Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
101 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 6 Diagnóstico do meio biótico Dando sequência à abordagem dos três grandes compartimentos de conhecimento que compõem o diagnóstico socioambiental de um EIA, este capítulo analisará os estudos do meio biótico, que abrange a vege- tação, a fauna nativa e os ambientes existentes nas áreas de influência de um empreendimento. Além dos principais temas estudados, serão vistas as ferramentas e os recursos mais empregados nos levantamen- tos de dados primários e secundários, além dos modos de apresenta- ção dos resultados. 102 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental 1 Componentes do meio biótico normalmente abordados O diagnóstico do meio biótico abrange tudo aquilo que se refere à biota, isto é, o conjunto de seres vivos não humanos que coexiste em um dado local. Seu escopo inclui o estudo das espécies presentes na área, das relações entre elas, dos ambientes nos quais vivem e de sua conservação. Qualquer projeto resultará em interferências no meio biótico, em geral negativas. Na itemização seguida com maior frequência, sobretudo em EIA/ Rima menos complexos, os estudos são divididos em vegetação (ou flora), fauna, ambientes aquáticos e áreas protegidas. Entretanto, a estrutura do diagnóstico do meio biótico não é rígida, uma vez que a biota constitui um conjunto único de organismos e inter-relações; qual- quer tentativa de segmentá-la para fins de estudo necessariamente faz uso de critérios artificiais. O mais importante é que a estrutura tenha coerência e lógica internas e que todos os componentes relevantes sejam abordados e tratados de forma integrada. A seguir, são descritos os principais aspectos abordados no diagnós- tico do meio biótico. O grau de detalhamento de cada um dependerá do tipo e do porte do projeto, de sua localização e dos critérios adotados no termo de referência. Vegetação. A seção intitulada vegetação, ou flora, abrange aspectos referentes à cobertura vegetal da área e espécies de plantas presentes. Os principais tópicos abordados são: • Caracterização da cobertura vegetal original e atual da região onde se situa o empreendimento, dentro do contexto histórico de ocupação territorial e alteração ambiental. 103Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. • Descrição e mapeamento das fisionomias vegetais presentes na área, isto é, tipos de vegetação como matas, capoeiras, cerrados, campos, vegetação de várzea, etc., com identificação dos trechos mais significativos de vegetação nativa. • Levantamento florístico, ou seja, o levantamento das espécies vegetais presentes em cada fisionomia vegetal, incluindo am- bientes de transição (várzeas, brejos, manguezais, etc.). Atenção especial deve ser dada às espécies raras, ameaçadas e/ou endê- micas, uma vez que, por sua situação de especial interesse do ponto de vista de conservação, os eventuais impactos que ve- nham a sofrer em decorrência da implantação do projeto serão mais significativos. Ainda, pode haver exigência, no termo de referência, à realização do levantamento fitossociológico em áreas de vegetação nativa a ser suprimida. Tal estudo é um levantamento amostral estatístico que visa o conhecimento da vegetação quanto às espécies que a com- põem, o modo como se distribuem no ambiente, as relações entre elas e como se comportam dentro do processo de regeneração de vegeta- ções alteradas. Fauna. Os estudos de fauna abordam as espécies de animais exis- tentes em liberdade na área de estudo, sejam elas nativas, introduzidas ou invasoras. São os seguintes os aspectos mais importantes dentro de um diagnóstico do meio biótico: • Caracterização da fauna regional, com listagem de espécies de ocorrência provável na área de estudo, acompanhada de uma análise do estado de conservação da fauna atual em função do grau de alteração das fisionomias vegetais e do efeito deste sobre a fauna original. • Levantamento de campo das espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes (esse último grupo pode ser tratado no tópico 104 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental relativo a ambientes aquáticos), com especial atenção a espécies ameaçadas, raras e/ou endêmicas, registros novos para a região e indicadoras de qualidade ambiental ou estado de conservação. Os estudos faunísticos de um EIA geralmente se limitam aos verte- brados. Por serem mais conhecidos em termos de compor tamento, ecologia e taxonomia, os vertebrados permitem inferências sobre con- servação e vulnerabilidade que podem ser extrapoladas para outros grupos animais, cumprindo assim o papel de indicadores ambientais. Pode ser pertinente, dentro do escopo do EIA, o estudo de determinados grupos de invertebrados, como insetos ou moluscos, sobretudo em as- sociação com algum aspecto relevante do ponto de vista antrópico, por exemplo epidemiológico, sanitário, veterinário ou agrícola. Outra situação em que os invertebrados são estudados é quando está previsto intervenção em cavernas e outras cavidades subterrâneas. Nesses casos, deve ser feito o estudo da fauna cavernícola, incluindo ver- tebrados e invertebrados, para análise do grau de relevância de cada ca- verna afetada, conforme padrões estabelecidos na legislação pertinente1. • Ambientes aquáticos: a biota aquática é estudada em casos em que o projeto deve interferir em corpos d’água (como barramen- tos, transposições, captações de águas, portos). Os ambientes aquáticos incluem águas doces, como rios, riachos e córregos, reservatórios e lagos; ambientes de transição, como brejos e ba- nhados; e ambientes marinhos, como praias arenosas e rocho- sas, manguezais, lagoas costeiras, águas costeiras e águas pro- fundas. Dentro do diagnóstico do meio biótico, o estudo desses ambientes aquáticos aborda não só a qualidade da água, mas a qualidade ambiental como um todo. 1 Disponível no site do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav). 105Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os principais objetos de estudo são a fauna de peixes, as comuni- dades planctônicas (organismos que flutuam livres na coluna d’água) e bentônicas (organismos que vivem nos substratos do fundo), as macrófitas aquáticas (plantas que vivem enraizadas no fundo ou flu- tuando na água), vetores de doenças e organismos bioindicadores de qualidade ambiental. Dependendo do escopo do projeto e de seu local de instalação, o termo de referência pode estabelecer o estudo de grupos específicos de mamíferos (botos, peixes-boi,ariranha, etc.) e répteis (tartarugas marinhas, cágados, tracajás, etc.) de hábitos aquáticos. Isso ocorre quando há presença constatada ou provável desses animais em am- bientes que sofrerão alterações significativas em decorrência de algum empreendimento. • Áreas protegidas: as unidades de conservação (UCs) e outras áreas ambientalmente protegidas (zonas de amortecimento, áreas de proteção de mananciais, etc.) existentes na área de estu- do devem ser identificadas e caracterizadas quanto a tipo, distân- cia do empreendimento, órgãos responsáveis pela administração e extensão. PARA SABER MAIS Uma referência importante para o estudo da vegetação é o Manual téc- nico da vegetação brasileira (IBGE, 2012), que traz o sistema de classi- ficação mais usado para as formações vegetais brasileiras. Você tam- bém pode aprofundar seus conhecimentos sobre os estudos botânicos lendo o livro Meio ambiente e botânica, de Luciano M. Esteves (2011). Como acontece com outros aspectos do EIA, a composição da equi- pe responsável pelos estudos do meio biótico varia de acordo com as características do empreendimento e de sua localização. Em projetos 106 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental de menor porte, a equipe mínima é formada por um especialista para a vegetação e outro para a fauna. Em projetos maiores, é necessária uma equipe mais diversificada, que envolve mais de um especialista em botânica e especialistas em vários grupos animais: mastozoólogos (mamíferos), ornitólogos, herpetólogos (répteis e anfíbios), ictiólogos (peixes), entomólogos (insetos), etc. Dependendo das feições da área de influência, pode haver a participação de especialistas em ambientes de água doce e/ou marinhos, como limnólogos e oceanógrafos, além de especialistas em ambientes cavernícolas, em vetores de doenças humanas ou em espécies de interesse agrícola e veterinário. Também passa a ser necessária a atuação de ajudantes, sobretudo para os trabalhos de campo. Os profissionais que trabalham com o meio biótico geralmente são biólogos, mas ecólogos, engenheiros florestais, agrônomos e veteriná- rios, entre outros, também atuam na área. Mais uma vez, é importante notar que, qualquer que seja a formação do profissional, apenas o título não é suficiente para qualificá-lo para atuar em estudos do meio biótico; a experiência e o domínio das metodologias e ferramentas específicas de cada tema são fundamentais. 2 Principais ferramentas de análise Assim como o meio físico, o meio biótico é estudado, no âmbito do EIA/Rima, com base em dados secundários e primários. Sánchez (2008) observa que os estudos relacionados ao meio biológico raramente po- dem prescindir de trabalhos de campo. Segundo ele, os procedimentos em geral têm início por um levantamento de dados secundários, que visam encontrar informações de âmbito regional sobre os tipos de ve- getação e a fauna associada. Mesmo desatualizadas, as informações secundárias são úteis como indicativos das condições ecológicas ori- ginais da região, anteriores a muitas das alterações humanas cumula- tivas que resultaram no cenário presente. Ainda, dão uma ideia do que 107Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. pode ser encontrado na área de estudo e subsidiam o planejamento das campanhas de campo (SÁNCHEZ, 2008). As fontes de dados secundários incluem, além da bibliografia cien- tífica, de documentos ambientais anteriores e do acervo de órgãos públicos, as coleções de museus científicos e herbários mantidos por universidades e institutos de pesquisa. Bancos de dados e bibliotecas virtuais de órgãos públicos, bem como plataformas de ciência cidadã, estão disponíveis on-line e também constituem fontes confiáveis de da- dos secundários. Eis alguns dos mais importantes: • Portal da Biodiversidade. Plataforma mantida pelo ICMBio, que disponibiliza dados sobre a biodiversidade brasileira. • Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Plataforma on-line que reúne dados sobre a biodiversidade do Brasil. • Sistema de Informação Ambiental do Programa Biota/Fapesp (SinBiota). Integra informações sobre a biodiversidade no estado de São Paulo. • Wikiaves. Enciclopédia das aves brasileiras. Página de conteúdo interativo que mantém um importante banco de fotos e sons de aves brasileiras. • Táxeus. Plataforma de ciência cidadã, colaborativa e on-line, que reúne listas de aves, mamíferos e anfíbios. Dados primários são obtidos em campo por observação direta ou de vestígios, coleta de material botânico e zoológico, registros por meio de fotos e de gravações, entrevistas, entre outros métodos. Os levanta- mentos geralmente são feitos por amostragem. Por exemplo, nos levan- tamentos da vegetação são estudadas áreas reduzidas (as parcelas), segundo determinados critérios de amostragem conhecidos dos pro- fissionais do setor, que poderão ser extrapolados para a totalidade da 108 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental área, com uma margem de erro definida antecipadamente (SÁNCHEZ, 2008). No entanto, em casos em que há poucas árvores, por exemplo, quando a ADA é uma pastagem com árvores isoladas, pode ser feito um levantamento completo, com a identificação e a medição de cada uma. Coletas de exemplares botânicos e zoológicos, necessárias para a identificação das espécies em laboratório, devem seguir protocolos de obtenção, conservação e análise. Entrevistas com moradores e locais podem fornecer informações sobre a presença de espécies animais difíceis de ver ou capturar, com- plementando os resultados obtidos por outros métodos. São úteis tam- bém para a identificação de alterações da paisagem e impactos ocor- ridos num passado recente, sobretudo na ausência de dados formais. Além disso, elas trazem para o processo de licenciamento a visão, o conhecimento e as opiniões da população afetada, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias compartilhadas de manejo. No traba- lho de Mani-Peres et al. (2016), por exemplo, as entrevistas revelam as alterações ecológicas ocorridas em uma área costeira, bem como o valor afetivo, sociocultural e econômico atribuído pelos moradores locais aos peixes, à paisagem e à biodiversidade local. A seguir, são descritas as principais ferramentas de análise do meio biótico. • Vegetação. Na caracterização da cobertura vegetal original e atual da AII são usadas fontes secundárias, como os mapas da vegetação do Brasil, do IBGE e outros documentos de referência produzidos por órgãos oficiais. Para a AID e a ADA, o mapea- mento das fisionomias vegetais presentes se baseia em dados secundários (imagens de satélite, fotos, etc.) corroborados por dados primários levantados em trabalho de campo. Os trechos mais significativos de vegetação nativa devem ser caracterizados de acordo com a área, a fisionomia e a tipologia vegetal, o estágio de regeneração e a conservação, a estratificação, entre outrosas- pectos. Os maciços florestais devem ser caracterizados quanto 109Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. ao grau de alteração e de regeneração. Assim, é considerada uma mata primária aquela em que as alterações decorrentes da ação humana são mínimas, sem perda significativa da estrutura e da flora originais. Já uma mata secundária resulta de regeneração ocorrida após supressão total ou parcial da vegetação primária. No processo de regeneração, denominado sucessão vegetal, são reconhecidos os estágios inicial, médio e avançado. Para a Mata Atlântica, os parâmetros para análise dos estágios de sucessão são estabelecidos pela Resolução Conama 10/1993. Os levantamentos florísticos devem abranger cada fisionomia vege- tal e cada trecho de vegetação significativa. Quando uma espécie não é identificada em campo, é feita a coleta de amostras para identificação em laboratório. Pode ser necessária a realização de várias campanhas em um mesmo local ao longo do ano, pois muitas vezes a identifica- ção depende do estudo de características morfológicas das flores, e as espécies florescem em diferentes épocas. Quando solicitado, o levantamento fitossociológico é conduzido em trechos de vegetação nativa a ser afetada, na ADA e AID. Além do in- ventário florístico, esse estudo analisa as relações quantitativas entre espécies, a estrutura horizontal (por meio de parâmetros quantitativos, como abundância, frequência e dominância) e a estrutura vertical (es- tratificação) da vegetação. A descrição dos métodos fitossociológicos consta de Freitas e Magalhães (2012). • Fauna. A fauna da AII é estudada com base em informações se- cundárias, que permitem a caracterização de seu estado de con- servação e a elaboração de listas das espécies com ocorrência constatada ou provável; no caso dos peixes, o levantamento deve incluir bacias, sub-bacias e microbacias abrangidas pela AII. A in- formação secundária ajuda a contextualizar a situação da fauna na ADA e na AID, mas nessas áreas o estudo é feito sobretudo por meio de dados primários obtidos em levantamento de campo. Especial atenção é dada à presença de espécies ameaçadas, raras, endêmicas e migratórias, entre outras. Caso existam cavernas na 110 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental ADA, sua fauna deve ser estudada por meio do levantamento de dados secundários referentes às cavidades afetadas, complemen- tado por informações primárias coligidas em cada uma. Vários métodos podem ser empregados nos levantamentos faunís- ticos. O quadro 1 traz os procedimentos mais efetivos para o estudo de cada grupo de vertebrados. Quadro 1 – Métodos utilizados para o levantamento de espécies de cada grupo de vertebrados GRUPO ANIMAL PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NO LEVANTAMENTO Mamíferos Identificação visual e auditiva, com uso de metodologia de transectos Registros por meio de armadilhas fotográficas Vestígios – pegadas, fezes, tocas Captura com armadilhas (roedores, marsupiais e outros pequenos mamíferos) e redes (morcegos) Coleta de exemplares para identificação e depósito em coleções científicas Entrevistas com moradores locais, com metodologia apropriada Aves Identificação visual e auditiva, com uso de metodologia de transectos e de pontos fixos Registros fotográficos e gravações de vocalizações para posterior identificação Vestígios – penas, ninhos Captura com redes de neblina Coleta de exemplares para identificação e depósito em coleções científicas Entrevistas com moradores locais, com metodologia apropriada Répteis Identificação visual Registros fotográficos Coleta de exemplares para identificação e depósito em coleções científicas Entrevistas com moradores locais, com metodologia apropriada Anfíbios Identificação visual e auditiva Registros fotográficos e gravações de vocalizações para posterior identificação Coleta de exemplares para identificação e depósito em coleções científicas Entrevistas com moradores locais, com metodologia apropriada Peixes Captura de exemplares por meio de redes, peneiras, etc., para medição biométrica, identificação e eventual depósito em coleções científicas Entrevistas com pescadores locais, com metodologia apropriada 111Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os levantamentos de campo devem envolver esforço amostral suficiente para uma boa representatividade das espécies presentes, abrangendo todas as formações vegetais significativas, naturais ou antrópicas; em cavernas, devem cobrir todas as zonas (entrada, fótica e afótica). Devem abranger os horários mais adequados para cada grupo – diurnos para a maioria das aves, primatas e alguns outros mamíferos, répteis; e noturnos para corujas e bacuraus, a maioria dos mamíferos – inclusive morcegos –, anfíbios e algumas serpentes. Em teoria, os levantamentos devem compreender o período de um ano, para cobrir ciclos reprodutivos e migratórios. Isso só ocorre, porém, em empreendimentos de grande porte. Em projetos menores, é recomen- dado que sejam feitas ao menos duas campanhas de campo, uma na época chuvosa e outra na estiagem. É importante salientar que os exemplares coletados constituem material de valor científico e devem ser depositados em coleções de instituições de pesquisa. Atividades de captura, coleta, marcação, trans- porte e manutenção em cativeiro requerem autorização pelo Ibama. A Instrução Normativa 146/2007 do Ibama estabelece critérios para os procedimentos relativos à fauna no âmbito do licenciamento ambiental e pode balizar os estudos faunísticos em processos que correm na esfera de outros órgãos ambientais2. • Ambientes aquáticos: os ambientes aquáticos e de transição da ADA e da AID devem ser estudados por meio de dados primários. Além das análises bacteriológicas, que, como foi visto no capítulo 5, são empregadas na determinação da qualidade da água em conjunto com os parâmetros físico-químicos, o estudo de outros organismos bioindicadores permite avaliar a qualidade ambiental dos corpos d’água. Os pontos de coleta (de peixes, plâncton, bentos, macrófitas aquá- ticas, vetores de doenças, etc.) devem cobrir toda a AID e contemplar todos os tipos de ambientes aquáticos e de transição presentes e seus 2 Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/sisbio/legislacao-especifica.html>. 112 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental vários hábitats (alto, médio e baixo curso dos rios, margens, fundo, co- luna d’água, corredeiras, remansos). Devem ser feitas ao menos duas campanhas de campo, uma no período chuvoso e outra na estiagem. É importante que as coletas de água para estudo dos parâmetros bio- lógicos sejam feitas nos mesmos pontos de coleta de amostras para o estudo de parâmetrosfísico-químicos, para propiciar uma análise mais efetiva das informações. O estudo das comunidades bentônicas e planctônicas pode incluir análises quantitativas das amostras, em que, além da identificação das espécies, é feita a contagem de indivíduos por espécie ou categoria taxonômica. Isso permite o uso de índices de diversidade, importantes como indicadores da qualidade ambiental das águas. Altas diversida- des (com grande número de espécies e poucos indivíduos por espécie) indicam boa qualidade ambiental, uma vez que a maioria das formas de poluição elimina espécies mais sensíveis e reduz a complexidade do ecossistema. Os índices de diversidade permitem, ainda, comparar as condições ecológicas de diferentes trechos de um rio e também fazer comparações multitemporais (SÁNCHEZ, 2008). Outro aspecto tam- bém passível de análises quantitativas é o estudo da fauna de peixes. • Áreas protegidas. A identificação das áreas protegidas existentes dentro da AII do projeto é feita com base em dados secundários, por meio de consulta a sites, mapas e documentos oficiais. PARA SABER MAIS O manual para elaboração de estudos para licenciamento com avalia- ção de impacto ambiental da Cetesb (2014) é um excelente guia para saber mais sobre os aspectos que devem ser estudados em cada tipo de empreendimento. 113Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3 Modos de apresentação dos resultados – caracterização, análise, conclusão Também no diagnóstico do meio biótico os mapas temáticos são uma ferramenta importante para a apresentação dos resultados, e de novo des- taca-se a importância do georreferenciamento, para melhor integração en- tre os diferentes aspectos abordados e cruzamento das informações. Pode haver a exigência, por parte do órgão ambiental, de que as informações sejam apresentadas sobre imagem de satélite ou foto aérea. Alguns dos aspectos passíveis de serem mapeados são: distribuição das vegetações naturais, identificadas quanto a tipo e estágio de suces- são ecológica, na ADA, na AID e na AII; áreas amostradas, pontos de coleta, transectos, registros fotográficos, etc.; ambientes aquáticos e de transição; unidades de conservação existentes na AII; vegetação a ser suprimida na ADA; áreas protegidas na AID, como áreas de preservação permanente (APPs), áreas de reserva legal, corredores ecológicos, áreas potenciais para preservação, etc. A figura 1 mostra um mapa de cober- tura vegetal da ADA sobreposto à planta de um projeto urbanístico. Figura 1 – Trecho de um mapa de cobertura vegetal da ADA de um empreendimento. Além da cobertura vegetal, estão representados os lotes previstos no projeto, as APPs, corpos d’água e vias existentes Reflorestamento de eucalipto Reflorestamento de eucalipto com sub-bosque em estado inicial Vegetação em estágio inicial de regeneração Vegetação em estágio pioneiro de regeneração Vegetação em estágio médio de regeneração Solo exposto Bambu Campo antrópico com arbustos isolados Várzea Pinus Edificações Lagos Área de preservação permanente (APP) Limite da gleba Estradas existentes Córregos Fonte: adaptado de Pabrasil (2014). 114 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental Ainda, o mapeamento dos tipos de vegetação existentes na AI pode ser apresentado em um mapa de uso e ocupação do solo, que inclui não apenas os ambientes naturais, mas também os ambientes antrópicos – isto é, criados ou alterados pela ação humana – e estruturas humanas como estradas e áreas urbanas, além de limites político-administrativos. O mapa de uso e ocupação do solo é um dos mais importantes do diagnóstico ambiental. Integrando informações do meio biótico e do meio antrópico, esse mapa é essencial, segundo Sánchez (2008), para apreender-se o contexto em que se insere a proposta analisada. Inclui ve- getações nativas, áreas de cultivo, silvicultura, pastagens, áreas urbanas, além da rede de drenagem e viária, entre outros elementos. Talvez os elementos que mais caracterizem o diagnóstico do meio biótico sejam as listas de espécies, que reúnem os resultados dos le- vantamentos, compilando as espécies de cada grupo estudado, bem como as informações referentes a cada uma delas. Listas para a AII costumam ser baseadas em fontes secundárias, enquanto listas da ADA e da AID são feitas com base em registros primários, acrescidos de registros provenientes de fontes secundárias. São apresentadas sob a forma de tabelas em que, para cada espécie, constam informações primárias sobre sua situação na área e informações secundárias sobre sua ecologia e conservação. É importante que o conteúdo das listas ofereça subsídios efetivos para a compreensão não apenas da com- posição da flora e da fauna da área, mas também da distribuição das espécies nos ambientes representados nas várias áreas de influência e, ainda, do impacto do empreendimento sobre cada espécie e sobre a biota como um todo. A análise e a interpretação do conteúdo das listas deve ser feita no texto do diagnóstico. É fundamental o destaque dos pontos relevantes detectados nos levantamentos primários e secundários. Sem isso, o leitor não especialista não tem elementos para identificar a informa- ção de fato relevante em termos de previsão de impactos e proposi- ção de ações de mitigação, compensação e monitoramento, e ficam 115Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. comprometidas a compreensão do diagnóstico e a eficiência dos estu- dos como ferramenta de avaliação ambiental. Outro recurso muito importante para a apresentação dos resultados são as fotografias de ambientes e de espécies de plantas e animais. Para o leitor, a inclusão de uma referência visual das formações vegetais e ambientes que estão sendo abordados proporciona um entendimento muito mais rápido e abrangente do que descrições e análises muitas ve- zes carregadas de termos técnicos, complementando-as e aumentando a eficiência de transmissão de informações. Quanto às espécies vege- tais e animais, as fotos servem como uma documentação que confirma o registro e dá mais significado à informação escrita, tornando a leitura mais produtiva e mais interessante. Também são usados gráficos e quadros na apresentação dos resul- tados, para auxiliar na visualização das informações. Como já foi visto no capítulo 5, os quadros ajudam a apresentar números com precisão e de forma condensada, enquanto os gráficos expressam valores numéri- cos de formas que facilitam sua visualização. A análise integrada e as conclusões devem deixar clara a relevância da área em termos de biodiversidade, dentro de um contexto regional ou mesmo nacional. As informações no diagnóstico devem fundamentar a análise do estado de conservação ambiental, considerando dimensões, forma, conectividade e grau de alteração e de regeneração das man- chas de vegetação nativa e sua qualidade do ponto de vista da fauna. Ainda, precisam ser destacadas as espécies de ocorrência mais sig- nificativa e cuja conservação será mais afetada pelas alterações am- bientais. A identificação de uma espécie ameaçada ou endêmica pode afetar o projeto de diferentes maneiras, como destacaSánchez (2008). Esse autor explica que, em um extremo, caso se trate de uma espécie de ampla distribuição geográfica e de baixo grau de ameaça, as conse- quências podem ser contornadas por medidas como recomposição de seu hábitat, proteção de remanescentes do hábitat na mesma região ou o estabelecimento de “corredores ecológicos” unindo fragmentos de 116 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental vegetação nativa. No outro extremo, uma espécie endêmica de ocorrên- cia muito restrita, que pode mesmo coincidir com a ADA, pode inviabili- zar um projeto ou encarecê-lo sobremaneira. PARA SABER MAIS Conheça as falhas comuns em estudos do meio biótico para poder evi- tá-las! Consulte a tese de Lamonica (2016) sobre avaliação da qualidade do diagnóstico do meio biótico de EIAs do estado de São Paulo e os es- tudos sobre deficiências em EIAs feitos pelo Ministério Público da União (2004) e por Almeida et al. (2015). Considerações finais Como se viu neste capítulo, o diagnóstico do meio biótico inclui o estudo dos ambientes naturais, da vegetação e da fauna presentes nas áreas de influência de um projeto. O mapeamento das formações vege- tais e as listas de espécies constituem os resultados mais caracterís- ticos para o meio biótico, devendo ser analisados de forma integrada para a caracterização da área de influência quanto ao estado de con- servação e à presença de espécies que possam ser substancialmente afetadas pelo empreendimento. Repetindo a reflexão proposta no capítulo anterior, você avalia que tem facilidade em compreender as informações referentes ao meio bió- tico dentro do âmbito do licenciamento ambiental? Analisando o con- teúdo do diagnóstico de meio biótico de EIA/RIMAS, você consegue reconhecer os aspectos relevantes ou, por outro lado, os pontos que po- deriam ser aperfeiçoados? Mais uma vez, essa é uma prática útil como preparação para uma atuação profissional na área ambiental. 117Diagnóstico do meio biótico M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Referências ALMEIDA, Alexandre Nascimento et al. Deficiências no diagnóstico ambien- tal dos estudos de impacto ambiental – EIA. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, v. 4, n. 2, p. 33-48, 2015. Disponível em: <http://www. revistageas.org.br/ojs/index.php/geas/article/view/168/pdf>. Acesso em: 28 ago. 2017. CENTRO NACIONAL DE ESTUDO, PROTEÇÃO E MANEJO DE CAVERNAS (CECAV). Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/cecav>. Acesso em: 18 ago. 2017. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). Manual para elaboração de estudos para licenciamento com avaliação de impacto ambiental. São Paulo: Cetesb, 2014. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov. br/licenciamento/dd/DD-217-14.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2017. ESTEVES, Luciano M. Meio ambiente e botânica. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011. FREITAS, Welington Kiffer; MAGALHÃES, Luís Mauro Sampaio. Métodos e parâmetros para estudo da vegetação com ênfase no estrato arbóreo. Floresta e Ambiente, v. 19, n. 4, p. 520-540, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/floram/v19n4/v19n4a15.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2017. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual técnico da vegetação brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63011.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017. LAMONICA, Laura de Castro. Avaliação da qualidade do diagnóstico do meio biótico de EIAs do estado de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade) – Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/100/100136/tde-16112016-161910/>. Acesso em: 3 out. 2017. 118 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Diagnóstico e ferramentas de análise em estudos de impacto ambiental MANI-PERES, Caiua et al. Stakeholders perceptions of local environmental changes as a tool for impact assessment in coastal zones. Ocean and Coastal Management, v. 119, p. 135-145, 2016. MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. Deficiências em estudos de impacto ambiental: síntese de uma experiência. Brasília: Escola Superior do Ministério Público, 2004. Disponível em: <http://www.em.ufop.br/ceamb/petamb/cariboost_ files/deficiencia_dos_eias.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2017. PABRASIL. Relatório de impacto ambiental: projeto urbanístico Fazenda Paiva Ramos. Osasco: Pabrasil, 2014. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/eiarima/ rima/RIMA_87_2013.zip>. Acesso em: 4 out. 2017. SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. Sites Portal da Biodiversidade: <https://portaldabiodiversidade.icmbio.gov.br/>. Sistema de Informação sobre a Biodiversidade (SiBBr): <http://www.sibbr. gov.br/>. Sistema de Informação Ambiental do Programa Biota (Sinbiota) da Fapesp: <http://sinbiota.biota.org.br/>. Taxeus: listas de espécies: <http://www.taxeus.com.br/>. Wiki Aves: <http://www.wikiaves.com.br/>.
Compartilhar