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Este grupo específico de micoses se caracteriza por serem nativas de/restritas (no caso, significativamente mais comuns) em determinadas regiões geográficas; de forma geral, os patógenos causadores dessas doenças são fungos dimórficos (que modificam sua morfologia de acordo com a temperatura: a 25ºC estão presentes em sua forma filamentosa, e a 37ºC, são leveduriformes); além disso, esses agentes fúngicos compartilham como via de infecção mais comum a inalação de estruturas filamentosas que se dispersam pelo ar. A manifestação clínica dessas micoses é bastante variada, mas depende: da quantidade de estruturas fúngicas que o indivíduo inalou, do tempo de contato e exposição com essas partículas, da capacidade do sistema imunológico do hospedeiro (se este é imunodeprimido ou hígido, por exemplo). Para o diagnóstico dessas doenças, são utilizados os procedimentos tradicionais de exame direto e de cultivo. Todavia, como esses podem ser bastante limitados, é possível a realização de exames sorológicos (para detecção de anticorpo e antígeno) . Os testes intradérmicos são utilizados, principalmente, para inquéritos epidemiológicos - para verificar se os indivíduos de uma região já tiveram contato com um fungo específico. Histoplasmose Habitat: solo (enriquecido com matéria orgânica, como as fezes de galinhas e morcegos, ou com alto teor de compostos nitrogenados), cavernas, construções abandonadas, galinheiros. Agente etiológico: *Histoplasma capsulatum* Patogenia: a disseminação do fungo no organismo ocorre em tecidos reticuloendoteliais (baço, fígado, medula óssea), isto é, tecidos ricos em macrófagos (dentro dos quais os fungos se desenvolvem, já que são intracelulares); o indivíduo infectado só apresentará anticorpos específico contra o *Histoplasma* algumas semanas depois do momento de infecção. Manifestação clínica: 1. Infecção assintomática: 90 a 95% dessas infecções não são reconhecidas, sendo o diagnóstico realizado por acaso. 2. Pulmonar aguda: indivíduos que inalaram grande quantidade de estruturas fúngicas em um único momento; apresentam febre, calafrios, cefaleia, mialgia, hiporexia, tosse, dispneia e dor torácica; a doença pode pode regredir sem tratamento. 3. Pulmonar crônica: acomete mais frequentemente indivíduos tabagistas, DPOS, ou que tenham mais de 50 anos; a doença evolui lentamente e leva à fibrose da cavidade pulmonar; tende a evoluir para caquexia ou insuficiência respiratória, sendo fatal em 80% dos casos. 4. Disseminada: mais frequente em indivíduos imunosupressos, essa forma da doença acomete preferencialmente órgãos ricos em macrófagos. Hoje, já se discute se a histoplasmose permanece sendo uma doença endêmica, já que se disseminou pelas cidades e é uma doença sistêmica bastante presente na América Latina e na América do Norte; todavia, como a prevalência da doença é maior em algumas regiões, por hora ainda a consideramos uma micose endêmica. No Brasil, a doença é bastante prevalente em todas as regiões. Causada por fungos dimórficos, a infecção da histoplasmose é mais preocupante no grupo de pacientes imunocompremetidos (pessoas que vivem com o HIV, usuários de corticoide ou de inibidores de TNFa), já que o quadro sistêmico tende a ser mais grave. Pacientes que se enquadrem nesse grupo devem estar cientes dos riscos de infecção. Como médicos, devemos estar atentos, pois os sintomas da histoplasmose são inespecíficos e bastante semelhantes aos da tuberculose. Desse modo, pacientes que apresentem sintomatologia de tuberculose podem, na verdade, ter histoplasmose; ou mesmo um quadro de tuberculose com coinfecção por histoplasmose, situação na qual o uso de antibióticos não solucionará o problema por completo. Diagnóstico: Tradicional: Exame direto: de pouca utilidade, já que indica a infecção mas não é capaz de confirmá-la; ainda, é preciso que se utilize uma preparação com corante que evidencie as estruturas fúngicas (que são pequenas e podem estar presentes em pequena quantidade); tem maior sensibilidade na forma disseminada da doença; Cultivo: apesar de ser considerado padrão ouro para o diagnóstico, uma vez que é capaz de confirmar a infecção, esse exame é muito demorado (leva de 6 a 12 semanas), pois o *Histoplasma Capsulatum* apresenta crescimento lento; isso é um fator decisivo, dado que o quadro de uma doença sistêmica pode evoluir rapidamente; Sorologia: Anticorpo: mais sensíveis para as formas subaguda e crônica da doença, já que o organismo do infectado demora de 2 a 4 semanas para expressar anticorpos contra o patógeno. Além disso, o teste de anticorpo positivo não indica, necessariamente, uma infecção ativa (quanto maior a titulação, mais recente tende a ser a infecção). Testes disponíveis: imunodifusão radial dupla, fixação do complemento e Coccidioidomicose Paracoccidioidomicose Também conhecida como Febre do Vale de São Joaquim (ou do deserto), a coccidioidomicose é reportada com menor frequência na América do Sul; em contrapartida, é a mais infecciosa das micoses Agente etiológico e aspectos gerais Coccidioides immites; habitando o solo desértico (cujo pH é salino) em saprofitismo, o fungo é parasita de humanos e de bovinos, ovinos e caprinos (não ocorre transmissão zoonótica), sendo adquirido a partir da inalação de artroconídeo; Patogenia nos pulmões, forma um esférula maior que, eventualmente, se rompe liberando uma série de endosporos; depois, esses endosporos amadurecem e formam outras esférulas; o período de incubação varia de 1 a 4 semanas. Manifestação clínica Indivíduos hígidos (>60 anos): 50 a 60% dos infectados são assintomáticos, 40% desenvolvem sintomas semelhantes ao de uma gripe (fadiga, tosse, febre, dispneia, cefaleia, sudorese noturna, etc), podendo se curar espontaneamente e desenvolver imunidade à doença; alguns dos indivíduos sintomáticos desenvolvem reações de hipersensibilidade. Exame direto: padrão-ouro para o diagnóstico, já que é um procedimento seguro que permite a visualização das esférulas e dos endósporos; Cultura: também considerado padrão-ouro; esse exame, pode-se observar a característica de dimorfismo dos *Coccidioides immites;* desse modo, aos 25ºC os fungos estão em sua forma filamentosa e, aos 37ºC, são leveduriformes; todavia, a limitação da cultura é que as esférulas com os endósporos só são visíveis no tecido do hospedeiro; Sorologia: proporciona diagnóstico rápido e diferencial; todavia, o exame ELISA pode apresentar falsos-positivo. ELIÉZER DA CUNHA RODRIGUES | AD2024 | MICOLOGIA | 2021 Principal micose sistêmica no Brasil (ocorrendo com mais frequência nas regiões sul, sudeste e centro-oeste), a paracoccidioidomicose é observada apenas na América Latina; adquirida através da inalação de propágulos, causa lesões cutâneas e de mucosas, linfonodomegalia, disfagia, astenia, emagrecimento, dispneia, hepatoesplenomegalia e febre. Exame direto: apesar de ser capaz de identificar somente o gênero, e não a espécie, é considerado padrão-ouro para o diagnóstico da infecção; permite a visualização da forma leveduriforme do fungo, com múltiplos brotamentos, a partir da coloração Grocott-gomori. Cultura: também considerado padrão-ouro, apesar de requerer mais tempo para que se obtenha o resultado; Sorologia: a técnica de imunodifusão dupla é consideravelmente sensível, sendo utilizada para diagnóstico; também há outros testes, como fixação de complemento e o teste ELISA. Blastomicose Causada pelo Blastomyces dermatidis, a blastomicose é endêmica nos EUA, no Canadá e em algumas partes da África; infecção invasiva, pode se espalhar para a pele, ossos, sistema urinário e reprodutor. Exame direto: considerado padrão-ouro para o diagnóstico da infecção - identifica o gênero, mas não a espécie. Cultura: considerado padrão-ouro para o diagnóstico da infecção - capaz de identificar a espécie. Sorologia: apresenta baixa sensibilidade
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