, Viviane Franco da; 
Dalgalarrondo, Paulo
Cad. saúde 
pública
2009 Prevalência de transtornos mentais nas tentativas de suicídio em um hospital de emergência no 
Rio de Janeiro, Brasil
Santos, Simone Agadir; Lovisi, 
Giovanni; Legay, Letícia; Abelha, 
Lúcia
Cad. saúde 
pública
2009 Sentimento de discriminação em estudantes: prevalência e fatores associados Bittencourt, Alex Avelino; Aerts, 
Denise Rangel Ganzo de Castro; 
Alves, Gehysa Guimarães; Palazzo, 
Lílian; Monteiro, Lisiane; Vieira, 
Patrícia Conzatti; Freddo, Silvia 
Letícia
Rev. saúde 
pública
 
29 
 
 
 
 
Tabela 2 – Periódicos científicos encontrados na base de dados SciELO. 
 
 
Foram encontrados periódicos científicos nos campos da psiquiatria (2), de 
enfermagem (1), de psicologia (8) e de saúde pública e coletiva (11). Na base de dado 
SciELO a maioria das publicações são da Psicologia, em periódicos da área, já na 
BVS os artigos são das demais áreas, como esperado por se tratar da Biblioteca 
Virtual em Saúde. 
Nos respectivos resultados, a maior parte dos artigos encontrados trata da 
temática do suicídio na adolescência de forma indireta. Isto poderia ser um indicativo 
de que pouco se tem publicado, no meio da Psicologia, acerca de um tema tão 
importante. Uma área específica para tratar do tema, chamada, atualmente, de 
suicidologia, tem se dedicado a pesquisar e a publicar mais sobre o assunto, embora 
suas publicações não estejam contidas nestas bases de dados que utilizamos neste 
trabalho. A área da Educação também tem se debruçado mais sobre o tema, dado 
que o cenário do suicídio entre jovens em período escolar tem tido destaque nos 
últimos tempos. Esses dois campos de conhecimento salientam onde o fenômeno do 
suicídio está presente na sociedade contemporânea. 
Ano Título Autores Periódicos
2018 Adolescência em atos e adolescentes em ato na clínica psicanalítica Jucá, Vládia dos Santos, Vorcaro, 
Angela Maria Resende
Psicologia USP
2018 Prevalência de pensamentos e comportamentos suicidas e associação com a 
insatisfação corporal em adolescentes
Claumann, Gaia Salvador, Pinto, 
André de Araújo, Silva, Diego 
Augusto Santos, Pelegrini, Andreia
Jornal Brasileiro de 
Psiquiatria
2017 Depressão em Adolescentes: Revisão da Literatura e o Lugar da Pesquisa 
Fenomenológica
Melo, Anna Karynne, Siebra, Adolfo 
Jesiel, Moreira, Virginia
Psicologia: Ciência e 
Profissão
2015 Prevalência e fatores associados à ideação suicida na adolescência: revisão de 
literatura
Moreira, Lenice Carrilho de Oliveira, 
Bastos, Paulo Roberto Haidamus de 
Oliveira
Psicologia Escolar e 
Educacional
2014 Adolescência, comportamento sexual e fatores de risco à saúde Assis, Simone Gonçalves de, Gomes, 
Romeu, Pires, Thiago de Oliveira
Revista de Saúde 
Pública
2013 Tipos e consequências da violência sexual sofrida por estudantes do interior paulista na 
infância e/ou adolescência
Teixeira-Filho, Fernando Silva, 
Rondini, Carina Alexandra, Silva, 
Juliana Medeiros, Araújo, Marina 
Venturini
Psicologia & 
Sociedade
2010 Fatores de risco para problemas de saúde mental na infância/adolescência Sá, Daniel Graça Fatori de, Bordin, 
Isabel A. Santos, Martin, Denise, 
Paula, Cristiane S. de
Psicologia: Teoria e 
Pesquisa
2010 Representação social da depressão em uma Instituição de Ensinoda Rede Pública Ribeiro, Karla Carolina Silveira, 
Coutinho, Maria da Penha de Lima, 
Nascimento, Emily da Silva
Psicologia: Ciência e 
Profissão
2010 Ideação suicida na adolescência: um enfoque psicossociológico no contexto do ensino 
médio
Araújo, Luciene da Costa, Vieira, Kay 
Francis Leal, Coutinho, Maria da 
Penha de Lima
Psico-USF
2010 Ideação suicida na adolescência: prevalência e fatores associados Souza, Luciano Dias de Mattos, Ores, 
Liliane, Oliveira, Gabriela Teixeira de, 
Cruzeiro, Ana Laura Sica, Silva, 
Ricardo Azevedo, Pinheiro, Ricardo 
Tavares, Horta, Bernardo Lessa
Jornal Brasileiro de 
Psiquiatria
2010 Transtornos alimentares na visão de meninas adolescentes de Florianópolis: uma 
abordagem fenomenológica
Nunes, Arlene Leite, Vasconcelos, 
Francisco de Assis Guedes de
Ciência & Saúde 
Coletiva
2008 Tentativas de suicídio em jovens: aspectos epidemiológicos dos casos atendidos no 
setor de urgências psiquiátricas de um hospital geral universitário entre 1988 e 2004
Ficher, Ana Maria Fortaleza Teixeira, 
Vansan, Gerson Antonio
Estudos de Psicologia 
(Campinas)
 
30 
 
 
 
 
Retomaremos estas questões na discussão dos resultados aqui presentes, 
entretanto, já podemos mencionar que em uma busca randômica na internet, fora das 
bases de dados da BVS e SciELO, encontramos uma vasta quantidade de pesquisas 
em torno do tema publicadas em outros veículos de circulação. Este fato denota que 
há uma preocupação, investigação e produção de material científico que abrange a 
temática do suicídio na adolescência na contemporaneidade, mas que escapa das 
bases de consulta mencionadas e este dado é de importante consideração, colocando 
em questão se essas bases reconhecidas e amplamente utilizadas não têm alcançado 
mais uma abrangência significativa, ao menos para a pesquisa que nos propusemos 
realizar, para ampliar a discussão acerca do tema deste trabalho. 
 
 
31 
 
 
 
 
4 DISCUSSÃO 
Consideramos o suicídio um fenômeno com múltiplas especificidades, que 
perpassa por diversos campos de conhecimento, durante qualquer tentativa de 
entende-lo e estudá-lo em variados aspectos, que envolvem fatores culturais e sociais 
(políticos, familiares, crenças religiosas, grupos econômicos e sociais), predisposições 
orgânicas e psíquicas, além da influência do ambiente, conforme bem apontado por 
Kuczynski (2014). O fenômeno é uma preocupação em voga nos últimos anos, 
considerando que os casos de automutilação e tentativas de suicídio na adolescência 
têm aumentado, conforme já mencionado na introdução (ESCÓSSIA, 2017). 
O período da adolescência suscita por si mesmo turbulências típicas da fase 
de amadurecimento e de mudanças físicas e psíquicas do ser humano em 
desenvolvimento. As características da sociedade de nossa época têm sua 
importância muitas vezes destacada como uma possível influência direta nas atitudes 
e nos desdobramentos das consternações que já são, mesmo, pertencentes a este 
período da vida, considerando-se as construções e acontecimentos histórico-sociais. 
Uma questão que se apresenta é se essas influências podem ser decisivas para ações 
de autoagressão que têm feito parte de uma caracterização da juventude atual dentro 
de um quadro de epidemia de automutilação e de tentativas de suicídio crescentes, 
caracterizando-se como um grave problema de saúde pública. 
Os estudos encontrados nos periódicos das bases de dados pesquisadas 
apresentam recortes específicos aprofundados dentro de uma faceta bastante 
singular acerca do suicídio na adolescência. São destacados, principalmente, 
aspectos em torno do que pode representar fatores de risco à saúde e integridade dos 
adolescentes. O destaque da adolescência gira em torno da vulnerabilidade nessa 
fase da vida, por se tratar de uma etapa muito considerada como mera transição, onde 
não se é mais criança, mas ainda não está definida a condição de adulto; onde 
também há inúmeras alterações físicas, hormonais e novas experiências com o 
próprio corpo. As condições psíquicas típicas, portanto, podem ser disparadores 
específicos. 
Entretanto, o que as pesquisas apontam é que fatores orgânicos não são os 
maiores associados aos casos, e sim os aspectos sociais, com destaque para a 
 
32 
 
 
 
 
insegurança e instabilidade sociais, episódios de bullying, e uma amplificada ausência 
de perspectiva de futuro diante da crescente instabilidade socioeconômica vivida 
atualmente no país; o que também pode caracterizar situação vulnerável diante da 
sociedade como um todo. 
Para tratarmos a evidente complexidade deste assunto, alguns dos autores 
expoentes sobre o suicídio no Brasil nos serviram como referenciais teóricos, como: 
Evelyn Kuczynski, Karina Okajima Fukumitsu, Maria Julia Kovács, Neury Botega e 
Roosevelt Cassorla. 
A articulação dos estudos destes autores, juntamente com os periódicos 
encontrados nas bases de dados consultadas resultou na eleição das seguintes 
categorias analíticas: o adolescente e a contemporaneidade, suicídio na adolescência 
e subjetividade e adolescência (em seus principais aspectos psicológicos, sociais, 
históricos e culturais em relação ao adolescente). Buscamos, então, relacionar tais 
categorias analíticas com nossos apontamentos enquanto estudiosos em formação 
na área de Psicologia. 
Cabe-nos, enquanto pesquisadores/as e profissionais da saúde, questionar 
estes dados à nossa disposição e nos prepararmos para o momento de turbulência 
com casos que envolvem angústias, ansiedades e sofrimentos que permeiam a vida 
dos adolescentes, que estão recorrendo cada vez mais a atos extremos, em uma 
sociedade que cada vez mais recorre a medicamentos e internações sem perceber 
como a temática apresentada neste trabalho ainda é um tabu social a ser analisado e 
discutido com maior amplitude, tendo maior abrangência entre os profissionais e a 
sociedade. 
Propomos, para tanto, algumas reflexões: estes dados são reflexos de uma 
sociedade acelerada e adoecida? Faltam limites aos adolescentes? O comportamento 
do jovem na contemporaneidade reflete um sofrimento frente ao que entendem que 
se espera deles? Que futuro anseiam? 
Apresentaremos, então, as seguintes categorias analíticas para nortear e 
ampliar a discussão acerca do tema, com destaque para os discursos dos autores e 
autoras da revisão sistemática, apresentada no capítulo de resultados, que 
 
33 
 
 
 
 
apresentam narrativas em torno das concepções e compreensões sobre a 
adolescência e o suicídio: 
 O adolescente e a contemporaneidade 
 Suicídio na adolescência 
 Subjetividade e adolescência 
4.1 O adolescente e a contemporaneidade 
Para tratarmos casos de suicídio especificamente na fase da adolescência, 
cabe procurarmos definir – até certo ponto – esta persona, que na contemporaneidade 
já difere bastante daquilo que foi apresentado em nossa introdução e há muito descrito 
como adolescente. Procuramos, então, destacar um perfil biopsicossocial 
contemporâneo de acordo com o que encontramos em nossa pesquisa. 
Baggio, Palazzo e Aerts (2009) fazem um apontamento da adolescência como 
fase de profunda reorganização física, psíquica e social que reflete conflitos internos, 
sentimentos depressivos e ansiosos, em que a escola desempenha um importante 
“papel estratégico para a promoção e proteção da saúde dos alunos, pois é o local 
onde são reproduzidos os padrões de comportamentos e relacionamentos que podem 
pôr em risco a saúde dos jovens” (p. 143). Menciona, então, a relevância do meio para 
o adolescente, que vive uma fase em que pensamento de morte são bastante 
frequentes, principalmente em jovens do sexo feminino. 
O estudo desses autores também considera que, na adolescência, “a 
identificação com amigos e o sentimento de pertencer a um grupo são muito 
importantes na estrutura da personalidade, tendo efeito de apoio e proteção” 
(BAGGIO; PALAZZO; AERTS, 2009, p. 148),o que aponta, novamente, para a 
importância do meio nessa etapa da vida, e a devida capacitação dos profissionais da 
rede escolar para que sejam aptos a trabalhar os temas de importância na vida dos 
jovens, identificando riscos e realizando ações que viabilizem maior envolvimento 
familiar (BAGGIO; PALAZZO; AERTS, 2009). 
Como fora levantado por autores das amostras coletadas para a presente 
pesquisa, adolescer diz respeito a um ciclo de agudo trabalho psíquico, buscando se 
 
34 
 
 
 
 
engajar por meio de novos significados. A adolescência implica um remanejamento 
da organização psíquica e da relação do sujeito com o mundo. Ela é reveladora do 
nosso funcionamento social, denuncia e desvela aos nossos olhos, algo que pertence 
ao nosso tempo e cultura (JUCA; VORCARO, 2018). A constituição do adolescente 
não ocorre de forma alheia ao contexto que vive, pois ele se constitui com e no mundo, 
não sendo possível compreender esse sujeito restringindo o olhar aos seus aspectos 
individuais (MELO; SIEBRA; MOREIRA, 2017). Tendo isso dito, é fato que a cultura e 
as relações sociais interferem e influenciam de modo significativo esta fase do 
desenvolvimento humano. 
O adolescente, que também passa por mudanças corporais significativas, 
mudança de ambiente escolar para algo mais impessoal e maior, afastamento da sua 
relação com os pais e fragilidade em seu processo de individualização (SCHOEN-
FERREIRA et al., 2002; SIMONSEN, 2015), ao se deparar com toda essa cobrança 
do contexto em que está inserido, pode facilmente apresentar queixas psicológicas 
significativas e perigosas, como inclusive foram estudadas por Schoen-Ferreira et al. 
(2002) em seu estudo sobre o encaminhamento de adolescentes ao Centro de 
Atendimento e Apoio Psicológico ao Adolescente – CAAA. Ficher e Vansan (2008), 
em sua pesquisa, identificaram comportamentos suicidas, por exemplo, entre os 
jovens de lares desfeitos, perdas parentais, separação dos pais, adolescentes que se 
sentem intensamente desvalorizados, rejeitados e desprezados pelos familiares. O 
adolescente se encontra com múltiplas situações que podem contribuir para 
alterações de humor e de comportamento, portanto entendemos que a percepção que 
o sujeito tem de determinadas situações irá influenciar a maneira como ele vai lidar 
com elas. 
O que é apontado por Castro, Cunha e Souza (2011) é que a adolescência é 
uma fase caracterizada por mudanças “biológicas, socioculturais e psíquicas em que 
o ser humano tenta superar comportamentos antissociais, cujos efeitos são prejuízos 
e frustrações incompreendidos pelo mundo adulto” (p. 1060). Os mesmos autores 
ainda pontuam a adolescência enquanto uma fase “de conflitos que merecem respeito 
e apoio constantes para que o adolescente possa vir a ser um adulto seguro nas suas 
escolhas e decisões de vida” (p. 1060). 
 
35 
 
 
 
 
Para pensar o adolescente é necessário ter a polidez de reconhecer que a 
adolescência não é a mesma para todos e, por isso, é fundamental ter cuidado com 
generalizações como aquelas que posicionam de antemão o adolescente no lugar de 
um rebelde. Assim, é preciso observar como se efetiva a transição para cada um. Por 
outro lado, apoiamos a hipótese de que há algo em comum: a adolescência como 
operação na qual definições importantes irão se processar, caminhando para a 
compreensão de que a adolescência também nos revela algo do seu tempo (JUCA; 
VORCARO, 2018). 
Com toda sua evidente complexidade, este é um período de intensas 
oscilações, como vimos, e de muita singularidade. Uma maneira para compreender 
essa experiência é propiciar um espaço onde o adolescente possa descrever o seu 
mundo e seus significados, saindo de uma atitude natural pautada em realidades 
objetivas para abarcar as condições de possibilidade dessa experiência. 
Sena-Ferreira et al. (2014) associam a adolescência a uma fase propensa a 
impulsos autodestrutivos associados à “falta de apoio, de segurança e de estabilidade 
familiar, entre outros aspectos” (p. 122). Eles também consideram em sua pesquisa a 
importância do suporte ao jovem, que passa por um período de “episódios de 
ansiedade, comprometimento na socialização e adaptação” (p.7), refletidos num caso 
apresentado no artigo, de um garoto de 16 anos de idade com TDAH que comete 
suicídio. O caso a que estes autores se referem reflete, do ponto de vista deles, uma 
questão em voga: certa negligência e incapacidade de lidar com a complexidade das 
questões e sofrimentos em casos de pessoas com maior vulnerabilidade psíquica. 
Na adolescência são percebidas indagações que se referem ao processo de 
estruturação psíquica e entendemos que nela existe a necessidade de pensar o 
processo de constituição psíquica na ligação entre o tempo lógico e o tempo 
cronológico. Neste sentido, podemos pensar como um modo de funcionamento 
psíquico no laço social, sendo possível a ocorrência de rupturas do sujeito 
adolescente. Os adolescentes utilizaram da linguagem e das ferramentas atuais para 
“fazerem a passagem” – e aqui nós consideramos ser importante apontar para este 
detalhe de caráter limitante no mencionado artigo em relação a esta etapa da vida 
como puramente transicional – circulando, por um lado, entre espaços grupais, como 
 
36 
 
 
 
 
as redes sociais e, por outro, vivendo a experiência de se tornar homem e/ou mulher 
solitariamente, reflexo de um modelo único em uma sociedade de indivíduos. O 
adolescente hoje faz suas próprias marcas (JUCA; VORCARO, 2018). 
O artigo de Castro, Cunha e Souza (2011) aborda a adolescência de forma 
associada a violências do ponto de vista do uso de armas, agressões e tentativas de 
suicídio. A pesquisa deles busca conhecer a “magnitude da violência, sua prevalência 
e fatores associados, subsidiando as políticas públicas de prevenção e tratamento” (p. 
1059). Comportamentos de violência, neste artigo, foram ligados a comportamentos 
considerados de risco, como não-uso de preservativos em relações sexuais, consumo 
de drogas psicoativas ilegais, uso de álcool, dificuldades escolares, e cuidados 
familiares em relação à atenção da família em relação às amizades dos adolescentes. 
Destacamos também a puberdade em seus diversos aspectos, como um 
fenômeno que pode deixar os jovens em situação de desconforto até mesmo com sua 
imagem corporal. Os sintomas que predominam nesses casos são baixa autoestima, 
ansiedade e depressão, que podem predispor comportamentos que levam a 
pensamentos e comportamentos suicídios, concluindo que a imagem corporal pode 
ser um possível fator de risco para o suicídio nessa fase da vida (CLAUMANN et al., 
2018). Outros fatores de risco que precisam ser considerados são o absentismo 
escolar, dificuldade para dormir, ocorrência de injúrias e sentimentos de solidão e 
tristeza, no entanto não é possível afirmar se esses fatores são causas ou 
consequências (BITTENCOURT et al., 2009). 
Ores et al. (2012) também concordam que a adolescência é um período 
caracterizado por mudanças e experiências de vida que, apesar de serem parte do 
desenvolvimento humano, são capazes de desencadear comportamentos de risco e 
problemas emocionais, dentre os quais estão sintomas depressivos e risco de 
suicídio. 
As transformações inerentes a esta etapa (físicas, emocionais, sociais e 
familiares) costumam provocar ansiedade e angústia (ORES et al., 2012). Os 
comportamentos de risco que podem prejudicar a saúde geral dos jovens, então se 
presentificam seja pelo caráter exploratório típico dessa fase da vida, seja por 
influência do meio. Todavia, não há clareza em termos de causa, ou seja, não há 
 
37 
 
 
 
 
apontamento de evidências que indiquem que comportamentos de risco precedam o 
risco de suicídio, nem o inverso. Apesar disso, Cassorla (2000), ao falar sobre jovens 
que tentam suicídio, faz associações entre as turbulências próprias desta fase e a 
puberdade, a revivescênciade fantasias edípicas e o desprendimento definitivo das 
figuras parentais para que possam atingir a adultez. Com tudo isso, surgem variadas 
ansiedades primitivas e confusões entre a relação sujeito-objeto (bom ou mau). Para 
livrar-se de possíveis objetos maus – e aqui o autor fala especificamente das relações 
familiares e românticas –, o adolescente pode desejar voltar a um estado de fusão 
idealizada primitiva e nirvânica por meio da morte. 
A adolescência, como podemos perceber, é uma fase ainda muito destituída 
de referências, enraizamento e clareza sobre seus fatores. A abordagem da pesquisa 
de Castro, Cunha e Souza (2011) em relação ao suicídio, a partir das perspectivas 
dos próprios adolescentes, chegou ao fato de que este é um tema pouco investigado 
e de etiologia complexa e multifatorial. Portanto, emerge a necessidade de mais 
pesquisas e de um apoio profissional mais positivo e menos detrator, dependente de 
atualização contínua e insistente deste perfil biopsicossocial contextualizado e 
complexo, em busca de encorajamento e de um lugar para chamar de seu na 
sociedade, antes que possíveis transtornos psicológicos o façam negar sua existência 
(SIMONSEN, 2015). 
4.2 Suicídio na adolescência 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por suicídio 
aumentaram 60% nos últimos 45 anos e o Brasil está entre os dez países com maior 
número de suicídios. Além disso, foi observado que os fatores de suicídio mudaram 
da faixa mais idosa para as faixas mais jovens da população (BOTEGA et al., 2009). 
São cerca de 1.920 pessoas que morrem por suicídio a cada dia. Uma a cada 45 
segundos, no mundo (BOTEGA, 2014). 
O suicídio é, consideravelmente, um dos principais problemas de saúde pública 
em todo o mundo com desdobramentos que resultam em danos econômicos, 
psicológicos e sociais para indivíduos, famílias e comunidades. Diversos 
pesquisadores de distintas áreas do conhecimento investigam os comportamentos e 
pensamentos – estes podem ser categorizado em ideação suicida e tentativa de 
 
38 
 
 
 
 
suicídio, levando a terceira categoria: o suicídio consumado (MOREIRA; BASTOS, 
2015) – como um dos primeiros prognósticos do suicídio consumado, de modo a 
possibilitar o desenvolvimento de estratégias para a prevenção, reduzindo as mortes 
por essa causa (CLAUMANN et al., 2018). 
Em nosso lugar de psicoterapeutas, estar diante de casos que envolvam a 
ideação e tentativa de suicídio é algo muito complexo e desafiador. Coloca-nos diante 
do sofrimento humano mais desesperado, a ponto de preferir arrancar a própria vida. 
Fukumitsu (2014), em sua avaliação sobre o psicoterapeuta diante do comportamento 
suicida, explicita bem a complexidade de estar diante desta situação, em que é preciso 
lidar com a morte existencial do indivíduo e seu desprazer pela vida, além de precisar 
se aproximar do lugar deste paciente e desenvolver empatia em relação a este 
sofrimento, em busca de novas perspectivas. Isso tudo diante da possibilidade de o 
psicoterapeuta perder seu paciente a qualquer momento, em meio ao tratamento. 
O termo ideação suicida pertence a uma ideia de autodestruição, englobando 
atitudes, desejos e planos que o sujeito tem para colocar um fim à própria vida. Essas 
ideias participam do processo de passagem da infância para adolescência à medida 
que se relacionam com problemas existenciais e busca uma tentativa de compreensão 
da vida, da morte e o sentido da existência (MOREIRA; BASTOS, 2015). A ideação 
suicida também é considerada um fator de risco na adolescência. Estudos indicam 
que em 60% dos casos de suicídio, em algum momento, existiu a ideação prévia, 
tornando os jovens mais vulneráveis, devido aos conflitos existenciais do momento, 
crises de identidade, além de como lidar com o sentido da vida e morte. (ARAÚJO; 
VIEIRA; COUTINHO, 2010). 
Em seu artigo, Oliveira, Bezerra-Filho e Gonçalves-Feitosa (2014) conceituam 
o suicídio como um ato eletivo e consciente cujo resultado sabido é o autoextermínio. 
Citam dados acerca do suicídio de um modo geral, no mundo e no Brasil, que 
enfatizam que este é uma das principais causas de morte principalmente entre jovens, 
e que a elevação atual das taxas de suicídio entre os adolescentes tem sido vista 
como uma pauta de discussão de saúde pública no mundo todo. De acordo com 
Castro, Cunha e Souza (2011), o suicídio é considerado uma violência atuada contra 
 
39 
 
 
 
 
si próprio e resultante de “causas externas” (p. 1056), e tem aumentado na população 
jovem de nossas cidades, impactando a saúde pública. 
As tentativas de suicídio, como vimos, são consideradas atualmente um grave 
problema de saúde pública, que alcançam cada vez mais jovens e produzem graves 
danos à saúde (SANTOS et al., 2009) e resultam em impactos psicológicos e sociais 
do jovem, causando danos não somente ao adolescente, mas as pessoas que 
circulam sua rede de relacionamento, como já dito, demonstrando a necessidade de 
acompanhamento, acolhimento e amparo aos adolescentes que apresentam 
comportamentos e pensamentos suicidas (CLAUMANN et al., 2018). 
Nas últimas décadas, houve um crescimento na ocorrência de suicídio na 
fase da adolescência. Considerado um sério problema de saúde pública, o 
suicídio na adolescência traz consequências negativas não só para a família 
da vítima, mas também para o meio social no qual o adolescente está inserido 
(MOREIRA; BASTOS, 2015, p. 451). 
É importante destacar o que fora apontado por Botega (2014) sobre a tentativa 
de suicídio: ela supera em, no mínimo, dez vezes o número de suicídios consumados. 
Este ato é o principal fator de risco para a consumação e já pode gerar por si só danos 
individuais, familiares e sociais. 
O suicídio é também considerado atualmente um dos principais problemas de 
saúde em populações jovens, estando entre as três principais causas de morte nos 
Estados Unidos, Suíça e Canadá entre jovens de 15 a 24 anos e uma das dez 
principais causas de morte no mundo (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 2011). Observa-
se uma alta representatividade do suicídio como causa de morte entre jovens de 
países desenvolvidos na última década, e no Brasil também (CARVALHO et al., 2011). 
São cerca de 27 mortes por dia somente em território nacional (BOTEGA, 2014), onde 
a região Sul apresenta mais casos de suicídio que o restante do país (CASTRO; 
CUNHA; SOUZA, 2011). O assunto denota que o problema deve ser investigado 
através de metodologias adequadas à nossa realidade (SANTOS et al., 2009), 
considerando também que o suicídio entre adolescentes jovens é pouco pesquisado 
e sua etiologia é “complexa e envolve fatores biológicos e psicológicos (história de 
vida, emoções), além do contexto socioeconômico” (CASTRO; CUNHA; SOUZA, 
2011, p. 1059). 
 
40 
 
 
 
 
Os fatores associados ao suicídio são diversos e, em nossas amostras e nos 
artigos de autoridades no assunto, encontramos: ausência de apoio social, falta de 
amigos, sentimento de rejeição, características sociais e demográficas, ausência de 
crença religiosa, doenças mentais, problema(s) de saúde geral, bullying - “atitudes 
preconceituosas, insultos e agressões emocionais” (SENA-FERREIRA et al., 2014, p. 
122), principalmente quando associados a ausência de apoio, segurança e 
estabilidade familiar –, eventos estressantes, forte intenção suicida, histórico de 
suicídio na família, conhecer alguém que tentou o suicídio, doença física debilitante, 
falecimento de algum familiar próximo ou dos pais, organização familiar e história de 
tentativa de suicídio anterior (MELO; SIEBRA; MOREIRA, 2017; MOREIRA; BASTOS, 
2015; OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; GONCALVES-FEITOSA, 2014; SANTOS et al., 
2009; SENA-FERREIRA et al., 2014; SOUZA et al., 2010). 
Dos transtornos mentais relativos às tentativas de suicídio, destaca-se a 
dependência/ abuso de medicamentos, substâncias psicoativas, álcool e drogas, 
depressão, esquizofrenia, transtorno deestresse pós-traumático, transtorno de 
ansiedade, transtorno bipolar e transtorno de personalidade antissocial (BOTEGA, 
2014; CARVALHO et al., 2011; OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; GONCALVES-
FEITOSA, 2014; SANTOS et al., 2009; SENA-FERREIRA et al., 2014). A situação se 
agrava, principalmente, quando há associação de mais de um desses e outros 
possíveis transtornos mentais (BOTEGA, 2014). 
Dos fatores socioeconômicos influenciadores destacados por Sena-Ferreira et 
al. (2014) surgiram: “ser do sexo masculino, solteiro, de cor parda, estar na faixa etária 
de 20 a 40 anos e com ensino fundamental” (p.115) além de “residir em áreas urbanas, 
estar aposentado ou desempregado”, “estratos econômicos extremos (os mais ricos 
ou mais pobres) ” (p. 116) e não ter um cônjuge. O fato de não estudar é também um 
aspecto levantado como alto risco para os jovens, pela escola representar um “local 
privilegiado para identificação precoce de situações problemáticas” (OLIVEIRA; 
BEZERRA FILHO; GONCALVES-FEITOSA, 2014, p. 691). De acordo com Teixeira-
Filho et al. (2013), existem evidências identificadas na adolescência que sofreu algum 
tipo de violência sexual de que o fato aumenta a probabilidade de ideação e/ou 
cometerem suicídio, em diversas faixas-etárias, sexos e classes sociais. 
 
41 
 
 
 
 
A depressão é considerada um fator destaque nos artigos coletados para esta 
pesquisa e que pode predispor uma possível tentativa de suicídio. Neste sentido, se 
pensarmos em ideação suicida somada a depressão e sentimento de desesperança, 
podemos compreender a ideia global como um fator de risco para a efetivação do 
suicídio, não podendo ser menosprezados sinais como um pedido de ajuda, de 
carinho ou limites e a expressão de angústias e dúvidas (MOREIRA; BASTOS, 2015). 
Ribeiro, Coutinho e Nascimento (2010) destacam que a depressão não está associada 
somente ao estar triste; adolescentes deprimidos podem não aparentar tristeza, 
podem apresentar irritação injustificada, crises explosivas, entre outras, comuns neste 
período como a diminuição de seu rendimento escolar, isolamento social, alteração 
de relacionamento familiar, baixa autoestima, direcionando-os para uma ideação 
suicida. 
Atualmente, de acordo com Assis, Gomes e Pires (2014), jovens pertencentes 
a minorias sexuais – homossexuais ou bissexuais – vivenciam mais fatores de risco 
do que os jovens que não pertencem a essas minorias, os heterossexuais. Os 
problemas de saúde encontrados com jovens homo e bissexuais em sua pesquisa 
são: altos níveis de tentativas de suicídios, uso elevado de substâncias, sintomas de 
depressão e outros problemas de saúde mental, frequentes comportamentos sexuais 
de risco, incluindo HIV, doenças sexualmente transmissíveis (DST), gravidez na 
adolescência, abuso físico ou sexual, distúrbios alimentares e rejeição familiar 
(ASSIS; GOMES; PIRES, 2014). 
Os adolescentes requerem maior atenção e necessitam ser alvos de 
estratégias de prevenção ao suicídio. Os estudos de Moreira e Bastos (2015), por 
exemplo, apontam que são adolescentes do mundo todo que parecem carecer de 
ajuda para impedir que suas vidas sejam perdidas. Sena-Ferreira et al. (2014) ainda 
mencionam que a maioria das pessoas que se suicidaram, consideradas na pesquisa, 
procuraram ajuda médica e/ou hospitalar poucos meses antes do suicídio, e que esta 
busca poderia ter sido decisiva para encaminhamentos à profissionais que pudessem 
ajudá-los. Segundo Araújo, Vieira e Coutinho (2010), alguns jovens apresentam certos 
comportamentos, chamados parassuicídios, cuja intenção não seria de cometer de 
imediato o suicídio. Existe uma tendência de comportamentos modificarem o ambiente 
no qual está inserido, a “chamada de atenção”, em que conseguem manipular o seu 
 
42 
 
 
 
 
meio, muitas vezes com caráter de chantagem emocional. Ficher e Vansan (2008) 
também destacam que o fenômeno muitas vezes, é comunicado pelos jovens 
indiretamente, dentro de seu convívio familiar, muito anterior ao ato, como se 
houvesse um pedido de ajuda inconsciente e é neste momento que deveria entrar em 
ação a percepção dos familiares. 
No tratamento psicológico, por exemplo, é muito importante que o terapeuta 
mantenha algum contato com os familiares deste adolescente e com outros 
profissionais, além de deixar claro ao paciente que o sigilo será mantido enquanto não 
houver risco de morte, pois a vida dele deve ser priorizada (FUKUMITSU, 2014). 
Argumentamos que o tratamento em casos de comportamento suicida, principalmente 
com adolescentes, requer respeito, compreensão, tolerância, disponibilidade e 
flexibilidade. Não se trata de “fé”, crença. 
Sena-Ferreira et al. (2014) ainda expõem que há uma ambivalência de busca 
pela morte ao mesmo tempo em que são dados sinais da intenção na busca por uma 
intercessão de alguém. Eles destacaram que “a inabilidade do setor de saúde em lidar 
com esta questão está presente em vários trabalhos que abordam a questão do 
suicídio” (p. 121), e o descrédito e falta de percepção de risco real das pessoas à volta 
do suicida são frequentes. Para o Ores et al. (2012), o comportamento suicida traz 
com ele diversos elementos que ajudam a explicá-lo, como “ideias, desejos e 
manifestações da intenção de querer morrer, o planejamento de como, quando e onde 
executá-lo, e também o pensamento de como o suicídio irá impactar a vida dos outros” 
(p. 305). É, portanto, para este autor, uma tendência à autodestruição que varia de 
grau de gravidade entre a ideação e o suicídio de fato, cuja avaliação é um grande 
desafio aos profissionais de saúde, com mais urgência do que o entendimento de sua 
etiologia. Fukumitsu (2014) também aborda este desafio e a importância de entender 
que o comportamento suicida é um fenômeno multifatorial, e precisa ser tratado como 
tal, sem arriscarmos focar em características individuais ou somente familiares ou 
sociais. 
É importante ressaltar que em um momento inicial é preciso tomar precaução 
para que as tentativas não sejam naturalizadas, e nem banalizadas, visto que nessa 
etapa é aguardada uma tendência aos impulsos (JUCA; VORCARO, 2018). De acordo 
 
43 
 
 
 
 
com Castro, Cunha e Souza (2011), há um processo no comportamento suicida, que 
parte de uma ideia de encerrar a própria vida, podendo avançar para o planejamento 
de execução do ato (onde e como), que pode culminar numa tentativa. Mais uma vez 
o papel do profissional da saúde envolvido em casos de suicídio se faz tão importante, 
no sentido de notar tais sinais de comportamentos com ideação suicida, o que pode 
ser prejudicado fortemente na fase da adolescência se o profissional se deixar levar 
por padrões preconceituosos sobre esta fase da vida, como já levantamento neste 
trabalho, onde o adolescente ocupa o lugar de pessoa naturalmente problemática e 
em simples transição. 
Nos estudos de Melo, Siebra e Moreira (2017) foram listadas características 
que se relacionam entre os adolescentes, com a intenção de elaborar um quadro 
clínico congruente e próprio da depressão, considerando que o suicídio entre 
adolescentes consiste na terceira maior causa de morte entre eles. Mencionamos, 
aqui, as seguintes características: agressividade, angústia, ansiedade e inquietação; 
desapontamento consigo mesmo; desesperança; dificuldade em lidar com 
sentimentos de baixa autoestima, desamparo e inferioridade; inutilidade; qualidade do 
sono; queda de desempenho escolar e uso abusivo de álcool, drogas lícitas e ilícitas. 
Oliveira, Bezerra Filho e Gonçalves-Feitosa (2014) consideram a possibilidade 
de prevenir tentativas de suicídio por meio da identificação de pessoas vulneráveis, 
conhecimento das circunstâncias influenciadoras do ato e intervenções que possam 
minimizá-los (p.685). Os autores justificam sua pesquisa diante da falta de dados 
acerca do tema na referida cidade, objetivando com a pesquisa caracterizar as vítimas 
de tentativas

Continue navegando