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i ÍNDICE 1 Geotectônica – Introdução .............................................................................................................. 1.1 1.1 Apresentação ........................................................................................................................... 1.1 1.2 Definição .................................................................................................................................. 1.2 1.3 Ferramentas do estudo geotectônico ................................................................................... 1.3 1.3.1 Petrologia................................................................................................................................... 1.3 1.3.2 Geoquímica ............................................................................................................................... 1.3 1.3.3 Geocronologia ........................................................................................................................... 1.3 1.3.4 Geofísica ................................................................................................................................... 1.3 1.3.5 Geomagnetismo ........................................................................................................................ 1.3 1.3.6 Estrutural ................................................................................................................................... 1.3 2 Ferramentas do Estudo Geotectônico............................................................................................ 2.1 2.1 Geocronologia ......................................................................................................................... 2.1 2.2 Datação dos Eventos Magmáticos ........................................................................................ 2.2 2.3 Datação de Eventos Orogenéticos ........................................................................................ 2.2 2.4 Métodos Geocronológicos, Resultados, Alcance e Interpretação Geológica .................. 2.3 2.4.1 Isócronas Sm-Nd ....................................................................................................................... 2.3 2.4.2 Idades Pb Comum ..................................................................................................................... 2.3 2.4.3 Idades U-Pb ............................................................................................................................... 2.4 2.4.4 Idades K-Ar ................................................................................................................................ 2.4 2.4.5 Idades Ar-Ar .............................................................................................................................. 2.4 2.4.6 Idades Rb-Sr ............................................................................................................................. 2.4 3 Estrutura Interna da Terra ................................................................................................................ 3.1 3.1 A terra acamadada ................................................................................................................... 3.1 3.1.1 A Crosta Terrestre ..................................................................................................................... 3.2 3.2 subdivisão da Crosta .............................................................................................................. 3.2 3.3 Divisão entre crosta e manto ................................................................................................. 3.3 3.4 Litosfera/Astenosfera/Tectosfera .......................................................................................... 3.5 3.4.1 Tipos de litosfera e resistência .................................................................................................. 3.5 3.5 Sismologia dos Terremotos ................................................................................................... 3.5 3.6 Elementos de um Terremoto .................................................................................................. 3.5 3.7 Mecanismo dos Terremotos ................................................................................................... 3.6 4 ORIGEM DA CROSTA TERRESTRE ................................................................................................ 4.1 4.1 Evolução Crustal Hadeana/Arqueana (4,5 - 2,5 Ga) ............................................................. 4.1 4.1.1 O Instante Zero .......................................................................................................................... 4.1 4.1.2 Os primeiros 500 Ma. ................................................................................................................ 4.1 4.1.3 O período entre 4,0 e 3,5 Ga. .................................................................................................... 4.1 4.2 O período entre 3,5 e 3,0 Ga. .................................................................................................. 4.1 4.2.1 O período entre 3,0 e 2,5 Ga. .................................................................................................... 4.2 5 A formaçâo das crostas continentais e oceânicas da terra ......................................................... 5.1 5.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 5.1 5.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TERRENOS ARQUEANOS ............................................ 5.2 5.3 COMPOSIÇÃO E ORIGEM DA CROSTA PRIMITIVA HADEANA .......................................... 5.7 5.3.1 Teorias acerca da origem da crosta primitiva hadeana ............................................................ 5.7 5.4 A crosta oceânica primitiva HADEANA ............................................................................... 5.11 5.5 A crosta continental primitiva Hadeana .............................................................................. 5.13 5.6 CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 5.15 5.7 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 5.15 6 Evolução crustal no Proterozóico ................................................................................................... 6.1 6.1 Origem das Províncias Crustais Proterozóicas ................................................................... 6.1 6.2 Associações Rochosas do Proterozóico .............................................................................. 6.1 6.2.1 Seqüências Supracrustais do Proterozóico ............................................................................... 6.1 6.2.2 A Questão do quartzo detrítico .................................................................................................. 6.5 6.2.3 Qual teria sido a fonte desse quartzo? ...................................................................................... 6.5 6.3 Ambientes tectônicos das seqüências do Proterozóico ..................................................... 6.6 6.3.1 Rochas Intrusivas do Proterozóico ............................................................................................ 6.6 ii 6.3.2 Estruturas e Metamorfismo ....................................................................................................... 6.7 6.3.3 Evidências de Margens Convergentes no Proterozóico. ........................................................... 6.8 6.3.4 Evidências de sistema de rift no Proterozóico ........................................................................... 6.8 6.3.5 Evidência de ciclo Wilson no Proterozóico ................................................................................6.8 7 províncias Crustais........................................................................................................................... 7.1 7.1 Definição e Caracterização ..................................................................................................... 7.1 7.2 Orogênese ................................................................................................................................ 7.2 7.2.1 Períodos Orogenéticos .............................................................................................................. 7.3 7.2.2 Causas dos Períodos Orogenéticos .......................................................................................... 7.3 7.2.3 Províncias Orogênicas Arqueanas ............................................................................................ 7.4 7.2.4 Classificação das Províncias Orogenéticas Arqueanas ............................................................ 7.5 7.2.5 Associações Metamórficas de Alto Grau (HGT) ..................................................................... 7.12 7.2.6 Síntese da Evolução Tectônica do Planeta entre 3.8 – 2,5 Ga. .............................................. 7.14 7.3 Províncias Orogênicas Pós-arqueanas ............................................................................... 7.15 7.3.1 Província Greenville................................................................................................................. 7.15 7.3.2 Província Pan-Africana / Brasiliana ......................................................................................... 7.16 7.3.3 Província Cordilheirana ........................................................................................................... 7.17 7.4 Províncias Anorogênicas ..................................................................................................... 7.18 7.4.1 Introdução ................................................................................................................................ 7.18 7.4.2 Tipos de Províncias Anorogênicas .......................................................................................... 7.19 7.5 Exercícios de Fixação ........................................................................................................... 7.21 8 História das Teorias Geotectônicas ................................................................................................ 8.1 8.1 O grande Debate do Século 18 - Plutonistas versus Netunistas ........................................ 8.1 8.2 A primeira metade do século 19 – O debate entre o Uniformitarismo e o Catastrofismo 8.2 8.2.1 O Uniformitarismo ..................................................................................................................... 8.2 8.2.2 Catastrofismo ............................................................................................................................ 8.3 8.3 A segunda metade do século 19 – Os conceitos primitivos de orogênese ...................... 8.3 8.3.1 Leopold von Buch (1774 – 1853) .............................................................................................. 8.3 8.3.2 Elie de Beaumont (1798 – 1874) ............................................................................................... 8.3 8.3.3 H. D. Rodgers ( - ) ............................................................................................................. 8.3 8.3.4 J. D. Dana ( - ) ................................................................................................................... 8.4 8.3.5 J. Hall (1859 - ) .................................................................................................................. 8.4 8.3.6 E. Seuss ( - ) ...................................................................................................................... 8.4 8.3.7 Chamberlain (1843 – 1928) ....................................................................................................... 8.4 8.4 Primeira metade do século 20 – A teoria geossinclinal ....................................................... 8.5 8.4.1 Etapas do ciclo geossinclinal ..................................................................................................... 8.5 8.4.2 Seqüência sedimentar ............................................................................................................... 8.6 8.4.3 Correlação de termos ................................................................................................................ 8.7 8.5 Outras teorias do século 20 ................................................................................................... 8.7 8.5.1 Terra em expansão ................................................................................................................... 8.7 8.5.2 Teria da Undation ...................................................................................................................... 8.8 8.5.3 Teoria da contração modificada (Wilson e Scheidegger) ......................................................... 8.8 8.5.4 Hipótese da convecção (Holmes) ............................................................................................. 8.9 8.6 Sumário acerca do pensamento geotectônico ..................................................................... 8.9 8.7 Bibliografia ............................................................................................................................. 8.10 9 O Desenvolvimento da Teoria da Tectônica Global ...................................................................... 9.1 9.1 Argumentos de Wegener a favor da deriva continental ...................................................... 9.1 9.1.1 Geodésicos ................................................................................................................................ 9.1 9.1.2 Geofísicos .................................................................................................................................. 9.2 9.1.3 Geológicos ................................................................................................................................. 9.2 9.1.4 Paleontológicos ......................................................................................................................... 9.2 9.1.5 Paleoclimáticos .......................................................................................................................... 9.2 9.2 O debate ................................................................................................................................... 9.3 9.3 O nascimento da teoria da tectônica de placas ................................................................... 9.3 9.3.1 Os novos argumentos ............................................................................................................... 9.4 9.4 A teoria do espalhamento do assoalho oceânico ................................................................ 9.5 9.5 Comprovação do espalhamento do assoalho oceânico ..................................................... 9.6 9.5.1 Anomalias magnéticas .............................................................................................................. 9.6 iii 9.5.2 Falhas transformantes ............................................................................................................... 9.8 9.5.3 Documentação da subducção ................................................................................................... 9.8 9.6 O nascimento da tectônica de placas ................................................................................... 9.9 9.7 Tectônica global como uma revolução científica ................................................................ 9.9 9.8 Sumário das principais datas e fatos da tectônica global ................................................9.10 9.9 Bibliografia ............................................................................................................................. 9.12 10 Pistas da tectônica de placas – parte i ......................................................................................... 10.1 11 Pistas da tectônica de placas – parte II ........................................................................................ 11.1 12 Tectônica Global ............................................................................................................................. 12.1 12.1 No Interior dos Ambientes da Tectônica Global ................................................................ 12.1 13 Margens convergentes ................................................................................................................... 13.1 13.1 Introdução .............................................................................................................................. 13.1 13.2 Zonas de Subducção ............................................................................................................ 13.2 13.3 Fossas Oceânicas ................................................................................................................. 13.2 13.4 Prismas Acrescionários ........................................................................................................ 13.4 13.4.1 Elementos topográficos ........................................................................................................... 13.4 13.4.2 Composição do Prisma ........................................................................................................... 13.4 13.4.3 Deformação do Prisma ............................................................................................................ 13.5 13.4.4 Evolução de um Prisma Acrescionário .................................................................................... 13.6 13.5 Arco Islândico ........................................................................................................................ 13.6 13.5.1 Magmatismo ............................................................................................................................ 13.6 13.5.2 Séries vulcânicas de um arco islândico................................................................................... 13.7 13.6 Bacias Marginais (Bacias de Fore arc???) ......................................................................... 13.8 13.6.1 Modelos evolutivos para uma Bacia Marginal ......................................................................... 13.8 13.6.2 Metamorfismo .......................................................................................................................... 13.9 13.7 Bacias de back arc .............................................................................................................. 13.10 13.7.1 Características das bacias de back arc ................................................................................. 13.10 13.7.2 Gênese de uma bacia de back arc ........................................................................................ 13.10 13.7.3 Evolução ................................................................................................................................ 13.11 13.8 Cinturões Orogenéticos...................................................................................................... 13.11 13.8.1 Cadeias de Montanhas Colisionais ....................................................................................... 13.11 13.8.2 Cadeias de Montanhas Colisionais ....................................................................................... 13.15 13.8.3 Definição ................................................................................................................................ 13.15 13.8.4 Elementos gerais ................................................................................................................... 13.15 13.8.5 Exemplo ................................................................................................................................. 13.15 13.8.6 Modelos de Colisão Continental ............................................................................................ 13.15 13.8.7 Geologia do Himalaia ............................................................................................................ 13.19 13.8.8 Evolução do Himalaia ............................................................................................................ 13.19 13.8.9 Diferença entre o Himalaia e o Cinturão Alpino .................................................................... 13.20 13.8.10 Colisão do tipo Arco-Continente ............................................................................................ 13.20 13.9 Terrenos Suspeitos ............................................................................................................. 13.21 13.9.1 Características Gerais de um Terreno Suspeito ................................................................... 13.21 14 Margens divergentes e Margens passivas ................................................................................... 14.1 14.1 Expansão do assoalho oceânico ......................................................................................... 14.1 14.2 O magnetismo rochoso ........................................................................................................ 14.3 14.3 Taxa de expansão do Assoalho Oceânico .......................................................................... 14.5 14.4 Elementos tectônicos dos assoalhos oceânicos ............................................................... 14.6 14.4.1 Fendas oceânicas (Ridges) ..................................................................................................... 14.6 14.4.2 Falhas transformantes ............................................................................................................. 14.6 14.4.3 Junções Tríplices..................................................................................................................... 14.6 14.4.4 Hot Spots ................................................................................................................................. 14.6 14.4.5 Mecanismos da expansão do assoalho oceânico ................................................................... 14.7 14.5 Processos de formação dos rifts continentais ................................................................ 14.10 14.5.1 Soerguimento dômico da crosta ............................................................................................ 14.10 14.5.2 Sistema de falhas .................................................................................................................. 14.11 14.5.3 Atividade Ígnea ...................................................................................................................... 14.11 14.5.4 Sismicidade e estrutura crustal ............................................................................................. 14.12 14.5.5 Sumário dos estágios do desenvolvimento do rift ................................................................. 14.12 iv 14.5.6 Sucessão sedimentar de um rift ............................................................................................ 14.13 14.5.7 Causas do rifteamento crustal ............................................................................................... 14.15 14.5.8 Fontes das anomalias térmicas ............................................................................................ 14-18 14.5.9 Mecanismos de afinamento crustal ...................................................................................... 14-18 15 Tectônica Global e Magmatismo ...................................................................................................15.1 15.1 Séries Magmáticas ................................................................................................................ 15.1 15.2 Principais Tipos de Rochas Ígneas ..................................................................................... 15.1 15.3 Origem dos Magmas ............................................................................................................. 15.2 15.4 Distribuição das Séries Magmáticas em relação À Tectônica Global .............................. 15.2 15.5 Identidade Geoquímica dos Ambientes Tectônicos Magmáticos .................................... 15.2 15.6 Mobilidade dos elementos ................................................................................................... 15.3 15.7 Sistemática de Trabalho com os Elementos Geoquímicos .............................................. 15.3 15.7.1 Diagramas de Elementos de Terras Raras (REE) .................................................................. 15.3 15.8 Magmatismo e Tectônica ...................................................................................................... 15.3 15.8.1 Fendas Oceânicas ................................................................................................................... 15.3 15.8.2 Zonas de Subducção ............................................................................................................... 15.5 15.8.3 Bacias Marginais ..................................................................................................................... 15.5 15.8.4 Bacias Oceânicas .................................................................................................................... 15.5 15.8.5 Rifts Continentais .................................................................................................................... 15.6 15.8.6 Magmatismo Cratônico ........................................................................................................... 15.6 16 Tectônica Global e Geologia Econômica ..................................................................................... 16.1 16.1 Introdução .............................................................................................................................. 16.1 16.2 Tipos de Depósitos Minerais ................................................................................................ 16.1 16.2.1 Depósitos Autóctones e Alóctones .......................................................................................... 16.2 16.2.2 Depósitos Associados a Bacias Sedimentares ....................................................................... 16.4 1.1 1 GEOTECTÔNICA – INTRODUÇÃO Prof. Dr. Mauricio Antônio Carneiro 1.1 APRESENTAÇÃO A superfície da terra pode ser descrita como sendo composta de um mosaico de placas litosféricas (oceânicas, oceânicas + continentais) que exibem combinações variadas de fendas oceânicas (ou limites de placas divergentes), zonas de subducção (ou limites de zonas convergentes), falhas transformantes e zonas compressivas intracontinentais. Ao longo das falhas transformantes os segmentos das placas litosféricas oceânicas deslizam entre si e, nesse ambiente, há formação nem destruição significativa de crosta. Nas zonas de subducção as placas litosféricas oceânicas são consumidas e tem lugar a formação de uma crosta litosférica, predominantemente, continental a partir do aparecimento dos arcos vulcânicos. Nas fendas oceânicas, ocorre o mais significativo processo de formação de litosfera oceânica, a partir da cristalização magmática dos fundidos mantélicos processados nas plumas astenosféricas. Existem, atualmente, sete grandes placas tectônicas: eurasiana, norte americana, sul americana, pacífica, africana e australiana e uma maior quantidade de placas intermediárias onde se destacam as placas: chinesa, filipinas, arábica, iraniana, nasca, cocos, caribeana e escocesa. 1.2 Segmentos crustais menores, como é o caso do mar mediterrâneo, são formados pôr um micro mosaico complexo, onde se misturam, nessa pequena porção da superfície do planeta, fendas oceânicas, zonas de subducção, falhas transformantes, etc. Todo esse conjunto de estruturas crustais e processos geradores são objeto de estudo da Geotectônica. 1.2 DEFINIÇÃO Tectônica deriva do grego – Tek – ton – que significa construção, construir; e - geo - é terra. Portanto, a geotectônica é o processo geológico global de “construção” da terra, de sua evolução, transformação, etc. Na geotectônica estuda-se esse processo geológico em escala regional com o objetivo de compreender a dinâmica do planeta e a sua história impressa nas rochas (e.g movimentos, variações termais) e, ao mesmo tempo, pelas manifestações reflexas destes processos na superfície do planeta (e.g. cadeias de montanhas, falhamentos, vulcanismo, etc.). A geotectônica é uma disciplina integradora que utiliza-se de uma vasta gama de ferramentas geológicas para compreender e explicar os processos planetários e, portanto, ela é, em última instância, uma melange do conhecimento geológico em geral. Para isso, a geotectônica lança mão da petrologia, geoquímica, geocronologia, geofísica, geomagnetismo, estrutural, etc. 1.3 1.3 FERRAMENTAS DO ESTUDO GEOTECTÔNICO 1.3.1 PETROLOGIA 1.3.2 GEOQUÍMICA 1.3.3 GEOCRONOLOGIA 1.3.4 GEOFÍSICA 1.3.5 GEOMAGNETISMO 1.3.6 ESTRUTURAL 2.1 2 FERRAMENTAS DO ESTUDO GEOTECTÔNICO Prof. Dr. Maurício Antônio Carneiro 2.1 GEOCRONOLOGIA Uma datação radiométrica fornece a idade da formação de um determinado sistema isotópico ou da sua rehomogeneização, através da migração de isótopos filhos. Essa idade, na verdade, reflete uma temperatura de imobilização isotópica para um determinado mineral ou rocha. Temperaturas de imobilização podem ser definidas como temperaturas a partir da quais as taxas de difusão de um isótopo filho qualquer, numa rocha ou mineral, muda geologicamente de maneira rápida a imperceptível. A taxa de resfriamento de uma rocha é também um importante fator limitante da temperatura de imobilização. As relações entre as temperaturas de imobilização para diferentes elementos isotópicos é a seguinte: O Argônio é imobilizado abaixo da temperatura do Sr que, por sua vez, é menor que a temperatura do Pb, por exemplo, nos zircões. Assim sendo, diferentes idades em diferentes sistemas rochosos podem fornecer registros diferentes de modo a reconstituir a história termal de uma determinada região. 2.2 2.2 DATAÇÃO DOS EVENTOS MAGMÁTICOS Eventos de cristalização magmática são um dos tipos mais comuns dos processos geológicos e dos mais favoráveis à datação radiométrica. Nesse caso as rochas félsicas, por conterem maior concentração de minerais que alojam elementos radiogênicos filhos, nas suas estruturas cristalinas, respondem mais satisfatoriamente aos métodos radiométricos. É o caso por exemplo dos sistemas Rb-Sr, Pb-Pb, U-Pb. A exceção fica por conta do sistema Sm-Nd que tem preferência por rochas máficas/ultramáficas. A ocorrência de um evento magmático pode estar relacionada a processos tectônicos desenvolvidos em ambientes compressivos ou extensionais, assim como também podem não estar relacionada a nenhum processo de deformação crustal. Portanto, em termos de seu real significado geológico, a interpretação segura de uma idade radiométrica precisa estar calcada num sólido conhecimento geológico da região em estudo. 2.3 DATAÇÃO DE EVENTOS OROGENÉTICOS Orogenia, como evento orogenético, compreende-se um processo de deformação crustal envolvendo importantes fases de dobramentos, ocorridos durante um intervalo de tempo determinado, geralmente acompanhado por magmatismo (plutonismo e vulcanismo) e metamorfismo regional. Regiões que tiveram somente falhamentos são excluídas dessa definição. Nesse caso, os eventosorogenéticos podem ser datados a partir do magmatismo associado (e.g. corpos graníticos sim-deformacionais) ou pelo metamorfismo regional. 2.3 No caso da datação de um evento orogenético os isótopos filhos foram imobilizados após o ultimo pico de intensidade termal. Desse modo, de acordo com as características próprias de cada sistema isotópico, a idade dos sistemas U-Pb e Sm-Nd é concordante, em geral, com a idade máxima do plutonismo. Por outro lado, a idade k-Ar representa registros do soerguimento regional no decorrer dos estágios finais da orogenia. 2.4 MÉTODOS GEOCRONOLÓGICOS, RESULTADOS, ALCANCE E INTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA 2.4.1 ISÓCRONAS SM-ND O método Sm-Nd opera com características similares ao método Rb- Sr. Como os elementos Sm e Nd são do grupo das REE e não sofrem fracionamento para outros, como é o caso do Rb e Sr, o intervalo de variação destes elementos numa isócrona é menor que a razão Rb/Sr. Desse modo, estes elementos são também aplicados para datar processos secundários tais como: alteração e metamorfismo. O método Sm-Nd tem a vantagem sobre o método Rb-Sr, como pode ser visto através da datação de eventos secundários em rochas ígneas. Comparativamente, como a razão Sm-Nd é geralmente mais elevada nas rochas máficas e ultramáficas, que nas rochas félsicas, esse método pode fornecer resultados mais precisos no caso da datação das rochas máficas - ultramáficas. 2.4.2 IDADES PB COMUM Chumbo comum é aquele chumbo que estava presente na rocha quando de sua formação. Aquelas rochas e/ou minerais com baixas razões U/Pb e Th/Pb, onde nenhuma significativa quantidade de Pb radiogênico 2.4 foi acumulada, após a sua cristalização, são usadas pra obter idades Pb comum. Estes minerais ou rochas são aos seguintes: galenas, K- feldspatos e algumas rochas vulcânicas. As idades Pb-Pb são interpretadas de dois modos diferentes: Estão relacionadas à época em que o Pb comum foi separado das fontes mantélicas e colocado por alguma intrusão magmática na crosta; Estão relacionadas ao último evento de interação entre manto e crosta, ocorrido numa determinada região do planeta. 2.4.3 IDADES U-PB 2.4.4 IDADES K-AR 2.4.5 IDADES AR-AR 2.4.6 IDADES RB-SR 3.1 3 ESTRUTURA INTERNA DA TERRA Prof. Dr. Maurício Antônio Carneiro 3.1 A TERRA ACAMADADA Sabe-se, de longa data, que a composição química, mineralógica e petrológica da terra não é homogênea. Por isso, as suas propriedades físicas, tais como a densidade relativa, comportamento reostático e a resistência ao cisalhamento variam de forma descontínua ao longo da espessura do planeta. Essas, e outras características, definem zonas de descontinuidades estruturais que delimitam várias camadas concêntricas em direção ao centro do planeta. Desenho da estrutura interna da terra. Geotectonicamente falando, nos interessa a camada superior da terra chamada de tectosfera que compreende a crosta (litosfera) + parte do manto superior (astenosfera), que se movimentam como uma placa tectônica. A litosfera deforma-se elasticamente sob uma carga vertical e a astenosfera flui de forma a permitir uma compensação isostática. A litosfera reage mecanicamente aos terremotos, de forma rúptil, mas, sob longos períodos de tempo, ela pode ser deformada em regime dúctil. Perfil da litosfera e astenosfera Apesar da familiaridade desse perfil, várias questões ainda são motivo de profundo debate: Critérios distintivos entre a crosta e o manto superior 3.2 Critérios distintivos entre a litosfera e a astenosfera Definição da tectosfera Reologia e propriedades composicionais das camadas internas da terra Variação das propriedades laterais e ao longo do tempo. 3.1.1 A CROSTA TERRESTRE Região acima da descontinuidade de Moho. 10 a 12 km abaixo dos oceanos; 30 – 50 km abaixo dos continentes. Superior – Composição Granodiorítica e diorítica Inferior – Seca – Composição mais ácida que o basalto do tipo granodiorítica a diorítica ou gabronorítica. Úmida – basaltos anfibolitizados A crosta pode ser dividida em: Crosta Oceânica – Varia de 5 a 15 km de espessura e compreende 59% da área total da crosta. Crosta Transicional – Ilhas, arcos de ilhas e margens continentais são exemplos de crosta transicional, que exibem espessura de 15 a 30 km. Crosta Continental – Varia de 30 a 50 km de espessura, alcançando até 80 km em alguns pontos. 3.2 SUBDIVISÃO DA CROSTA 3.3 Um tipo crustal é um segmento que exibe as mesmas características geológicas e geofísicas em toda a sua extensão. Nesse sentido a crosta pode ser adequadamente descrita segundo 12 grandes tipos crustais. Esses 12 tipos são os seguintes: Tipo de rocha Composição mineralógica média (em %) K -f e ld s p a to Q u a rt z o P la g io c lá s io B io ti ta h o rn b le n d a P ir o x ê n io O liv in a G ra n a d a S e rp e n ti n a O u tr o s Granito ± 30 ± 30 ± 25 ± 5 ± 5 ± 5 Basalto (gabro) ± 50 ± 35 ± 5 ± 10 Eclogito ± 45 ± 45 ± 10 Peridotito ± 10 ± 85 ± 5 Serpentinito ± 100 Lherzolito ± 30 ± 60 ± 10 3.3 DIVISÃO ENTRE CROSTA E MANTO O limite entre crosta e manto é a descontinuidade de Mohorovicic qual foi reconhecida em 1910 como um incremento abrupto na velocidade das ondas P, de 6,6 km/s para 8,0 km/s. Esse limite está situado entre 10 3.4 a 12 km abaixo do assoalho dos oceanos e 30 – 40 km abaixo dos continentes e mais profundo abaixo dos cinturões dobrados. Todavia, ele é indistinto em regiões tectonicamente ativas. A descontinuidade de Moho tem, em média, de 0,1 a 0,5 km de espessura. Em alguns ofiolitos, contudo a descontinuidade de Moho é uma linha fina que pode ser traçada como um contato geológico. A descontinuidade de Moho representa uma abrupta mudança na densidade das camadas da terra. Duas explicações podem ser apresentadas para esse fato: Mudança na composição das camadas, passando de gabro para peridotito Mudança de fase (gabro para eclogito ou serpentinito para peridotito) Todavia a hipótese da mudança de fase não funciona porque: Mudanças de fases observadas ocorrem em profundidades maiores do que aquelas observadas para a descontinuidade de Moho; Mudanças de fases ocorrem sob ampla variação de pressão mas a descontinuidade de Moho é zona fina incapaz de influir dramaticamente na variação da pressão; Temperaturas suboceânicas são mais altas que as temperaturas subcontinentais, então a transição deveria ser mais superficial nos crosta continental do que na crosta oceânica o que contradiz a observação porque a descontinuidade de Moho é mais profunda abaixo dos continentes; 3.5 Deveria ocorrer uma fusão total de eclogito para basalto mas as observações sugerem que só ocorre uma fusão parcial. Fusão parcial de peridotito pode produzir basalto. Assim sendo, a hipótese preferida é aquela que acredita ser a descontinuidade de Moho uma mudança composicional de rochas máficas para rochas ultramáficas (gabro – peridotito). Enquanto sismicamente significante, a descontinuidade de Moho não é importante para a gravidade e tectônica. Variação de densidade no manto superior é compensada ate alcançar grandes profundidades. Então o limite inferior da litosfera rígida está no manto e não na descontinuidade de Moho. 3.4 LITOSFERA/ASTENOSFERA/TECTOSFERA A distinção entre litosfera e astenosfera é baseada na reação ao stress e é puramente física. A litosfera se comporta rigidamente numa pequena escala de tempo, enquanto a astenosfera é mole. Contudo, a astenosfera alcança viscosidade durante ajustamento isostático, enquanto o mesmo não ocorre com a litosfera. 3.4.1 TIPOS DE LITOSFERA E RESISTÊNCIA 3.5 SISMOLOGIA DOS TERREMOTOS Através das ondas sísmicas, geradas no decorrer dos terremotos, é possível determinar a estruturainterna da Terra. Isso é feito através da medição do tempo de viagem de uma onda sísmica, desde o seu ponto de origem, até diferentes locais ao redor do globo. 3.6 ELEMENTOS DE UM TERREMOTO 3.6 Origem – monofocus (ou hipocentro) – geralmente localizada a 700 km de profundidade. Epicentro – ponto na superfície situado verticalmente sobre o foco do terremoto. Ângulo epicentral – ângulo entre o centro da Terra, o epicentro e o sismógrafo. Magnitude – energia desprendida e medida em escala logarítmica (Escala Richter). 3.7 MECANISMO DOS TERREMOTOS 4.1 4 ORIGEM DA CROSTA TERRESTRE 4.1 EVOLUÇÃO CRUSTAL HADEANA/ARQUEANA (4,5 - 2,5 GA) 4.1.1 O INSTANTE ZERO A idade do Universo A idade da Terra A radiografia do planeta nos primeiros 50 Ma. A degazeificação do manto 4.1.2 OS PRIMEIROS 500 MA. Os registros crustais mais antigos As primeiras massas continentais: Natureza Dimensões Ambiente Geotectônico 4.1.3 O PERÍODO ENTRE 4,0 E 3,5 GA. As primeiras “crostas” continentais Os mais antigos testemunhos de “crostas” oceânicas A situação da Groenlândia 4.2 O PERÍODO ENTRE 3,5 E 3,0 GA. 4.2 As primeiras sequëncias greenstone mundiais As rochas brasileiras 4.2.1 O PERÍODO ENTRE 3,0 E 2,5 GA. Sequências greenstone generalizadas Grandes episódios de formação de crosta continental O caso do Quadrilátero Ferrífero. 5.1 5 A FORMAÇÂO DAS CROSTAS CONTINENTAIS E OCEÂNICAS DA TERRA Prof. Dr. Maurício Antônio Carneiro 5.1 INTRODUÇÃO O intervalo de tempo decorrido entre 4,5 Ga (época do aparecimento do planeta) até 3,8 Ga (época do dos primeiros registros seguros da existência de crosta continental, como é o caso da região Ishua na Groenlândia) constitui uma grande lacuna nos registros geológicos e substância fértil a grandes especulações. Esse intervalo de tempo (de 4,6 a 3,8 Ga) é chamado de período Hadeano e antecede ao período Arqueano. Quer seja o que tenha ocorrido durante esses 0,7 Ga, que consumiram quase 18% da existência do planeta, nada ou quase nada pôde ser ainda encontrado que venha facilitar a montagem desse cenário especial, que foi a origem e evolução da crosta terrestre nos primórdios da evolução geológica do planeta. Entretanto, especulativos ou não, os hadeanólogos e/ou arqueanólogos já conseguem caracterizar alguns pontos vitais na trajetória deste período. Vários modelos estão disponíveis na literatura para explicar o aparecimento da primeira crosta sólida do planeta. Estes modelos estão filiados a duas principais correntes do pensamento geológico. A primeira corrente, de natureza fixista (e.g. Salop 1983), postula que a crosta já estaria inteiramente formada no princípio da história da Terra e que foi reciclada e retrabalhada a partir de então. A segunda corrente, de natureza mobilista (e.g. Condie 1989), acredita que a crosta, assim como os 5.2 continentes atuais, são os resultados de multi-estágios de geração de rochas a partir da contribuição magmática mantélica. Argumentos favoráveis ou contrários a cada uma dessas linhas de pensamento são encontrados com facilidade. Entretanto, a cada dia, ganha mais força as idéias que advogam algum tipo de “tectônica global” operativa nesse período inicial da evolução geológica Terra. Pôr isso, essas idéias têm direcionado, nas últimas décadas, a pesquisa geológica nesse campo da geotectônica. De qualquer forma, muito ainda existe para ser investigado e os crátons brasileiros, praticamente inexplorados de forma geológica sistemática, podem contribuir, nos próximos anos, com achados significativos para compreensão desse período crucial da história do planeta. Neste capítulo vamos direcionar a discussão em dois aspectos. O primeiro refere-se à natureza dos processos e os tipos petrográficos que ocorreram no intervalo de 4,5 - 3,8 Ga. O segundo aspecto tratará do desenvolvimento da crosta no Arqueano após 3,8 Ga. 5.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TERRENOS ARQUEANOS Para retroceder ao período de 3,8 - 4,5 Ga é necessário revisar algumas das principais características dos terrenos arqueanos (3, 8 – 2,5 Ga), conforme está apresentado em Campbell & Jarvis (1984), que irão subsidiar a discussão subseqüente: 1. Os terrenos arqueanos têm dois principais componentes: rochas da suíte TTG (metamórficas ou não); 5.3 rochas dos cinturões verdes (greenstone belts). Em muitas áreas a suíte TTG é volumetricamente mais importante e em alguns casos, pôr exemplo, na Índia e na Groenlândia, eles são dominantes em termos de área aflorante. 2. A predominância de rochas vulcânicas é, talvez, a mais notável feição dos greenstone arqueanos, especialmente em sua base. Estas rochas são usualmente derrames tholeiíticos ou komatiíticos. Já nas seqüências superiores os komatiítos dão lugar às rochas vulcânicas mais evoluídas (e.g. andesitos, dacitos e riolitos). 3. Sedimentos são componentes raros ou menores na porção inferior dos greenstone e crescem em importância em direção ao topo. Quando presentes os sedimentos são, principalmente, do tipo piroclástico, grauvacas ou argilas imaturas, embora ocorram, em alguns casos, sedimentos maturos. Formações ferríferas bandadas são conhecidas, mas menos abundantes, mais delgadas e menos extensas que suas congêneres no Proterozóico. 4. As rochas da suíte TTG, assim como os greenstones, evoluíram com o tempo. Embora elas exibam uma grande variação de composição e na idade, dois grupos distintos podem ser reconhecidos: granitóides ricos em Na; granitóides ricos em K. 5.4 Os granitóides sódicos estão entre as rochas mais antigas já encontradas nas seqüências granito greenstone, enquanto que os granitóides ricos em potássio podem estar entre os mais jovens, muito embora possam existir mais de uma geração de granitóides. O padrão de REE para os dois tipos de magmas félsicos é também distinto. Os granitóides sódicos são caracterizados pôr um íngreme padrão de REE com anomalia de Eu fraca ou ausente (Figura 1). Os granitóides potássicos são caracterizados pôr padrão regular de REE com anomalias de Eu bem desenvolvidas (Figura 2). Tipos gradacionais são também conhecidos (Condie e Hunter 1976). Quando adjacentes aos greenstones, os granitóides sódicos comumente formam domos concordantes ou invadem somente a parte basal das seqüências (Glickson 1981). Os granitóides potássicos intrudem os greenstones e podem intrudir também os granitóides sódicos. 1. Komatiítos com valores elevados de MgO da ordem de até 32%, apesar de raros, são constituintes importantes de muitas seqüências arqueanas. Eles são mais comuns nas bases dos greenstones embora possam ocorrer nas porções mais elevadas. O fim do Arqueano parece ser marcado pôr um decréscimo no conteúdo de MgO dos magmas. Komatiítos do Proterozóico apresentam 19% de MgO e algumas lavas modernas podem alcançar até 22% de MgO. 2. Os granitóides sódicos do Arqueano fornecem razões Sr87/Sr86 próximas à curva de evolução do manto (Moorbath 1975, 1977). O mesmo não ocorre com os granitóides potássicos que mostram 5.5 uma variação de razões que muitas vezes caem acima dos valores do manto. 3. A distribuição areal dos terrenos arqueanos decresce com o incremento da idade. As mais antigas rochas arqueanas, preservadas até hoje, ocupam pequenas áreas. 4. Modelos de reciclagem sedimentar (Veizer & Jansen 1979) sugerem que o Neoarqueano (3,0 - 2,5 Ga) e o Paleoproterozóico (2,5 - 2,0 Ga) foram períodos de rápida evolução crustal (Figuras 3 e 4). Os principais processos de formação de rocha durante o Paleoproterozóico foram de natureza sedimentar, mas durante o Arqueano o processo ígneo foi predominante. Portanto, durante o Neoarqueano, as taxas de separação crosta estável-manto foram as mais altas de toda história da evolução da Terra. 5. A geoquímica dos sedimentos, como ilustrada pôrrelações entre K2O/Na2O, REE, Eu/Eu, U, Th ou Sr 87/Sr86 contra o tempo (Figura 4), mostra pequena ou nenhuma mudança através do Arqueano, mas uma grande mudança pôr volta de 2,5 Ga. 6. É possível que o gradiente geotermal arqueano tenha sido maior que o gradiente atual. Mas estimativas de pressão-temperatura, baseadas em paragêneses metamórficas, sugerem que esta diferença não foi assim tão significativa (Bricke 1978, Burke & Kidd 1978). 7. Uma das mais notáveis feições do desenvolvimento crustal é a natureza diácrona dos processos de formação da crosta. Embora a evolução de crosta arqueana siga uma seqüência bem definida 5.6 de eventos, esses eventos ocorreram em diferentes tempos, em diferentes lugares da Terra. O desenvolvimento de greenstones, pôr exemplo, começou em 3,6 Ga no Bloco de Pilbara (Hamilton et al. 1981) e Cráton do Kaapvall (Hamilton et al. 1979), mas não começou antes de 2,9 Ga em muitos lugares da Província Superior Canadense e na parte Ocidental do Bloco de Yilgarn na Austrália, assim como no Cráton São Francisco no Brasil. As rochas félsicas mostram desenvolvimento diácrono similar. No Cráton da Zimbabwe os granitóides sódicos formaram-se pôr volta de 3,6 Ga. Os mais antigos granitóides potássicos datam de 3,35 Ga (Wilson et al. 1978). Mas a maior parte dos granitóides potássicos apresenta idades entre 2,6 e 2,7 Ga. Essas características acima relatadas, na opinião de Kröner (1985), indicam que todos os terrenos arqueanos consistem de variados fragmentos de greenstone belts, granitóides intrusivos e uma grande variedade de gnaisses cinzas bandados, de médio a alto grau. Esses gnaisses, freqüentemente, contêm restos de metassedimentos e/ou de greenstones e são tão velhos ou pelo menos formados contemporaneamente aos próprios greenstones belts adjacentes. Os granitóides, mais importantes volumetricamente, são do tipo tonalitos, trondhjemitos e granodioritos (suíte TTG de Jahn et al. 1981) e seus equivalentes deformados. Portanto, de algum modo, estes tipos petrográficos do Arqueano devem ter alguma relação de causa e efeito com a natureza e a composição da crosta primitiva da Terra. 5.7 5.3 COMPOSIÇÃO E ORIGEM DA CROSTA PRIMITIVA HADEANA Numerosas composições e origem têm sido sugeridas para a crosta primitiva hadeana da Terra. Em parte, o responsável pôr tantas opiniões divergentes tem sido as diferentes maneiras de encarar esse problema. A maneira mais direta seria encontrar e descrever um relícto dessa crosta primitiva. Embora alguns arqueanólogos não tenham abandonado este propósito, as chances de um remanescente desses ser encontrado são muito pequenas. Outra maneira é deduzir a composição da crosta primitiva a partir de estudos da crosta arqueana, relatada nos itens anteriores. Contudo, a composição e a relação de campo de rochas crustais do Arqueano podem não ser representativas da crosta primitiva do Hadeano. De qualquer forma, seguem-se algumas propostas acerca da origem e composição da crosta primitiva hadeana. 5.3.1 TEORIAS ACERCA DA ORIGEM DA CROSTA PRIMITIVA HADEANA Os mais antigos fragmentos de crosta continental têm idades de 3,8 - 3,9 Ga e são constituídos essencialmente pôr gnaisses tonalíticos. Estes gnaisses contêm, pôr sua vez, fragmentos de komatiítos e basaltos anfibolitizados. Alguns desses encraves poderiam ser remanescentes de uma antiga crosta oceânica. Teorias para explicar a origem da crosta terrestre enquadram-se em três categorias (Condie 1989): Acresção inhomogênea, Modelos de impacto e Modelos terrestres. 5.3.1.1 Acresção inhomogênea No modelo de acresção inhomogênea, os últimos compostos condensados a partir da nebulosa solar produziriam uma fina carapaça rica 5.8 em álcalis e elementos voláteis na superfície do planeta que poderia originar ou evoluir para a primeira crosta terrestre. O maior problema deste modelo é que muitos elementos não voláteis (e.g. U, Th e REE), que estariam concentrados no núcleo e no manto inferior, numa Terra inhomogeneamente acrescida, estão hoje concentrados na crosta. Seria necessário, portanto, uma transferência magmática do interior da Terra para produzir uma crosta de origem magmática. 5.3.1.2 Modelos de impacto Os modelos que têm sido propostos, para a origem da crosta hadeana envolvendo direta ou indiretamente o impacto de objetos, incluem desde a chuva de asteróides graníticos, que evoluiriam para continentes, até os grandes impactos na superfície do planeta, que levariam a consideráveis graus de fusão parcial no interior da Terra. O extravasamento e a conseqüente cristalização deste magma produziriam as primeiras crostas máficas (oceânica) ou graníticas (continental). Se os magmas primitivos ou a sua diferenciação levou a formação de fundidos félsicos, os núcleos continentais formaram-se ou cresceram-se pôr adição magmática advinda do interior do planeta. Pôr outro lado, se as crateras, provenientes dos impactos, fossem preenchidas com basaltos ter-se-iam, assim, formado as primeiras crostas oceânicas do Hadeano (Figura 5). 5.3.1.3 Modelos terrestres Os modelos terrestres, processos assim chamados pôr operarem no interior da Terra, têm tido mais sucesso na explicação da origem da crosta terrestre hadeana. O fato das texturas e relações geoquímicas indicarem que a crosta lunar primitiva, que tem 4,5 Ga, é produto de processos magmáticos, favorece uma origem similar para a crosta terrestre de 5.9 mesma idade. É provável que quantidades suficientes de calor tenham sido retidas na Terra, durante ou após os estágios de acresção da matéria cósmica e, assim, o manto superior primitivo estaria, parcial ou inteiramente, líquido. A fusão completa do manto superior poderia resultar num contínuo oceano de magma na superfície da Terra que, começando a resfriar diferencialmente em pontos distintos de sua superfície, produziria uma miríade de pequenos núcleos de crosta oceânica primitiva hadeana. Não é possível saber se uma tectônica global já operava nesta época. Contudo, algum mecanismo de criação de placas e reciclagem de material teve lugar para acomodar as grandes quantidades de calor e as vigorosas correntes de convecção existentes no manto. Em contraposição a esse modelo, na ausência de um oceano de magma líquido na superfície da Terra é forçoso admitir a existência de uma páleo superfície no planeta, de natureza desconhecida, porque dela não existem relíctos. Nesse modelo, a fusão do manto superior poderia produzir grandes quantidades de magma, alguns dos quais poderiam caminhar até essa páleo superfície e formar a crosta primitiva hadeana. Entretanto, esse modelo parece menos plausível do que a existência de um oceano de magma como proposto pôr Condie (1989). 5.3.1.3.1 O POSSÍVEL OCEANO DE MAGMA A existência de um oceano de magma, nos primórdios da evolução da Terra, pode ser sugerida com base na grande quantidade de calor inicialmente disponível. A profundidade estimada para esse oceano poderia variar entre 100 e 1000 Km e sua composição de natureza ultramáfica (Otani 1985). A cristalização do magma teria início na superfície do oceano e com a rápida perda de calor, em virtude das 5.10 vigorosas correntes de convecção existentes, essa cristalização aconteceria num tempo relativamente curto da ordem de 100 Ma ou menos. Se existiu um oceano de magma na Terra, a crosta primitiva hadeana, provavelmente, formou-se na sua superfície. Tal crosta poderia ser komatiítica, na sua composição, e, pôr causa de sua alta densidade, estaria sujeita a uma rápida dispersão, subducção e reciclagem nas porções mais interiores do oceano magmático (páleo manto hadeano), seja pôr convecção no interior do oceano e/ou pôr impacto de objetos extraterrestres na superfície semi cristalizada do planeta. 5.3.1.4 Modelos Félsicos Alguns modelos atribuídos à formação de uma crostahadeana primitiva, de natureza félsica ou andesítica, fiam-se na suposição de que baixos graus de fusão parcial no manto seriam alcançados antes de altos graus de fusão e, portanto, os magmas félsicos poderiam ser formados antes dos máficos. Contudo, o alto calor gerado no Hadeano produziria altos graus de fusão do manto superior sendo improvável que os líquidos félsicos tenham se formado diretamente. Uma crosta félsica ou andesítica, contudo, poderia ser produzida pôr cristalização fracionada de magmas basálticos. Entretanto, se alguma crosta primitiva foi produzida dessa maneira, porque seus segmentos não estão preservados até hoje? Pois, em virtude de sua baixa densidade ela não seria destruída pôr mecanismos usuais de subducção de placas siálicas. 5.3.1.5 Modelo Anortosítico Estudos na superfície da Lua indicam que as rochas mais antigas são anortositos gabróides e basaltos de alta alumina (Taylor 1982). Estas rochas são remanescentes de uma crosta lunar formada entre 4,4 - 4,5 5.11 Ga. Aquecimentos catastróficos levaram à fusão do interior da lua e a produção de volumosos magmas basálticos acumulou-se em oceanos de magma, sendo a crosta lunar formada pôr cristalização fracionada deste oceano. Na Terra, entretanto, o incremento do gradiente de pressão limita a estabilidade do plagioclásio para profundidades consideravelmente mais superficiais ( 35 Km) que na lua. Portanto, se o modelo lunar é aplicado a Terra, a fração anortosítica, quer como cristais em flutuação ou como magma, precisa encontrar um modo de ser estável a pequenas profundidades. O problema mais sério com o modelo anortosítico é relativo à natureza quase aquosa da Terra. Plagioclásios flutuariam rapidamente no oceano magmático “anidro”. Mas pequenas quantidades de água no sistema causariam sua submersão. Portanto, no sistema terrestre, onde a água era, provavelmente, mais abundante no seu manto primitivo do que no manto primitivo lunar, não seria possível a formação desta escuma primordial ou de um oceano magmático anortosítico. 5.3.1.6 Modelo Basáltico-komatiítico Em termos do conhecimento da história termal da Terra primitiva e a partir de dados geoquímicos e experimentais relativos à produção de magma, parece que a crosta terrestre primitiva era realmente komatiítica ou basáltica. Se existiu um oceano magmático, seu resfriamento produziu uma crosta komatiítica. Sem um oceano magmático (ou após a sua solidificação) basaltos também poderiam ter constituído parte importante da crosta primitiva. A importância destes dois tipos de rochas nos greenstone arqueanos atesta sua provável importância na superfície da Terra durante os estágios iniciais de sua evolução. 5.4 A CROSTA OCEÂNICA PRIMITIVA HADEANA 5.12 Dados isotópicos de Xe (Staudacher & Allegre 1982) parecem indicar que a Terra foi rapidamente degaseificada nos primeiros 50 Ma após sua acresção da nebulosa solar. Desta forma um oceano primordial poderia aparecer muito cedo na história da Terra. A crosta abaixo deste oceano primitivo poderia ter sido formada durante os estágios de acresção e foi gerada provavelmente ao longo de cristas oceânicas. Devido a grande quantidade de calor no manto superior Hadeano, a crosta oceânica poderia ser produzida de 4 a 6 vezes mais rápida que no presente. Pôr outro lado, se esse excesso de calor foi perdido principalmente num tempo maior pôr sistema de cristas do que pôr um rápido desenvolvimento do assoalho oceânico, então as taxas de produção crustal poderiam ser comparáveis aos dias de hoje. De qualquer forma, a litosfera oceânica e a crosta poderiam ser recicladas no manto pôr processos de subducção. Essa subducção pode ter tido diferentes geometrias das subducções atuais. Impactos de objetos na superfície do planeta, e que foram muito importantes até 3,9 Ga, podem ter contribuído para a reciclagem das microplacas hadeanas (Figura 6). O principal fator de controle da espessura da crosta oceânica é a temperatura do manto superior abaixo da crosta oceânica. A elevação da temperatura aumenta o grau de fusão e o tamanho da região que é fundida (Sleep & Windley 1980, Campbell & Jarvis 1984). Para um dado volume de manto, altos graus de fusão resultam em mais magma para extrusão e espessamento da crosta oceânica primitiva. Fundindo, pôr outro lado, uma grande parte do manto, ocorreria o mesmo efeito e, portanto, as altas temperaturas do manto durante o Hadeano podem ter propiciado uma a crosta oceânica mais espessa. Se as rochas komatiíticas foram importantes na crosta oceânica primitiva hadeana, elas foram responsáveis 5.13 pelo início da subducção, pôr causa de sua maior densidade (3,3 g/cm) em relação ao manto fundido (3,2 g/cm). Portanto, os komatiítos podem ter sido a força motriz para a investida das primeiras placas tectônicas na Terra. 5.5 A CROSTA CONTINENTAL PRIMITIVA HADEANA A Terra pode ser o único planeta com crosta continental. Se for assim, qual seria o(s) fator (es) condicionantes que deram origem aos continentes? Dois fatores são imediatamente destacados (Condie 1989): A Terra é o único planeta com considerável quantidade de água. A Terra poderia ser o único planeta onde as placas tectônicas têm operado desde o inicio da evolução crustal do planeta Os mais antigos fragmentos de crosta continental preservados (3,5 - 3,9 Ga) ocorrem como pequenas províncias crustais. Estas províncias têm geralmente menos que 500 Km de extensão como acontece, pôr exemplo, nos terrenos SW da Groenlândia, na região de Ishua. Estes terrenos são constituídos de gnaisses félsicos (tonalitos e granodioritos) e contém remanescentes de rochas supracrustais representando, em última análise, dois cenários tectônicos distintos: magmatismo e sedimentação. Essa antiga crosta continental tem idade da ordem de 3,8 - 3,9 Ga. Entretanto, zircões detríticos, encontrados em sedimentos arqueanos da Austrália, dão idade U-Pb da ordem de 4,0 - 4,2 Ga (Froude et al. 1983), sugerindo, portanto, existência de crostas continentais mais antigas que aquelas da Groenlândia que, no entanto, não foram preservadas como tal. Se esses zircões vêm de rochas graníticas, o que parece ser mais provável, pelo 5.14 menos algumas pequenas ilhas de crosta continental hadeana já estavam presentes a mais de 4,0 Ga atrás na superfície semi (?) cristalizada do planeta. Uma importante implicação na origem desses continentes arqueanos é a composição dos tonalitos e granodioritos. Estas rochas são similares aos tipos pós-arqueanos em termos da distribuição dos elementos incompatíveis. Dados experimentais favorecem uma origem para estas rochas a partir da fusão parcial de anfibolito ou eclogito em fatias descendentes no manto na presença de quantidades significativas de água. Pôr outro lado, magmas félsicos pós-arqueanos parecem ser produtos de cristalização fracionada de basaltos sobre condições relativamente secas. A produção de grandes quantidades de crosta continental arqueana requer subducção de grandes quantidades de basaltos hidratados ou komatiítos e, consequentemente, grandes quantidades de água. Portanto, com a possível exceção de Vênus, a ausência de crosta continental em outros planetas pode refletir uma quantidade insuficiente de água e a ausência de mecanismos semelhantes à tectônica de placas. É provável que os magmas precursores da crosta continental hadeana e, pôr conseguinte, os primeiro núcleos continentais, tenham sido produzidos ambientes colisionais, onde as fatias descendentes de crosta máfica ou komatiítica hadeana hidratadas, ao atingir o manto, sob condições locais de temperaturas mais baixas, propiciaram pequenos graus de fusão mantélica gerando pequenos volumes de fundidos félsicos. Em alguns casos, esses magmas foram colocados abaixo de sistemas de arcos máficos e ultramáficos, alguns dos quais estão preservadosaté hoje como greenstone belts (Figura 7). 5.15 Granitos s.s. só vão aparecer após 3,0 Ga e terão muita importância até 2,6 Ga. Dados geoquímicos e experimentais sugerem que esses granitos foram produzidos pôr fusão parcial ou cristalização fracionada de tonalitos (Campbell & Jarvis 1984, Condie 1986a). 5.6 CONCLUSÃO A origem da crosta terrestre hadeana está relacionada à origem de quatro tipos de rochas mais comuns no Arqueano: komatiítos, basaltos, tonalitos e granitos, assim listados, na ordem de seu aparecimento nos registros geológicos. Komatiítos arqueanos primitivos e basaltos podem ser produzidos em cristas oceânicas e basaltos em zonas de subducção. Estas rochas sendo hidratadas pôr reação com a água do mar, e colocadas em contato com o manto resfriado abaixo da zona de subducção, seriam, então, parcialmente fundidas e produziriam tonalitos os quais pôr seu turno sendo parcialmente fundidos e/ou suportando cristalização fracionada produziriam os granitos s.s. 5.7 BIBLIOGRAFIA Burke, K. & Kidd, W.S.F. 1978. Were Archean continental geothermal gradients much steeper than those of today? Nature, 272: 240-241. Bickle, M.J. 1978. Heat loss from the Earth: a constraint on Archean tectonics from the relation between geothermal gradients and the rate of plate production. Earth Planet. Sci. Lett., 40: 301-315. Campbell, I.H. & Jarvis, G.T. 1984. Mantle convection and early crustal evolution. Precambrian Res., 26: 15-56. Condie, K.C. 1986. Origin and early growth rate of continents. Precambrian Res., 32: 261-278. Condie, K.C. 1989. Origin of the earths crust. Palaeogr., Palaeoclimatol., Palaeoecol. (Global Planet. Change Sect.), 75: 57-81. 5.16 Condie, K.C. & Hunter, D.R. 1976. Trace element geochemistry of Archean granitic rocks from the Barbeton region, South Africa. Earth Planet. Sci. Lett., 29: 389-400. Froude, D.0., Ireland, T.R., Kinny, P.D., Williams, I.S., Compston, W. 1983. Ion microprobe identification of 4,100-4,200 Myr-old terrestrial zircons. Nature, 304: 616-618. Glickson, A.Y. 1981. Uniformitarian assumptions, plate tectonics and the Precambrian Earth. In: A. Kroner (Editor), Precambrian Plate Tectonics. Elsevier, Amsterdam, pp. 161-138. Hamilton, P.J., Evensen, N.M., O’Nions, R.K., Smith, H.S., Erlank, A.J. 1979. Sm-Nd dating of onverwacht Group volcanics, South Africa. Nature, 279: 298-300. Hamilton, P.J., Evensen, N.M., O’Nions, R.K., Glickson, A.Y., Hickman, A.H. 1981. Sm-Nd dating of the North Star Basalt, Warrawoona Group, Pilbara Block, Western Australia. In: J.E. Glover & D.I. Groves (Editors), Archean Geology: Second International Symposium, Perth, 1980. Spec. Publ. Geol. Soc. Aust., 7: 187-192. Jahn, B.M., Glickson, A.Y., Peucat, J.J., Hickman, A.H. 1981. REE geochemistry and isotopic data of Archean silic volcanics and granitoids from the Pilbara Block, Western Australia: implications for the early crustal evolution. Geochim. Cosmochim. Acta, 45: 1633-1652. 6.1 6 EVOLUÇÃO CRUSTAL NO PROTEROZÓICO Prof. Dr. Maurício Antônio Carneiro 6.1 ORIGEM DAS PROVÍNCIAS CRUSTAIS PROTEROZÓICAS Os cinturões móveis do Proterozóico, as províncias crustais proterozóicas, foram gerados segundo dois tipos de evolução e ambiente tectônico: Evolução ensiálica – sem envolvimento de abertura e fechamento de bacias oceânicas; Evolução ensimáica – com abertura e fechamento de bacias oceânicas. O Ciclo de Wilson completo aparece a partir de 1.0 Ga. 6.2 ASSOCIAÇÕES ROCHOSAS DO PROTEROZÓICO 6.2.1 SEQÜÊNCIAS SUPRACRUSTAIS DO PROTEROZÓICO 6.2 ASSOCIAÇÃO AMBIENTE Quartzito-carbonato-folhelho E n s iá lic o Vulcânicas-arcósios quartzosos Vulcânicas cálcio-alcalinas-grauvacas Ofiolitos-sedimentos de mar profundo Ensimáico 6.2.1.1 Associação Quartzito-carbonato-folhelho Características gerais: Compreende acima de 60% das unidades proterozóicas; Predominância de quartzitos e folhelhos recristalizados pra filitos; Dolomitos com estromatolitos; Arcósios, conglomerados, tilitos e chert são sedimentos subordinados; Rochas vulcânicas são representadas por basaltos tholeiíticos com alcalinas subordinadas numa associação bimodal onde os termos intermediários são raros ou ausentes; 6.3 Variação de fácies lateral indicando diferentes formas e direções de fonte sedimentar para as bacias. 6.2.1.2 Vulcânicas-arcósios quartzosos Compreende 20 % das seqüências do Proterozóico; As rochas vulcânicas são tipicamente uma associação bimodal com basaltos e riolitos; Os basaltos são tipicamente bimodais e ocorrem em derrames subaéreos ou subaquosos; Tufos vulcânicos podem ser comuns; Os sedimentos são tipicamente imaturos do tipo arcóseos, quartzito feldspático e conglomerados; Localmente, filitos, quartzitos maturos e formações ferríferas bandadas podem ser importantes; Red beds, indicativos de uma atmosfera oxidante são encontrados nessa associação. 6.2.1.3 Associação Vulcânica Cálcio-Alcalina-Grauvacas Predominância de vulcânicas cálcio-alcalinas e basaltos; Andesitos e dacitos são comuns; Abundância de pillow lavas; 6.4 Variáveis quantidades de grauvacas associadas com argilito exibindo acamamento gradacional e outras estruturas sugestivas de uma origem turbidítica; Sedimentos subordinados incluem conglomerados, quartzitos, chert, formação ferrífera, folhelhos e carbonatos Obs. Essa associação é semelhante aos greenstones arqueanos. No entanto: 1. Carecem de Komatiítos; 2. São mais abundantes em vulcanoclásticas; 3. As grauvacas são volumetricamente mais importantes nas seqüências proterozóicas; 4. Chert e bifs são menos comuns nas seqüências proterozóicas. 6.2.1.3.1 ASSOCIAÇÃO OFIOLITOS - SEDIMENTOS DE MAR PROFUNDO Aparecem em terrenos com idade entre 1.0 – 0.5 Ga; Os ambientes tectônicos são aqueles do tipo arco oceânico imaturo ou crosta oceânica de backarc; Ocorrências têm sido reportadas a partir da Arábia, cinturões Pan-Africanos (África) e terrenos da Terra Nova (Canadá). 6.5 6.2.2 A QUESTÃO DO QUARTZO DETRÍTICO Os quartzitos são, volumetricamente, as rochas mais importantes das seqüências proterozóicas. 6.2.3 QUAL TERIA SIDO A FONTE DESSE QUARTZO? 6.6 6.3 AMBIENTES TECTÔNICOS DAS SEQÜÊNCIAS DO PROTEROZÓICO ASSOCIAÇÕES AMBIENTE A s s o c ia ç ã o 1 Bacia de back arc de margem cratônica Bacia intracratônica Rift de margens continentais A s s o c ia ç ã o 2 Rifts litosféricos re-ativados Rifts cratônicos / aulacógenos A s s o c ia ç ã o 3 Bacia de back arc Bacia de intra arc Bacia de forearc Rift de margens continentais 6.3.1 ROCHAS INTRUSIVAS DO PROTEROZÓICO 6.3.1.1 Granitóides Corpos intrusivos, de composição granítica, quartzo-monzonítica ou monzonito/sienito, são unidades freqüentes nos cinturões móveis do Proterozóico ou em complexos gnáissicos mais antigos. 6.7 6.3.1.2 Anortositos Corpos anortosíticos, freqüentemente associados a granito com textura rapakivi ou sienitos são intrusões freqüentes nos cinturões proterozóicos da América do Norte e Europa. A grande freqüência de intrusões cai na faixa de tempo entre 1.5 – 1.4 Ga.(América) e 1.9 – 1.7 Ga (Groenlândia e Europa). 6.3.1.3 Complexos Estratiformes Complexos intrusivos acamadados de grandes dimensões (e.g. Bushveld – África do Sul) apresentam acamamento composicional ígneo e texturas cumuláticas com mineralizações de Cr, Ni, Cu e Fe e/ou Pt, como é o caso de Bushveld. 6.3.1.4 Sistemas de diques máficos São comuns nos terrenos proterozóicos e podem cobrir áreas da ordem 3000 por 500 km, indicando disseminados ambientes extensionais durante o Mesoproterozóico. Citam-se, nesse caso, os sistemas de diques do Canadá. 6.3.2 ESTRUTURAS E METAMORFISMO 6.3.2.1 Características Gerais Os terrenos do Proterozóico apresentam padrão estrutural complexo,polifásico, refletindo, principalmente, sistemas compressivos; Reativação pronunciada de complexos metamórficos arqueanos; 6.8 Grau metamórfico diverso, alcançando fácies anfibolito ou granulito; Ocorrência restrita de litotipos com metamorfismo de fácies xisto azul (pressão alta). 6.3.3 EVIDÊNCIAS DE MARGENS CONVERGENTES NO PROTEROZÓICO. Diversas regiões do planeta apresentam evidências de margens convergentes no Paleoproterozóico. A mais importante é a Província Bear no Canadá, com evidências de uma bacia de backarc de idade 2.1 Ga. No caso do Mesoproterozóico citam-se a região ocidental do USA e a Escandinávia. 6.3.4 EVIDÊNCIAS DE SISTEMA DE RIFT NO PROTEROZÓICO Sistema Ungava no Canadá 6.3.5 EVIDÊNCIA DE CICLO WILSON NO PROTEROZÓICO Cinturões Pan – Africanos 7.1 7 PROVÍNCIAS CRUSTAIS Prof. Dr. Maurício Antônio Carneiro 7.1 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO Província crustal é um segmento de crosta continental cujas rochas são caracterizadas por um determinado estilo de deformação que apresenta, por sua vez, uma série de registros radiométricos similares. As províncias crustais podem ser enquadradas em duas categorias: Províncias Orogênicas Províncias Anorogênicas Uma província orogênica registra uma complexa história deformacional polifásica, magmática e metamórfica. Províncias orogênicas podem ser subdivididas em subprovíncias, as quais apresentam estilos estruturais e metamórficos semelhantes. Algumas destas subprovíncias podem ser designadas de mobile belts (cinturões móveis), que são subprovíncias lineares ou curvilineares, variando de dezenas a centenas de km de largura a vários milhares de km de comprimento. Numa província crustal, os cinturões móveis podem ter contatos bem definidos, um com outro, ou indefinidos simulando uma interação mútua. Já uma província anorogênica compreende seqüências de rochas sedimentares ou ígneas e tem somente falhas extensionais e ligeiros arqueamentos. Essas províncias podem ser submetidas a um processo 7.2 orogenético e, após serem deformadas, metamorfisadas e magmatisadas, converterem-se numa província orogênica. 7.2 OROGÊNESE Quais seriam as causas da periodicidade dos eventos orogenéticos e, ao mesmo tempo, a distribuição de cada um deles? Para responder essa questão é necessário observar os seguintes fatos: 1. Alguns dados indicam que as orogenias do Arqueano diferem das orogenias do Proterozóico e Fanerozóico. 2. No Arqueano um grande volume de rochas granitóides envolve as seqüências greenstone belts. 3. Tal magmatismo, por sua vez, não ocorre no Fanerozóico e pode estar ausente em algumas situações do Proterozóico. 4. Qual seria o tempo de duração de uma orogenia ou episódio orogenético? 5. Na definição de ventos orogenéticos nem sempre tem sido usado um mesmo tipo de determinação radiométrica. Isto pode causar profundas variações de idades porque os vários métodos disponíveis têm respostas isotópicas diferentes. 6. As orogêneses só podem ser bem datadas radiometricamente, se tiverem magmatismo associado e, por outro lado, se esse magmatismo estiver claramente relacionado no campo, com a seqüência orogenética em consideração. 7.3 7. Os resultados radiométricos do Pré-Cambriano têm mostrado uma larga variação temporal de idade para os eventos orogenéticos da ordem de 200 – 100 Ma. Por outro lado, no período entre 400 – 300 Ma inúmeras orogenias tiveram lugar em todos os continentes. Assim sendo, é possível que a mesma situação tenha ocorrido nas épocas mais remotas da evolução tectônica do planeta. Desse modo, é mais adequado pensar em períodos orogenéticos como sendo o tempo de ocorrência de várias orogenias em separado. 7.2.1 PERÍODOS OROGENÉTICOS A Figura 5.15 mostra a freqüência dos períodos orogenéticos a nível mundial. O mais antigo evento orogenético reconhecido está registrado no sudoeste da Groenlândia, Escudo Báltico e África do Sul e teve lugar entre 3.8 – 3.7 Ga. O primeiro e mais significativo período de deformação e plutonismo granítico ocorreu entre 3.0 – 2,8 Ga. Essa granitogênese foi seguida por um vulcanismo do tipo greenstone, deformação e colocação de grandes volumes de tonalito na crosta, entre 2.7 – 2.6 Ga. A partir disto, então, observa-se que existe um considerável intervalo de tempo entre os períodos orogenéticos do Neoarqueano (2.7 Ga) e aqueles do Mesoproterozóico (1.8 Ga). No Mesoproterozóico um ou dois períodos orogenéticos podem ter tido lugar. 7.2.2 CAUSAS DOS PERÍODOS OROGENÉTICOS Quatro categorias de causas tem sido propostas para explicar a periodicidade dos eventos orogenéticos. São essas: 7.4 Mudanças no poder de convecção da Terra em relação ao tempo; Mudanças seculares no eixo de rotação da Terra; Variações episódicas no manto causadas por movimentos das marés; Magmatismo episódico e deformação relacionada à tectônica global. 7.2.3 PROVÍNCIAS OROGÊNICAS ARQUEANAS As províncias orogênicas arqueanas são aquelas que apresentam idades entre 3.8 a 2.5 Ga e, de maneira geral, são de dimensões bem reduzidas, da ordem de 2000 Km de dimensão máxima. Rochas com idades acima de 3.8 Ga, apesar de raras, são encontradas em alguns locais (e.g. Austrália, Canadá). A maior província arqueana do mundo é a Província Superior no Canadá. Além dessa, a América do Norte tem ainda mais quatro províncias arqueanas, incluindo a Groenlândia. São elas: Slave, Godthaab, Nain e Wyoming. As outras províncias arqueanas estão distribuídas da seguinte forma: REGIÃO NÚMERO DE PROVÍNCIAS (DESIGNAÇÃO) África 8 (....) 7.5 América do Sul 4 (Cráton Amazônico, São Francisco, Rio de la Plata, São Luiz). Austrália 3 (Yilgarn, Eurásia 7 (.....) Antártida 1 (...) Todavia, a extensão territorial dessas províncias arqueanas deve ter sido maior no passado. Isso porque, é comum encontrar fragmentos rochosos do Arqueano no interior das massas crustais do Proterozóico, como é o caso do nordeste brasileiro. No caso norte americano, por exemplo, os dados sugerem que as cinco províncias arqueanas podem ter sido originalmente partes de uma mesma província crustal, que era bem maior, e que teria sofrido um intenso retrabalhamento crustal, no decorrer da orogenia 1.9 – 1.8 Ga. 7.2.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVÍNCIAS OROGENÉTICAS ARQUEANAS Os províncias orogenéticas arqueanas podem ser classificadas segundo dois tipos principais: Cinturões metamórficos de alto grau com metamorfismo das fácies anfibolito a granulito (ou terrenos de alto grau – High Grade Terranes); 7.6 Cinturões de rochas verdes bem preservados (greenstone belts) com metamorfismo de baixo grau (ou terrenos baixo grau – Low Grade Terranes). Em alguns locais, a evidências de campo mostram que os cinturões metamorficos de alto grau e, principalmente, os granitóides diapíricos, são intrusivos nas seqüências greenstone belts. Em outros locais, contudo, as evidências de campo indicam que as rochas vulcânicas foram depositadas sobre um embasamento siálico. De qualquer modo, as relações gerais entre essas duas entidades arqueanas é muito confusa e, muitas vezes, prejudicada pelo subparalelismo entre a gnaissificação do complexo metamórfico e a xistosidade da seqüência greenstone belt. Como essas relações são, particularmente, difíceis de serem elucidadas, somente as determinações geocronológicas, com metodologias mais precisas, do tipo U-Pb, podem auxiliar no estabelecimento da seqüência de eventos tectônicos responsáveis pela formação destes terrenos. 7.2.4.1 Cinturões metamórficos de alto grau (High Grade Terranes) Esse tipo de província orogenética arqueana é dominado por cinturões metamórficos constituídos, predominantemente, por rochas gnáissicas de fácies anfibolito a granulito, com restos de seqüências supracrustais (hoje transformados para metaultramáficas,
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