Logo Passei Direto
Buscar

O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais na Ditadura Empresarial-militar

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 
Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH 
Instituto de História – IH 
 
 
 
 
O INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES) E 
A DITADURA EMPRESARIAL-MILITAR: OS CASOS DAS 
EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS E DA INDÚSTRIA 
FARMACÊUTICA (1964-1967) 
 
 
 
 
Elaine de Almeida Bortone 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
 
O INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES) E 
A DITADURA EMPRESARIAL-MILITAR: O CASO DAS 
EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS E DA INDÚSTRIA 
FARMACÊUTICA (1964-1967) 
 
 
 
 
Elaine de Almeida Bortone 
 
 
Tese de doutoramento apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de 
Pós-Graduação em História Social do Instituto de História da Universidade 
Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção 
do título de doutor em História Social. 
Linha de pesquisa: Sociedade e Política 
Orientador: Prof. Dr. Renato Luis do Couto Neto e Lemos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2018 
 
 
 
i 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos o mais 
 que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar 
o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites." 
Karl Marx 
 
“O que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir” 
Milton Nascimento e Fernando Brant 
 
 
 
ii 
 
Agradecimentos 
 
 
Ao Renato Luís do Couto Neto e Lemos pela parceria e sólida orientação, pela leitura 
atenta e cuidadosa, e pelos debates com recomendações e sugestões consistentes que 
contribuíram para enriquecer a forma e o conteúdo da pesquisa. 
 Às professoras que compuseram a banca de qualificação: Sonia Regina de Mendonça e 
Virgínia Fontes, cujas críticas e sugestões foram fundamentais para a versão final da tese. 
 Aos colegas do Coletivo Mais Verdade, que contribuíram com seus comentários e 
críticas sobre os resultados parciais apresentados, sobretudo Demian Bezerra de Melo, Luis 
Mário Behnken, Martina Spohr Gonçalves e Rejane Carolina Hoeveler. Aos colegas do Grupo 
de Trabalho de Orientação (GTO), que trouxeram subsídios teóricos fundamentais, e do 
Grupo de Trabalho Empresários e Ditadura, que teceram discussões importantes na 
apresentação parcial da pesquisa, especialmente Pedro Henrique Pedreira Campos. 
Um agradecimento muito especial aos meus amigos do doutorado. Ana Carolina 
Reginatto, pelos adoráveis estudos e debates, e Vicente Gil da Silva e sua companheira Laura 
Maria Loss Schwarz, pelas intermináveis conversas sobre nossas pesquisas, trocas de ideias e 
pelos documentos que carinhosamente me cederam dos arquivos em que pesquisaram nos 
Estados Unidos, os quais enriqueceram a minha tese. Nossas parcerias contribuíram para não 
me sentir mais sozinha do que o pesquisar impõe. 
Ao Felipe Pereira Loureiro, pelos documentos gentilmente cedidos do National 
Archives and Records Administration (NARA). À Larissa Ribeiro Raymundo, pelo trabalho 
caprichoso na organização da base do banco de dados. Ao Guilherme Girardi Calderazzo, 
pela revisão cuidadosa dos originais. 
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela 
bolsa de Doutorado regular. Aos professores, funcionários e coordenadores do PPGHIS. A 
todos os funcionários das inúmeras bibliotecas e acervos que passei pelas disposições, ajudas 
e orientações. 
Às minhas amigas Adriana Cesário de Faria Alvim, Alba Sales, Azilde Andreotti, 
Cristina Alvim Castello Branco, Helena Alvim Castello Branco, Isabela Cesário de Faria 
Alvim, Márcia Rachid, Maria Teresa Lima e Sonia Soares Ferreira, que sempre carinhosas 
compartilharam minhas angústias e me apoiaram para que este resultado fosse alcançado. 
Agradeço a toda minha família que não só entendeu minhas ausências frequentes, 
como me amparou nesta caminhada. Às minhas sobrinhas Talita de Almeida Bezerra Souza, 
iii 
 
que cuidou da minha mãe todas as vezes que precisei viajar para pesquisar e participar de 
congressos, e Karolina de Almeida Bezerra, que me ajudou em buscas no Diário Oficial. Ao 
meu primo Alexandre Alves de Mello, que me acolheu de forma supercarinhosa, em Brasília, 
sempre que precisei estar na cidade para pesquisar. Ao Marcio Almeida Campos, primo 
querido, que me fez dar boas gargalhadas com sua irreverência nos momentos mais tensos. 
Nenhuma palavra pode expressar a gratidão pelo enorme amor incondicional e o 
incentivo que recebi da minha mãe, Terezinha de Almeida Bezerra. No auge dos seus 81 anos, 
precisando de mim para suas demandas naturais da idade, me deu enorme suporte para que 
esta etapa da minha vida fosse a mais tranquila possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iv 
 
RESUMO 
 
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e a ditadura empresarial-militar: os 
casos das empresas estatais federais e da indústria farmacêutica (1964-1967) 
 
 
Elaine de Almeida Bortone 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Renato Luis do Couto Neto e Lemos 
 
 
 
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em História, 
Instituto de História, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos 
requisitos à obtenção do título de Doutor em História Social. 
 
Este trabalho apresenta uma pesquisa sobre o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). 
Entidade fundada, em 1961, por empresários nacionais e internacionais, tecnocratas de alto 
escalão e por militares da alta patente, em especial oficiais da Escola Superior de Guerra 
(ESG), com o apoio financeiro das empresas associadas e do governo norte-americano, para 
integrar os diversos grupos civis e militares em uma oposição que pudesse deter o governo de 
João Belchior Marques Goulart (1961-1964) e as forças sociais que o apoiavam. Após o golpe 
de 1964, ipesianos ocuparam os cargos mais importantes no Estado. A pesquisa analisa a 
presença política de associados e parceiros do IPES e sua área de influência em instâncias 
importantes do Estado brasileiro após o golpe. Trata-se das empresas estatais federais 
existentes no primeiro governo ditatorial, as quais tinham ipesianos nas suas direções 
determinando o rumo das empresas dentro dos interesses de sua classe. Entre as empresas 
associadas, se encontravam indústrias farmacêuticas, nacionais e estrangeiras, e empresários 
do setor que financiaram e se articularam no instituto. Na ditadura, mais precisamente no 
governo de Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967), eles trabalharam e exerceram 
pressão na formulação de políticas públicas para salvaguardarem seus interesses econômicos e 
políticos. O recorte temporal compreende o período entre 1961 e 1967 e justifica-se por ter 
sido uma época marcada pela fundação do IPES e o término do governo Castello Branco. 
Desta forma, este estudo se propõe a compreender as articulações da classe empresarial no 
início dos anos 1960 e o seu projeto econômico e político que deram origem à ditadura 
empresarial-militar. 
 
 
 
Palavras-chave: Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais; IPES; Ditadura empresarial-militar; 
Empresas estatais federais; Indústria Farmacêutica. 
 
 
 
 
 
 
 
v 
 
ABSTRACT 
 
 
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e a ditadura empresarial-militar: os 
casos das empresas estatais federais e da indústria farmacêutica (1964-1967) 
 
 
Elaine de Almeida Bortone 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Renato Luis do Couto Neto e Lemos 
 
 
 
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em História, 
Instituto de História, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos 
requisitos à obtenção do título de Doutor em História Social. 
This work presents a research on the Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). Founded 
in 1961 by national and international businessmen, high-ranking technocrats andhigh-ranking 
military personnel, especially Escola Superior de Guerra (ESG)’s officers, with the financial 
support of associated companies and the US government, to integrate the various civilian and 
military groups in an opposition that could stop the government of João Belchior Marques 
Goulart (1961-1964) and the social forces that supported it. After the coup of 1964, ipesianos 
occupied the most important positions in the State. The research analyzes the political 
presence of members and partners of IPES and its area of influence in important instances of 
the Brazilian State after the coup. These are the federal state enterprises that existed in the 
first dictatorial government, which had ipesianos in their directions determining the direction 
of the companies within the interests of their class. Among the associated companies, were 
pharmaceutical industries, national and international, and entrepreneurs of the sector that 
financed and were articulated in the institute. During the dictatorship, more precisely in the 
government of Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967), they worked and exerted 
pressure in the formulation of public policies to safeguard their economic and political 
interests. The time cut comprises the period between 1961 and 1967 and is justified because it 
was a time marked by the foundation of the IPES and the end of the Castello Branco 
government. In this way, this study intends to understand the articulations of the business 
class in the early 1960’s, its economic and political project that gave rise to business-military 
dictatorship. 
 
Key-words: Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais; IPES; Business-military dictatorship; 
Federal state-owned companies; Pharmaceutical industry. 
 
 
 
 
 
 
 
 
vi 
 
Lista de quadros 
 
 
Quadro 1 – Membros da AMCHAM e suas ligações com outras entidades (1964) 50 
Quadro 2 – Valores enviados aos estados pelo IBAB 55 
Quadro 3 – Evolução do salário real (1958-1969) 120 
Quadro 4 – Expurgos na burocracia civil (1964-1967) 146 
Quadro 5 – Posição social das ocupações civis 148 
Quadro 6 - Tipos de punições com base nos Atos Institucionais 148 
Quadro 7 – Relação dos ministérios e ministros no período 1964-1967 149 
Quadro 8 – Empresas estatais federais do setor financeiro e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 157 
Quadro 9 – Membros do CMN com ligações com sistema financeiro 163 
Quadro 10 – Desembolso efetuado pelo Sistema BNDE no setor siderúrgico – em R$ milhões 179 
Quadro 11 – Empresas estatais federais do setor siderúrgico e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 181 
Quadro 12 – Empresas estatais federais do setor elétrico e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 190 
Quadro 13 – Empresas estatais federais do setor da mineração e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 198 
Quadro 14 – Empresas estatais federais do setor petrolífero e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 203 
Quadro 15 – Empresas estatais federais do setor de tecnologia e seus gestores ipesinaos 
(1964-1967) 208 
Quadro 16 – Empresas estatais federais do setor telecomunicações e seus gestores 
ipesianos (1964-1967) 213 
Quadro 17 – Empresas estatais federais do setor de transporte e seus gestores 
ipesianos (1964-1967) 217 
Quadro 18 – Empresas estatais federais do setor infraestrutura e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 225 
Quadro 19 – Empresas estatais federais do setor agricultura e seus gestores ipesinaos 
(1964-1967) 238 
Quadro 20 – Empresas estatais federais do setor administrativo e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 249 
Quadro 21 – Empresas estatais federais do setor educação e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 262 
Quadro 22 – Empresas estatais federais do setor social/saúde e seus gestores ipesianos 
(1964-1967) 273 
Quadro 23 – Empresas estatais federais do setor turismo e seus gestores ipesianos 
 (1964-1967) 280 
Quadro 24 – Ipesianos na elaboração da reforma administrativa (1963) 282 
Quadro 25 - Capital estrangeiro aplicado no Brasil (1960) 305 
Quadro 26 – Setores que receberam o capital norte-americano (1960) 305 
Quadro 27 – Setores que mais receberam investimentos estrangeiros no Brasil (1960/1961) 306 
Quadro 28 – Participação das indústrias nacionais e estrangeiras em diferentes setores (1960) 311 
Quadro 29 – Número de laboratórios nacionais entre as vinte maiores empresas no mercado 
(1957-1962) 307 
Quadro 30 – Capitais estrangeiros investidos no Brasil (1963) 308 
Quadro 31 - Resumo das empresas estrangeiras que entraram no Brasil (1919-1973) 310 
Quadro 32 – Alguns laboratórios nacionais vendidos a grupos estrangeiros (1936-1983) 316 
vii 
 
Quadro 33 - Empresas dominantes no mercado brasileiro (1976) 319 
Quadro 34 – Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (1961) 325 
Quadro 35 – Participação do capital estrangeiro em indústrias brasileiras (1960-1961) 328 
Quadro 36 - Sindicatos e Associações farmacêuticas criadas no Brasil (1932-1967) 349 
Quadro 37 – Diretoria da ABIF (1964-1965) 361 
Quadro 38 – Diretoria da ABIF (1965-1966) 363 
Quadro 39 – Diretoria da ABIF (1966-1967) 363 
Quadro 40 - Diretoria da SINDUSFARMA (1964-1966) 365 
Quadro 41 – Diretoria do SINFAR (1964-1966) 368 
Quadro 42 – Diretoria do SINFAR (1966-1968) 369 
Quadro 43 – Diretoria do SINQFAR (1966-1968) 372 
Quadro 44 – Diretoria da ABIQUIM (1964-1967) 376 
Quadro 45 – Indústrias farmacêuticas que financiaram o IPES 380 
Quadro 46 - Diretoria da Hoechst do Brasil Química Farmacêutica (1964-1967) 383 
Quadro 47 – Diretoria da Merck (1964-1965) 392 
Quadro 48 – Diretoria da Merck Sharp & Dohme- MSD (1964) 392 
Quadro 49 – Diretoria da Química Farmacêutica Mauricio Villela (1964) 394 
Quadro 50 – Diretoria da Pravaz-Recordati Laboratórios (1962-1967) 395 
Quadro 51 – Diretoria do Laboratório Farmacêutico Internacional (1963-1964) 396 
Quadro 52 – Diretoria da Indústrias Farmacêuticas Fontoura-Wyeth (1964-1966) 397 
Quadro 53 – Diretoria da Laborterápica-Bristol (1964-1967) 399 
Quadro 54 - Empresários do setor farmacêutico no IPES 410 
Quadro 55 – Empresas e associações onde Paul N. Albright trabalhou 415 
Quadro 56 – Empresas e associações onde Paulo Ayres Filho trabalhou 416 
Quadro 57 – Atuação profissional de Paulo Ayres Filho 420 
Quadro 58 - Empresa e associações onde Fernando Edward Lee trabalhou 423 
Quadro 59 - Empresas e associações onde Jayme Torres trabalhou 425 
Quadro 60 – Empresas onde Amilar Campos Filho trabalhou 427 
Quadro 61 - Empresas e associações onde Mauricio Libânio Villela trabalhou 428 
Quadro 62 – Empresas e associações onde José Scheinkmann trabalhou 429 
Quadro 63 - Empresas e associações onde Zulfo de Freitas Mallmann trabalhou 431 
Quadro 64 - Empresas e associação onde Hélio José Pires de Oliveira Dias trabalhou 433 
Quadro 65 - Empresas e associação onde Domingos Pires de Oliveira Dias trabalhou 435 
Quadro 66 - Empresas e associações onde Humberto Monteiro da Cunha trabalhou 438 
Quadro 67 – Legislações que regulamentaram o capital estrangeiro no Brasil (1946-1964) 446 
Quadro 68 – Comparações entre a Lei nº 4.131 e o Projeto de Lei nº 4.677 448 
Quadro 69 – Observações apontadas por Paulo Ayres Filho para o governo 527 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
viii 
 
 
Lista de figuras 
 
Figura 1 – Cartaz da UNE 78 
Figura 2 – Crescimento da indústria farmacêutica 291 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ix 
 
 
 
Lista de siglas 
 
 
ABDIB Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria Básica 
ABF Associação Brasileira de Farmacêuticos 
ABIF Associação Brasileira de Indústria Farmacêutica 
ABIFARMAAssociação Brasileira da Indústria Farmacêutica 
ABIQUIM Associação Brasileira da Indústria Química 
ABRAFARM Academia Brasileira de Farmácia Militar 
ACB Ação Comunitária do Brasil 
ACBC Associação de Cultura Brasileira Convivio 
ACM Associação Cristã de Moços 
ACMRJ Associação Comercial do Rio de Janeiro 
ACMSP Associação Comercial de São Paulo 
ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas 
ADEP Ação Democrática Popular 
ADESG Associação dos Diplomados pela Escola Superior de Guerra 
ADF Associação Democrática Feminina 
ADIPES Associação dos Diplomados do IPES 
ADP Ação Democrática Parlamentar 
AERP Assessoria Especial de Relações Públicas 
AGEF Rede Federal de Armazéns Gerais Ferroviário 
AGO Assembleia Geral Ordinária 
AI Ato Institucional 
AID Agency for International Development 
AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome 
AIFLD Institute for Free Labor Development 
ALALC Associação Latino-americana de Livre Comércio 
ALANAC Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais 
ALEF Aliança Eleitoral pela Família 
AM Amazônia 
AMCHAM American Chamber of Commerce for Brazil 
AMFORP American & Foreign Power Company 
AN Agência Nacional 
ANBID Associação Nacional dos Bancos de Investimentos 
ANF Academia Nacional de Farmácia 
ANIFAR Associação Nacional da Indústria Farmacêutica 
ANPES Associação Nacional de Programação Econômica e Social 
ANPES Associação Nacional de Programação Econômica e Social 
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
APEC Análise e Perspectiva Econômica 
ARENA Aliança Renovadora Nacional 
ASESTRA Assessoria Especial de Estudos de Reforma Administrativa 
AUI Associação Universitária Interamericana 
AVB Ação dos Vigilantes do Brasil 
BA Bahia 
BANERJ Banco do Estado do Rio de Janeiro 
BASA Banco da Amazônia 
x 
 
BB Banco do Brasil 
BCA Banco de Crédito da Amazônia 
BCB Banco Central do Brasil 
BENITA Beneficiamento de Itabirito 
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento 
BNB Banco do Nordeste do Brasil 
BNCC Banco Nacional de Crédito Cooperativo 
BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento 
BNH Banco Nacional de Habitação 
BPR Bloco Parlamentar Revolucionário 
CAB Curso de Atualidades Brasileiras 
CACEX Carteira de Comércio Exterior 
CACO Centro Acadêmico Cândido de Oliveira 
CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
CAEEB Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras 
CAMDE Campanha da Mulher pela Democracia 
CAPES Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal Especializado de Nível Superior 
CAS Corpo de Assistentes Sociais 
CBEE Companhia Brasileira Energia Elétrica 
CBP Consórcio Brasileiro de Produtividade 
CBR Confederação Brasileira Rural 
CCBFL Companhia Central Brasileira de Força Elétrica 
CCC Centro de Comando Anticomunista 
CCN Companhia Comércio e Navegação 
CCPIC Comissão Consultiva da Política Industrial e Comercial 
CD Comitê Diretor 
CD Conselho de Desenvolvimento 
CDFR Liga de Mulheres Democráticas 
CDI Comissão de Desenvolvimento Industrial 
CE Comitê Executivo 
CED Committee for Economic Development 
CEEB Companhia de Energia Elétrica da Bahia 
CEERG Companhia Energia Elétrica Rio Grandense 
CEF Caixa Econômica Federal 
CEFERJ Caixa Econômica do Estado do Rio de Janeiro 
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica 
CESIM Carteira de Exportação e Importação 
CESITA Companhia Aços Especiais Itabira 
CF Conselho Fiscal 
CFC Confederação das Famílias Cristãs 
CFEA Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura 
CFF Conselho Federal de Farmácia 
CFLMG Companhia Força e Luz Minas Gerais 
CFLN Companhia de Força e Luz Nordeste 
CFLP Companhia de Força e Luz do Paraná 
CFP Comissão de Financiamento da Produção 
CGT Comando Geral dos Trabalhadores 
CHESF Companhia Hidrelétrica do São Francisco 
CHEVAP Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba 
CIA Central Intelligence Agency 
xi 
 
CIB Centro Industrial do Brasil 
CIBRAZEM Companhia Brasileira de Armazenagem 
CIEE Centro de Integração Empresa-Escola 
CIERJ Centro de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro 
CIESP Centro das Indústrias do Estado de São Paulo 
CICYP Consejo Interamenricano de Comércio y Producción 
CLA Council for Latin American 
CLACE Centro Latino-Americano de Coordenação Estudantil 
CLT Consolidação das Leis do Trabalho 
CMBEU Comissão Mista Brasil-Estados Unidos 
CMN Conselho Monetário Nacional 
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 
CNE Conselho Nacional de Economia 
CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear 
CNG Conselho Nacional de Geografia 
CNI Confederação Nacional das Indústrias 
CNP Conselho Nacional do Petróleo 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CNT Conselho Nacional de Transportes 
CNV Comissão Nacional da Verdade 
CO Conselho Orientador 
COBAL Companhia Brasileira de Armazenagem 
COFAP Comissão Federal de Abastecimento e Preços 
COMBRATUR Comissão Brasileira de Turismo 
COMESTRA Comissão Especial de Estudos da Reforma Administrativa 
COMIND Banco Comércio e Indústria de São Paulo 
CONCLAP Conselho das Classes Produtoras 
CONEP Comissão Nacional de Estímulo à Estabilização de Preços 
CONFE Conselho Federal de Estatística 
CONSIDER Conselho Consultivo da Indústria Siderúrgica 
CONSPLAN Conselho Consultivo do Planejamento 
CONSULTEC Sociedade Civil de Planejamento e Consultas Técnicas 
CONTEL Conselho Nacional de Telecomunicações 
COS Centro de Orientação Social 
COSIPA Companhia Siderúrgica Paulista 
CPDOC Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil 
CPEF Companhia Paulista de Estrada de Ferro 
CPFL Companhia Paulista de Força e Luz 
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito 
CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura 
CREAI Carteira de Crédito Agrícola e Industrial 
CRF Conselho Regional de Farmácia 
CRF Cruzada do Rosário em Família 
CSAB Curso Superior de Atualidades Brasileiras 
CSN Conselho de Segurança Nacional 
CTB Companhia Telefônica Brasileira 
CURSEF Curso Superior de Estudos Financeiros 
CVRD Companhia Vale do Rio Doce 
DASP Departamento Administrativo do Serviço Público 
DCT Departamento de Correios e Telégrafos 
xii 
 
DNAE Departamento Nacional de Produção Mineral 
DNEF Departamento Nacional de Estradas de Ferro 
DNER Departamento Nacional de Estradas e Rodagem 
DNOS Departamento Nacional de Obras de Saneamento 
DNPS Departamento Nacional de Previdência Social 
DNPVN Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis 
DNSPC Departamento Nacional de Seguros Privados de Capitalização 
DOI-CODI Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa 
 Interna 
DOPS Departamento de Ordem Política e Social 
DOU Diário Oficial da União 
DOSP Diário Oficial de São Paulo 
ECEME Escola de Comando e Estado Maior do Exército 
ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras 
ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil 
ELETROSUL Centrais Elétricas do Sul do Brasil 
EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicações 
EMC Educação Moral e Cívica 
EME Estado Maior do Exército 
EPEA Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada 
ESG Escola Superior de Guerra 
ETPAR Escritório Técnico Paulo de Assis Ribeiro 
EUA Estados Unidos da América 
FAC Frente Anticomunista Cristã 
FACUR Fraterna Amizade Cristã Urbana e Rural 
FAS Fundo de Ação Social 
FDA Food and Drug Administration 
FEBRAFARMA Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica 
FEE Foundation for Economic Education 
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço 
FGV Fundação Getúlio Vargas 
FIEGA Federação das Indústrias do Estado da Guanabara 
FIEPE Federação do Estado de Pernambuco 
FIERJ Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro 
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo 
FIFARMA Federación Latino-amreicana de la Indústria Farmacéutica 
FINAME Fundo de Financiamento pra Aquisição de Máquinas e EquipamentosIndustriais 
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos 
FIPEME Programa de Financiamento à Pequena e Média Empresa 
FIRJ Federação das Indústrias do Rio de Janeiro 
FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro 
FJD Frente de Juventude Democrática 
FMP Frente de Mobilização Popular 
FNM Fábrica Nacional de Motores 
FNQ Fundação Nacional da Qualidade 
FPN Frente Parlamentar Nacionalista 
FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar ao Menor 
FUNAR Fundo Agro-Industrial de Reconver 
FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho 
xiii 
 
FUNDEPRO Fundo de Desenvolvimento da Produtividade 
FUNTEC Fundo Tecnológico 
GAP Grupo de Ação Patriótica 
GAP Grupo de Assessoria Parlamentar 
GB Guanabara 
GD Grupo de Doutrina 
GE Grupo de Estudo 
GEA Grupo de Estudo e Ação 
GED Grupo de Estudo e Doutrina 
GEIFAR Grupo Executivo da Indústria Químico-Farmacêutica 
GEIPOT Grupo de Estudos para a Integração da Política de Transportes 
GEIQUIM Grupo Executivo da Indústria Química 
GI Grupo de Integração 
GLC Grupo de Levantamento de Conjuntura 
GLPs Good Laboratory Practices 
GO Goiás 
GOP Grupo de Opinião Pública 
GPE Grupo de Publicações/Editorial 
GRET Grupo de Trabalho sobre o Estatuto da Terra 
GT Grupo de Trabalho 
HIV Human Immunodeficiency Virus 
IAA Instituto do Açúcar e do Álcool 
IADESIL Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre 
IAPs Institutos de Aposentadoria e Pensões 
IBAD Instituto Brasileiro de Ação Democrática 
IBC Instituto Brasileiro do Café 
IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrária 
ICM Imposto sobre Circulação de Mercadoria 
ICT Instituto Cultural do Trabalho 
IDORT Instituto de Organização Racional do Trabalho 
IEA Instituto de Energia Atômica 
IED Instituto de Educação Democrática 
IFS Instituto de Formação Social 
IHGB Instituto Histórico Geográfico Brasileiro 
INDA Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário 
INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas 
INPS Instituto Nacional de Previdência Social 
INT Instituto Nacional de Tecnologia 
INTERFARMA Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa 
IOC Instituto Oswaldo Cruz 
IPES Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados 
IPM Inquérito Policial Militar 
IRD Information Research Department 
ITT International Telephone & Telegraph 
IUL Instituto Universitário do Livro 
JK Juscelino Kubitschek 
LAFI Laboratório Farmacêutico Internacional 
LBA Legião Brasileira de Assistência 
xiv 
 
LBAC Legião Brasileira Anti-Comunista 
LIDER Liga Democrática Radical 
LIMDE Liga de Mulheres Democráticas 
LLOYDBRÁS Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro 
LPB Laboratório Paulista de Biologia 
MA Maranhão 
MAC Movimento Antidemocrático 
MAF Movimento Familiar Cristão 
MDB Movimento Democrático Brasileiro 
MDM Mobilização Democrática Mineira 
MED Movimento Estudantil Democrático 
MG Minas Gerais 
MSD Movimento Sindical Democrático 
MTR Movimento Trabalhista Renovador 
MUD Movimento Universitário de Desfavelamento 
MUDES Movimento Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social 
NCNC National Captive Nations Committee 
NOVACAP Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil 
OAB Ordem dos Advogados do Brasil 
OBAN Operação Bandeirantes 
OEA Organização dos Estados Americanos 
OSPB Organização Social e Política Brasileira 
PAEG Programa de Ação Econômica do Governo 
PB Paraíba 
PCB Partido Comunista do Brasil 
PDC Partido Democrático Cristão 
PE Pernambuco 
PETROBRÁS Petróleo Brasileiro 
PL Partido Libertador 
PL Projeto de Lei 
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PP Partido Progressista 
PR Paraná 
PRN Partido da Reconstrução Nacional 
PSD Partido Social Democrático 
PTB Partido Trabalhista Brasileiro 
PTN Partido Trabalhista Nacional 
PUC Pontifícia Universidade Católica 
RAM Reamarmento Moral 
REDETRAL Resistência Democrática dos Trabalhadores Livre 
RFFSA Rede Ferroviária Federal 
RJ Rio de Janeiro 
RN Rio Grande do Norte 
RS Rio Grande do Sul 
SAJE Sociedade de Auxílio à Juventude Estudantil 
SANBRA Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro 
SC Santa Catarina 
SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanização 
SERPRO Serviço Federal de Processamentos de Dados 
SFH Sistema Financeiro de Habitação 
xv 
 
SINDIFAR Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado do Rio Grande do 
 Sul 
SINDURFARQ Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos e Químicos para Fins 
 Industriais no Estado de Minas Gerais 
SINDUSFARMA Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo 
SINFACOPE Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos, Medicamentos, 
 Cosméticos, Perfumarias e Artigos de Toucador do Estado de Pernambuco 
SINFAR Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos do Estado do Rio de 
 Janeiro 
SINQFAR Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado do Paraná 
SNA Sociedade Nacional de Agricultura 
SNFMF Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia 
SNI Serviço Nacional de Informação 
SP São Paulo 
SPVEA Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia 
SRB Sociedade Rural Brasileira 
SUDAM Superintendência da Amazônia 
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 
SUDEPE Superintendência do Desenvolvimento da Pesca 
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus 
SUMOC Superintendência da Moeda e do Crédito 
SUNAB Superintendência Nacional de Abastecimento 
SUPRA Superintendência de Política Agrária 
TERMOCHAR Termoelétrica de Charqueadas 
UCF União Cívica Feminina 
UDN União Democrática Nacional 
UEB União de Empresas Brasileiras 
UFBA Universidade Federal da Bahia 
UFF Universidade Federal Fluminense 
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro 
UNE União Nacional dos Estudantes 
USAID United States Agency for International Development 
USIBA Usina Siderúrgica da Bahia 
USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais 
VRDN Vale do Rio Doce Navegações 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xvi 
 
 
 
Sumário 
 
Introdução 1 
Objetivo geral 3 
Objetivos específicos 4 
Estrutura da tese 8 
Metodologia 9 
 
Capítulo 1 - O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o governo Castello 
Branco (1964-1967) 13 
 
1.1. Estrutura organizacional 23 
1.2. Recursos financeiros 36 
1.3. Mobilização da sociedade 59 
1.4. Campanha ideológica 90 
1.5. Os anteprojetos de reformas de base do IPES 101 
1.6. O IPES pós-1964 103 
1.7. Encerramento das atividades do IPES 112 
1.8. O governo de Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967) 117 
 
Capítulo 2 - O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) no Estado restrito (1964-
1967) 126 
 
2.1. Abordagem Histórica - 1930-1967 128 
2.2. Os ipesianos na direção das empresas estatais federais (1964-1967) 145 
2.3. A reforma administrativa 281 
 
Capítulo 3 – A indústria farmacêutica em perspectiva histórica e suas formas 
organizativas 291 
 
3.1. Contexto histórico 295 
3.2. Evolução da indústria farmacêutica no Brasil (1860-1967) 300 
3.3. Desnacionalização 311 
3.4. Farsas, fraudes e crimes da indústria farmacêutica 319 
3.5. Aspectos organizacionais das indústrias farmacêuticas 332 
3.6. Formas organizativas do Estado e da clase empresarial do setor farmacêutico 339
 3.6.1. Organização do empresariado 342 
xvii 
 
 3.6.1.1. Os aparelhos privados de hegemonia: as associações, federações e 
 sindicatos particulares 345 
 
Captítulo 4 – As articulações do setor farmacêuticono Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES) e no Estado (1964-1967) 379 
 
4.1. Indústrias farmacêuticas que financiaram o IPES 380 
4.1.1. Históricos das empresas 381 
4.1.2. As contribuições financeiras 400 
4.1.3. O conluio das indústrias farmacêuticas com a repressão 403 
4.2. Empresários e executivos do setor farmacêutico com ligações no IPES 410 
 4.2.1. Histórico dos empresários 412 
4.3. As políticas públicas para o setor farmacêutico 443 
4.4. Governo Castello Branco (1964-1967) 466 
 
Capítulo 5 – frações da burguesia contra o governo Castello Branco (1964-1967) 489 
5.1. As ambiguidades e tensões com relação às políticas públicas 496 
5.2. Ipesianos paulistas e Paulo Ayres Filho contra atacam o governo 521 
Conclusão 532 
Referências 537 
Anexos 564 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xviii 
 
 
 
 
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
Esta tese é resultado de uma reflexão em torno do Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), a partir de 2011, quando iniciei o mestrado no Programa de Pós-Graduação 
em Administração na Universidade Federal Fluminense (PPGAd/UFF). 
Conforme já apontara Dreifuss1, após o golpe de Estado de 1964, e iniciado o novo 
governo, sob a presidência de Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967), associados 
e parceiros do IPES, que haviam contribuído para os trabalhos do Instituto no sentido de 
depor o presidente João Goulart (1961-1964), foram os responsáveis pela elaboração da 
Reforma Administrativa, que se deu por meio do Decreto-Lei nº 200 de 1967. Constatei que 
os preceitos básicos desse decreto coadunavam com os do anteprojeto de Reforma 
Administrativa criado pelo IPES, no período de 1961 a 1964, o que confirmou a hipótese de 
que empresários e burocratas ligados ao Instituto estavam no controle do Estado, criando 
políticas públicas e reformas. O que sugere uma linha de continuidade na relação empresários 
pré-golpe com o desdobramento da estrutura administrativa do Estado pós-1964. 
A pesquisa deu origem a minha dissertação intitulada A participação do Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) na construção da Reforma Administrativa da ditadura 
civil-militar (1964-1967). 
 Com a documentação que levantei do IPES, as leituras que fiz durante e 
posteriormente ao mestrado e a participação, entre 2013 e 2017, no grupo de pesquisa 
Coletivo Mais Verdade2, onde era discutida a relação de poder da classe empresarial no 
Estado, verifiquei que existem várias questões sobre a importância política do IPES no 
período que antecedeu ao golpe e no primeiro governo ditatorial, que precisam ser analisadas 
e aprofundadas. 
 A obra do cientista político uruguaio René Armand Dreifuss, 1964 A conquista do 
Estado – Ação política, poder e golpe de classe, foi determinante nas minhas reflexões. 
Dreifuss desenvolveu uma pesquisa inédita sobre o IPES. Investigou as articulações do 
empresariado com os militares no IPES, um laboratório de ideias que organizava os interesses 
sociopolíticos do capital multinacional e associado, em torno do golpe que iria derrubar o 
governo de João Goulart, em 1964. Da mesma forma, indagou sobre as conexões do IPES 
 
1 DREIFUSS, René. 1964 A conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis (RJ): Vozes, 
2006, p. 447. 
2 O Coletivo Mais Verdade, criado em meados de 2013, no Rio de Janeiro, é integrado por uma equipe de 
pesquisadores de diversas áreas (História, Economia, Ciência Política, Jornalismo, entre outras). O objetivo do 
grupo é pesquisar as relações entre os grandes grupos econômicos e a ditadura militar que se instalou no Brasil 
em 1964, e que conformaram grandes impérios que se prolongam até o presente. 
2 
 
com associações empresarias na formulação de estratégias para a promoção de seus interesses 
de classe, sobretudo com o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e no essencial 
todas essas instituições alinhadas nos mesmos objetivos. 
 No seu levantamento, a partir dos documentos oficiais do IPES, Dreifuss identificou as 
empresas nacionais e internacionais que financiaram o instituto, bem como os empresários, 
tecnoempresários e diretores de empresas públicas e privadas que trabalharam e se 
articularam em uma conspiração no IPES. Após 1964, com a conquista do Estado, o autor 
evidenciou que os ipesianos ocuparam os setores-chave da administração pública, dos 
ministérios e das empresas públicas, onde asseguraram o rumo do Estado brasileiro servindo 
aos interesses gerais dos industriais e banqueiros multinacionais e associados. 
 Em razão da abrangência da sua pesquisa, Dreifuss deixou diversas lacunas para 
futuras pesquisas, que não foram indagadas de forma profunda, até porque seus objetivos 
imediatos eram identificar as forças sociais que emergiram na sociedade brasileira com o 
processo de internacionalização, em sua etapa moderna, e acompanhar sua intervenção no 
Estado e na sociedade brasileira. 
 Diante disto, alguns fatos levantados por Dreifuss indicam a necessidade de se 
investigar sobre questões que ele não se deteve em profundidade. Desta forma, decidi dar 
continuidade ao estudo sobre o IPES no doutorado em dois aspectos: 1) a predominância de 
ipesianos nas empresas estatais federais, após o golpe de 1964, com a “conquista” do Estado, 
mais precisamente no governo de Castello Branco (1964-1967); 2) a presença financeira das 
indústrias farmacêuticas no IPES, a participação dos empresários do setor nas articulações e 
ações políticas no instituto e as políticas públicas do primeiro governo ditatorial que 
beneficiaram o referido setor, uma vez que foi um dos setores econômicos que mais 
cresceram no Brasil. 
Após a pesquisa de Dreifuss, o IPES tem sido investigado por pesquisadores de 
diferentes áreas, tais como História, Ciência Política, Comunicação, Economia, 
Administração, Relações Internacionais, etc., que indagam acerca do golpe de 1964, mas não 
averiguaram os temas por mim escolhidos. Em relação ao primeiro, não encontrei estudos que 
mostrem e/ou discutam a grande presença de ipesianos nesses aparelhos do Estado, salvo uma 
referência ou outra. No que diz respeito ao segundo tema, os trabalhos encontrados, embora 
tenham contribuído com aspectos importantes sobre as indústrias farmacêuticas, discorrem 
apenas sobre o mercado farmacêutico, patentes, competições, inovações, medicamentos, etc. 
Não as analisam como um grupo econômico que teve relação direta com o golpe de 1964 e 
com a ditadura por meio do IPES. 
3 
 
A tese, portanto, está divida em duas partes. A primeira analisa caminhos que os 
ipesianos tomaram após o golpe. Consiste em aprofundar a identificação da presença política 
de associados e parceiros do IPES e sua área de influência em instâncias importantes do 
Estado brasileiro após o golpe de 1964. Trata-se das empresas estatais federais, existentes no 
período de 1964-1967, as quais tinham ipesianos ocupando os cargos de presidente, vice-
presidente, diretor e conselheiro. Da mesma forma, analisar algumas características e 
variáveis das suas ações políticas, destinadas a produzir mudanças para garantir os seus 
interesses particulares. 
A segunda parte incide em pesquisar as indústrias farmacêuticas, um dos setores 
privados mais globalizado em atividade no Brasil, com grande importância na economia 
capitalista, e, por isto, exerce forte pressão política, econômica e social no Estado. Esta parte 
está dividida em dois capítulos. O primeiro analisa o desenvolvimento das indústrias 
farmacêuticas no mundo e no Brasil e, além disso, sistematiza o conhecimento sobre as 
entidades de classe do setor no sentido de averiguar suas atividades políticas para defender os 
interesses das suas associadas. O segundo capítulo levanta e examina as indústrias 
farmacêuticas, nacionais e internacionais, e os empresáriosdo setor que financiaram e 
participaram da conspiração no IPES. Investiga, ainda, as políticas públicas do governo 
Castello Branco que beneficiaram o setor, bem como os ipesianos envolvidos nas suas 
formulações. 
Para finalizar, o último capítulo analisa as disputas das frações de classe durante o 
governo Castello Branco, que priorizou o capital externo. Como se mobilizaram em apoio ao 
golpe, os ipesianos, sobretudo os não associados ao capital estrangeiro, se sentiram traídos, 
afinal foi um governo que eles respaldaram e ajudaram a criar, e que passou a ameaçar a sorte 
de sua classe. 
 
Objetivo geral 
 
 Contribuir para compreender como as classes economicamente dominantes se 
organizou e desenvolveu estratégias e ações políticas, face à resistência de forças sociais e 
políticas adversas, para assegurarem a consecução dos seus objetivos: a conquista e direção 
do Estado. Dentre elas, empresários do setor farmacêutico, que financiaram e conspiraram no 
IPES para a instauração da ditadura empresarial-militar. Da mesma forma, perceber a 
extensão e as formas assumidas de ipesianos em instâncias estatais brasileiras durante o 
primeiro governo do regime ditatorial pós-64. 
4 
 
Objetivos específicos 
 
1- Aprofundar o conhecimento sobre o IPES com documentos inéditos encontrados do 
IPES-SP, com a finalidade de melhor compreender as conexões entre os empresários e 
o Estado, antes e depois do golpe; 
2- Identificar e analisar as empresas estatais federais e os empresários ipesianos que 
passaram pelos cargos de direção, com a finalidade de compreender a hegemonia de 
uma fração de classe no Estado, bem como as suas políticas para beneficiar o setor; 
3- Analisar as indústrias farmacêuticas e os empresários do setor que participaram do 
IPES com o objetivo de inferir sobre suas conexões empresariais, militares e políticas 
entre a derrubada de João Goulart e o governo Castello Branco; 
4- Identificar e analisar as formas de organização da burguesia empresarial do setor 
farmacêutico junto à sociedade civil e à sociedade política para analisar a sua pressão 
no sentido de beneficiar o setor; 
5- Analisar as divergências e insatisfações de empresários ipesianos com o governo 
Castello Branco. 
 
Para atender aos objetivos da pesquisa, o estudo segue o roteiro teórico-metodológico 
sugerido pelo marxista italiano Antonio Gramsci sobre Estado ampliado, por conter na sua 
elaboração as transformações sofridas pelo Estado capitalista, a dominação política de classe, 
a representação de interesses, as políticas estatais, as relações entre classe dominante, os 
aparelhos privados de hegemonia, ideologia, além de conceitos que explicam as correlações 
de força no Brasil no início dos anos 1960, discutidas ao longo de toda a tese. 
Estudando as mudanças no capitalismo no século XIX, Gramsci analisa o Estado, as 
modalidades de dominação e as relações de força sobre as quais se erguem as frações de 
classe. A partir destas questões, o marxista sardo delineia o conceito de Estado entendido de 
forma mais ampla, que é formado pela sociedade política e sociedade civil, as quais estão em 
permanente inter-relação. 
A sociedade política é formada pelas instituições específicas do Estado, ou seja, os 
aparelhos e agências governamentais incumbidos da administração e da organização dos 
grupos em confronto, tal como do exercício da coerção sobre o que não consentem. A 
sociedade civil é a base organizativa das vontades da vida social e expressa contradições e 
ajustes entre frações da classe dominante, é a arena da luta de classes e da afirmação de 
5 
 
projetos em disputas.3 Nela se encontram os aparelhos privados de hegemonia, que gozam de 
relativa autonomia legal e base material própria, onde se organizam as vontades coletivas dos 
grupos dominantes ou dos dominados que disputam para conquistar ou conservar hegemonia, 
atingindo a organização do poder do Estado, isto é, a sociedade política. Segundo Pronko e 
Fontes: 
 
Organizações nas quais se elaboram e moldam as vontades e com base nas quais as 
formas de dominação se difundem, generalizando modalidades de convencimento 
adequadas ao grupo ou fração dominante – convencimento que passa a ser, a partir 
de então, tarefa permanente e fundamental da burguesia para fortalecer a sua 
capacidade de organizar o consentimento dos dominados, interiorizando as relações 
e práticas sociais vigentes como necessárias e legítimas.4 
 
 Para organizar as vontades e a ação coletiva dos aparelhos, Gramsci aponta a figura do 
intelectual orgânico que, nas suas palavras, “são ‘prepostos’ do grupo dominante para o 
exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político”5. Portanto, têm 
a capacidade de serem os organizadores de seus interesses e da sociedade. 
Deste modo, o desenvolvimento de uma classe ou fração depende da capacidade dos 
aparelhos de gerarem seus intelectuais aptos a lhes conferirem homogeneidade, e, 
principalmente, a organização da sociedade em geral, o que “configuraria, de modo efetivo, a 
plena hegemonia da fração de classe específica por eles representada”6. A hegemonia é a 
visão de mundo, pautada por valores e crenças de um determinado grupo que se impõe sobre 
os demais grupos da sociedade. 
A conquista da hegemonia pelos aparelhos privados da sociedade civil é feita pela 
combinação da força e do consenso “que se equilibram de modo variado, sem que a força 
suplante em muito o consenso”7. O consenso, acrescenta Gramsci, é obtido também por meio 
da ação do próprio Estado restrito (sociedade política), que promove e difunde o projeto da 
fração de classe hegemônica. Portanto, explica Fontes por intermédio do conceito de 
hegemonia, Gramsci procurou analisar o processo de organização do consentimento, que 
remete ao trabalho de produção e difusão das concepções de mundo, da consciência social, de 
 
3 MENDONÇA, Sonia Regina. O Estado Ampliado como Ferramenta Metodológica. Marx e o Marxismo v.2, 
n.2, jan/jul 2014. 
4 PRONKO, Marcela e FONTES, Virgínia. Hegemonia. In: CALDART, Roseli Salete et al (org.). Dicionário da 
Educação no Campo. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Expressão Popular, 2012, p. 392. 
5 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, v. 3, pp.20-21. 
6 MENDONÇA, Sonia Regina. op. cit. p. 35. 
7 GRAMSCI, Antonio. op. cit. p. 95. 
6 
 
formas de ser adequadas aos interesses do capital (hegemonia) ou, ao contrário, capazes de 
opor-se resolutamente a este (contra-hegemonia)8. 
Porém, os processos não são unívocos. O Estado constitui também o terreno do 
conflito de classe, que é, ao mesmo tempo, instrumento de uma classe e também lugar de luta 
hegemônica e processo de unificação das classes dirigentes9. 
Para discutir o Estado capitalista, do século XX, é usado o arcabouço teórico do grego 
Nicos Poulantzas. Poulantzas na sua obra O Estado, o poder, o socialismo, ao analisar a 
situação política na Europa e o fenômeno do estatismo autoritário, faz uma discussão em 
torno do Estado, do poder e das classes sociais. 
Para sair do círculo de estudos acerca do domínio político, que diz que o Estado se 
reduziria à dominação política no sentido em que cada classe dominante produziria seu 
próprio Estado, à sua medida, à sua conveniência e manipulá-lo à sua vontade, portanto, todo 
Estado não passaria de uma ditadura de classe, Poulantzas discute o alcance da utilização de 
classe do Estado. 
 
O Estado apresenta uma ossatura material própria que não pode de maneira alguma 
ser reduzida à simples dominação política. O aparelho de Estado, essa coisa de 
especial e por consequência temível, não se esgota no poder do Estado. Mas a 
dominação política está ela própria inscrita na materialidade institucional do Estado. 
Se o Estado não é integralmente produzido pelas classes dominantes, não o é 
também por elas monopolizado.Nem todas as ações do Estado se reduzem à 
dominação política, mas nem por isso são constitutivamente menos marcadas.10 
 
Poulantzas rejeita, assim, o Estado como uma entidade de direito exclusivo de uma 
única classe, e passa a evidenciar as contradições que perpassam as relações de força. O 
Estado capitalista, explica o autor, é expresso pelas dimensões política e econômica nas 
relações que esse Estado estabelece com as estruturas das relações de produção e com as lutas 
de classe. É, portanto, uma condensação material de relações de forças entre classes e frações 
de classe, em que não há somente a presença, em seus aparelhos, das classes dominantes, mas 
também das classes dominadas. Não é homogêneo nem impermeável às contradições, mas 
imbuído de fissuras e permeado pelas contradições e lutas sociais. 
Com relação à dominação política e as lutas políticas na ossatura institucional do 
Estado, arcabouço que interessa na discussão da tese, o Estado capitalista constitui a 
burguesia como classe politicamente dominante. Ele representa a ou as classes dominantes, 
 
8 FONTES, Virginia. Reflexões im-pertinentes. História e capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Bom 
Texto, 2005. 
9 LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (Org.). Dicionário gramsciano. Tradução de Ana Maria Chiarini et al. São 
Paulo: Boitempo, 2017. 
10 POULANTZAS, Nicos. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1985, p. 17. 
7 
 
sob a hegemonia de uma de suas frações, o capital monopolista, e organiza o interesse político 
do bloco no poder, fenômeno particular das formações capitalistas, que indica a unidade 
contraditória das classes ou frações de classe politicamente dominantes. Portanto, constitui a 
unidade política das classes dominantes, à medida que detém uma autonomia relativa em 
relação a tal ou qual fração, a fim de assegurar a organização do interesse geral da 
burguesia.11 
Autonomia relativa do Estado, conforme Poulantzas, engendrada da relação entre o 
econômico e o político, possibilita sua mobilidade em torno de interesses divergentes e 
contraditórios de classe, resultante do jogo de contradições. 
Segundo Poulantzas, a unidade-centralização do Estado, em favor do capital 
monopolista, se estabelece por um complexo processo: 
 
A classe ou fração hegemônica não instaura apenas como aparelho dominante aquele 
que já tenha cristalizado por excelência seus interesses, mas também todo aparelho 
dominante de Estado tende a longo prazo a ser a sede privilegiada dos interesses da 
fração hegemônica e a encarar as modificações da hegemonia. Essa unidade se 
estabelece por toda uma cadeia de subordinação de determinados aparelhos a outros, 
e pela dominação de um aparelho ou setor do Estado, o que cristaliza por excelência 
os interesses da fração hegemônica sobre outros setores ou aparelhos, centros de 
resistência de outras frações do bloco no poder. Esse processo pode tomar assim a 
forma de toda uma série de subdeterminações e de dissimulações de alguns 
aparelhos em outros deslocamentos das funções e esferas de competência entre 
aparelhos e decalagens constantes entre poder real e poder formal; a forma de uma 
efetiva rede transestatal que sobrepuja e provoca curto-circuito em todos os níveis, 
os diversos aparelhos do Estado, rede que cristaliza por excelência, e por sua 
natureza, os interesses monopolistas; enfim pela subversão da organização 
hierárquica tradicional da administração do Estado, a dos circuitos de formação e de 
funcionamento de corpos-destacamentos especiais de altos funcionários de Estado, 
dotados de um alto grau de mobilidade não apenas interestatal mais igualmente entre 
o Estado e os negócios monopolistas e que, sempre pela estratégia de importantes 
transformações institucionais, são encarregados de colocar em ação a política e em 
favor do capital monopolista.12 
 
Uma das procupações nesse trabalho foi identificar aparelhos do Estado, as empresas 
estatais federais, que foram a sede dos interesses da fração hegemônica. Bem como a 
expressiva quantidade de civis e militares, que passou pela órbita do IPES e ocupou 
importantes e determinantes cargos nas estatais. Detentores de mobilidade entre o Estado e os 
negócios monopolistas, a presença desta fração das classes sociais nos aparelhos estatais 
explica as políticas e diretrizes implantadas. 
Dados tais contornos, a tese apresenta ainda reflexões sobre o capitalismo, 
intensificado no Brasil, no início do século XX, com a crescente industrialização, que foi 
 
11 POULANTZAS, Nicos. op. cit. pp. 145-151. 
12 Idem, p. 158. 
8 
 
responsável por mudanças estruturais no Estado, criando condições para a expansão do modo 
capitalista de produção. Para tal, para atender a essa reflexão, é indispensável analisar o 
crescimento das funções do Estado, no caso as empresas estatais federais; a nova burocracia; 
as novas correlações de força, pois o desenvolvimento do capitalismo é um problema que diz 
respeito à oposição entre classes sociais que emergem; e identificar os interesses sociais, as 
alianças políticas e as relações de poder desencadeadas com a industrialização que se 
converteram em base do Estado. No tocante à propriedade do capital, indagar o papel 
assumido pelas empresas de capital estrangeiro e pelas empresas estatais na constituição do 
capitalismo. 
 
Estrutura da tese 
 
A tese está dividida em cinco capítulos, que podem ser lidos de maneira independente, 
embora o seu sentido seja mais apreendido com a leitura do capítulo 1 no qual avança os 
estudos sobre o IPES, sua formação, seus objetivos e ações na direção de organizar o 
empresariado e segmentos da sociedade para desestabilizar e depor o presidente João Goulart. 
O capítulo 2 apresenta os levantamentos das empresas estatais federais e seus 
respectivos presidentes, vice-presidentes, diretores e conselheiros que passaram pela órbita do 
IPES. 
O capítulo 3 analisa a indústria farmacêutica, seu crescimento no mundo e no Brasil, 
que está diretamente relacionado com o processo de entrada e expansão das indústrias 
farmacêuticas estrangeiras atreladas às desnacionalizações. Para entender esse processo, o 
capítulo investiga ainda as formas organizativas da classe empresarial do setor. 
 O capítulo 4 analisa a participação das indústrias farmacêuticas e dos empresários do 
setor no IPES, seja com financiamentos, seja na organização de estratégias e ações para depor 
Goulart. 
 Por fim, no capítulo 5 são analisadas as disputas internas de frações da classe 
dominante no governo Castello Branco, que não foi discutido por Dreifuss, embora tenha 
pontuado que o Estado se tornou uma arena onde frações divergentes das classes dominantes, 
excluídas do bloco governante, ajustavam suas próprias divergências13. Frações da classe 
empresarial sentiram-se traídas, afinal foi um governo que eles respaldaram e ajudaram a 
formar. 
 
13 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 514. 
9 
 
Metodologia 
 
Na primeira parte da pesquisa, a meta inicial era levantar apenas as empresas estatais 
federais dos setores mais dinâmicos da economia, e que têm coerência com o ideário do IPES. 
Mas durante as buscas, encontrei empresas de segmentos menos ativos que têm ipesianos nas 
suas administrações, o que mostra uma dinamização ainda maior dos sócios e parceiros do 
instituto no Estado e sugere que, no período de 1964-1967, o Estado representou os interesses 
políticos da burguesia sob a hegemonia de uma de suas frações, o capital multinacional e 
associado. 
É importante registrar as dificuldades encontradas para fazer o levantamento das 
empresas existentes, bem como dos seus respectivos gestores durante o período pesquisado. 
Com relação às empresas estatais federais, não existe literatura ou órgão oficial que tenha a 
relaçãocompleta. Só a partir de 1981 que a Secretaria de Controle de Empresas Estatais 
(SEST)14 começou sistematizar e disponibilizar publicações sobre o conjunto dos organismos 
estatais. Da mesma forma, foi extremamente difícil obter os nomes dos presidentes, vice-
presidentes, diretores e conselheiros das empresas levantadas. Algumas empresas foram 
desativadas e os seus acervos se evaporaram, outras foram privatizadas e, como já esperado, 
não atenderam às minhas solicitações. Às estatais federais ainda existentes, recorri à Lei de 
Acesso à Informação15. Algumas forneceram dados completos, outras incompletos, diversas 
não possuíam as informações e um caso específico que tem que ser mencionado é o da 
Petrobrás, que se mostrou muito resistente para disponibilizar as informações, mas, depois de 
muita insistência e argumentação, cedeu. 
Diante dessa situação, para compor os quadros das empresas estatais e seus 
administradores, busquei elementos no Arquivo Nacional (RJ e DF), na Biblioteca Nacional, 
nas bibliotecas da Eletrobrás e do Instituto Aço Brasil, nos ministérios, no Diário Oficial da 
União, nos livros, nos jornais da época e na Internet, onde nem sempre encontrei informações 
completas. Portanto, a falta de dados do período não me permitiu construir uma amostra 
maior, mas, ainda assim, me proporcionou uma percepção extremamente útil de como o 
processo de decisão nas empresas estatais estavam nas mãos dos ipesianos, proporcionando 
 
14 Criada por meio do Decreto nº 84.128, de 29 de outubro de 1979, como órgão central do Subsistema de 
controle de recursos e dispêndios de empresas estatais, no âmbito do Sistema de Planejamento Federal. 
15A Lei nº 12.527, sancionada pela Presidência da República em 18 de novembro de 2011, regulamentou o 
direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas, e seus dispositivos são aplicáveis aos três 
Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Disponível em 
<http://www.acessoainformacao.gov.br/sistema/site/acesso_info.html> Acessado em: 27.01.2016. 
http://www.acessoainformacao.gov.br/sistema/site/acesso_info.html
10 
 
uma cooperação entre representantes do capital internacional, do capital nacional e os altos 
escalões do aparato estatal na construção da economia brasileira. 
Com os nomes das empresas levantados, os organizei em quatorze setores para melhor 
análise: financeiro, siderúrgico, elétrico, mineração, petrolífero, tecnologia, telecomunicações, 
transporte, infraestrutura, agricultura, administração, educação/cultura, social/saúde e turismo. 
Para cada setor, construí quadros detalhados com os nomes das empresas estatais, o tipo de 
empresa (empresa pública, autarquia, economia mista, fundação), os ministérios aos quais 
estavam vinculadas e seus ministros, e os nomes dos presidentes, vice-presidentes, diretores e 
conselheiros ipesianos com as datas de suas atuações nas empresas. É importante esclarecer 
que o nome e o tipo de empresa e o ministério vinculado dizem respeito ao período 
pesquisado. Em outro momento, as empresas podem ter outra nomenclatura, estarem 
enquadradas em outro tipo ou estarem vinculadas a outros ministérios. 
Devido às dificuldades de encontrar datas precisas e os desencontros de informações 
de atuação dos dirigentes, decidi por apresentar apenas as informações conseguidas, às vezes 
apenas a data de início na função. Há casos de dirigentes que já vinham atuando nas estatais e 
uma pequena minoria se manteve nas empresas no fim do governo Castello Branco. 
A pesquisa não tem como finalidade analisar em profundidade os setores dentro da 
economia brasileira, já fartamente estudados por outros pesquisadores. As decisões dependem 
de quem as toma, portanto, para compreender o processo de decisão nas empresas é 
necessário falar dos homens que as dirigiram. Desta forma, um dos objetivos do capítulo é 
investigar e analisar os ipesianos que estavam na condução das empresas estatais, onde 
tomavam e executavam decisões sobre os rumos das empresas, com objetivo de verificar: 1) 
suas atuações junto e no IPES e em outros aparelhos privados de hegemonia; 2) as suas 
atuações, conexões e relações nos setores público e privado; 3) as suas participações em 
entidades de classes; e 4) as suas contribuições na construção de políticas públicas. 
Para compor os perfis e as trajetórias dos ipesianos, busquei informações nos 
depoimentos de ipesianos no acervo de história oral do CPDOC/FGV, em livros biográficos, 
no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro do CPDOC, jornais de época e Internet. 
Com a finalidade de certificar se os dirigentes eram ipesianos, recorri aos documentos 
do IPES e à obra de René Dreifuss, que catalogou os associados, parceiros e apoiadores do 
instituto. Os documentos do IPES utilizados estão custodiados no Arquivo Nacional do Rio de 
Janeiro, no fundo correspondente e no Centro de Pesquisa e Documentação de História 
Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), no acervo de Paulo 
Ayres Filho. 
11 
 
Na segunda parte, que diz respeito às indústrias farmacêuticas, dissertei, a partir de 
vasta bibliografia dedicada ao tema, sobre o crescimento do setor no mundo e no Brasil; a 
organização interna das empresas; e a desnacionalização. Ainda rastreei e analisei a 
organização dos empresários, existentes no momento histórico pesquisado, em torno das 
entidades de classe com vistas a perceber suas demandas e/ou pressões setoriais, lutas 
internas, entre entidades e no Estado, para efetivamente defenderem seus interesses e seus 
projetos. 
Após o levantamento das entidades de classe do setor, fiz contato com as que ainda 
estão em atividade para obter dados sobre as histórias de suas formações, atuações, dirigentes, 
vozes discordantes, etc., já que as informações em suas páginas oficiais na Internet não dão 
conta do debate que se desenvolveu no seu interior. Elas dizem respeito apenas às 
organizações e atividades atuais. Mas não obtive o retorno desejado, a maioria ignorou 
minhas solicitações por e-mail ou por telefone. O presidente da Academia Nacional de 
Farmácia, Lauro D. Moretto, por exemplo, respondeu meu e-mail e me encaminhou para 
Serafim Branco e Dan Gedankien, os quais nunca me replicaram, mesmo com minha 
insistência. 
Diante da falta de comunicação, fui diretamente a algumas entidades, mas da mesma 
forma não obtive dados e informações, pois os profissionais que me receberam alegaram que 
não possuíam acervos. Consegui entrevistar um diretor do Sindicato das Indústrias 
Farmacêuticas do Rio de Janeiro (SINFAR), Onésimo Azara Pereira, que não só se esquivou 
com as minhas indagações, como me deu respostas evasivas. Quando o perguntei sobre a 
entidade de classe, a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (ABIF), afirmou que 
nada sabia, mas depois eu li, em um jornal de época, que foi seu diretor. Apenas o Sindicato 
de Pernambuco me passou algumas informações a respeito da sua formação. 
Neste contexto de dificuldades de obter elementos para fazer comparações e 
confrontos, já que o setor privado se fecha tanto pessoalmente como nas suas redes virtuais 
públicas, busquei subsídios nos jornais de época, Internet, Diário Oficial da União, jornais 
voltados para a comunidade farmacêutica, A Gazeta da Pharmácia, e alguns poucos números 
da revista da ABIF, custodiadas na Biblioteca Nacional. Ainda assim não encontrei 
informações satisfatórias de algumas empresas e entidades. 
No segundo capítulo da segunda parte da tese são apresentadas as indústrias 
farmacêuticas e os empresários do setor que passaram pela órbita do IPES, bem como as 
políticas públicas do governo Castello Branco que atenderam e beneficiaram o setor. O 
levantamento das empresas e dos empresários foi feito a partir dos documentos do IPES e da 
12 
 
obra de Dreifuss. A legislação do setor foi garimpada em algumas bibliografiase nos sites 
oficiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 
Com as informações levantadas, elaborei quadros detalhados das indústrias 
farmacêuticas e dos empresários do setor que financiaram e atuaram no IPES. No que diz 
respeito às indústrias, apontei o capital de origem, com a finalidade de acentuar a presença do 
capital estrangeiro no país, além de fazer um breve histórico da sua fundação, entrada no 
Brasil, e de seus dirigentes, com objetivo de encontrar os responsáveis pelos seus vínculos 
com o instituto. Com relação aos empresários, arrolei os laboratórios em que atuavam e os 
seus cargos nas empresas, e fiz uma análise dos seus perfis com a finalidade de apontar suas 
atuações no IPES, no Estado, nas entidades, e nos setores privados e públicos. Para obter as 
informações, busquei dados nas revistas dos laboratórios, em jornais de época, acervo da Casa 
de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Internet, jornais específicos do setor farmacêutico, no Diário 
Oficial da União e livros biográficos. 
No último capítulo da tese, que se refere às disputas de frações de classe no governo 
Castello Branco, sobretudo do setor farmacêutico, as informações foram levantadas nos 
documentos do IPES-SP e do IPES-GB, jornais de época e algumas pesquisas acadêmicas. 
Posto isto, é de fundamental importância esclarecer ainda que ipesianos são 
compreendidos aqui não só os militares, empresários e tecnoempresários que fizeram parte da 
estrutura formal do IPES. Mas também os convidados que participaram de diversas atividades 
organizadas pelo instituto, orientaram na elaboração de estratégias para desestabilizar o 
governo Goulart e trabalharam nos projetos de governo que vieram a ser implementados após 
o golpe, bem como os membros de associações privadas que atuaram em parceria com o IPES 
na conspiração. Embora não fizessem parte da estrutura organizacional do IPES, os 
convidados e os membros das associações defendiam, da mesma forma, os interesses do bloco 
multinacional e associado e atuaram conjuntamente, em que o IPES era o organizador das 
ações. 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
CAPÍTULO 1 – O INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES) E O 
GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967) 
 
 
O capítulo tem por finalidade analisar o IPES. O contexto político que deu origem ao 
seu surgimento, objetivos, formação e ações e estratégias desenvolvidas junto à sociedade 
civil e ao Estado. Bem como o primeiro governo ditatorial, de Castello Branco, de forma a 
compreender o papel da entidade nas transformações econômicas, políticas e sociais 
posteriores ao golpe. 
O IPES foi uma entidade formada por empresários nacionais e internacionais, 
tecnoempresários e militares de alta patente, em especial vinculados à Escola Superior de 
Guerra (ESG). Com o apoio financeiro do governo norte-americano e de seus associados, 
buscou integrar diversos grupos, civis e militares, e organizar uma coesão interna da fração 
mais internacionalizada do empresariado no Brasil em uma oposição que pudesse deter o 
governo de João Goulart e as forças sociais que o apoiavam, para obter o controle da 
sociedade e assegurar a “conquista”16 do Estado. 
O IPES surgiu dois meses após a posse de João Goulart, em um contexto de crise 
econômica e política no Brasil. Goulart assumiu a Presidência da República em setembro de 
1961, sob o regime parlamentarista. Uma solução conciliatória, diante da possibilidade de um 
golpe militar, com respaldo de setores civis conservadores para impedir sua ascensão ao poder 
e para reduzir sua capacidade de decisão, embora, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro 
de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), 81% da população da Guanabara manifestava 
opinião favorável à sua posse17. Em janeiro de 1963, após um plebiscito, foi restabelecido o 
regime presidencialista18. 
O empresariado tinha fortes restrições a Goulart, visto que quando estava à frente do 
Ministério do Trabalho, no segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), defendeu 
publicamente o aumento de 100% para os trabalhadores que recebiam salário mínimo19. 
O governo Goulart objetivava o desenvolvimento do capitalismo nacional, procurava 
proteger e incentivar os segmentos nacionais, acentuar as relações de interdependência e 
 
16 Expressão cunhada por Dreifuss para explicar como tecnoempresários e empresários do IPES asseguraram 
poder econômico e administrativo, por meio de seus cargos públicos, transformando o aparelho do Estado 
brasileiro em parte integrante dos interesses monopolistas que controlavam a economia. 
17 Revista O Cruzeiro – extra, de 16.09.61. 
18 Para saber mais sobre o plebiscito ver MELO, Demian Bezerra de. O plebiscito de 1963: inflexão de forças na 
crise orgânica dos anos sessenta. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense, 2009. 
19 STARLING, Heloisa Maria Murgel. Os senhores das gerais. Os novos inconfidentes e o golpe de 1964. 
Petrópolis (RJ): Vozes, 1986, p. 42. 
14 
 
complementaridade da economia brasileira com a internacional. Foi marcado por uma intensa 
crise econômico-financeira, com inflação altíssima; crises político-institucionais; ampla 
mobilização e participação popular e de trabalhadores no processo político brasileiro, que 
deixavam de ser classes subalternas, e passaram a participar do debate em torno das “reformas 
de base” e a reivindicar ajustes salariais; fortalecimento do movimento de trabalhadores do 
campo; etc. 
Para combater a inflação e retomar o crescimento do país, o Executivo lançou o Plano 
Trienal de Desenvolvimento Econômico-Social, proposto para o período de 1962-1965, 
elaborado pelos ministros Celso Furtado (do Planejamento) e San Tiago Dantas (da Fazenda). 
Mas o Plano fracassou, e nem a aceleração do crescimento nem a desaceleração da inflação 
ocorreram, resultado da convergência de condições políticas e econômicas internas e externas. 
 Segundo Ianni, o plano foi esvaziado porque propunha uma racionalidade possível 
que transcendia o entendimento das facções dominantes da burguesia. Os primeiros efeitos da 
política deflacionária provocaram reações nas diversas classes sociais, sobretudo as que viam 
uma relação positiva entre inflação e expansão dos negócios, além de ter posto em evidência 
que as forças políticas interessadas nas modificações em curso no setor industrial não 
aceitavam qualquer solução modificadora do modo capitalista de produção. Os grupos 
dominantes, conforme explica o autor, “temeram que fugissem das suas mãos os comandos do 
processo econômico, que o predomínio do capital e do mercado estivesse em risco”20. 
O governo intensificou seu trabalho no sentido de implantar as reformas de base 
(agrária, bancária, fiscal, eleitoral, universitária, etc.), que tinham como finalidades o 
desenvolvimento necessário ao capitalismo industrial brasileiro; atenuar as tensões sociais; 
aumentar a produção de alimentos, de matérias-primas para a indústria; e criar no campo um 
mercado para os bens manufaturados. A reforma agrária causou um embate na sociedade 
civil. Foi combatida no Congresso por políticos que representavam os interesses dos grandes 
proprietários rurais e por setores da Igreja Católica. Setores populares, em torno da Frente de 
Mobilização Popular (FMP)21, por meio de comícios e passeatas, passaram a exigir a reforma. 
 
20 IANNI, Octávio. Estado e capitalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, pp. 20-21. 
21 Movimento nacionalista surgido, em 1962, com o objetivo de pressionar em favor da implementação das 
chamadas reformas de base (agrária, urbana, tributária, bancária e constitucional). Liderada pelo governador do 
Rio Grande do Sul Leonel Brizola, congregou representantes de organizações como o Comando Geral dos 
Trabalhadores (CGT), o Pacto de Unidade e Ação (PUA), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União 
Brasileira dos EstudantesSecundários (UBES), além de elementos da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) e 
de entidades camponesas e femininas como a Frente Nacionalista Feminina. Não tendo chegado na prática a se 
constituir completamente como organização com atuação própria e definida, foi fechada após o movimento 
político-militar de 31 de março de 1964 (LAMARÃO, Sérgio. Frente de Mobilização Popular (FMP). In: 
15 
 
Em contrapartida, os setores conservadores, ai incluído o IPES, passaram a denunciar a 
“subversão”, a “comunização do país” e acusar o governo de promover a “desordem e a 
agitação popular”. 
Goulart ainda tomou outras medidas que incomodavam e desafiavam o empresariado: 
a nacionalização das concessionárias de serviços públicos (eletricidade, telefone), 
monopolizados pelos grupos estrangeiros Brazilian Traction-Light & Power, American & 
Foreign Power, International Telephone & Telegraph (ITT), moinhos, frigoríficos e indústrias 
farmacêuticas; o monopólio das exportações de café pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC); e 
ampliação do controle absoluto da importação de petróleo, outorgado à Petrobras, que, até 
então, era efetuada pelas refinarias particulares, que “comprometidas com os trustes pagavam 
por um tipo de óleo mais caro, quando na verdade recebiam outro mais barato, transferindo 
fraudulentamente recursos do país para o estrangeiro, por meio do sobrefaturamento”22. 
Sob intensas críticas de setores da burguesia nacional associada ao capital 
multinacional e dos credores estrangeiros, Goulart regulamentou a Lei de Remessa de Lucros, 
Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962, que diz respeito a “Disciplina a aplicação do capital 
estrangeiro e as remessas de valores para o exterior e dá outras providências”.23 Dentre várias 
medidas, a lei limitou o envio anual, a título de lucro, das empresas estrangeiras para o 
exterior. Só poderia ser enviado no máximo 10% do capital trazido para o Brasil como 
investimento. 
Em meio a essa movimentação interna, no campo internacional, o novo ministro das 
Relações Exteriores, Francisco Clementino San Tiago Dantas (1961-1962), efetivou o 
restabelecimento das relações diplomáticas com a União Soviética, rompidas em 1947, e 
repeliu as investidas dos Estados Unidos para que o Brasil aprovasse sanções contra Cuba, o 
“calcanhar de Aquiles” do governo norte-americano. A Revolução Cubana (1959) 
representava, aos olhos da América Latina, a possibilidade de transformação, o que ameaçava 
os planos dos “ianques” no sentido de conquistar toda a América, em meio à Guerra Fria. Na 
Conferência de Punta del Este, realizada no Uruguai, entre 22 e 31 de janeiro de 1962, a 
delegação norte-americana chantageou e insinuou que o resultado poderia prejudicar a 
aprovação das verbas da Aliança para o Progresso, discutida à frente neste capítulo. Na 
 
ABREU, Alzira Alves de et al (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: 
CPDOC, 2010). 
22 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1973, pp. 465-466. 
23 BRASIL. Lei nº 4.131, de 3 de dezembro de 1962. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4131.htm>. Acessado em 05.06.16. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4131.htm
16 
 
ocasião, expulsaram Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA) por quatorze votos 
a favor, e o Brasil se absteve24. 
A burguesia brasileira, deslocada de seu lugar central, não era mais a única detentora 
de um poder de classe dominante, perdeu a exclusividade, via alterada “suas relações com o 
Estado nacional-populista, como forma de fazer avançar seus interesses de classe” 25, e estava 
sobressaltada com a mobilização política das classes populares. Conforme ata do IPES, o 
“perigo do Brasil não é o comunismo, no momento, mas o movimento popular de subversão 
da ordem que será dirigido e encampado pelos extremistas”26. 
Empresas norte-americanas também passaram a pressionar o seu governo contra 
Goulart de forma individual. Em 1962, a mineradora Hanna Mining Company, presidida pelo 
brasilianista John Foster Duller Jr., solicitou ao governo Kennedy para não dar nenhuma 
assistência financeira ao Brasil até que Goulart resolvesse o caso do cancelamento de suas 
concessões no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais. A Radio Corporation of America 
(RCA), do setor de telecomunicações, através de seu executivo John Richard, e presidente da 
American Chamber of Commerce for Brazil (AMCHAM), discutida à frente, sugeriu que os 
Estados Unidos provocassem um colapso econômico no Brasil com o corte de toda ajuda ao 
governo Goulart. A agência de créditos oficial do governo federal estadunidense Export-
Import Bank of the United States, representada por seu presidente, William H. Drapper, 
sugeriu a Dean Rusk, Secretário de Estado dos Estados Unidos, 1961 a 1969, que o seu país 
adotasse a linha dura, recusando qualquer ajuda ao balanço de pagamento do Brasil, até que 
Goulart aplicasse um plano de estabilização monetária satisfatório para o FMI ou caísse com a 
crise de suas contas externas.27 
Além das ações do governo norte-americano, a Aliança para o Progresso é um 
exemplo da movimentação de intelectuais orgânicos norte-americanos, pautada pelos 
interesses da empresa privada. O lançamento da Aliança para o Progresso, no ano de 1961, 
vem coroar a mudança de posicionamento dos Estados Unidos frente à América Latina no 
processo posterior a Segunda Grande Guerra, principalmente após a Revolução Cubana de 
1959. 
 
24 KRAMER Paulo. Conferência de Punta Del Este. In: ABREU, Alzira Alves de et al (coords.) Dicionário 
Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 
25 STARLING, Heloisa Maria Murgel. op. cit. p. 43. 
26 Ata do IPES CD e CE de 27.11.61, p. 3. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
27 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O golpe militar de 64 como fenômeno de política internacional. In: 
TOLEDO, Caio Navarro (org). 1964 Visões críticas do golpe. Democracia e reformas no populismo. Campinas 
(SP): Editora da Unicamp, 2001, pp. 92-93. 
17 
 
O governo norte-americano estava disposto a fornecer “assistência econômica a longo 
prazo” aos países do hemisfério que se comprometessem a promover uma “revolução”, que 
consistia no fomento ao desenvolvimento econômico e “reformas sociais de caráter vital”, por 
meio de planejamento e com respeito à democracia.28 Definiu a política externa norte-
americana para a América Latina a fim de desenvolver um esforço cooperativo que acelere o 
desenvolvimento econômico e social dos países latino-americanos, mas conforme aponta 
Gonçalves, “Aliança pode ser entendida como um esforço do governo Kennedy na entrada de 
capital de seu país nos principais países do continente”, uma aliança, portanto, para fortalecer 
o domínio norte-americano nos países latinos. 29 
Por fim, a burguesia nacional, a multinacional-associada e as frações de classes sociais 
surgidas com a expansão industrial e financeira no governo Juscelino Kubitschek (1956-
1961), que sentiam ameaçados os seus interesses empresariais, se organizaram contra Goulart 
no sentido de esvaziá-lo e depô-lo. Portanto, o golpe de Estado de 1964 se deu devido “às 
restrições da aliança que estava no poder e ao deslocamento que, nessa aliança, algumas 
sofrem em detrimento de outras”30. 
Dentro desse quadro, formou-se uma nova aliança, uma força política para quebrar as 
alianças de classes, subverter a ordem populista, e constituir em centro estratégico de ação 
política, o IPES, com vista à ocupação do Estado para, assim, efetivar seu projeto de 
reordenação capitalista. E que, posteriormente, seria o responsável pela opção políticaque 
encaminhará os negócios da economia e da sociedade após 1964. 
 
O IPES foi fundado em 29 de novembro de 1961, mas já vinha se organizando e 
recebendo contribuições financeiras anteriormente. O recibo de nº 1, emitido para a 
Companhia Telefônica Brasileira (CTB), no valor de Cr$ 200.000,00, foi referente à 
contribuição de novembro de 1961. Sua primeira ata de reunião é datada de 12 de dezembro 
de 1961, mas seu lançamento oficial ao público ocorreu em 01 de fevereiro de 1962 com uma 
festa no Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro31. 
 
28 LOUREIRO, Felipe Pereira. Empresários, trabalhadores e grupos de interesse. A política econômica nos 
governos Jânio Quadros e João Goulart, 1961-1964. São Paulo: Editora Unesp, 2017, p. 143. 
29 GONÇALVES, Martina Spohr. American way of business: empresariado brasileiro e norte- americano no 
caminho do golpe empresarial-militar de 1964. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, 2016, p. 105. 
30 OLIVEIRA, Francisco de. Dilemas e perspectivas da economia brasileira no pré-64. In: TOLEDO, Caio 
Navarro (org.). 1964 Visões críticas do golpe. Democracia e reformas no populismo. Campinas (SP): Editora da 
Unicamp, 2001, p. 26. 
31 Correio da Manhã, de 02.02.62, 1º Caderno, p. 3. 
18 
 
Segundo Jorge Oscar de Mello Flores, em depoimento ao Programa de História Oral 
do CPDOC/FGV, ele foi o fundador do IPES. Conforme o empresário, o instituo nasceu de 
reuniões na casa de um advogado, no Leblon (bairro nobre na Guanabara-RJ), quando 
formaram um grupo de cinco pessoas, quatro empresários e o diretor da Casa de Rui Barbosa, 
que acreditavam que o “Brasil estava se comunizando”. As reuniões passaram a ser na Casa 
de Rui Barbosa e, posteriormente, fizeram uma plenária, de madrugada, na Associação 
Comercial, elegendo Mello Flores como presidente. Esse grupo se reuniu com o pessoal de 
São Paulo e determinou para presidente João Batista Leopoldo Figueiredo e vice-presidente, 
Mello Flores.32 
O banqueiro Mello Flores acrescenta que a maioria dos que fundaram o IPES estava 
no Conselho das Classes Produtoras (CONCLAP). Associação civil criada em 16 de julho de 
1959, por iniciativa de um grupo de representantes das classes produtoras que desejavam 
coordenar uma ação de vigilância e de defesa de seus interesses econômicos e políticos.33 
O CONCLAP foi articulado basicamente por um grupo de industriais, banqueiros, 
comerciantes e seguradores liderados por Jorge Behring de Matos, que consideravam que a 
intervenção do Estado na economia, tal como vinha sendo praticada, conduzia à abolição dos 
direitos e da liberdade de ação dos empresários. Defendendo a empresa privada, a estabilidade 
financeira e monetária e o capital estrangeiro, esse grupo se opunha com igual vigor ao 
controle de preços, ao direito de greve e à estabilidade de emprego.34 
De início, formou-se em São Paulo um grupo de empresários, que se definia como 
CONCLAP-SP, que não tinha necessariamente a mesma posição do conselho do Rio de 
Janeiro, também denominado CONCLAP-Rio. Em 1960, a presidência do CONCLAP foi 
entregue a Enéias Almeida Fontes.35 
Opôs-se frontalmente ao governo de João Goulart. O primeiro-ministro Brochado da 
Rocha solicitou ao Congresso poderes especiais para que o governo pudesse reprimir o abuso 
do poder econômico, monopolizar a importação do petróleo e de seus derivados, bem como o 
comércio de minérios e de materiais nucleares, regulamentar o estatuto do trabalhador rural e 
controlar a moeda e o crédito. O CONCLAP manifestou-se contra essas pretensões 
governamentais, considerando-as de inspiração comunista.36 
 
32 FLORES, Jorge Oscar de Mello. Jorge Oscar de Mello Flores II (depoimento, 1996/1997). Rio de Janeiro, 
CPDOC, 1998. 66 p. dat. 
33 Idem. 
34 ABREU, Alzira Alves. op. cit. 
35 Idem. 
36 Idem. 
19 
 
Pouco antes do golpe de 1964, o CONCLAP-Rio conclamou o empresariado a formar 
um “comando geral das forças produtivas”, e elaborou também uma Mensagem ao povo 
brasileiro, incitando-o a rebelar-se contra o governo. Em 11 de março de 1964, os membros 
do CONCLAP romperam formalmente suas relações com o governo João Goulart. Reunidos 
em convenção nacional, os empresários divulgaram uma mensagem na qual afirmavam estar 
conscientes de seu papel na vida do país e contrários à atuação do presidente da República, 
que permitia a organização de “forças espúrias” cujo objetivo era levar o país à “desordem 
generalizada”37. 
O empresário paulista Paulo Ayres Filho tem outra versão sobre o surgimento do 
IPES. Em fins de outubro de 1960, foi procurado pelo empresário Gilberto Huber Jr., que 
sabia do seu trabalho panfletário realizado com amigos de São Paulo há 10 anos. Convocou-o 
para a organização de uma entidade dedicada, exclusivamente, à defesa da economia de 
mercado. Quando assumiu a direção da Carteira de Crédito Geral do Banco do Brasil, no 
governo Janio Quadros, por indicação do então presidente do banco, João Baptista Leopoldo 
Figueiredo, os dois retomaram contato para a concepção final do que viria a ser o IPES. A 
renúncia de Janio, conforme o empresário, “tornou-se para todos nós urgentíssima a 
constituição legal do IPES”.38 Desde o início, contou com a adesão de diversos amigos 
empresários de São Paulo e do Rio de Janeiro, tais como Paulo Reis Magalhães, Harold 
Polland, Roberto Pinto de Souza, Luiz de Azevedo Antunes e Glycon de Paiva.39 
Aos poucos, explica Ayres Fº, inúmeros indivíduos e diversas empresas, bem como 
grupos já organizados e irmanados pelo mesmo desejo, foram se agregando ao IPES, além de 
 
37 ABREU, Alzira Alves. op. cit. Alguns empresários membros do CONCLAP: Enéias de Almeida Fontes, Jorge 
Behring de Matos, J. A. Bezerra de Medeiros, Paulo Ferraz, Lair Bocaiúva Bessa, Leopoldo Figueiredo, Lauro 
Carvalho, Aldo Xavier da Silva, Oscar de Oliveira, Hamilton Ferreira, A. A. Ribeiro Neto, A. J. Ferreira Dias, 
M. M. Sá Freire de Sousa e Nei Land (ABREU, Alzira Alves. op. cit.). Diretoria 1964-1966: Nelson Gonçalves 
Calafate (pres.), Ricardo Xavier da Silveira (vice-presid.), Paulo Victor da Costa Monnerat (vice-presid.), 
Roberto Xavier de Oliveira (vice-presid.), Jorge Frank Geyer (vice-presid.), Jorge Bandeira Dias Garcia (sec.-
geral), Oberon Bastos de Oliveira (1º sec.), Francisco Maia de Oliveira (2º sec.), Jarbas da Motta Ramos (1º tes.) 
e Sérgio Varvalho (2º tes.) (Conselho Superior das Classes Produtoras, Diretoria 1964-1966, s/d. Acervo 
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional). 
38 Segundo Dreifuss, a candidatura de Jânio Quadros representou a última tentativa eleitoral civil do grande 
capital para conseguir compartilhar o poder de Estado com o bloco populista vigente. O presidente compôs um 
Executivo que satisfez os grupos econômicos multinacionais e associados, com a presença de influentes 
associações de classe empresariais, membros da CONSULTEC e da ESG na administração pública e nos 
ministérios, e suas diretrizes políticas compatibilizavam-se com as recomendações de grupos de interesses 
empresariais. Com a renúncia de Jânio, conforme o autor, foi frustrada a tentativa de se tomar o poder por meio 
de ações legislativas / eleitorais e de generalizar as proposições modernizantes-conservadoras. Com a ascensão 
de João Goulart ao governo, o bloco multinacional associado, na eminência de perder sua posição econômica 
privilegiada, preparou-se para restringir as demandas populares e reprimir os interesses tradicionais pela 
imposição de ações fora das instituições políticas estatais. . DREIFUSS, René Armand. 1964: A conquista do 
Estado. op. cit. 
39 Como nasceu o IPES, Paulo Ayres Filho, 1971. Acervo Paulo Ayres Filho, CPDOC/FGV. 
20 
 
novas entidades organizadas pelo próprio instituto. O objetivo fundamental foi definido 
naquele momento: “defendere divulgar a economia de mercado e, portanto, a sagrada 
liberdade do indivíduo, indispensável para a melhor solução dos problemas que o Brasil 
enfrentava”40. 
Não interessa aqui saber especificamente quem foi o pai da ideia ou a data exata da 
sua criação, mas destacar que elementos da classe empresarial já vinham se articulando, no 
início dos anos 1960, de forma diferenciada e em distintos lugares, para a criação de uma 
entidade que defendesse seus interesses de classe. Dreifuss levantou a questão sobre o mito da 
abstenção dos empresários em relação à política na literatura político-histórica brasileira, que 
reforçou a ideia de que empresários tinham um horror natural ao envolvimento nesses 
assuntos. Conforme o autor, 
 
Foi negligenciado o papel dos empresários e tecnoempresários na liderança política 
dos acontecimentos, na definição de diretrizes políticas e táticas empregadas para 
enfrentar a crise de insubordinação das classes dominadas contra o regime imposto e 
o desenho de controlar o Estado por parte dos industriais e banqueiros do bloco de 
poder multinacionais e associado.41 
 
Segundo documento de 196142, que define as bases para a formação da entidade, as 
classes produtoras deveriam evoluir para a prática de um capitalismo modernizado para 
enfrentarem a intervenção do Estado no domínio da economia, a crise política, o paternalismo 
em relação à força de trabalho e a inflação, que estava abalando o fundamento da iniciativa 
privada. Perseguindo os propósitos da organização para a livre empresa norte-americana, o 
Committee for Economic Development (CED), sediada em Washington, propôs a 
constituição de uma entidade que congregasse empresários e especialistas em ciências sociais, 
sobretudo economistas e sociólogos, voltados, ao mesmo tempo, para a renovação na 
atualização da empresa privada, como também para dedicarem-se ao estudo dos grandes 
problemas da nação e dos empresários em função dos interesses destes, e para a busca de 
soluções para os problemas políticos e sociais. 
Essa entidade, ainda segundo o documento, deveria passar a exercer considerável 
influência no governo, no Congresso, na imprensa, nos sindicatos, nas universidades, nas 
Forças Armadas, no clero, etc., impressionando a opinião pública e ganhando o respeito 
generalizado de todos os setores da vida nacional, inclusive das próprias classes produtoras.43 
 
40 Idem. 
41 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 502. 
42 Circulação restrita. A iniciativa particular a serviço do progresso econômico e social do povo brasileiro, 
18.11.61. Acervo Paulo Ayres Filho, CPDOC/FGV. 
43 Idem. 
21 
 
Para a organização da entidade, o documento enumera a criação de um estatuto da 
sociedade e de um documento com o diagnóstico das dificuldades do país; a constituição de 
grupos de estudos, seguindo uma ordem de prioridade para análise e manifestação sobre as 
reformas de base (agrária, tributária, bancária, empresa privada, educacional, etc.) com a 
relação dos princípios e as diretrizes normativas de tais reformas; e pronunciamento de 
empresários e especialistas. 44 
Os membros seriam classificados em ativos e contribuintes. Os primeiros recrutados 
entre empresários em condição de colaborar nos estudos; e os segundos para efeito de 
financiamento da entidade, que poderiam ser indivíduos ou empresas. Os sócios seriam 
brasileiros, mas a entidade aceitaria donativos de empresas de outras origens. Os cientistas 
sociais, em conjunto com membros da assessoria, formariam a assessoria técnica, que seriam 
incumbidos da pesquisa de dados e do preparo de exposições que servissem de documentos de 
trabalho para a discussão dos temas escolhidos pelos sócios atuantes. Haveria, ainda, um 
secretário e um agente de relações públicas para assegurar a publicidade dos trabalhos 
concluídos e sua remessa a quem interessasse. 
Os empresários convidados para formar a sociedade, conforme o planejamento do 
documento, seriam recrutados entre aqueles com capacidade intelectual, tempo para as 
tarefas, que fizessem contribuição financeira, residissem no Rio de Janeiro e em São Paulo e 
na faixa etária entre 30 a 50 anos. Os nomes sugeridos no documento foram: Abellard 
Barreto, Aldo Franco, Angelo Mário Cerne, Emil Farah ou I. Éboli, Fábio Bastos, Gilberto J. 
Huber, Glycon de Paiva, Guilherme Borghoff, Gustavo Borghoff, Harold Cecil Polland, Hélio 
Beltrão, Israel Klabin, João Baptista L. Figueiredo, João Baylongue, João Carlos Vital, Jorge 
Oscar de Mello Flores, Jorge Resende, José Luiz Moreira de Sousa, José Mindlin, Lélio 
Toledo Pisa, Lucas Lopes, Lucas Nogueira Garces, Mário Toledo de Morais, Milcíades Sá 
Freire, Nelson Pereira, Paulo Ayres Filho e Paulo A. Barbosa. A maioria veio a compor o 
quadro de decisões do IPES, e outros contribuíram com o instituto.45 
Conforme o planejamento, seriam distribuídas notícias para os jornais, no dia anterior 
ao lançamento do IPES, a partir de entrevistas coletivas à imprensa com o presidente do 
instituto, sobre a importância do surgimento de uma entidade como o IPES e o seu papel na 
vida nacional, bem como distribuídas cópias da Carta de Princípios. No jornal Correio da 
Manhã46 saiu matéria intitulada “Soluções democráticas para os problemas brasileiros” e no 
 
44 Idem. 
45 Idem. 
46 Correio da Manhã de 02.02.62, 1º Caderno, p. 3. 
22 
 
Jornal do Brasil47, “O IPES vai planejar a democracia”. Em ambas as matérias, o IPES se 
apresentava e foram destacados os seus objetivos, definição de atitudes, postulados, etc. 
No seu Estatuto48, o instituto se apresenta como uma “sociedade civil sem fins 
lucrativos, de caráter filantrópico e com intuitos educacionais, sociológicos e cívicos”. 
Pretendia estimular a livre empresa, o “fortalecimento do regime democrático do Brasil” por 
meio de uma ação que consistia em estudar os problemas brasileiros e apresentar soluções. 
Sua ação baseava-se em “ver, julgar e agir”49. 
Uma vez criado, o IPES se declarou uma “entidade apolítica”50 e se autodefiniu como 
“Estado-Maior”51, inspirado na Encíclica Mater et Magistra52 e na ata da Aliança para o 
Progresso. Mas ocultou sua verdadeira identidade e seus propósitos. Foi o partido político da 
burguesia, que dentro da concepção teórico-metodológico de Gramsci constitui como 
“organização para dirigir a situação em momentos historicamente vitais para sua classe”53, 
formado por homens de cultura, que têm a função de dirigir, do ponto de vista da cultura, da 
ideologia geral, um grande movimento de partidos afins. É a “primeira célula na qual se 
sintetizam germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais”54. 
O IPES era, portanto, um aparelho privado de hegemonia, que conforme Gramsci, é 
uma instituição da sociedade civil voltada à sedimentação de um dado consenso, a hegemonia, 
no sentido da vitória de uma visão de mundo sobre outras, a ser conseguida por meio da 
ocupação de espaços ideológicos. Ainda conforme o autor, possui organicamente intelectuais, 
os quais têm a função de educadores e organizadores do mundo da produção econômica e da 
fração que a ele pertence. São prepostos do grupo dominante, articuladores com capacidade 
técnica, em todas as esferas, que dão homogeneidade e consciência com a finalidade de 
expandir a própria classe.55 
 
47 Jornal do Brasil de 02.02.62, 1º Caderno, p. 4. 
48 Estatutos do IPES, 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
49 Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES). Definição de atitude. s/d. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. A expressão “ver, julgar e agir” foi retirada da Mater et Magistra. 
50 O que é o IPES, p. 2, s/d. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
51Ata do IPES da Reunião Conjunta Rio/SP de 03.04.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
52 A carta encíclica Mater et Magistra (mãe e mestra) de João XXIII, criada em 15 de maio de 1961, em meio da 
Guerra Fria, atualizou as orientações levantadas pela Rerum Novarum, de Leão XIII. Tinha como objetivo pensar 
sobre a recente evolução da questão social à luz da doutrina cristã. Dá uma visão crítica das estruturas 
socioeconômicas do capitalismo, como também fornece os instrumentos capazes de corrigir as injustiças sociais. 
Para saber mais ver site do Vaticano. Disponível em <http://w2.vatican.va/content/john-
xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_15051961_mater.html>. Acessado em 05.04.16 
53 GRAMSCI, Antonio. op. cit. v. 3, p. 61. 
54 Idem, p. 16. 
55 Idem, v. 2. 
http://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_15051961_mater.html
http://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_15051961_mater.html
23 
 
O instituto, portanto, foi uma organização pretensamente científica, rica e sofisticada 
em recursos materiais e humanos capazes de desenvolver ações e estratégias para expandir 
sua capacidade de influência sobre a sociedade com o objetivo de desestabilizar, esvaziar e 
depor o presidente João Goulart, para, assim, “conquistar” o Estado. 
 
1.1 Estrutura organizacional 
 
Para alcançar seus objetivos, os ipesianos organizaram uma estrutura organizacional 
notável e sofisticada que funcionava sincronicamente para agilizar seus trabalhos, que era 
formada por um Comitê Executivo (CE), um Comitê Diretor (CD) e um Conselho Orientador 
(CO), estruturados nos centros regionais. Possuía uma Assembleia Geral Ordinária (AGO) e 
um Conselho Fiscal (CF), que competia examinar e fiscalizar todos os assuntos contábeis e 
patrimoniais.56 
O CE era composto por dez membros, metade de São Paulo e metade do Rio de 
Janeiro. Tinha a função de praticar todos os atos da administração, que não fossem privativos 
do CO e do CD, ou seja, era a “suprema direção administrativa”. Assim, estudava, elaborava e 
submetia ao CD os programas de atividades para o IPES desenvolver, bem como coordenava 
os diversos grupos de trabalho ou grupos de estudo. 
O CO, formado por no mínimo cinquenta e no máximo cem membros eleitos pela 
AGO, tinha a responsabilidade de traçar as diretrizes e orientar as atividades; eleger o CD; 
trabalhar na ampliação do quadro social e na arrecadação de recursos; e averiguar as contas e 
analisar o relatório anual do CE para eleição e posse do CO. 
O CD era composto de vinte a trinta membros, sendo a metade de cada região, SP e 
RJ, e lhe competia a elaboração do regimento interno; coordenar os projetos de ação do IPES 
em cada região; traçar as normas administrativas a serem executadas pelo CE, bem como 
examinar e aprovar suas contas.57 
Conjuntamente com seus cargos diretivos centrais, o IPES montou uma cadeia de 
unidades operacionais especializadas na preparação, coordenação e implementação das 
atividades políticas e ideológicas que agiam em segmentos sociais específicos para 
doutrinação e pressão, tais como militares, políticos, classe empresarial, sindicatos urbanos e 
rurais, classe trabalhadora, campesinato, movimentos estudantis, igreja, classe média, etc., 
 
56 Relatório IPES, s/d, pp. 6-7. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
57 Regimento Interno das sessões da comissão diretora, 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
24 
 
para atraí-los para seu projeto. As unidades operacionais eram compostas pelo Grupo de 
Integração (GI) e pelo Grupo de Estudo e Ação (GEA), dividido em cinco grupos: 
1) O Grupo de Levantamento de Conjuntura (GLC) ou Grupo de Pesquisa 
Responsável pela obtenção de informações e pelo planejamento estratégico. Sua 
função consistia em “acompanhar a evolução da conjuntura, avaliar e estimar” todos os 
acontecimentos políticos, econômicos e sociais. Com as informações coletadas, as avaliava e 
fazia estimativas quanto ao seu impacto e propunha mudanças táticas para influenciar no seu 
processo. Cabia ao GLC indicar as áreas de preocupação para o Grupo de Estudo (GE) e o 
Grupo de Doutrina (GD) para que estes pudessem realizar estudos e projetos, e compilar 
dossiês de indivíduos e de grupos e, posteriormente, distribuir um mapa com identificação da 
estrutura e das pessoas- chave das supostas organizações subversivas. No Rio de Janeiro, o 
GLC grampeou cerca de três mil telefones, para obter informações58 para serem manipuladas 
e usadas a seu favor. Era, portanto, responsável pelo planejamento estratégico e pela 
preparação da elite para a ação. 
2) Grupo de Assessoria Parlamentar (GAP) 
Localizado em Brasília, onde “seria verdadeiramente a MOLA a determinar a 
dinâmica da ação do IPES”,59 (grifo do documento). O GAP, criado pelo IPES, funcionava 
como um canal de financiamento para sua rede de deputados e senadores. Atuou no Senado e 
na Câmara para obter informes autênticos para melhor prejulgar os rumos da política 
governamental e para buscar apoio dos parlamentares para os seus projetos.60 Incumbia o 
fornecimento da determinante coordenação política da campanha anti-Goulart, americanista 
em seus princípios e assumidamente anticomunista. Fornecia, assim, ajuda intelectual, como 
estudos, pareceres, projetos de lei, discursos, emendas e bases argumentativas, principalmente 
para os parlamentares membros da Ação Democrática Parlamentar (ADP) e ligados ao 
IPES61. 
3) Grupo de Opinião Pública (GOP) 
Responsável pela manipulação da opinião pública por todos os meios de comunicação, 
para difundir o pensamento do IPES de maneira abrangente. Foi o grupo mais importante, 
 
58 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 205. 
59 Ata do IPES CE Rio/SP de 22.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
60 Ata do IPES CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
61 FARES, Seme Taleb. Esperança e Medo: a Guerra Fria e as relações Brasil-Estados Unidos no Congresso 
Nacional (1961-1964). Tese (Doutorado em Relações Internacionais). Universidade de Brasília, 2014. 
25 
 
aquele que levava “à opinião pública os resultados de sua pesquisa e estudos do IPES.62 Nas 
suas ações, competia-lhe disseminar declarações elaboradas pelo Grupo de Estudo e Doutrina 
do Rio de Janeiro e de São Paulo, a partir de sugestões feitas pelo GLC, para neutralizar a 
oposição, impedir a consolidação do governo “nacional-reformista”, bem como já difundir 
seus projetos para a construção do Estado baseado nos seus ideários. 
4) Grupo de Publicações/Editorial (GPE) 
Operacionalmente vinculado ao GOP, tinha como função produzir e difundir material 
com a mensagem ideológica anticomunista para teatro, cinema, rádio e televisão e jornais. O 
ex-policial, funcionário da Light e futuro escritor José Rubem Fonseca era o supervisor do 
grupo.63 
5) Grupo de Estudo e Doutrina (GED) 
Por meio de um agrupamento de unidades de pesquisa, o GED estudava os problemas 
nacionais e preparava estudos com análises e soluções que formavam a base para teses e 
diretrizes de longo prazo. Suas prioridades políticas eram estabelecidas pelo CE e por 
diretores do IPES, em composição com o GLC e o GAP. Preparava estudos de projetos de lei 
e emendas e os enviava para o GAP para que fossem apresentados no Congresso por 
parlamentares aliados. O grupo estudava e opinava sobre os assuntos que seriam a base para a 
formação da opinião pública64 e os enviava ao GOP para disseminá-las. 
O Grupo de Integração (GI) tinha como objetivo “integrar pessoas e corporações 
dentro do ‘espírito democrático’ do IPES e, ao mesmo tempo, arrecadar contribuiçõesfinanceiras para as atividades do instituto”65. Para alcançar suas metas promovia com 
frequência reuniões, debates, conferências, almoços e encontros privados e informais com 
empresários. 
Contava ainda na infraestrutura com a tesouraria, no RJ e SP, para examinar as 
situações financeiras e controlar a arrecadação de recursos e despesas, e secretárias e 
funcionários que cuidavam da burocracia administrativa. 
Documento do acervo de Paulo Ayres Filho, recentemente disponibilizado no 
CPDOC/FGV, do IPES-SP,66 mostra uma organização administrativa com outros órgãos. Os 
órgãos centrais de supervisão e coordenação eram formados pelo Conselho de Representação 
 
62 Ata do IPES CE e Chefes de grupos de 03.01.63; Ata do IPES Rio de 17.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas 
e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
63 Ata do IPES CE de 23.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
64 Ata do IPES Reunião de 05.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
65 Boletim mensal do IPES nº. 23, 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
66 Documento: Organização. Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
26 
 
Setorial (COS), Conselho de Representação Regional (COR), além do CD e do CE. O COS 
era constituído pelos membros do CD e pelos presidentes das Federações e Confederações 
correspondentes aos setores básicos de atividades econômicas. Era convocado para 
pronunciar-se no caso de ações de ordem geral com irradiações verticais partindo da cúpula 
dos setores. O COR era também constituído pelos membros do CD e pelos presidentes dos 
Conselhos das Classes Produtoras Regionais e Representantes Regionais escolhidos nas 
Unidades Federadas onde não havia tais conselhos. Reunia-se para pronunciar-se no caso de 
ações de ordem geral com irradiação horizontal partindo dos centros regionais. 
Os Órgãos Executivos Regionais existiam em cada região para aplicação local dos 
princípios gerais e eram formados por dois grupos: 1) Grupos de Ação Normais responsáveis 
pelas relações públicas e orientação da opinião pública; trabalhos para meios flutuantes que 
englobava o setor político e o setor administrativo; ações sobre meios predominantemente 
hostis (setores trabalhista e estudantil); e ações sobre os meios predominantemente favoráveis, 
como o setor militar e religioso; e os 2) Grupos de Ação Especial voltado para educação, cujo 
objetivo era promover a melhoria dos programas de educação não só na parte de instrução, 
mas “principalmente a de formação de caráter e mentalidade do aluno, treinando-o para 
participar construtivamente dos processos de evolução democrática”. 
Os Órgãos Executivos Centrais cuidavam do setor de cultura, “no ambiente e 
mentalidade nacionais”, como o livro, o cinema, o rádio, a televisão, etc., e dos contatos com 
associações e entidades de classe. 
Os Grupos de Estudos (GE) estavam divididos em cinco setores: 1) Setor de Doutrina, 
promovia a consolidação dos princípios doutrinários básicos; sua divulgação; e promovia 
programas de convivência de elementos representativos dos diversos grupos sociais, 
profissionais e políticos, 2) Grupo de Levantamento, cuidava da coleta, registro e divulgação 
de todos os fatos e informes que pudessem influir direta e indiretamente “nas atitudes e ações 
que o movimento deve recomendar para atingir os objetivos finais”, 3) Setor de Pesquisa, 
responsável pelas buscas de futuros líderes, de estudos já existentes de pesquisa de opinião 
pública e de informações sobre quaisquer assuntos de interesse para os objetivos finais de 
ação geral, 4) Setor de Estudo e preparo de material, promovia estudos econômicos, sociais e 
políticos, tais como casa própria, racionalização do trabalho, mercado comum, impostos, 
justiça eleitoral, democratização da propriedade, etc, e 5) Setor de Formação de Chefes, 
cuidou da criação de cursos e seminários para formação de líderes nos diversos setores da 
atividade e para doutrinação de empresários. 
27 
 
Para a construção e efetivação do seu projeto de ação política, o IPES só teria eficácia 
em nível nacional. Para isto, após a sua consolidação na Guanabara (RJ) e em São Paulo (SP), 
o instituto fundou outras unidades no Brasil para estimular e apoiar a mobilização de forças 
nas demais unidades federativas, objetivando a consolidação ou a conquista de pontos de 
apoio regionais. Eram eles: IPESul (1962),67 IPES Pernambuco, IPES Belo Horizonte 
(1962),68 IPES Paraná, IPES Manaus, IPES Santos (1962) e IPES Belém, que, apesar de 
autônomas, eram coordenadas e reguladas pelo Comitê Nacional (RJ e SP)69. 
Para além de planejar a extensão de suas ações em nível nacional, para que a 
influência fosse ainda maior e com o objetivo de estimular ações paralelas, integrar os homens 
e aumentar a arrecadação financeira, o IPES criou “ipesinhos” em cidades do interior, como a 
unidade de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, e nas empresas, para que os 
“empresários levem para dentro de suas empresas as ideias democráticas do IPES” e o 
“neocapitalismo liberal”.70 
Em entrevista ao Projeto de História Oral do Exército, em 2001, sobre o “movimento 
revolucionário”, Paulo Ayres Filho explicou que o IPES tornou-se uma “realidade no Brasil 
inteiro, inclusive nos ambientes mais fechados”71. Para que suas ações fossem mais efetivas, 
estabeleceu também convênios com outras organizações, com ideologias semelhantes, bem 
como organizou novas entidades e reestruturou diversas, colocando nas suas diretorias 
membros da Comissão Executiva do IPES. Estas parcerias tinham como finalidade garantir a 
unidade doutrinária para “fundamentar uma doutrina liberal de pensamento e ação” por meio 
da Magna Carta, da Declaração de Independência dos Estados Unidos, da Revolução 
Francesa, do liberalismo econômico e das formas capitalistas de produção. 72 
Nessa rede, o IPES, segundo documento, ficou com a função de “Estado-Maior”, 
coordenando, financiando, divulgando e promovendo essas entidades, além de dar orientação 
doutrinária e acompanhar suas atividades, ou seja, constituindo o aparelho hegemônico de um 
grupo social. As entidades novas seriam organizadas gradativamente, de acordo com as 
decisões da CE e dos grupos interessados. No primeiro estágio, cada entidade nova 
 
67 Ver MORAES, Thiago Aguiar de. Entreguemos a emprêsa [sic] ao povo antes que o comunista a entregue ao 
Estado: os discursos da fração “vanguardista” da classe empresarial gaúcha na revista Democracia e Emprêsa 
[sic] do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Rio Grande do Sul (1962-1971). Dissertação (Mestrado 
em História). PUC Rio Grande do Sul, 2012. 
68 Ver STARLING, Heloísa Maria Murgel. op. cit.. 
69 Ata do IPES CE de 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
70 Ata do IPES CD de 27.11.62, CE de 29.11.62 e Roteiro básico para um programa de ação a longo prazo, de 
06.06.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
71 1964-31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, de 16.10.2011. Acervo Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV 
72 Esquema de planejamento, 1965. Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
28 
 
funcionaria, até a sua organização jurídica, como um departamento do instituto na sua sede. 
No caso das entidades já existentes, o instituto apenas as estruturavam, e no caso de não haver 
concordância com seus dirigentes, perdia o interesse em continuar a subvencioná-las e 
organizava novas entidades. 
Eram as seguintes entidades apontadas pelo documento: 
Entidades existentes: 
Instituto de Formação Social (IFS) – criado em 10.06.63, na cidade de São Paulo (SP), 
tinha como finalidade o estudo e aprimoramento das soluções dos problemas 
socioeconômicos com base nos conceitosdemocráticos e cristãos73. Cuidava da cobertura de 
cursos de doutrinação e de formação democrática acessíveis a todos os níveis da sociedade, 
entre as classes trabalhadoras, empresários, executivos e gerentes, estudantes, camponeses e 
ativistas femininas. Cursos especiais de liderança e administração sindical e sindicalismo 
rural.74 Teve como presidente, no período de 1965 a 1967, o empresário José Carlos Reis de 
Magalhães, irmão do líder do IPES-SP, Paulo Reis de Magalhães. 
Instituto de Relações de Trabalho – Paulo Ayres Filho foi sugerido para dirigir o 
instituto. 
Instituto Universitário do Livro (IUL) – ciente de que a educação era de fundamental 
importância na disseminação do seu ideário, o IPES criou, em 1962, o IUL, para promover a 
publicação e distribuição de livros e apostilas didáticas universitárias, coerentes com a política 
ideológica do instituto75, a preço de custo; fundar e publicar um jornal universitário de 
ambiente nacional; instituir bolsas de estudos e promover ciclos de estudos, seminários, 
palestras e conferencias de interesse da classe universitária.76 Desenvolveu um programa de 
atividades em cooperação com diversas escolas superiores de São Paulo, como Faculdade 
Paulista de Direito, Faculdade de Direito Mackenzie, Escola Técnica de Química Industrial de 
Ribeirão Preto, Faculdade de Economia São Luiz, Faculdade de Filosofia e Engenharia Mauá. 
Além de ter criado um departamento de estágios com a finalidade de apresentar estudantes 
universitários às diversas empresas de São Paulo, aproximando os estudantes das classes 
produtoras.77 
 
73 DOSP de 13.07.63, Poder Executivo, parte 1, p. 83. 
74 Relatório de Atividades de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
75 Para saber mais sobre a atividade de disseminação dos valores ideológicos do grupo multinacional e associado 
realizada no Brasil na primeira metade da década de 1960, por meio de empreendimentos culturais, como edição 
de livros, ver GONÇALVES, Martina Spohr. Páginas golpistas: democracia e anticomunismo através do 
projeto editorial do IPES (1961-1964). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, 
2010. 
76 DOSP de 16.01.63, Poder Executivo, parte 2, p. 25. 
77 Relatório de Atividades de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
29 
 
José Ely Vianna, presidente do IUL, se comprometeu, mediante a quantia de Cr$ 
6.000.000,00, para produzir apostilas para intensificar a Campanha pela Manutenção do IUL, 
sob a fiscalização financeira e ideológica do IPES.78 Pelo decreto nº 41.651, de 18.02.63, o 
IUL foi declarado de utilidade pública, e revogado pelo Decreto nº 1.408, de 09.04.73. 
Foi sugerido no documento que a direção do IUL ficasse sob o comando de José 
Ulpiano de Almeida Prado, Moacyr Gaya (administrativo) e Frans Machado (financeiro) e 
que funcionasse em coordenação com o CLACE - Centro Latino-Americano de Coordenação 
Estudantil. A diretoria era formada por José Ely Vianna Coutinho (presidente, no período de 
1963 a 1965), o banqueiro e político Paulo Egydio Martins (ministro do Trabalho (1966), 
ministro da Indústria e Comércio (1966-1967)), ambos líderes do IPES-SP, Carlos Eduardo 
Corbett, Eduardo Figueiredo e Maria Lúcia Coutinho Galvão79. 
Novas entidades: 
Instituto de Altos Estudos Internacionais - Tinha como objetivo facultar ao empresário 
brasileiro uma mentalidade internacional, visando especificamente incrementar e estruturar as 
relações comerciais entre o Brasil e o exterior; situar o Brasil no mundo por meio de um 
programa de difusão de sua realidade cultural e socioeconômica; e propagar assuntos de 
política internacional, visando à compreensão das lutas ideológicas da atualidade. Foi 
sugerido o nome de Antonio Carlos Pacheco e Silva80 para dirigir. 
Instituto de Economia - Sua finalidade consistia em formular estudos, pesquisas e 
difundir a doutrina econômica liberal. Para sua direção foi sugerido o nome de Roberto Pinto 
de Souza. 
Instituto de Estudos Brasileiros - Cuidou dos levantamentos de questões de interesse 
nacional, objetivando seus estudos, pesquisas e debates na difusão de soluções. Daniel 
Machado de Campos foi indicado para dirigir. 
 
78 ASSIS, Denise. Propaganda e cinema a serviço do golpe 1962/1964. Rio de Janeiro: Mauad, 2001, p. 51. 
79 Ata do IPES CE São Paulo e Chefes de Grupos de 31.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional 
80 O médico psiquiatra A. C. Pacheco e Silva foi professor da Universidade de São Paulo (1935 a 1967); 
presidente a Liga Paulista de Higiene Mental (1926); lecionou na Escola Livre de Sociologia e Política (1933-
1956), Deputado Constituinte (1933-1934) sob a indicação da classe industrial paulista; presidente da empresa 
Armações de Aço Probel S/A (1948); vice-presidente do Instituto de Organização Racional do Trabalho 
(IDORT), em 1931; Presidente do Fórum Roberto Simonsen (1961); membro da Escola Superior de Guerra 
(ESG) e membro da comissão executiva da Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Era a favor de uma 
“medicina preventiva para o trabalhador, defendia uma disciplina rígida e padrões de seleção profissionais 
bastante exigentes do ponto de vista das condições de saúde do trabalhador, a fim de que não fossem contratadas 
pessoas com enfermidades de qualquer natureza” (GOMES, Luiza das Neves. Higiene Mental e Segurança 
Nacional na Obra de Antônio Carlos Pacheco e Silva. Anais do XVII Encontro de História da Anpuh-Rio, 
2016). 
30 
 
O coronel Jorge Santos, em relatório ao general Moacyr Gaia, diretor executivo do 
IPES-SP, sugeriu ainda convênios com outros institutos com a finalidade de “contribuir na 
sua aceitação pública como laboratório de doutrina democrática aprimorada com os 
complexos problemas da política e doutrinas internacionais”, como segue81: 
No campo sindical, discutido à frente, e da educação econômica, Jorge Santos fez 
indicações de organizações que poderiam “dar às classes produtoras uma convicção das 
vantagens do livre sindicalismo, seja este patronal ou das classes assalariadas” e uma 
educação sobre economia, que, no seu ponto de vista, a população “não se interessa por 
problemas de produtividade, finanças, economia, comércio, etc”, e não tem preocupação “em 
exercitar a poupança, aumentando a produtividade e a renda nacional e pessoal”. São eles: 
Instituto de Formação e Liderança (IFL) - acima discutido. 
Instituto Cultural do Trabalho (ICT) – agremiação defensora de ideias calcadas em 
interesses norte-americanos, desenvolvia programa de formação de líderes aproveitando a 
experiência que advém dos Estados Unidos. Foi fundado em 1963, com a colaboração do 
Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre (IADESIL); de um grupo 
de professores universitários da Faculdade de Direito da USP e Escola de Sociologia Política, 
que tinham experiência em cursos sobre legislação trabalhista e sindical; um grupo de 
sindicalistas; e alguns empresários, a partir do acordo de cooperação técnica do tratado do 
Programa Aliança para o Progresso. Tinha como objetivo “contribuir para a formação cultural 
e técnica e para o aperfeiçoamento e treinamento de trabalhadores em geral, inclusive para o 
exercício da liderança visando à harmonia entre o capital e o trabalho e o desenvolvimento da 
economia nacional em moldes democráticos”82. 
Segundo Manfredi, o ICT surgiu em função de interesses recíprocos existentes entre o 
governo e o patronato norte-americano. Partiu de um acordo entre Serafino Romualdi, 
sindicalista norte-americano, diretor do IADESIL, Rockefeller e Kennedy para organizar um 
instituto na América Latina para preparar dirigentes sindicais.83 
Foi declarado, no mesmo ano, de utilidade pública pelo Decreto nº 42.099. Teve como 
presidente José Barbosa deAlmeida (1963), Ruy de Azevedo Sodré (1967), Olavo Previatti 
(1969), Orlando Coutinho (1971) e Antonio Pereira Magaldi (1974). Sodré participou do 
Congresso Brasileiro para a definição de Reformas de Base, com a temática Participação dos 
empregados nos lucros das empresas, organizado pelo IPES para apresentar os anteprojetos de 
 
81 Notícia interna nº 284/64 de 09.09.64 - Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
82 DOSP, de 01.06.63, Poder Executivo, Parte 1, p. 131. 
83 MANFREDI, Silvia Maria. Educação sindical entre o conformismo e a crítica. São Paulo: Edições Loyola, 
1986. 
31 
 
reformas de base. Magaldi liderou o Movimento Sindical Democrático (MSD), controlado 
pelo IPES e IBAD, que recebia dinheiro norte-americano para atrair os trabalhadores e foi 
presidente da Federação dos Empregados do Comércio de São Paulo, em 1961, entidade que 
também era parceira do IPES nos seus objetivos. 
Após o golpe, o ICT recebeu, em julho de 1964, a visita do embaixador dos Estados 
Unidos no Brasil (1961-1966) Lincoln Gordon, que proferiu palestra na solenidade de 
formatura, quando afirmou que a American Federation of Labor and Congress of Industrial 
Organizations (AFL-CIO), maior central operária dos Estados Unidos, havia doado US$ 37 
milhões para projetos sociais patrocinados por sindicatos “amigos da América Latina”.84 O 
sindicalista “pelego”85 e ipesiano Ari Campista, da Confederação Nacional dos Trabalhadores 
na Indústria, acusou que o ICT, do qual havia sido membro do conselho consultivo, era 
financiado pelo AFL-CIO e pelo departamento de Estado dos Estados Unidos.86 
A atuação do ICT foi bastante profícua. Promoveu seminários regionais, com cursos 
básicos de liderança sindical, para sindicalistas alcançando, em 1965, 87 reuniões que 
influenciaram 2.477 dirigentes sindicais em todos os estados, à exceção do Acre.87 
Associação de Cultura Brasileira Convivio (ACBC) – Coordenado pelo padre 
Domingos Crippa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Era constituído de 
professores universitários, que desenvolveram atividades por meio de um instituto de 
formação, de uma agência de notícias, Planalto, e de centro de pesquisa. Os cursos eram 
destinados a estudantes e ao público em geral com a finalidade de oferecer orientações sobre 
os problemas do momento e esclarecer a opinião pública sobre problemas culturais, sociais e 
econômicos do Brasil.88 A organização tinha como objetivo combater a infiltração comunista 
no Brasil. Tinha como membro o empresário paulista Carlos Frederico Latorre (Lions Club de 
São Paulo – Indianópolis). A ACBC possuía um pequeno jornal, o Convivio, que publicava 
matérias sobre cultura em geral com “inclinação democrática”. Criou curso para jovens 
líderes “não doutrinados na ideologia comunista”. Planejou comprar algum jornal para contra- 
atacar a influência do jornal Última Hora, jornal de comunicação de massa que apoiou o 
 
84 Correio da Manhã de 25.07.64, capa. 
85 Termo utilizado para designar o dirigente sindical que defende as orientações do Ministério do Trabalho entre 
a classe trabalhadora, cumprindo assim o papel de intermediário entre os sindicatos e o governo. Na maioria das 
vezes os dirigentes pelegos transformam o sindicato em um órgão essencialmente assistencial e recreativo, 
evitando que sirva de canal para reivindicações de melhores salários e condições de trabalho. Muitas vezes, a 
designação pelego é atribuída aos dirigentes das federações e confederações sindicais, que têm acesso direto no 
Ministério do Trabalho e vivem à sua sombra. Disponível em 
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/glossario/pelego>. Acessado em: 17.02.18. 
86 Correio da Manhã de 13.02.65, 1º Caderno, p. 9. 
87 Correio da Manhã de 08.02.66, 1º Caderno, p. 7. 
88 Relatório de Atividades de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/glossario/pelego
32 
 
governo Goulart. Tentou o A Hora, mas este havia recebido uma proposta de 12 milhões de 
cruzeiros do IPES. Sendo assim, fez contato com os jornais O Tempo e o O Curitiba.89 Para 
pôr em prática o projeto da ACBC, Latorre recebeu promessas de contribuições de 
representantes da Volkswagen, Companhia Caracu e Grupo Matarazzo.90 Conforme Dreiufss, 
o IPES deu assistência financeira à ACBC.91 Era parte da Sociedade de Estudos 
Interamericanos (SEI).92 
A SEI foi uma entidade anticomunista brasileira, criada em 1958 em São Paulo, com 
ramificações em várias cidades do país. Dirigida pelo russo Wladimir Lodygensky, tinha uma 
grande equipe, e suas atividades abrangiam o espectro de assuntos trabalhistas, estudantis, 
feministas, políticos e militares. Participava ativamente de manifestações, possuía programas 
de treinamento, boletins e panfletos destinados a impressionar o público brasileiro por sua 
mensagem anticomunista e pró-ocidental. Recebia contribuições sociais das empresas norte-
americanas.93 Segundo documento secreto sobre as atividades de Lodygensky do Ministério 
da Aeronáutica, de 27.07.65, tinha grande penetração no IPES, no SNI/ARJ e no SNI/ASP, 
trabalhando, nos dois últimos, como orientador. Como “agente de provocação” trabalhava em 
Agências Comunistas, mediante pagamento.94 
Centro de Orientação Social (COS) – patrocinado pelo IPES, o COS foi criado, em 
1963, segundo ata do IPES, para: a) promover estudos sobre problemas sociais, sindicais e 
assistenciais; b) ajudar as entidades trabalhistas por meio de publicações, cursos, conferências 
e outros meios, trabalhando pela elevação do padrão de vida e do trabalho; c) estimular a 
melhoria das relações entre empregados e empregadores, e aumento de produtividade e o 
aprimoramento da consciência cívica e social, “tendo em vista os superiores interesses do 
desenvolvimento nacional”. Desenvolveu intenso programa de atividades no meio sindical e 
produziu a Carta Informativo Sindical com assunto sobre a conjuntura sindical brasileira, a 
qual era distribuída em entidades e pessoas em todo o país.95 
 
89 O documento não informa se a ACBC conseguiu fechar algum negócio com os referidos jornais. 
90 National Archives and Records Administration -NARA, RG 84, UD 2132, NND 9590, Box 135, 3502 IPES – 
1962-1964. 
91 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 274. 
92 National Archives and Records Administration - NARA, II, RG 59, série Records of U.S. Department of State 
Relating to Internal Affairs of Brazil (1960-1963). Setor de Arquivos microfilmado (Publications Number CF-
80), rolo número 12. 
93 National Archives and Records Administration - NARA II, RG 59, série Records of U.S. Department of State 
Relating to Internal Affairs of Brazil (1960-1963). Setor de Arquivos microfilmado (Publications Number CF-
80), rolo número 12. 
94 Arquivo Nacional de Brasília – BR-AN-BSB-VAZ-56A-59, p. F11. 
95 Relatório de Atividades de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
33 
 
Federação dos Círculos Operários do Estado de São Paulo – entidade de classe, que 
oferecia, segundo seu estatuto, aos operários afiliados: instrução e formação intelectual, 
moral, profissional e espiritual; assistência médica e defesa jurídica; auxílio econômico por 
meio de Caixas e cooperativas; promoção das justas reivindicações da classe operária e 
mediação amigável entre patrões e empregados; estreita colaboração sindical; combate ás 
ideologias e às doutrinas totalitárias, opressoras da dignidade humana; formação de líderes 
operários em escolas especializadas; publicação de livros, jornais e boletins96. 
A Federação nasceu, em 1932, em Pelotas (RS), região marcada pela presença de um 
clero europeizado, visando uma ação além do meramente material, dirigida à assistência aos 
operários para proporcionaruma formação social e espiritual. Evoluiu quando a Igreja 
católica e o Estado Novo (1937-1945) levaram a sério a luta de classes, diante da suposta 
ameaça que a classe operária representava como alternativa de poder. O social por intermédio 
dos Círculos Operários se estruturou e se moveu no plano da institucionalidade católica no 
momento em que o Estado sepultava a pluralidade sindical e impunha a alternativa de poder 
centralizada e repressiva.97 
Portanto, pontua Souza, os Círculos Operários nasceram como uma das expressões da 
longa trajetória da Igreja e são parte integrante de um aparato doutrinário, institucional e 
simbólico, elaborado desde o século XIX, por meio do qual a instituição reivindicava para si a 
representação do social e almejava “tornar-se povo”. Entre 1960 e 1964, representaram um 
importante aliado das forças conservadoras, alinhando-se ao bloco histórico que desencadeou 
o golpe. Após o golpe, tornaram-se alternativa às direções sindicais cassadas.98 
Em 1964, funcionavam em todo o país 408 unidades, reunidas em dezesseis 
federações estaduais, das quais em torno de oitenta no estado de São Paulo, todas com cerca 
de 435.00 associados.99 Foram financiados pelo IPES e tinham como objetivo a 
“combatividade na arregimentação sindical e no fortalecimento do sindicalismo democrático 
no Brasil” e a “integração humana das comunidades de trabalho que são as empresas 
contemporâneas”.100 
Instituto de Estudos Econômicos101 
 
96 DOSP de 05.09.57, poder executivo, p. 66. 
97 SOUZA, Jessie Jane Vieira de. Círculos Operários. A Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de 
Janeiro: Editora UFRJ, 2002, pp. 185-186. 
98 Idem. 
99 KORNIS, Monica. Círculos Operários. In: ABREU, Alzira Alves de et al (coords.). Dicionário Histórico-
Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 
100 Relatório de Atividades de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
101 Com relação a esta entidade, o documento não a discute, e eu não encontrei nenhuma referência a ela nas 
minhas buscas. 
34 
 
Nos setores feminino e estudantil, o coronel Jorge Santos, no documento, alertou que 
era preciso convênios para “desenvolver junto a eles uma campanha de convencimento 
político, econômico e social de modo a obter extensivamente os aliados divulgadores dos seus 
objetivos” e para que propaguem ideias da democracia, da defesa da livre empresa e da 
orientação do estatismo. 
Movimento Universitário de Desfavelamento (MUD) – Criado em 1961, quando 
houve a inundação da favela do Canindé (SP). Foi um movimento assistencialista, 
patrocinado pelo IPES, que mobilizava universitários para atuação nas favelas. Tentava 
remover e extirpar os problemas dos moradores, mas que não dava conta da questão da 
habitação. Pelo Projeto de Lei nº 1.379 de novembro de 1964, que deu origem à Lei nº 9.375 
de 1966, foi declarado de Utilidade Pública. 
Centro Latino-Americano de Coordenação Estudantil (CLACE) – criado em 1959, em 
São Paulo. Foi um movimento de estudantes patrocinado e dirigido pela SEI. 
Entre várias atividades, o CLACE patrocinava grupos para treinamento de líderes 
estudantis, criou cursos de oratória e um centro para reunir informantes de atividades 
estudantis. A principal função era buscar movimentos de estudantes democráticos com 
objetivos específicos, como as eleições oficiais nas organizações estudantis nacionais e 
estaduais. Distribuía folhetos, participava de manifestações e assinou manifestos em defesa de 
certas ações, como o manifesto do Movimento Sindical Democrático (MSD) contra a greve 
geral convocada pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), em setembro de 1962. 
Também recebia contribuições sociais de empresas norte-americanas102. 
O CLACE tinha também como estratégia infiltrar seus membros em locais de 
esquerda. Em outubro de 1960, seus diretores, os estudantes Mário Celso Destefani e Waldo 
Domingos Claro, visitaram a redação do jornal O Semanário, ligado à chamada “imprensa 
nacionalista de esquerda”, com linha editorial voltada para denúncias sobre a possibilidade de 
conspiração golpista por setores conservadores. Na visita, fizeram elogios ao jornal e 
aproveitaram para informar que após visitarem as organizações representativas dos 
estudantes, estenderiam o convite aos estudantes no sentido de que participassem e 
prestigiassem as iniciativas do CLACE103. Ganharam uma manchete de destaque no jornal. 
Em novembro do mesmo ano, o jornal se viu enganado quando foi alertado pela UNE e União 
 
102 National Archives and Records Administration - NARA II, RG 59, série Records of U.S. Department of State 
Relating to Internal Affairs of Brazil (1960-1963). Setor de Arquivos microfilmados (Publications Number CF-
80), rolo número 12. 
103 O Semanário de outubro de 1960, capa. 
35 
 
dos Estudantes do Brasil (UEB) que a entidade era um instrumento do imperialismo norte-
americano no Brasil.104 Produzia a revista Alvorada, com tiragem de 10 mil exemplares. 
 Waldo, jornalista, foi secretário particular do presidente da UDN, Herbert Levy, 
proprietário do jornal Gazeta Mercantil, no qual trabalhou. Tornou-se presidente, em 1963, da 
Aliança Democrática Brasileira (ADB), uma organização de direita, formada por jovens 
estudantes de classes média e alta. Seu programa de ação visava combater a “comunização” 
nos meios estudantis. Segundo seu blog, apoiou o “movimento revolucionário”, mas rompeu 
durante o governo de Castello Branco, “quando percebi que entrava em barco errado”, pois 
“nem a corrupção fora desarticulada, nem a democracia restabelecida”105. 
No jornal Notícias Populares106, Waldo tinha uma coluna diária sobre política 
nacional e internacional, e travou uma batalha contra a esquerda e o governo Goulart. O 
objetivo da sua coluna era “fornecer ideias, imagens, valores de uma tradição anticomunista, 
especialmente a de matriz liberal, que conformasse a visão de mundo das classes populares e 
estimulasse o medo e a insegurança em relação ao comunismo, identificando esse perigo no 
governo Goulart”107, e defender a propriedade privada e a livre iniciativa. Em 1964, foi 
trabalhar como redator da seção Internacional com o empresário ipesiano Júlio de Mesquita 
Filho, no O Estado de S. Paulo. 
 Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) – mantido pelo empresariado e fundado 
por Henning Albert Boilesen, presidente do grupo Ultragaz, para formação de mãodeobra 
especializada para atender às empresas. 
Todas as organizações citadas trabalharam em parceria com o IPES na mobilização de 
diferentes segmentos sociais, conforme análise à frente. 
Além dos institutos acima citados, o IPES formou seu próprio serviço de informações. 
Contratou militares reformados e investigadores, alguns dentro do próprio governo, para criar 
um serviço de inteligência para reunir, classificar e correlacionar informes sobre a extensão da 
 
104 O Semanário de novembro de 1960, p. 9. 
105 CLARO, Waldo. Waldo Domingos Claro, um jornalista, um eterno jovem, um idealista, 28.05.11. Disponível 
em <http://cimitan.blogspot.com.br/2011/05/waldo-domingos-claro-um-jornalista-um.html>. Acessado em: 
10.06.2017. 
106 Fundado pela família de Hebert Levy, em 1963, e por militantes representantes da classe empresarial, numa 
conjuntura de crescente efervescência política. Nasceu como um periódico antijanguista e foi situacionista 
durante o governo do marechal Humberto Castelo Branco. Em 1965, a empresa foi comprada pelo grupo Frias-
Caldeira, que controlava à época cerca de 50% do mercado jornalístico de São Paulo. Circulou pela última vez 
no dia 20 de janeiro de 2001 (ABREU, Alzira, op. cit.). 
107 CESTARI, Larissa Raele. O governo João Goulart e o “perigo comunista” nas páginas do jornal Notícias 
Populares. 3º Encontro Regional Sudestede História da Mídia, UFRJ, 2014. 
http://cimitan.blogspot.com.br/2011/05/waldo-domingos-claro-um-jornalista-um.html
36 
 
infiltração da esquerda no Brasil108 e distribuí-los, clandestinamente, entre oficiais que 
ocupavam postos de comando. De 1962 a 1964, o IPES gastou com esse trabalho entre 
200.000 e 300.000 dólares por ano109. Esse serviço foi encabeçado pelos generais Golbery do 
Couto e Silva e Heitor de Almeida Herrera, no Grupo de Levantamento da Conjuntura. 
Golbery chefiou, em 1964, o Serviço Nacional de Informação (SNI), um órgão de coleta de 
informações e de inteligência que funcionava de duas maneiras: “como um organismo de 
formulação de diretrizes para elaboração de estratégias no âmbito da Presidência da República 
e como o núcleo principal de uma rede de informações atuando dentro da sociedade e em 
todos os níveis da administração pública”110. Em reunião, Glycon de Paiva lhe agradeceu pela 
cooperação no IPES e o cumprimentou pela nova função no governo. Golbery explicou que 
continuaria com a mesma tarefa, “apenas ampliada em recursos e meios”. Explicou que na 
nova fase o principal seria “a formulação de uma Doutrina Democrática”111. 
 
1.2. Recursos financeiros 
 
Para pôr o seu projeto em ação, o IPES contou inicialmente com o financiamento das 
empresas: Indústria e Comércio de Minério – ICOMI, Refinaria e Exploração de Petróleo 
União, Listas Telefônicas Brasileiras S.A., Serviços de Eletricidades S.A. – LIGHT, 
Companhia Docas de Santos, Casa Masson do Rio de Janeiro e Construtora Rabelo S.A.112 
Posteriormente, foram associadas por volta de 440 empresas financiadoras e inúmeras 
pessoas físicas civis e militares. As empresas contribuintes eram de pequeno, médio e grande 
portes, nacionais e internacionais, e de diferentes setores, conforme Anexo 1. Em maio de 
1962, havia 207 empresas norte-americanas que contribuíam com mais ou menos 7 milhões 
anuais, com expectativa de chegar a quinze, e um outro número significativo de inglesas com 
3,5 milhões113. 
 
108 A nação que se salvou a si mesma. Texto condensado de artigo de Clarence W. Hall publicado na revista 
Seleções do Reader’s Digest, novembro de 1964. 
109 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1973, p. 426; STEPAN, Alfred. The Military in Politics. Changing patterns in Brazil. Princeton 
University Press, Princeton and London, 1971, p. 154. 
110 STARLING, Heloisa. Órgãos de Informação e repressão da ditadura. In: STARLING, Heloisa Maria Murgel 
(coord.). Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória. Belo Horizonte: Departamento de 
História da Universidade Federal de Minas Gerais, 2001. 
111 Atas do IPES CE de 23.06.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
112 Breve Histórico do IPES - 1967, p. 1. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
113 Atas do IPES CD Rio de 22.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
37 
 
Algumas contribuições eram sob anonimato, outras sem recibo.114 Alguns bancos e 
indústrias, para não aparecerem e disfarçarem suas doações, forneciam subsídios por meio das 
associações dos banqueiros,115 do Centro de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro 
(CIERJ)116 e do Fundo de Ação Social (FAS), analisado à frente. Empresas de relações 
públicas e de propaganda também serviam ao IPES para camuflar doações. José Luiz Moreira 
de Sousa, proprietário da Denison Propaganda, afirmou não ter o menor constrangimento de 
receber importância por sua agência de propaganda e entregá-la ao IPES117. 
O IPES recebia também apoio financeiro indireto. Muitos empresários colaboravam 
pondo os serviços e a infraestrutura das empresas que dirigiam à disposição do IPES: as 
companhias aéreas Cruzeiro do Sul (Bento Ribeiro Dantas), Varig (Rubem Berta) e Panair do 
Brasil (Valentim Bouças) atendiam com transportes gratuitos, para que os ipesianos pudessem 
voar pelo Brasil conspirando118. Empresas do setor de papelaria e equipamentos ofereciam 
materiais gratuitamente ou a preços inferiores do mercado. A Klabin, produtora e exportadora 
de papéis, doou 225 resmas de papel, num total de 100.000 folhas, destinadas à confecção de 
apostilas para curso organizado pelo IPES, na Escola Nacional de Engenharia119. 
Além dos recursos das empresas, a ajuda financeira vinha também de outras fontes, 
tais como: “do Fundo do Trigo120, existente no BNDE121, cuja conta a Embaixada dos Estados 
Unidos movimentava; da “caixinha” alimentada por empresas nacionais e estrangeiras; de 
 
114 Ata do IPES CD de 27.03.62 Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
115 Ata de reunião do IPES de 05.02.62 Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
116 Financiavam através do CIERJ: Laboratório Silva Araújo Toussel S/A, Cia Merck do Brasil S/A Produtos 
Farmacêuticos, Laboratório Químico Farmacêutico Voros, Reichold Química S/A, Quimitra Com. Ind. Química 
S/A, Eletromar Ind. Elétrica, Cotonifício Gávea S/A, Cia de Cigarros Souza Cruz, Cia Cervejaria Brahma, 
Cimento Portland Barroso e Cia Química Merck do Brasil. Documentos do IPES: Contribuintes do IPES por 
intermédio do Centro Industrial do Rio de Janeiro, s/d e Sócios, s/d, p. 3. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
117 Na ata do IPES CD de 19.03.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
118 Bento Ribeiro Dantas, presidente dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul S/A, declarou que o transporte seria 
atendida por sua companhia e quanto ao pagamento “o IPES não deveria se preocupar”. Ata do IPES CE de 
20.11.62. Ata dos IPES CE de 07.08.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
119 Ata do IPES diretoria de 21.04.66. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
120 Ajustes comerciais firmados entre o Brasil e os Estados Unidos na década de 1950 visando ao escoamento de 
excedentes agrícolas norte-americanos. O Acordo fixava o prazo de 40 anos para sua validade, indicava o 
cruzeiro como moeda básica de pagamento e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) como 
fiscal de sua execução e depositário do resultado de suas operações. Foram realizados nove acordos nos 
seguintes governos: João Café Filho (1954-1955), Juscelino Kubitschek (1956-1961), Janio Quadros (1961), dois 
no de João Goulart (1961-1964), Castello Branco (1964-1967), três no de Costa e Silva (1967-1969) (RAMOS, 
2010). 
121 O “S”, de social, foi incorporado apenas com a criação do Finsocial, pelo Decreto-Lei nº 1.940, de 25 de maio 
de 1982, tornando-se BNDES. 
38 
 
auxílios externos”122 ; da Central Intelligence Agency (CIA), que além das verbas, o orientava 
e lhe fornecia kown-how123 ; e de organizações estrangeiras e nacionais, tais como o 
Committee for Economic Development (CED) o Council for Latina American (CLA), 
American Economic Foundation (AEF), o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e 
o Information Research Department (IRD). Essa integração mostra a rede de interesses 
formada pelo capital multinacional e associados. 
A CIA, conforme Bandeira, estava por trás do complô financiando ações de guerra, ou 
seja, jogos de influência, pressão e sabotagem sem conflito armado direto, os quais eram 
feitos por intermédio de várias organizações. O Conselho das Américas, sob a liderança do 
empresário David Rockfeller, acrescenta o autor, empenhou-se efetivamente na 
desestabilização do governo, com o conhecimento e participação da CIA, que tinha uma mão 
dura sobre os países latino-americanos no sentido de obter os seus controles econômicos e 
políticos.124 
O CED, criado em 1942, uma das elites orgânicas mais poderosas dos EstadosUnidos, 
desempenhou papel fundamental na articulação transnacional de organizações congêneres na 
América Latina. Tinha como objetivo preparar a transformação da economia norte-americana 
pós-guerra, evitar uma crise econômica que reeditasse a depressão de 1929, esvaziar as 
articulações sociais de tendência reformistas e incorporar técnicas de planejamento para 
viabilizar o capitalismo moderno. Como um think tank, organizou comitês de pesquisas e 
análises, integrados por empresários e intelectuais acadêmicos, para realizarem estudos da 
economia125. 
Na América Latina, o CED visava eliminar os obstáculos que se contrapunham ao 
comércio externo entre os países sul-americanos. Trabalhou com economistas com objetivos 
de analisar o desenvolvimento econômico de diversos países, buscando determinar os 
principais fatores de sucesso ou de fracasso, e o que têm em comum nos meios de 
desenvolvimento econômico. No Brasil, A. C. Neal, representante do CED, propôs que os 
estudos ficassem a cargo do Grupo de Estudo do IPES, compreendidos em duas partes: o 
primeiro com estudos sobre os fatores que mais influenciavam, positiva e negativamente, no 
 
122 Depoimento do jornalista Genival Rabelo à CPI que investigou o IBAD e o IPES. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/DocReader.aspx?bib=IBADC&PagFis=2378&Pesq=Genival%20Rabelo>. 
Acessado em: 03.05.17. 
123 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasi., op. cit. p. 426. 
124 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O golpe militar de 64 como fenômeno de política internacional. op. cit. 
125 DREIFUSS, René Armand. A internacional capitalista. Estratégias e táticas do empresariado transnacional 
1918-1986. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1986, p. 40. 
http://200.238.101.22/docreader/DocReader.aspx?bib=IBADC&PagFis=2378&Pesq=Genival%20Rabelo
39 
 
desenvolvimento econômico do país; e o segundo sobre a inflação brasileira126. O que se 
queria era uma receita para acelerar o desenvolvimento econômico. O CED contribuiu com 
cinco mil dólares para esse trabalho, que foi feito em seis meses.127 
O CED ainda deu apoio logístico e financeiro ao IPES. Em 28 de fevereiro de 1962, 
A.C. Neal enviou uma carta a Gilbert Huber com uma relação de nomes de empresários de 
destaque de São Paulo para contatos. Em 17 de agosto de 1965, Frank Brandenburg remeteu 
carta ao general Octávio Gomes de Abreu disponibilizando US$ 5.000,00.128 O general fez 
parte de uma rede de apoio para o IPES/IBAD dentro das Forças Armadas e de uma rede de 
militares, no Rio de Janeiro, para captação de informações e contrainformações para o GLC, 
liderado pelo general Golbery.129 
O CLA, estrutura de poder da elite orgânica, “guardiã do sistema capitalista”, passou a 
apoiar e coordenar suas irmãs congêneres na América Latina. Chefiado pelo empresário 
David Rockefeller, o CLA reuniu cerca de duzentas grandes corporações, responsáveis por 
80% a 90% dos investimentos nos Estados Unidos no mundo. Nas décadas de 60 e 70, seu 
poder aumentou com a intensificação da transnacionalização da indústria latino-americana, 
tornando-se o centro do pensamento estratégico, da coordenação e da ação doutrinária e 
política para a América Latina das grandes empresas e grupos transnacionais.130 Em 1970, seu 
nome mudou para Council of the American (COA). 
Da mesma forma que o CED, o CLA deu assessoria e suporte financeiro ao IPES. Em 
30 de agosto de 1966, Richardson K. Lorden, em carta ao general Octávio Gomes de Abreu, 
doou Cr$ 2.000.000,00 para impressão do livro História do Desenvolvimento Econômico no 
Brasil,131 de autoria dos professores Mircea Buescu e Vicente Tapajós. Além do apoio 
financeiro, trocavam publicações produzidas por ambas as organizações. 
O Fundo de Ação Social (FAS) foi um dos maiores contribuintes do IPES. Criado em 
setembro de 1962, com sede na Rua Líbero Badaró, 501/16º - centro, São Paulo (SP). Tinha a 
mesma sofisticação organizacional do IPES, dirigido também por ipesianos e financiado por 
empresas (Anexo 4). 
O FAS surgiu depois de uma série de reuniões, que começaram em janeiro de 1962, 
quando ipesianos foram à AMCHAM pedir ajuda financeira para dar continuidade aos seus 
 
126 Boletim Informativo, nº 25, agosto de 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
127 Ata do IPES de 24.08.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
128 Cartas disponíveis no acervo do IPES no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. 
129 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. 
130 DREIFUSS, René Armand. A internacional capitalista. op. cit. pp. 148-149. 
131 Ata do IPES diretoria 21.04.66. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
História do Desenvolvimento Econômico do Brasil. Rio de Janeiro: Casa do Livro, 1967. 
40 
 
projetos, conforme mensagens secretas trocadas entre as embaixadas norte-americanas de São 
Paulo e Brasília com o Departamento de Estado norte-americano. 
Na primeira reunião, os ipesianos apresentaram o programa do instituto e propuseram 
que as empresas membros da AMCHAM dessem assistência financeira na base de ½% do 
capital social registrado de cada empresa. O pagamento seria dividido em doze prestações 
mensais. Na ocasião, alguns representantes de empresas foram favoráveis e tinham liberdade 
para tais ações, outros acharam conveniente pedir autorização das suas sedes nos Estados 
Unidos.132 Os representantes da AMCHAM se mostraram preocupados com as ações do 
IPES, pois não queriam se envolver com atividades políticas.133 
Lincoln Gordon enviou mensagem, em 23 de janeiro, ao Departamento de Estado e 
Comércio. Esclareceu que estava analisando se seria viável para subsidiárias americanas 
darem suporte financeiro ao IPES, sem violar a política estabelecida dos Estados Unidos 
contra o envolvimento de atividades políticas estrangeiras. Mas deixou claro que era 
simpático a cooperação deles. Para as empresas, que estavam fazendo questionamento à 
Embaixada e ao Departamento de Estado, Gordon afirmou que tinha conhecimento do IPES e 
o via com simpatia.134 
Em 26 de janeiro, Gilbert Huber e Harold Polland se encontraram com funcionários do 
Departamento de Comércio americano. Os ipesianos recomendaram métodos para melhorar a 
imagem das companhias estrangeiras na América Latina e para assegurar o sucesso da 
Aliança para o Progresso.135 
A reunião do dia 3 de fevereiro foi na casa do empresário Rubem de Mello (Indústria 
Madeirit), em São Paulo. Compareceram Henry Lutcher Brown (Lutcher S/A) e o cônsul 
Scott C. Lyon. Mello se apresentou como membro do IPES, envolvido no planejamento das 
atividades. Como representante do Rotary Club de São Paulo, que apoiava o IPES, informou 
que planejava contar com o Rotary Club de todo o Brasil para construir a organização do 
instituto. Salientou que a associação de clubes não se envolvia em política, mas não havia 
nada que impedisse seus membros de assim o fazerem. Esclareceu que o IPES estava 
recebendo apoio financeiro de empresários locais, os quais entendiam ser melhor contribuir 
do que perder tudo quando o comunismo tomasse conta do país, e o instituto oferecia uma 
forma ativa de combatê-lo. Acrescentou que os homens que conduziam o IPES não eram 
 
132 National Archives and Records Administration- NARA, RG 84, UD 2132, NND 9590, Box 135, 3502 IPES – 
1962-1964. 
133 Idem. 
134 Idem. 
135 Idem. 
41 
 
políticos e não pretendiam apoiar nenhum partido em particular. Pretendiam fazer oposição a 
candidatos que eles consideravam ruins, persuadirem deputados a votarem certo, influenciar 
militares e dar publicidade aos relatórios que os políticos faziam.136 
A reunião, do dia 8 do mesmo mês, foi realizada no Banco Sul Americano do Brasil. 
Participaram GeorgeTrain (consultor da Agency for International Development -AID), João 
Batista Leopoldo Figueiredo (IPES), Boyd Burnquist (gerente da filial Ipiranga do The First 
National City Bank of New York), Luiz de Moraes Barros (superintendente do Banco Sul 
Americano do Brasil - IPES) e o cônsul norte-americano Scott C. Lyon. G. Train explicou que 
estava visitando o Brasil e outros países com conexão com a Aliança para o Progresso. Os 45 
minutos da reunião foram dedicados a debater sobre o IPES. Figueiredo explicou que várias 
organizações anticomunistas estavam procurando o IPES para orientação e para solicitar ajuda 
financeira, que membros do instituto fizeram aparições na TV para explicar o IPES e ainda 
tiveram contato com as Forças Armadas. Explanou que Gilbert Huber e Harold C. Polland 
estavam trabalhando para influenciar empresários a participarem do instituto. Quando 
questionado sobre as atitudes de empresários brasileiros em relação aos negócios externos no 
Brasil, explicou que existiam sentimentos antagônicos, mas isso não representava a opinião 
pública.137 
Na reunião seguinte, em 13 de fevereiro, John Richards (presidente da AMCHAM) 
explicou que depois de conversar com J.B.L. Figueiredo estava aguardando as seguintes 
informações: a lista das empresas brasileiras contribuintes com a indicação do financiamento 
oferecido, bem como as pessoas físicas e outras organizações que contribuíam e relatório das 
atividades do IPES.138 
Em 26 de fevereiro, o cônsul Daniel M. Braddock, em relatório para Philip Raine 
(embaixada de Brasília), Edward J. Bash (embaixada do Rio de Janeiro), Harvey R. Wellman 
(Departamento de Estado – Washington) explicou que achava um grande risco que o IPES se 
engajasse em atividades políticas. Relatou que John Richard (presidente da AMCHAM) e a 
Câmara como um todo estavam inclinados a favor da contribuição, desde que: 1) se elas 
fizessem parte de um esforço brasileiro maior; 2) se as contribuições fossem feitas 
anonimamente e 3) se elas fossem usadas exclusivamente para programas não políticos. 
Lincoln Gordon, que mostrava interesse na ajuda ao IPES, em correspondência, em 8 
de março, argumentou que haveria forma para separar as atividades políticas e não políticas 
 
136 Idem. 
137 National Archives and Records Administration -NARA, RG 84, UD 2132, NND 9590, Box 135, 3502 IPES – 
1962-1964. 
138 Idem. 
42 
 
do IPES, de tal forma que os empresários norte-americanos pudessem contribuir e evitar o 
perigo de participar direta ou indiretamente nos negócios domésticos do Brasil. Para 
tranquilizar, afiançou que existiam grupos não políticos, tais como as associações de comércio 
e federações industriais, que davam suporte. Portanto, finalizou: “Não vejo nenhuma objeção 
ao apoio de tais organizações por firmas americanas que podem ter associação e interesse 
mútuo”139. 
Memorando, de 13 de março, relatou que James McKee, presidente da AMCHAM, e 
um pequeno grupo da Câmara se reuniram com Paulo Ayres Filho, para discutir a 
possibilidade de americanos contribuírem com o projeto do IPES. Ayres Filho assegurou que 
o IPES não estava engajado em nenhuma atividade política e nem dando apoio a candidatos 
para as eleições. Segundo Ayres Filho, as atividades consistiam em: 1) preparação e 
disseminação de informações e propaganda, incluindo filmes, a favor da livre empresa e das 
instituições democráticas, 2) manter um escritório em Brasília para fornecer informações aos 
integrantes do Congresso sobre assuntos relativos à guerra fria, 3) fazer contatos com 
estudantes e grupos de trabalhadores com o mesmo propósito, 4) providenciar oportunidades 
para jovens brasileiros com promessa de liderança futura para visitar os Estados Unidos.140 
As negociações com a AMCHAM eram discutidas nas reuniões do IPES. Em março 
de 1963, Gilbert Huber constatou que “há mais políticos na Câmara de Comércio do que na 
Câmara Federal”, e constatou que para o financiamento “o problema é convencer Gordon”141, 
que conforme a discussão acima era favorável à parceria financeira AMCHAM-IPES. 
Segundo telegrama de Daniel M. Braddock para o Departamento de Estado, de 28 de 
setembro, foi estabelecido um fundo independente do IPES dentro da AMCHAM, o FAS. Foi 
criado como precaução, caso o IPES, em algum momento, se engajasse em atividades 
políticas que poderiam ser impróprias à participação de firmas americanas e contrárias à 
orientação específica feita pelo Consulado Geral. A AMCHAM, portanto, viabilizou o 
recebimento de contribuições, por sua própria iniciativa, e assegurou que essas deveriam ser 
destinadas a projetos selecionados, como para o IPES. Na ocasião, conforme o documento, 
várias empresas prometeram fazer contribuições, que atingiram o valor de aproximadamente 
Cr$ 9 milhões142. A condição para o arranjo foi que os contribuintes norte-americanos 
 
139 No original: “I see no objection to the support of such organizations by American firms which may have 
membership and mutual interest”. Tradução minha. 
140 National Archives and Records Administration - NARA, RG 84, UD 2132, NND 9590, Box 135, 3502 IPES 
– 1962-1964. 
141 Ata do IPES CD de 27.03.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
142 Para se ter uma ideia, com este valor seria possível comprar, em 1963, um apartamento de 140m2 com 3 
quartos, sala, jardim de inverno, banheiro, copa-cozinha, dependência de empregada e garagem no bairro de 
43 
 
tivessem o direito de negar o uso de suas contribuições para qualquer propósito que eles não 
aprovassem ou que acreditassem que pudesse envolvê-los politicamente. Juan Clinton 
Llerena, representante da AMCHAM no IPES, assegurou que as contribuições americanas, 
até aquele momento, tinham sido utilizadas em atividades de certas organizações e 
movimento e não em campanhas políticas de qualquer candidato a cargos públicos.143 
Llerena afirmou que para dissociar as firmas americanas de qualquer vinculação com 
as atividades do IPES e assim diminuir a possibilidade de que elas acabassem envolvidas em 
assuntos políticos internos do Brasil, criou-se um novo mecanismo de coleta e distribuição de 
fundos de ação social com o apoio dos diretores da AMCHAM. Essa instituição, chamada 
Fundo de Ação Social (FAS), foi formalmente estabelecida no dia 10 de setembro de 1962. 
Os representantes brasileiros dessa nova organização eram todos intimamente relacionados à 
Câmara e com empresas norte-americanas, em São Paulo, há muitos anos.144 
Por fim, Braddock esclareceu que tais atividades no Brasil eram necessárias, caso o 
crescimento do comunismo fosse levado em consideração. Finalizou: “Empresas norte-
americanas apostam fortemente nesse esforço e seus consortes brasileiros anseiam em ganhar 
a sua fatia do bolo. Ambos sabem, no entanto, que os americanos não desfrutam da mesma 
liberdade de ação política que os brasileiros possuem”145. 
Segundo atas146, o FAS era uma sociedade civil, apartidário e sem fins lucrativos. Seus 
objetivos consistiam em promover a arrecadação de fundos, por meio de doações em dinheiro 
ou em bens, de pessoas físicas ou jurídicas para serem aplicados na consecução de projetos 
que visassem o bem-estar social, tais como entidades assistenciais, estudantis, de ação social 
ou qualquer outra. 
 A sua organização formal era composta por uma diretoria, que se reunia uma vez ao 
mês, constituída de três a cinco diretores, diretor-presidente, um diretor-tesoureiro e um 
diretor-secretário, com mandatos de dois anos, eleitos pelo conselho deliberativo. Cabia à 
diretoria zelar pela observância da lei, pelos estatutos sociais e pelo cumprimento das 
 
Copacabana, um dos bairros mais caros na época, nazona sul da cidade do Rio de Janeiro (GB). Correio da 
Manhã de 20.01.63, 3º Caderno, p. 3. 
143 National Archives and Records Administration - NARA II, RG 59, série Records of U.S. Department of State 
Relating to Internal Affairs of Brazil (1960-1963). Setor de Arquivos microfilmado (Publications Number CF-
80), rolo número 12. 
144 Idem. 
145 No original: “American firms have a great stake in this effort and are expected by their Brazilian 
counterparts to do their share. Both know, however, that the American do not enjoy the freedom of political 
action that the Brazilian have”. Tradução minha. National Archives and Records Administration - NARA II, RG 
59, série Records of U.S. Department of State Relating to Internal Affairs of Brazil (1960-1963). Setor de 
Arquivos microfilmado (Publications Number CF-80), rolo número 12. 
146 Algumas atas do Fundo de Ação Social se encontram no 4º Oficial de Registro de Título e Documentos e 
Civil de Pessoa Jurídica de São Paulo (SP). 
44 
 
resoluções tomadas pelo conselho deliberativo, pela assembléia geral e nas reuniões; angariar 
e distribuir os fundos doados pelos associados e por terceiros, pessoas físicas ou jurídicas; 
examinar, aprovar ou rejeitar as propostas de ingresso no quadro social. 
O conselho deliberativo era constituído de nove membros, dentre os quais seis eram 
permanentes e três eleitos, com mandatos de dois anos, que se reunia duas vezes ao ano ou 
quando necessário por convocação do presidente. Os permanentes eram os fundadores da 
sociedade, e os eleitos escolhidos pelos membros permanentes do conselho. Competia ao 
conselho: eleger os membros da diretoria, assistir e orientar a diretoria sobre as aplicações dos 
fundos sociais, e examinar e fiscalizar as contas da sociedade. 
As assembleias gerais eram ordinárias e extraordinárias. As ordinárias, realizadas até o 
dia 30 de abril de cada ano, e as extraordinárias sempre que houvesse necessidade. Competia 
à assembléia geral ordinária examinar e deliberar sobre as contas.147 
Em outubro de 1962, o Fundo foi declarado de utilidade pública pelo Decreto nº 
40.944, e, em 09.04.73, pelo Decreto nº 1.407, foi revogado. O que sugere que o FAS tenha 
encerrado suas atividades no início dos anos 1970, época em que o IPES também chegou ao 
fim. . 
Conforme o historiador e brasilianista norte-americano John W. F. Dulles, o FAS foi 
criado com a certeza de que “o Brasil era um dos cenários de guerra fria e que a empresa 
privada não poderia permanecer ociosa e ver-se destruída pela demagogia e ignorância”, e 
buscou “uma cooperação mais estreita entre a comunidade empresarial estrangeira e sua 
contraparte brasileira”.148 
Segundo a Revista Intercambio, produzida pelo CLA, o FAS foi criado para 
“promover a projeção cívica fora do âmbito normal das atividades da Câmara de Comércio 
norte-americana”, discutida à frente, e desenvolver atividades que incluíam estudos sobre 
problemas básicos no Brasil, trabalho com grupos democráticos e manter comunicação com 
grupos nacionais.149 O CLA trabalhou em pareceria com o FAS. 
Em 1965, o CLA decidiu contratar um maior número de profissionais para o seu 
Departamento de Relações Públicas, nos escritórios do Rio de Janeiro e de São Paulo, a fim 
de aumentar as atividades de preparação de executivos no Brasil. Essas ações eram realizadas 
em conjunto com o FAS, além de ter subscrito uma parte do salário e as despesas de Frederic 
 
147 Ata da asssembleia geral de constituição do FAS de 10.09.62. 
148 DULLES, John W. F. Unrest in Brazil. Political-military crises 1955-1964. Austin: University of Texas 
Press, 1970, p. 189. 
149 Intercambio. Published by the Council for Latina American, vol. 1, nº 4, Julho, 1965. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
45 
 
Raborg, ex-executivo da Westinghouse, que atuou como diretor-presidente do FAS150. Raborg 
e Richard K. Lorden, funcionário do CLA que foi cedido à AMCHAM, tinham a incumbência 
de expandir os negócios e as relações com a comunidade iniciados por empresas dos Estados 
Unidos no Brasil, e investir, como o IPES, na produção de filmes voltados para trabalhadores 
e gestores das empresas estrangeiras. 
Entre os filmes produzidos, constam: O preço da vida, documentário sobre a 
contribuição da indústria farmacêutica internacional para a saúde e o bem-estar da população 
brasileira; Terra Proibida151, que mostra como uma empresa privada havia transformado uma 
região seca e inóspita do nordeste brasileiro em um “fértil jardim”; e Esta é a minha vida, a 
história de progresso de um trabalhador brasileiro que prestava serviços a uma empresa 
privada152. 
O CLA, com o apoio do FAS, também criou projetos de auto-ajuda nas favelas que 
incluíam treinamento educacional e a “educação cívica”. Jack Earl Wyant, responsável pelo 
Council, a partir de 1967, articulou diversas campanhas de propaganda e contou com a 
participação do FAS que levantou fundos de cerca de 70 mil dólares, os quais foram 
utilizados para patrocinar a Fundação Universitária Interamericana, um Serviço de 
Informações Brasileiras, uma revista para intelectuais, um centro de formação de quadros 
estudantis e o próprio trabalho de desenvolvimento comunitário.153 
 Inicialmente, os repasses de fundos do FAS iam para o IPES-SP, mas, posteriormente, 
se estenderam também para o IPES-GB.154 Em 1966, o presidente da Comissão executiva do 
FAS, A. M. Close, informou que embora a cooperação entre ambas as entidades fosse 
continuar, as duas passariam a trabalhar de forma mais independente. Um dos trabalhos, fruto 
de mútua cooperação, foi o livro intitulado “Como vivemos” (How we live). Foram impressos 
pela Ed. Saraiva 5.000 exemplares, tendo o FAS comprado 1.000 que foram distribuídos entre 
os associados. A tradução do livro foi paga pelo IPES155. 
O FAS trabalhava em cooperação com outros grupos considerados “democráticos”, tal 
como a Associação Universitária Interamericana (AUI). A AUI foi criada por Mildred D. 
Sage e Patricia Bildner, e funcionou de 1962 a 1971, com objetivo de identificar futuros 
líderes políticos, sociais e empresariais no Brasil e complementar a sua formação dando uma 
 
150 Ata da reunião de diretoria do FAS de 08.03.66. 
151 Filme feito por Jean Manzon – Jornal do Brasil de 26.03.65, caderno B. 
152 Revista Council for Latin America Report, outubro, 1965, p. 2. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
153 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 206. 
154 Ata do IPES CE de 14.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
155 Ata da reunião de diretoria do FAS de 08.03.66. 
46 
 
visão abrangente da sociedade norte-americana. O processo de formação dos selecionados 
começava com aulas de três meses na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e 
terminava em Harvard, nos cursos: Problems of Economic Development e Life and 
Institutions in the United States. O resultado foi uma leva de pessoas, que com o passar dos 
anos consolidou a sua liderança em diversos setores da sociedade brasileira.156 Em 1966, o 
FAS recebeu à reunião de diretoria Sage e Bildner em busca de uma aliança, reunião na qual 
obteve informações de como se desenvolvia o programa de seleção e envio de estudantes para 
os Estados Unidos.157 
As empresas norte-americanas também apoiavam os trabalhos da AUI, que enviava 
anualmente por volta de cem alunos brasileiros, que exerciam alguma liderança, aos Estados 
Unidos por um mês, onde moravam com famílias e recebiam instrução formal em Harvard.158 
O objetivo: expor de forma concentrada, num tratamento personalizado, os líderes estudantis 
a todas as facetas da vida norte-americana. Em 1965, foram escolhidos cerca de 1.500 
candidatos em diferentes cidades. Tiveram aulas preparatórias de línguae leituras variadas, 
antes de se qualificar por meio de um teste final. Os aprovados embarcaram para os Estados 
Unidos e numa agenda cuidadosamente elaborada participaram de seminários de duas 
semanas em Harvard, visitaram Wall Street159, tiveram reuniões com funcionários do 
governo, em Washington, e com o presidente da Pepsi, Donald M. Kendall, e almoço com 
funcionários da ITT Corporation160, então um das maiores empresas multinacionais do setor 
das telecomunicações. Portanto, as atividades proporcionavam uma penetração ideológica e 
construía nos estudantes a imagem positiva da empresa privada e de um país capitalista, os 
Estados Unidos. 
A diretoria da AUI, em 1964, era formada pelo Embaixador Ellworth Bunker 
(presidente honorário), Mildred D. Sage (diretora-presidente), Joaquim Muller Carioba (1º 
vice-presidente), David Beaty (2º vice-presidente), Berenice Vilela de Andrade (diretor- 
 
156 Instalada no Brasil, em 2002, por iniciativa do ex-vice-presidente da República, Marco Maciel, ex-bolsista em 
1962. A atual AUI foi formada, visando além de congregar os ex-bolsistas na Harvard University da 
Interamerican University Foundation, discutir os problemas educacionais do Brasil e montar um programa 
parecido com aquele da década de 60 que “teve espetacular sucesso”. A AUI já realizou um primeiro programa 
experimental, em 2006, "Jovens Líderes do Brasil", em parceria com a Faculdade de Economia e Administração 
da USP e a fundação Dom Cabral, e está desenvolvendo parcerias que possibilitem ao programa tornar-se 
permanente. Site oficial disponível em <http://www.aui.org.br/missao/default.asp>. Acessado em: 03.04.17. 
157 Ata da reunião de diretoria do FAS de 08.03.66 
158 Revista Council for Latin America Report, outubro, 1965, p. 2 – Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
159 A Wall Street é uma rua localizada em Manhattan, na cidade de Nova York, considerada o coração do Distrito 
Financeiro, onde se situa a Bolsa de Valores, a mais importante do mundo. 
160 Intercambio. Published by the Council for Latina American, vol. 1, nº 4, Julho, 1965. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
http://www.aui.org.br/missao/default.asp
47 
 
secretário), Henry Forbes (diretor-tesoureiro). Conselho fiscal: Duarte Vaz Pacheco do Canto 
e Castro, Claude Kauffman, Laerte Brandão Teixeira. Suplentes: José Bueno de Aguiar, 
Briend Collin Ferreira, José Eduardo de Brito Ferraz.161 Duarte Vaz Pacheco do Canto e 
Castro e Claude Kauffmann eram membros do FAS, o primeiro mentor permanente do 
conselho deliberativo e o segundo, diretor. David Beaty, diretor da Deltec, contribuiu com 7 
milhões de dólares com o IPES, contribuição procedentes das Bahamas162. Em 1963, por 
meio do Decreto nº 40.330, foi declarada como utilidade pública. 
Dentro do orçamento do FAS, incluiu auxílio, no valor de Cr$ 6.000.000,00 (seis 
milhões de cruzeiros), para a “Pesquisa Gallup do Brasil”163 e o envio da publicação de Peter 
Howard, O Mundo Reconstruído, sobre o Rearmamento Moral (RAM), para seus associados e 
a quem fosse importante, com a finalidade de explicar a respeito do movimento.164 O RAM 
foi uma organização internacional, sediada nos Estados Unidos, que fazia campanha de 
pânico anticomunista. Fornecia ao IPES material de propaganda, desde filmes até 
panfletos165. Coube ao RAM, no Brasil, representado pelo general Juarez Távora, influir entre 
os empresários, ainda relutantes em cooperar, sobre a necessidade e a urgência do 
momento.166 Para suas ações, contou com fundos do IPES-SP.167 
Em 1969, conforme ata, o FAS começou a apresentar problemas financeiros iniciados 
durante os dois anos anteriores, devido às arrecadações corroídas pela inflação, a ausência de 
importantes contribuintes fundadores do Fundo e dificuldades de conseguir novos 
contribuintes brasileiros e de outras nacionalidades. Para não fechar o Fundo, naquele 
momento, seus associados fizeram uma reorganização, eliminando o Conselho, ficando 
somente uma diretoria para melhorar a eficiência da entidade. O associado major Ruy 
Barbosa, contrário ao encerramento das atividades do fundo, citou as palavras pronunciadas 
 
161 DOSP, de 22.09.64, Poder Executivo, Parte 2, p. 55. 
162 BLACK, Jan Knippers. United States penetration of Brazil. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 
1977, p. 83. 
163 O Gallup Poll foi uma empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos, fundada, 
em 1930, pelo estatístico George Gallup, professor que dirigia o Instituto de Psicologia 
Social da Universidade de Iowa (EUA). No Brasil, Carlos Matheus, associado da GIRI Gallup International 
Research Institutes, associação de pesquisadores fundada em 1947 por George Gallup, obteve licença de George 
para o uso do nome e fundou, em São Paulo, o Instituto Gallup de 
Opinião Pública, que funcionou durante 30 anos, entre 1967 e 1997. A situação começou a mudar quando 
George morreu, em 1984, e os filhos venderam a empresa para uma multinacional. Matheus até tentou, mas uma 
hora decidiu encerrar a empresa que tinha no Brasil. Carlos Matheus ‘do Gallup’ ficou bastante conhecido nos 
meios políticos e jornalísticos a partir do ano de 1974, por ter sido o único pesquisador capaz de antecipar a 
esmagadora vitória do MDB nas eleições majoritárias daquele ano. Disponível em <http://carlosmatheus.org/> 
Acessado em 14.04.17. Em 1998, o Gallup brasileiro passou a ser controlado pela matriz. 
164 Ata de reunião de diretoria do FAS de 18.01.65 
165 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 311 
166 Ata do IPES CE de 08.06.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
167 Ata do IPES CE de 11.06.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
http://carlosmatheus.org/
48 
 
por David Rockefeller, em 1968, sobre os deveres das empresas americanas estabelecidas na 
América Latina.168 Para o banqueiro norte-americano, conforme Gonçalves, as 
multinacionais, preocupadas com a segurança dos seus investimentos, seriam o canal para 
incrementar o capitalismo norte-americano, estabelecer um ambiente amigável para o 
investidor, facilitar a comunicação entre os ramos do governo e a comunidade empresarial, 
para garantir seus investimentos por meio da estabilidade política e econômica de seus países 
e, ainda, um meio de assistência privada às entidades privadas.169 
De fato, o FAS teve uma arrecadação crescente que começou a ruir em 1967, 
conforme segue: em 1962 arrecadou contribuições que somaram o valor de Cr$ 
39.712.794,00; 1963 - Cr$ 67.242.104,00170; 1964 – Cr$ 82.229.280,00; 1965 – Cr$ 
205.988.000,00; e, por fim, em 1967, arrecadou Cr$ 69.397,00.171 
A AMCHAM (American Chamber of Commerce for Brazil) foi um fórum político das 
corporações multinacionais, que tinha como membros empresas e empresários de todo o 
mundo. No seu interior foram organizadas várias instituições, que tinham como objetivos 
financiar as “ações de guerra” para defender os interesses multinacionais no Brasil, várias 
com ligações com o IPES, como o Fundo de Ação Social, o CLACE e o CLA, já discutidos. 
O rascunho inicial do estatuto da AMCHAM foi escrito, em julho de 1919, no 
tradicional Grand Hotel de la Rotisserie Sportsman, no centro paulistano. Ali também foi 
realizada a primeira eleição de diretoria, em 1920. No lugar de modesta Câmara de Comércio, 
cresceu a maior entidade empresarial não sindical do país, multissetorial, com prestações dos 
mais diversificados serviços, realização de missões empresariais para os Estados Unidos e 
outros países e a promoção de grandes eventos. Na AMCHAM surgiram ideias pioneiras que 
levaram à criação da Graded School172, em 1920, e da Escola de Administração da Fundação 
Getúlio Vargas, em 1954. 
A AMCHAM foi fundada por nove empresas e instituições:Brazaço-Mapre, Citibank, 
Esso, General Electric, Goodyear, Indústrias Matarazzo, Lion, Singer e Universidade 
 
168 Ata da assembleia geral do FAS de 14.01.69. 
169 GONÇALVES, Martina Spohr. op. cit. 
170 Com 60 milhões de cruzeiros se comprava, em 1963, um apartamento de luxo todo refrigerado com 4 quartos, 
3 salas, 3 banheiros, copa-cozinha, 2 quartos de empregadas com banheiro, na Av. Atlântica (orla da praia) em 
Copacabana, um dos bairros mais caros na zona sul do Rio de Janeiro. Correio da Manhã de 17.01.63, 2º 
Caderno, p. 7. 
171 DOSP de 19.11.68, p. 48. 
172 Pouco depois da Primeira Guerra Mundial, a Câmara Americana de Comércio e as empresas norte-americanas 
em São Paulo imaginavam uma escola que prepararia crianças para faculdades e universidades nos Estados 
Unidos. Começou em uma escola na Avenida São João, no coração do centro de São Paulo, sob a direção das 
professoras Ruth Kolb e Bel Ribble. Sua visão é “Indivíduos com poderes para atingir seu potencial e impactar 
positivamente o mundo”. Site oficial da Graded. The American School of São Paulo. Disponível em 
<http://www.graded.br/page.cfm?p=1>. Acessado em: 15.09.17. 
http://www.graded.br/page.cfm?p=1
49 
 
Presbiteriana Mackenzie. Funcionou inicialmente só na cidade de São Paulo. E tem como 
missão contribuir para melhorar a percepção internacional dos produtos e serviços brasileiros 
de um determinado setor, proporcionar oportunidades de negócios e facilitar o acesso ao 
mercado americano e em outros mercados. As delegações são compostas por até 20 
participantes, que recebem suporte customizado de uma equipe especializada em missões e 
projetos com o exterior. 173 
Além das entidades citadas também apoiou, em 1950, o estabelecimento da American 
Society, que sempre teve sede na AMCHAM-São Paulo. Era uma organização internacional 
sem fins lucrativos que “enriquece a vida de famílias, profissionais, expatriados e a 
comunidade”. Atuava como uma ligação entre a associação e uma variedade de organizações, 
incluindo o Consulado Americano, escolas americanas, igrejas, instituições de caridade e 
grupos atléticos. Em 1978, foi lançado o American International Fellowship Program, que 
oferecia bolsas de estudo no exterior a jovens executivos brasileiros, e o Instituto Qualidade 
no Ensino, dedicado em aperfeiçoar a educação em escolas públicas de várias cidades do 
país.174 
O reconhecimento de seu prestígio, tanto no meio empresarial quanto no político, é 
observado pelas visitas ilustres que recebia e pela presença de seus membros em reuniões com 
presidentes da República. Passaram pela sede de São Paulo os presidentes Juscelino 
Kubistschek (1956-1961), Ernesto Geisel (1974-1979) e Fernando Henrique Cardoso (1995-
2003), assim como governadores e deputados dos mais variados Estados da federação. Entre 
os norte-americanos, destacaram-se os presidentes Richard Nixon (1969-1974), Bill Clinton 
(1993-2001), George Bush (2001-2009) e Barack Obama (2009-2017), além dos secretários 
Dean Acheson e Collin Powell e Hillary Clinton. Empresários como Nelson e David 
Rockfeller e Michael Dell, presidente e fundador da Dell Inc., uma das maiores fornecedora 
 
173 Informações retiradas do site oficial da AMCHAM. Disponível em <http://www.amcham.com.br/>. Acessado 
em: 15.09.17 
174 Atualmente a AMCHAM participa intensamente do Programa Ciência sem Fronteiras. O papel da AMCHAM 
foi decisivo ainda para o início das atividades do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), do Instituto 
Ethos, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e do Centro de Democratização da Informática, em São 
Paulo. O GIFE, segundo seu site oficial, tinha como objetivo “gerar conhecimento a partir de articulações em 
rede para aperfeiçoar o ambiente político institucional do investimento social e ampliar a qualidade, legitimidade 
e relevância da atuação dos investidores sociais privados”. (Disponível em<https://gife.org.br/>. Acessado em: 
10.08.2017). Segundo seu site oficial, o Instituto Ethos foi criado, em 1998, por um grupo de empresários e 
executivos da iniciativa privada. É uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) “cuja 
missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios”. (Disponível em 
<https://www3.ethos.org.br/>. Acessado em: 13.08.17). A FNQ foi criada no início da década de 90, por 
empresários que detectaram a necessidade de adotar padrões internacionais para orientar, avaliar e reconhecer a 
gestão, em busca de mais qualidade e competitividade. É patrocinada por empresas privada (Bradesco) e 
públicas (Correios, Caixa Econômica, BNDES e pelo próprio governo federal). Disponível em 
<http://www.fnq.org.br/>Acessado em: 11.10.2017. 
http://www.amcham.com.br/
https://gife.org.br/
https://www3.ethos.org.br/
http://www.fnq.org.br/
50 
 
de produtos eletrônicos e de tecnologia do mundo, também deixaram suas marcas na 
AMCHAM. 
Em outubro de 1964, representantes de 78 multinacionais norte-americanas, membros 
da AMCHAM, foram recebidos por Castello Branco. Foram manifestar ao presidente o forte 
espírito de confiança e cooperação e “sua profunda confiança no futuro econômico do país”. 
Na ocasião, apresentaram um estudo, no qual as empresas planejaram investir 55 bilhões de 
cruzeiros para o próximo ano, que representava 10% do capital estrangeiro na época 
investido. Esclareceram, ainda, o seu desejo de aumentar os investimentos no Brasil, “os quais 
produzirão somente um lucro razoável”, e que têm proporcionado empregos e melhoria a mais 
de cem mil cidadãos brasileiros. Destacaram que esperavam que o governo desse 
oportunidades para investimentos, assim como incentivos a investidores estrangeiros em 
potencial para poderem “trabalhar ajudando o Brasil a alcançar as suas formidáveis metas 
industriais e comerciais”. Na oportunidade, estavam presentes também: embaixador norte-
americano Lincoln Gordon, G.W. Potts (presidente da AMCHAM do Rio de Janeiro), Paul 
Albright (presidente da AMCHAM de São Paulo), Arthur Bennett (vice-presidente executivo 
da AMCHAM de São Paulo), M. Bush (vice-presidente executivo da AMCHAM do Rio de 
Janeiro) e William Kedeher (1º vice da AMCHAM de São Paulo).175 
 
 Quadro 1 – Membros da AMCHAM e suas ligações com outras entidades (1964) 
NOME EMPRESA ENTIDADES 
Paul Norton Albright E.R. Squibb & Sons FAS, IPES 
Frank N. Aldrich First National Bank of Boston. 
Richard S. Aldrich Ind. Metal Forjaço S.A., IBEC - Cia. 
Brasileira de Participações, Banco 
Boavista 
CLA 
G. David Monteiro McCannErickson Publicidade. 
João Nogueira Lotufo Associação Cristã de Moços 
João da Silva Monteiro COBAST - Light S.A IPES, Ação 
Comunitária 
Trajano Puppo Neto First National City Bank of N.Y IPES 
Fernando Edward Lee Cia. Química Duas Ancoras, S.A. 
Marvin-Anaconda; Fios e Cabos 
Plásticos do Brasil-Anaconda Co; 
Goodrich do Brasil 
FAS, IPES 
David Augusto Monteiro Multi Propaganda Soc.Ltda. 
Humberto Monteiro RCA Electrônica Brasileira S.A, 
CIBA S.A. Prod. Químicos 
FAS, IPES 
 
175 Revista das Classes Produtoras. Negócios americanos: luz verde para o Brasil. Disponível em 
<http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=ACRJRevistas&PagFis=17425&Pesq=%22Bennett%22
>. Acessado em 05.10.17. 
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=ACRJRevistas&PagFis=17425&Pesq=%22Bennett%22
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=ACRJRevistas&PagFis=17425&Pesq=%22Bennett%22
51 
 
Fabio Garcia Bastos Liquid Carbonic Ind. S.A., General 
Dynamics, Banco Investimento 
 
Helio Cássio Muniz American Marietta S.A. Tintas, Cassio 
Muniz S/A Imp. E Exportação 
IPES 
José Bastos Thompson Cia. Patiz de Inversores, grupo Patino IPES 
Herman Moraes Barros Banco Sul Americano do Brasil S.A. IPES 
G.E. Strickland USABRA S.A. - Liquid Carbonic 
Audley GammonBank of America IPES 
Luiz Biolchini Banco Boavista IPES 
P.H. Weisskopf Pneus General 
Paulo Barbosa Esso Brasileira de Petróleo S.A IPES 
Vicente de Paula Ribeiro Dominium S.A. - Cia. Patrimonial 
Serva Ribeiro 
FAS, IPES 
Américo Oswaldo Campiglia Fiação Brasileira de Rayon; Cimento 
Santa Rita. 
IPES 
Jorge de Assumpção Tecelagem Assumpção 
Luiz de França Ribeiro Cia. Brasileira de Caldeiras e 
Equipamentos Pesados. 
 
Manoel da Costa Santos Arno S.A. Indústria e Comércio 
Oswaldo Trigueiros Viação Aérea Riograndense - VARIG IPES 
Edward Francis Munn First National Bank of Boston 
A.O. Bastos Perfumes Dana do Brasil S.A 
Gustavo W. Borghoff Joseph Lucas do Brasil IPES 
Guilherme J. Borghoff Remma S.A IPES 
Eldino da Fonseca Brancante IPES 
Juan Clinton Llerena Moore McCormack IPES, FAS 
Nelson Monteiro de Carvalho Grupo Matarazzo 
Henrique Bayma Cia. Brasileira de Rolamentos SKF, 
Suécia, Rupurita S.A. Explosivos 
 
Odilon Egydio do Amaral 
Souza 
São Paulo Alpargatas 
Aldo Campos Mobil Oil do Brasil 
Carlos Augusto Botelho 
Junqueira 
Procon Engenharia Ind. e Com. Ltda. 
Julio C.B. de Queiroz Procon Engenharia Ind. e Com. Ltda 
Lucien Marc Moser CIBA S.A. Produtos Químicos 
Swiss Bank Corporation. 
 
Luis Alberto Penteado ESSO Brasi1eira de Petro1eo S.A 
Fernando Alencar Pinto F.A. Pinto S.A. Importação & 
Exportação, Westinghouse Electric Int 
IPES 
Geraldo Danneman Banco da Bahia S.A., Cia.Telefônica 
da Bahia S.A. 
IPES 
Vitorio Ferraz Cia. Fuller Equipamentos Industriais IPES 
Fernando Mbielli de Carvalho Cia. Gás Esso-Standard Oil IPES 
Mario Antunes Azevedo AMF do Brasil S.A. Máquinas 
Automáticas 
 
William Monteiro de Barros Cia. Federal de Fundição, Parsons & 
Whittemore 
 
Borges Lundgren Bates do Brasil S.A 
52 
 
Fonte: DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. e documentos do IPES. Elaboração 
própria. 
 
Portanto, com o quadro acima se percebe que a AMCHAM tinha uma relação direta 
com o IPES por meio de seus membros comuns. 
O IBAD também contribuiu financeiramente com o IPES. Fundado, em 1959, sob o 
pretexto de “defender a democracia”, tinha como objetivos combater possíveis vestígios do 
comunismo no Brasil, e para tal “desfraldou a bandeira do anticomunismo” atendendo 
interesses externos e internos.176 
Segundo sua ata, foi fundando por Ivan Hasslocher (diretor-superintendente), 
Francisco Camelo Lampreia, Sergio Macedo, Carlos Lavínio Reis, Barthelemy Beér, Heider 
Castello Branco, Frutuoso Osório Filho, Odemy de Farias Barros, Lauren Beér, Lauro Barros, 
e Aloísio Hammerli. Seus objetivos incidiam em fomentar o desenvolvimento da livre 
empresa; divulgar informações especializadas sobre o assunto por meio do patrocínio de 
programa radiofônico, de televisão, pela imprensa; manter cursos de investigação e difusão de 
conhecimentos técnicos sobre o assunto; promover conferências periódicas sobre a livre 
empresa; formar pesquisadores especializados; criar cursos informativos para difusão de 
novas premissas no país e no estrangeiro; e entrar em contato com entidades culturais e 
técnicas brasileiras a fim de obter cooperação.177 
Ainda conforme sua ata, sua receita era proveniente de renda dos seus bens 
patrimoniais; contribuições voluntárias; resultado de coletas, benefícios, conferências, cursos 
e venda de publicações; e doações de bens de valores.178 Mas o governador de Pernambuco, 
Miguel Arraes (1963-1964)179, na CPI instaurada para investigar as ações do instituto, 
analisada à frente, enumerou as firmas contribuintes a partir de farta documentação: Texaco, 
Pfizer, Ciba, Gross, Schering, Bayer, General Eletric, IBM, Coca-Cola, Standard Brands, 
Remington, Belgo-Mineira, AEG, Herm Stoltz, Coty, entre outras180. 
Para atingir seus fins, Ivan Hasslocher além do IBAD, cúpula financeira e ideológica 
do esquema, congregou mais dois organismos: a Ação Democrática Popular (ADEP) e a S.A 
 
176 DUTRA, Eloy. IBAD. Sigla da corrupção. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 
177 DOU de 24.06.59, seção 1, p. 100. 
178 Idem. 
179 Miguel Arraes de Alencar foi governador do Estado de Pernambuco em mais dois períodos: 1987-1990 e 
1995-1999. 
180 Os deputados Pedro Eugênio e Luiz Erundina conseguiram cópia dos 17 volumes do processo, em 2016. A 
Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) publicou as peças mais 
importantes, das quais foram retiradas as informações disponibilizadas acima. Os documentos estão disponíveis 
no site oficial da CEPE - Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em 
<http://www.cepedocumento.com.br/comissao-verdade.html>. Acessado em: 05.04.17 
http://www.cepedocumento.com.br/comissao-verdade.html
53 
 
Incrementadora de Vendas Promotion, agência de publicidade com fins políticos, que deu 
cobertura ao esquema.181 
A ADEP, fundada em 1962, funcionava como uma subsidiária do IBAD. Intermediava 
a entrega de recursos políticos, cumpria o papel mais visivelmente político. Mantinha uma 
rotina de trabalho acompanhando sistematicamente os discursos e demais atividades dos 
parlamentares no Congresso. Esses dados eram utilizados tanto para o mapeamento dos 
parlamentares como para material de divulgação de programas de rádio patrocinados pela 
ADEP.182 
Com o dinheiro proveniente das empresas e das ações da ADEP e da Promotion, o 
IBAD criou várias ações e estratégias: influenciou e penetrou no Legislativo, na Câmara, no 
Senado e nos governos estaduais, e apoiou sindicatos, associações religiosas e organizações 
ideologicamente compatíveis com seus ideários. 
Para influir na política, o IBAD, patrocinado pela CIA183, manejou campanhas 
eleitorais e lobbying, além de se opor à Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) por intermédio 
da Ação Democrática Parlamentar (ADP), sua oponente ideológica. A FPN (1956-1964) 
reuniu deputados de vários partidos políticos comprometidos em defender, no Congresso 
Nacional, políticas e soluções nacionalistas para os problemas do desenvolvimento brasileiro, 
tais como petróleo, minérios, investimentos e capital estrangeiros, formação do capital 
nacional e desenvolvimento industrial, relações comerciais, moeda e crédito, revisão dos 
acordos internacionais, reforma agrária, eletrificação e transportes, alimentação e custo de 
vida, defesa da cultura nacional e condições sociais do trabalho. A Promotion, “uma agência 
de articulação política e de orientação ideológica das grandes empresas estrangeiras, bem 
como daquelas que a elas estão ligadas por interesses nacionais”184, realizou, no curso da 
campanha eleitoral, centenas de programas de rádio e TV em todo o país, além de fartas 
matérias pagas na imprensa. Conforme depoimento do radialista Joel Vaz à CPI, a Promotion 
patrocinou em treze emissoras de televisão programas de meia hora, duas vezes por semana, 
 
181 DUTRA, Eloy. op. cit. p. 13. 
182 FARES, Seme Taleb. op. cit. 
183 Em entrevista dada ao jornalista Geneton de Morais Neto, Lincoln Gordon afirmou que a CIA deu por volta 
de 5 milhões de dólares a candidatos simpáticos aos Estados Unidos nas eleições de 1962, “mas não produziram 
resultados importantes, porque o Congresso que foi eleito em 1962 não foi diferente do Congresso anterior. 
Miguel Arraes, por exemplo, se elegeu governador de Pernambuco, que foi um fato mais importante do que 
qualquer mudança do Congresso”. (IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: 
Secretaria da Casa Civil do Governo do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, pp. 239-240. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em: 05.04.17) 
184 Depoimento de Genival Rebelo, diretor da revista PN à CPI. IBAD Interferência do capital estrangeiro nas 
eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil do Governo do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, p. 15. 
(Disponível em <http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>.Acessado em: 04.04.17). 
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
54 
 
num total de 312 emissões vendidas pelas estações ao preço de 450 mil cruzeiros por meia 
hora. Os contratos representaram um gasto na ordem de Cr$ 140.400.000,00.185 
A ADP foi criada em 1961. Reuniu parlamentares americanistas oriundo da UDN e do 
Partido Republicano (PR), mas havia outros partidos envolvidos. Os objetivos principais eram 
combater a infiltração comunista no Brasil, sob o princípio “anticomunistas sempre, 
reacionários nunca”, a defesa da democracia entendida como contraposição ao regime 
comunista, criticar as linhas adotadas pela política externa de Quadros e Goulart e investir na 
consolidação do anticomunismo. Apoiou a atuação parlamentar e eleitoral dos políticos 
americanistas, financeira e intelectualmente, em conjunto com as atividades da ADEP e do 
IBAD.186 
Em entrevista ao Programa de História Oral do CPDOC/FGV, Flores explicou que o 
IPES e o IBAD criaram a ADP, um braço parlamentar, que tinha como objetivo construir uma 
ação conjunta de deputados favoráveis ao projeto político implementado pelo IPES. Contava 
com alguns políticos, dentre eles João Mendes (presidente da ADP), Herbert Levy (presidente 
da UDN), Amaral Peixoto (presidente do PSD), Mário Gomes (PSD-PR), Jaime Araújo 
(UDN-AM), Sérgio Marinho (senador) etc.187 
Para assegurar a ação da ADP no Senado e na Câmara dos Deputados, o complexo 
IPES/IBAD investiu nas eleições de 1962, patrocinando financeiramente candidatos de todo o 
Brasil, que se dispusessem a lutar contra o comunismo, defender o investimento estrangeiro, 
assinar um compromisso ideológico e de lealdade com o IBAD e a ligar-se à ADP.188 Esta 
questão é discutida à frente. 
A ação fraudulenta do IBAD, ADEP e IPES foi tão ostensiva nas eleições de 1962 
que, em abril de 1963, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para 
“apurar a origem dos haveres e a atuação política das instituições conhecidas pelas siglas 
IBAD e IPES” 189. A CPI ouviu centenas de depoimentos e analisou milhares de documentos, 
 
185 IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil do Governo 
do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, p. 19. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em: 04.04.17. 
186 FARES, Seme Taleb. op. cit. 
187 FLORES, Jorge Oscar de Mello. Jorge Oscar de Mello Flores II (depoimento, 996/1997). Rio de Janeiro, 
CPDOC, 1998. 66 p.dat. 
188 Merecem destaque os seguintes políticos: Alliomar Baleeiro (latifundiário da Bahia), Pedro Cardoso, Adolfo 
Gentil, Eurípides Cardoso de Menezes, Hamilton Nogueira, Maurício Joppert, Mendes de Morais, Correia de 
Castro, Fernandes Ribeiro, Mendes Gonçalves, padre Vidigal, Tristão da Cunha, Munhoz da Rocha, Oton 
Mader, Aldo Sampaio, Augusto de Gregório, Edilberto de Casto, Raimundo Padilha, José Arnaud, Alberto 
Hoffmann, Clóvis Pestana, Elias Andaime, Arnaldo Cerdeira, Herbert Levi, Horácio Lafer, Olavo Fontoura, etc. 
O Semanário nº 342 de 18 a 24 de julho de 1963, p. 28. 
189 Os deputados Pedro Eugênio e Luiza Erundina conseguiram cópia dos 17 volumes do processo, em 2016. A 
Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) publicou as peças mais 
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
55 
 
entre eles extratos de contas movimentadas em bancos estrangeiros no Brasil e no exterior, 
que comprovaram que se realizou uma ampla campanha ideológica, onde foram mobilizados 
vastos recursos financeiros e tecnológicos para que se difundisse a ideia de uma “ameaça 
comunista” iminente. Conforme documentos da CPI, José Domingos França, tesoureiro da 
ADEP, esclareceu que entre, maio e agosto de 1962, o IBAD remeteu para os Estados a 
importância total de Cr$ 318.070.037,30, distribuídos da seguinte forma190. 
 
 Quadro 2 – Valores enviados aos estados pelo IBAB 
ESTADO VALOR 
Amazônia Cr$ 34.920.000.00 
Pará Cr$ 10.300.000,00 
Maranhão Cr$ 10.000.000,00 
Piauí Cr$ 7.446.000,00 
Espírito Santo Cr$ 10.460.000,00 
Goiás Cr$ 11.000.000,00 
Mato Grosso Cr$ 7.140.000,00 
Minas Gerais Cr$ 75.520.912,00 
Paraná Cr$ 6.800.000,00 
São Paulo Cr$ 93.800.000,00 
Santa Catarina Cr$ 11.680.000,00 
Rio Grande do Sul Cr$ 27.200.000,00 
Rio de Janeiro Cr$ 10.700.000,00 
Brasília Cr$ 1.103.125,00 
Pernambuco Cr$ 353.000.000,00 
Fonte: IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil 
do Governo do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, pp. 70-71. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em: 04.04.17. 
 
 
O valor superior em Pernambuco, em relação aos outros Estados, tinha objetivo certo: 
derrotar Miguel Arraes e eleger João Cleofas. O ex-deputado Castilho Cabral (PTN-SP) 
relatou que fora procurado por Ivan Hasslocher, que lhe oferecera 1 bilhão de cruzeiros para 
auxiliar candidatos nas eleições.191 
O IBAD atingiu os limites da audácia quando fez instalar, no próprio recinto do 
Congresso Nacional, um aparelho de gravação clandestino para colher os pronunciamentos 
 
importantes, das quais foram retiradas as informações disponibilizadas acima. Os documentos estão disponíveis 
no site oficial da CEPE - Companhia Editora de Pernambuco. (Disponível em 
<http://www.cepedocumento.com.br/comissao-verdade.html>. Acessado em: 05.04.17). 
190 IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil do Governo 
do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, pp. 70-71. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em: 04.04.17. 
191 Idem. 
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
56 
 
dos parlamentares nacionalistas. Com o material, fez ampla divulgação dos trechos que, 
apresentados isoladamente, davam margem às mais diferentes interpretações.192 
Miguel Arraes entregou à CPI cerca de 500 documentos comprobatórios nos quais, 
como disse que “se pode verificar a interferência direta, efetiva, incontestável, do poder do 
dinheiro e do IBAD” no pleito político de 1962, quando se elegeu para o governo de 
Pernambuco.193 
No setor sindical, o IBAD controlou o Movimento Sindical Democrático (MSD) e a 
Resistência Democrática dos Trabalhadores Livres (REDETRAL). No movimento estudantil, 
fez jorrar dinheiro para as eleições de centros acadêmicos por meio do Movimento Estudantil 
Democrático (MED).194 
O IBAD nas suas ações de terror, isto é, violentos atos coercitivos para conseguir seus 
objetivos, contava com grupos que integravam o seu núcleo: Ação Vigilantes do Brasil – líder 
Paulo Sales Galvão, União Operária Camponesa do Brasil – líder Valdo Claro Viana, Grupo 
de Ação Patriótica – líderes Aristóteles Drummond, almirante Silvio Heck195 e Carlos 
Eduardo D’Alamo Louzada (filho do embaixador D’Alamo Louzada), Frente Nacional 
Estudantil – líder George Greep, Centros Culturais da Juventude – líder Carlos Oliva, 
Estudantes Marianos – líder Mario Navarro da Costa, Campanha da Mulher pela Democracia 
– líder Amélia Molina.196 
O IBAD criou a revista Ação Democrática, cuja diretoria era formada, em 1963, por 
Ivan Hasslocher (diretor-superintendente), Frutuoso Osório Filho (diretor geral), Gabriel 
Chaves de Melo (chefe de redação), Floriano da Silveira Maciel (redator trabalhista), Edgar 
 
192 MOREL. Edmar. O golpe começou em Washington. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 
193 IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil do Governo 
do Estado dePernambuco, 2016, p. 32. Disponível em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em> 05.04.17. 
194 DUTRA, Eloy. op. cit. p. 13. 
195 Após o golpe, Silvio Heck era ligado à Liga Democrática Radical (LIDER), conhecida como a “linha dura” 
das Forças Armadas. Seu presidente era Luiz Antonio da Gama e Silva (líder do IPES-SP) e o líder Carlos 
Eduardo Guimarães Louzada. A LIDER mantinha ligações com a Legião Brasileira Anti-Comunista (LBAC), 
dirigida por Francisco Bastos.195 A LIDER foi criada, em setembro de 1964, no Rio de Janeiro, por cinco mil 
militares e civis para formar uma oposição a Castello Branco, pois previam uma distorção da “Revolução”. Os 
cabeças da LIDER eram Silvio Heck, o GAP, o general José Alberto Bittencourt, ex-dirigente da Frente 
Patriótica Civil-Militar. Em 1965, foi dirigida por um triunvirato: almirante Osnelli Martinelli, o advogado Luiz 
Mendes de Morais Neto e o coronel Joaquim Pessoa Igrejas Lopes. Martinelli e Gerson de Pina eram ligados ao 
MAC (CHIRIO, Maud. As políticas nos quartéis: revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2012). A composição da diretoria da LIDER era: Presidente: Col. Osnelli Martinelli, Vice-
Presidente: General Floriano Moura Brasil, General secretário: Luis Mendes de Morais Neto, Diretor 
administrativo: Col. Gervasio Deschamps, Diretor de publicidade: Col. Alcides Santos, Diretor: João Pio dos 
Santos, Diretor de planejamento: General Arakem Arare da Cunha Torres. (Telegrama da Embaixada norte-
americana no Rio de Janeiro, nº A-778 de 15.01.65. Disponível no Repositório da Brown University Library: 
<https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:346027/PDF/>. Acessado em 12.11.17). 
196 Ministério da Aeronáutica, Estado Maior, Informe nº 618, 16.11.65 – APA-ACE-12177-85, Arquivo Nacional 
de Brasília. 
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:346027/PDF/
57 
 
Teixeira Leite e Eugenio Gudin (consultores da redação). Sua tiragem começou, em 1959, 
com 25.000 exemplares, e, em 1963, era de 255.000. Seu lema era “Ajudem a vocês próprios, 
ajudando-nos a salvar a democracia”. 197 
O IBAD foi banido. Em 31 de agosto de 1963 foi baixado o Decreto nº 52.425 que 
suspendeu as atividades do IBAD e da ADEP por comportamento inconstitucional: exercerem 
atividade político-eleitoral, intervindo no processo de escolha dos representantes políticos do 
povo brasileiro e pretendendo a tomada do poder através da corrupção eleitoral; utilizarem 
incalculável soma de recursos financeiros, cuja origem ainda desconhecida atenta contra a 
segurança das instituições e pode; inclusive a atentar contra a própria soberania nacional, já 
que não é permitida a utilização de recursos financeiros cuja origem não esteja identificada 
(art. 145, do Código Eleitoral).198 
O IPES conseguiu sair ileso. Recebeu intimação para comparecer um representante e 
apresentar documentos, mas antes criou estratégias para se furtar das solicitações e de como 
se esquivar diante das perguntas do interrogatório. 
Foi solicitado ao Instituto: 1- relação das formas como capital ou parte de capital 
estrangeiro colaboravam com o IPES. Foi decidido, em reunião, que o instituto informasse 
que nenhuma empresa estrangeira faz parte de seu corpo de associados. 2- Relação de 
empresas, firmas e pessoas que receberam recursos do IPES. Decisão: que o IPES fornecesse 
a relação dos beneficiários, identificando os objetivos das aplicações. 3- Relação dos 
associados, pessoas físicas ou jurídicas, na forma do art. 5º, cap. II do estatuto. Decisão: que o 
CE não tinha poder para tomar a decisão,199 o conselho orientador (região do RJ) declarava-se 
incompetente para atender aos pedidos da CPI em seus ofícios de 28/63 e 29/63, e submeteria 
tal decisão à soberania da assembléia geral, que seria convocada extraordinariamente. 
João Batista Leopoldo Figueiredo, representando o IPES, depôs na CPI. Na ocasião, 
explicou que o instituto não se dedicava à atividade político-partidária e suas atuações eram 
no campo educacional, cultural, social e econômico no sentido de esclarecer a opinião 
pública, com a edição de folhetos, promoção de conferências, organização de debate e 
realização de pesquisa. Esclareceu que o IPES não financiou, nem direta e nem indiretamente, 
 
197 Revista Ação Democrática, nº 44, janeiro/1963. 
198 BRASIL. Decreto nº 52.425 de 31 de agosto de 1963. 
199 Ata do IPES reunião ordinária de 27.08.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
58 
 
a campanha eleitoral de qualquer partido, e que não existia nenhuma vinculação entre o IBAD 
e o IPES.200 
Se tivesse tido uma investigação profunda, a CPI encontraria elementos da relação 
entre os dois institutos. Em suas atas de reuniões estão registradas suas ligações e parcerias. 
Na época, Figueiredo apresentou documentos, tais como balancetes, lista de sócios e 
mantenedores para provar sua inocência. Importante ressaltar que no acervo do IPES, no 
Arquivo Nacional, não se encontram alguns recibos de contribuição, bem como outros 
documentos de contabilidade, justamente do período referente à CPI. Durante a fase da 
Comissão Parlamentar de Inquérito, os ipesianos, para não criarem provas contra eles 
mesmos, sumiram com os documentos, conforme discutido à frente. 
A CPI não chegou ao fim atropelada pelo golpe de Estado de 1964. Os políticos 
envolvidos acusados por corrupção não foram criminalizados. Em 30 de novembro de 1969, a 
proposição foi arquivada pela Mesa da Câmara dos Deputados não tendo nenhum parlamentar 
acesso aos documentos.201 
O Information Research Department (IRD) foi uma unidade secreta extinta do 
ministério das Relações Exteriores britânico, que coordenou publicidades anticomunistas 
durante a Guerra Fria com a finalidade de combater a propaganda soviética e a influência do 
comunismo em todo o mundo. O IRD tinha contatos com organizações e com pessoas, que na 
opinião dos britânicos, tinham uma atuação anticomunista, tais como o IPES, IBAD, PUC-RJ, 
Companhia Sul-Americana de Administração e Estudos Técnicos (CONSULTEC), 
CONCLAP, Centro Nacional de Realismo Social PRO DEO, etc, para os quais distribuía 
artigos e livros sem custo para divulgação nos seus canais, como também financiava, como o 
caso do IPES.202 
Cantarino em sua pesquisa sobre o IRD identificou um grupo de seis empresários 
britânicos, denominado “Comitê dos Seis”, que se organizou, em São Paulo, para arrecadar 
recursos para atividades anticomunistas. O grupo formado por J.S. Nisbet (J.P. Coats), W.F. 
Galbraith e Wilson (Bank of London no Brasil), Van den Berg (Unilever), Smith (Reckitts & 
Coleman), Alfred Norris (Alpargatas) e Higgins (Frigorífico Anglo) doou em torno de 5 mil 
libras por mês para a causa. Os recursos arrecadados eram distribuídos de três maneiras: 
financiamento de projetos a serem definidos pelo grupo, assistência aos serviços de 
 
200 Boletim Informativo nº 13, agosto de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
201 IBAD Interferência do capital estrangeiro nas eleições do Brasil. Recife: Secretaria da Casa Civil do Governo 
do Estado de Pernambuco, 2016, v. 5, p. 13. Informações disponíveis em 
<http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL>. Acessado em: 04.04.17. 
202 CANTARINO, Geraldo. Segredos da propaganda anticomunista. Rio de Janeiro: Mauad, 2011. 
http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=IBADL
59 
 
informação e contribuições para o IPES, que buscava apoio para as atividades antisubversivas 
e para ajudar a eleger determinados candidatos a deputado federal. Um grupo semelhante foi 
criado também no Rio de Janeiro com participação de executivos da Shell e da fábrica de 
cigarros Souza Cruz, que tinha seu controleacionário pela British American Tobacco.203 
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) foi um espaço importante de reunião de parte da 
elite intelectual da área econômica que se empenhou no processo de criação de instituições e 
na formulação de políticas econômicas do Brasil. A FGV foi um centro ideológico, criada em 
1944, idealizada pelo empresário Luis Simões Lopes, que formulava estratégias de inserção 
de interesses junto à sociedade política. Seus participantes cumpriram papel importante na 
derrocada do governo Goulart e no interior do regime ditatorial pós-1964.204 
A FGV nasceu da necessidade de formação de quadros de profissionais para que 
dessem suporte ao processo de modernização do Estado. Destacou-se no campo econômico 
com a criação do Núcleo de Economia, em 1946, ganhando credibilidade política e 
acadêmica. Tornou-se o polo mais importante de produção do conhecimento com grupo seleto 
de economistas que, conforme o Brasil constituiu “uma verdadeira rede de intelectuais que 
partilhavam experiências, sob as bênçãos do Estado restrito, formulando políticas públicas e 
construindo laços pessoais que serão ativados ao longo de suas carreiras profissionais”.205 
Os profissionais que perpassaram pela FGV, com posicionamentos ideológicos e 
sensos de ação política comuns, se inseriram em uma vasta teia de relações interpessoais que 
envolvia diversas agências estatais, órgãos de pesquisa, empresas nacionais e estrangeiras e o 
IPES. Não só realizaram vários trabalhos para o IPES, com receituário modernizante-
conservador, como vários deles fizeram parte da estrutura formal do instituto, ou seja, 
estavam no comando das ações desenvolvidas. Com o golpe de 1964, diversos ocuparam 
cargos importantes na administração pública, como discutido ao longo da tese. 
 
1.3. Mobilização da sociedade 
 
Uma vez constituído, com objetivos definidos e com uma estrutura muito bem 
organizada, articulada e milionária, o IPES, para se fortalecer e alcançar seus objetivos, 
aproximou-se de diferentes segmentos sociais, com as mesmas e diferentes ideologias, 
 
203 Idem. 
204 BRASIL, Rafael do Nascimento Souza. Ideologia modernizante-conservadora e ação política: uma proposta 
de pesquisa sobre os intelectuais da Fundação Getúlio Vargas. In: PICCOLO, Monica (org). Ditaduras e 
democracias no mundo contemporâneo. Rupturas e continuidades. São Luis: Editora UEMA, 2016. 
205 Idem, p. 190. 
60 
 
financiando, assessorando, auxiliando e estimulando suas ações contrárias ao governo de João 
Goulart. 
O grande desafio do IPES era coordenar esforços no sentido de ajustar diferentes 
interesses e ideologias e acabar com a resistência de setores, sobretudo do empresarial, em 
participar e cooperar com o instituto, e de mantê-los sobre sua liderança, para estabelecer a 
sua hegemonia dentro da classe dominante, como meio de conquistar o poder. 
Conforme roteiro de ação, o IPES tinha como metas: 1) expansão dos quadros do IPES 
de forma a colocar, ao menos um membro, em toda e qualquer associação patronal, sindical 
ou não, recreativa, cultural de beneficência política ou de outras finalidades; 2) manter os 
membros do IPES permanentemente ligados entre si e ao Instituto, por meio de uma 
doutrinação continuada e constante, que constituísse roteiro seguro e tranqüilo em quaisquer 
situações, de forma a que o conjunto dos membros do IPES aja sempre em união, em qualquer 
que fossem as circunstâncias; e 3) uma vez criada na classe patronal o espírito de que 
“empresário” é todo aquele que trabalha na empresa, e feita uma distinção entre patrão e 
empregado, na empresa, o IPES deveria tentar fazer com que as suas firmas associadas, por 
intermédios financeiros dos patrões e depois dos empregados, aderissem aos partidos 
políticos, de centro inicialmente, de forma a dar corpo e densidade aos nacionais. 206 
O documento acrescenta que, após um período de dois a quatro anos, haveria, 
provavelmente, um número já substancial de membros do IPES, nos partidos de centro, que 
“formará a massa de manobra suficiente para constituir um esqueleto para o partido e dar 
força suficiente ao IPES para influenciar o pensamento e a ação política do partido” (grifo 
meu). O roteiro foi seguido à risca, e acrescido com novas decisões ao longo do processo. 
Conforme já discutido, a necessidade inicial do projeto hegemônico do IPES, apontada 
nos documentos, era coordenar esforços para ajustar interesses dos mais diversificados 
empresários de diferentes setores e ideologias, “convencê-los de que tinham uma missão 
política a cumprir para representar uma força em prol da sociedade”.207 Para essa função, 
coube ao Grupo de Integração “integrar pessoas dentro do espírito democrático do IPES e ao 
mesmo tempo angariar contribuições financeiras para as atividades do Instituto”.208 
A seu favor estava a conjuntura política que facilitava a adesão, pois as indústrias 
estabelecidas, desde a década de 30, começaram a se enfraquecer e a perder sua eficácia no 
 
206 Roteiro básico para um programa de ação a longo prazo, de 06.06.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
207 Ata do IPES CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
208 Boletim mensal do IPES nº 23, 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
61 
 
governo de Goulart, que “mantinha o Estado no controle das iniciativas privadas”.209 Segundo 
Dreifuss, o que os unificava eram as suas relações econômicas, seus posicionamentos 
anticomunistas e as suas ambições de readequar e reformular o Estado.210 Para Gramsci, o 
grau de homogeneização, de autoconsciência e de organização alcançado por vários grupos 
sociais, se dá no momento que se adquire consciência de que os próprios interesses 
corporativos superam o círculo corporativo, de grupo meramente econômico, e tornam-se os 
interesses de outros grupos subordinados.211 
 Segundo o autor, 
 
É a fase em que as ideologias geradas anteriormente se transformam em “partido”, 
entram em confrontação e lutam até que uma delas, ou pelo menos uma única 
combinação delas, tenda a prevalecer, a se impor, a se irradiar por toda a área social, 
determinando, além da unicidade dos fins econômicos e políticos, também a unidade 
intelectual e moral, pondo todas as questões em torno das quais ferve a luta não no 
plano corporativo, mas num plano “universal”, criando assim a hegemonia de um 
grupo social fundamental sobre uma série de grupos subordinados.212 
 
 
Conforme Gramsci, a existência de um partido depende da existência de pessoas de 
extraordinário poder volitivo e de extraordinária vontade. Torna-se necessário quando as 
condições de seu “triunfo”, de seu inevitável tornar-se Estado estão pelo menos em vias de 
formação e deixam prever normalmente seus novos desenvolvimentos. Para que exista, é 
necessária a confluência de três elementos fundamentais: 1) um elemento difuso, de homens 
comuns, médios, cuja participação é dada pela disciplina e pela fidelidade; 2) elemento de 
coesão principal, centralizadora e disciplinadora, que centraliza no campo nacional, que torna 
eficiente e poderoso um conjunto de forças; 3) um elemento médio que articule o primeiro 
com o segundo elemento, que os ponha em contato não só físico, mas moral e intelectual.213 
Entretanto, apesar dos fatores que favoreceram a sua formação e a adesão de 
associados, as lutas de classe, que geralmente opõem organizações burguesas e proletárias na 
sociedade civil, existem também no seio das organizações. São conflitos e disputas intraclasse 
da mesma classe ou fração de classe, as quais ocorreram no IPES. 
Os aparelhos privados, que estão inscritos na ossatura do Estado capitalista, efeito da 
reprodução no seio do Estado da divisão social do trabalho e de sua separação específicadas 
 
209 Segundo o IPES, no artigo A responsabilidade democrática do empresário, a intervenção do Estado no 
domínio da economia abala o fundamento da iniciativa privada e a sua substituição pela empresa governamental 
tem custo social. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
210 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. 
211 GRAMSCI, Antonio. op. cit. v. 3. 
212 Idem, p. 41. 
213 Idem, pp. 316-317. 
62 
 
relações de produção, está dividido em trincheiras diferentes, representam interesses 
divergentes de cada um ou de alguns componentes. A burguesia, como aponta Poulantzas, se 
apresenta sempre como que constitutivamente dividida em frações de classe: o capital não 
monopolista e o capital monopolista.214 
O IPES agregou diferentes segmentos de classes em torno dos seus objetivos, como 
um “guarda-chuva”, com intuito de estabelecer consenso para suas ações, mas havia conflitos 
intraburguês de empresários de diferentes setores, que tinham posições divergentes sobre 
vários aspectos, conforme segue. 
Dificuldade de relacionamento entre o IPES-GB e o IPES-SP. No início de 1962, 
quando o instituto começou a operar efetivamente, os ipesianos já discutiam nas reuniões as 
dificuldades de relacionamento e discordância nas formas de trabalho, diante disto, a 
possibilidade de serem autônomos nas suas decisões. Em 1963, Antonio Gallotti pontuou a 
“difícil articulação com São Paulo. Ou São Paulo toma conta ou não interage”. Na mesma 
reunião, Rui Gomes de Almeida afirmou: “claro que os homens do Rio de Janeiro têm mais 
visão que os de São Paulo, que raciocinam sempre em termos regionais” 215. Gilberto Huber, 
após uma semana em SP, constatou que era “um verdadeiro caos, difícil entrosamento entre 
Rio e SP. Este com vontade de liderar tudo. SP é como uma ilha, quistos do poder 
econômico” e não “admitir a CONCLAP junto ao IPES”. E sentenciou: “Acho que devemos 
nos desligar de SP sob a presidência de JBLF (João Baptista Leopoldo de Figueiredo), mas 
com autonomia” 216. 
 Diante do impasse, os ipesianos do Rio acharam melhor conversar com o pessoal de 
SP, no sentido de catalisar forças, pois ainda não acreditavam na solidez do IPES, “ainda 
frágil e vulnerável na sua representação de cúpula, nos interesses estrangeiros”217, e com a 
possibilidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Ficaram sabendo que pessoas do 
governo estavam dispostas a reagir contra o IPES e que deputados estariam no Rio de Janeiro 
para investigá-lo.218 
Por fim, houve a separação das duas seções, em fevereiro de 1964, que se efetivou em 
2 de junho, e novos estatutos foram criados.219 Passaram a ter autonomia administrativa, mas 
mantendo os objetivos comuns e cooperação em assuntos como cursos, livros, etc220. 
 
214 POULANTZAS, Nicos. op. cit. p. 146. 
215 Ata do IPES CD de 27.03.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
216 Ata do IPES CD de 12.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
217 Idem. 
218 Idem. 
219 Pelo Decreto nº 59.593 de 25.11.66, o IPES-GB foi declarado de utilidade pública. 
220 Ata do IPES CE de 28.02.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). Arquivo Nacional. 
63 
 
Deposição do presidente João Goulart. Segundo o general Edmundo de Macedo 
Soares Silva, o pessoal do Rio de Janeiro queria esperar o governo de Goulart acabar e influir 
nas eleições de 1965, mas o de São Paulo queria depor o presidente o mais rápido possível. O 
general se identificou com os paulistas e fizeram uma aproximação com o II Exército e com a 
Marinha, por meio de Sílvio Heck.221 
Com relação a esta aproximação dos empresários com o II Exército, Lemos em sua 
pesquisa sobre o complexo industrial-militar, aponta que, em 1963, foi formado um grupo de 
articulação industrial no interior da FIESP, que tornou o II Exército uma unidade móvel, o 
qual era abastecido com veículos, peças de reposição e equipamentos variados pelos 
conspiradores. Era formado entre empresários do IPES e oficiais da ESG, entre eles Edmundo 
de Macedo Soares e Silva. Suas funções imediatas foram o fornecimento de armas e 
equipamentos militares aos golpistas de São Paulo e servir de base logística em operação de 
troca de informações e de repressão a pessoas consideradas perigosas, por terem vínculos com 
o governo de Goulart e com o comunismo. Esse núcleo era articulado com a presidência da 
FIESP, o governador do Estado, Adhemar de Barros, oficiais superiores do II Exército e o 
comandante da Força Pública.222 
Documentos recentemente colocados à disposição do público pelo CPDOC/FGV no 
acervo de Paulo Ayres Filho constam também divergências. Em relatório feito por Glycon de 
Paiva (IPES-GB) sobre a obra de René Armand Dreifuss, 1964. A Conquista do Estado, 
Ayres Fº (IPES-SP) aponta algumas discordâncias. Logo na primeira folha, escreveu em letras 
garrafais: “livro baseado em arquivos do IPES-GB sempre exagerando o poder do gen. 
Golbery e jamais mencionando o trabalho gigante do IPES S. Paulo registrado em três 
arquivos como este e no qual o Golbery não tinha a ver”223. Onde Glycon cita alguns 
membros do IPES, Ayres questiona “E em SP?”224. Glycon cita um texto de Dreifuss em que 
afirma a descoberta, pelo IPES-GB, dos grupos femininos de pressão. Ayres discorda, “isto 
aconteceu por força de elementos de SP”. 
 
221 SILVA, Edmundo de Macedo Soares e. Um construtor do nosso tempo: depoimento do CPDOC/Lucia 
Hippolito e Ignez Cordeiro de Farias (organizadoras). Rio de Janeiro: Fundação da CSN, 1998. 172p. il 
222 LEMOS, Renato Luis do Couto Neto e. O complexo industrial-militar e o Estado brasileiro. In: MATTOS, 
Marcelo Badaró. Estado e formas de dominação no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2017. 
223Comentários sobre o livro de Dreifuss, de 13.08.81. Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV, p. 1. 
224 Idem, p. 8. 
64 
 
Propostas de reforma agrária225. No IPES o tema foi bastante delicado e debatido, 
acarretando um dilema, uma vez que tinha como associados a oligarquia tradicional e a 
burguesia rural moderna com divergência sobre a temática. 
Campos, em sua obra de 1994, esclarece que, com relação à reforma agrária, o IPES 
estava dividido. O grupo do Rio defendia a reforma do tipo capitalista, com intenção de 
amenizar as tensões sociais sem prejuízo da produtividade, e o grupo de São Paulo não 
considerava o tema de urgência e não queria causar desorganização na produção rural por 
partes dos produtores paulistas, aliados do IPES, que estavam muito modernizados226. 
O tema quase provocou uma crise entre as duas seções. Desta forma, o IPES precisou 
buscar um tom conciliatório, afinal os proprietários de terra significavam fonte de suporte 
financeiro e necessário para fortalecer politicamente o instituto, e o instituto, por sua vez, 
precisava se posicionar contra o anteprojeto de reforma agrária do governo. 
O IBAD tentou anular as demandas populista e socialista e propôs uma modernização 
agrária orientada por padrões de eficiência capitalista, onde a indústria e a agroindústria 
seriam integradas. Em 1961, organizou o Simpósio sobre as Reformas Agrárias, que deu 
origem ao livro Recomendações sobre a reforma agrária.227 Desse simpósio saiu o programa 
sobre a Reforma Agrária do IPES, que foi disseminado na mídia. 
Para o governo Goulart, o Brasil necessitava de uma reforma agrária. Mirava o 
chamado “latifúndio improdutivo”, pois este representava um obstáculo ao desenvolvimento 
econômico do país, por isto esteve na pauta das Reformas de Base. Para o IPES, o raciocínio 
do governo representava um problema sério, já que muitos ipesianos eram grandes 
proprietários de terras e não estavam dispostos a perder suas riquezas e poder.225 O grupo misto de empresários e técnicos que estudaram essa matéria foi o seguinte: empresários: Milciades 
Sá Freire, Harold Cecil Poland, Cândido G. Paula Machado, Antônio C. do Amaral Osório, Fernando Mibielli de 
Carvalho e Edgard Teixeira Leite; técnicos: José Arthur Rios, Denio Nogueira, Luiz Carlos Mancini, Julian 
Chacel, Wanderbilt Duarte de Barros, Paulo Assis Ribeiro e José Irineu Cabral. O projeto foi financiado pelo 
Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e elaborado por José Arthur Rios e Edgard Teixeira Leite. O 
IBAD está representado no grupo pelo seu diretor, Ivan Hasslocher, por Rios e pelo economista Denio Nogueira. 
O plano de trabalho era o de produzir não só o melhor projeto possível, mas também um documento paralelo, 
contendo princípios e normas que servissem para definir a posição do IPES em relação a esse assunto e para 
"vender" as ideias nele contidas junto à opinião pública. Este segundo documento seria entregue para aquele fim 
ao Setor de Opinião Pública. Carta de Garrido Torres para o comitê diretor de 29.05.62. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
226 CAMPOS, Roberto. A lanterna na popa. Memórias. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994. 
A ata do IPES CE de 19.07.62 mostra impasse entre IPES Rio e SP. O Rio teve que mandar uma parte do projeto 
para ser avaliado por SP. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. Para saber 
mais sobre a questão agrária no governo Goulart e os interesses de classe e as disputas em torno da reforma 
agrária, ver NATIVIDADE, Melissa de Miranda. A questão agrária no Brasil (1961-1964): uma arena de lutas 
de classe e intraclasse. Dissertação (Mestrado em História). Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2013. 
227 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Op. cit. p. 258. 
65 
 
Visto que era uma questão importante para o IPES, o seu Grupo de Estudos preparou 
um trabalho contendo princípios e normas que serviriam para definir a posição do instituto em 
relação à reforma agrária. Segundo Julian Chacel, um dos membros do grupo, as ideias 
centrais do estudo seriam a de que os beneficiários do acesso à propriedade rural deveriam ser 
indivíduos dotados de capacidade empresarial e que deveria haver uma interdependência entre 
os setores rurais e o setor industrial, que passariam a investir e operar no campo.228 
Diante das referidas divergências, da existência de diversos grupos civis e militares 
conspirando e o receio de alguns empresários de não participarem e não se envolverem, “por 
ignorância ou má- fé se furtava em participar da vida política da nação”229, para criar um 
bloco unificado burguês, o IPES trabalhou para homogeneizar o grupo, para atrair novos 
associados, por meio da conscientização e promoção de “educação dos empresários”, uma 
“educativa-doutrinária”. Para conduzi-los à ação, os ipesianos argumentavam que os mesmos 
“têm uma missão política a cumprir” e da “necessidade da empresa representar uma força em 
prol da sociedade”230. Disseminando o medo, Glycon de Paiva advertiu os empresários: “Se 
você não abandonar hoje seus negócios, por uma hora, amanhã não terá negócios para 
dirigir”231. 
Para as ações de atrair novos associados e obter o seu compromisso ideológico, 
vinculado a uma promessa de apoio financeiro, os ipesianos organizaram almoços, jantares, 
reuniões privadas nas residências dos próprios associados e no escritório do IPES. Para os 
encontros cada associado se comprometia a levar um empresário de sua rede de contato, 
quando era explicado o que era o IPES, suas atividades e sua função na vida nacional. 
Segundo Paulo Ayres Filho, os resultados alcançados pelo IPES no início não foram 
espetaculares. Mas, gradualmente, acrescenta o empresário, graças às colaborações dadas por 
suas subsidiárias e outras organizações existentes, o instituto obteve êxito infundindo nos 
diversos segmentos da sociedade brasileira, inicialmente, a defensiva e, posteriormente, a 
urgência quanto à derrubada do governo.232 
 
228 Idem, p. 260. 
229 Relatório elaborado pelo Coronel Jorge Santos ao General Moacyr Gaya, p. 3 – Acervo Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV 
230 Ata do IPES da Reunião Plenária do Comitê Executivo de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
231 Ata do IPES do Comitê Executivo de 08.06.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
232Documento: 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, p. 383 – Acervo Paulo Ayres – 
CPDOC/FGV. Entrevista concedida por Paulo Ayres Filho, realizada em 16 de outubro de 2001, ao Projeto de 
História Oral do Exército. AYRES FILHO, Paulo. The brazilian revolution. In: PRAEGER, Frederick A. Latin 
America politics, economics and hemispherie security. Norman A. Bailey, 1966. 
66 
 
Com a finalidade de acompanhar as políticas governamentais, de mobilizar os 
políticos e criar alianças, o IPES organizou um departamento específico em Brasília, 
“escritório de Brasília”, onde determinava a dinâmica da ação do IPES, fazia pressão e lobby 
no Congresso. A sala do escritório foi alugada pelo Centro de Seguros, um “local discreto 
para suas operações”, e contava com a agência de publicidade Nova Press, que cuidava de 
distribuir material relevante para os jornais, todas às vezes que saísse uma emenda. Para 
iniciar os trabalhos do escritório, Mello Flores exigiu uma soma de três milhões de cruzeiros, 
que segundo Glycon de Paiva “não seriam problema”, mais uma quantia mensal para salário 
da equipe, equipar a sala e para pagar transporte.233 
Segundo ata, o IPES, por princípio, não deveria agir como partido político e tampouco 
interferir na política partidária, mas fazer sua própria política234. Para isto, era fundamental 
buscar parlamentares para dar suporte na ação e que “trabalham na base da demagogia para 
atuar sobre eles”235. 
Gramsci já apontara que os grandes industriais se servem, alternadamente, de todos os 
partidos existentes, com exceção do partido antagonista, mas não têm um partido próprio, o 
que não quer dizer que são agnósticos ou apolíticos: “seu interesse é um equilíbrio 
determinado, que obtêm exatamente reforçando com seus meios, alternadamente, este ou 
aquele partido do tabuleiro político”.236 
O chefe do GAP, Jorge Oscar de Mello Flores, auxiliado pelo IBAD, foi o responsável 
para fazer uma “assessoria forte e eficiente em Brasília” e acompanhar as atividades 
legislativas. Segundo Glycon de Paiva Teixeira, o IPES “subvencionará e Flores agirá”.237 
Flores atuou no Senado e na Câmara para buscar apoio dos parlamentares, de diferentes 
partidos políticos, para os seus projetos e para “obter informes autênticos” para melhor pré-
julgar os rumos da política governamental238. 239 
Com os políticos da ADP com os quais estabeleceu parcerias, Flores conseguiu 
documentos no Congresso, os quais chegavam ao IPES pela mala da Confederação Nacional 
 
233 Ata do IPES-Rio CE de 15.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
234 Ata do IPES de 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
235 Ata do IPES Reunião de 05.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
236 GRAMSCI, Antonio, op. cit., v.3, p. 323. 
237 Ata do IPES CE Rio/SP de 22.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
238 Ata do IPES CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
239 Segundo relatório do Ministério da Aeronáutica, III COMAR, Mello Flores é referenciado como “elemento 
danoso a indústria de seguros no Brasil” e apontado como fantoche de Antonio Sanches Larragoiti Júnior, vice-
presidente da Sul-América Seguros. Os dois, ainda conforme o relatório, foram idealizadoresda “caixinha da 
corrupção – Centro de Estudo de Seguros e Capitalização”, com a finalidade exclusiva de corromper deputados e 
senadores. A caixinha foi extinta em fins de 1965. Ministério da Aeronáutica, III COMAR, 08.11.79. BR-NA-
BSB-VAZ-122-0130 – Arquivo Nacional de Brasília 
67 
 
das Indústrias (CNI)240. Eram encaminhados ao GE para elaboração de projetos e anteprojetos 
de reformas de base, conforme analisado no subitem que discute os anteprojetos. 
Nas eleições de 1962, como já mencionado, IPES e IBAD articularam uma ação de 
lobbies que resultou em um escândalo eleitoral, que derramou milhões de dólares em 
candidaturas a governador, senador, deputados estaduais e federais. Jorge Oscar de Mello 
Flores previu despesa de 300 milhões de cruzeiros para apoio à eleição ou reeleição de 15 
deputados democratas241. 
Nessas articulações estava a presença dos Estados Unidos. Documento secreto, datado 
de 1962, estabelece “recomendações para políticos e operações” do governo norte-americano 
frente às eleições parlamentares brasileira de 1962. Entre as recomendações, consta a de 
apoiar “elementos que estão trabalhando para modificar ou derrotar a lei que limita a remessa 
de lucros”.242 Conforme Fares, eram políticos com tendências favoráveis à tese pró-americana 
e anticomunista, quer seja em atividades eleitorais diretamente, com o intuito de eleger o 
maior número possível de parlamentares para a bancada pró-Estados Unidos. Desempenharam 
papel na preparação, coordenação e implementação das diferentes atividades ideológicas e 
políticas dos americanista/anticomunistas.243 
Os critérios para a seleção dos aspirantes aos cargos eletivos não levavam em conta as 
afiliações partidárias, mas a “orientação ideológica”, mas que fossem anticomunistas e 
democratas e defendessem o capital estrangeiro. Mesmo os candidatos que fossem 
anticomunistas e democratas passavam por um rigoroso critério. Adauto Lucio Cardoso 
(UDN), apesar de considerado democrata e anticomunista, por exemplo, foi rejeitado para 
participar do colegiado nacional da ADP por ter apoiado a posse de Goulart após a renúncia 
de Jânio Quadros.244 Conforme Maurício Abdalla, os donos do capital, por regra, não apoiam 
partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convêm e desertar quem lhes 
estorvam. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do 
mercado e do lucro.245 
 
240 Ata do IPES CE de 19.06.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
241 Ata do IPES CE de 15.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
242Documentos revelados. Disponível em <https://www.documentosrevelados.com.br/geral/em-1962-governo-
dos-eua-recomendou-que-embaixada-apoiasse-movimentos-e-politicos-que-se-manifestassem-contra-a-lei-de-
remessa-de-lucros/>. Acessado em: 12.11.2016. 
243 FARES, Seme Taleb. op. cit. 
244 DUTRA, Eloy. op. cit. 
245 ABDALA, Maurício. 13 pontos para embasar qualquer análise de conjuntura. Le Monde Diplomatique Brasil, 
maio 24, 2017. Disponível em <http://diplomatique.org.br/13-pontos-para-embasar-qualquer-analise-de-
conjuntura/>. Acessado em: 01.12.17. 
https://www.documentosrevelados.com.br/geral/em-1962-governo-dos-eua-recomendou-que-embaixada-apoiasse-movimentos-e-politicos-que-se-manifestassem-contra-a-lei-de-remessa-de-lucros/
https://www.documentosrevelados.com.br/geral/em-1962-governo-dos-eua-recomendou-que-embaixada-apoiasse-movimentos-e-politicos-que-se-manifestassem-contra-a-lei-de-remessa-de-lucros/
https://www.documentosrevelados.com.br/geral/em-1962-governo-dos-eua-recomendou-que-embaixada-apoiasse-movimentos-e-politicos-que-se-manifestassem-contra-a-lei-de-remessa-de-lucros/
http://diplomatique.org.br/13-pontos-para-embasar-qualquer-analise-de-conjuntura/
http://diplomatique.org.br/13-pontos-para-embasar-qualquer-analise-de-conjuntura/
68 
 
Uma vez aprovado, o candidato assinava um documento chamado “compromisso 
ideológico”, e recebia um auxílio que se enquadrava nas Tabelas 1 e 2. A primeira consistia 
em centenas de cartazes e faixas, um milhão de cédulas, veículo e dinheiro (Cr$ 1 milhão e 
600 mil para candidatos a deputado federal e Cr$ 800 mil para deputado estadual). A Tabela 2 
fornecia apenas dinheiro em quantia estipulada por Ivan Hasslocher, líder do IBAD.246 
Mas o financiamento não alcançou o resultado esperado. As ações do IPES e do IBAD 
conseguiram eleger alguns candidatos, mas teve derrota na Guanabara, onde Leonel Brizola 
se elegeu deputado federal, e em Pernambuco, reduto de Miguel Arraes, que ganhou para 
governador. A vitória dos dois candidatos incomodou muito os ipesianos, já que eram os seus 
principais rivais políticos. Além da derrota nas eleições, o governo Goulart tomou atitudes no 
sentido de uma reforma radical no país que mudou a atitude do IPES. 
Segundo o empresário Paulo Ayres Filho, “a ideia era toda de resistir, não de atacar. 
Todos queriam que Jango terminasse seu mandato. Sabíamos que toda a gente em outras 
partes do mundo estaria contra nós, se o depuséssemos” 247. Porém, com os acontecimentos 
acima citados, o IPES tornou-se mais agressivo, virulento, se pôs acima de qualquer 
legalidade e determinado em depor Goulart, visto que a “resistência intelectual não operou e 
não operaria com tanta rapidez”248. Integrantes do instituto começaram a procurar maneiras 
mais diretas de manifestar sua oposição. As organizações anticomunistas, aliadas do IPES, 
envolvidas em pancadaria “pularam na cena brasileira”. Umas faziam comícios, outras 
pinchavam paredes, diversas compravam políticos e algumas cometiam atentados. 
O IPES organizou, também, células de vigilantes para enfrentar os esquerdistas nos 
comícios anticomunistas, com “métodos intelectuais como uma patada na cabeça”.249 
Posteriormente, os vigilantes armaram-se com armas leves, fundaram uma fábrica clandestina 
de granadas de mão e mapearam lugares para efetuar as operações de guerrilha. 
Conforme Siekman, o movimento contra Goulart começou com três ipesianos 
paulistas: Flávio Galvão (redator do O Estado de São Paulo), Luiz Werneck e João Adelino 
Prado Neto. Posteriormente, outros profissionais liberais e homens de negócios de São Paulo, 
pertencentes ou não ao IPES, aderiram ao movimento, como Júlio de Mesquita Filho e 
Adhemar de Barros.250 
 
246 DUTRA, Eloy. op. cit. 
247 SIEKMAN, Philip. Quando homens de empresa viraram revolucionários. Revista Fortune, set. 64. Na época 
da publicação da matéria, os ipesianos a apontaram como uma “série de invencionices” e “inverídica e 
prejudicial ao IPES e a alguns dos seus membros” Ata do IPES CD de 21.09.64. 
248 Idem. 
249 Idem. 
250 Idem. 
69 
 
Conforme Rojas, o IPES organizou “milícias brancas”, armadas de pistolas, 
metralhadoras, revólveres e garrote. Com a proteção da polícia de São Paulo, as milícias 
instalaram uma fábrica de granadas e adereços para enfrentarem as “guerrilhas 
anticomunistas”.251 Os grupos eram dirigidos pelo proprietário do jornal O Estado de S. 
Paulo, que convenceu o governador do Estado, Adhemar de Barros, de aderir para a 
derrubada de Goulart. Barros convocou 35 mil homens com treinamento militar e munidos 
com armas modernas, como também sugeriu classe média paulista para se armar para uma 
eventual luta civil. A família Mesquita gastou sozinha cerca de US$ 10.000 em armas.252 
Barros tinha trânsito livre pela American Chamber of Commerce for Brazil de São 
Paulo, uma posição a favor dos Estados Unidos e das empresas privadas americanas em São 
Paulo. O seu primeiro ato depois que se tornou governador, em 1963, foi uma visita à Câmara 
com a presença de Lincoln Gordon, quando afirmou 
 
pode confiar em São Paulo e no meu governo. Este é o momento de unir nossos 
esforços americanos e brasileiros em grande escala, já que a democraciabeneficiará 
nosso entrelaçamento, cada vez maior e mais sincero e profundo, e os nossos povos 
apreciarão as bênçãos abundantes, abundância e conforto.253 
 
Sobre a Aliança Brasileira para o Progresso, que ele havia criado para auxílio 
econômico aos Estados do Norte e Nordeste e para fazer contraponto com o programa de 
ajuda à América Latina anunciado por John Kennedy, ele disse, 
 
É econômico, não político. Baseia-se principalmente em iniciativa privada, não em 
iniciativa pública. Não está destinado a ajudar políticos de nenhum partido, mas a 
fornecer os meios de desenvolvimento. Não é contrário à Aliança para o Progresso, 
mas é um gesto brasileiro de convite para que ele atinja seu objetivo elevado.254 
 
O IPES e a polícia política de São Paulo, segundo Rojas (1964), transformaram as 
mansões dos bairros residenciais em batalhões com armas “made in USA”, abastecidas de 
alimentos e munições para uns 50 dias. No dia seguinte do comício de Goulart, em 13 de 
março de 1964255, o IPES enviou um emissário a Lincoln Gordon o questionando quando os 
Estado Unidos ajudaria os conspiradores. A resposta chegou uma semana depois: 
 
251 ROJAS, Robinson. Estados Unidos en Brasil. Prensa Latinoamericana S.A., 1965 
252 BLACK, Jan Knippers. op. cit. p. 85. 
253 Telegrama nº A-253 de 22.03.62 do Consulado Americano Geral de São Paulo para o Departamento de 
Estado norte-americano. Disponível em <https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:353937/>. 
Acessado em: 12.11.2016. 
254 Telegrama nº A-253 de 22.03.62 do Consulado Americano Geral de São Paulo para o Departamento de 
Estado norte-americano, op. cit.. 
255 Concentração realizada no Rio de Janeiro em frente à estação ferroviária Central do Brasil, o Comício das 
Reformas, também conhecido por Comício da Central, reuniu cerca de 150 mil pessoas, incluindo membros de 
entidades sindicais e outras organizações de trabalhadores, servidores públicos civis e militares, estudantes etc. 
https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:353937/
70 
 
O presidente Johnson se compromete a reconhecer qualquer governo com sede em 
São Paulo, como o governo legal do Brasil, e enviará ajuda militar de imediato, se 
esse governo se comprometa a combater o comunista e derrubar Goulart. Esta ajuda 
militar será rápida porque consiste em um regimento de pára-quedista norte-
americano localizados no Panamá, sob o comando do general Andrew O’Meara. 
Este general já recebeu as instruções. Basta que o governo de São Paulo se mantenha 
48 horas no poder para que Lyndon Johnson o reconheça de imediato e se inicie “as 
operações militares combinadas.256 
 
Segundo Bandeira, os agentes da CIA, que doara verbas para o IPES, estabeleceram 
no Brasil extensa rede, com o apoio de latifundiários, comerciantes e industriais, para atos de 
terror e sabotagem, lutas de guerrilha e antiguerrilha, funcionando como forças policiais 
paralelas, uma espécie de milícias fascistas.257 
Muitas das ações foram preparadas por organizações paramilitares como o Movimento 
Anticomunista (MAC), o Grupo de Ação Patriótica (GAP), a Frente Anticomunista Cristã 
(FAC), Patrulha da Democracia, e o Centro de Comando Anticomunista (CCC). Suas ações 
incluíam bombas, pichações, ameaças, intimidações, destruição, seqüestro e morte. Atacavam 
os movimentos estudantis e sindicais, jornais de oposição, comícios, etc. Todas as 
organizações tinham ligações com o IPES, e com membros com parentesco com ipesianos, 
embora tentasse se desvincular. Segundo Glycon de Paiva, era uma “equação letal: 
IPES=MAC”, e Gallotti instruiu que se algum membro do IPES fosse acusado, por exemplo, 
de pertencer ao MAC, deveria defender-se “mas na defesa, nem positiva e nem 
negativamente, deve fazer a menor referência ao IPES”258. 
O GAP, composto por jovens estudantes entre 17 a 26 anos de idade, e, em sua 
maioria, das classes alta e média alta, atuava no Rio de Janeiro, Minas Gerais e em São Paulo. 
Tinha como objetivos combater as reformas propostas por Goulart, a legalização do Partido 
Comunista, encampação de refinarias, os dirigentes sindicais e doutrinar estudantes não 
comprometidos com a UNE. Participou de atentados, principalmente contra grupos que 
 
Tinha por meta demonstrar a decisão do governo federal de implementar as chamadas reformas de base, 
bloqueadas pelo Congresso, e defender as liberdades democráticas e sindicais. As repercussões do comício 
foram imediatas e sentidas em todo o país. Manifestações antigovernamentais ocorreram em São Paulo e Belo 
Horizonte, enquanto a União Democrática Nacional (UDN) e parte do Partido Social Democrático (PSD) e 
outros partidos reclamavam o impedimento de Goulart. Carlos Lacerda, governador da Guanabara, considerou o 
comício "um ataque à Constituição e à honra do povo" e o discurso do presidente "subversivo e provocativo". 
Entidades financiadas pelo empresariado articulavam a realização das chamadas Marchas da Família, com Deus, 
pela Liberdade, a fim de levantar as classes médias contra o perigo comunista. (Informações disponíveis em 
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/Comicio_das_reformas>. 
Acessado em: 17.02.18). 
256 ROJAS, Robinson. op. cit. p. 72. 
257 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil, op. cit. 
258 Ata de reunião do IPES de 05.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. Para saber mais sobre as atuações destas instituições ver BRASIL, Clarissa. O brado de alerta para o 
despertar das consciências: uma análise sobre o comando de caça aos comunistas, Brasil, 1968-1981. 
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. 
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/Comicio_das_reformas
71 
 
defendiam reformas estruturais e a ampliação da participação política. Atuou ao lado de 
organizações congêneres, como a Ação dos Vigilantes do Brasil (AVB) e a Mobilização 
Democrática Mineira (MDM), todas intimamente ligadas ao grupo liderado pelo almirante 
Sílvio Heck, que conspirava para derrubar o governo de Goulart. Seu presidente, Aristóteles 
Drummond, participou, em várias ocasiões, dos “comícios pela democracia” organizados pelo 
deputado Fidélis Amaral Neto, contando sempre com o apoio dos órgãos dos Diários 
Associados e do jornal O Globo. Para suas ações, Drummond e companheiros transportavam 
armas de São Paulo para o Rio de Janeiro.259 
A AVB foi uma organização paramilitar, treinada para atos terroristas planejados, 
poderosamente armada com recursos fornecidos pelos fazendeiros, sobretudo de Itapecerica 
(RJ), alarmados com o perigo comunista. Possuía ramificações na cidade da Guanabara (RJ), 
e nos Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, e o sítio “Alegria”, no bairro de 
Jacarepaguá (GB) para aulas de práticas de guerrilha. Era formada pelos “soldados da AVB”, 
recrutados nos mais diferentes estados, sob a alegação de que iriam combater o comunismo 
para salvar o Brasil. No campo os “soldados” se vestiam militarmente com macacões de cor 
azul, coturnos, boinas ou capuz preto.260 
A AVB era liderada por Paulo Sales Galvão. Em 1963, foram encontrados, no seu 
apartamento, no bairro da zona sul, Ipanema, na Guanabara, um laboratório de fabrico de 
bombas, do tipo caseiro, e farto armamento pesado. Em uma sala comercial na Rua 1º de 
Março, no centro da cidade, sede da AVB, foram apreendidas quatro mil balas calibre 22 das 
44 carabinas “Urko” semiautomáticas. Nas bagagens de Noir Gonçalves da Silveira 
(motorista de Galvão), de Luis Gomes de Lima e de Manoel Lopes do Nascimento, que 
desembarcaram na Rodoviária Mariano Procópio (RJ) vindos de São Paulo, foram 
encontradas 44 carabinas semiautomáticas.No sítio também foram encontradas armas.261 
Nas diligências da polícia surgiu o nome do ex-ministro da Marinha Silvio Heck, 
quando foi apreendido grande quantidade de cartazes e faixas em poder dos integrantes com a 
frase “Heck quer liberdade; comunismo, não”262. Encontraram ainda uma lista de contato 
onde constavam os nomes dos generais Pery Constant Bevilacqua e Jair Dantas Ribeiro. 
Galvão, que passou por médico, dentista, hipnotizador, químico industrial e proprietário de 
“inferninhos” na zona sul carioca, ficou foragido por um tempo, mas foi preso, em São Paulo, 
 
259 SILVA, Hélio. 1964: golpe ou contragolpe? Porto Alegre (RS): L&PM, 1978. 
260 Correio da Manhã de 21.09.63, capa. 
261 Correio da Manhã de 21.09.63, capa. 
262 Correio da Manhã de 22.09.63, 1º Caderno, p. 2. 
72 
 
em 1963, quando negou todo o envolvimento com a AVB e pediu asilo na Embaixada do 
Uruguai, que acabou lhe concedendo. 
Foram atribuídas à AVB as explosões ocorridas no Departamento de Abastecimento 
da COFAP (Noir trabalhava no local desde 1957); na torre de energia elétrica da Guanabara; 
no morro de São Mateus; em cinco barracas na feira de livros montada na Cinelândia, no 
centro da cidade; e na exposição soviética no Campo de São Cristovão.263 
As ações de Paulo Sales Galvão eram bem conhecidas. Fora citado no plano de 
articulação do general Olympio Mourão Filho para depor João Goulart. Sua função consistia, 
justamente, em pôr em atividade as guerrilhas.264 
 A Mobilização Democrática Mineira (MDM) foi uma organização paramilitar de 
extrema direita criada, em Belo Horizonte, durante o governo de João Goulart. No ano de 
1963, impediu a realização do I Congresso de Unidade de Trabalhadores da América Latina. 
A organização promoveu um distúrbio na Secretaria de Saúde em Belo Horizonte, que contou 
com vários estimuladores contra a concentração da Frente de Mobilização Popular, que 
defendia as Reformas de Base, tais como Silvio Heck, José Lopes Bragança, Abel Rafael 
Pinto (PSD), José Maria Alkmin, Oscar Dias (UDN), etc.265 
Todos os lugares da secretaria foram ocupados horas antes do início do evento por 
mulheres que gritavam slogans, além de proprietários de terras fortemente armados que 
permaneceram dentro e fora da instituição. Essa ação resultou em um tumulto que contou com 
ação policial que implicou no impedimento do comício, levando os membros do FMP a se 
retirarem, às 23 horas, sem que Leonel Brizola conseguisse sequer entrar no prédio.266 
Em 1963, o português Alberto Pereira da Silva e o policial Charles Borer, irmão do 
delegado de política Cecil Borer267, foram acusados de armazenarem dez metralhadoras, 
 
263 Correio da Manhã de 24.09.63 capa 
264 SILVA, Hélio. op. cit. p. 229; MOURÃO FILHO, Olympio. Memórias: a verdade de um revolucionário. 
Porto Alegre (RS): L&PM, 1978, p. 200. 
265 Correio da Manhã de 27.02.64, capa. Para sabre mais sobre as organizações mineiras ver STARLING, 
Heloisa Maria Murgel. Os senhores das gerais. op. cit. 
266 A participação das mulheres na ditadura. Disponível em <http://mulheres_ditadura.blogspot.com.br/>. 
Acessado em: 16.09.2017. 
267 Cecil Borer foi acusado de aplicar torturas contra prisioneiros políticos nas prisões do Rio de Janeiro. Foi 
chefe da Organização Metropolitana de Investigações Ltda (OMIL), polícia particular de Carlos Lacerda, 
encarregada de zelar pela segurança da embaixada norte-americana, e pioneiro do Esquadrão da Morte. 
Disponível em <https://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/03/13/ex-diretor-do-dops-contou-
que-espias-iam-para-a-cama-em-busca-de-segredos/>. Acessado em: 08.04.17. Esquadrão da Morte surgiu no 
Rio de Janeiro, entre o final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Tratava-se de grupos de policiais envolvidos 
com a criminalidade que agiam em prol de diversos interesses, com ligações diretas com as economias criminais, 
como, por exemplo, o jogo do bicho, a prostituição e também o tráfico de entorpecentes, além de torturas e 
assassinatos. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, Tomo I, Parte I. (Disponível em 
<http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/downloads/I_Tomo_Parte_1_Repressao-politica-
origens-e-consequencias-do-Esquadrao-da-Morte.pdf>. Acessado em: 11.08.17). Charles Borer também foi 
http://mulheres_ditadura.blogspot.com.br/
https://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/03/13/ex-diretor-do-dops-contou-que-espias-iam-para-a-cama-em-busca-de-segredos/
https://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/03/13/ex-diretor-do-dops-contou-que-espias-iam-para-a-cama-em-busca-de-segredos/
http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/downloads/I_Tomo_Parte_1_Repressao-politica-origens-e-consequencias-do-Esquadrao-da-Morte.pdf
http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/downloads/I_Tomo_Parte_1_Repressao-politica-origens-e-consequencias-do-Esquadrao-da-Morte.pdf
73 
 
balas, cinquenta granadas, além de outros materiais de guerra no sítio de Alberto, que se 
localizava próximo ao Sítio Capim Melado, em Jacarepaguá (GB), onde Goulart se hospedava 
quando estava no Rio de Janeiro. O Serviço Secreto do Exército localizou também, na Rua do 
México, centro da cidade, um escritório particular de Cecil Borer, onde foi articulada a ação 
para assassinar o presidente. Entre os suspeitos de participarem da ação estava o delegado 
Denizar Correia Pinheiro, braço direito de Cecil no DOPS. Na ocasião, o russo Wsewolod 
Speranski, que lutou ao lado dos alemães na invasão da União Soviética na última Grande 
Guerra, identificou diversos udenistas como frequentadores assíduos do sítio do português 
Alberto, entre eles o governador Carlos Lacerda, os deputados Raul Brunini e Edson 
Guimarães e os irmãos Cecil e Charles Borer. Speranski, gerente da pedreira do português, 
confirmou que Alberto era criador de pássaros raros e tinha presenteado Carlos Lacerda com 
três "mainás" e diversos faisões.268 
Raul Brunini269 (UDN/GB) era da Rádio Mundial, no Rio de Janeiro, onde o IPES 
estabeleceu relações para divulgar suas propagandas. Fez parte da ADEP, cujos políticos eram 
financiados pelo instituto. Alberto Pereira da Silva, proprietário de uma pedreira, recebeu 120 
milhões de financiamento do Banco do Estado da Guanabara (BEG), a qual já havia sido 
embargada pelas autoridades. 
No segmento militar, o IPES buscou apoio por meio de empresários e dos oficiais da 
ESG associados do instituto, e desenvolveu ações que fortificaram o grupo IPES/ESG. O 
objetivo fundamental, conforme Dreifuss, era o de fazer das “Forças Armadas um instrumento 
e liderar um movimento civil-militar que finalmente causou a destituição do presidente João 
Goulart” 270. 
 
presidente do clube Botafogo em dois mandatos entre 1976-1981. Na sua gestão vendeu a sede General 
Severiano à empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce. (Veja, 5 de setembro de 2001, Ano 34, nº 35, Edição 
n° 1716, p. 110). Fundador do Grupo Empresarial Charles Borer, que é formado pelas empresas SBIL Segurança 
Bancária, Prestservice Consultoria e Recursos Humanos e Sistema Eletrônico de Segurança, hoje administrado 
por Ricardo Rindeika Borer. (Site oficial <http://www.grupoborer.com.br/index.html>. Acessado em: 17.02.18). 
268 Última Hora, 18.10.63, p. 3 
269 Além de locutor da Rádio Mundial, trabalhou nas rádios Tupi do RJ, Clube de Marília, Globo do RJ. Graças 
ao rádio aproximou-se do cenário político. Elegeu-se deputado à Assembléia Constituinte no novo Estado, da 
qual foi secretário-geral em 1960 e onde se destacou como autor do capítulo da Constituição dedicado à saúde e 
à assistência social. Em outubro de 1962, elegeu-se mais uma vez deputado à Assembléia Legislativa da 
Guanabara e no ano seguinte ocupoua presidência dessa casa. Foi, ainda, presidente do Congresso das 
Assembléias Legislativas realizado em 1963 na Guanabara e participou da comissão especial que estudou a 
divisão municipal do Estado, para a qual redigiu o capítulo denominado “Condições econômicas”. Foi nomeado 
secretário de Estado sem pasta pelo governador Carlos Lacerda. Permaneceu no cargo até 1965, quando retornou 
à Assembléia Legislativa para ali assumir a liderança da bancada governista. Em 16 de janeiro de 1969, teve seu 
mandato de deputado federal cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos com base no Ato 
Institucional nº 5 (ABREU, Alzira. op. cit.). 
270 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 389. 
http://www.grupoborer.com.br/index.html
74 
 
O general Golbery do Couto e Silva, que dirigia um serviço de informações para o 
IPES, teve o papel de coordenador, intermediário e assessor para todos os assuntos 
militares.271 Responsável por estabelecer contatos mais estreitos entre o IPES e a ESG, e 
diminuir o apoio de militares a Goulart, e levá-los para o instituto. 
Segundo Paulo Ayres Filho, os militares, que estavam desesperados e com medo de o 
país cair num fosso, viajaram pelo Brasil, custeados pelo IPES, sondando e identificando os 
seus companheiros de ideias e, além disso, outros oficiais aposentados, de prestígios entre os 
militares e os oponentes ao governo Goulart, trabalharam permanentemente com os 
ipesianos272. Em princípio de 1964, o tenente- coronel Rubens Resstell era o contato entre o 
IPES e o Exército para a seção de São Paulo.273 Rubens Resstell havia sido contatado, em 
1963, por Luiz Werneck, Flávio Galvão, Júlio de Mesquita e outros para sondar outros 
militares pelo Brasil para agir contra o governo.274 O empresário Rui Gomes de Almeida foi 
um elemento-chave nos contatos com os militares, como com o general Osvino Ferreira 
Alves, para o qual declarou que “se eu tiver de escolher entre o comunismo e a ditadura, eu 
ficarei com a direita”.275 
Os deputados udenistas e aliados do IPES, Bilac Pinto e Aliomar Baleeiro, 
intercederam junto a Castello Branco para participar da conspiração, o qual, inicialmente, se 
mostrou resistente por ser chefe do Estado-Maior, mas em final de 1963 tornou-se líder do 
movimento nas Forças Armadas. Ele ficara ansioso pelo crescimento do que acreditava ser 
um movimento de subversão, e mais pronto para ouvir aqueles que já se preparavam para 
expulsar Goulart, grupo de velhos amigos e colegas, como o general Golbery, que estava 
atuando no IPES e tinha um dossiê de todos os grupos e pessoas públicas consideradas 
comunistas e subversivas.276 Mas fez várias palestras no IPES.277 
Dentro do movimento, Castello apelou para os congressistas, e se reuniu com chefes 
da imprensa no sentido de que alertassem a opinião pública contra Goulart e ajudassem a criar 
 
271 Ata do IPES CD de 20.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
272 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, p. 383 – Acervo Paulo Ayres – 
CPDOC/FGV. Entrevista dada por Paulo Ayres Filho ao Projeto de História Oral do Exército, em 16 de outubro 
de 2001. 
273 ROJAS, Robinson. op. cit. p. 72. 
274 SIEKMAN, Philip. op. cit. 
275 Atas do IPES-GB CD, de 22.05.62 e de 04.09.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
276 FLYNN, Peter. Brazil: a political analysis. London: Ernest Benn, 1978, p. 285. 
277 SILVA, Edmundo de Macedo Soares e. op. cit. 
75 
 
ambiente favorável a uma possível reação legalista dos militares, que só agiriam estimulados 
pela opinião pública.278 Ação que coube ao IPES, ou seja, doutrinar e inflar a opinião pública. 
Em fevereiro de 1964, foi organizado o Estado-Maior informal por sugestão de Castello para 
“coordenar o trabalho de prevenir um golpe ou qualquer ato subversivo da parte de Goulart”, 
embora o general tenha mantido sigilo da sua participação na conspiração. Era formado por 
Castello Branco, cérebro do planejamento e da conspiração, Ademar de Queiroz, Ernesto 
Geisel e Golbery do Couto e Silva, para a “defesa militar da legalidade” 279. Além desses, 
cooperavam também os generais Jurandir Mamede, Ulhoa Cintra, Heitor A. Herrera, líder do 
IPES-SP, Antonio Carlos Muricy e outros devotados coronéis. As reuniões eram realizadas à 
noite, duas ou três vezes por semana, na casa de Castello Branco e Ademar.280 
O Estado-Maior informal servia como um “corpo de coordenação capaz de assegurar 
rápida ação simultaneamente, se essa ação fosse necessária, evitando as ações e manifestações 
parciais e isoladas, as quais poderiam ser facilmente esmagadas e, assim, apenas ajudariam a 
implantação de uma ditadura”. O Estado-Maior informal herdou o plano militar de 
conspiração concebido por Ulhoa Cintra, que previa que as tropas anti-Goulart de São Paulo e 
Minas Gerais marchariam para o Rio de Janeiro, onde os principais comandantes eram leais 
ao então presidente da República. Em São Paulo, sob a coordenação do militante do IPES 
Herman de Moraes Barros, de Cid Osório e de Rubens Resstel, foi criado, após uma reunião 
na casa de Paulo Quartim Barbosa, um “comitê revolucionário”, um Estado-Maior Civil-
Militar, que cuidou da mobilização nas altas esferas militares e realizou intensa ofensiva no 
sentido de neutralizar a investida do governo Goulart, por meio de comícios e conferências.281 
O Estado-Maior militar tinha a seguinte estrutura: 
Cúpula: Júlio de Mesquita Filho, Otávio Marcondes Ferraz, Teodoro Quartim Barbosa 
e Antonio Carlos Pacheco e Silva. 
Logística: João Soares do Amaral Neto, Coronel Peçanha, Vitorino Ferraz, Paulo 
Egídio Martins, Roscio Castro Prado. Ações: general Ivanhoé Martins, general Souza 
Carvalho, Silvio de Toledo Piza. 
Promoção e Propaganda: André de Faria Pereira Filho, Flávio Galvão. 
Informações: general Agostinho Cortes. 
Executivo: Herman de Morais Barros, Daniel Machado de Campos, Gustavo 
Borghoff. 
 
278 DULLES, John W. F. Castello Branco. O caminho para a presidência. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. 
279 Idem, pp. 304-305 
280 Idem. 
281 SILVA, Hélio. op. cit. 
76 
 
Faziam parte do grupo de choque: Humberto Golfi, Silvio Luciano de Campos, Luis 
Carlos Prado, Arnaldo Vieira de Carvalho, Sérgio Brotero Junqueira, Vicente Mammana 
Neto, Luis Pinni Neto, Sérgio Barbosa Ferraz, Eduardo Levi Filho, José Eli Viana Coutinho e 
Rodolfo de Freitas Filho.282 
Nos segmentos mais hostis ao IPES, como o estudantil e o sindical, que tinham uma 
ideologia bem diferente da sua, os ipesianos, para tentar desmobilizá-los, criaram estratégias e 
contaram com a parceria de várias organizações, para desenvolver campanhas de 
alfabetização, treinar líderes e distribuir material de doutrinação ideológica. Pessoas 
infiltradas coletavam informações sobre seus anseios, necessidades e fragilidades, que eram a 
base de suas técnicas de doutrinação para modelar as suas consciências283, homogeneizá-los e 
colocá-los a serviço dos interesses burgueses. Nestes setores, o IPES aproveitou o intercâmbio 
com entidades congêneres, nacionais e internacionais, e por meio de suas pesquisas buscou 
“influir com habilidades no comportamento político-democrático nacional284. 
O movimento estudantil, muito militante e combativo, despertou muita atenção do 
IPES. No início da década de 60, o desejo de mudanças agitava o país, parte da sociedade 
brasileira estava engajada em uma mudança, no novo, e os estudantes tiveram uma grande 
participação nesse processo. Segundo Martins Filho, as “gerações estudantis”, agentes 
vinculados à classe média que participaram de movimentos no início dos anos 1960, têm 
raízes na década de 1950 com a abertura e o crescimento da universidade brasileira. Nos anos 
JK, conforme o autor, a União Nacional dos Estudantes (UNE) apareceráem campanhas 
importantes com nítido comprometimento popular, mas em meados dos anos 50, em um 
processo gradual, houve a politização do meio universitário. Entre 1961 e 1962, a entidade 
apoiou a posse de João Goulart, se comprometeu com a luta pela reforma universitária, apoiou 
as propostas das reformas de base junto com outras entidades e intelectuais, passando a ser 
uma das principais organizações na Frente de Mobilização Popular. O movimento estudantil, 
tomado por disposições ideológicas e políticas, participou, então, de todo o processo de 
radicalização das lutas populares, e se entregou “de corpo e alma ao processo da revolução 
brasileira e passa a ser uma das forças mais radicais da frente nacional e popular”.285 
 
282 Idem. 
283 Roteiro Básico para um programa de ação a longo prazo, de 06.06.63. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
284 Relatório elaborado pelo Coronel Jorge Santos ao General Moacyr Gaya, de 09.09.64, p. 2 – Acervo Paulo 
Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
285 MARTINS FILHO, João Roberto. O movimento estudantil na conjuntura do golpe. In: TOLEDO, Caio 
Navarro. 1964 Visões críticas do golpe. Democracia e reformas no populismo. Campinas (SP): Editora da 
Unicamp, 2001, pp.76-81. 
77 
 
Em função disso, as formas de ação com os estudantes sempre estiveram nas pautas de 
reuniões do IPES, que tinha como objetivo construir um imaginário de que a UNE reunia tudo 
o que havia de mais repulsivo para os “verdadeiros” estudantes. O ipesiano Cândido Guinle 
de Paula Machado, sabendo da importância desse setor na sociedade, afirmou que “a ação só 
será eficaz se partir dos estudantes”. Duvivier Goulart discordou e pontuou que a ação deveria 
ser feita por meio dos professores, “que são os elementos permanentes”. Mas o IPES agiu em 
todas as frentes para “futuras vitórias”286. 
As propostas do IPES eram desorganizar o movimento estudantil e investir na 
educação para instrumentalizar e politizar os estudantes dentro do seu projeto ideológico e 
obter, assim, aliados divulgadores dos seus objetivos. Para desorganizá-los, o IPES 
desenvolveu intensa campanha ideológica, estimulou e financiou a formação de líderes e de 
organizações estudantis de direita, infiltrou grupos de intimidação no movimento287, e criou 
uma rede de influência nos altos escalões acadêmicos e administrativos em diferentes 
universidades. 
A UNE288 foi uma grande preocupação do IPES, pois tinha consciência da sua força 
política e de seu apoio a Goulart. Além de fazer várias denúncias contra as forças 
conservadoras, incitar ações e denunciar grupos estrangeiros no golpe que estava em marcha, 
como as indústrias farmacêuticas, analisadas nos capítulos 3 e 4 da tese, conforme figura 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
286 Ata do IPES CD de 27.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
287 José Ely Coutinho (IPES/SP) discute a possibilidade de enviar um observador no congresso de professores na 
Universidade Mackenzie. Ata do IPES CD e CE de 19.03.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
288 Com golpe e a tomada do poder em 1964, primeira ação da ditadura empresarial-militar foi metralhar e 
incendiar a sede da UNE, na Praia do Flamengo, nº 132, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Ficava clara a 
dimensão do incômodo que os militares e conservadores sentiam em relação à entidade. A ditadura perseguiu, 
prendeu, torturou e executou centenas de estudantes. O regime retirou legalmente a representatividade da UNE 
por meio da Lei Suplicy de Lacerda e a entidade passou a atuar na ilegalidade. 
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=945&id=13492&option=com_content&view=article
78 
 
Figura 1 – Cartaz da UNE 
 
 Fonte: Memorial da Democracia.289 
 
O prof. Suplicy de Lacerda, da Universidade Federal do Paraná, a convite do IPES, 
deu entrevista no programa Peço a palavra, quando “denunciou o caráter comunista 
subversivo da agitação no meio universitário”, apontando a UNE como centro dessa agitação, 
inteiramente dominada pelos comunistas.290 Suplicy, conforme capítulo 2 desta tese, no 
governo Castello Branco tornou-se ministro da Educação. 
Para criar uma força contrária e combater a UNE, o IPES colaborou com o Centro 
Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO), da Faculdade de Direito da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ), por intermédio do líder estudantil Manoel da Rocha, e o Centro 
Acadêmico Machado, da Pontifícia Universidade Católica (PUC).291 
 
289 Disponível em <http://memorialdademocracia.com.br/card/golpe-militar-depoe-governo-constitucional>. 
Acessado em: 25.02.18. 
290 Noticiário, agosto 1962. Artigo: Agitação comunista no meio estudantil. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
291 Ata do IPES CD de 27.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
http://memorialdademocracia.com.br/card/golpe-militar-depoe-governo-constitucional
79 
 
Para operar ainda contra a UNE, o IPES contou com a participação de outras 
entidades, tais como o IBAD, a Frente da Juventude Democrática (FJD), o GAP e o MAC. No 
25º Congresso dos Estudantes, em 1962, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ), quando 
também seria eleito o novo presidente da UNE (Vinicius Caldeira Brant), o MAC e o FJD 
atacaram os congressistas com tiros e explosões de gás lacrimogêneo. Ficaram feridos dois 
estudantes à bala, Carlos de Araújo e Germano Tartz, e outros intoxicados pelo efeito das 
bombas de gás. O jornalista Antonio Faustino Porto Sobrinho, militante da FJD e do MAC, 
foi preso, e no hotel foram encontradas cópias da publicação “Manual dos Universitários”, o 
qual acusava os estudantes de comunistas e vendidos a Moscou292. 
A tática da infiltração de “elementos democráticos” no movimento estudantil foi muito 
recomendada e utilizada. O ipesiano Oscar de Oliveira, membro do Conselho Universitário da 
Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, aconselhou a 
infiltração no grupo de estudantes, que “estavam à procura de um líder”. 293 Na ocasião, o 
Conselho Universitário estava discutindo a Reforma Universitária, e o Conselho havia 
convidado Kafuri294, e seria, por isto, interessante, conforme Oscar, a criação de um escritório 
de planejamento que receberia dinheiro da indústria privada para a organização de um 
seminário com pessoas do IPES295 com a finalidade de desestabilizá-los. 
Para a segunda proposta, investir na educação, o IPES estabeleceu convênios com 
várias instituições de ensino para promoverem cursos e palestras, para “prover experiência 
política”296 e criou várias organizações. Com a Sociedade Campineira de Educação e 
Instrução, mantenedora da Universidade Católica de Campinas, o IPES subvencionou com 2 
milhões e 40 mil cruzeiros, em 1963, para o curso de Ciências Sociais e Política na Faculdade 
de Filosofia Católica.297 Com a PUC de São Paulo estabeleceu o Centro de Documentação e 
Pesquisa Política e Social.298 Em 1962, o IPES criou o Instituto Universitário do Livro (IUL) 
que, conforme já citado, tinha como finalidade a distribuição de livros políticos a preços 
 
292 Correio da Manhã, de 22.07.62, 1º Caderno. 
293 Ata do IPES CD 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
294 Na Universidade foi criado, em 1962, o Escritório de Planejamento de Reforma Universitária formado por 
docentes e alunos. O trabalho coordenado pelo professor Jorge Felipe Kafuri culminou na elaboração de um 
documento que definiu as “Diretrizes para a Reforma da Universidade do Brasil”. Essas Diretrizes, depois de 
discutidas com o Conselho Universitário e a Comissão, estavamsendo transformadas em projetos quando 
aconteceu o golpe militar de 1964 e, consequentemente, todas as atividades de reforma foram suspensas 
(COSTA, Amilton. A luta pela reforma universitária: Florestan Fernandes - 1964-1969. Dissertação (Mestrado 
em Fundamentos da Educação). Universidade Estadual de Maringá, 2005). 
295 Ata do IPES CD de 27.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
296 Ata do IPES CD 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
297 Boletim Informativo, nº 8, março de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
298 Ata do IPES-SP CE, de 11.12.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
80 
 
baixos, e promover palestras e cursos de doutrinação. Financiou a publicação do livro da 
estudante de filosofia, Sonia Seganfredo, UNE – Instrumento de Subversão. 
Em 1965, o IPES-RJ fundou o Centro de Bibliotecnia, inspirado e financiado pelo 
Franklin Book Programs Inc299. Segundo seu regulamento, tinha como objetivos promover e 
estimular a publicação e a difusão do livro como elemento primordial para o desenvolvimento 
educacional e cultural do país. Além de fazer parte da estrutura ideológica para influir direta 
ou indiretamente sobre a opinião pública e ampliar os ideais da classe protagonista às outras 
classes. Sua diretoria era formada por cinco membros: um do IPES, um representante da 
Franklin Book, um representante da indústria editorial do Rio de Janeiro, e dois elementos 
ligados ao comércio, a indústria e ao meio cultural. O Centro criou a Biblioteca Infantil de 
Campo Grande. 
Por iniciativa do IPES-GB, patrocínio PUC-GB e ajuda financeira de NCr$ 3.000,00 
do Jóquei Clube do Brasil, foi realizado, em 1968, na sede do IPES, o Fórum da Educação 
com objetivo de colher informações, que visava a redação de um documento sobre a 
Educação que nos convém.300 
 
299 Criado em 1952 motivada pela Guerra Fria e a fim de eliminar os efeitos da influência soviética, editores 
norte-americanos estabeleceram a organização sem fins lucrativos que forneceram profissionais treinados aos 
editores estrangeiros proporcionando uma “melhor compreensão dos Estados Unidos”. Tinha como objetivos 
apoiar a causa da educação, da alfabetização e da democracia, fornecendo livros norte-americanos para "os 
países subdesenvolvidos", como "uma força poderosa no combate à propagação da ideologia soviética". Os 
objetivos táticos foram três: 1. Ajudar a fortalecer o desenvolvimento econômico, social e a estrutura política dos 
países do Oriente Médio; 2. Fornecer informações e pontos de vista sobre a América, a democracia e a ideia de 
uma sociedade aberta; e 3. Prosseguir o intercâmbio cultural internacional. Publicou cerca de 3.000 títulos em 
línguas como árabe, urdu, bengali, indonésio e português, além de ter apoiado a criação de biblioteca em vários 
países. Encerrou suas atividades em 1978 (ROBBINS, Louise S. Publishing American Values. The Franklin 
Book Programs as Cold War Cultural Diplomacy. Library Trends, Vol. 55, No. 3, 2007 (“Libraries in Times of 
War, Revolution, and Social Change,” edited by W. Boyd Rayward and Christine Jenkins), pp. 638–650). Na 
inauguração do Centro de Bibliotecnia compareceu o vice-presidente para a América Latina da Franklin Book 
Program, Wilbur Kner, que declarou que a sua organização concederia auxílio ao Centro de Bibliotecnia do 
IPES, servindo de intermediária entre os editores norte-americanos e brasileiros (Jornal do Brasil, 31.03.65, 1º 
caderno, p. 11). Em 1965 a organização doou US$ 7.000,00 ao Centro de Bibliotecnia (Ata do IPES CE de 
14.9.65. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional). 
300 Conferências e participantes do Fórum: 1) Objetivos e métodos para a educação no Brasil – conferencista: Pe. 
Fernando Bastos D’Avila, debatedores: José Arthur Rios e Prudente de Morais Netto, 2) Estrutura da 
Universidade – conferencista: Suzana Gonçalves, debatedores: Pe. Leme Lopes e Paulo Novaes, 3) 
Financiamento do corpo discente – banco de educação – conferencista: Raymundo Padilha, debatedores: João 
Paulo de Almeida Magalhães e Paulo de Assis Ribeiro, 4)Adequação da universidade ao mercado de técnicos de 
nível superior – conferencista: Lucas Lopes, debatedores: Pery Porto e Sérgio Bernardes, 5) Educação e 
desenvolvimento econômico – conferencista Roberto de Oliveira Campos, debatedores: Mário Henrique 
Simonsen e Cândido Mendes de Almeida, 6) Vinculação universidade-empresa – conferencista: Teophilo de 
Azeredo Santos, debatedores: Oswaldo Tavares e João Bina Machado, 7) Estrutura do sistema educacional 
Brasileiro – conferencista: Paulo de Assis Ribeiro, debatedores: Oscar de Oliveira e Nair Fortes Abu Merhy, 8) 
A tríplice expansão: democrática, demográfica e tecnológica – conferencista: Candido Mendes de Almeida, 
debatedores: Maurício Joppert da Silva e Moacyr Padilha, 9) Financiamento das universidades – conferencista: 
Clemente Mariani, debatedores: Pe. Laércio Moura e José Luiz Moreira de Souza, 10) Fundamentos para uma 
política educacional brasileira – conferencista: Luiz Gonzaga do Nascimento Silva, debatedores: José Garrido 
81 
 
A concepção pedagógica articulada pelo IPES, que veio a ser incorporada nas 
reformas educacionais, materializada no documento A educação que nos convém, segundo 
Dermeval Saviani 
 
se traduz pela ênfase nos elementos dispostos pela “teoria do capital humano”; na 
educação como formação de recursos humanos para o desenvolvimento econômico 
dentro dos parâmetros da ordem capitalista; na função de sondagem de aptidões e 
iniciação para o trabalho atribuída ao primeiro grau de ensino; no papel do ensino 
médio de formar, mediante habilitações profissionais, a mão de obra técnica 
requerida pelo mercado de trabalho; na diversificação do ensino superior, 
introduzindo-se cursos de curta duração, voltados para o atendimento da demanda de 
profissionais qualificados; no destaque conferido à utilização dos meios de 
comunicação de massa e novas tecnologias como recursos pedagógicos; na 
valorização do planejamento como caminho para racionalização dos investimentos e 
aumento de sua produtividade; na proposta de criação de um amplo programa de 
alfabetização centrado nas ações das comunidades locais. 301 
 
O movimento sindical, como o estudantil, também era uma grande preocupação do 
IPES, visto que “são organismos capazes de impedir ou limitar as manipulações da opinião 
pública”. No início dos anos 1960, o interior do movimento sindical foi palco de diversos 
embates político-ideológicos, que lhe deu a capacidade de mobilização e combatividade, 
adquiridas com as greves para a reposição salarial, com a pressão para a posse de João 
Goulart, e, posteriormente, para o avanço das reformas de base. Fatos que o amadureceram 
politicamente como classe, e os líderes sindicais formaram o Comando Geral dos 
Trabalhadores (CGT)302, o Pacto da Unidade e Ação (PUA)303, a fim de coordenar e unificar 
o movimento, para defender reivindicações econômicas e influir nas decisões do poder 
 
Torres e Glycon de Paiva. (Documento do IPES: Síntese do Programa, s/d - Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional). 
301 SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do regime militar. Cad. Cedes, Campinas, vol. 28, n. 76, p. 291-
312, set./dez. 2008, p. 296. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n76/a02v2876.pdf>. Acessado 
em: 04.06.17. 
302 Organização intersindical de trabalhadores, de âmbito nacional, não reconhecida pelo Ministério do Trabalho, 
criada durante o IV Congresso Sindical Nacional dos Trabalhadores realizado em São Paulo em agosto de 1962, 
com o objetivo de orientar, coordenare dirigir o movimento sindical brasileiro. Desarticulou-se devido à 
repressão desencadeada pelo movimento político-militar de 31 de março de 1964, que ocasionou a prisão de seus 
líderes, a intervenção nos órgãos sindicais oficiais filiados e a extinção de todas as demais organizações 
intersindicais (KORNIS, Monica. Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). In: ABREU, Alzira Alves de et al 
(coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010) 
303 Organização intersindical de trabalhadores ferroviários, marítimos e portuários, não reconhecida pelo 
Ministério do Trabalho, constituída formalmente no Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara, em maio de 
1961. Juntamente com outras organizações de trabalhadores consideradas ilegais, foi extinta pelo movimento 
político-militar de 31 de março de 1964 (KORNIS, Monica. Pacto da Unidade e Ação (PUA). In: ABREU, 
Alzira Alves de et al (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 
2010). 
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n76/a02v2876.pdf
82 
 
público, em sua política e em sua composição.304 Com isto, as classes dominantes articularam 
novos mecanismos de ação ideológica para interferir no movimento. 
Os ipesianos desejavam “um sindicalismo livre, puro, autêntico e cristão, inspirado e 
definido, sobretudo, na doutrina social da Igreja”305. Portanto, apático e aliado que não 
perturbasse com reivindicações desinteressantes para os empresários. Desta forma, o IPES 
investiu em várias frentes com a finalidade de desorganizar, fragilizar e frear a classe 
trabalhadora organizada nos sindicatos, que tinham uma posição política à esquerda, e que 
apoiavam o governo, e, por outro lado, amparar os que tinham atitudes conservadoras. 
Para estas ações, o IPES contou com a parceria de várias organizações, através de 
apoios financeiros e técnicos, para desenvolver campanhas de alfabetização, doutrinar, treinar 
líderes sindicais, organizar seminários e palestras, e distribuir material de doutrinação, tais 
como o IBAD, o Instituto Cultural do Trabalho (ICT), o Movimento Democrático Brasileiro 
(MDB), outras nacionais e internacionais e movimentos orientados pelo clero. 
Para garantir sindicalistas atuando dentro da sua ideologia, o IPES investiu na 
formação de líderes sindicais, “preparados para opor-se e substituir extremistas na hora da 
ação”306, em parceria com entidades e padres, dentre algumas: a Confederação Nacional dos 
Círculos Operários Católicos, para a qual doou Cr$ 1.750.000,00307; subvencionou o Padre 
Carvalho com Cr$ 220.000,00 mensais para atender a formação de líderes em Campos (RJ) e 
em Petrópolis (RJ)308 e o Padre Veloso309, que coordenava um movimento há mais de 20 
anos, para escalar líderes sindicais para um curso de seis meses para a carreira política 
sindical, “homens que atendem a nosso favor”.310 Os cursos tinham a função de também 
debater temas para depois espalharem pelas fábricas vizinhas. Em uma chácara na represa de 
 
304 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O governo João Goulart. As lutas sociais no Brasil – 1961-1964. São 
Paulo: UNESP, 2010. 
305 Noticiário Razões para criação do IPES, agosto 1962, p. 4. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
306 Notícias do IPES, junho, 1964. Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
307 Relatório do IPES, s/d. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
308 Ata do IPES CE de 02.10.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
309 Padre Pedro Belisário Velloso Rebello foi reitor da PUC-RJ. Ocupou o cargo de Assistente na Federação dos 
Círculos Operários, criando na PUC a Escola de Líderes operários, que visava à formação das lideranças do 
movimento sindical do Rio de Janeiro. Assumiu a direção do Centro de Investigação e Ação Social, iniciativa da 
Companhia de Jesus que, em 1968, ligou-se ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBD), tornando-se o 
Centro João XXIII - IBRADES, com o patrocínio da CNBB e da CRB. (Disponível em 
<http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/70anos/perfis/galeria-dos-reitores/padre-pedro-belisario-velloso-
rebello-sj-1951-1956-1972-1976.html>. Acessado em 05.06.17). 
310 Ata do IPES CD de 27.03.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/70anos/perfis/galeria-dos-reitores/padre-pedro-belisario-velloso-rebello-sj-1951-1956-1972-1976.html
http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/70anos/perfis/galeria-dos-reitores/padre-pedro-belisario-velloso-rebello-sj-1951-1956-1972-1976.html
83 
 
Santo Amaro (SP), o IPES reuniu por volta de 2.400 líderes sindicais com a finalidade de 
formar pessoal para “berrar” e “brigar” e “não ficar calado”311. 
O Movimento Democrático Brasileiro – MDB (não era o partido político), de São 
Paulo, mantinha um sítio- escola no Estado, onde ministrava cursos para militantes sindicais e 
para a classe trabalhadora. O MDB, organização anticomunista ligada ao IBAD312 e que 
recebeu seu apoio e ajuda financeira de empresas de São Paulo, tornou-se um canal para 
atividades ideológicas e políticas do IPES e distribuir materiais de propagandas elaborados 
pelo instituto.313 Em 1962, foi fundado uma seção do MDB na Guanabara. Na ocasião, 
Gladstone Chaves de Mello (IPES)314, Dulce Magalhães, Armando Bretas de Castilhos e 
Roberto Mattoso Câmara Filho divulgaram manifesto que defendeu que “um dos mais graves 
erros do mundo moderno é justamente aquele em que o Estado se torna totalitário” e afirma 
que “com relação ao totalitarismo comunista, é de se acentuar que não basta ser anticomunista 
para realizar a democracia”.315 
Como parte da doutrinação, o IPES financiou líderes sindicais, os quais eram 
constantes em sua folha de pagamento316, uma “espécie de pedagogia para cães: osso para os 
que acertam, castigo para os que erram”317. O IPES e o IBAD ligaram-se ao American 
Institute for Free Labor Development (AIFLD), uma organização ligada ao sindicalismo, aos 
empresários norte-americanos e às agências governamentais como Agency for International 
Development (AID) e a CIA para treinamento de líderes sindicais318. 
Para obter informações sobre as ações, o IPES infiltrou espiões no movimento e nos 
sindicatos com a finalidade de conseguir informes para criar estratégias a fim de desmantelar 
suas ações e ter alguma influência ideológica. Agiu também sobre os patrões informando-os e 
alarmando-os sobre as questões sindicais. Com isto, segundo Paulo Ayres Filho, “os 
 
311 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, op cit., p. 385. Acervo Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV. 
312 Última Hora de 26.09.63, p. 2. 
313 Ata do IPES CD de 28.08.62 e de 16.10.62. 
314 Gladstone Chaves de Mello foi deputado (PDC-GB) do bloco da ADP no Congresso, que recebeu apoio 
financeiro do IPES, participou de simpósios organizados pelo IPES, presidiu o Instituto Democrático Brasileiro 
(IDB) e irmão de Gabriel Chaves de Mello, diretor do Ação Democrática, do IBAD (DREIFUSS, René Armand, 
1964: a conquista do Estado, op. cit.). 
315 Última Hora de 13.02.62, p. 2. 
316 Ata do CE de 22.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
317 Ata do IPES CE RJ e SP de 22.01.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
318 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. 
84 
 
sindicatos começaram a mudar de mãos” e não atrapalharam mais na manipulação da opinião 
pública feita pelo IPES.319 
Os Estados Unidos andavam preocupados com o Nordeste do Brasil. Segundo Page, 
alguns acontecimentos levaram o ex-presidente John Kennedy a fazer do Nordeste o alvo 
prioritário para a Aliança para o Progresso. Uma série de artigos na imprensa denunciou a 
grande pobreza da região afligidapela seca, acusou que a esquerda estava se aproveitando da 
situação para causar agitação na cidade e no campo sob o domínio comunista, como advertiu 
um alto funcionário municipal, ”o Nordeste se tornará comunista e terá uma situação dez 
vezes pior do que Cuba se alguma coisa não for feita” 320, e, por fim, apontou a região como 
um ponto estratégico para os Estados Unidos para a instalação de estações de rastreamento de 
mísseis teleguiados da Força Aérea norte-americana. Kennedy instalou na capital 
pernambucana, Recife, uma missão da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento 
Internacional, a fim de coordenar os esforços da Aliança por toda a região. O entendimento 
nos meios oficiais em Washington, explica o autor, era que a negligência e os erros 
estadunidenses no passado ajudaram a causar a revolução cubana, desta forma, o Nordeste do 
Brasil era a segunda rodada do circuito, com o agravante que estavam em jogo o Brasil inteiro 
e o resto da América do Sul.321 
Oliveira acrescenta que os Estados Unidos estavam preocupados com a revolta 
camponesa no Nordeste do Brasil, em um momento de expansão do capitalismo no país, 
caracterizado pela crescente realização interna do valor gerado internacionalmente e a 
abertura externa da economia brasileira, tendo a indústria como centro motor da divisão social 
do trabalho. As Ligas Camponesas, representantes das forças populares, socialmente 
subordinada, liderada em Pernambuco por Francisco Julião, iniciada em 1956, dava 
continuidade a uma longa jornada para se inserir no campo político.322 Em 1963, surgem 
como atores e agentes políticos desvinculados do coronelismo e “constituiu ameaça ao 
sistema capitalista como um todo no Brasil”.323 O conflito de classes entre as forças populares 
do Nordeste e as forças dominantes locais estava desembocando na perda da hegemonia 
daquelas classes dominantes, cujo resultado, conforme Oliveira, era a “intervenção planejada 
 
319 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, op cit., p. 385. Acervo Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV. 
320 PAGE, Joseph A. A revolução que nunca houve. O nordeste do Brasil 1955-1964. Rio de Janeiro: Record, 
1972, pp. 27-29. 
321 Idem. 
322 OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma Re(li)gião. Sudene, Nordestes. Planejamento e conflitos de classes. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. 
323 Idem, p. 115. 
85 
 
do Estado no Nordeste, ou a SUDENE”.324 A Superintendência do Desenvolvimento do 
Nordeste (SUDENE), autarquia criada em 1959325, tinha como objetivo, segundo seu 
regimento, estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste para tirar a região 
do atraso sob o qual padecia. Oliveira aponta que o caráter antagônico da luta de classe que se 
travava no Nordeste e o risco que representaria para a “unidade de segurança nacional, que no 
fundo queria dizer “risco para a expansão do capitalismo no Brasil”, eram os verdadeiros 
aspectos responsáveis pela sua criação, o que foi comprovado em documentos posteriores da 
SUDENE.326 
Nessa conjuntura, os Estados Unidos se aproveitaram para assinar, em 1963, um 
acordo com o Brasil, o Acordo do Nordeste, envolvendo um compromisso de US$ 131 
milhões, que lhes permitiu agir mais de perto na região. Esse acordo foi marcado pelas 
divergências entre os órgãos que representavam os dois governos na execução do acordo: a 
AID e a SUDENE. Observadores concluíram que os dois objetivos inter-relacionados do 
programa eram derrotar os candidatos esquerdistas e suprimir ou cooptar o movimento 
camponês. A AID estava disposta a trabalhar por meio da SUDENE, que se opunha à sua 
estratégia, para miná-la.327 
A penetração de mão de obra para trabalhar na região foi realizada pela AIFLD, um 
arranjo de trabalho, administração e governo (AID e CIA) estabelecido em 1961. Os 
programas do AIFLD no Brasil foram conduzidos também pelo ICT, que tinha como 
objetivos declarados contribuir para a formação cultural e técnica, aperfeiçoamento e 
treinamento de trabalhadores para o exercício de liderança visando a harmonia entre o capital 
e o trabalho, e o desenvolvimento da economia nacional328. 
Em 1963, o diretor executivo da AIFLD se reuniu com o governador de SP, Adhemar 
de Barros, quando foi informado sobre os planos para o golpe. Adhemar tinha uma posição 
contrária ao governo federal, combateu de forma radical a política externa e a proposta de 
reformas de base defendida por Goulart. Em São Paulo, era envolvido em uma conspiração 
para derrubar Goulart que envolvia políticos, empresários e militares. A AIFLD organizou 
uma sessão de treinamento, em Washington, para um grupo especial de todo o Brasil. Depois 
 
324 Idem, p. 114 
325 Lei nº 3.692, de 15 de dezembro de 1959. 
326 OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma Re(li)gião. op. cit. p. 114. 
327 BLACK, Jan Knippers. op. cit. 
328 Diário Oficial do Estado de São Paulo de 01.06.63, poder executivo, parte 1, p. 131. 
86 
 
do golpe, um oficial da AIFLD se gabou em uma entrevista de rádio que os estagiários da 
entidade estiveram envolvidos na conspiração.329 
Parte da classe média, tradicionalmente católica e anticomunista, se encontrava muito 
incomodada com a inflação, com os privilégios que estava perdendo com as medidas 
econômicas de Goulart e “não estava preparada para aceitar, sem luta, a imposição de um 
regime sindicalista, que a reduziria a um papel subalterno”.330 Aproveitando-se da situação, o 
IPES a buscou para o seu projeto. Planejou uma campanha para ter engenheiros, médicos e 
advogados que fossem seus representantes nos respectivos órgãos de classe.331 
A maior conquista na classe média foi a adesão de um grupo de donas de casa, que 
consistia, em sua maioria, de esposas, irmãs e mães de militares e de empresários, e que se 
tornou o veículo de propagação da ideia “democrática”, da defesa da livre empresa e da 
orientação do estatismo. O IPES patrocinou e liderou várias entidades femininas, dentre 
algumas, a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE),332 a União Cívica Feminina 
(UCF),333 o Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), a Liga Independente da 
Liberdade, o Movimento Familiar Cristão (MFC), a Confederação das Famílias Cristãs 
(CFC), a Cruzada do Rosário em Família (CRF), a Cruzada Democrática Feminina do Recife 
(CDFR), a Associação Democrática Feminina (ADF), a Liga de Mulheres Democráticas 
(LIMDE) e o Sindicato de Alfaiates e Costureiras.334 
Esses movimentos desempenharam esforços contra o governo no sentido de “combater 
o comunismo e a corrupção”, e resgatar a moral e os bons costumes da sociedade brasileira 
que, segundo eles, estavam ameaçados pelos “comunistas”. Para pressionar a sociedade contra 
o governo Goulart, organizaram campanhas de porta em porta, denunciaram qualquer 
movimento que achavam ser suspeito, e promoveram enormes passeatas orientadas ideologica 
e materialmente pelo IPES. 
A marcha mais emblemática foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, 
realizada em 19 de março de 1964, na cidade de São Paulo (SP), que mobilizou de 500 a 800 
mil pessoas em resposta ao comício de João Goulart, em 13 de março de 1964, na Central do 
 
329 BLACK, Jan Knippers. op. cit. 
330 Apud SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 343. 
331 Ata do IPES CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
332 Ver CORDEIRO, Janaina Martins. A nação que se salvou a si mesma. Entre memória e história, a campanha 
da mulher pela democracia. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, 2008; 
STARLING, Heloisa Maria Murgel, Os senhores das gerais, op. cit.; SIMÕES, Solange de Deus. Deus, pátria e 
família: as mulheres no golpe de 1964. Petrópolis (RJ): Vozes, 1985. 
333 Relatório das Atividadesdo IPES-SP, de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
334 Relatório das Atividades do IPES-SP, de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
87 
 
Brasil, no Rio de Janeiro (RJ).335 A Marcha tinha como finalidade fomentar uma atmosfera de 
desestabilização política, necessária para convencer as Forças Armadas sobre o apoio da 
opinião pública para intervir, e influenciar a população contra o governo.336 
As mulheres eram muito bem organizadas, com reuniões frequentes nos salões 
paroquiais e nas suas próprias residências, e se faziam presentes em vários eventos. Na 
Rocinha, favela no Rio de Janeiro, organizaram uma célula para doutrinação das mulheres. Na 
mesma cidade um grupo de mulheres foi se manifestar durante um discurso de Leonel 
Brizola. Quando Brizola iniciou sua fala, o grupo começou a rezar o terço em voz alta, o 
impedindo de falar e de se fazer ouvir. Derrotado pelo terço, Brizola se retirou337. Em visita a 
Brasília, em agosto de 1962, a CAMDE e a UCF entregaram 17.000 cartas de protesto ao 
Congresso338. Em 2 de abril de 1964, um dia após o golpe, um grupo delas organizou a 
“Marcha da Vitória”, no Rio de Janeiro. Na manifestação distribuiu manifesto parabenizando 
o Exército pela deposição de Goulart. 
A Igreja era de grande interesse para o IPES, visto que representava parte da sociedade 
civil, tinha acesso, comunicação e exercia grande influência sobre vários segmentos sociais. 
Conforme análise do IPES em relatório, “povo com 80% de cristãos e maioria da população 
analfabeta, o brasileiro não tinha condições para desvincular-se da influência da igreja no 
campo político”339. Controlava moralmente as bases populares, nas quais desenvolvia 
trabalhos sociais e transitava confortavelmente na classe média, onde estavam os estudantes, 
intelectuais, movimentos femininos e os militares, portanto, um órgão ideal para atingir 
grande parte da sociedade brasileira. 
Com discurso de “solidariedade social cristã”, o IPES arrebanhou muitos católicos e 
padres (Pe. Crippa, Pe. Veloso, Pe. Carvalho,340 Irmão Cristiano,341 Pe. Mello,342 etc.), aos 
quais eram fornecidos grandes quantias em dinheiro para os projetos da Igreja, para as 
instituições educacionais católicas, como a PUC do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, e 
 
335 ABREU, Alzira. op. cit. 
336 Relatório do IPES, generalidade, 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
337 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, op cit., p. 385 – Acervo Paulo Ayres Filho 
– CPDOC/FGV. 
338 SIEKMAN, Philip. op. cit. p. 10. 
339 Relatório elaborado pelo Coronel Jorge Santos ao General Moacyr Gaya, de 09.09.64, p. 3 – Acervo Paulo 
Ayres Filho – CPDOC/FGV 
340 Ata do IPES CE de 04.03.63. Pe. Antonio da Costa Carvalho faz pedido de doações. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
341 Ata do IPES CE de 15.01.63 – auxílio concedido ao Pe. Veloso de Cr$ 2.500.000,00. Ata CE de 04.03.63 o 
Pe. Antonio da Costa Carvalho faz pedido de doações. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
342 Ata do IPES CD de 11.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
88 
 
para as revistas apoiadas pela Igreja, tais como Revistas Ponte Pioneira e Convivium, que 
eram abastecidas de artigos feitos por professores, universitários, intelectuais ligados à igreja 
católica e ipesianos, para doutrinar e preparar os estudantes, professores e os fiéis para a 
militância contra o governo Goulart. 
O IPES financiou também grupos ligados à Igreja católica, a princípio inofensivos, 
como Associação Cristã de Moços (ACM), a qual se mobilizou contra o governo no Comício 
Democrático na Praça Roosevelt, em São Paulo (SP), em 18 de setembro de 1962,343 a União 
dos Escoteiros do Brasil, liderada pelo Frei Daniel344 e a Fraterna Amizade Cristã Urbana e 
Rural (FACUR). A FACUR foi formada, em dezembro de 1962, por Sebastiana do Amaral 
Almeida Prado, esposa de Sálvio Almeida Prado, presidente da Sociedade Rural Brasileira 
(SRB), para desencadear uma onda de manifestação, tendo como protagonista política a 
“mulher”, “cristã” e “dona-de-casa”.345 
Ainda com discurso de “solidariedade cristã” e “filantropia social”, o IPES promoveu 
obras sociais nas favelas, lugar de tensões e conflitos, para “abafar as tentativas de politizar a 
condição do favelado”.346 Para fortalecer suas posições políticas nas camadas populacionais 
menos favorecidas, mais vulneráveis politicamente, portanto, mais fáceis de serem 
manobradas, o IPES procurou, por intermédios de estímulos, desenvolver lideranças, dentro 
do seu ideário, por meio de seminários sobre favela junto com a Ação Comunitária do Brasil 
(ACB)347. 
Conforme o ipesiano Jorge Oscar de Melo Flores, presidente do Banco Lar Brasileiro, 
que contribuiu financeiramente com a ACB, a forma mais lógica e eficiente de agir no 
problema das favelas é “ir identificando os favelados com capacidade de liderança, dotados de 
qualidades morais e boas intenções”. O presidente da Câmara de Comércio Americana no 
Brasil, o norte-americano Robert Harmon, achava que as favelas surgiram como uma solução 
de proximidade do local de trabalho “que foi improvisada por aqueles que não dispunham de 
outro meio para resolver seus casos” 348. Bem se percebe a real falta de conhecimento dos 
 
343 Ata de Reunião Geral de 16.10.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
344 Ata do IPES CE de 21.05.63 – A subvenção mensal foi elevada de Cr$ 15.000,00 para Cr$ 30.000,00. Acervo 
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. O Frei Edgar München, Assistente Nacional 
Religioso Católico da União dos Escoteiros Brasileiros (UEB) solicitou auxílio mensal em carta de 28.11.68. 
Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
345 TEIXEIRA, Gabriel da Silva. “Latifundiários” de São Paulo no golpe de 64: apoios, projetos e controvérsias. 
Boletim DATALUTA nº 118 – Artigo do mês: outubro de 2017. 
346 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 327. 
347 Documento do IPES: Nossa opinião, s/d. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
348 Jornal do Brasil, 19.06.69, p. 8. Suplemento JB – Ação Comunitária do Brasil. 
89 
 
problemas da favela no Brasil pelo empresariado. Um problema originário da desigualdade 
social, que levou à migração das pessoas para os grandes centros urbanos com a finalidade de 
encontrarem melhores oportunidades de trabalho e de vida. 
A ACB foi uma organização não governamental criada primeiramente na Guanabara, 
em 30 de dezembro de 1966, por um grupo de empresários (Francisco Matarazzo Sobrinho, 
Paulo Ayres Filho, Ruy Mesquita e José Martins Pinheiro Neto, todos ipesianos) depois de 
uma sondagem para investigar a realização de programas de ação comunitária nas favelas e 
avaliar o grau de receptividade da ideia entre as classes produtoras. Tinha diversas empresas 
colaboradoras349 e contribuintes350. Em São Paulo, foi criada em agosto de 1967. 
 
349 Relação de Colaboradores: Accion Internacional, Aliança Mirim, Addessograph Multigraph do Brasil S/A, 
ABCAR – Associação Bras. de Crédito e Assist. Rural, Anderson Clayton & Co. S/A Ind. e Com., Brazilian 
Business, Brazil Herald, Bauer Arquitetura, Banco do Brasil, Banco Central do Brasil, Banco Predial do RJ, 
Braniff International Airways, Câmara de Comércio Americana, CAMDE, Central Elétrica de Furnas S/A, 
Cruzeiro do Sul S/A Serv. Aéreos, Câmara Suíça de Comércio e Ind. do Brasil, Clube dos Diretores Lojistas, 
Comp. Internacional de Engenharia e Construções, Diários Associados, Diário de Notícias,Departamento 
Estadual de Estrada de Rodagem, Escola de Serviço Social da UFF e da UFRJ, Embaixada Americana, 
EMBRATEL, Embaixada da Rep. Federal Alemã, Embaixada Britânica, Eternit do Brasil Cimento e Amianto 
S/A, Escritório Técnico de Agricultura, Fundação Tinker, Frei Seceundi, Fundação Luporini S/A, FNAS – 
Fundo Norte Americano de Assistência Social, Fundação Leão XIII, Frei Rolim, Fundação de Bem-Estar do 
Menor, Fundação Ford, Dun & Bradstreet, Chimica Bayer S/A, General Electric S/A, Guanabara Industrial, 
HCE – Hospital Central do Exército, Instituto de Administração e Gerência da PUC, IPES, IBGE, Ishikawajima 
do Brasil Estaleiros S/A, IBDF – Inst. Bras. de Desenvolvimento Florestal, IICA – Inst. Interamericano de 
Ciências Agrícolas, ICOMI – Ind. e Comércio de Minérios S/A, Johnson & Johnson do Brasil Ltda, J. Walter 
Thompson Publicidade Ltda, Klabin Irmãos & Co., Legião Bras. de Assistência, Lions Clube do RJ, Magna Tom 
Aparelhos Elétricos, Ministério da Saúde, Mauro Salles Interamericana de Publicidade, MUDES – Mov. 
Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social, MEC, Min. Da Agricultura, Nestlé, OCA – Organização 
das Cooperativas das Américas, PUC, Postes Cavan S/A, Prod. Alimentícios Fleichmann & Royal Ltda, Prospec 
S/A, Remington Rand do Brasil S/A, Refinações de Milho Brasil Ltda, Rotary Club, Sindicato Nac. de Indústria 
de Cimento, Standard Electrica S/A, SENAI, SURSAN, Serv. Aerofotográfico da Cruzeiro do Sul, Supergasbrás 
S/A, Tv. Tupi, Teleplan – Ed. De Imprensa, Ra´dio, Televisão e Planejamento S/A, USAID – United States of 
America International Development, UNICEF, USIS – United States Information Service, O Globo, O Dia, A 
Notícia, e Jornal do Brasil. Jornal do Brasil, 19.06.69, p. 3. Suplemento JB – Ação Comunitária do Brasil. 
350 Relação de contribuintes: Adams & Porter Soc. Civil de Corretagem de Seguros Ltda, Alberto Soares 
Sampaio, American International Underwriters Representações S/A, Armco Indl. Comercial S/A, Arthur 
Andersen & Co., Asfalto Chevron S/A, Agfa Gevaert S/A, Bancos: Sotto Maior S/A, Irmãos Guimarães S/A, 
Minas Gerais S/A, Bahia S/A, Boavista S/A, Comercial de Minas Gerais S/A, Com. e Ind. de Minas Gerais S/A, 
Boston S/A, Crédito Real de Minas Gerais S/A, Lar Brasileiro S/A, Mercantil de São Paulo S/A, Nacional de 
Minas Gerais S/A, Predial do Estado do RJ S/A, London & South America Ltda, e Oiticica S/A, Burroughs do 
Brasil S/A, Café Paulista S/A, Casa Ed. Vecchi Ltda, Crush Ind. de Concentrados Ltda, Casa José Silva 
Confecções Ltda, Casa Masson Rio S/A Jóias e Relógios, Cimento Portland Branco do Brasil S/A, Cisper Cia 
Indl São Paulo e Rio, Cobrazil Cia de Mineração e Metalurgia Brasil, Charles Tuthill Moffitt, Cia Docas de 
Santos, Cia Atlantic de Petróleo, Cia Carnasciali Ind. e Com., Cia Cervejaria Brahma, Cia Cigarros Souza Cruz, 
Cia de Formulários Contínuos Contimac S/A, Cia de Mineração Nova Limense, Cia Eletroquímica Fluminense, 
Cia Industrial de Papéis e Cartonagens, Cia Industrial de Papel Pirahy, Cia Internacional de Eng. e Construções, 
Cia Nac. de Cimento Portland, Cia Progresso Industrial – Fábrica Bangu, Cia Radiotelegráfica Brasileira – 
Radiobrás, Cia Siderúrgica Mannesmann, Cia Ultragás S/A, Credibrás Financeira do Brasil S/A, Deltec 
Panamérica S/A, Eletromar Ind. Elétrica Bras. S/A, Elevadores Otis S/A, Embaixador Giovanni Enrico Bucher, 
Ernanin Teirxiera Filho, Esso Bras. de Petróleo S/A, Estabelecimentos Comerciais Reunidos S/A – Casa 
Slopper, Ericsson do Brasil Com. e Ind. S/A, Fáb. De Papel Tijuca S/A, Fáb. de Roupas Epsom S/A, Facit S/A 
Máq. e Escritórios, First National City Bank, Floriano Peçanha dos Santos, Grupo Kemper de Seguros, Geigy do 
Brasil S/A, General Electric S/A, Gillette do Brasil S/A, Grupo Boavista de Seguros, Grupo Sul América, 
Henrique Laje Com. e Indústria S/A, IBM do Brasil Ltda, Icomi Ind. e Com. de Minérios S/A, Ind. Química e 
90 
 
Com o mesmo propósito, criou o Corpo de Assistentes Sociais (CAS), que forneceu 
recursos materiais e humanos em favor das reivindicações populares351. O IPES, juntamente 
com a UCF, Associação de Cultura Brasileira Convivio, dirigida pelo padre Adolpho Crippa, 
teólogo e professor da PUC, e Círculos Operários, desenvolveram campanha de educação 
política com “engenho e arte” para orientar e influir no governo.352 
 
1.4. Campanha ideológica 
 
Como em uma guerra de posição, que no pensamento de Gramsci é a estratégia de 
conquista de posições importantes para a construção da hegemonia, que é buscada por meio 
da sociedade civil, e seus portadores materiais são os aparelhos privados de hegemonia353, o 
IPES se organizou para enfrentar o inimigo e defender seus interesses. Por meio de fartas 
campanhas de convencimento político, econômico e social e de manipulação ideológica 
buscou atrair e obter aliados divulgadores dos seus objetivos e manter diferentes segmentos da 
sociedade junto ao seu projeto para debilitar a capacidade de reação do governo. 
Para Marx, ideologia é uma representação deturpada da realidade, que é invertida e as 
ideias aparecem como motor da vida real, portanto são distorções do pensamento que nasce 
das contradições sociais. Ela escamoteia o conflito entre as classes sociais, dissimula a 
dominação e oculta a presença do particular, dando-lhe a aparência de universal. 
 
As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações 
materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como 
 
Farmacêutica Shering S/A, Joan A. Maguire, Joaquim Monteiro de Carvalho, Juracy Montenegro Magalhães, 
Kodak Bras. Com. e Indústria Ltda, Laboratórios Beechan Ltda, Laboratórios Beechan Ltda, Laboratórios Eaton 
do Brasil Ltda, Liquid Carbonic Indústrias S/A, Light Serviços de Eletricidade S/A, Lojas Americanas S/A, 
Lojas Bras. de Preço Limitado S/A, Mac Laren Estaleiros Serv. Marítimos Ltda, Marcelino Martins Filho 
Exportadora Ltda, Metal Leve S/A, Moinho Fluminense S/A, Montana S/A Eng. e Comércio, Montreal 
Montagem Rep. Industrial S/A, Nelly dos Santos Werneck de Castro, Oivind Lorentzen S/A, Pepsicola 
Refrigerantes Ltda, Petrominas – Petróleo Minas Gerais S/A, Price Waterhouse Peat & Co., Prod. Alimentares 
Fleischmann & Royal Ltda, Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S/A, Refinaria e Exploração de Petróleo 
União, Refinaria de Petróleo Manguinhos S/A, Robert E. Draubouger, Regine Feigl, S/A, Fáb. de Tecidos 
Werner, Soc. Bras. de Mineração Ltda, Soc. Construtora Triângulo S/A, Standard Electrica S/A, Supergasbrás 
S/A, Supermercado Peg-Pag S/A, S. Manela S/A Eng. e Construções, S/A White Martins, Servendo – Serv. De 
Engenharia Continental Ltda, The Home Insurance Company of New York, The Sidney Ross Co., Texaco Brasil 
S/A, Tito Livio Carnasciali, Usina São José S/A, União de Bancos Brasileiros S/A, Usimeca – Usina Mecânica 
Carioca S/A, Varig S/A, Vulcan Mat. Plástico S/A, W.R. Grace & Co. Brazilian Group, Wilson Sons S/A Ind. e 
Agência de Navegação, Xerox do Brasil S/A, Banco de Investimento Credisan S/A, Comp. Têxtil Ferreira 
Guimarães e Vulcar Pneus S/A. (Jornal do Brasil, 19.06.69, p. 3. Suplemento JB – Ação Comunitária do Brasil) 
351 Ata do IPES CD de 27.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
352 Relatório elaborado pelo Coronel Jorge Santos ao General Moacyr Gaya, de 09.09.64, p. 4 – Acervo Paulo 
Ayres Filho – CPDOC/FGV 
353 GRAMSCI, Antonio. op. cit. v. 3. pp. 71-76. 
91 
 
ideias, portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe 
dominante, são as ideias de sua dominação.354 
 
Segundo o IPES, sua ação política era a opinião pública, “a base de toda 
engrenagem”.355 Conforme Gramsci, a opinião pública está estreitamente ligada à hegemonia 
política, ou seja, é o ponto de contato entre a sociedade civil e a sociedade política,entre o 
consenso e a força. Portanto, é o conteúdo político da vontade política de um grupo sobre 
grupos discordantes, de forma que sua força modele a vontade coletiva.356 
Desta forma, o IPES trabalhou arduamente na preparação de materiais de doutrinação 
para operarem nos mais importantes grupos de influência sobre a opinião pública, tais como 
empresários, autoridades e funcionários públicos, professores universitários, estudantes, 
jornalistas, intelectuais, militares, líderes sindicais, profissionais liberais, organizações 
femininas, entidades de classes, etc. 
Os materiais, criados para manter, defender e desenvolver a frente ideológica consistia 
em artigos, panfletos, encartes, apostilas, filmes, além do setor editorial: boletins, revistas, 
informativos e livros, os quais representam uma vontade coletiva, necessários e suficientes 
para influir sobre a opinião pública e determinar uma ação coordenada e simultânea. 
Para a preparação dos materiais, o IPES contou com indivíduos tecnicamente 
competentes e influentes nas suas áreas de atuação, como políticos, economistas, intelectuais 
acadêmicos de destaque e escritórios de consultoria, como a CONSULTEC -- Sociedade Civil 
de Planejamento e Consultas Técnicas Ltda., que tinha como função “providenciar a perícia 
técnica e orientações necessárias, executar os estudos de viabilidades e dar consultoria”.357 
Foi encarregada de elaborar projetos de investimentos, que seus próprios participantes depois 
aprovariam no governo Castello Branco. Seus membros eram ligados aos setores público e 
privado e vieram a fazer parte da estrutura do IPES, tais como Roberto Campos, Jorge Oscar 
de Mello Flores, Dênio Nogueira, Harold Cecil Polland, José Garrido Torres, Glycon de 
Paiva, entre outros. 
Em 1962, a CONSULTEC criou a APEC – Análise e Perspectiva Econômica, 
organização tecnoempresarial para vencer a batalha ideológica contra o governo Goulart. Foi 
fonte de importantes publicações relativas à economia, empresas públicas e ao papel do 
 
354 MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 47. 
355 Atas do IPES CE de 12.06.62 e CD de 12.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
356 GRAMSCI, Antonio. op. cit. v.3, p. 265. 
357 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. op. cit. p. 91. 
92 
 
capital privado no desenvolvimento do país.358 Como a CONSULTEC, diversos integrantes 
da APEC ocuparam cargos importantes no governo Castello Branco, conforme capítulo 2 da 
tese. 
Os materiais eram redigidos a partir de assuntos determinados pelo IPES, com 
linguagem fácil, para que pudessem alcançar todos os segmentos sociais e ocupar “o centro de 
discussão ideológica e política”359, com o propósito de “adestrá-los”, de mostrar a 
importância e a responsabilidade da classe empresarial no desenvolvimento do país.360 
Objetivavam “fortalecer o sentimento democrático da população”,361 “dar capacidade de 
desenvolvimento à grande massa” e “habilitar o homem de poucas luzes a discernir”,362 
dentro da sua verdade. Com isto, construir, lentamente, em toda a sociedade uma forma de 
subjetivação cujo ponto central era a demonização do governo Goulart, que significava um 
mal à sociedade e ao país e, por isto, deveria ser combatido, denunciado e deposto. 
Para dar aparência legítima aos seus objetivos, e omitir seus reais interesses, ou seja, a 
“conquista” do Estado, o IPES desfraldou a bandeira do anticomunismo, tema que perpassou 
por todos os seus materiais. Os materiais apresentavam análises e avaliações sociais, políticas 
e econômicas da situação brasileira, de forma negativa, e com interpretações da situação 
econômica e financeira em relação à conjuntura internacional363, intercaladas com conteúdos 
ideológicos contra o comunismo e o populismo, que, segundo o IPES, ameaçavam o Brasil. 
Os materiais rejeitavam e criticavam as políticas consideradas estatizantes ou 
socialistas e louvavam a “permanência da livre empresa, seriamente ameaçada nos anos 1961-
1964”364, os valores da livre iniciativa, da produtividade, do capitalismo neoliberal, e da 
democracia, a partir da perspectiva da classe dominante. Segundo Harold C. Polland, eles 
queriam “uma democracia em que todos nós sejamos proprietários. Então devemos nos 
antecipar nas concessões, isto é, ‘dar antes’” (grifo meu) 365. 
A disseminação do material ideológico se dava por diferentes canais para todo o país. 
No início a distribuição foi feita de forma clandestina. Lojistas aliados punham os folhetos 
 
358 Idem. 
359 Ata do IPES CE de 11.09.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
360 Ata do IPES CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
361 Ata do IPES CD / CE de 27.11.62, p. 2. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
362 Ata do IPES CD de 27.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
363 Referência Tributária – H.H. Simonsen; Legislação Anti-Truste – Sérgio Marinho; Reforma Eleitoral – 
Themistócles Cavalcante – Ata do IPES, 1962. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
364 Documento do IPES: Breve histórico. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
365 Na Ata do IPES dia 22.01.62, p. 8. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
93 
 
dentro dos embrulhos e sacos de compras dos consumidores; ascensoristas davam aos 
passageiros que se queixavam da situação; barbeiros colocavam dentro das revistas que eram 
lidas pelos clientes. Um tipógrafo do Rio de Janeiro imprimiu secretamente 50.000 cartazes 
com caricaturas de Fidel Castro com a legenda “Você quer viver sob a chibata dos 
comunistas?”, e ajudantes contratados os disponibilizavam em lugares públicos.366 Os artigos, 
segundo Edmundo de Macedo Soares e Silva, eram distribuídos nas casas, porque não podiam 
ser publicados na imprensa; eram impressos aos milhares e entregues em mãos.367 O general 
ipesiano, em seu depoimento ao CPDOC/FGV, parece cometer algum erro ou não se explicou 
muito bem. Pois os artigos eram sim publicados na imprensa. No início da fundação do IPES, 
o instituto evita aparecer e colocar seu nome nas suas produções, comportamento que mudou 
posteriormente. 
Tanto que a distribuição do material se dava de forma sofisticada e profissional. 
Contou com apoio de empresários e diretores nacionais e internacionais das áreas de 
propaganda e de comunicação, como rádio, TV, imprensa, para disseminá-los. 
Os jornais (O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Última Hora, Correio do 
Povo (RS), etc.)368 e as revistas (Seleções do Reader’s Digest, Cadernos Brasileiros, etc.), 
que apoiavam e patrocinavam o IPES, publicaram artigos, notas e anunciaram atividades 
organizadas pelo instituto. O advogado, político e filho do líder do IPES-GB Dario de 
Almeida Magalhães, Rafael de Almeida Magalhães, pôs a Tribuna da Imprensa, onde era 
diretor, à disposição para qualquer artigo, inclusive sob forma de editorial ou sem 
assinatura.369 Prática muito utilizada pelos ipesianos. 
Além dos materiais, o IPES inundou os meios de comunicação com propagandas de 
susto e medo, sobretudo na imprensa, que possibilitava explosões de pânico ou de entusiasmo 
fictício, que permitiam alcançar objetivos determinados. Os jornais não podiam recusá-las, já 
que dependiam dos anúncios pagos, principalmente, pelas empresas norte-americanas. Os 
periódicos com posições pró-trabalho ou nacionalistas eram rejeitados para publicidade e 
expulsos do negócio.370 Paulo Ayres Filho explicou, anos depois, que os jornais com 
posições políticas contrárias às do IPES levaram o instituto a criar estratégias para desarticulá-
los e tirá-los do mercado.. Agênciasde propaganda foram contratadas para levantar as 
 
366 A nação que se salvou de si mesma. Texto condensado de artigo de Clarence W. Hall publicado na revista 
Seleções do Reader’s Digest na edição de novembro de 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
367 SILVA, Edmundo de Macedo Soares. op. cit. 
368 Ata do IPES CD de 08.11.62 e Ação Comunitária do Brasil-Guanabara. Relação de contribuintes, s/d. Acervo 
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
369 Ata do IPES CE IPES/Rio de 27.07.62. 
370 BLACK, Jan Knippers. op. cit. 
94 
 
empresas que anunciavam nos referidos jornais. Paralelamente, um grupo do instituto colheu, 
de forma geral, o que cada periódico divulgava contra as empresas. Com os levantamentos em 
mãos, os ipesianos os apresentaram aos dirigentes das companhias anunciantes, alertando-os 
de que “todo mês você está dando para esse jornal. Veja nesse mês o que o jornal disse contra 
a sua empresa ou contra empresas”371. Assim, os empresários ficaram receosos e, 
consequentemente, dois jornais brasileiros fecharam as portas por falta de anunciantes.372 
Nessa estratégia de fechar os jornais com posições políticas contrárias às do IPES, a 
revista Ação Democrática, do IBAD, relacionou 57 empresas que faziam anúncios mensais e 
“continuam contribuindo com a sua publicidade para o financiamento de órgãos comunistas, 
como Última Hora373”. Alertou que suas verbas publicitárias contribuíam para a divulgação 
do comunismo.374 
Os artigos eram elaborados por ipesianos ou por pessoas contratadas, que recebiam 
cerca de CR$ 5.000,00375 por um texto, pagos pelo instituto, por empresas376 ou por meio de 
jetom377. Eram publicados nos jornais, nos boletins e nos informes. Na área editorial, o IPES 
criou encartes (Cartilha para o Progresso,378 O que é o IPES, Você e a Democracia, etc.) e 
panfletos (Você e a democracia) os quais eram inseridos nos jornais e garantiam retornos 
eficazes, já que circulavam pelo Brasil. Nos boletins, o instituto publicava suas ações, notícias 
institucionais, legislações e artigos. Eram distribuídos aos associados para estarem a par das 
suas atividades. Produziu e distribuiu revistas379 e livros380, de autores nacionais e 
 
371 O documento não apontou os nomes dos jornais que fecharam. 1964 – 31 de março: o movimento 
revolucionário e a sua história, op. cit., pp. 383-384. – Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOV/FGV. 
372 Idem. 
373 O jornal Última Hora (110 mil exemplares de tiragem, no Grande Rio, onde concentrava sua circulação, em 
1964), foi o único diário a defender o governo Goulart e ao defendê-lo, na edição de 12 de abril, teve em 
consequência as suas sedes do Rio e do Recife invadidas e depredadas. Seu fundador, o jornalista Samuel 
Wainer, ainda estava asilado na embaixada do Chile quando recebeu a primeira proposta de compra do jornal, 
vinda de um grupo de empreiteiros de obras públicas (GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002). 
374 Ação Democrática, nº 44, janeiro/1963, p. 11. 
375 Ata do IPES reunião de 19.02.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
376 Segundo Glycon de Paiva, trinta artigos para doutrinação dos empresários foram pagos pela Antártica. Ata do 
IPES CE de 11.06.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
377 Ata do IPES CD 10.04.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
378 Ata do IPES CE de 11.12.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
379 Revistas: Convivium, Ponte Pioneira, Democracia e Empresa, Síntese. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
380 Uma pequena lista dos livros publicados dá uma ideia da campanha do IPES: Amostra da infiltração 
comunista no Brasil, Democracia e comunismo, Um engenheiro brasileiro na Rússia, A China Comunista em 
perspectiva (A. Doak Barnett), Reformas de Base (IPES), A América vermelha (Danilo Nunes), Pleno emprego, 
intervencionismo e inflação (F. A. Hayek), Continuísmo e comunismo (Glycon de Paiva), Reforma universitária 
(A. C. Pacheco e Silva), UNE, instrumento de subversão (Sonia Seganfredo), A educação que nos convém 
(IPES), A Revolução dos Bichos (George Orwell) etc. O último livro é uma fábula política transcorrida em uma 
fazenda e faz uma alegoria do comunismo. Foi traduzida pelo então capitão do exército e ipesiano Heitor Aquino 
Ferreira, em 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
95 
 
internacionais. Para a impressão de livros sobre economia, o IPES contou com a ajuda do 
empresário e arquiteto Adolpho Lindenberg (Construtora Adolpho Lindenberg), que fez 
contato com entidades no exterior para obter publicações sobre economia de mercado. Nessa 
empreitada, o IPES conseguiu que algumas entidades de classe patrocinassem, pela primeira 
vez, a publicação de alguns desses livros que vinham de fora381. Lindenberg fez também 
traduções de alguns clássicos dos economistas liberais para o IPES, como Ludwig von Mises 
e Friedrich von Hayek, ambos laureados com o Prêmio Nobel 382. 
 O IPES distribuiu, gratuitamente, cinco mil exemplares do livro Cuba: nação 
independente ou satélite? produzido pelo IRD.383 
Além da imprensa, o IPES utilizou os serviços dos Correios para enviar cartas- 
convites e de propaganda, distribuir seu material para os centros acadêmicos, vigários, 
empresários, autoridades militares, União Cívica Feminina, Confederação das Famílias 
Cristãs, diretores de faculdades, associações comerciais e federações, empresas, sindicatos e 
centros acadêmicos384. 
A TV, o rádio, o cinema e o teatro foram também utilizados, pelo IPES, para 
disseminar sua ideologia e preparar a opinião pública contra o governo Goulart. 
No IPES foi discutida a necessidade de se criar um centro de maior abrangência para a 
difusão de sua ideologia e modelar a opinião pública.385 Os grupos de comunicação Diários 
Associados (O Jornal, O Globo e o Jornal do Brasil uniram suas emissoras (Tupi, Globo e 
JB) e formaram um arranjo midiático, a Rede da Democracia. Idealizada por João Calmon, 
vice-presidente do Diários Associados, atuou de outubro de 1963 e abril de 1964, no Rio de 
 
381 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história, op. cit., pp. 383-384. – Acervo Paulo Ayres 
Filho – CPDOV/FGV 
382 Adolpho Lindenberg era primo de Plínio Corrêa de Oliveira, fundador da sociedade Tradição, Família e 
Propriedade (TFP), entidade católica ultraconservadora. Como membro da TFP, da ala “Sempre Viva”, ainda 
mais conservadora e apegada ao catolicismo medieval, Lindenberg escreveu livros para a entidade, como o Os 
católicos e a economia de mercado, que trata da defesa da propriedade privada e do liberalismo econômico. A 
sua construtora patrocinou um programa noturno da TV Bandeirantes apresentado pelo jornalista Cláudio 
Marques. No dia 28 de setembro de 1975, numa coluna dominical que mantinha no jornal Shopping News, 
paralelamente à televisão, Marques escreveu o seguinte a respeito da TV Cultura: “…A infiltração (a essa altura 
não é infiltração, é domínio total, ou quase…) da esquerda contestatória no sistema e na democracia em vários 
escalões, só não vê quem é conivente ou burro. O caso da TV Viet-Cultura extrapolou. E muito”. Foi a senha 
para a prisão do diretor de jornalismo da emissora, Wladimir Herzog, pelos comandantes do II Exército. Em 26 
de outubro, Herzog morreria assassinado nos porões do Doi-Codi. Adolpho, o imperador da TFP, 17.12.03. 
(Revista Isto é Dinheiro. Disponível em 
<https://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20031217/adolpho-imperador-tfp/22976>. Acessado em: 
11.10.17). 
383 CANTARINO, Geraldo. op. cit. 
384 Ata do IPES CE e CD de 04.12.63.Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
385 Ata do IPES Reunião Plenária CE de 08.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
https://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20031217/adolpho-imperador-tfp/22976
96 
 
Janeiro, como importante lócus de fomentação e doutrinação ideológica. Ia ao ar quase todos 
os dias e repercutia pelo país por meio de outras centenas de emissoras afiliadas. 
Posteriormente, seus pronunciamentos eram publicados nos respectivos jornais. Seus oradores 
eram lideranças políticas pertencentes à ADEP, oriundos de vários Estados, sindicalistas, 
operários, estudantes e membros de outras organizações, como Aristóteles Luis Drummond, 
do MAC.386 
Na TV, reproduziu discursos, debates e entrevistas sucessivas de indivíduos de 
destaque e influentes nas suas áreas, tais como políticos, magistrados, juristas, militares, 
empresários, economistas, escritores, profissionais liberais, sacerdotes, professores, 
universitários e líderes sindicais.387 Nas entrevistas eram debatidos temas sobre os problemas 
nacionais com linguagem fácil para alcançar o grande público e sem detalhes de caráter 
técnico, dentre eles: reforma agrária, desenvolvimento e inflação, reforma tributária, 
participação dos empregados nas empresas, Aliança para o Progresso, capitais estrangeiros, 
papel da universidade na vida nacional, planejamento estatal versus sistema de livre-empresa, 
democracia e comunismo, parlamentarismo versus presidencialismo, reforma eleitoral, 
sindicalização urbana e rural.388 A agência de notícias Planalto, administrada pelo IPES, 
distribuía materiais a jornais e rádios,389 “fornecia a 800 jornais e emissoras de rádio material 
noticioso”.390 Nos programas “Peço a palavra” – TV Cultura-SP -, homens influentes 
discutiam sobre a realidade brasileira com enfoques liberais.391 
No período que antecedeu as eleições de 1962, o IPES intensificou os programas na 
TV com o objetivo de enfraquecer os candidatos da oposição e fortalecer os seus. 
Organizaram entrevistas com jornalistas escolhidos em Recife, Pará, RJ e SP, mediadas por 
mestres de cerimônia selecionado entre seus integrantes, que antes de começar o programa 
exprimiam algumas palavras positivas sobre o IPES. Os jornalistas discutiam temas já pré-
 
386 SILVA, Eduardo Gomes. A Rede da Democracia e o golpe de 1964. Dissertação (Mestrado em História). 
Universidade Federal Fluminense, 2008; CARVALHO, Aloysio Castelo. A rede da democracia. O Globo, O 
Jornal do Brasil na queda do governo Goulart (1961-64). Niterói: Editora da UFF, 2010. 
387 Documento: Programa na TV. Encontro de democratas com a nação, de 04.06.62. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
388 Idem. 
389 Ata do IPES Reunião geral de 16.10.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
390 RAMIREZ, Hernan Ramiro. Os institutos de estudos econômicos e organizações empresariais e sua relação 
com o Estado em perspectiva comparada: Argentina e Brasil, 1961-1996. Tese (Doutorado em História). 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p. 271. 
391 Documento: Programa de televisão Peço a palavra – TV Cultura, canal 2- SP. Relação de temas e nomes para 
as entrevistas no canal. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
97 
 
estabelecidos pelo IPES, como custo de vida, educação, Aliança para o Progresso e outros 
temas que eram frágeis no governo.392 
O rádio foi um meio de doutrinação muito usado pelo IPES, já que era o principal 
veículo de divulgação e de comunicação de massa do Brasil, alcançando os lugares mais 
distantes do país, principalmente os que a televisão não atingia.393 A organização se dava da 
mesma forma, ou seja, produziam debates e entrevistas com personalidades públicas e 
influentes da política e das artes. Nas rádios Tupi (programas Congresso em Revista e A 
Semana em Revista)394 e Mundial no Rio de Janeiro, (Programa Raul Brunini),395 promoveu 
debates previamente organizados. 
Os programas no rádio e na TV, já que são meios massivos de comunicação, tinham 
um formato simples e com linguagem de fácil entendimento para as massas, mas, por trás de 
sua simplicidade aparente, os materiais “revelavam poderoso instrumento discursivo, eles 
sintetizavam ideias e argumentos que faziam parte do debate político, apresentando-se de 
modo rápido e impactante para um amplo público receptor”.396 
No teatro, o IPES patrocinou a peça La Maison de la nuit, em São Paulo, no teatro da 
Sociedade de Auxílio à Juventude Estudantil (SAJE).397 A peça encenava o Muro de 
Berlim398 como um corredor de fuga para os moradores da cidade, reforçando a ideia da falta 
de liberdade nos países comunistas e engrandecendo a liberdade dos países capitalistas.399 A 
SAJE foi auxiliada com 300 mil cruzeiros pelo IPES, que cobriu sua folha de pagamento, em 
1963400. 
O IPES produziu filmes401 adultos e infantis.402 Os curtas tinham aproximadamente 10 
minutos de duração, feitos com linguagem popular, facilmente compreendida e memorizada. 
 
392 Ata do IPES CD de 29.05.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
393 Para saber mais sobre o papel social do rádio no Brasil ver AZEVEDO, Lia Calabre de. No tempo do rádio: 
radiofusão e cotidiano no Brasil. 1923-1960. Tese (Doutorado História). Universidade Federal Fluminense, 
2002. 
394 Relatório das Atividades do IPES de 1963. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
395 Ata do IPES CD de 24.07.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
396 RAMIREZ, Hernan Ramiro. op. cit. p. 279. 
397 Ata do IPES de Reunião Geral de 09.10.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
398 Barreira construída, em 13 de agosto de 1961, pela República Democrática Alemã (socialista) durante a 
Guerra Fria, que circundava toda a Berlim Ocidental (capitalista), que simbolizava a divisão do mundo em dois 
blocos: República Federal da Alemanha (RFA), que era constituído pelos países capitalistas encabeçados 
pelos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), constituído pelos países socialistas sob jugo do 
regime soviético. 
399 Ata do IPES CD de 23.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
400 Ata de reunião do IPES de 09.10.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
401 A jornalista Denise Assis encontrou os curtas metragens no Arquivo Nacional. Recuperou-os tecnicamente, 
que se encontravam deteriorados pela ação do tempo e inacessíveis ao público, como elucidou a autoria dos 
98 
 
As imagens, para dar maior credibilidade, foram extraídas diretamente dos problemas sociais 
e econômicos do Brasil, dando uma abordagem negativa e crítica à administração do governo 
Goulart. Alguns desfilavam imagens fortes e ameaçadoras, sem referência aos seus contextos 
históricos, de Adolf Hitler (Alemanha), Benito Mussolini (Itália), Nikita Khrushchev e 
Vladimir Lênin (União Soviética) e Fidel Castro (Cuba) como “inimigos da democracia”, 
disseminando, assim, ideias e crenças contra o comunismo, e enaltecendo a democracia como 
o único meio de desenvolvimento econômico, político e social. Para o IPES, em uma 
democracia, não existem sindicatos atuantes e nem classe trabalhadora organizada 
reivindicando melhores condições de trabalho. Os sindicatos devem ser assistencialistas, 
atendendo aos interesses da burguesia empresarial. Outros foram elaborados especificamente 
para os empresários com objetivo de modificar o conceito de empresa,403 tal como o filme 
Conceito de empresa. 
Os roteiros eram de autoria do escritor José Rubem Fonseca,404 integrante do CE e 
chefe do GPE,405 onde eram elaboradasas publicações para teatro, cinema, rádio e TV.406 Na 
direção estava o fotógrafo francês radicado no Brasil Jean Manzon,407, que dirigiu a grande 
maioria dos filmes, e a distribuição contou com o apoio do grupo Luiz Severiano Ribeiro.408 
 
filmes. Trabalhou seis meses na pesquisa, na organização e na elaboração de um catálogo. O projeto foi 
transformado em livro intitulado Propaganda e cinema a serviço do golpe 1962-1964, editado pela Mauad, em 
2001. 
402 O Brasil precisa de você, Nordeste problema número um, História de um maquinista, A vida marítima, 
Depende de mim, A boa empresa, Uma economia estrangulada, O que é o IPES, Portos paralíticos, O IPES é o 
seguinte, Criando homens livres, Deixem o estudante estudar, Que é democracia, Conceito de empresa, La noche 
más triste. Em documento do IPES ainda constam os seguintes filmes: Asas da democracia, Reforma Eleitoral, 
Reforma Agrária, Estatismo e livre empresa, O homem e sua liberdade social (desenho animado). O IPES SP 
produziu Marinha Mercante, Portos do Brasil, Papel da livre empresa, Problema estudantil, FAB, Marinha de 
Guerra e Exército do Brasil. Patrocinou Filhos da democracia, feito pelo Senador Auro de Moura Andrade, um 
dos maiores proprietários de terras de São Paulo. Ata do IPES CD de 23.11.61. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
403 Ata do IPES CE e CD de 04.12.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
404 Ver PEREIRA, Aline Andrade. O verdadeiro Mandrake: Rubem Fonseca e sua onipresença invisível (1962-
1989). Tese (doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, 2009. 
405 Ata do IPES CE de 31.08.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
406 Ata do IPES CE RJ - SP de 23.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
407 Atas do IPES CE de 22.01.62, CD 07.08.62, Reunião Geral de 25.09.62 e Reunião de 16.10.62. Acervo 
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. Jean Manzon chegou ao Brasil, em 1940, 
fugindo da Segunda Guerra Mundial. Foi chefe, de 1940 a 1943, do Departamento de Reportagens Fotográficas 
no Departamento de Informação e Propaganda (DIP) do Estado Novo. Exerceu as funções de instrutor dos 
profissionais de fotografia do Estado e de fotógrafo das atividades de Getúlio Vargas. Em 1943, ingressou na 
revista O Cruzeiro, onde teve papel importante na formação de um imaginário sobre o Brasil nas décadas de 
1940 e 1950. Segundo Correa (CORREA, Marcos. O discurso golpista nos documentários de Jean Manzon para 
o IPES (1962/1963). Dissertação (Mestrado em Multimeios), Universidade Estadual de Campinas, 2005), a 
fixação pela ideia de progresso e o uso de um discurso muito próximo ao oficial, garantiu ao cineasta um trânsito 
incomum entre os grandes interesses econômicos do período e no Estado. 
408 Ata do IPES CD de 28.08.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
99 
 
Para a elaboração dos filmes, Manzon viajou aos Estados Unidos, em 1962, para recolher 
imagens, documentários completos e estudos para usar ou adaptar em filmes anticomunistas. 
Foram sugeridos filmes sobre territórios e províncias anexadas à URSS, incluindo províncias 
da Romênia, Prússia, Checoslováquia, Polônia, Estônia, Lituânia, Coreia, Vietnam, Laos e 
Tibet, e destacando os militares comunistas em ação. Segundo documento, o desejo do IPES 
era enfatizar a supressão da herança cultural e política de povos absorvidos ou 
conquistados409. 
A proposta era que os filmes tivessem vida útil de dezoito meses,410 tempo suficiente 
para atingir todo o território brasileiro e para alcançar o maior número possível de pessoas. 
Além dos cinemas, foram exibidos na TV, no Programa Silveira Sampaio,411 que tinha um 
estilo crítico e cômico para trabalhar com políticos da época, em escolas, fábricas,412 
comércio, empresas (redação do Jornal O Estado de São Paulo413 etc.) e clubes (Paulistano, 
Monte Líbano, Lions Club, Escola de Política, na sede do Instituto).414 No cinema, os curtas 
eram exibidos antes do filme comercial. Beneficiavam-se pelo Decreto-Lei 21.240 de 1932, 
que obrigava o circuito exibidor a incluir um curta-metragem nacional de qualidade, desde 
que considerado educacional.415 
Para alcançar os lugares mais distantes e um público mais desprovido intelectual e 
economicamente, o IPES desenvolveu o cinema ambulante, que consistia em caminhões e 
ônibus abertos, com projetores para exibir filmes na cidade, nas praças, nas favelas e no 
interior.416 Para esse projeto, contou com apoio de empresários: a CAIO forneceu a 
carroceria417 e a Mesbla doou o aparelho de projeção Bell & Howell.418 419 
 
409 National Archives and Records Administration - NARA, RG 84, UD 2132, NND 959080, Box 135, 350.2 
IPES 1962-1964. 
410 Ata do IPES CD de 23.11.62, p. 2. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
411 Ata do IPES CE e Chefes de Grupos de 08.01.63, p. 2. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
412 Ata do IPES CD de 23.11.62, p. 2. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
413 Noticiário: Razões da criação do IPES de agosto de 1962, p. 4. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
414 Ata do IPES Reunião Geral de 25.09.62, p. 1. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
415 CARDENUTO, Reinaldo. O golpe no cinema: Jean Manzon à sombra do IPES. Revista ArtCultura, 
Uberlândia, v. 11, n. 18, p. 59-77, jan./jun. 2009. 
416 Ata de Reunião geral de 09.10.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
417 Ata do IPES CD/CE de 20.11.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
418 Ata do IPES CD de 28.08.62 e Reunião Geral de 09.10.62, p. 1. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos 
Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
419 Ver CORREA, Marcos. op. cit. 
100 
 
Para ser mais eficaz na sua campanha, o IPES investiu na organização de inúmeros 
cursos420, concursos de monografia, simpósios, fóruns421, seminários422 e congressos423 para 
discutir os problemas sociais, políticos e econômicos do Brasil, questões empresarias e os 
anteprojetos de Reformas de Base com o propósito não só de participar do debate 
ideológico,424 como também de divulgar sua obra e apresentar seu projeto de governo, já 
pensando na “conquista” do Estado. As palestras eram proferidas por ministros, sociólogos, 
economistas, professores, políticos, etc. 
Os eventos foram realizados nas escolas, universidades (PUC Campinas, São Paulo e 
Rio de Janeiro), fábricas, associações e no auditório do IPES. Montou o Curso de Atualidades 
Brasileiras (CAB) e o Curso Superior de Atualidades Brasileiras (CSAB). O CAB e o CSAB, 
coordenados pelo Grupo de Educação Seletiva, eram voltados para assuntos de interesse 
empresarial. Tinham como finalidade revisar “conceitos básicos nos campos da economia, 
sociologia e política” e a estudar os “aspectos principais da conjuntura nacional”425, bem 
como pesquisar e sugerir soluções para os principais problemas426, dentro de uma visão 
liberal, que defendia, fundamentalmente, a propriedade privada, a livre iniciativa, os 
investimentos estrangeiros e a redução do Estado, que deveria intervir na economia apenas 
para preservar o mercado livre do monopólio. 
 
420 Cursos voltados para as empresas: Introdução à empresa (transmitir conhecimentos básicos sobre as 
finalidades e o funcionamento da empresa. Discutir a importância das empresas e o seu papel na sociedade 
moderna), Matemática Financeira (Estudar, em todos os seus aspectos,as inter-relações das taxas de juros com 
as possíveis variações), Contabilidade gerencial (atualizar os conhecimentos de administradores, assessores e 
executivos, no que se refere à analise e utilização dos dados contábeis na decisão empresarial), Controle 
orçamentário na empresa, Técnica de Análise de Investimento, Método quantitativos para divisão gerencial, 
Controle de qualidade, Análise de balanço, Curso Pert-Básico (habilitar pessoal qualificado para o emprego 
generalizado). Em 1967, o IPES em parceria com a empresa Listas Telefônicas Brasileiras, de propriedade do 
ipesiano Gilbert Huber, criou o Curso Superior de Estudos Financeiros (CURSEF), que tinha como objetivo a 
formação e o aperfeiçoamento de pessoal de nível superior e executivos por meio de cursos de pós-graduação, 
para capacitá-los para o exercício de funções nos setores administrativos e financeiros das grandes empresas. O 
CURSEF contou com patrocínio das empresas Esso, Siemens, Banco Lar Brasileiro, Cia Paulista de Força e Luz 
e Centro do Processamento de Dados (Ata do IPES reunião de diretoria de 26.06.69 e Manual Informações para 
o professor, s/d. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional.) 
421 A Educação que nos convém (1968), organizado pelo IPES como uma resposta da entidade empresarial à 
crise educacional escancarada com a tomada das escolas superiores pelos estudantes, em junho de 1968. 
422 Alguns seminários organizados pelo IPES: Reformas democráticas para um Brasil em crise (1963), 
organizado pelos ipesianos Paulo de Assis Ribeiro e José Garrido Torres, patrocinado pela PUC e a Associação 
dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE). 
423 O IPES organizou vários congressos, mas dois alcançaram grande destaque na mídia devido à participação de 
influentes personalidades: Congresso Brasileiro para a definição das Reformas de Base (1962) – tinha como 
objetivo a apresentação de demandas empresariais e abranger o conjunto de recomendações de diretrizes, estudos 
em relação às reformas. 
424 Ata do IPES CE de 11.09.62. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
425 Documento do IPES: Documento nº 4. Temas a considerar de 06.06.63. Acervo Instituto de Pesquisas e 
Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
426 O CAB promoveu os seguintes cursos: Planos de desenvolvimentos, As leis trabalhistas e a empresa, Reforma 
bancária, A realidade brasileira, A democracia e a igreja, A democracia e os regimes totalitários. 
101 
 
O IPES criou a Associação dos Diplomados do IPES (ADIPES), para congregar os 
diplomados pelos Cursos de Atualidades Brasileiras com a finalidade de mantê-los ligados ao 
IPES-GB. Criado em 1964, inspirado na ADESG — Associação dos Diplomados da Escola 
Superior de Guerra, a ADIPES mantinha os ex-alunos atualizados com os aspectos da 
conjuntura nacional e com os problemas decorrentes do desenvolvimento econômico e 
auxiliava o instituto nas pesquisas e estudos, tornando-se um reservatório de elementos 
capacitados a prestar colaboração nos diversos Grupos que integravam o IPES-GB. 427 
Com todas estas estratégias, minuciosamente discutidas e criadas, o IPES contou com 
milhares de associados, civis e militares, e empresas de diferentes segmentos, com as quais 
obteve grande arrecadação para avançar as ações e as estratégias. 
 
1.5. Os anteprojetos de reformas de base do IPES 
 
Simultaneamente às elaborações de estratégias e ações para mobilizar a sociedade 
contra Goulart, como tática defensiva e ofensiva e já pensando em um novo Estado, o IPES 
formulou e difundiu projetos de governo e anteprojetos de reformas de base para salvaguardar 
e consolidar suas posições na direção política e ideológica da sociedade. 
Grupos de Estudos do IPES, economistas e os escritórios de consultoria contratados se 
dedicaram em analisar as Reformas de Base do governo e, a partir delas, formular alternativas 
de reformas desestabilizantes, de acordo com os princípios da Carta de Punta del Este. 
O banqueiro Jorge de Oscar de Mello Flores, responsável pelo GAP, obtinha, em 
Brasília, informes sobre os projetos em andamento no Congresso, os quais eram 
encaminhados para o GED para análise e preparação de estudos, emendas, projetos de leis e 
anteprojetos. Além do GED, o IPES contou com a FGV e a CONSULTEC para elaboração 
das propostas de reforma. Posteriormente, as propostas eram apresentadas estrategicamente 
no Congresso, por políticos aliados da ADEP, de forma rápida para conseguir a aprovação 
 
427 Em 1964 sua composição era formada por: Presidente de Honra: Haroldo Cecil Poland, Presidente Executivo: 
Leopoldo Figueiredo Júnior; Diretor de Integração: Jorge Franke Geyer; Diretor Cultural: Alberto Venâncio 
Filho, Secretária: Narzji Mala. (Boletim Informativo nº 32/33 - Ano IV - Mar./Abril de 1965. Acervo Instituto de 
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional). O advogado, jurista e historiado Alberto Venâncio 
Flores ocupa a Cadeira nº 25 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na ocasião, foi recebido pelo ex-ipesiano, 
o acadêmico Américo Jacobina Lacombe. Autor do livro A Intervenção do Estado no Domínio Econômico 
(1968). (Disponível em <http://www.academia.org.br/academicos/alberto-venancio-filho>. Acessado em: 
17.02.18). 
http://www.academia.org.br/academicos/alberto-venancio-filho
102 
 
imediata, e reduzir as possibilidades de o governo a eles se contrapor. Assim também 
conseguiam definir uma posição favorável às classes produtoras perante a opinião pública. 428 
A partir dos estudos sobre as reformas estruturais, o Grupo de Estudos do IPES 
elaborou vinte e três projetos desestabilizadores conhecidos como Anteprojetos de Reformas 
de Base, que cobriam as seguintes áreas: Reforma Eleitoral, Reforma do Legislativo, Reforma 
da Estrutura Política, Reforma Administrativa, Reforma dos Serviços de utilidade pública, 
Reforma do Judiciário, Reforma da Política Externa, Reforma da Política de Comércio 
Exterior, Reforma do Capital Estrangeiro, Reforma Monetária e Bancária, Reforma 
Tributária, Reforma Orçamentária, Reforma Antitruste, Reforma do Mercado de Capitais, 
Reforma da Empresa Privada, Reforma da Participação nos Lucros, Reforma da Legislação 
Trabalhista, Reforma da Seguridade Social, Reforma dos Recursos Naturais, Reforma 
Agrária, Reforma Educacional, Reforma Habitacional e Reforma Sanitária. 
Várias desses estudos forneceram as diretrizes para as reformas estruturais formuladas 
no governo Castello Branco, bem como alguns dos seus idealizadores foram trabalhar na sua 
execução. 
A Reforma Administrativa do governo Castello Branco, tema da minha dissertação de 
mestrado, que se deu por meio do Decreto-Lei nº 200 de 1967, “dispõe sobre a organização da 
administração federal e estabelece diretrizes para a reforma da administração”429, os seus 
preceitos básicos, por exemplo, se coadunavam com o anteprojeto criado pelo IPES. 
Às vésperas do encerramento das atividades do IPES, em 1972, Glycon de Paiva 
redigiu um documento com a finalidade de agradecer aos empresários pelas doações e 
participações no instituto e mostrou a sua importância. Afirmou: “dificilmente se encontra 
hoje no acervo de fundamentos da legislação, posterior a 1964, alguma coisa que não tenha 
pertencido antes ao IPES” 430. 
Para a disseminação e promoção dos Anteprojetos de Reformas de Base para toda a 
sociedade brasileira, o IPES os publicou na imprensa431, promoveu debates, editou o livro 
Reformas de Base: posição do IPES, que contemplava todos os anteprojetos, e organizou 
 
428 Documento do IPES: Estudo preparado por Jorge Oscar de Mello Flores para Glycon de Paiva Teixeira, em 
15.04.63. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
429 BRASIL. Decreto-Lei nº 200 de 25 de fevereiro de 1967. Disponível em 
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-200-25-fevereiro-1967-376033-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acessado em 05.08.16. 
430 Ata do IPES, assembleia geral, de 29.03.72. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
431 Nos arquivos do IPES, custodiados pelo Arquivo Nacional, constam recortes de vários jornais (sem nomes e 
datas) com artigos sobre suas reformas de base. Dentre alguns: Segundo estudos do IPES – O Brasil precisa de 
23 reformas de base; IPES prega reforma do aparelho administrativo para facilitar execução das demais 
reformas; O IPES preconiza medida de reforma administrativa. 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-200-25-fevereiro-1967-376033-publicacaooriginal-1-pe.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-200-25-fevereiro-1967-376033-publicacaooriginal-1-pe.html
103 
 
congressos para debater suas propostas de projeto de governo, como: O Congresso Brasileiro 
para a definição das Reformas de Base. A divulgação maciça das Reformas tinha como 
proposta manipular a opinião pública contra Goulart e a favor do IPES, passando a imagem de 
um instituto preocupado e comprometido com a democracia e com a sociedade brasileira. 
 
1.6. O IPES pós-1964 
 
O IPES, após o golpe, transformou-se. Pôs à disposição do governo o “melhor do seu 
material humano”, que ocupou os postos-chaves do governo, quando se consolidou a 
“conquista” do Estado, conforme capítulo 2 da tese. O instituto passou a atuar em diversas 
frentes, mantendo a organização funcionando e fazendo uma obra “realmente 
democrática”432. 
Embora com a presença de ipesianos nos postos-chaves da nova administração, o IPES 
continuou dando assessoria ao governo. Conforme Harold Cecil Polland, “Concentrar nossos 
esforços no preparo de nossa equipe para o "aproach" do problema com o governo"433. 
Quando os problemas de grande magnitude surgiram no cenário nacional, eram estudados e 
analisados pelo Conselho Orientador do IPES. 
Portanto, transformou-se em um eficaz “órgão intermediário” na sugestão de 
mudanças e elaboração de diretrizes políticas voltadas para as articulações de interesses, 
mediando entre o Estado, onde tinha seus homens em cargos decisivos, e os interesses 
privados. Em 1964, o IPES sugeriu ao ipesiano ministro da Educação, Flávio Suplicy de 
Lacerda, a inclusão da cadeira de Educação Moral e Cívica (EMC) no currículo de todas as 
escolas primárias (atualmente ensino fundamental), considerada “imperativo para a formação 
da mentalidade da juventude brasileira”434. Essa temática foi muito debatida nas reuniões do 
IPES. Os ipesianos pensavam em programas de Educação Moral e Cívica para serem levadas 
a todas as escolas, principalmente às escolas primárias, pela sua importância simbólica. 
Embora o tema tenha sido importante sob o prisma da segurança nacional, e foi 
debatido na Exposição de Motivos nº 180, de 10 de dezembro de 1965, analisando os 
dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases, do ministro da Guerra, general Costa e Silva, para o 
 
432 Ata do IPES Reunião conjunta de 03.04.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
433 Ata do IPES CD de 06.10.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
434 Notícias do IPES (SP), junho 1964, nº 2. Acervo Paulo Ayres Filho – CPDOV/FGV. 
104 
 
presidente Castello Branco, sugerindo o revigoramento da Educação Moral e Cívica435, não 
foi adotada a cadeira. Mas foi baixado, em 12 de setembro de 1969, o Decreto-Lei nº 869, que 
a tornou obrigatória no currículo escolar, juntamente com a disciplina de Organização Social 
e Política Brasileira (OSPB). Ambas as disciplinas foram adotadas em substituição às 
matérias de Filosofia e Sociologia e ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do 
regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de 
informações factuais em detrimento da reflexão e da análise crítica.436 
Seus grupos de estudos passaram a dedicar-se à revisão de toda a legislação (federal e 
estaduais) com o objetivo de remover os entraves que dificultavam o crescimento da livre 
empresa437, bem como dar assessoria ao governo sempre que solicitado. Ainda em 1964, o 
IPES constituiu grupos de estudos, como o Grupo de Estudos sobre a Pecuária de Corte e o 
Grupo de Estudo do Imposto de Renda e Consignações, que produziram análises e sugestões, 
as quais eram encaminhadas à Presidência da República. 
Em 1966, o IPES preparou um trabalho sobre Créditos e Prazos Comerciais, sob o 
comando de Gilbert Huber, que sugeriu um novo sistema de prazos curtos para empréstimos 
com a criação das Obrigações Reajustáveis e Conversíveis, que fixavam um máximo de 60 
dias para as duplicatas.438 A mesma equipe de Huber preparou, anteriormente, o anteprojeto 
de lei sobre Títulos de Créditos, a qual foi aceita pelo governo439. O instituto colaborou com o 
governo no lançamento das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional440. 
Dando continuidade ao assessoramento ao governo, o IPES iniciou a Campanha de 
Educação Econômica, que consistia em estudar e selecionar matérias de divulgação 
econômica, dividida em quatro séries: Economia para todos, Temas da hora presente, 
Administração humana, Cadernos nacionalistas, que dão uma ideia da intensidade e da 
extensão da difusão realizada441. Os estudos foram realizados por autores estrangeiros e 
brasileiros no campo do pensamento liberal e da economia de mercado.442 
 
435 SOUZA, Maria Inês Salgado de. Estudo sobre o pensamento educacional das elites no Brasil. Dissertação 
(Mestrado em Educação). Fundação Getúlio Vargas, 1978. 
436 MELO, Francisco Egberto. O ensino de estudos sociais, EMC e OSPB e a resignificação da cultura cívica 
nacional nas práticas escolares em escolas de fortaleza durante o regime militar. ANPUH – XXIII Simpósio 
Nacional de História – Londrina, 2005. 
437 Relatório anual do IPES referente a 1968. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
438 Ata do IPES CO de 25.10.66. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
439 Ata do IPES CO de 19.12.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
440 Ata do IPES CD de 15.12.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
441 A revolução brasileira no mundo, s/d. acervo de Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
442Economia para todos: 
Livre empresa e desenvolvimento econômico (Ralph Husted) 
A Europa e os países novos em desenvolvimento 
105 
 
Dois meses após o golpe, em 09 de junho de 1964, foi criado, em São Paulo, por 
empresários, entre eles a maioria ipesianos, a Associação Nacional de Programação 
Econômica e Social (ANPES). A ANPES tinha como objetivo 
 
Realizar sondagens e estudos específicos que não só avaliassem permanentemente as 
políticas econômicas de governo como também sugerissem medidas e diretrizes 
através de um melhor entendimento da realidade investigada, tendo em vista, 
principalmente, instrumentalizar as classes dominantes para a organização do 
desenvolvimento econômico do Brasil, em seu processo de integração mundial.443 
 
Segundo Roberto Campos, em sua autobiografia, antes do governo Castello Branco, 
ele sugeriu aos empresários paulistas a criação de uma associação de pesquisas que pudesse 
fazer uma avaliação permanente das políticas econômicas do governo Goulart e formular 
alternativas e análise de perspectivas, Associação Nacional de Programação Econômica e 
Social (ANPES). Da ANPES saíram vários integrantes para cargos na administração, e se 
tornou uma “plataforma de decolagem para a vida pública”, que acabou ganhando a pilhéria 
de “Pesquisar na ANPES é o caminho mais curto para mandar em Brasília”.444 
Portanto, a ANPES foi um think tank de programação cujo foco de produção político-
ideológica seria a de eliminarpelo menos parte das dificuldades que a iniciativa privada 
enfrentava para se desenvolver, devido principalmente a falta de um projeto de Estado. 
Concentrava-se na formulação de visões de perspectivas da economia brasileira de curto 
 
Pleno Emprego, intervencionismo e inflação (F.A. Hayek) 
Monopólio e concorrência (Bradford B. Smith) 
Por que os salários compram cada vez menos (W. P. Krause) 
Temas da hora presente: 
Política monetária (Luis Montes da Oca) 
A propriedade fator imprescindível de processo (Alberto Benegas Lynch) 
Educação popular, fator primordial do desenvolvimento e da paz social (Mons. José Joaquim Salcedo) 
O problema da demografia nos países em desenvolvimento (Olavo Baptista Filho) 
Administração humana: 
A verdade sobre a revolução industrial (Ludwig Von Mises) 
Carta aos homens de empresa (Jacques Rueff) 
Teoria e prática da gerência nas nações em desenvolvimento (States M. Mead) 
As forças econômicas e sociais que influem no clima de administração (Enrique Sanches) 
Cadernos Nacionalistas: 
A infiltração comunista no Brasil (separata da revista “Este à oeste”) 
Os verdadeiros reacionários (Oscar Schvarzberg) 
Como lidar com os comunistas (Wilhelm Boepke) 
O árduo caminho da reforma agrária (José Setzer) 
Foram publicados também Continuísmo e comunismo (Glycon de Paiva), Se você fosse um trabalhador 
soviético... seria obrigado a trabalhar mesmo que não quisesse, Se você fosse um trabalhador soviético... a 
principal tarefa de seu sindicato seria fazer você trabalhar ainda mais, e Cartas a meu filho. 
443 ARANHA, Francisco Arantes. Tecnocracia e Capitalismo no Brasil num Estudo de Caso: A Associação 
Nacional de Programação Econômica e Social (ANPES) (1964-1967). Dissertação (Mestrado em História). 
Universidade Federal de Goiás, 2016, p. 14. 
444 CAMPOS, Roberto de Oliveira. op. cit., p. 607. 
106 
 
prazo, visando a organização e o controle dos processos produtivos e, ainda, a estabilização 
progressiva dos preços mediante a atuação racional do Estado na economia.445 
Em 1966, o conselho técnico administrativo da ANPES era formado por: Theodoro 
Quartim Barbosa (presidente), Adolfo Oliveira Franco*, Amador Aguiar*, Amaro Lanari Jr., 
Antonio Galotti, Ary Frederico Torres (vice-presidente diretoria), Augusto Trajano de 
Azevedo Antunes, Caio de Alcântara Machado*, Constantino Campos Fraga*, Edmundo de 
Macedo Soares e Silva (vice-presidente diretoria), Emmanoel Whitaker*, Ermelino 
Matarazzo* (vice-presidente diretoria), Euclides Aranha Neto, Eudoro Vilela, Fernando 
Alencar Pinto, Fernando M. de Goes*, Fernando Machado Portela, Francisco de Paula da 
Costa Carvalho*, Gastão Eduardo de Bueno Vidigal (vice-presidente diretoria), Glycon de 
Paiva Teixeira, Herbert Victor Levy, Irineu Bornhausen, Iris Miguel Rotundo*, João 
Adhemar de Almeida Prado (vice-presidente diretoria), João Alberto Leite Barbosa, João 
Baptista Leopoldo Figueiredo, João Haynel*, Jorge Batista da Silva*, Jorge Wallace 
Simonsen*, José Bulhões Pedreira, José Luiz Magalhães Lins*, José Mindlin, Júlio de 
Mesquita Netto, Juracy Magalhães, Justo Pinheiro da Fonseca, Lélio Toledo Piza e Almeida 
Fº (vice-presidente financeiro), Leônidas Lopes Bório, Lucas Lopes (vice-presidente 
diretoria), Lucas Nogueira Garcez, Luiz Dumont Villares, Luiz de Moraes Barros, Luiz 
Simões Lopes (vice-presidente diretoria), Manoel Nascimento Britto*, Mário Henrique 
Simonsen, Moysés Vellinho, Oswaldo Miguel Frederico Ballarin, Paulo de Almeida Barbosa 
(vice-presidente diretoria), Paulo Ayres Filho, Paulo Reis Magalhães, Raphael de Souza 
Noschese (vice-presidente diretoria), Roberto de Oliveira Campos, Rubem Bertha, Ruy Castro 
Magalhães*, Ruy Gomes de Almeida, Sebastião Ferraz Camargo Penteado*, Sergio Pinho 
Mellão (presidente diretoria), Severo Fagundes Gomes, Trajano Pupo Netto, Victor da Silva 
Alves Filho.446 Os poucos nomes dos empresários marcados com asteriscos não consta que 
tenham passado pela órbita do IPES, o que mostra a hegemonia dos ipesianos na associação. 
A relação mostra membros que estavam ocupando cargos públicos, como o ministro Roberto 
Campos e vários outros que se encontravam na direção das empresas estatais, conforme o 
capítulo 2. 
O IPES realizou encontros e palestras, na sede do instituto, com representantes de 
empresas e autoridades federais, tais como os ipesianos Roberto Campos, Octávio Gouvêa de 
Bulhões, Juarez Távora, Mauro Thibau, Ney Braga, Raymundo de Brito, José Garrido Torres, 
 
445 ARANHA, Francisco Arantes. op. cit. 
446 ANPES Associação Nacional de Programação Econômica Social. Acervo de Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV. 
107 
 
Denio Chagas Nogueira, Luiz Moraes e Barros, Orlando Travancas e Eudes de Souza Leão. 
Os ministros, membros do Estado restrito, participaram dos eventos do IPES, quando davam 
esclarecimentos sobre as políticas do governo, e os empresários, por sua vez, conduziam 
sugestões com vistas à melhoria do sistema econômico e social e a defesa da livre 
iniciativa.447 O que mostra que o IPES agia como um fórum de debates para lobbying das 
articulações de interesses. 
Fiel aos princípios e ideias que presidiram a sua criação, isto é, moldar a visão dos 
setores empresariais sobre questões econômicas e políticas, o IPES continuou a produzir 
publicações e a promover seminários e cursos448 para a preparação ideológica dos 
empresários, por meio do Instituto de Educação Democrática (IED) e do Curso Superior de 
Estudos Financeiros (CURSEF). 
O CURSEF foi criado para acabar com o “analfabetismo econômico”449 por meio da 
formação e aperfeiçoamento de nível superior e executivo, abrindo a possibilidade de os 
participantes poderem atuar nos setores administrativo e financeiro das grandes empresas. 
Em novembro de 1964, foi realizado, em São Paulo, com o patrocínio da Universidade de São 
Paulo e co-patrocínio de todas as entidades de classe de São Paulo450, o congresso 
internacional de economia O governo e a empresa privada no processo de desenvolvimento. 
Os debates tinham como objetivo 
 
Esclarecer o verdadeiro papel do Estado frente às necessidades de desenvolvimento 
do país e o papel do Estado na criação de condições e estímulos para a livre 
iniciativa, a fim de que as empresas privadas pudessem se transformar na força 
criativa e vivificadora da economia brasileira.451 
 
 
Participaram do congresso os seguintes economistas: Antonio Delfim Neto, Benjamin 
Higgins, Clemens Andreae, Ettore Lolli, Geraldo Dannemann, Ingvar Svennilson, José Pinto 
Antunes, Laerte Almeida de Moraes, Mario R. Micele, Mikio Matsumoto, Pierre Bernard 
 
447 Ata do IPES CD RJ de 28.04.64. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
448 Para os cursos e palestras no Brasil trouxeram conferencistas estrangeiros, tais como: Eudócio Ravines 
(Peru), escritor e líder anticomunista latino-americano; Georges Albertini (França), diretor de Est & Ouest; 
André Aumonier (França), membro do Conselho de Planejamento Econômico da França; Hermann Goergen 
(Alemanha), diretor do Instituto Teuto-Brasileiro de Bonn; Jack Stewart, diretor da Divisão de Assuntos 
Especiais e Alberto de La Veja, diretor da Divisão Latino-Americana do Radio Liberty Committee, de Munich. 
449 Relatório de Atividades do IPES, 1968. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
450Associação Comercial de São Paulo, Associação Nacional de Programação Econômica e Social, Bolsa de 
Mercadorias de São Paulo, Bolsa Oficial de Valores, Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo, 
Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Federação das 
Indústrias do Estado de São Paulo, Ordem dos Economistas deSão Paulo, Secretaria do Estado para Economia e 
Planejamento, Sindicato dos Bancos do Estado de São Paulo e Sociedade Rural Brasileira. 
451 Relatório do IPES de novembro de 1964. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
108 
 
Cousté, Roberto de Oliveira Campos e Wolfgang Hirsch Weber. Os anais do congresso foram 
entregues ao presidente da República e ao Ministério de Economia e Planejamento, que 
serviriam para o “correto equacionamento de uma questão vital para o desenvolvimento 
econômico e social do Brasil: a cooperação do governo e da livre empresa”. 
No mesmo programa de trabalho, o IPES criou um informativo mensal intitulado 
Notícias do IPES com a finalidade de manter os seus contribuintes e demais interessados a par 
das atividades do instituto. Publicou, em 1964, diversos folhetos com assuntos de interesse 
para continuar moldando os empresários no seu ideário, tais como Continuísmo e Comunismo, 
de autoria do ipesiano Glycon de Paiva, Se você fosse um trabalhador soviético... seria 
obrigado a trabalhar mesmo que não quisesse, e Cartas a meu filho.452 Patrocinou no 
Instituto Gallup do Brasil a realização de diversos inquéritos de opinião pública sobre a 
participação popular na reconstrução nacional. Investiu em atividades culturais, como cinema 
(O homem e sua liberdade social), e enriqueceu o Centro de Bibliotecnia. 
Com a “vitória de 31 de março”, o IPES decidiu que “nenhuma tarefa seria mais 
importante do que promover, por todos os meios de comunicação, a difusão exata do que 
acabara de suceder no Brasil”. Tornou-se “uma infatigável máquina de difusão das ideias do 
novo governo brasileiro”, preocupado em desfazer as ondas de descrédito provocadas pelos 
“conspiradores internacionais a serviço dos totalitarismos e empenhados em apresentar ao 
mundo uma imagem desfigurada da Revolução Brasileira”. Para esclarecer o público sobre as 
atividades do governo, Walter R. Poyares recomendou a criação da Voz da Revolução453. 
Gilbert Huber expôs sobre o caso da criação de um órgão ou agência de notícias para orientar 
a opinião pública. Disporia de especialistas que fariam quarenta ou cinquenta programas de 
televisão, uma vez por semana, por meio de filmes e videotapes, que seriam projetados em 
todas as estações de TV, escolas, fábricas, associações, etc454. 
Suas versões objetivas e documentos dos acontecimentos foram enviados para os mais 
influentes órgãos de opinião pública no Brasil, e no exterior a milhares de entidades de classe, 
congressos internacionais, empresas, universidades, praticamente em todo o mundo 
ocidental.455 
Seus líderes promoveram reuniões, conferências, palestras e seminários na Europa, na 
América Latina e nos Estados Unidos com o objetivo defender o golpe e o governo Castello 
 
452 Relatório do IPES, 1964, Generalidades – acervo de Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV 
453 Ata do IPES CD de 16.05.64. 
454 Ata do IPES CD de 03.11.64. 
455 Documento: A revolução brasileira no mundo, s/d - acervo Paulo Ayres – CPDOC/FGV 
109 
 
Branco e, ainda, tranquilizar os empresários estrangeiros no sentido de que a “Revolução” 
criou um clima econômico favorável para novos investimentos.456 
Com o objetivo de esclarecer a opinião pública norte-americana, os empresários 
concederam várias entrevistas à imprensa, com a finalidade de explicar o que fora a 
“Revolução” de 31 de março, e 
 
desfazer a impressão em alguns círculos de que o poder no Brasil fora empolgado 
pelos militares através de um golpe de Estado, quando, na realidade, foi uma 
revolução da classe média, de efeitos bem mais profundos e extensos do que 
imaginavam tanto os homens de negócios como o povo americano, e causada não 
apenas pela forte infiltração comunista no país, mas, também, e sobretudo, pela 
corrupção desenfreada que minava o governo anterior, agravando, de dia para dia, a 
calamitosa inflação, que ameaçava lançar o Brasil no caos.457 
 
Os empresários explanaram os planos do novo governo para o futuro e deixaram claro 
“que este não ascendera ao poder como uma ditadura militar sequiosa de mando e sim com o 
objetivo de revitalizar, de maneira mais rápida possível, a vida do país”.458 
A primeira viagem do empresariado foi para os Estados Unidos, em meados de 1964, a 
convite do Business Group for Latin American, entidade que congregava as empresas norte-
americanas que mantinham relações comerciais com o Brasil. Viajaram Paulo Ayres Filho, 
Paulo Reis Magalhães, Luiz Dumont Villares, John Cotrim e Helio Cecil Polland a convite de 
David Rockefeller (presidente do Banco Chase, de Nova Iorque), “líder de um grupo de 
homens de negócio interessados na América Latina”, para discutir as implicações da recente 
“Revolução” brasileira sobre os investimentos privados. Na ocasião, foi exibida farta 
documentação sobre o “caso revolucionário brasileiro”, no sentido de eliminar reservas 
subsistentes quanto ao caráter fundamental “democrático do movimento de 31 de março”.459 
Na reunião, de caráter privado, coordenada pelo Chase Manhanttam Bank e pelo First 
National City Bank of New York, foram feitas explanações seguidas de perguntas pelos 65 
empresários norte-americanos que participaram do encontro.460 
Em julho de 1964, no Center for Strategic Studies, da Georgetown University, em 
Washington, Paulo Ayres Filho participou do seminário Importância Estratégica da América 
Latina. O evento contou com a participação do Almirante Arleigh Burke (diretor do Centro), 
 
456 Notícias do IPES, nº 3, julho 1964, SP, p. 3. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
457 Idem. 
458 Idem. 
459 Revista Pinheiros Farmacêuticos – maio/agosto de 1964, p. 2 – Acervo de Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV. Para saber mais sobre as reuniões dos empresários nos Estados Unidos, ver GONÇALVES, 
Martina Spohr. American way of business. op. cit.. 
460 Notícias de O Estado de S. Paulo de 29.05.64 – Acervo de Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
110 
 
Thomas Mann461 (secretário-assistente de Estado para Negócios Interamericanos e 
coordenador da Aliança para o Progresso), Miguel Alemán (ex-presidente do México), Pedro 
Beltrán (ex-premier do Peru), Alberto Benegas-Lynch (Centro de Estudios sobre La Libertad, 
de Buenos Aires), Willian Sanders (secretário adjunto da OEA), Enrique Tejera Paris 
(embaixador da Venezuela em Washington) e Eudoro Ravines (escritor e jornalista).462 Na 
ocasião, o ipesiano aproveitou para falar sobre a “Revolução” e os objetivos do governo 
Castello Branco.463 
Em 1964, os ipesianos Haroldo Cecil Polland, José Luís Bulhões Pedreira, Paulo Reis 
de Magalhães, Luiz Villares, João Reginaldo Cotrim, Paulo Ayres Filho e Israel Klabin 
viajaram para os Estados Unidos, por conta própria, a fim de entrarem em entendimentos com 
os empresários daquele país e explicar-lhes, como também à opinião pública norte-americana, 
o que foi a “Revolução” brasileira464. 
Os ipesianos estiveram em contato constante com os seguintes empresários, alguns 
contribuíram financeiramente com o IPES: Hulbert Aldrich (Vice-Presidente da Chemical 
Bank New York Trust Co.), Richard Aldrich (Vice-Presidente da International Basic 
Economy Corp.), William Barlow (Presidente da Vision Inc.), Henry Borden (Presidente da 
Light & Power Company), John Buford (Vice-Presidente da Hanna Mining Company), 
Norma Carignan (Vice-Presidente do Grupo Latino-Americano, W. R. Grace Co.), Sam 
Carpenter (Gerente Geral do Departament Internacional da E. I. Du Pont de Nemours & 
Company), Robert Christopher (Redator-Chefe da Newsweek Magazine Internacional), John 
T. Connor (Presidente do Merck & Company), Harry Canover (Assistente executivo do 
Presidente da CICYP), Alphonse de Rosso (Coordenador para a América Latina da Standard 
Oil Company), Richard Fenton (Presidente da Pfizer International), Leo Fernandes(Vice-
presidente da Merck & Company), James R. Greene (Vice-Presidente da Manufacturers 
Hanover Trust Company), Francis Grimes (vice-presidente do Chase Manhattan Bank), 
Clarence Hall (Redator-Chefe da Readers Digest Association), Philip Holmann (Presidente da 
 
461 Thomas Mann participou da Conferência em Washington, convocada pelo presidente Lyndon B. Johnson 
(1963-1969), em março de 1964. O discurso de Mann deu origem a “Doutrina Mann”, que traçara uma política 
pela qual os Estados Unidos “não mais procurariam punir as juntas militares por derrubarem regimes 
democráticos”, diferentemente da política de Kennedy que negava relações diplomáticas e ajuda econômica aos 
regimes militares recém criados que não garantisse o restabelecimento do governo democrático. Mann destacou 
quatro objetivos da política dos Estados Unidos na América Latina: apoio ao crescimento econômico, proteção 
dos investimentos norte-americanos, não intervenção e oposição ao comunismo. PARKER, Phyllis R. 1964: o 
papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de maço. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977, p. 88. 
462Jornal Pinheiros Farmacêuticos, maio/agosto de 1964, p. 2. Acervo de Paulo Ayres Filho – CPDOC/FGV. 
463 Idem. 
464 Boletim do IPES, abril/maio, 1964, pp. 24-25. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
111 
 
Johnson & Johnson International), Edgar Kaiser (Presidente das Indústrias Kaiser), Donald 
Kendall (Presidente da Pepsi-Cola Company), Francis Mason (Vice-Presidente do Chase 
Manhattan Bank), S. Maurice McAshan Jr. (Presidente da Anderson Clayton), McCullough 
(Presidente da General Electric do Brasil), George Moore (Presidente do First National City 
Bank) e David Rockefeller. 465 
O grupo brasileiro foi ainda recebido na Inter American Council, em reunião com a 
presença de 120 homens de negócios dos Estados Unidos. Visitou, em Washington, Thomas 
Mann, subsecretário de Estado para a América Latina; W. W. Rostow, representante dos EUA 
na recém-criada Comissão Interamericana para a Aliança Para o Progresso; embaixador 
Ellsworth Runker e George Woods, presidente do Banco Mundial, para aos quais explicaram 
os fundamentos da “Revolução” brasileira, seus objetivos e as “profundas modificações que 
esta introduziu na vida nacional, alijando a corrupção e a subversão”.466 
O IPES também intensificou o seu programa de Intercâmbio Internacional com 
entidades empresariais, governamentais e universitárias do Brasil e do exterior. No projeto de 
intercâmbio, o IPES realizou duas pesquisas por solicitação do Deutsche industrie Institut, de 
Colônia, na Alemanha, sobre a inflação brasileira e a evolução dos salários reais nos últimos 
vinte anos. Estabeleceu acordos para intercâmbio cultural com a United States Chamber of 
Commerce, de Washington, para organização de programa de divulgação e prática de 
democracia, e com a Dividendo para La Comunidade, de Caracas, Venezuela, com o mesmo 
objetivo. Com o Committee for Economic Development, de Nova Iorque, estabeleceu projeto 
para realização de estudos e pesquisas socioeconômicas. Com a Fundation Industrie-
Université, de Bruxelas, e com o Instituto Teuto-Brasileiro, de Colônia, da Alemanha, 
estabeleceu programas de aproximação de empresários e estudantes, no Brasil. E finalmente 
na Feira de Nova Iorque o IPES contribuiu para o Hall of Free Enterprise, organizado pela 
American Economics Foundation. 467 
 Foram realizados, com a cooperação do IPES, seminários sobre o Brasil no Instituto 
Universitário de Altos Estudos Internacionais, em Genebra (Suíça), no Instituto Teuto-
Brasileiro, em Colônia (Alemanha), no Centro de Produttivitá, de Roma (Itália), na 
Convenção Anual da American Bar Association, de Nova Iorque (Estados Unidos), e na 
Foudation for Economic Education, em Huston (Estados Unidos). 
 
465 Boletim Informativo, nº 25, agosto de 1964, p. 24 – Matéria: Brasil – EUA: Encontro de empresários. Acervo 
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
466 Notícias do IPES, nº 3, julho de 1964, SP. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
467 Documento: A revolução brasileira no mundo, s/d - acervo Paulo Ayres – CPDOC/FGV. 
112 
 
 Continuaram a vigorar convênios com as seguintes entidades culturais e cívicas: o 
Instituto de Formação Social, a Campanha de Educação Cívica, a Sociedade de Cultura 
Brasileira – Convívio, o Instituto Brasileiro de Administração de Empresas, o Instituto 
Universitário do Livro, a União Cívica Feminina, o Centro de Orientação Social, Campanha 
de Educação Cívica, Movimento Universitário de Desfavelamento, Curso de Ciências Sociais 
e Políticas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de 
Campinas. E celebrado novos convênios com o Centro Latino Americano de Estudantes e o 
Instituto Brasileiro de Administração de Empresas. Continuou patrocinando o Instituto Gallup 
do Brasil para a realização de diversos inquéritos de opinião pública sobre a participação 
popular na obra de reconstrução nacional empreendida pela “Revolução” brasileira.468 
 O IPES deu continuidade às atividades culturais e promocionais de “divulgação 
democrática”; em cinema, lançou o filme O homem e sua liberdade social, em 1964; em 
divulgação, estruturou o Serviço de Divulgação e Relações com a Imprensa; e ainda 
enriqueceu a biblioteca, que tinha cerca de 1.067 obras.469 
 
1.7. Encerramento das atividades do IPES 
 
Ajudar a manter o IPES nada mais é do que cumprir com o mais elementar dever de 
quem tem consciência de suas responsabilidades nos destinos do país.470 
 
O IPES pode orgulhar-se de ter desempenhado papel decisivo na arregimentação 
civil que determinou a revolução de 31 de março de 1964471 
 
O IPES pode orgulhar-se da folha de serviços à Pátria graças à conjugação dos 
esforços, da efetiva colaboração, da aplicada inteligência e coragem, do apoio 
intelectual e material de tantos brasileiros ilustres civis e militares. A satisfação de 
repassarmos na memória tais profícuos e patrióticos trabalhos, no integral 
cumprimento dos objetos do IPES.472 
 
 As citações acima dizem respeito ao papel do IPES no golpe de 1964. Porém, o 
instituto começou, em 1967, a apresentar problemas financeiros e de evasão de associados, 
que levaram ao encerramento de suas atividades. Em São Paulo, em 1967, o IPES passou a 
hibernar e fechou, em 1968. A seção do Rio de Janeiro durou um pouco mais, fechando as 
portas em 1972. 
 
468 Documento: A revolução brasileira no mundo, s/d acervo Paulo Ayres – CPDOC/FGV. 
469 Idem. 
470 Ata do IPES de reunião de diretoria, 1968. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
471 Ata do IPES Assembleia geral ordinária, SP, de 29.03.67. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES), Arquivo Nacional. 
472 Ata de reunião do IPES de 30.06.71. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
113 
 
 Em São Paulo, os ipesianos começaram a apontar as defecções de muitos associados e 
o fechamento de algumas entidades subvencionadas pelo IPES. Em reuniões, atribuíram à 
“Revolução” pela deserção, pois gerou uma convicção de que o país estava salvo das 
ideologias e dos grupos de pressão contrários à liberdade e à economia de mercado. Indicaram 
que o sentimento de alívio, “pós-revolucionário”, acabou por gerar um “descuido à vigilância 
que deveria ser sempre exercida”. Pontuaram que parecia, para muitos empresários, que não 
mais se justificava a ajuda financeira que prestaram ao IPES e a outras entidades congêneres. 
Porém, os ipesianos acreditavam que algumas vigilâncias deveriam continuar frente “à 
subversão que não havia sido erradicada, e nem fortalecida a democracia”. Nesse momento, 
ainda tentaramuma reorganização com a criação de cursos e debates para esclarecimento dos 
problemas nacionais.473 
 Em abril de 1967474, Paulo Ayres Filho propôs que, em função do ciclo vicioso que se 
encontrava o IPES, “pouco fazia por não ter dinheiro e não atraía recursos porque pouco 
fazia”, reorganizar o IPES-SP, com vista ao trabalho de angariar fundos. Refez a composição 
da diretoria apenas com empresários e profissionais liberais475, mas encerrou suas atividades 
no ano seguinte. 
 No Rio de Janeiro, o IPES continuou ainda respirando, promovendo alguns cursos e 
debates, e conseguindo alguns financiamentos para as suas promoções. Em 1971, os 
problemas de caixa se agravaram com “agudo agravamento de pobreza de capital de giro” e a 
escalada inflacionária476 e com os problemas imobiliários, que vinham se arrastando. 
 
473 Ata do IPES-SP de 29.03.67. Acervo Paulo Ayres– CPDOC/FGV. 
474 Carta de Paulo Ayres Filho a Glycon de Paiva, 06.04.67 – Acervo Paulo Ayres– CPDOC/FGV. 
475 A diretoria: Paulo Ayres Filho (presidente), Paulo Reis Magalhães (vice-presidente), Gilberto Waak Bueno 
(tesoureiro), Antonio de Souza Barros, David Augusto Monteiro, Eduardo Pacheco e Silva, João Baptista Ismard 
e José Pedro Galvão de Souza (diretores), Adalberto Beuno Neto, Alceu Martins Parreira, Alfredo Busaid, 
Antonio Carlos Pacheco e Silva, Antonio Lopes, Antonio de Sousa Barros, Benedito Ferri de Barros, Daniel 
Machado de Campos, David Augusto Monteiro, Decio Fernandes Vasconcellos, Eduardo Garcia Rossi, Eduardo 
Pacheco e Silva, Eduardo Ribeiro, Ernesto Leme, Eulálio Vidigal Pontes, Emil Farhat, Felipe Arno, Fernando 
Alencar Pinto, Gastão Mesquita Filho, Gilberto Waak Bueno, Glycon de Paiva Teixeira, Henning Alberto 
Boilesen, Humberto Monteiro, João Baptista de Figueiredo, João Baptista Isnard, João Soares do Amaral Neto, 
José Bonifácio da Silva Jardim, José Carlos Bosisio, José Luiz de Almeida Nogueira Junqueira Filho, José Luiz 
de lmeida Mello, José Martins Pinheiro Neto, José Pedro Galvão de Souza, Lélio Toledo Piza e Almeida Filho, 
Luis Cassio dos Santos Werneck, Luiz Dumont Villares, Marcio Garneiro, Mário Germano, Mário Toledo de 
Morais, Estalino Pontual, Nivaldo Coimbra de Ulhoa Cintra, Octávio Marcondez Ferraz, Osvaldo Castro Santos, 
Paulo Arthur Nascimento, Paulo Ayres Filho, Paulo Lacerda Quartim Barbosa, Paulo Reis de Magalhães, Paulo 
Salim Maluf, Roberto Pinto de Sousa, Rubens Rodrigues dos Santos, Sergio Brotero Junqueira (conselho 
orientador) 
476 Ata de reunião de diretoria do IPES, de 14.04.71. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
114 
 
A Cia Imobiliária Metropolitana, locadora das salas da sede do IPES, pleiteou reajuste 
de 300%, em 1966, e o instituto ofereceu 120%.477 Na época da renovação do contrato, as 
divergências entre as duas partes se acentuaram, quando a locadora promoveu uma ação de 
despejo.478 Com sentença desfavorável na Justiça, o instituto desistiu, em agosto de 1967, do 
recurso em segunda instância.479 
Durante o processo com a imobiliária, os ipesianos resolveram adquirir um imóvel em 
um edifício em construção. Desenvolveram uma campanha entre seus sócios, “com seu 
auxílio, o IPES terá sede própria”, para arrecadar dinheiro para o pagamento. Portanto, 
acumularam as despesas do processo com a imobiliária e a compra de um imóvel, para o qual 
não tinham recursos, somados à dificuldade de aumentar suas contribuições, com a evasão de 
associados e a falta de novos. Em 1968, consta que eram apenas “2 ingressos para 5 
afastamentos”. Percebendo as dificuldades, tentaram vender os direitos adquiridos da nova 
sala480, mas acabaram por desistir. 
Os pesados compromissos assumidos provocaram atrasos no pagamento do aluguel 
das salas e das parcelas da nova aquisição, quando o IPES tomou um empréstimo, em 1971, 
no Banco Crédito Real de Minas.481 A essas despesas se somaram a dificuldade para saldar a 
folha de pagamento dos funcionários, com o aumento dos salários, motivo pelo qual foram 
dispensadas duas secretárias482. 
No mesmo ano, os ipesianos começaram a desocupar algumas salas do Edifício 
Avenida Central nº 156 – Centro – Rio de Janeiro (RJ), vender parte do patrimônio, como as 
quatro salas no Ed. Cidade do Rio de Janeiro, onde se instalaria, e a dispensar mais 
funcionários. Em junho de 1971, o IPES foi desmobilizado, ficando apenas um funcionário 
para a confecção do balanço referente ao primeiro semestre de 1971, do Parecer do Conselho 
Fiscal e as publicações do Balanço, do Edital de Convocação.483 Em 1972, o IPES-GB 
encerrou suas atividades em definitivo. 
Em 1978, empresários tentaram reativar o IPES. Em 1982, recriaram uma organização, 
instigada pelo Consejo Interamericano de Comercio y Producción (Cicyp), das “elites 
 
477 Relatório de Atividades do IPES-GB, 1966. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
478 Atas do IPES-GB CD de 04.08.66. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
479 Ata do IPES-GD CD de 18.08.67. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
480 Ata do IPES-GB CD de 03.11.67. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
481 Ata do IPES-GB CD de 10.03.71. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo Nacional. 
482 Relatório de Atividades do IPES-GB, 1966. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), Arquivo 
Nacional. 
483 Ata do IPES-GB CD de 02.06.71 e 30.06.71. Acervo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), 
Arquivo Nacional. 
http://www.cicyp.com.ar/v2/
115 
 
orgânicas”484 brasileiras nos moldes das novas estruturas de poder dos Estados Unidos e da 
Europa. Seus motivos eram o problema da estatização, que significa o Estado-empresário 
tomando o lugar da produção de bens e serviços e a penetração dos ideólogos contrários à 
livre iniciativa. Mas aos olhos de Jorge Oscar de Mello Flores, o empresariado estava 
“fragmentado por interesses setoriais e regionais, que procuram afirmar-se uns contra os 
outros. Não há coesão ideológica ou articulação política”485. O projeto de articulação 
empresarial foi arquivado. 
O empresário Paulo Ayres Filho, em depoimento ao Programa de História Oral do 
Exército, em 2001, afirmou que não imaginava o retorno do IPES, mas a volta de todo o seu 
trabalho, “o caminho será copiar o que o Instituto fez, por meio da atividade política – com P 
maiúsculo – de empresários, profissionais liberais e artistas”. Anos depois do encerramento 
das atividades do IPES, Ayres Filho, quando voltou às atividades de panfletário, foi 
procurado486 para formar um Instituto Liberal (IL), mas não aceitou. Paralelamente, 
acrescenta Ayres Filho, surgiu um IL no Rio de Janeiro. Um empresário487 reuniu o pessoal 
do IPES e outras pessoas, explicou Paulo Ayres, que queriam trabalhar e conseguiu formar 
um Instituto Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica. Em São 
Paulo foi formado outro IL, do qual o empresário foi presidente do conselho consultivo. Paulo 
Ayres esclareceu que existam oito Institutos Liberais, os quais eram semelhantes ao IPES 
quanto à doutrinação, mas “não estão envolvidos em política e nem em pancadaria”, como o 
IPES. 488 
Tudo indica que o IL do Rio de Janeiro, citado por Paulo Ayres, se trata do Instituto 
Liberal criado, em 1983, pelo empresário e ativista liberal Donald Stewart Jr489. O IL ainda 
 
484 Conceito cunhado por René Dreifuss que designa um conjunto militante de intelectuais orgânicos, do 
arcabouço teórico de Gramsci, ligados a uma fração de classe, que atua como agente político especializado no 
planejamento estratégico e na implementação de uma ação política de classe. Seus esforços e organizações a que 
pertenciam eram sincronizadas e coordenadospelo IPES ou apoiaram diretamente a sua campanha. DREIFUSS, 
Rená Armand. 1964 A conquista do Estado. op. cit. p. 227. 
485 DREIFUSS, René Armand. A internacional capitalista. op. cit. p. 260. 
486 O documento não informa por quem foi procurado. 
487 No documento não consta o nome do empresário. 
488 1964 – 31 de março: o movimento revolucionário e sua história, pp. 388-389. Acervo de Paulo Ayres Filho – 
CPDOC/FGV. 
489 Engenheiro civil, empresário, intelectual, Donald Stewart Jr. criou o Instituto Liberal com o apoio de um 
pequeno número de amigos do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Presidiu o Conselho de Mantenedores 
em diversos períodos. Após a criação do IL do RJ, mais sete instituições análogas foram inauguradas em seis 
estados e no Distrito Federal. A iniciativa da criação do primeiro IL se deveu à percepção de Donald da 
“necessidade de se divulgar no País, de maneira sistemática, o pensamento liberal, como alternativa à 
avassaladora presença das ideias estatizantes, principalmente nas escolas, na mídia e no mercado livreiro”. A 
alternativa liberal chegou ao Donald após a leitura de Mises e Hayek. A iniciativa de criar o IL do RJ foi 
inspirada em diligência idêntica do empresário inglês Anthony Fisher, que fundou em Londres, por sugestão de 
Hayek, o Institute of Economic Affairs. Criado em 1955, o IEA viria a ter muita influência no governo da 
Thatcher. Fisher confidenciara a Hayek que desejava fazer algo “pela liberdade em seu país e para tanto pensava 
116 
 
existe. Nos moldes do IPES é mantido por doações e patrocínios de pessoas físicas e jurídicas, 
tais como Amil Assistência Médica Internacional, Arno, Banco Bamerindus, Banco Bozano 
Simonsen, Banco Fenícia, Bombril, Bradesco, Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, 
Companhia Antártica Paulista, Citibank, Companhia Nestlé Indústria e Comércio, Construtora 
Noberto Odebrecht, Eucatex Indústria e Comércio, Indústrias Gradiente, Rhodia, Indústrias 
Votorantim, White Martins, TV Globo, Unibanco Corretora de Seguros, Varig, Vasp e Xerox 
do Brasil.490 No site oficial do IL491 não constam os nomes das empresas patrocinadoras, 
apenas seus parceiros: Rede Liberdade, Atlas Network, Instituto Ling e Blog Rodrigo 
Constantino. Constantino é presidente do conselho e membro fundador do Instituto Millenium 
(IMIL). 
Tal como o IPES, o IL promove conferências e seminários em todo o país. Foram 
palestrantes: Antônio Delfim Neto (ex-IPES), Francisco Dornelles, Gustavo Krause, Maílson 
da Nobrega, Marcílio Marques Moreira, Márcio Moreira Alves, Osíris Silva, Nelson Jobim, 
Roberto Campos (ex-IPES), James Buchanan, Israel Kirzner e Jesus Huerta de Soto (ambos 
da chamada escola austríaca de economia).492 Fez parte da equipe o ipesiano Og Leme. 
O IPES criou um modelo na elaboração de um projeto de classe. Várias organizações 
empresariais, como o atual Instituto Millenium, remetem ao IPES, dadas as diferenças 
temporais. Busca promover os valores e princípios da “liberdade individual, propriedade 
privada, meritocracia, estado de direito, economia de mercado, democracia representativa, 
responsabilidade individual, eficiência e transparência”493. 
 
 
em militar na política partidária”. “Não”, aconselhou-o Hayek, “a sociedade só mudará de rumo se houver 
mudança no campo das ideias. Primeiro você tem que se dirigir aos intelectuais, professores e escritores, com 
uma argumentação bem fundamentada. Será a influência deles sobre a sociedade que prevalecerá e os políticos 
seguirão atrás.” Foi o que fez então Tony Fisher, incentivando Donald a seguir-lhe os passos. O Instituto Liberal 
já publicou mais de oitenta livros e grande quantidade de folhetos, panfletos e estudos setoriais, além da carta 
periódica NOTAS que se destina à análise de projetos de lei. O próprio Donald se envolveu nesse afã publicitário, 
a despeito do pouco tempo que lhe restava das suas atividades empresariais: traduziu para o português as 
novecentas páginas do livro Ação humana, de Mises, escreveu O que é o liberalismo?, A organização da 
sociedade segundo uma visão liberal, o ensaio A lógica da vida, e seu último trabalho, uma tradução comentada 
de Intervencionismo – uma análise econômica, de Mises. O ativismo liberal de Donald no Brasil era conhecido e 
“admirado no exterior”, fato que o levou a associar-se a várias organizações de âmbito internacional, como a 
Mont Pèlerin Society, o CATO Institute, a Heritage Foundation, a Atlas Foundation, o Fraser Institute, o Liberty 
Fund e o Institute of Economic Affairs. Donald mantinha ainda relações frequentes com instituições liberais 
latino-americanas na Argentina, Chile, Peru, Venezuela, México e Guatemala. Disponível em 
<https://www.institutoliberal.org.br/biblioteca/galeria-de-autores/donald-stewart-jr/>. Acessado em: 17.02.18. 
490 PAIVA, Márcia. Instituto Liberal. In: ABREU, Alzira Alves de et al (coords.). Dicionário Histórico-
Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 
491 Disponível em <https://www.institutoliberal.org.br/>. Acessado em: 02.02.2018. 
492PAIVA, Márcia. Instituto Liberal. op. cit. 
493 Site oficial do Instituto Millenium. Disponível em <http://www.institutomillenium.org.br/institucional/quem-
somos/>. Acessado em: 02.10.17 
https://www.institutoliberal.org.br/biblioteca/galeria-de-autores/donald-stewart-jr/
https://www.institutoliberal.org.br/
http://www.institutomillenium.org.br/institucional/quem-somos/
http://www.institutomillenium.org.br/institucional/quem-somos/
117 
 
1.8. O governo de Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967) 
 
A meta do IPES foi alcançada, efetivamente, pela via da intervenção militar-
empresarial com o golpe de Estado, em 1º de abril de 1964. Do seu ponto de vista, suas ideias 
e seus trabalhos expressavam a vontade dos brasileiros, e permitiram que as Forças Armadas 
viessem a melhorar o que estava acontecendo no país. As Forças Armadas, conforme Paulo 
Ayres Filho, “não podiam ir contra a vontade do povo, mas podiam ir contra o Estado”, e o 
IPES teve uma participação fundamental na época494. Segundo o empresário ipesiano Haroldo 
Cecil Polland, “foi a fé das Forças Armadas que nos levou à vitória” 495. 
Portanto, o golpe foi obra de frações da burguesia brasileira em parceria com alguns 
setores das Forças Armadas e com o capital internacional, que o financiava para suas ações. 
Sob a tutela das Forças Armadas, resgata-se a unificação entre a ação governamental e a 
vontade empresarial, configurando um espaço econômico que favorece a iniciativa privada e o 
capital, para crescer e salvaguardar os seus interesses e vantagens. 
Com a instauração do regime militar foi implantado o que O’Donnell conceituou de 
Estado Autoritário-Burocrático (AB), ou a consequência de uma reação amedrontada diante 
da ameaça à sobrevivência dos parâmetros capitalistas básicos da sociedade. Foi dado pela 
aproximação das Forças Armadas e a alta burguesia, isto é, frações superiores da burguesia 
local e do capitalismo transnacional, que se apoiam mutuamente e têm como afinidades o 
domínio econômico e a coação.496 
O Estado AB, segundo O’Donnell, tem como característica: 1) financiador e 
organizador da dominação exercida por meio da estrutura de classe subordinada às frações 
superiores de uma burguesia altamente oligopolizada e transnacionalizada, ou seja, a base 
social principal é a alta burguesia; 2) é composto por organizações nas quais os especialistas 
têm peso decisivo para conseguir a “normalização” da economia e comprometidos em realizar 
a restauração da “ordem” na sociedade por meio da desativação política do setor popular; 3) é 
um sistema de exclusão política do setor popular para eliminar o seu papel anteriormente 
ativo na arena política nacional, por meio da destruição ou captura dos recursos que apoiavam 
essa ativação;

Mais conteúdos dessa disciplina