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METABOLISMO LIPÍDICO Os lipídios são compostos químicos energéticos obtidos por meio de alimentação (SBC, 2017). São substâncias orgânicas insolúveis em água, mas solúveis em solventes apolares (MOTTA, 2009). Segundo esse autor, os lipídeos atuam como hormônios, combustível metabólico, conservante de calor, componentes estruturais e funcionais das membranas, e isolantes (bainha de mielina e células de Schwann) em axônios de neurônios permitindo a condução elétrica. Apenas 25% do colesterol plasmático são originários da alimentação. A grande maioria é sintetizado (1g/d) pelo fígado a partir da acetil CoA. Sendo que o colesterol plasmático pode estar na forma livre (30%) como esterificado (70%) (MOTTA, 2009). Os lipídios podem ser classificados com: colesterol, triglicerídeos, fosfolipídeos e outros. O colesterol é o precursor dos hormônios esteroides, de ácidos biliares e da vitamina D. Por sua vez, os triglicerídeos são formados a partir do glicogênio quando há excesso de carboidratos sendo depositados nos tecidos adiposos e muscular. E por último, os fosfolípideos formam a estrutura básica das membranas celulares (SBC, 2017). As lipoproteínas transportam lipídios apolares em seu núcleo e são constituídos pelos elementos representados na Figura 1. 2 Figura 1: Lipoproteína. Fração protéica. Fração lipídica [colesterol livre e esterificado (CE), triglicerídios e fosfolípideos] Fonte: Santiago (2011) Fração protéica As apoproteinas conferem estabilidade estrutural e atuam como ligantes em interações lipoproteína-receptores (SANTIAGO, 2011). Apolipoproteínas, componentes protéicos das lipopproteínas (ver Figura 1), estão envolvidas no transporte de lipídios no plasma e sua captação pelos tecidos. Os grupos mais importantes são (MALLOY & KANE, 2014; MOTTA, 2009): Apo A – sintetizada no fígado e intestino, presente nos quilomícrons, mas é rapidamente transferida para o HDL. Apo A-I presente nas HDLs, no entanto, a redução de Apo A-I é indicativo de risco cardiovascular; Apo B - presente no plasma nas seguintes formas: Apo100 e Apo48. A Apo100 está nas LDLs, nos quilomícrons e VLDLs, é reconhecida por receptores periféricos. Apo48 está presente nos quilomicrons; Apo C – apresenta 3 protéinas: Apo C-I, Apo C-II e apo C-III; são incorporadas pelos HDLs; 3 Apo E – incorporada ao HDL e tranferida para os quilomícrons e VLDL; Lipoproteína (a) Lp(a) - formada a partir do LDL e da proteína(a) por pontes de dissulfeto. De acordo com o Estudo de Corte de Framingham, Vavlukis et al. (2016), valores ótimos de Lp(a) para homens é 14 mg/dL e para mulheres de 15 mg/dL, sendo níveis acima de 50 mg/dL considerado elevado para risco de doença coronariana. As Lp(a)s são encontradas em placas ateroscleróticas, portanto o risco de doenças coronarianas, IAM, ACE/AVC estão correlacionados ao nível plasmáticos de Lp(a). Trabalhos epidemiológicos e clínicos têm demonstrado que a Apolipoproteína A-I e a Apoliproteína B são fatores de risco cardiovascular independente da fração lipídica. Em vista disso, essas apolipoproteínas foram anexadas ao Guia Cardiológico Canadense (COSTA-SCHARPLATZ et al., 2008). Além dessas, a Apolipoproteína E (APOE) está relacionada à Doença de Pequenos Vasos Cerebrais (CSVD) responsável por deflagrar o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e demências. (ver capítulo 4.1.3 O Fármaco Rosuvastatina) Trabalhos recentes têm demonstrado sua associação a lesões na parede dos vasos cerebrais. A transcrição da APOE é induzida por lesões no cérebro durante o envelhecimento, sendo primeiramente secretada pelos astrócitos. Muitos estudos sugerem o papel da APOE no metabolismo dos lipídeos e na modificação da resposta dos lipídios de baixa de densidade perante as estatinas (JI et al. 2018). Fração lipídica O metabolismo dos lipídeos ocorre mediado pelas lipoproteínas. Essas permitem a solubilidade e o transporte de lipídeos. Há quatro grandes classes de lipoproteínas (SBC, 2017; MALLOY & KANE, 2014; MOTTA, 2009): 4 2) As ricas em Triglicerídeos (TG): Quilomícrons - formados no intestino e transportam triglicerídeos, colesterol não esterificado e ésteres de colesterol. Após a refeição contendo gordura, os quilomícrons são formados na mucosa intestinal; Lipoproteína de Densidade Muito Baixa (VLDL) - são secretados pelo fígado e exportam triglicerídeos para os tecidos periféricos. 3) As ricas em Colesterol: LDL – lipoproteína de baixa densidade é 2/3 do colesterol total plasmático– catabolizadas nos hepatócitos e em outras células. São formados a partir da VLDL da circulação. Segundo Chen et al. (2002), o LDL oxidado apresenta um receptor denominado de Lipoproteína de Baixa Densidade oxidada semelhante à lecitina causador de alterações no tecido endotelial dos vasos. O LDL pode ser calculado por meio da Fórmula de Friedewald na Equação 1. Equação 1: Fórmula de Friedewald Fonte: Motta (2009) HDL – lipoproteína de alta densidade – são secretadas pelo fígado e pelo intestino. Adquire o colesterol dos tecidos periféricos protegendo a homeostase do colesterol das células. Segundo Motta (2009), o colesterol é esterificado pela lecitina-colesterol aciltransferase dos tecidos, transportado para o fígado pelo mecanismo de “Transporte Reverso do Colesterol”; proporcionando 5 formas maiores de HDL. Pode-se calcular o Índice de Risco Coronariano por meio da Equação 2: Equação 2: Fórmula Índice do Risco Coronariano Fonte: Motta (2009) O resultado da equação 2 pode ser observado na Tabela 1 refere-se ao risco coronariano. Tabela 1: Índice de Risco Coronariano equação 2 Risco Homens Mulheres Metade da média 3,43 3,27 Média 4,97 4,44 2 x a média 9,55 7,05 3 x a media 23,39 11,04 Fonte: Motta (2009) No entanto, para empregar essa fórmula o paciente não pode apresentar alterações dos níveis das lipoproteínas plasmáticas. Assim, a Equação 3 é mais indicada e calcula o risco coronariano relaciona o LDL-c pelo HDL-c. Equação 3: Relação LDL/HDL Fonte: Motta (2009) O resultado da equação 3 pode ser verificado na Tabela 2 refere-se ao risco coronariano. 6 Tabela 2: Índice de Risco Coronariano equação 3 Risco Homens Mulheres Metade da média 1,00 1,47 Média 3,55 3,22 2 x a média 6,25 5,03 3 x a media 7,99 6,14 Fonte: Motta (2009) 4) Classe de Lipoproteína de Densidade Intermediária (IDL) - transporta colesterol para o fígado. 5) Enzimas envolvidas no transporte lipídico (MOTTA, 2009): Lecitina colesterol aciltransferae (LCAT) - transfere grupo acila para o colesterol, produzindo éster de colesterol. Ocorre nas HDL e é estimuladas pela ApoA-I; Lipase lipoprotéica – fica no endotélio dos capilares sanguíneos não hepáticos. Está presente nos quilomícrons e VLDL ativados pela ApoC-II. Atua na hidrólise de triglicerídios; Lipase hepática – mesmo que a lipase lipoprotéica; Lipase hormônio-sensível – presente nas células do tecido adiposo. Controla a liberação de ácidos graxos para o plasma. Ativada pelas catecolaminas, hormônio de crescimento e glicocorticóides. Porém, inibida pela glicose e pela insulina. Cada uma das classes de lipoproteínas tem um papel específico no tranporte de lipídos e existem diferentes vias de transporte endógenas e exógenas como as apresentadas na figura 2. 7 Figura 2: As lipoproteínas participantes de três ciclos Fonte: SBC (2019, 2017) Leganda: AGL= ácidos graxos livres; HPL= lipase hepática; CETP - proteínade transferência de ésteres de colesterol. As lipoproteínas participante de três ciclos, ver Cada uma das classes de lipoproteínas tem um papel específico no tranporte de lipídos e existem diferentes vias de transporte endógenas e exógenas como as apresentadas na figura 2. Figura 2 (SBC, 2017; MALLOY & KANE, 2014): 1. ciclo exógeno, gorduras advindas do intestino chegam ao plasma sob a forma de quilomícrons. Após, sofrem degradação pela lípase (LPL) e são direcionadas ao fígado ou a tecidos periféricos; 2. ciclo endógeno - as gorduras do fígado se direcionam para os tecidos periféricos. As VLDL são secretadas por ação da lipase lipoproteica (LPL). As VLDLs transformam-se em IDLs e, posteriormente em LDLs, 8 as quais carregam, principalmente, o colesterol para os tecidos periféricos; 3. Transporte Reverso do Colesterol - o colesterol dos tecidos retorna para o fígado. As HDLs nascentes captam colesterol não esterificado dos tecidos periféricos pela ação da lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT). Por meio das Proteínas de Transferência de Ésteres de Colesterol (CETP), ocorre a transferência de ésteres de colesterol das HDLs para outras lipoproteínas, como as VLDLs. HIPERCOLESTEROLEMIAS SECUNDÁRIAS Como já comentado na introdução, a hipercolesterolemia secundária ocorre em vista das condições mórbidas, do uso de medicamentos e do estilo de vida (SBC, 2017). (ver valores normais de colesterol na Tabela 3). Tabela 3: Nível ideal lipídios plasmáticos Desejável mg/dL Limítrofe mg/dL Elevado mg/dL Colesterol Total < 190 200-239 >240 LDL-c <130 130-159 >160 HDL-c M > 50 H > 40 Triglicerídeos TG <120 120-199 >200 Fonte: SBC (2017); Malloy & Kane (2014); Motta (2009) A classificação das hipercolesterolemias relaciona-se a fração de lipídeo alterada, esse estudo abarcou os seguintes CIDs (CONITEC, 2019; SBC, 2017): 9 Hipercolesterolemina isolada/pura (CID E78.0) – aumento isolado de LDL-c > 160mg/dL; Hiperlipidemia mista (CID E 78.2) – aumento de LDL-c (LDL-c > 160 mg/dL) e TG (TG > 150 mg/dL ou em jejum >175 mg/dL); HDL-c baixo (CID E78.6) – redução do HDL-c homens < 40mg/dL e mulheres < 50 mg/dL. Figura 3: Fatores que provocam a hipercolesterolemia secundária Fonte: Menegaz (ano?) As doenças, produzidas por pessoas normolipêmicas, estão classificadas em tipos como a seguir (Ver Figura 3) (MOTTA, 2009): 10 Tipo I – Diabetes mellitus insulinopênico, disglobulinemia, lúpus eritematoso e pancreatite; Tipo II – Síndrome nefrótica, hipotiroidismo, doenças hepática obstrutiva, porfiria, mieloma múltiplo, cirrose portal hepatite viral (fase aguda), mixedema, estresse, anorexia nervosa e hipercalcemia idiopática; Tipo III – hipotireoidismo, disgamaglobulinemia, mixedema, cirrose biliar primária e acidose diabética; Tipo IV – Diabetes mellitus, síndrome nefrótica, gravidez, anticoncepcionais orais, doença de armazenamento de glicogênio, alcoolismo, doença de Gaucher, doença de Niemann-Pick, pancreatite, hipotireodismo e disglobulinemia; Tipo V – Diabete mellitus insulinopênica, síndrome nefrótico, alcoolismo, mieloma, hipercalcemia idiopática, pancreatite, macroglobulinemia, diabetes mellitus (não-insulino dependente). Por sua vez os medicamentos que podem provocar a hipercolesterolemia são os abaixo (SBC, 2017): Anticoncepcionais; Corticosteróides; Anabolizantes; Inibidores da protease; Isotretinoína; Ciclosporina. 11 Entretanto, um dos maiores vilões é o mau hábito de saúde. Esse é um conjunto de comportamentos que prejudicam a saúde como apresentado abaixo (ver Figura 3) (SBC, 2017; SPOSITO et al., 2007): ingerir alimentos ricos em ácidos graxos trans. Esses são resultados de hidrogenação parcial de ácido graxos cis que, paralelo à adição de hidrogênio, sofreu isomeração cis-trans. Em vista de essa alteração os ácidos graxos trans aumentam o LDL-c bem como reduzem o HDL-c. (MERÇON, 2010) Exemplos: margarinas, chocolates, pães recheados, biscoitos recheados, bolos industrializados entre outros; alimentos que são ricos em gordura como: vísceras de animais, leite integral, embutidos e frutos do mar (camarão, ostra, marisco, polvo e lagosta); ingerir bebidas alcoólicas provocam altos índices de TG; o tabaco causa prejuízos à vasodilatação das artérias coronárias o que pode agravar o processo inflamatório do endotélio arterial; falta de atividade física. Pessoas que fazem atividades físicas rotineiramente exibem redução dos níveis plasmáticos de TG e aumento dos níveis plasmáticos de HDL-c. 12 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (CONITEC). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Dislipidemia: prevenção de eventos cardiovasculares e pancreatite. Relatório de Recomendação. Brasília: CONITEC, 2019. COSTA-SCHARPLATZ, M.; RAMANATHAN, K.; FRIAL, T.; BEAMER, B.; GANDHI, S. Cost-Effectiveness Analysis of Rosuvastatin Versus Atorvastatin, Simvastatin, and Pravastatin from a Canadian Health System Perspective. Clinical Therapeutics. n.7, v. 30, 2008. MALLOY, M. J. KANE, J. P. Fármacos usados na dislipidemia. Em: KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. Porto Alegre: AMGH, cap 35, 619-33 p., 2014. MENEGAZ, D. Distúrbios do metabolismo do colesterol e sais biliares lipoproteínas plasmáticas. Disponível em URL: https://es.slideshare.net/DanusaMenegaz/distrbio-metabolismo-lipoprotenas- danusa-menegaz-phd (acessado em 28 de setembro de 2020) https://es.slideshare.net/DanusaMenegaz/distrbio-metabolismo-lipoprotenas-danusa-menegaz-phd https://es.slideshare.net/DanusaMenegaz/distrbio-metabolismo-lipoprotenas-danusa-menegaz-phd 13 MERÇOM, F. O que é gordura Trans?. Disponúvel em URL: http://www.sistemas.eel.usp.br/docentes/arquivos/427823/LOT2007/gorduratran. pdf (acessado em 12 de dezembro de 2021). MOTTA, N. A. V.; FUMIAN, M. M.; CASTRO, J. P.; BRITO, F. C. F. Inflamação e aterosclerose: novos biomarcadores e perspectivas terapêuticas. International Journal of Cardiovascular Sciences, 2013. Disponível em URL: http://www.onlineijcs.org/sumario/26/26- 5/artigo9.asp#:~:text=Atualmente%20a%20aterosclerose%20%C3%A9%20consi derada,%C3%A0%20ativa%C3%A7%C3%A3o%20do%20sistema%20imunol%C 3%B3gico (acessado em 26 de janeiro de 2021). SANTIAGO, M. A. M. C. Estatinas – efeitos tóxicos e novas aplicações. [dissertação] Porto: Universidade Fernando Pessoa. Faculdade de Ciências da Saúde, Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, 2011. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Atualização a Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. SBC: Arquivos Brasileiros De Cardiologia, 2019. Disponível em URL: http://www.SciELO.br/abc/v112n4/pt_0066-782X-abc-113-04-0787.pdf (acessado em 4 de novembro de 2020). SPOSITO,A. C.; CARAMELLI, B.; FONSECA, F. A. H.; BERTOLAMI, M. C. IV Diretriz Brasileira sore Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose. São Paulo: Arquivos Brasileiros de Cardiologia. v.88, supl. , 2007. http://www.sistemas.eel.usp.br/docentes/arquivos/427823/LOT2007/gorduratran.pdf http://www.sistemas.eel.usp.br/docentes/arquivos/427823/LOT2007/gorduratran.pdf http://www.onlineijcs.org/sumario/26/26-5/artigo9.asp#:~:text=Atualmente%20a%20aterosclerose%20%C3%A9%20considerada,%C3%A0%20ativa%C3%A7%C3%A3o%20do%20sistema%20imunol%C3%B3gico http://www.onlineijcs.org/sumario/26/26-5/artigo9.asp#:~:text=Atualmente%20a%20aterosclerose%20%C3%A9%20considerada,%C3%A0%20ativa%C3%A7%C3%A3o%20do%20sistema%20imunol%C3%B3gicohttp://www.onlineijcs.org/sumario/26/26-5/artigo9.asp#:~:text=Atualmente%20a%20aterosclerose%20%C3%A9%20considerada,%C3%A0%20ativa%C3%A7%C3%A3o%20do%20sistema%20imunol%C3%B3gico http://www.onlineijcs.org/sumario/26/26-5/artigo9.asp#:~:text=Atualmente%20a%20aterosclerose%20%C3%A9%20considerada,%C3%A0%20ativa%C3%A7%C3%A3o%20do%20sistema%20imunol%C3%B3gico http://www.scielo.br/abc/v112n4/pt_0066-782X-abc-113-04-0787.pdf
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