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Resenha Crítica - As Cinco Lições da Psicanálise – Resenha Crítica. Cinco Lições da Psicanálise é um compilado das cinco conferências proferidas por Sigmund Freud, em 1909, para a Clark University. Conferências estas que podem ser classificadas como o marco do reconhecimento da psicanálise como uma área da ciência. Publicada pela primeira vez em 1910, a edição original alemã foi traduzida para o português em 1931, para a Companhia Editora Nacional, sob os serviços de Durval Marcondes e J. Barbosa Corrêa. Sigmund Freud, formado em medicina pela Universidade de Viena em 1881, durante sua formação acadêmica teve a oportunidade de ser supervisionado por Ernst Brucke em pesquisas de histologia nervosa. Após sua formação, trabalhou com Theodor Meynert, psiquatra, com quem trabalhou na área da neuroanatomia. Dedicou-se também a pesquisas dentro da área de doenças orgânicas. Seu primeiro contato com o que desencadearia seus estudos acerca da psicanálise ocorreram quando trabalhou com Jean-Martin Charcot, expoente na área da psiquiatria e da neurologia, quatro anos após sua formação; soma-se à fonte de base das concepções iniciais da psicanálise, a influência de Hippolyte Bernheim, também neurologista, com quem Freud teve a oportunidade de aprofundar os conhecimentos acerca do hipnotismo, uma vez que era um instrumento de trabalho muito utilizado por Bernheim. Foi quando acompanhou o trabalho do Dr. Joseph Breue que vislumbrou as possíveis teorias, tratamentos e benefícios do que viria a ser o que mais tarde denominou de psicanálise. Cinco Lições de Psicanálise apresenta os cinco aspectos fundamentais e relevantes do embasamento teórico e prático da psicanálise. A primeira lição remete ao período em que Freud esteve com Breue. O médico acompanhou uma paciente que por 2 anos apresentou diversas perturbações, sintomas de ordem física e psíquica, diagnosticada como histérica - doença a qual os médicos à época não sabiam de tratamento eficaz. Breuer, em contra a atitude de seus pares à época, começou a investigar os sintomas da jovem. Constatou que nos estados de alteração de personalidade – denominados absence – ela dizia palavras soltas, mas que tinha conexão com o que pensava. Decidiu induzir a jovem a um estado de hipnose e repetiu as palavras que ela falara com o intuito de estimulá-la a associar ideias. A paciente, nesse momento, começou a reproduzir as situações em que se encontrava durante os estados de ausência. Eram devaneios que tinham como ponto inicial seus momentos ao lado do pai doente. Após falar sobre essas situações, a jovem sentia-se reconfortada, aliviada, em uma sensação de bem-estar por horas. Descobriu-se que através da hipnose, além de proporcionar momentâneo conforto à paciente, a possibilidade de fazer os sintomas desaparecerem, quando a jovem relembrava do momento gerador do trauma e expressava seus sentimentos em relação a ele. Através dos estudos de Breuler em relação à Anna, descobriu-se que através dos métodos aplicados, seria possível não só identificar a origem dos traumas psiquícos da jovem, como também eliminá- los. Essa descoberta trouxe esperança para o tratamento de histerias e neuroses, um avanço para os estudos à época. Freud conclui que a) histéricos padecem de resquícios de situações traumáticas; b) eles, mais do que recordar, prendem-se a essas situações emocionalmente – o que contribui para a formação dos sintomas; c) diante dos momentos traumáticos, o doente os represou, em vez de permitir sua descarga – outro fator gerador; d) não bastava com relembrar da situação, era necessário que o paciente trouxesse com a memória a carga emocional; e) as observações acerca dos estados de absernce de Anna revelaram que há, em um mesmo indivíduo, agrupamentos mentais independentes entre si e que podem alternar entre si f) os sintomas são frutos de uma lapso de memória que quando ocupado, cessa o sintoma. Por fim, Freud afirma que a pesquisa de Breuer é, em realidade, o início de uma teoria, carente de mais informações e bases para a compreensão dos fenômenos apresentados. Na segunda lição, tem-se uma visão maior das limitações da técnica de hipnose para o tratamento de neuróticos: nem todos os pacientes eram hipnotizados, demandava-se muito tempo para o logro da técnica com os que o eram e, o mais relevante, a hipnose atingia tão somente os níveis mais superficiais dos traumas, uma vez que mais resistências eram estabelecidas pelo enfermo. Por esses motivos, Freud adotou o método catártico que visava agir com o paciente em seu estado normal de consciência. Para tanto, o médico utilizou do mesmo princípio utilizado por Bernheim com pessoas submetidas ao sonambulismo hipnótico – o hipnotizador, diante da aparente ausência de lembrança sobre os fatos ocorridos à pessoa durante a prática, as interrogava de modo a forçá-las a centrarem-se nos fatos até que os lembravam. Com isso, constatou que a) seus pacientes, apesar das dificuldades, conseguiam trazer as recordações à tona e; b) alguma força dificultava, obstruía essas lembranças de virem à consciência: a essa força, chamou-a Resistência. A cura do paciente estava condicionada também à amenização dessas resistências. Mas a foça chamada resistência no momento em que o psicanalista tenta acessar as memórias do paciente, na situação em que se gerou o trauma tinha outra função: reprimir a energia emocional do paciente, de modo a protegê-lo de uma situação com que não estava preparado para lidar. A essa faceta dessa força, denominou Repressão. A Repressão, é, como explica Freud, um desejo, uma vontade de grande energia, porém que vai de contro aos preceitos de conduta e pensamentos morais e éticos da pessoa. Surge então um conflito interno entre o desejo e seus preceitos que geram a repressão. Com ela, o paciente evita o desprazer das consequências de sucumbir aos desejos. Uma vez reprimido, a ideia subjugada era assim direcionada a um ponto na consciência – a que Freud denominou inconsciente – em que o acesso era impelido pela, agora, resistência. Tanto a repressão quanto a resistência exercem um importante papel na contenção do forte desejo e traumas reprimidos, entretanto não o eliminam e isto é o fator gerador dos sintomas. Faz-se necessária a compreensão de sua natureza para seu tratamento e o restabelecimento do paciente. Eis a função do tratamento psicanalítico das neuroses e do psicanalista para Freud. Em sua terceira lição, Freud detalha melhor o processo catártico e a chamada livre associação de ideias; o conceito de complexo e seu processo de tratamento; o autor ainda apresenta os métodos da interpretação de sonhos e os estudos dos lapsos e atos casuais. O tratamento dos complexos se dá através da técnica catártica e associativa, que parte da última recordação do paciente para a investigação de algum complexo e, uma vez que o paciente fornece informações suficientes ao psicanalista através da associação de ideias, seguir com o tratamento do mesmo. A associação consiste, assim, em o paciente falar sobre o que queira, sabendo que aquilo que diz está indiretamente relacionado com o complexo – grupo de ideias que têm uma relação de dependência entre si carregados de energia emocional – que se deseja tratar. Freud esclarece que as ideias livres são contínuas, não acabam, mas que o que transmite essa sensação ao paciente são as resistências trasvestida de juízos crítico que interrompem seu fluxo. Esclarecer para o paciente sobre a finalidade e o funcionamento da associação de ideias livres é importante para que essas interrupções da resistência sejam eliminadas. A interpretação de sonhos é apresentada como um recurso técnico para a sondagem do inconsciente – mais do que um recurso, Freud a entende como ‘a base mais segura da psicanálise’, como afirma na conferência. Os sonhos são expressões do inconsciente, portanto são dotados de significância.Seus conteúdos muitas das vezes são ininteligíveis. Isso ocorre pois eles estão distorcidos. Devido a essa distorção é preciso saber diferenciar o conteúdo manifesto e os pensamentos latentes do sonho. O conteúdo, em realidade, é uma representação substituta para os pensamentos de origem do inconsciente. Essa representação está deformada, pois é o como o ego ergue suas forças defensivas durante o estado de sono – quando só consegue lidar com eles disfarças, deformados. O conteúdo manifesto têm estreita relação com os pensamentos latentes do sonho. É por essa conexão entre ele que o psicanalista, buscará, através da associação de ideias, os pensamentos latentes do sonho. O real conteúdo do sonho substituirá o conteúdo manifesto e está relacionado à realização de um desejo que não fora satisfeito. O sonho manifesto é, em realidade, a concretização oculta dos desejos reprimidos. A criação dos sonhos é consequência do que Freud chama de divisão psíquica e o como é semelhante ao processo de deformação que transforma os complexos que a repressão não foi capaz de conter em sintomas. Outrossim, a análise dos sonhos retorna às situações da infância do paciente enquanto parte do processo de desenvolvimento. Constata Freud que o inconsciente trabalha através de símbolos fixos e individuais na representação de complexos de cunho sexual - relacionados não só ao adulto, mas também à sua infância. Freud fala que foi através das observações/tratamentos dos neuróticos que se chegou à percepção da relevância dos estudos dos sonhos como instrumento para a análise de complexos. Segue abordando um terceiro grupo de fatos relevantes como recursos da psicanálise: o esquecimento do que se sabe e do que deveria saber. Os atos falhos - como denominou – ocorrem tanto nas pessoas ditas normais quanto nos neuróticos. Observa que a) os atos falhos, apesar de serem tomados como de pouca ou nenhuma relevância, mostram-se como ricos recursos significativos e cuja interpretação se mostra fonte segura de informações e; b) assim como o método catártico, a associação de ideias e os sonhos eles auxiliam a externar impulsos e desejos reprimidos que ficam, nas palavras do autor, ocultos à própria consciência. Na quarta lição, Freud entra no campo da sexualidade. Seus estudos lhe mostraram que os instintos eróticos estão intimamente relacionados com os sintomas dos neuróticos. Apesar dessa descoberta, relata a dificuldade de conseguir aprofundar sobre esse tema com seus pacientes devido à série de preconceitos morais e falsos puritanismos que permeiam a sociedade no tocante ao tema. O processo de cura dos sintomas requer que se volte à análise de fatos ocorridos na infância, pois os desejos sexuais reprimidos nessa fase sensibilizam o indivíduo de modo que quando uma situação, de que ele teria uma reação diante, ocorra, gerar-lhe-á um trauma por essa lacuna criada. Entra-se na discussão da existência da sexualidade infantil. Sigmund explica que desde o início a criança possuiu tanto o instinto quanto as atividades sexuais e que elas se desenvolvem através de etapas ao longo de sua infância e adolescência até sua constituição quanto adulto. Desde a primeira das fases, a criança é capaz de ter desejos sexuais instintivas. Os estudos de Jung contribuem a essa discussão, com o estudo de caso de uma criança que demonstrou a mesma excitação que se tem na formação de desejos e complexos. Freud esclarece que o instinto sexual refere-se às diferentes formas de percepções prazerosas e nelas se incluem o prazer sexual. Na fase infantil, a fonte de prazer é o estímulo de zonas erógenas como os órgãos genitais, a boca, o ânus e outras partes do corpo. Nesse momento, a criança ainda não percebeu o outro como fonte de prazer, a busca é pela autossatisfação. Por ser uma fase ainda rudimentar do processo de desenvolvimento sexual, a diferença entre os sexos ainda não possui relevância e assim, conforme explica o autor, toda criança tem uma disposição ao homossexualismo até o término da formação do caráter sexual no período da puberdade. Entretanto, há desejos do instinto sexual que são reprimidos e submetidos a fortes repressões, devido às condições que é educada essa criança. As neuroses, ou o a disposição a elas, estão relacionados a disfunções ocorridas nessa etapa de desenvolvimento. Os complexos são formados, mas mantêm-se no inconsciente onde se maturam, levando a fixações parciais – os pontos fracos mencionados na lição três. As neuroses do adulto estão relacionadas a essas fixações parciais. No segundo momento de desenvolvimento, a criança passa a perceber outros como objetos para seus desejos. Os primeiros, em geral, a servirem como fonte são os pais. Freud entende que os pais são os que incitam os desejos eróticos da criança, já que o afeto que demonstram, para o autor, tem caráter de atividade sexual. Com o passar dos anos, a excitação da criança para com os pais é transferida para outras pessoas, utilizando-os apenas como modelo. Freud conclui que desvelar as fixações parciais infantis constitui o trabalho de tratamento psicanalítico. Na Quinta e última lição Freud segue esclarecendo alguns pontos sobre a sexualidade infantil. Aborda o surgimento das neuroses, a satisfação pela fuga e o como ela ocorre, o papel do médico psicanalista dentro do processo de restauração e os meios pelos quais se ameniza os efeitos dos desejos libertados durante o tratamento – englobando o conceito de sublimação. As neuroses são criadas à medida que os desejos sexuais instintivos não são consumados. E como forma de satisfação, essas necessidades se voltam para a moléstia como uma substituta. O médico, no processo de tratamento, encontra dificuldades, pois o ego do paciente dificulta e se nega a desfazer a repressão, assim como o instinto sexual pode preferir manter essa substituição – a doença - à cura, uma vez que entende que seu estado atual é melhor, menos decepcionante do que a realidade. Essa ação do ego, chamada de fuga, ocorre por meio de uma regressão aos estágios da vida sexual infantil onde encontrava satisfação. E isso ocorre como consequência de duas características: temporal, pois há a regressão a estados anteriores de desenvolvimento e formal pois, para satisfazer a necessidade utiliza os meios psíquicos dessas fases. Durante o tratamento das neuroses, com a psicanálise, o paciente transfere para o médico diversos sentimentos provindos de suas fantasias inconscientes. Sentimentos que são evocados à medida que se os relembra com o tratamento em companhia do terapeuta, que as traz para si durante o processo. Freud explica que esse processo de transferência não é exclusivo do tratamento psicanalítico, mas que é comum em todas as relações humanas. Aos impulsos inconscientes desvelados pelo tratamento psicanalítico podem-se dar três destinos, segundo as conclusões de Freud. Primeiro, a repressão dá lugar ao julgamento e condenação desses desejos, por meio de ferramentas que auxiliarão o paciente nessa tarefa. Segundo, há a transmutação dessa energia para a ação em outros aspectos, objetivos da vida do doente, apesar da admoestação de Freud de que deve haver parcimônia para não se transformar todas as energias reprimidas para alcance de outros objetivos. Por fim – e em consonância com observação anterior - Freud compreende que certos desejos reprimidos devam ser consumados. Nunca se deve, porém, buscar a erradicação dos desejos. Cinco Lições de Psicanálise, mais do que uma transcrição de conferências, é o marco da aceitação da psicanálise como uma área de ciência. Em um período relativamente curto, Freud conseguiu reunir, através de métodos definidos e claros, informações que compreendem melhor os estados de neurose, histeria e de como restaurá-las. As palestras e, por conseguinte a obra, são uma porta de entrada ao leitor em um conjunto universo de ideias e teorias que desafiam o simplismo no queconcerne aos conhecimentos de um aprendiz sobre a consciência humana. As informações e teorias levantadas por outros pesquisadores foi outro fator relevante para que Freud conseguisse chegar às conclusões a que alcançou. Os estudos e práticas de Charcot e Breuer sobre a hipnose; e o caso da paciente Anna foram fundamentais para a compreensão dos processos conscientes e inconscientes. São apenas algumas das situações que possibilitaram a Freud ter fontes para estudar o inconsciente. Percebe-se, no decorrer dos cinco dias de conferências, a evolução nos estudos sobre o inconsciente e suas manifestações. Mais do que informações sobre um novo campo para estudos, as ideias ali apresentadas provavelmente foram um choque para os valores da ciência à época. E esta percepção se dá, pois a plateia de Freud não era de médicos, mas sim de leigos. Fato este que não deixa de conter em si benefícios, pois a rejeição inicial da comunidade médica proporcionou a disseminação da psicanálise, seus processos e métodos para leigos, além da origem de associações de estudos e práticas psicanalistas que seguem com essa propagação. A obra contém fundamentos importantes sobre a psicanálise, apresentando de forma concisa como se dá o surgimento de neuroses, histerias e como o processo psicanalítico contribui para a compreensão dos mesmos e a restauração do paciente. Além disso, entre uma e outra palestra, Freud apresenta os requisitos para aqueles que pretendem seguir o caminho da psicanálise como uma profissão: a autoanalise, que engloba também os estudos dos sonhos; e a compreensão do desenvolvimento sexual infantil e como ele é importante em nossa formação humana e no restabelecimento de pacientes. Resenha Crítica - As Cinco Lições da Psicanálise – Resenha Crítica.
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