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Conversão Eletromecânica de Energia Discente: Rafael de Paula Camata Conversão de Energia 1 1 - Relações Eletromecânicas Básicas A conversão de energia entre as formas elétricas e mecânicas é realizada através de campos magnéticos e elétricos. Campos magnéticos são capazes de causar ambos os fenômenos elétricos e mecânicos. De um ponto de vista elétrico, são capazes de induzir tensão em condutores. Do ponto de vista mecânico, são capazes de produzir forças e conjugados de atração e repulsão. Portanto, o campo magnético, num dispositivo eletromecânico é uma quantidade importante a ser estudada. Um campo magnético é estabelecido pelo movimento de elétrons. A corrente i num condutor elétrico estabelece um campo magnético ao seu redor. O campo tem as propriedades de direção, densidade, e intensidade e é mais facilmente visualizado como constituído de “linhas de fluxo”. 1.1. Lei de Ampère: Lei básica que determina a relação entre corrente elétrica e campo magnético. A integral de linha do vetor intensidade de campo magnético, em torno de uma trajetória fechada, na mesma direção das linhas de campo, é igual a corrente total através da superfície contida pela trajetória de integração de H r e é uma quantidade escalar: ∫=∫ Superficie dS.n.Jld.H rrrr (1.1) A expressão do lado esquerdo da equação (1.1) é uma integral de linha da intensidade de campo magnético (H) ao longo do contorno fechado, na mesma direção de H r , num campo magnético. A expressão do lado direito é uma integral de superfície da densidade de corrente J, a qual é realizada sobre a área da seção transversal S. Unidades em MKS: J - é dado em ampère por metro quadrado [A/m2] H r - é dado por ampère-espira por metro [A-esp/m] e sua direção é dada pela regra da mão direita. θ=⋅ cos l Hl H dd rr , sendo θ o ângulo entre l H rr de , e θcos l Hd a componente de H na direção do elemento de comprimento dl. l - é o comprimento do caminho em [m]. S - é a área em [m2]. Esta lei é muito útil como um meio de obtenção da intensidade de campo magnético em situações em que se tenha simetria no problema. Duas condições devem ser atendidas: (1) Em cada ponto do percurso fechado, H r deve ser tangencial ou normal ao percurso. θθθθ J n rr H ld rr dS Conversão de Energia 2 (2) H r tem o mesmo valor em todos os pontos do percurso onde H r é tangencial. A intensidade de campo magnético H produz uma indução magnética (ou densidade de fluxo) B em toda a região onde ela existe, de valor: HB rr µ= (1.2) A unidade de B é o tesla [T ou Wb/m2], 1 Wb = 108 linhas de campo magnético ou 108 maxwells, 1 T = 104 G (gauss). Onde: µ é a permeabilidade do material (permeabilidade absoluta) µ = µr µ0 { µ0 (permeabilidade no vácuo) = 4π×10–7 [Wb/Am ou H/m]} Onde: µr é a permeabilidade relativa ao valor do vácuo = µ / µ0 µr para materiais ferromagnéticos usados em máquinas e transformadores varia de 103 a 105. Substituindo a equação 1.2 na 1.1, tem-se: ∫µ=∫ S dS.n.Jld.B vrrr (1.3) Façamos a aplicação da lei de Ampère para o caso de um toróide imerso no ar, ver exemplo a seguir. O circuito magnético apresentado na figura 1.1a é uma configuração simétrica e permite a aplicação direta da lei de Ampère. A figura 1.1b é uma seção transversal do circuito magnético apresentando as dimensões apropriadas. + + . ar az aθθθθ (b) corte transversal do núcleo ri r' i r r' 0 r0 (a) circuito magnético simples Ne(t) + - i(t) H rr' i ri r0 r' 0 (c) variação da itensidade de campo magnéticoH com o raior (d) variação da densidade de fluxo magnéticoB com o raior B = µµµµH rr' i ri r0 r' 0 µµµµ0 µ µ µ µ r H(ri) µµµµ0 H(ri) µµµµ0 µµµµ0 µ µ µ µ r µµµµ0 aθ e ar são vetores unitários na direção tangente ao circulo e na direção radial no plano do papel, enquanto az é perpendicular ao plano do papel. Figura 1.1 - Determinação de H e B numa bobina toroidal. Foi escolhido um sistema de coordenadas cilíndricas e vetores unitários zr a a ,a rrr eθ num raio r e num ângulo arbitrário θ. A direção da corrente é assumida Conversão de Energia 3 como entrando (×) na página para r < r i e saindo (•) para r > r0. Considerando o enrolamento consistindo de muitas espiras e de fios relativamente finos e próximos um do outro, pode-se assumir densidade uniforme de corrente para a região ocupada pelo enrolamento. Desta hipótese resulta uma configuração simétrica com relação ao ângulo θ. A intensidade de campo magnético (H) na direção de θ, para r i < r < r0, é obtida pela aplicação direta da lei de Ampère. Para uma trajetória circular de integração a um raio r tem-se: ( ) ( ) θπ θθθθ π=∫ θ=∫ θ++=∫ Hr2drHadr.aHaHaHld.H 20zzrr rrrrrr Onde: 1a.a e 0a.aa.a zr === θθθθ rrrrrr , e H é invariante com relação a θ conforme as considerações de simetria. Quanto ao outro lado da equação (1.1), tem-se para a trajetória considerada: iNdS.n.JS =∫ rr Abandonando o subscrito θ, a intensidade de campo magnético na direção de θ dentro do núcleo será: r2 iN H π = Para vários caminhos de integração distantes de um raio r do centro tem-se: 0H'rr r'r rr 1 r2 iN H'rrr r2 iN Hrrr 'rr 'rr r2 iN Hrr'r 0H'rr 0 2 0 2 0 2 0 2 00 0i 2 i 2 i 2 i 2 ii i = →≥ − − − π = →≤≤ π = →≤≤ − − π = →≤≤ = →≤ A densidade de fluxo magnético B em Wb/m2 ou T esta relacionada com H por meio da equação (1.2). Considerando que o material do núcleo seja ferromagnético a densidade de fluxo magnético será desprezível na região fora do núcleo já que µ é da ordem de 103 a 105 para materiais ferromagnéticos. Na realidade, materiais ferromagnéticos exibem características não lineares, onde o valor de µr depende do valor de H e de seu comportamento anterior. Serão examinados alguns aspectos de seu comportamento mais a frente, mas como será mostrado, um valor relativamente alto de µr permite-nos assumir um comportamento linear em muitas aplicações. Observa-se que não há limites para o valor de H que pode existir no ar ou no espaço, seu valor é limitado praticamente pela J permissível nos condutores que produzem o campo. Com condutores de cobre e alumínio, em temperaturas normais de operação, as densidades de correntes (J) devem ser limitadas a cerca de 106-107 A/m2. Bobinas super-resfriadas podem produzir densidades de fluxo (B) de 10 Wb/m2 ou mais. Em comparação, é com grande dificuldade que um valor de B > 0.1 Wb/m2 pode ser produzido usando bobinas normais à temperatura ambiente. Atualmente o modo mais Conversão de Energia 4 fácil de produzir um valor de B de até 1.5 ~ 2.0 Wb/m2 é através do uso de materiais ferromagnético. Ex. : A figura 1.1.1 a seguir mostra uma bobina enrolada, em forma toroidal, num anel de seção retangular. A bobina tem 200 espiras de fio de cobre cujo diâmetro é 3 mm. e(t) i(t) + - 100 300 400 dθθθθ r Bθθθθ0 d dr Figura 1.1.1 - Determinação de H e B numa bobina toroidal (dimensões em mm). a) Para uma corrente de bobina de 50A, encontrar o fluxo magnético no diâmetro médio da bobina. • Obtenção da densidade de fluxo B no interior do toróide, através da lei de Ampère. Considerando uma trajetória circular dentro do toróide, cujo raio é r. Pela simetria, vê-se que B será constante em todos os pontos da trajetória e sua direção será a da tangente à trajetória em cada ponto. iNld.B 0µ=∫ rr A trajetória enlaça N vezes a corrente i, o que explica a presença de N no lado direito da equação. Como devido à simetria B é constante ao longo da trajetória de integração e sua direção é ao longo da tangenteà trajetória em cada ponto, 0BB θ= rr e 0drld θθ= rr . 0 0 0 2 0 r2 NI BNIr2BrdB θ π µ =→µ=π=∫ θ∴ π r 0θ r - Vetor unitário na direção da tangente ao anel circular no plano do papel Ou seja, B varia inversamente com o raio da trajetória e por conseguinte o valor de B não é constante em todos os pontos de uma seção transversal do toróide. Quando o diâmetro da bobina (espessura do toróide) é pequeno quando comparado com as demais dimensões do toróide (ou seja, se d << r), então se pode supor, sem perda de precisão, que B é constante em uma seção transversal e, portanto, em todos os pontos dentro do toróide. Considerando o diâmetro médio: ( ) A/m Wb/m2 9095H B H 1043,11 235,02 10450200 r2 NI B 3 7 0 =∴ µ = ×= π π××= π µ = − − Conversão de Energia 5 1.2. Conceito de Circuito Magnético Linear O conceito de circuito magnético é útil para a compreensão do comportamento de diversos dispositivos eletromagnéticos práticos. Em muitas situações é útil ter um modelo na forma de um circuito magnético equivalente análogo a um circuito elétrico. A aplicação da lei de Ampère ao toróide do exemplo 1.1 conduziu a uma equação que relaciona B com a corrente I: l NI B ou r2 NI B 00 µ=π µ= (1.4) Da qual, após a substituição de B por µ0H conduz: ℑ=== NIlHou l NI H (1.5) A unidade de H é a de ℑ/comprimento [Aesp/m]. Ou seja, H é o gradiente de potencial magnético. Onde l é o comprimento da trajetória do fluxo. Observa-se que da aplicação da equação (1.3) para r > diâmetro externo do toróide e r < diâmetro interno do toróide conduz a H l = N I = 0. Considerando que o fluxo magnético φ através de uma área S é definido como: ∫=φ Sd.B rr [Wb] (1.6) Com base na equação (1.6) e com a consideração de que todo o fluxo está confinado no toróide onde, a menos de um pequeno erro percentual, ver a seguir, pode- se considerar a densidade de fluxo constante e uniforme através da área S da seção transversal. Assim, tem-se que o fluxo φ = B S, e que após a sua substituição na equação (1.4) produz: 0S l 0 0 NI S l NI l NI S µ =φ µ φ= µ =φ ouou (1.7) Pode-se ver a relação causa – efeito, onde a corrente de excitação I produz um fluxo φ no núcleo. A quantidade NI é chamada força magnetomotriz ou f.m.m. (ℑ) e a expressão l / µ0 S é chamada de relutância (ℜ) da estrutura magnética (definida como a f.m.m por unidade de fluxo magnético). Define-se agora P a permeância que é o inverso da relutância. esp]-[Wb/A l S1 P esp/Wb]-[A S l esp]-[A NI 0 0 µ = ℜ = µ = φ ℑ=ℜ =ℑ (1.8) A fmm estabelece uma H, a qual, por sua vez, produz uma densidade de fluxo magnético B no material. A integração de B sobre a área S do núcleo dá o φ. ℑ é a causa e φ é o efeito. ℜ é determinado pelas propriedades magnéticas do material e as dimensões do núcleo. É interessante neste momento considerar o circuito elétrico a seguir que nos permitirá efetuar uma analogia com as equações (1.8). Conversão de Energia 6 + - V R = l / (σσσσ S) I Para o circuito elétrico a corrente I é: S l σ == V aResistênci fem I Onde σ é a condutividade do material; l é o comprimento; e S é a área da seção transversal Comparando com a equação (1.7) observa-se claramente uma semelhança. É por esta razão que se pode considerar um toróide como um circuito magnético, a equação (1.7) é conhecida como a lei de Ohm para circuitos magnéticos. A analogia entre ambos os circuitos é apresentada na tabela 1.1 Circuito Elétrico Circuito Magnético + - V R = l / (σσσσ S) I I=V/R φφφφΙΙΙΙ φ = ℑ / ℜ Resistência ][R Ω σ = S l Relutância esp/Wb][A S l µ =ℜ Corrente [A] R V I = Fluxo [Wb] ℜ ℑ=φ Tensão [V]IRV = Força magnetomotriz esp][Aφℜ==ℑ NI Condutividade σ [S/m] Permeabilidade µ0 * Condutância [S] R 1 G = Permeância esp][Wb/A ℜ = 1P R – Associado a perda de energia ℜ - Não está associado a perda de energia. * supondo que o meio dentro da estrutura magnética seja o vácuo, ou um material não magnético. Tabela 1.1 Analogia entre os circuitos elétrico e magnético. A analogia entre os circuitos foi possível pelo fato do campo magnético estabelecido pela corrente da bobina estar totalmente confinado ao (núcleo) interior do toróide e também pelo fato do circuito magnético ser linear, isto é, µ = µ0 = cte. O conceito de circuito magnético, embora desenvolvido para uma estrutura particular, contendo ar ou vácuo, pode ser ampliado para estruturas magnéticas feitas de materiais ferromagnéticos de alta permeabilidade, como será visto posteriormente. Conversão de Energia 7 Diferença de Potencial Elétrico: Para obter-se a queda de tensão entre dois pontos a e b de um toróide de cobre, pode-se escrever: ab b a b aab ll IR dl l E dl.V =∫=∫= ε Onde: E = Tensão aplicada l = 2πr = comprimento médio do toróide. ε (gradiente de potencial elétrico) = E / l = E /2πr [V/m] ab ab abab IRA l Il A l l I V =ρ=ρ= onde Rab é a resistência do cobre entre a e b Densidade de Corrente por definição: J = I / S = E / S R J S/lS l J ρ=→ ρ = ρ = εεε )( Diferença de Potencial Magnético: Queda de fmm entre dois pontos onde o fluxo flui: abababab b aabab lS l l l l l l dl.HV ℜφ= µ φ=ℜφ=ℑ=∫=ℑ= Onde ℜab é a relutância do núcleo toroidal entre os pontos a e b. Densidade de Fluxo µ =→µ= µ = ℜ ℑ=φ= BHH )S/lS lH SS B ( Observa-se que ambos os circuitos não são considerados como análogos em todos os aspectos. Ex.: não existe isolante magnético análogo aos que existem para circuitos elétricos. A relação entre a condutividade de um típico isolador elétrico e de um bom condutor é da ordem de 10–16 ou mais (σcobre = 5,8×10–7, σmica = 5×1011), enquanto a permeabilidade do ar para a permeabilidade de material ferromagnético típico não é, naturalmente, superior a 10–6 (Permalloy). Também, quando a corrente contínua é estabelecida e mantida num circuito elétrico, a energia deve ser suprida continuamente, Uma situação análoga não predomina no caso magnético, onde o fluxo é estabelecido e mantido constante. Ex. 1.2: Considerando novamente a figura 1.1.1 a) Determinar a indutância da bobina, assumindo que a densidade de fluxo dentro do toróide é uniforme e igual à do diâmetro médio, e calcule a percentagem de erro produzido por tal hipótese. b) dado a resistividade (ρ) do cobre (17,2 x 10–9 Ωm), determine os parâmetros do circuito elétrico aproximado: • Num raio r qualquer (0,15 < r < 0,20 m) Conversão de Energia 8 A indutância, para um circuito magnético no qual exista uma relação linear entre B e H, é definida como L = λ / I . ( ) H espWb 3 3 3 27 20,0 15,0 2 020,0 15,0 7 0 102302,0 50 1051,11 I L 1051,1150 15,0 20,0 ln 2 2001041,0 r dr 2 IN1,0 Ndr1,0B r2 I200104 r2 NI B − − − − − ×=×=λ= ×= π ××π×=λ ∫π µ× =φ=λ→∫=φ π ×××π= π µ = • Para a consideração de diâmetro médio: Bm = 11,43×10-3 Wb/m2 H esp Wb Wb 33 mm 36 mm 63 m 102286,050/1043,11I/L 1043,111015,57200N 1015,5705,01,01043,11SB −− −− −− ×=×=λ= ×=××=φ=λ ×=×××==φ Assim: %7,0100 51,11 43,1151,11 Erro ≅−= b) calculando o diâmetro do fio: dCu = 3 mm → 4 103 4 d S 622 −××π=π= , e o seu comprimento total (da bobina): l fio = 200 × 2 × (0,1+0,05) = 60 m. R = ρ lfio / Sfio = (17,2 ×10–9 × 200 × 0,3) / ((π×32×10–6) /4) = 0,1460 Ω Outra forma de se obter Lm é: ℜ == µ = µ ==φ=λ= 2 2020 NPN l S NS l NI I N SB I N I N I L ou ℜ =φ ℑ =×φ=λ= 22 NN N N I N I L Os parâmetros aproximado do circuito equivalente seriam: ℜ = 0,146 Ω e L = 0,2286 mH e = dλ / dtv = R i + L di / dt + - R i e v Conversão de Energia 9 1.3. Propriedades dos Materiais Ferromagnéticos: Quando o núcleo do toróide é de ferro (por exemplo), o fluxo total produzido pela mesma bobina de corrente é sensivelmente aumentado. Isto se deve ao fenômeno de ferromagnetismo o qual é um fator muito importante ao processo de conversão de energia pelas máquinas eletromagnéticas. As propriedades dos materiais ferromagnéticos são: 1. Magnetizam-se fortemente na mesma direção do campo magnético onde estão inseridos. 2. Sua densidade de fluxo nos materiais ferromagnéticos varia de forma não linear com a intensidade magnética, com exceção de pequenas faixas onde a variação pode ser considerada linear. 3. Apresentam saturação, histerese e retentividade. 1.3.1. Vetor Magnetização: Quando o interior do toróide é preenchido por algum material ferromagnético, a densidade de fluxo dada pela equação (1.4) passa a ser: 0 0 M l NI B µ+ µ = (1.9) Onde M é a contribuição do material magnético à densidade de fluxo total. Observações experimentais mostram que existe (em muitos materiais) uma relação entre M e H (H é a excitação e M a resposta). Quanto maior o campo proveniente de correntes reais, mais dipólos magnéticos se orientam, criando mais corrente de magnetização. M é denominado vetor de magnetização (ou densidade de fluxo intrínseco) e só existe dentro do material magnético. A relação entre M e H é dada pela equação: M = χm H (1.10) χm - é definida como susceptibilidade magnética (observação: no vácuo não há dipólos magnéticos). Para materiais ferromagnéticos, χm é uma quantidade variável, usualmente muito maior que a unidade. Substituindo M da equação (1.10) na equação (1.9), obtém-se: HHH1HHB r0m0m00 µ=µµ=χ+µ=χµ+µ= )( (1.11) Onde µ é a permeabilidade do material, quantidade variável para materiais ferromagnéticos e em geral muito maior do que µ0. Materiais magnéticos tem elevada χm e µ, significando grande facilidade de orientação de dipólos magnéticos e conseqüentemente a criação de elevadas correntes de magnetização. Se quando cessada a excitação os dipólos continuarem orientados, H e M não guardarão uma relação de proporcionalidade, não fazendo sentido portanto falar em χm e , embora a relação (1.9) continue válida, a (1.11) não o será. Conversão de Energia 10 1.3.2. Histerese e Curva Normal de Magnetização (CNM): Os materiais ferromagnéticos exibem uma relação muito complexa entre a indução magnética B e a intensidade de campo H, figura 1.2. O valor de B, além de depender do valor de H, depende do modo pelo qual esse valor foi atingido . Isso obviamente tem como implicação uma relação não biunívoca entre B e H. Nesse caso não seria possível definir de modo simples uma característica de um indutor por exemplo. Bmax -Bmax Br - --Br laço de histerese estabilizado curva normal de magnetização -Hc Hc b Hmax -Hmax b' c c' d' d H H , i B B,λλλλ Hmax Bmax a) Laços de Histerese b) Curva Normal de Magnetização Br - retentividade: densidade residual de fluxo Hc - coercitividade:fmm necessária para anular B Figura 1.2. Conjunto das trajetórias fechadas de histerese e a curva normal de magnetização para um material ferromagnético. Observa-se que (no ponto d) embora H seja nula, B não o é (é igual a Br). À medida que se diminui H gradualmente, B varia ao longo de b-d (para um dado valor de H, o valor de B será maior quando H diminuir do que quando aumentar). Diz-se que B se atrasa com relação a H. Esta característica dos materiais ferromagnéticos é conhecida como histerese. A curva normal de magnetização é obtida (figura 1.2b) através da união das extremidades (pontos dos laços de histerese) de uma família de laços de histerese. Definições: Para um laço de histerese estabilizado, com simetria cíclica, pode-se definir: Remanência (Br) - é a densidade residual de fluxo, obtida para força magnetizante nula; seu valor máximo é conhecido como retentividade. Coercitividade (Hc) - é o valor da força magnetizante necessária para levar a densidade de fluxo a zero. A área do ciclo de histerese corresponde à energia dissipada por unidade de volume do material magnético durante o ciclo. As análises em que os fenômenos de histerese são relevantes, apresentam extrema dificuldade, é o caso por exemplo de máquinas de ímã permanente e máquinas de histerese. A característica típica B-H para um ímã metálico permanente, comum, é apresentada na figura 1.3(a) (Alnico V: 51% Fe, 24% Co, 14% Ni, 8% Al, e 3% Cu). Observa-se que embora a forma geral desta característica seja similar à dos materiais magnéticos doces (fig. 1.3(b)), a força Conversão de Energia 11 coercitiva é da ordem de 1000 vezes maior, já a densidade residual é da mesma ordem de magnitude da dos materiais doces. B [Wb/m2] 1.25 B [Wb/m2] ~ 2.0~ de 15 a 100 H [A esp/m] H [A esp/m] 50000 a) material magnético permanente (duro) b) material magnético macios (doces) Figura 1.3 - Densidades de fluxo magnético B versus intensidade de campo H. Materiais que apresentam alto valor de Br (materiais retentivos) são empregados na confecção de ímãs permanentes. Quanto maior for a indução residual, menor será a seção necessária para o ímã; quanto maior o campo coercitivo, menor poderá ser o seu comprimento. Os materiais magnéticos conhecidos como ferrites são não-metálicos e, portanto, tem resistividade elétrica muito alta. A densidade residual de magnetos de ferrites é somente cerca de 0.2 a 0.4 Wb. Forças coercivas excepcionalmente altas, da ordem de 200.000 ampères/metro, podem ser obtidas. Quando a densidade residual tiver sido estabelecida em tal material, uma energia da ordem de 60.000 joules/m3 de material é necessária para removê-la. Os magnetos feitos destes materiais são, portanto, particularmente estáveis. Os materiais magnéticos destinados às máquinas elétricas geralmente são submetidos a fluxos variáveis e por isto devem ter área pequena no ciclo de histerese a fim de reduzir as perdas de histerese. São utilizados, portanto, nestes casos, os materiais magneticamente moles (macios) os quais apresentam baixa força coercitiva (valor de H para o qual B é zero). O material magnético mais comumente utilizado em máquinas e transformadores é uma liga de ferro com uma pequena quantidade de silício (≅ 3.5%) isto pela fato de se ter observado que a introdução de silício no ferro nestas porcentagens, pode não só melhorar as características magnéticas do material (menor ciclo de histerese) como também aumentar a resistividade elétrica com conseqüente redução das perdas de Foucault (para o ferro puro ρ = 10–7 Ω m, a adição de 4% de silício aumenta ρ para 6 ×10–7 Ω m). O uso de técnicas especiais de laminação permite a obtenção de lâminas de material magnético nas quais os cristais estão orientados ao longo da direção de magnetização desejada. Esses materiais comercialmente disponíveis na forma de chapas finas, também conhecidas por chapas de grãos orientados, têm propriedades magnéticas superiores quando o campo magnético é alinhado na direção de laminação das chapas. Para os materiais magneticamente moles a curva média, também conhecida por curva de magnetização, não se afasta muito das curvas do laço de histerese. Admite-se em geral como hipótese que as perdas por histerese são desprezíveis e a característica do material é a curva média. Se os antecedentes históricos de um material magnético não são relevantes para o estudo em questão, então todos os cálculos práticos do circuito magnético podem ser realizados usando a curva normal de magnetização. Conversão de Energia 12 1.3.2.1 Mudança de escala da curva normal de magnetização (CNM) Muitas vezes torna-se necessário a representaçãoda CNM em outras escalas, pois isto permite a resolução de problemas onde a não linearidade deve ser levada em conta. Por exemplo, se a ordenada da característica B-H é multiplicada por N S e a abcissa por l/N, a característica λ-I é obtida. Também multiplicando a ordenada por B S e a abcissa por l, obtém-se a característica φ-ℑ. Deve-se salientar que estas só se aplicam nas situações onde se pode supor haver uniformidade do campo magnético. 1.3.3. Modelos Aproximados para Características B-H: Várias aproximações simples e úteis poderão ser obtidas se o efeito de histerese no material for desprezado. Conforme citado no item 1.3.2, a maioria dos materiais empregados em máquinas e transformadores são os magneticamente mole, para os quais a aproximação usada é a curva normal de magnetização (figura 1.2b). Esta curva é o lugar geométrico dos vértices de um conjunto de trajetórias de histerese (figura 1.2a). Várias técnicas são aplicadas na análise, as quais envolvem a curva normal de magnetização (CNM): método numérico, linearização (inclusive que preservam o efeito de histerese) e não lineares, nos quais se trabalha com as curvas de magnetização fornecida pelo fabricante. A - Método Numérico: Exemplo: Considere o circuito da figura 1.4a no qual E é uma tensão constante aplicado à uma bobina em t = 0. A bobina é representada por sua resistência R e pelo fluxo concatenado λ versus a curva de corrente i (figura 1.4b) Deseja-se a i(t). e =dλλλλ / dt + - R i i λλλλ λλλλ 1 λλλλ 2 t λλλλ i λλλλ 1 λλλλ 2 ∆∆∆∆ t 2∆∆∆∆ t iλλλλ a) circuito b) curva λλλλ - i c) fluxo concatenadoλλλλ(t) e i(t) E i1 Figura 1.4 - Método numérico de análise. E = Ri + dλ/dt. Para t = 0 → i = 0 e = dλ /dt = E, quando t = 0 e i = 0 Admitindo que dλ/dt permanece aproximadamente constante para um ∆t: λ1 ≅ E ∆t Da curva λ-i obtém-se i1. A inclinação da curva λ-t, para t = ∆t, pode agora ser determinada como: 1 tt iRE dt d −= λ ∆= A seguir determina-se λ2: tt 12 dt d t ∆= λ∆+λ=λ A repetição continuada deste cálculo resulta nos elementos para as curvas de λ e i, como funções do tempo (figura 1.4c). Este método numérico de solução é simples e adequado a muitos sistemas não lineares. Conversão de Energia 13 B - Linearização por partes da CNM. Em muitas análises, a CNM, pode ser representada adequadamente pela fig. 1.5 Bk Hk B H inclinação µµµµsµµµµ0 inclinação µµµµnµµµµ0 para: -Bk < B < Bk Ln= λλλλ / i = N 2 S µµµµnµµµµ0 / l [H] para: | B | > Bk Ls= λλλλ / i = N 2 S µµµµsµµµµ0 / l [H] onde: Ln - indutância não saturada Ls - indutância saturada l - comprimento médio da trajetória de fluxo N - número de espiras. -Bk Figura 1.5 - Linearização por partes da curva B-H. Para dt id LiReII dt id LiRe N lH II s k n k k += →≥ +=→=≤ A solução de ambas equações, nos respectivos intervalos (ver exemplo 1.4), são exponenciais simples. Outras linearizações deste tipo são apresentadas na figura 1.6(a) e (b). A da figura 1.6(a) é útil na análise de equipamentos que operam longe da região saturada da curva B-H (reatores saturáveis), e a figura 1.6(b), nas situações onde a indutância saturada Ls é desprezível, em relação aos outros parâmetros do sistema que está sendo analisado. Bk B H inclinação µµµµsµµµµ0 -Bk Bk B H inclinação zero -Bk a) µµµµn = oo b) µµµµn = o ,µµµµs = 0o Figura 1.6 - Linearização da curva normal de magnetização. C - Linearização em torno do ponto de operação: Quando o material fica sujeito a um campo magnético constante a permeabilidade do material é uma função da densidade de fluxo. A permeabilidade incremental é a tangente a curva B-H calculada no ponto de operação, figura 1.7 Conversão de Energia 14 H B H1 B1 ∆∆∆∆H1 ∆∆∆∆H2 ∆∆∆∆B2 ∆∆∆∆B1 B2 H2 1 1 01B 01H 1 H B lim ∆ ∆=µ →∆ →∆ 2 2 02B 02H 2 H B lim ∆ ∆ =µ →∆ →∆ Figura 1.7 - Permeabilidade variável de um material ferromagnético. Ex. 1.3: Considere a curva B-H para o aço fundido, figura 1.8. Obtenha uma aproximação para a curva e comente sobre as discrepâncias. 1.1 1.0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 H [A/m] B [T] curva B-H aproximação linear (inclinação =µr µ0 ) Figura 1.8 - Aproximação da curva de magnetização para o aço fundido. A aproximação é aceitável para valores de B de até 0.9 T. Acima deste valor, as imprecisões da aproximação que seriam introduzidas em qualquer cálculo tornar-se-iam sérias. Dentro de uma faixa linear aceitável, a curva B-H seria descrita pela relação B = µ r µ0 H = µ H [T]. O valor de µ r para o exemplo seria de aproximadamente 1350. Ex. 1.4(ilustrativo): Como exemplo de análise linear por partes, consideremos o circuito da figura 1.9, um circuito RL, em que a resistência é linear, mas a indutância não. Sendo a indutância definida por: L = N dφ/dt = dλ/dt (auto-indutância é a taxa de variação das linhas de fluxo com relação à corrente) Somente quando dφ/dt é constante e independente de φ ou i, a indutância será constante, e a equação acima será linear. Conversão de Energia 15 L + - R i a) circuito RL não-linear V fmm(NI )1 (NI )2 φφφφ 0 φφφφ 1 φφφφ 2 φφφφ A B b) curva normal de magnetização linearizadas por parte CH Figura 1.9 - Circuito magnético não linear, submetido a análise linear por partes. Considerando que a curva normal de magnetização possa ser aproximada por duas regiões lineares A e B, com inclinação aproximadamente constante, define-se duas indutâncias: - Na região A: 1 12 A NI NL )( φ= - Na região B: 12 122 B ININ NL )()( − φ−φ= No instante t = 0 fecha-se o interruptor. Para o circuito RL linear, a equação diferencial linear do circuito seria (fmm < (N I )1) ViR dt di L =+ (I) Na região A a solução da equação diferencial seria: −= − tL R Ae1 R V i (II) Se, por outro lado, a corrente de regime estacionário i = V/R resulta uma fmm > (N I )1, então a solução da equação (I) deve considerar que inicialmente L = LA, mas varia para LB quando N I torna-se maior que (N I )1. A solução aproximada pode ser determinada em dois passos. i) Na região A (conforme eq. (II)): −= − t L R Ae1 R V i 0 < t < t1 (III) Para obtermos t1 (tempo necessário para i atingir um valor I1 = (N I )1/N), fixamos i = I1 na equação (II), e resolvemos para t = t1: Conversão de Energia 16 V RI 1e e1 R V I 1 t. A L R 1 t A L R 1 1 −= −= − − ou −−= −=− V RI 1ln R L t V RI 1lnt L R 1A 1 1 1 A ou (IV) Onde t1 é o tempo necessário para o fluxo no indutor aumentar de zero para φ1, ou para aumentar a fmm de zero para (N I )1. ii) Encontrar i para t > t1. Faz-se i = I1 + id. Rescrevendo-se a equação (I): ( ) 1d d B 1 d d1B IRViR dt di L I dt di dt di ViIR dt di L −=+ ==++ cte) é que (já:Onde , Cuja solução é: ( )( )'tBLR1d e1R IRV i −−−= Onde t' = t – t1 e i = I1 + id ( ) ( )( ) 1 1 tt B LR 1 't. B LR 11 tt R V e R V Ii e1.I R V Ii ≥+ −= − −+= −− − ; (V) Portanto, para a região A se aplica a equação (III); na região B, se aplica a equação (V). O tempo t1, expresso na equação (IV), é a linha divisória entre as duas regiões. A figura 1.10 apresenta i × t para o circuito da figura 1.9(a). A descontinuidade existenteem t1 (interseção das equações (III) e (V)), é produzida pela descontinuidade na curva de magnetização, a qual é resultante da aproximação linear por partes para a curva de magnetização. A B I1 V/R i tt1 Figura 1.10 - Corrente ×××× tempo para o circuito RL não linear da figura 1.9b. Conversão de Energia 17 Ex. 1.5: O circuito magnético da figura 1.11(a), tem dimensões An = 9 cm 2, Ag = 9 cm2, lg = 0.05 cm, ln = 30 cm, N = 500 espiras. A curva normal de magnetização é dada na figura 1.11(b). Calcular a corrente i para Bn = 1 Wb/m 2. H [Aesp/m x (102)] 2.2 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0.1 1.0 10 100 1000 B [Wb/m 2] (b) curva normal de magnetização para o aço M-19 processado, bitola 29. i e + N Hn (a) circuito magnético equivalente lg ln Figura 1.11 - Circuito magnético e curva de magnetização do exemplo 1.5. O valor de Hn para B = 1 Wb/m 2 é obtido da figura 1.11(b) como: Hn = 160 A/m A ℑn para o percurso no núcleo é: ℑn = Hn ln = 160×0.3 = 48 A A ℑg para o entreferro é: ℑg = Hg lg = A396 104 105lB 7 4 0 gg = ×π ×= µ − − A corrente resulta: N i = ℑg + ℑn → i = 444/500 = 0.89 A Se considerarmos a curva linearizada, da mesma forma que na figura 1.8, tem-se que: 6.49731025.6 0160 01 H B r 3 n =µ→×=− −= ∆ ∆=µ − N i = Hn ln + Hg lg → g gg n nn lBlBiN µ + µ = Como φ = BnAn = BgAg, a corrente será dada por: A892.0l l N B i g r n 0 n ≅ + µµ = Note que a relutância do caminho de 30 cm no ferro é apenas 0.6/5.0 = 0.12 da relutância do entreferro de 0.05 cm. 1.3.4. Modelos Lineares que preservam o efeito de Histerese: Útil nos casos de equipamentos (máquinas de ímã permanente e máquinas de histerese) cuja operação depende da propriedade de histerese do material magnético. A análise destes equipamentos também pode ser realizada pelo uso de métodos de linearizações por partes (figura 1.12). Conversão de Energia 18 B HHc Br inclinação =µµµµsµµµµ0 inclinação =µµµµnµµµµ0 Figura 1.12 - Trajetórias de histerese e um modelo linearizado aproximado das trajetórias (material magnético doce). A trajetória externa pode ser aproximada por quatro linhas retas, duas das quais têm inclinação µrµ0, e as outras duas, uma inclinação µsµ0. As aproximações são razoavelmente precisas, exceto nos vértices das trajetórias. As áreas envolvidas pela trajetória real e seu modelo linearizado podem ser feitos aproximadamente iguais, por uma escolha conveniente do modelo, resultando num que tenha a mesma perda por histerese que a trajetória real. Pelo uso de técnicas especiais de laminação, pode-se produzir lâminas de material magnético nas quais os cristais estão orientados ao longo da direção de magnetização desejada. Nestes materiais magnéticos de grãos orientados (figura 1.13), os lados da trajetória são essencialmente verticais, e as porções saturadas aproximam-se de uma inclinação incremental µ0. B [T] H [A/m] 10-10-20 20 1.6 0.8 0.4 1.2 -0.4 -1.2 -1.6 -0.8 Figura 1.13 - Densidade de fluxo magnético B versus intensidade de campo H, para 50% de ferro e 50% de níquel na composição do núcleo (deltamax). Ex. 1.6 (ilustrativo): Suponha que um indutor tem uma característica idealizada de histerese como a apresentada na figura 1.14(a). Considere como ponto de partida, o ponto A, onde i = 0 e φ = –1. Com a forma de onda para corrente dada pela figura 1.14(b), determine a tensão v no indutor. Observa-se que | i | > 3 � φ permanece constante, | i | < 3 � φ pode assumir dois valores para cada i. Para se obter a tensão no indutor, basta derivar a função φ(t), a qual, por sua vez, é obtida, facilmente, observando a forma de onda para i e a característica φ × i para o Conversão de Energia 19 material. Esta espécie de idealização e cálculo era usada comumente na análise de amplificadores magnéticos e alguns circuitos de computador. φφφφ [Wb] I [A] 4 8 12 16 20 24 t [s] t [s] t [s] φφφφ [Wb] v [V] -3 -2 -1 1 2 3 A -1 1 i [A] 4 3 2 1 -1 -2 -3 -4 1 -1 -1 1 1 3 9 11 17 19 1 3 9 11 17 19 (a) (b) (c) (d) Figura 1.14 - a) Curva Característica; b) Forma de Onda de i(t); c) Forma de Onda de φφφφ(t); d) Forma de onda de v(t). Conversão de Energia 20 1.4. Circuitos Magnéticos (Não Linear) No item 1.2 fez-se uma introdução aos circuitos magnéticos lineares (no caso toróide) nos quais uma expressão simples relaciona o fluxo com a fmm através da relutância (equação 1.7) e que era conhecida como a lei de Ohm para circuitos magnéticos. Em máquinas elétricas, transformadores, reatores, instrumentos de medição, etc., é utilizado material magnético de diversos tipos e formas. Várias partes de uma estrutura magnética ramificada são envolvidas por bobinas. Os circuitos ferromagnéticos não são lineares porque a permeabilidade do meio é variável e é função da densidade de fluxo magnético na estrutura. Uma aplicação direta da lei de Ohm é impraticável, porque a relutância é uma função da densidade de fluxo. Basicamente os cálculos envolvendo circuitos magnéticos com materiais ferromagnéticos se dividem em duas classes: i - Na primeira, o valor do fluxo é conhecido e se deseja encontrar a f.m.m. necessária para produzi-lo. Esta é a situação típica do projeto de conversores eletromecânicos (de energia), em corrente contínua ou alternada. Com base na tensão nominal desejada para um gerador ou no torque nominal de um motor elétrico a informação sobre o fluxo magnético necessário é prontamente obtida. Então, com o conhecimento deste e da posse da configuração magnética, a fmm total, necessária para se obter o fluxo, pode ser determinada. ii - Na segunda, conhece-se a fmm e o sistema magnético (geometria) e deseja-se obter o fluxo. Uma aplicação típica é em amplificadores magnéticos (são conexões de elementos magnéticos saturáveis e retificadores, usados para controlar o fluxo de potência entregue a uma carga), onde freqüentemente é necessário encontrar o fluxo magnético resultante produzido por um ou mais enrolamentos de controle. Dois sistemas magnéticos típicos e suas correspondentes representações em circuitos magnéticos, são apresentados na figura 1.15. Basicamente têm-se um problema complexo de campo tridimensional. Mas, pelo uso de suposições simplificadoras, o sistema magnético pode ser substituído por circuitos magnéticos. Estas suposições seriam: a) Sua configuração geométrica é simétrica a certos eixos ou planos, de tal forma que se pode representá-lo, como primeiro passo, por um diagrama esquemático (figura 1.15(b) e (b’)). b) Admite-se que, exceto no entreferro, todo o fluxo magnético está confinado ao material magnético, ou seja, o fluxo de dispersão (φd) é considerado desprezível. Conversão de Energia 21 Bobina de excitação Núcleo ferromagnético Núcleo ferromagnético Bobina de excitação φφφφm φφφφd IIII armadura (ferromagnética) entreferro1 φφφφm φφφφd pivô IIII entreferro2 comprimento médio da trajetória magnética, lmφφφφm φφφφd IIII área A φφφφm + RRRRFFFF =NI Relutância variável fmm φφφφd φφφφm pivô entreferro1 entreferro2 IIII seção transversal do núcleo seção transversal da armadura mφφφφ + FFFF =NI RRRRe2 RRRRe1 Relutância do entreferro 2 Relutância do entreferro 1 RRRRa Relutância da armadura =fa(Ba) RRRRc=fc(Bc) Relutância do núcleo fmm ( a ) Estrutura magnética de um reator ou transformador ( a' ) Estrutura magnética de um rele eletromagnético ( b ) Diagrama esquemático da estrutura magnética acima ( b' ) Diagrama esquemático da estrutura magnética acima ( c ) Representação do dispositivo por meio de um circuito magnético ( c' ) Representação do dispositivo por meio de um circuito magnético Figura 1.15 - Sistemas magnéticos típicos.Nem sempre se pode considerar o fluxo de dispersão como sendo desprezível. Cada problema deverá ser examinado para se ter uma avaliação apropriada. É difícil expressar-se o fluxo de dispersão em termos matemáticos exatos, uma vez que as trajetórias que este fluxo percorre são, em geral, de difícil determinação. A título de informação, a desconsideração do fluxo de dissipação introduz erros da ordem de 10% no número total de ampères-espiras calculadas. O valor deste erro depende de quão próximo da saturação está a substância magnética. Na prática o projetista baseia-se principalmente na sua experiência, para efetuar a sua estimativa. Quando não se dispõe de experiência prévia (ex. uma estrutura ainda não conhecida) a saída é construir-se um modelo, e medir o fluxo de dispersão. Observa-se que o fluxo de dispersão embora não seja útil de nenhum modo, terá de ser transportado pelo material magnético e com isso, poderá acarretar saturação do meio e, consequentemente, introduzir um grande erro no cálculo do número de espiras necessárias para o circuito. Quando deseja-se considerar o fluxo de dispersão, faz-se uso de fórmulas empíricas. 1.4.1. Métodos de Análises de Circuitos Ferromagnéticos Hipóteses assumidas: a) A densidade de fluxo em qualquer seção transversal da estrutura pode ser considerada uniforme, ou seja, φ = B × A. Conversão de Energia 22 b) O comprimento médio da trajetória magnética pode ser usado em todos os cálculos. c) A equação (1.5) pode ser usada para calcular a fmm total requerida para estabelecer uma quantidade específica de fluxo no circuito magnético. Ex.: Na figura 1.15(b): fmm = N I = Hln Na figura 1.15(b’): fmm = N I = Hclcm + Halam + He1le1m + He2le2m (1.12) Em geral, ter-se-á: ℑ = N I = ∑ j jmj lH (1.13) Observa-se que ℑ = H l quando a intensidade de campo H é uniforme no trecho de comprimento l. A equação (1.13) é análoga a lei de tensão de Kirchhoff para circuitos elétricos. Em termos de quantidades magnéticas segue. “Em um circuito magnético, a soma algébrica dos potenciais magnéticos em um percurso fechado é igual a zero” ou “Em um circuito série fechado, a soma das elevações de potencial é igual a soma das quedas de potencial”. d) Considerando-se uma região (numa estrutura magnética) onde os fluxos magnéticos de várias partes se combinam (figura 1.16 abaixo): superfície S infinitamente pequena ao redor de P ΦΦΦΦ1111 ΦΦΦΦ3333 ΦΦΦΦ2222 P S Figura 1.16 - Figura mostrando a continuidade das linhas de fluxo em uma união de uma estrutura magnética. 0Sd.BS =∫ rr (1.14) Ou seja, que a soma dos fluxos que entram é igual a dos que saem. A equação (1.14) é análoga a lei de Kirchhoff para correntes, nos circuitos elétricos. Os fluxos de dispersão são considerados desprezíveis na equação (1.14). 1.4.2. Derivação de Circuitos Elétricos Equivalentes Um circuito magnético equivalente, tal como o que é apresentado nas figuras 1.15(c) e 1.15(c’), é mais útil na análise e projeto de um equipamento. Contudo, se o equipamento for conectado a outros elementos elétricos, será desejável ter um circuito equivalente para o equipamento, do qual as relações entre as tensões e correntes terminais podem ser obtidas diretamente. Conversão de Energia 23 No circuito elétrico equivalente, as variáveis são a tensão e, entre os terminais da bobina, e a corrente i, na bobina. De acordo com a lei de Faraday, se o campo magnético varia com o tempo, produz-se um campo elétrico E no espaço dado pela equação: ( )∫=∫ S dS.Bdt d dl.E (1.15) Onde a integral de linha é calculada ao longo do contorno da superfície aberta atravessada por B. A unidade de E é Volt/metro [V/m]. A lei de Faraday e a lei de Lenz podem ser combinadas, e o resultado pode ser expresso, matematicamente, por: ( ) ( ) dt d dt Nd te λ−=φ−= (1.16) O sinal negativo corresponde à convenção para gerador, ou seja, e(t) é considerado uma fonte de tensão (*). Uma elevação de tensão e se opõe, em cada instante de tempo, à variação da tensão. Eliminando-se o sinal negativo, está-se considerando que a tensão induzida é uma queda de tensão. Para circuitos lineares (onde o µ é constante ou para aqueles em que há predominância do entreferro): i N i L φ=λ= (1.17) Que expressa em grandezas de campo: PN N l SN lH SBN L 2 222 = ℜ =µ== (1.18) ( )iL dt d e iN dt dN dt d e 2 =∴ ℜ = ℜ ℑ= (1.19) Para circuitos magnéticos como os das máquinas, a indutância pode ser variável no tempo, e a equação (1.19) fica: dt dL i dt di Le += (1.20) Para circuitos magnéticos estáticos a indutância é fixa, e a equação se reduz à forma bem conhecida para circuitos: dt di Le = (1.21) (*) Da lei da indução magnética na forma da equação (1.16), conclui-se que, para se obter uma fem de sentido constante, é necessário que o fluxo varie num só sentido. Criar uma variação contínua de fluxo num sentido único, ao longo do tempo, é impossível e, por conseguinte, é impossível obter uma fem contínua, meramente à custa da variação da indução eletromagnética, sem comutar o circuito. Daí a impossibilidade, por princípio, de construir uma máquina de corrente contínua sem coletor. Conversão de Energia 24 Portanto, o parâmetro ℜ relutância, no circuito magnético, é substituído por um parâmetro L de indutância no circuito elétrico equivalente. O valor da indutância é inversamente proporcional ao valor da relutância. Como visto anteriormente, se o parâmetro ℜ não for constante, ele pode ser representado por uma curva relacionando ℑ e φ. A indutância não linear correspondente pode ser representada por uma curva relacionando o fluxo concatenado λ com a corrente i. Aproximações, como as apresentadas nas figuras 1.4(b), 1.6, 1.8, 1.12 e 1.14, podem ser usadas para esta relação, onde forem apropriadas. A transformação de um circuito magnético em um elétrico equivalente não será aqui apresentada com muito rigor, apenas com um simples exemplo. Ex. 1.7: Indutor com núcleo de dois materiais diferentes, figura 1.17 φφφφ + R 1 R 2 + + fator N ( a ) Núcleo FFFF λλλλ=Nφφφφ + + + R1 N 2 R2 N 2 1 L1 1 L2 = = N + + L2 I + L2v = e ( b ) Circuitos magnéticos ( c ) Circuito elétrico equivalente FFFF = N I2 1 φφφφ ++ v e I Figura 1.17 - Transformação: circuito magnético em circuito elétrico. dt d L 1 L 1 dt di L 1 L 1 NN iiN iN 21 21 2 2 2 1 21 2 2121 λ += λ+λ= λℜ + λℜ =λℜ+λℜ= φℜ+φℜ=φℜ+φℜ=ℑ Ex. 1.8: No sistema magnético apresentado na figura 1.18a, empregar a curva de magnetização da figura 1.18b para determinar: a) A corrente da bobina, necessária para produzir um fluxo total φ = 0.25×10–3 Wb. b) A relutância de toda a trajetória de fluxo. c) A permeabilidade relativa µ r, para cada material, nestas condições. d) A relutância de cada parte, núcleo de ferro fundido e de aço fundido do sistema magnético. Conversão de Energia 25 B [ tesla ] ferro fundido aço fundido chapa de aço laminado padrão M36 29 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 500 15001000 25002000 3000 H [ A/m ] ( b ) curva de magnetização( a ) sistema magnético dimensões em mm ( c ) circuito magnético equivalente aço fundido ferro fundido Bf Ba 100 30 25 25 25 12.5 25 N = 500 II φφφφ φφφφ + RRRRf RRRRa + +FFFF = N I Figura 1.18 - Sistema magnético de dois materiais diferentes, ex. 1.8. Considere o fluxo de dispersão desprezível. a) O sistema magnético pode ser representado pelo circuito magnético equivalenteda figura 1.18(c), onde ℜf é a relutância do ferro fundido e ℜa é a do aço fundido. Assume-se que a densidade de fluxo é uniforme em cada parte do sistema e, consequentemente, H também será uniforme em cada parte. Então pela lei circuital de Ampère: [ ]A INlHlHld.H aaff =+=∫ rr O valor de H necessário para produzir 0.25×10–3 Wb em cada parte, deve ser determinada: Af = 25×25×10–6 m2 Aa = 12.5×25×10–6 m2 Te T 8.0 105.312 1025.0 A B 4.0 10625 1025.0 A B 6 3 a a6 3 f f = × ×=φ== × ×=φ= − − − − Assim, da figura 1.18(b), Hf = 710 A/m e Ha = 480 A/m. ( ) m mmm 3 a f 1030l 2425.05.242 2 252 2 5.1225 10022580l −×= ==×+ +−+−= A 373.0 500 10304802425.0710 N lHlH I 3 aaff =××+×= + = − Conversão de Energia 26 b) A/Wb3 3 10746 1025.0 73.0500IN ×= × ×= φ = φ ℑ=ℜ − c) µ==µµ H B 0r 448 710104 4.0 7rf = ××π =µ − , portanto, o ferro fundido é 448 vezes mais eficiente que o ar na produção de um campo magnético desta densidade de fluxo (B). 1330 480104 8.0 7ra = ××π =µ − , e o aço é mais eficiente que o ferro fundido. d) A/Wb3 627 f0rf f f 10690 1025104448 2425.0 A l ×= ×××π× = µµ =ℜ −− A/Wb3 67 2 a0ra a a 107.57 105.12251041330 103 A l ×= ××××π× ×= µµ =ℜ −− − Teste: ( ) ℜ=×=×+=ℜ+ℜ 33af 107481058690 Observa-se que o ferro necessita de uma fmm bem maior que a do aço para fazer fluir o fluxo, o que se deve a baixa permeabilidade do ferro. 1.4.2.0 Efeito do Entreferro em Circuitos Ferromagnéticos São bastantes comuns os circuitos magnéticos com pequenos entreferros de ar, os quais ou são inerentes, ou são introduzidos intencionalmente. Ex.: no caso do relé da figura 1.15 é obvio que o entreferro 1 é necessário e introduzido intencionalmente, já o entreferro 2 é inerente à construção do relé, sendo introduzido pela presença do pivô. Outro exemplo é o dos entreferros intencionais nos indutores de núcleo de ferro de grande indutância. Para se obter uma grande indutância, é necessário o núcleo ferromagnético, porém, pequenos entreferros são introduzidos intencionalmente para obter-se uma indutância pouco sensível às mudanças de corrente na bobina de excitação. A introdução de entreferros ocasiona o espraiamento do fluxo, de modo que a área efetiva de fluxo no entreferro é maior do que a área do núcleo adjacente, este seria o efeito marginal. Também, a sua presença ocasiona o fluxo de dispersão, devida a alta diferença de potencial magnético que pode existir, fluxo este, que não passará através do entreferro. O efeito marginal faz com que B no entreferro seja menor que o do material ferromagnético, visto que sua área efetiva seria maior. O cálculo desta área é muito difícil, e na prática, faz-se uso de fórmulas empíricas, as quais fornecem um resultado satisfatório, caso o comprimento do entreferro seja inferior a 15% ou 20% das dimensões da seção transversal do núcleo ferromagnético no entreferro, e se suas faces opostas são paralelas. 1. Considerando o núcleo de seção reta retangular, com dimensões a e b: a b le espraiamento Conversão de Energia 27 ( )( )eee lblaA ++= (1.22) Obs: Se o fluxo total no entreferro é conhecido, pode-se obter He e Hele diretamente: e0 e ee e0 e A l lH A 1 H µ φ = φ µ = 2. Se os lados opostos do entreferro são paralelos, porém tem diferentes dimensões em sua seção transversal, a área efetiva será dada por: ( )( )eee l2bl2aA ++= (1.23) Onde a e b são as dimensões da seção transversal da face menor. Para seções transversais circulares como no primeiro caso, o diâmetro é incrementado pelo comprimento do entreferro, e no segundo, o diâmetro da seção menor é incrementado pelo dobro do comprimento do entreferro. Em muitos sistemas magnéticos bem projetados a relutância do material do núcleo é pequena quando comparada ao do entreferro, e o problema se reduz a um simples cálculo envolvendo somente as relutâncias do entreferro. Desde que a permeabilidade do ar é uma constante, estas relutâncias são independentes do fluxo, e a solução pode ser obtida diretamente. Contudo, se a relutância do núcleo é apreciável, a não-linearidade entre φ e µ torna a solução um pouco mais complicada, exigindo na análise as curvas características do material do núcleo. Ex. 1.9: Determine o número de ampères-espiras requerida para produzir um fluxo de 0.5×10–3 webers em um núcleo toroidal de seção transversal 10 cm2 e comprimento médio 30 cm. Um entreferro de 3 mm é efetuado no núcleo, e o material do núcleo é aço silício. B [ W b/ m 2 ] H [A/m] Obs: - a saturação é indicada pela semelhança entre as curvas do material e a do ar. - a escala logarítmica é utilizada para a abcissa quando deseja-se apresentar uma grande variedade de curvas de materiais magnéticos. Figura 1.19 - Curva de magnetização aço-silício e do ar. Conversão de Energia 28 Desprezando o espraiamento no entreferro, a relutância do entreferro torna-se: /WbA esp 6 37 7 e0 e e 1038.2 10104 103 A l ×= ××π ×= µ =ℜ −− − , e a fmm necessário ao entreferro: espA 336 e 1019.1105.01038.2 ×=×××=φℜ=ℑ − Para o núcleo, utiliza-se a curva da figura 1.19; a densidade de fluxo no núcleo é: 2Wb/m5.0 10 105.0 A B 3 3 n n = ×=φ= − − , da curva de magnetização, a intensidade de campo requerida é: Hn = 70 Aesp/m. A fmm requerida pelo núcleo é: ( ) espA 8.20003.03.070lH nnn =−==ℑ . A fmm total requerida para produzir o fluxo desejado é: ℑ = ℑe + ℑn =1210 Aesp. Note que neste caso a fmm requerida pelo núcleo (ou a relutância do núcleo) é desprezível quando comparada com a requerida pelo entreferro. Contudo, se o fluxo no núcleo for de 1.5×10–3 Wb, a solução seria consideravelmente diferente. Desde que a relutância do entreferro é constante, a fmm requerida pelo entreferro torna-se: ℑe = ℜeφ = 2.38×106×1.5×10–3 = 3570 Aesp, ou 3 vezes o valor original. O núcleo, contudo, está muito próximo da saturação. Uma densidade de fluxo de 1.5 Wb/m2 exige uma intensidade de campo: Hn = 2.8×103 Aesp/m E a fmm torna-se: ℑn = 2800(0.3 – 0.003) = 830 Aesp Note que agora o núcleo requer uma proporção da fmm total muito maior do que a anterior. A fmm do núcleo aumentou de 40 vezes, enquanto que a do entreferro, apenas 3 vezes. Este tipo de comportamento é típico de materiais ferromagnéticos. 1.4.2.1. Efeito de linearização devido a presença de Entreferro A curva de magnetização para circuitos magnéticos com entreferro é muito diferente das de circuitos sem entreferros. Isto se deve à baixa relutância apresentada por materiais ferromagnéticos de alta permeabilidade, quando submetidos a baixas densidades de fluxo. Claramente, a forma da curva para baixas densidades de fluxo é principalmente determinada pelo entreferro, e portanto, é uma linha reta. Já para altos valores de fluxo, o núcleo torna-se um fator significativo, e a curva aplana-se ou satura. A importância do entreferro é ilustrado na figura 1.20, que foi plotada para o núcleo do exemplo 1.9. As curvas de magnetização para o entreferro, para o núcleo, e para o circuito combinado, são apresentados com o intuito de comparação. Observe como a característica do entreferro é dominante para valores de fluxo abaixo de 1×10–3 weber (densidade de fluxo menor que 1 Wb/m2). Isto é típico de todos os circuitos magnéticos contendo entreferros. Conversão de Energia 29 Somente o núcleo entreferro de 3 mm entreferro de 6 mm núcleo + entreferro fmm [ A-esp ] 2000 4000 6000 8000 10000 0.4 0.8 1.2 1.6 2.0 0 B [ W b/ m 2 ] Figura 1.20 - Curvas de magnetização de um núcleo toroidal de um aço-silício de comprimento médio 30 cm, e seção transversal igual a 10 cm2. Ex. 1.10 (ilustrativo):A figura 1.21 mostra a seção transversal de um sistema magnético de uma máquina de corrente contínua tirada em ângulo reto ao eixo do rotor. Em cada um dos quatro pólos do estator existe uma bobina de 500 espiras; e uma vez que estas estão conectadas em série, conduzem a mesma corrente. Os pólos do estator são feitos de muitas lâminas de chapas de aço M-36 (espessura: 0.356 mm); eles têm 100 mm na direção radial, 90 mm circunferencialmente, e 110 mm axialmente (ou seja, perpendicular ao plano da figura). O rotor também é de chapas de aço e diâmetro igual a 200 mm. O comprimento axial efetivo do rotor é o mesmo dos pólos do estator. O núcleo do estator é de aço fundido e tem um diâmetro médio de 460 mm e uma seção transversal de 150×60 mm. Os entreferros são de comprimento igual a 1.5 mm. Obs: o M-36 é uma designação AISI (American Iron and Steel Institute) para determinadas chapas de aço-silício, e está relacionada à máxima perda no núcleo. O prefixo M significa que é um material para aplicações magnéticas; o número que aparece em seguida está relacionado com a perda no ferro. a) Desenhar o circuito magnético equivalente para este sistema. O circuito magnético equivalente é apresentado na figura 1.22. Esta inclui apenas dois dos pólos de campo. Os subscritos p, e, r e s indicam, respectivamente: pólos, entreferro, rotor e estator. b) Empregando as curvas da figura 1.23, determine a corrente na bobina necessária para produzir uma densidade de fluxo de 1,0 tesla no entreferro. As permeabilidades relativas das ferromagnéticas do sistema não são conhecidas e serão, em todo o caso, funções da densidade de fluxo. Contudo, a lei circuital pode ser aplicada a um dos caminhos, indicados pelas linhas, da figura 1.21. Então, para qualquer um dos caminhos indicados na figura 1.21: ∫=∫ Ad.Jld.H rrrr (1) Isto é, Conversão de Energia 30 N N SS φφφφ φφφφφφφφ φφφφ φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2 bobinas de campo entreferro pólo do estator ( chapas de aço M36 ) estator ( aço fundido ) eixo rotor ( chapas de aço ) Figura 1.21 - Seção transversal da máquina do exemplo 1.10. RRRRp FFFF FFFF RRRRp RRRRe RRRRe RRRR RRRR r RRRR r RRRR r RRRR r φφφφ φφφφ φφφφ φφφφ φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2 φφφφ /2/2/2/2 s φ/2φ/2φ/2φ/2 φ/2φ/2φ/2φ/2 Figura 1.22 – Circuito magnético equivalente. Conversão de Energia 31 ferro fundido aço fundido chapa de aço M36-29(bitola) B [T] H [A/m] 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 500 1000 1500 2000 2500 3000210 Figura 1.23 - Curva de magnetização. IN2lH2lHlH2lH2 ssrreepp =+++ (2) Supondo que não há espraiamento (efeito de borda) no entreferro, a área da seção transversal no caminho do fluxo no pólo será o mesmo do entreferro, consequentemente, Bp = Be = 1.0 T, e o fluxo em cada pólo é: Wb3ee 109.909.011.00.1AB −×=××==φ (3) A/m6 7 0 e e 107958.0104 0,1B H ×= ×π = µ = − , (4) da curva de magnetização da chapa de aço na figura 1.23: Hp = 210 A/m. No rotor, o fluxo φ de cada pólo se divide igualmente entre os dois caminhos, conforme indicado na figura 1.22. Assim, Br = φ/(2Ar). Assumindo que Ar = raio do rotor × comprimento axial do pólo do estator, logo: Ar = 0.1×0.11 = 11×10–3 m2 Portanto: T450.0 10112 109.9 B 3 3 r =×× ×= − − . Da figura 1.23: Hr = 40 A/m. No estator, φ também é divido entre dois caminhos, e: T550.0 06.015.02 109.9 A2 B 3 s s =×× ×=φ= − Da figura 1.23, temos: Hs = 295 A/m Conversão de Energia 32 m m m m 3613.0 4 46.0 4 D l 1571.0 4 2.0 4 D l 2.01.02l2 100.3105.12l2 s s r r p 33 e =×π= π ≅ =×π= π ≅ =×= ×=××= −− Substituindo na equação (2), tem-se: i10001076238742 i50023613.02951571.040103107958.02.0210 36 =+++→ ×=×+×+×××+× − Note que o efeito predominante é do entreferro. Logo i = 2.54 A Estes cálculos poderiam ser refeitos para uma série de valores de B no entreferro. Assim, a curva de magnetização φ × i da máquina poderia ser obtida. c) Calcular o fluxo concatenado nas bobinas de campo. O fluxo concatenado total das 4 bobinas conectadas em série é: λ = 4Nφ = 4×500×9.9×10–3 = 19.8 Wb d) A indutância de todo o circuito de campo. Com base nas hipóteses de linearização especificadas, H80.7 54.2 8.19 i L ==λ= e) A energia armazenada no sistema magnético. J2.25 2 54.28.7 iL 2 1 W 2 2 B = ×== f) A energia armazenada no entreferro. A densidade de energia no entreferro é: 3J/mw 6 7 2 0 2 e B 10398.0 104 1 2 1B 2 1 ×= ×π = µ = − A energia armazenada nos 4 entreferros é assim: WB = 4×0.09×0.11×1.5×10–3×0.398×10 6 = 23.6 J Os resultados obtidos de e) e f) parecem dar a entender que a energia armazenada nas partes ferromagnéticas do sistema é igual a 25.2 – 23.6 = 1.60 J. Contudo, deve ser lembrado que o resultado de e) foi obtido com base na hipótese de que a curva B-H para os materiais eram linhas retas passavam através da origem e dos pontos das curvas da figura 1.23 correspondentes às densidades de fluxo reais nos materiais. A área situada entre a curva B-H e o eixo B, apresentada na figura a seguir, expressa a densidade de energia no material e desde que a característica verdadeira é uma curva, a aproximação por uma reta fornece um valor alto para a energia armazenada nos materiais. Contudo, Conversão de Energia 33 desde que os materiais do sistema estejam longe da saturação, o erro envolvido será pequeno. O cálculo exato poderia ser obtido, pela determinação das áreas da figura 1.23. H1 H' 1H2 H' 2 (a) (b) H B1 B2 B1 B2 ∆∆∆∆WB1 ∆∆∆∆WB2 H = f i(B) H = fd(B) H B B (a) 3J/m∫=∆ 2 1 1 B BB HdBW , aumento de energia no campo magnético quando a densidade B1 � B2 (b) 3J/m∫=∆ 1 2 2 B BB HdBW , diminuição de energia no campo magnético quando a densidade B2 � B1 Figura – Curvas B-H para material ferro-magnético. Ex.: 1.11: O núcleo magnético de ferro fundido apresentado na figura 1.24 tem área An = 4 cm 2 e um comprimento médio de 0.438 m. O entreferro de 2 mm tem área aparente Ae = 4.84 cm 2. Determine o fluxo no entreferro. 2mmF = 1000 A Figura 1.24 - Sistema magnético. 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Ferro fundido Aço-silício Aço fundido Liga de ferro-níquel B [T] H [A/m] Figura 1.25 - Curvas B-H. Conversão de Energia 34 circuito magnético equivalente φφφφ+ F R n R e + + Dados: Entreferro: (área equivalente do entreferro) Ae= 4.84 cm 2 e le = 2 mm Ferro fundido: An = 4 cm 2 e ln = 0.438 m Da lei circuital: nnee lHlH1000IN +===ℑ espA (1) nneene ABAB =φ=φ ou (2) Tem-se que encontrar φe = φn de maneira que satisfaça a equação (1). A dificuldade se deve ao fato de que He e Hn dependem do fluxo, que é o valor a ser encontrado. - Método 1: Método da tentativa e erro. 1º. Passo: Suponha que a f.m.m. total (1000 Aesp) se encontra no entreferro. Hele = 1000 Aesp → /mA esp 5 3e 105 102 1000 H ×= × = − 2Wb/m628.0105104HB 57e0e ≅×××π=µ= − Wb44eee 1004.31084.4628.0AB −− ×=××==φ 2º. Passo: Suponha que a fmm total se encontra na porção do material magnético. /mA esp1.2283438.0 1000 H1000lH nnn ≅=→= Da curva de magnetização: Bn = 0.6 T. Wb44nnn 104.21046.0AB −− ×=××==φ Os valores de φe e φn são os valores extremos. É obvio que o valor real do fluxo é menor do que ambos. 3º. Passo: Suponha um valor de fluxo menor que os valores extremos obtidos. φe = φn = 1.82×10-4 Wb = φ Calcule as fmm nas várias partes da estrutura magnética. A600 A l lH e0 e ee =µ φ = A/mT 1340H46.0 A B n n n =→= φ= , e a queda no núcleo é portanto: A)( 587438.01340lH nn == , e assim: A1187lHlH nnee =+ Conversão de Energia 35 O que excedeos 1000A de fmm da bobina. Por conseguinte, os valores de Bn, inferiores a 0.46 T devem ser testados até que a soma de ℑn e ℑe seja 1000A. Os valores de Bn = 0.41 T e φ = 1.6 Wb, fornecem resultado bem próximos aos 1000A. - Método 2: Método gráfico. A fmm total ℑ é igual a soma das fmm’s do entreferro e do núcleo, ou seja: ℑ = ℑn + ℑe Como a e0 e eee e0 e A l l A µ =ℜφℜ= µ φ=ℑ onde , , substituindo ℑe por ℜeφ, tem-se: φℜ−ℑ=ℑ en Que é a equação de uma reta que corta os eixos coordenados (ℑn,φ) nos pontos (0, eℜℑ ) e (ℑ,0), com inclinação (1/ℜe) em relação ao eixo das abcissas (ℑn). Esta reta é conhecida pelo nome: “reta de entreferro negativo”. Por outro lado, ℑn deve satisfazer à curva de magnetização do material ferromagnético, φ × ℑn, obtida da curva Bn × Hn do material através das equações: φn = BnAn e ℑn = Hnln e que para o nosso exemplo fica: φn = 4×10–4Bn e ℑn = 0.438 Hn φφφφ[Wb] Fn[A esp ] F( , 0) F = Hnln + Hele Hnln Hele Fnφφφφn x F µµµµ0 Ae le φφφφn = φφφφe 0 P curva Feφφφφe x P ereta de (invertida),inclinação solução do problema F0, R e ( ) Figura 1.26 - Ilustração do método gráfico. Pode-se observar que P satisfaz simultaneamente a ambas as equações (1) e (2). Na prática, não é necessário obter a curva φn × ℑn. Na figura 1.26, se as ordenadas são divididas por An e as abcissas por ln, tem-se a figura 1.27. Conversão de Energia 36 B[T] H [A esp/m] Hn 0 P reta do entreferro ajustada solução do problema F An Pe curva Bn x Hn F An P e( )0, ( , 0)F ln F ln Hele ln Figura 1.27 - Ilustração do método gráfico modificado. Pode-se resolver também, da seguinte forma: Conhecidas as curvas Bi × Hi, determina-se as curvas φi × ℑi dos diversos trechos do circuito magnético através de φi = BiAi e ℑi = Hil i, pois Ai e l i são conhecidos. A seguir traçamos a curva φ × ℑ, onde ℑ = Σℑi, segundo as expressões ℑ = N I e N I = ΣHil i. Essa curva é denominada “curva de magnetização total” do circuito da figura abaixo. 0 ferro fundido [A esp ]F φφφφ[Wb] entreferro composição Ex. 1.12(A): Resolva o exemplo 1.11 graficamente, usando o gráfico de φ × ℑ. A primeira coluna da tabela 1.2 fornece valores de Hn de 700 a 1100 A/m; os valores de Bn correspondente são encontrados na curva de ferro fundido da figura 1.25. Os valores de φ e Hnln são calculados, e os de Hele são obtidos a partir de φle/µ0Ae de modo que ℑ correspondente à soma de Hnln com Hele. Como o entreferro é linear, há necessidade de apenas dois pontos. Tabela 1.2 Hn [A/m] Bn [T] φ [Wb] Hnln [A] Hele [A] ℑ [A] 700 0.295 1.18×10–4 307 388 695 800 0.335 1.34×10–4 350 441 791 900 0.365 1.46×10–4 395 480 874 1000 0.400 1.60×10–4 438 526 964 1100 0.420 1.68×10–4 482 552 1034 Conversão de Energia 37 O fluxo φ para ℑ = 1000A, como se observa da figura 1.28, é aproximadamente 1.65×10–4 Wb. Este método é simplesmente um gráfico dos dados de tentativas e erros usados no ex. 1.11. Entretanto, é útil caso haja a necessidade de se examinar diferentes enrolamentos ou correntes em bobinas. o o o o o o o o o o Composição Ferro fundido + entreferro Ferro fundido Entreferro φφ φφ [W b x 10 -4 ] F [A] o o 200 400 600 800 1000 1.7 1.6 1.5 1.4 1.3 1.2 1.1 ~~ Figura 1.28 - Curva φφφφ ×××× ℑℑℑℑ do exemplo 1.12. Ex. 1.12(B): Calcule o fluxo φ no núcleo, supondo ℑ de 800, 1000 e 1200A. Use uma aproximação gráfica e a reta de entreferro negativa. A figura 1.29 apresenta o gráfico dos dados do item (A) de φ × Hnln, para o núcleo de ferro fundido. O gráfico de φ × ℑ do entreferro é linear. Um dos extremos da reta de entreferro de inclinação negativa para uma ℑ da bobina de 800A é em φ = 0, ℑ = 800A. O outro extremo assume Hele = 800A, pelo qual: ( ) Wb5 e eee0 1043.2 l lH −×=ℜµ=φ , o que localiza o extremo em: φ = 2.43×10–4 Wb e ℑ = 0. Para maiores detalhes construtivos do gráfico, ver figura 1.29 abaixo. o o o o o o o o o o φφ φφ [ W B x 1 0- 4 ] F [A] Hnln Hele Ferro fundido Reta do entreferro (inclinação negativa) 2.4 2.2 2.0 1,8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 200 400 600 800 1000 1200 Figura 1.29 - Método gráfico utilizando curva invertida do entreferro. Conversão de Energia 38 As soluções (pontos de interseção) por este processo seriam: ℑ = 800 A → φ = 1.34×10–4 Wb; ℑ = 1000 A → φ = 1.62×10–4 Wb; ℑ = 1200 A → φ = 1.85×10–4 Wb; Ex. 1.12(C): Repita o item (A), porém, utilizando a curva B × H do ferro fundido. Neste processo não há necessidade de se construir φ × ℑ, basta desenhar a reta do entreferro sobre a curva B×H do ferro efetuando os respectivos ajustes. Os cálculos estão apresentados na tabela (1.3) e a solução gráfica na figura 1.30 (obtida conforme a figura 1.27). Tabela 1.3 – Tabela para ajuste da reta do entreferro. Be (T) 7 e e 104 B H −×π = [A/m] n e en A A BB = [T] n e e l l H [A/m] n e e n n n l l H l H − ℑ = [A/m] 0.1 0.8×105 0.12 363 1920 0.3 2.39×105 0.36 1092 1192 0.5 3.98×105 0.61 1817 466 Obs.: ℑ / ln = 1000/0.438. Os dados da terceira e quinta colunas podem ser diretamente dispostos sobre a curva B×H do ferro fundido, figura 1.30. O entreferro, por ser linear, necessita de apenas dois pontos. A resposta é Bn = 0.41 T. o o o o B [T ] H [A/m] Ferro fundido Reta do entreferro ajustada 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.8 0.7 0.6 1000 2000 2283 o o o o o 0.76 Figura 1.30 - Método gráfico utilizando reta de entreferro ajustada e curva B××××H do material. O método apresentado neste exemplo pode ser utilizado para resolver circuitos magnéticos envolvendo duas partes não-lineares, conforme exemplo a seguir. Ex. 1.13: O circuito magnético da figura 1.31 é constituído de liga de ferro- níquel na parte 1 onde l1 = 10 cm e S1 = 2.25 cm 2, e aço fundido na parte 2, l2 = 8 cm e S2 = 3 cm 2. Calcule as densidade de fluxo B1 e B2. Conversão de Energia 39 Os dados referentes ao meio 2 de aço fundido devem ser convertidos sobre a curva B×H da parte 1 da liga de ferro-níquel (ℑ/l1 = 400 A/m). A tabela 1.4 indica os cálculos necessários. Tabela 1.4 – Tabela para converter os dados da curva 2 para curva 1. B2 [T] H2 [A/m] 1 2 21 S S BB = [T] 1 2 2 l l H [A/m] 1 2 2 1 1 l l H l H −ℑ= [A/m] 0.33 200 0.44 160 240 0.44 250 0.59 200 200 0.55 300 0.73 240 160 0.65 350 0.87 280 120 0.73 400 0.97 320 80 0.78 450 1.04 360 40 0.83 500 1.11 400 0 Obs.: ℑ / l1 = 400 A/m. A partir do gráfico da figura 1.33, B1 = 1.01 T. E, como B1S1 = B2S2. T76.0 103 1025.2 01.1B 4 4 2 = × ×= − − Os valores de B1 e B2 podem ser comparados considerando a equação: ℑ = H1l1 + H2l2, e as curvas D e B da figura 1.32 de onde se obtém os valores de H1 e H2. H [A/m] B [T] A B C A Ferro fundido B Aço fundido C Aço-Silício D Liga Ferro-Níquel D 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 100 200 300 400 Figura 1.32 - Curvas B××××H (H <<<< 400 A/m). Conversão de Energia 40 o o o o o o o o o o o o 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 B1 [T] H1 [A/m] 100 200 Liga ferro-níquel Aço fundido; curva ajustada Figura 1.33 - Solução pelo método gráfico (curva ajustada para o aço fundido). Ex. 1.14: O circuito magnético da figura 1.34a, apresenta a mesma área de seção reta em todo o núcleo, cujo material é de aço-silício, e seu valor é An = 1.30 cm 2. Os comprimentos médios valem l1 = l3 = 25 cm. e l2 = 5 cm. As bobinas têm 50 espiras cada. Dado φ1 = 90 µwb e φ3 = 120 µwb, calcule as correntes das bobinas. φφφφ1111 φφφφ3333 l 1111 l2 l3 φφφφ2222 . . F1 F3 (a) estrutura magnética(b) circuito magnético equivalente F3F1 φφφφ1111 φφφφ3333 φφφφ2222 H1l1 H2l2 H3l3 - + + - + - + - - + . b a. Figura 1.34 - Circuito magnético paralelo. Aplicando a equação 1.14 ao nó (a): T Wb 79.0 10.3.1 1090 A B 103.00 4 6 1 1 1 4 132 3 1i i = × ×=φ= ×=φ−φ=φ→=φ − − − = ∑ Usando a curva B×H do aço-silício (figura 1.32), H1 = 87 A/m. Logo, H1l1 = 21.8 A. Analogamente: AA/m e T AA/meT 35lH140H 92.0 103.1 10120 A B 5.2lH49H 23.0 103.1 103.0 A B 3334 4 3 3 3 2224 4 2 2 2 =∴== × ×=φ= =∴== × ×=φ= − − − − Conversão de Energia 41 Aplicando a equação 1.13 ao longo dos percursos fechados. ℑ==∑ NIlH j jj As equações que se seguem são para a queda N I entre os pontos a e b. 5.235 e 5.28.21 lHlH e lHlH 31 2233322111 =−ℑ=ℑ− =−ℑ=ℑ− De onde, ℑ1 = 19.3 A e ℑ3 = 37.5 A. As correntes são: I1 = 0.39 A e I3 = 0.75 A Ex. 1.15: Considere um circuito magnético da figura 1.35. Determine as relações entre Hn, Bn e Ln com entreferro e sem entreferro. Determine a indutância total. H n H e µµµµ0 I N le lnµµµµn Figura 1.35 - Reator com entreferro. 1º Caso: Considerando o núcleo sem entreferro, ou seja, le = 0. ( )12 n n 0rn n n n n 0rnnn n 0rn0rnnn n nnn N l A L I N I LIN l A AB l IN HHB l IN HlHNI µµ=→φ=λ=µµ==φ µµ=µµ=µ==→==ℑ 2o Caso: Consideremos o núcleo com entreferro. INdl.H =∫ INlHlH eenn =+ (2) mas como φn = φe e supondo An = Ae, tem-se: eneenn BBABAB =→= (3) Mas, e0en0rn HB HB µ=µµ= e , então: r n e e0n0r H H HH µ=→µ=µµ (4) Substituindo (4) em (2), tem-se: IN l l1 lH INlHlH n e r rnn enrnn = + µ µ =µ+ Conversão de Energia 42 Definindo: n e r .eq l l1 1 + µ =µ nr .eq n l IN H µ µ = (5) ou ern n ll I.N H µ+ = (6) Lembrando que Bn = µr µ0 Hn n 0.eqn l IN B µµ= (7) Substituindo (4) em (5): n .eqe l IN H µ= (8) e n .eq0e0e l IN HB µµ=µ= Sabendo que: n 0.eqnnn eenn l IN NAANBNLI ABAB LIN µµ==φ= ==φ =φ 2 n n 0.eq Nl A L µµ= (9) Portanto, com a introdução do entreferro, obteve-se: i) ( ) ( ) entreferro sem n r .eq entreferro com n HH µ µ = ii) ( ) ( ) entreferro sem n r .eq entreferro com n BB µ µ = iii) ( ) ( ) m r .eq entreferro sem r .eq entreferro com LLL µ µ = µ µ = Conclui-se que se for usado µr e le/ln tão grande quanto o possível, consegue-se µeq./µr tão baixo quanto se queira, a fim de se conseguir fazer com que a indutância fique independente do material do núcleo. Entretanto, observa-se que H, B e L serão reduzidos pelo mesmo fator, µeq./µr . Se e n .eq rn e l l1 l l =µ→ µ → Com isto, seria necessário um material de alto µr, mas este não necessitaria ser preciso ou constante. A indutância dependeria nestas condições, somente da geometria utilizada. Uma outra forma de se visualizar, seria através da análise do circuito elétrico equivalente, ver figura 1.36. Conversão de Energia 43 + + Ln I + Le eF =NI φφφφ + R n R e + + ( a ) Circuito magnético do indutor com entreferro ( b ) Circuito elétrico equivalente do indutor com entreferro IeIn Figura 1.36 - Circuitos magnético e elétrico da estrutura da figura 1.35. A indutância do entreferro Le é constante, entretanto, a do núcleo não o é, sendo expressa por Ln = Ln(i). Do circuito equivalente, obtém-se: + = + = n e L Le en en 1 1 L LL LL L (10) Ou n e e n n 0 e n n ee S S l l L L = 1 L L µ µ= ℜ ℜ=α α+ = onde Considerando que Sn e Se são aproximadamente iguais resulta: e n n 0 l l µ µ≅α (11) Se considerarmos ln/le = 100 (menor valor que este implica na possibilidade de aparecimento de não-linearidades), isto é, o comprimento do núcleo é da ordem de grandeza de cem vezes o comprimento do entreferro, e supondo que a variação do µr do material magnético está compreendido na faixa: 2000 ≤ µr ≤ 4000, o valor de α resultará compreendido entre (eq. (11)): 0.025 ≤ α ≤ 0.05. A equação (10) mostra que a indutância total estará compreendido entre os valores: ee ee L976.0LL952.0 025.1 L L 05.1 L ≤≤→≤≤ Vê-se que, apesar da variação de 100% na permeabilidade do núcleo, L é constante, a menos de um erro inferior a 3%. A escolha apropriada da razão ln/le pode limitar a variação de L dentro de valores preestabelecidos. Sem o entreferro teríamos uma indutância L total muito maior, porém com uma grande variação. É possível dizer que o indutor inicialmente não linear, foi linearizado mediante a introdução de um entreferro. Conversão de Energia 63 1.6. Obtenção de um Circuito Equivalente para um Reator com Núcleo Ferromagnético A obtenção de um modelo matemático para um indutor, objetivando a análise de seu comportamento, compreende dois estágios: i – a obtenção de um sistema físico o qual, em geral, é muito complexo; ii – a descrição de tal sistema por meio de equações matemáticas adequadas. Com o intuito de obter tais equações tornam-se necessárias estabelecer algumas hipóteses e aproximações simplificadoras. O primeiro passo neste sentido é o de decidir quais de suas características podem ser ignoradas. A seguir determina-se quais modificações podem ser assumidas para simplificar o modelo matemático sem prejudicar a precisão desejada. Uma forma de se verificar a precisão do modelo é a comparação, quando possível, entre os resultados obtidos pelo modelo matemático e os de ensaios (medidas). O quão preciso deve ser os resultados obtidos através do modelo dependem dos propósitos a que se destinam. Para muitos dos propósitos de engenharia, particularmente para o cálculo preliminar de sistemas e instalações, ‘suficientemente preciso’ significa que as diferenças entre os resultados calculados e os medidos sejam inferiores a 5%. No extremo, adota-se hipóteses e aproximações que conduzem ao denominado indutor ideal. Neste caso assume-se que: i - Os campos elétricos produzidos pelos enrolamentos são desprezíveis. ii - A resistência do enrolamento é desprezível. iii - Todo o fluxo magnético está confinado ao núcleo ferromagnético, isto é, o fluxo de dispersão (φl) é desprezível e o fluxo mútuo (φm) concatenando todas as espiras do enrolamento. iv - A permeabilidade relativa do material do núcleo, µr, é constante. v – As perdas no núcleo são desprezíveis. As hipóteses (iv) e (v) implicam que o laço B×H no núcleo ferromagnético pode ser representado por uma linha reta através da origem (ver Fig. 1.8). Se uma diferença de potencial v for aplicada aos terminais de seu enrolamento, a força magnetomotriz ℑ de magnitude N×iφ produzirá um fluxo φ no núcleo e estabelecerá um fluxo concatenado λ no enrolamento. Se v variar no tempo, então iφ, φ e λ também variarão no tempo, e uma fem e será induzida no enrolamento. Desde que a resistência do enrolamento é desprezível, esta fem será, em módulo, igual a tensão aplicada v. Então: ( ) ( ) ( ) ( ) [ ]Volts dt td N dt td tetv φ=λ== (1.46) Desde que a permeabilidade do núcleo seja constante, o fluxo concatenado será dado por: λ = Lm iφ [Wb] (1.47) onde Lm será a indutância do indutor, e: v = φm diφ /dt [V] (1.48) Conversão de Energia 64 O indutor pode, portanto, ser representado pelo elemento indutivo da figura 1.42. V . fonte EjXm Iφφφφ . . . . v fonte e = dλλλλ / dt Lm iφφφφ . . +iφφφφ ev fonte φφφφ m - fluxo N φφφφ m . . Figura 1.42 – Indutor Real.
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