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Direito Penal - PARTE GERAL ESQUEMTIZADA

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DIREITO PENAL 
PARTE GERAL
PAG. 90
2020
Sumário
1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL	10
1.1 Conceito de Direito Penal	10
1.2 Posição do Direito Penal na Teoria Geral do Direito	10
1.3 Terminologia	11
1.4 Características do Direito Penal	11
1.5 Funções do direito penal	12
1.6 A ciência do Direito Penal	14
1.7 Classificação do Direito Penal	15
2. FONTES DO DIREITO PENAL	17
2.1 Conceito	17
2.2 Classificação	17
3. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL	20
3.1 Introdução	20
3.2	Espécies de interpretação	20
3.2.1 Quanto ao sujeito	20
3.2.2 Quanto aos meios ou métodos	21
3.2.3 Quanto ao resultado	21
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL	23
4.1 Conceito de Princípios	23
4.2 Princípios em Espécie	23
4.2.1 Princípio da Reserva Legal	23
4.2.2 Princípio da anterioridade	26
4.2.3 Princípio da Alteridade	27
4.2.4 Princípio da lesividade ou da ofensividade	27
4.2.5 Princípio da proporcionalidade	28
4.2.6 Princípio da responsabilidade penal pelo fato	29
4.2.7 Princípio da intervenção mínima	30
4.2.7 Princípio da Fragmentariedade	30
4.2.8 Princípio da subsidiariedade	31
4.2.9 Princípio da Insignificância	31
4.2.10 Princípio da Bagatela imprópria	34
4.2.11 Princípio da vedação do bis in idem	35
5. EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO DIREITO PENAL	36
5.1 Funcionalismo Penal	36
5.1.1 Introdução	36
5.1.2 Características fundamentais	36
5.1.3 Espécies de funcionalismo	36
5.2 Direito de Intervenção (ou Intervencionista)	37
5.3 Velocidades do Direito Penal	38
5.4 Direito Penal do Inimigo	39
5.4.1 Introdução	39
5.4.2 Efeitos da aplicação do Direito Penal do inimigo	40
5.4.3 O Direito Penal do Inimigo no Brasil	41
5.5 Escolas penais	41
5.6 Histórico do direito penal no Brasil	43
6. APLICAÇÃO DA LEI PENAL	44
6.1 Lei Penal	44
6.2 Classificação das Leis Penais	44
6.3 Características da lei penal	45
6.4 Tempo do crime	46
6.5 Lugar do crime	47
7. LEI PENAL NO ESPAÇO	50
7.1. Introdução	50
7.2 Princípio da Territorialidade	50
7.3 Princípios complementares	51
7.4 Extraterritorialidade	53
7.5 Lei penal em branco	55
7.6 Aplicação da Lei Penal no Templo	56
7.6.1 Introdução	57
7.6.2 Conflito de leis penais no tempo: Direito Penal Intertemporal	57
7.6.3 Lei penal benéfica: retroatividade e ultratividade	57
7.6.4 Lei penal benéfica e “vacatio legis”	59
7.6.5 “Novatio legis” incriminadora (neocriminalização) “novatio legis in pejus”	60
7.6.6 Lei penal intermediária	60
7.6.7 Combinação de leis penais (“lex tertia” ou lei híbrida)	60
7.6.8 Lei temporária e lei excepcional	61
7.6.9 Lei penal em branco e conflito de leis no tempo	62
7.7 Conflito Aparente de Normas	62
7.7.1 Introdução	62
7.7.2 Distinção com o concurso de crimes e com o conflito de leis no tempo	63
7.2.3 Finalidades do conflito aparente de normas	63
7.8 Eficácia da sentença estrangeira	67
7.9 Contagem de prazo	67
7.10 Frações não computáveis da pena	68
7.11 Legislação especial	68
7.12 Eficácia da lei penal em relação às pessoas	69
8. TEORIA GERAL DO CRIME	71
8.1. Conceito	71
8.1.1 Introdução	71
8.1.2 Critério material ou substancial	71
8.1.3 Critério legal	71
8.1.4 Conceito formal, analítico ou dogmático	72
8.2 Sistemas Penais	73
8.2.1 Sistema Clássico	73
8.2.2 Sistema Neoclássico	73
8.2.3 Sistema Finalista	74
9. FATO TÍPICO	77
9.1 Introdução	77
9.1.1 Conceito	77
9.1.2 Elementos	77
9.2 Classificação	77
9.2.1 Crimes materiais “causais” ou “crimes de resultados”	77
9.2.2 Crimes formais - “crimes de consumação antecipada” ou “crimes de resultado cortado”	77
9.2.3 Crime unissubsistente	78
9.3 Conduta	78
9.3.1 Introdução	78
9.3.2	Características da Conduta	79
9.2.3 Formas de conduta	80
9.2.4 Teorias da Omissão	81
9.2.5 Exclusão da conduta	81
9.3 Resultado	82
9.3.1 Introdução	82
9.3.2 Relação de Causalidade	82
9.4 Relevância da Omissão	83
9.4.1 Introdução	83
9.4.1 Hipóteses do dever de agir	84
9.5 Concausas	84
9.5.1 Introdução	84
9.5.2 Concausas Independentes	84
9.6 Tipicidade	86
9.6.1 Introdução	86
9.6.2 Adequação Típica	88
9.6.3 Tipo penal	88
9.6.4 Classificação doutrinária do tipo penal	90
9.7 Crime Doloso	91
9.7.1 Introdução	91
9.7.2 Elementos do dolo	92
9.7.3 Espécies de dolo	92
9.8 Crime Culposo	94
9.8.1 Introdução	94
9.8.2 Fundamento da punibilidade da culpa	95
9.8.3 Conceito de Crime Culposo	95
9.8.4 Elementos do crume culposo	95
9.8.5 Espécies de culpa	97
9.8.6 Compensação e Concorrência de culpas	98
9.8.7 Caráter excepcional do crime culposo	98
9.8.8 Exclusão da culpa	99
9.9 Crime Preterdoloso	99
9.9.1 Conceito	99
9.9.2 “Versari in re illicita” - versar com coisa ilícita	99
9.9.3 Crimes qualificados pelo resultado	100
10. “ITER CRIMINIS”	102
10.1 Introdução	102
10.2 Fase Interna	102
10.3 Fase externa	102
10.4 Execução	102
10.5 Consumação	103
10.6 Exaurimento	103
10.7 Crime tentado	104
10.8 Desistência voluntária e arrependimento eficaz	104
10.8.1 Conceito	104
10.8.2 Desistência voluntária e distinção com a tentativa	105
10.9 Arrependimento posterior	105
10.9.1 Introdução	105
10.9.2 Aplicabilidade	106
10.10 Crime impossível	107
10.10.1 Introdução	107
10.10.2 Espécies de crime impossível	108
10.10.3 Crime impossível e aspectos processuais	109
11. ILICITUDE	110
11.1 Introdução	110
11.1.1 Conceito	110
11.1.2 Ilicitude formal e ilicitude material	110
11.1.3 Nomenclatura	110
11.1.3 Ilicitude genérica e ilicitude específica	111
11.2 Causas de exclusão da ilicitude	112
11.2.1 Introdução	112
11.2.2 Classificação	112
11.3 O Consentimento do ofendido – causa supralegal de exclusão da ilicitude	113
11.3.1 Introdução	113
11.3.2 O consentimento do ofendido	113
11.4 Estado de necessidade	115
11.4.1 Introdução	115
11.4.2 Teorias	115
11.5 Legitima Defesa	119
11.5.1 Introdução	119
11.5.2 Requisitos legais (cumulativos)	120
11.5.3 Distinção	121
11.5.4 Espécies de legítima defesa	121
11.5.5 Distinção entre legítima defesa e estado de necessidade	122
11.5.6 A relação entre a legítima defesa com outras excludentes	123
11.6 Estrito cumprimento do dever legal	124
11.6.1 Introdução	124
11.6.2 Destinatários da excludente	124
11.6.3 Limites da excludente	124
11.6.4 Comunicabilidade da excludente	125
11.7 Exercício regular de direito	125
11.7.1 Introdução	125
11.7.2 Limites da excludente	125
11.7.3 O Costume como exercício regular de um direito	126
11.7.4 Questões praticas	126
11.8.5 Ofendículos	126
11.8 Teoria do Excesso	127
11.8.1 Introdução	127
11.8.2 Espécies	127
12. CULPABILIDADE	129
12.1 Introdução	129
12.1.1 Natureza jurídica	129
12.1.2 Conceito de culpabilidade	129
12.1.3 Teoria Normativa Pura	129
12.1.4 Coculpabilidade	130
12.1.5 Coculpabilidade às avessas e suas perspectivas fundamentais	130
12.2 Elemento da Culpabilidade	131
12.2.1 Imputabilidade	131
12.2.2 Inimputabilidade	132
12.2.3 Menoridade	133
12.2.4 Doença mental	133
12.2.5 Efeitos da inimputabilidade	134
12.3 Semi-imputabilidade	135
12.3.1 Introdução	135
12.3.2 Efeitos	136
12.4 Emoção e paixão	137
12.4.1 Introdução	137
12.4.2 A emoção e a paixão patológicas	137
12.4.3 Distinção	137
12.5 Embriaguez	138
12.5.1 Introdução	138
12.5.2 Fases da embriaguez	138
12.5.3 Espécies de embriaguez	139
12.5.4 Prova da embriaguez	140
12.5.5 Teoria da “actio libera in causa”	140
12.6 Potencial consciência da ilicitude	141
12.6.1 Introdução	141
12.6.2 Exigibilidade de conduta diversa	142
12.6.3 Coação moral irresistível	142
12.6.4 Coação moral resistível	144
12.6.5 Temor reverencial	144
12.6.6 Obediência hierárquica	144
12.6.7 Causas supralegais de exclusão da culpabilidade	146
13. TEORIA DO ERRO	147
13.1 Erro de tipo	147
13.1.1 Introdução	147
13.1.2 Erro de tipo escusável e erro de tipo inescusável	147
13.1.3 Erro de tipo espontâneo e erro de tipo provocado	148
13.1.4 Erro de tipo acidental	148
13.2 Erro de proibição	152
13.2.1. Introdução	152
13.2.2 Desconhecimento da lei e erro de proibição	153
13.2.3 Erro de proibição inevitável e erro de proibição evitável	153
13.2.4 Efeitos	154
13.2.5 Espécies de erro de proibição	154
13.2.6 Erro de proibição e crime putativo por erro de proibição	154
13.2.7 Erro de tipo que recai sobre a ilicitude do fato	154
13.2.8 Distinções entre erro de tipo e erro de proibição	155
14. Concurso de pessoas	158
14.1 Introdução	158
14.2Requisitos em espécie	158
14.2.1 Pluralidade de agentes culpáveis	158
14.2.2 Relevância causal das condutas	159
14.2.3 Vínculo subjetivo (liame psicológico/concurso de vontades)	160
14.2.4 Unidade de infração penal para todos os agentes	160
14.2.5 Existência de fato punível	161
14.3 Formas de concurso de pessoas	161
14.3.1 Introdução	161
14.3.2 Autoria	161
14.3.3 Coautoria	163
14.3.4 Participação	164
14.3.5 Participação de menor importância	165
14.3.6 Participação impunível	166
14.3.7 Conivência	166
14.3.8 Participação em cadeia (participação da participação)	166
14.4 Teorias da acessoriedade	167
14.4.1 Introdução	167
14.4.2 Classificação da acessoriedade	167
14.4.3 Cooperação dolosamente distinta	168
14.4.4 Executor de reserva	169
14.5 Circunstâncias incomunicáveis	169
14.5.1 Introdução	169
14.5.2 Aplicação	170
14.5.3 Elementares personalíssimas	171
14.6 Autoria colateral (coautoria imprópria/autoria parelha)	171
16 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE	172
21
1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL 
1.1 Conceito de Direito Penal
Direito Penal é o conjunto de regras e princípios destinados a combater as infrações penais (crimes e as contravenções penais), mediante a imposição de uma sanção penal (pena ou medida de segurança).
Infração penal é gênero, do qual são espécies crimes e contravenções penais. 
Sanção penal também é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de segurança. 
1.2 Posição do Direito Penal na Teoria Geral do Direito
O Direito Penal é um ramo do direito público, porque suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a toda e qualquer pessoa. 
Além disso, o Estado é o titular exclusivo do direito de punir. O Estado figura como sujeito passivo em todo e qualquer crime ou contravenção penal. 
No Direito Penal o sujeito passivo é classificado em imediato (direto) e mediato (indireto).
· Sujeito passivo imediato ou direto: é aquele sujeito diretamente prejudicado;
· Sujeito passivo mediato ou indireto: é o Estado em todo e qualquer crime.
Em todo e qualquer crime o Estado será no mínimo o sujeito passivo mediato, mas existem delitos em que, além de ser sujeito passivo mediato, será também sujeito passivo imediato, a exemplo dos crimes contra a Administração Pública. 
Nesses crimes o Estado será tanto sujeito passivo mediato como também sujeito passivo imediato.
1.3 Terminologia
A expressão “direito criminal” é mais abrangente, pois enfatiza o “crime”, enquanto a expressão “direito penal” tem um alcance menor, pois enfatiza a “pena”.
No Brasil existiu um Código Criminal do Império de 1830. Hoje o mais correto é se falar em Direito Penal, por dois motivos:
a) O nosso diploma normativo é denominado de “Código Penal”. Esse diploma foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como Lei Ordinária;
b) O art. 22, I, da CF/88 prevê que compete a União legislar exclusivamente sobre “Direito Penal”.
1.4 Características do Direito Penal
O Professor Magalhães Noronha leciona que: “O Direito Penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa e finalista”.
É uma ciência, porque ele está sistematizado em um conjunto de normas jurídicas que formam a chamada “dogmática penal”.
O Direito Penal é uma ciência cultural, porque ele integra a classe das ciências do dever ser, ou seja, como as pessoas devem se comportar e como elas devam ser punidas caso cometam uma infração penal.
Trata-se de uma ciência normativa, porque o seu objeto de Estudo é a norma jurídica. 
O Direito Penal é uma ciência valorativa, porque tem a sua própria escala de valores na apreciação dos fatos que lhe são submetidos.
É uma ciência finalista, porque tem uma finalidade prática e não meramente acadêmica. 
Segundo o Prof. Claus Roxin “a finalidade do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos”.
O Direito Penal é constitutivo ou sancionador? Para Zaffaroni, “O direito penal é predominantemente sancionador e excepcionalmente constitutivo”.
O Direito Penal não cria novos bens jurídicos. Ele apenas reforça essa proteção conferida por outros ramos do Direito.
Exemplo: o Direito Civil não deu conta de proteger a posse adequadamente, razão pela qual o Direito Penal criou o crime de furto.
Zaffaroni diz que o Direito Penal é também “excepcionalmente constitutivo”. Isso porque de forma excepcional o Direito Penal cria novos institutos jurídicos que não existem nos demais ramos do Direito, a exemplo do “sursis”.
1.5 Funções do direito penal
A- Proteção de Bens Jurídicos: Não são todos e quaisquer bens jurídicos que merecem a proteção do Direito Penal, mas apenas os mais relevantes. 
O legislador penal realiza uma tarefa seletiva, isto é, ele faz um juízo de valor positivo quando irá criar um crime ou cominar uma pena.
A função de proteção de bens jurídicos é a função precípua do direito penal. 
B- Instrumento de controle social: O Direito Penal deve colaborar na preservação da paz pública, ou seja, na ordem que deve reinar na coletividade.
O Direito Penal se dirige a todas as pessoas, embora apenas uma minoria da população cometa infrações penais.
C- Garantia: Franz Von Liszt dizia: “O Código Penal é a Magna carta do delinquente”. 
Antes do que prejudicar as pessoas, o Código Penal serve para protegê-las do arbítrio do Estado. 
Essa é uma manifestação do princípio da reserva legal, isto é, só a lei pode criar um crime e cominar uma pena.
Antes do princípio da reserva legal, todo o poder estava nas mãos de um governante (de um rei), assim ele poderia punir qualquer pessoa ao seu bel-prazer. 
A partir do momento em que se consagra o princípio da reserva legal o ser humano apenas poderá ser punido se praticar uma conduta descrita na lei penal.
D- Função ético-social do Direito Penal: Essa função também poderá aparecer com o nome de “função criadora dos costumes” ou ainda como “função configuradora dos costumes”.
Essa função tem origem na estreita relação entre o Direito Penal e os valores éticos reinantes de uma determinada sociedade.
A função ético-social busca o chamado “efeito moralizador”. O Direito Penal busca assegurar o mínimo ético que deve existir em toda e qualquer sociedade. Essa expressão “mínimo ético” foi criada por Georg Jellinek.
O grande exemplo dessa função ético-social está nos crimes ambientais, pois eticamente falando não se podem maltratar animais, jogar lixo na rua, poluir parques, etc.
A função ético-social também é alvo de criticas, porque ela confere ao Direito Penal um papel educativo (ajudar na educação das pessoas). 
A crítica que se faz aqui é que o papel do Direito Penal é proteger bens jurídicos e não educar pessoas, pois a educação das pessoas é uma tarefa da família, da escola, do Estado, mas não do Direito Penal.
E- Função motivadora: Entende-se como função motivadora a imposição de sanção penal, que persuade as pessoas a respeitarem o Direito Penal.
F- Função de redução da violência estatal: Essa função é proposta pelo jurista Jesus Maria Silva Sanchéz, para quem a aplicação de uma sanção penal pelo Estado, embora legítima, representa uma violência do Estado contra o cidadão e contra a sociedade.
Atenção: O Direito Penal deve ser cada vez mais pautado pela intervenção mínima, ou seja, reservado somente para os casos estritamente necessários.
G- Função Promocional: Cuida-se de reconhecer o Direito Penal como instrumento de transformação social, ou seja, uma ferramenta para a evolução da sociedade.
H- Função Simbólica do Direito Penal: é aquela que traduz a produção de efeitos internos na mente dos governantes e dos governados. Não possui, portanto, efeitos concretos/práticos.
A inclusão da qualificadora do feminicídio no crime de homicídio, que além de atender a uma necessidade concreta, confere a impressão de que o legislador se preocupa com o problema da violência contra a mulher, criando nos cidadãos a expectativa de que o índice de crimes de homicídio praticado contra as mulheres, praticados em virtude de sua condição de pessoa do sexo feminino, diminuiria. 
Isso, porém, distancia-se do que ocorre na prática, onde o índice cresce cada vez mais. Mesmo assim, a criação da qualificadoraé suficiente para estabilizar as expectativas dos cidadãos no que tange a postura esperada do legislador diante da problemática social.
A função simbólica contribui para a chamada hipertrofia do Direito Penal, criando um Direito Penal do medo e do terror. 
O fenômeno da hipertrofia está compreendido dentro de uma produção legislativa descontrolada (inflação legislativa), voltada a conferir soluções aos problemas sociais com recurso ao reforço punitivo do Direito Penal e não por meio da implementação de politicas publicas efetivas, que tratem a raiz do problema. 
É o chamado Direito Penal de Emergência, que, ao propor soluções imediatistas para os problemas sociais, conduz a uma situação de descrédito do Direito Penal no médio e no longo prazo.
1.6 A ciência do Direito Penal
A Ciência do Direito Penal também pode ser denominada de “Enciclopédia das Ciências Penais”. 
Essa foi uma expressão criada pelo espanhol José Cerezo Mir, compreende as ciências que estudam o crime, o criminoso e a sanção penal. Podemos acrescentar um quarto ponto, qual seja, a vítima.
A- Dogmática Penal: É a interpretação, sistematização e aplicação lógico-racional do Direito Penal.
Atenção: Quando falamos em racional, estamos nos referindo ao Direito Penal movido pela razão, pela cautela, e não pela paixão ou emoção. Não se pode confundir dogmática (lado cientifico) com dogmatismo (aceitação cega e sem críticas de uma verdade tida como absoluta e imutável). O dogmatismo deve ser eliminado, pois é incompatível com a ideia de ciência.
B- Política criminal: A política criminal nada mais é do que o filtro entre a letra da lei e a realidade social. Permite adaptar uma lei feita décadas atrás aos dias de hoje. É o que ocorre com o Código Penal de 1940.
Destina-se a possibilitar a interpretação da lei em sintonia com os valores e interesses de uma determinada sociedade.
C- Criminologia: Trata-se de ciência auxiliar do Direito Penal. Antônio García-Pablos de Molina diz que “a criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar”.
A Criminologia é uma ciência empírica, porque estuda “o que é”.
A Criminologia também é interdisciplinar, porque leva em conta os fatores políticos, sociais, econômicos, religiosos, etc.
Qual é a grande diferença entre o direito penal e a criminologia?
O direito penal se preocupa com as consequências jurídicas da infração penal.
A Criminologia é uma ciência que busca auxiliar o direito penal. A criminologia também se preocupa com as causas das infrações penais. 
A primeira obra de criminologia na história da humanidade foi escrita pelo italiano Cesare Lombroso, com o título “O cretinismo na Lombardia”.
D- Vitimologia: A vitimologia em um primeiro momento diz respeito à contribuição da vítima para a prática do crime (cuidado com visões machistas!). Como exemplo, a pessoa que conta vantagem (ostentação) em redes sociais acaba colaborando para a prática de delitos contra o seu patrimônio.
A vitimologia moderna se preocupa com a proteção da vítima depois que o crime foi praticado. 
E- As vias do Direito Penal 
Claus Roxin apresenta as chamadas “vias do Direito Penal”:
· A primeira via é a pena;
· A segunda via é a medida de segurança;
· A terceira via é a reparação do dano causado à vítima.
Nessa terceira via, o Estado abre mão do seu direito/poder/dever de punir em troca da reparação do dano causado à vítima. 
Exemplo: A composição dos danos civis (art. 74, § único, da Lei 9.099/95).
Outro exemplo de terceira via é a chamada justiça restaurativa, isto é, a restauração do dano entre o agressor e a vítima (o Estado não interfere).
1.7 Classificação do Direito Penal 
· Direito Penal Fundamental: (direito penal primário) designa o conjunto das normas gerais do Direito Penal, sendo aplicáveis inclusive aos crimes previstos em leis especiais, desde que estas não contenham disposições especificas em sentido contrário. 
· Direito Penal fundamental ou primário: são as regras gerais do Direito Penal, aplicáveis, inclusive, aos crimes previstos por leis especiais, quando estas leis especiais não possuem regras específicas sobre um determinado assunto.
· Direito Penal Complementar: é chamado de “Direito Penal secundário”. O Direito Penal complementar ou secundário designa as normas que integram a legislação penal especial;
· Direito Penal Comum: é aquele aplicável a todas as pessoas, como exemplo, o Código Penal, a Lei de Drogas, etc;
· Direito penal Especial: é aquele aplicável somente a determinadas pessoas que preencham as condições exigidas em lei, tais como o Código Penal Militar (aplicável apenas aos militares), e o Decreto-lei 201/1967 (aplicável somente aos prefeitos);
· Direito Penal Geral: é aquele produzido pela União e com incidência em todo o território nacional. Está previsto no art. 22, I, da CF/88;
· Direito Penal Local: é aquele produzido por um determinado Estado, e aplicável exclusivamente em seu território. 
Art. 22, § único da CF: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”.
· Direito penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;
· Direito penal Subjetivo: é o direito de punir, exclusivo do Estado. Esse direito de punir modernamente deve ser encarado por uma tripla ótica (direito, poder e dever);
· Direito penal Material: é também chamado de direito penal substantivo, nada mais é do que o direito penal propriamente dito (são as leis penais);
· Direito Penal Formal: é também chamado de direito penal adjetivo, que são as leis processuais penais.
2. FONTES DO DIREITO PENAL
2.1 Conceito 
As fontes do direito penal dizem respeito à sua criação e manifestação. Essas fontes se dividem em dois grandes grupos:
· Fontes Formais;
· Fontes Materiais. 
2.2 Classificação 
A- Fontes materiais, substanciais ou de produção: Dizem respeito à criação do Direito Penal. 
Quais são elas? Em regra, a fonte material é a União (art. 22, I da CF/88), mas as exceções encontram-se na própria constituição (art. 22, § único da CF/88). 
Com efeito, os Estados podem legislar sobre as matérias enumeradas no art. 22, entre elas o Direito Penal, desde que presentes dois requisitos:
· Deve ser tratado matéria específica (interesse específico) daquele Estado;
· Autorização da União, por lei complementar.
B- Fontes formais, cognitivas ou de conhecimento: Dizem respeito à aplicação do Direito Penal. Depois de criado pela União, o Direito Penal precisa ser aplicado. Dividem-se em dois grupos:
· Fonte Formal Imediata: É a Lei, como corolário do princípio da reserva legal ou da estrita legalidade (“só a lei pode criar crimes e cominar penas”). No Brasil essa tarefa é da lei ordinária.
A Lei Complementar pode criar crimes e cominar penas? Em tese sim, mas não deve. As hipóteses de lei complementar são expressamente indicadas na Constituição Federal, e a criação de crimes e a cominação de penas não está nesse grupo. Se uma lei complementar desempenhar esse papel, ela receberá o status de lei ordinária.
· Fontes Formais Mediatas: São as seguintes:
· Constituição Federal: embora não crie crimes e comine penas, a Constituição possui diversos dispositivos relacionados ao direito penal. É muito comum o STF utilizar a expressão “Constituição Penal”, referindo-se à parte da Lei Suprema que contém assuntos ligados ao Direito Penal.
Atenção: Os dispositivos relacionados ao direito penal previstos na CF/88 que estão relacionados a tipos penais, como por exemplo, os crimes hediondos, são denominados pela doutrina de mandado de criminalização. 
· Princípios Gerais do Direito: (serão estudados separadamente);
· Atos administrativos: funcionam como complemento de normas penais em branco;
· Costumes: é a repetição de um comportamento em face da crença da sua obrigatoriedade. Espécies de costumes:
· “Secundum legem” ou interpretativo: é aquele que auxilia o intérprete a entender o conteúdo do Direito Penal;
· “Contra legem” ou negativo: também chamado de “desuetudo”, é aquele que contraria uma lei, mas não a revoga;
Exemplo: Jogo do Bichoe Casa de Prostituição. 
· “Praeter legem” ou integrativo: é aquele que supre a lacuna da lei. Só pode ser utilizado para favorecer o agente.
A doutrina é fonte do direito penal? Não, porque não tem força cogente, ou seja, não se reveste de obrigatoriedade.
Os tratados internacionais são fontes do direito penal? Em princípio não, pois não basta existir um tratado internacional, o Brasil precisa incorporá-lo ao direito interno.
Mas, depois da sua incorporação, um tratado pode ser classificado como fonte do Direito Penal. Como por exemplo, a realização das Audiências de Custódia no âmbito Processual Penal. 
Observação: Se um tratado internacional versar sobre Direitos Humanos, sendo aprovado seguindo o procedimento das emendas constitucionais, terá força de norma constitucional. Caso seja aprovado, sem o procedimento das emendas constitucionais, terá força de norma supralegal, abrindo espaço ao chamado “controle de convencionalidade”.
A jurisprudência é fonte do Direito Penal? Em regra, não, pois não é obrigatória, salvo em dois casos: na decisão do caso concreto; e quando resultar em Súmula Vinculante.
3. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
3.1 Introdução
Para Carlos Maximiliano, interpretação é a atividade mental que busca identificar o conteúdo da lei, isto é, seu alcance e o seu significado.
A interpretação sempre deve buscar a chamada mens legis (vontade da lei), que não se confunde com a vontade do legislador. Em outras palavras, pouco importa o propósito de quem a criou.
Não se pode confundir hermenêutica com exegese. 
· Hermenêutica: é a ciência que estuda a interpretação das leis;
· Exegese: é a atividade prática de interpretar uma lei.
Atenção: A interpretação da lei sempre é obrigatória, por mais clara ou simples que ela seja.
3.2 Espécies de interpretação
3.2.1 Quanto ao sujeito 
A- Interpretação Autêntica: Também é chamada de legislativa, é aquela realizada pelo legislador, quando edita uma norma com a finalidade de esclarecer o significado de outra norma. 
Temos aqui a chamada norma interpretativa, que tem natureza cogente, ou seja, é obrigatória. Tem eficácia retroativa, ainda que prejudique o réu.
· Norma interpretativa contextual: quando editada no corpo da própria lei que também tem a norma interpretada;
· Norma interpretativa posterior: quando criada depois da norma interpretada.
Exemplo: art. 327, caput, do CP (faz previsão do conceito de funcionário público para fins penais).
Atenção: a norma interpretativa tem eficácia retroativa, ainda que prejudique o réu, em razão de explicitar/esclarecer a forma de interpretar uma norma que já está em vigor. 
B- Interpretação Doutrinária: Também chamada de científica, é aquela realizada pelos estudiosos do Direito Penal (doutrinadores em geral). 
Atenção: A Exposição de Motivos do Código Penal é classificada como interpretação doutrinária, e não autêntica.
C- Interpretação Judicial: Também chamada de jurisprudencial, é aquela realizada pelos magistrados nas decisões dos casos que lhe são submetidos. Não se reveste de obrigatoriedade, salvo no caso concreto (coisa julgada) e quando consiste em súmula vinculante.
3.2.2 Quanto aos meios ou métodos
A- Interpretação gramatical: Também chamada de literal ou sintática, é aquela que decorre do mero sentido léxico das palavras;
B- Interpretação lógica: Também chamada de teleológica, é aquela que busca a finalidade da lei.
3.2.3 Quanto ao resultado 
A- Interpretação declaratória: Também conhecida como declarativa ou estrita, é aquela em que há perfeita sintonia entre o texto da lei e a sua vontade;
B- Interpretação extensiva: É aquela que corrige a timidez da lei, ou seja, a lei disse menos do que queria;
C- Interpretação Restritiva: É aquela que busca a diminuição do alcance da lei, ou seja, a lei disse mais do que queria.
D- Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva: Busca adaptar o texto da lei à realidade atual. Essa interpretação evita constantes reformas legislativas.
E- Interpretação analógica ou intra legem: Verifica-se quando a norma penal é construída com base em uma fórmula casuística (fechada), seguida de uma fórmula genérica (aberta), que funciona como uma verdadeira válvula de escape.
O legislador se utiliza dessa interpretação porque é impossível a previsão de todas as situações que podem surgir no caso concreto. Além disso, as leis penais seriam enormes, e precisariam de constantes reformas.
Atenção: A analogia não é uma forma de interpretar o direito penal, mas sim te integrar. A analogia tem a finalidade de suprir uma lacuna no ordenamento jurídico utilizando uma lei semelhante ao caso concreto. 
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
4.1 Conceito de Princípios 
AQUI!
A palavra “princípio” dá ideia de começo, ou seja, aquilo que inaugura a ordem jurídica. Princípios são valores fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal.
Observação: O Direito é formado por normas jurídicas, sendo essas subdivididas em: regras; e princípios. As regras são rígidas, enquanto os princípios são voláteis, flexíveis.
O que podemos extrair desse conceito “são valores fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal”? 
Em primeiro lugar, os princípios se manifestam tanto no momento da criação do Direito Penal (alcançam o trabalho do legislador), como também alcançam o trabalho do operador do Direito Penal no momento de sua aplicação prática.
Alguns princípios estão previstos expressamente na legislação brasileira, a exemplo da reserva legal e da individualização da pena. 
Mas também existem princípios que, embora não previstos expressamente na nossa legislação, são extraídos da globalidade do sistema jurídico, tal como o princípio da insignificância.
Qual o papel dos princípios? Os princípios se destinam a limitar o poder punitivo do Estado.
	Já caiu em prova. 
	
Os princípios da insignificância, da fragmentariedade e o da proporcionalidade são princípios limitadores do poder punitivo do estatal.
4.2 Princípios em Espécie 
4.2.1 Princípio da Reserva Legal 
A- Origem histórica: O princípio da reserva legal também é conhecido como Princípio da Estrita Legalidade: “nullum crimen nulla poena sine lege”.
Esse princípio surge no ano de 1.215, na Inglaterra. Nesse tempo temos a “Magna Carta do Rei João sem Terra”. 
Posteriormente é desenvolvido pelo alemão Feuerbach, com base na teoria da coação psicológica. Para essa teoria somente a lei pode intimidar o cidadão com a ameaça de imposição de sanção penal. 
	Já caiu em prova. 
	O princípio da legalidade ou da reserva legal, a partir da Revolução Francesa, converte-se em uma exigência de segurança jurídica e de garantia individual. O seu fundamento político radica principalmente na função de garantia da liberdade do cidadão ante a intervenção estatal arbitrária, por meio da realização da certeza do direito.
B- Previsão Legal: O Princípio da Reserva Legal ou da Estrita Legalidade está previsto no art. 1° do CP, e também no art. 5°, XXXIX, da CF/88. 
Art. 1 do Código Penal “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.
Mais do que uma regra legal, trata-se de uma cláusula pétrea (direito fundamental), integrante do núcleo imutável da CF/88.
Atenção: Esse princípio estatui que apenas a lei pode criar o crime e cominar a respectiva pena. A lei é a fonte formal imediata do Direito Penal.
C- Fundamentos: 
· Fundamento Jurídico: é a taxatividade, ou seja, é a certeza de determinação. A Lei deve prever com precisão o conteúdo mínimo da conduta criminosa. 
Atenção: No âmbito do Direito Penal não é admitido a analogia “in malam partem”. 
· Fundamento Político: Os direitos fundamentais de primeira geração são aqueles instrumentos de proteção do ser humano contra o arbítrio do Estado.
Existe uma frase dita pelo alemão Franz von Liszt, dizendo que “O Código Penal é a Magna Carta do delinquente”. Nada mais é do que a chamada função de garantia do direito penal, isto é, o Código Penal, antes de prejudicar, servirá para proteger o ser humano do arbítriodo Estado.
· Fundamento democrático ou popular: O STF se utiliza dessa expressão. A lei cria o crime e comina a pena. Quem faz a lei são os legisladores, parlamentares eleitos pelo povo para representá-lo e, assim, ditar os rumos do Direito Penal.
D- A utilização de medidas provisórias no Direito Penal: Existem duas posições sobre o assunto.
O art. 62, §2º, I, alínea “b” da CF/88 veda a edição de medida provisória sobre matéria de Direito Penal incriminador e não incriminador. 
1ª Corrente: Com o advento da EC 32/01, ficou claro que Medida Provisória não pode versar sobre Direito Penal (incriminador ou não incriminador). Esse posicionamento prevalece entre os constitucionalistas.
2ª Corrente: Entende que a EC 32/01 reforça a proibição da Medida Provisória sobre Direito Penal Incriminador. Porém permite que Medida Provisória verse sobre Direito Penal não incriminador (desde que seja mais benéfica ao acusado). 
O STF antes da EC 32/01 admitiu que uma Medida Provisória versasse sobre Direito Penal não Incriminador. A MP 1571/97 disciplinou que a reparação dos danos nos crimes ambientais e tributários ocasiona a extinção da punibilidade.
Após a EC 32/01 o STF admitiu a MP 417/08, que impedia a tipificação de determinados comportamentos relacionados com a posse de armas de fogo. 
Atenção: O Estatuto do Desarmamento é uma lei que tem cunho administrativo e penal. Quando uma medida provisória aumentou o lapso temporal para a regularização do registro ela repercutiu na esfera penal de forma indireta, por essa razão a medida provisória foi aceita naquela oportunidade. 
O princípio da reserva legal (ou estrita legalidade) e o princípio da legalidade são sinônimos? Existe duas correntes. 
1ª Corrente: O princípio da reserva legal reclama lei em sentido estrito (lei em sentido formal e material);
· Lei em sentido formal: é aquela que tem forma de lei, ou seja, foi criada de acordo com o processo legislativo previsto na CF;
· Lei em sentido material: é aquela que trata de conteúdo (matéria) constitucionalmente reservado a lei. Por isso o nome reserva legal vem de reserva de lei.
2ª Corrente: O princípio da legalidade se contenta com a chamada lei em sentido amplo (qualquer espécie normativa prevista no art. 59 da CF/88 (lei delegada; decreto legislativo, resolução, etc.).
E- Mandado de criminalização: São ordens emitidas pela CF ao legislador ordinário, no sentido da criminalização de determinados comportamentos. A Constituição manda o legislador criar um crime e cominar a respectiva pena. Trata-se de dever imposto ao legislador.
Quais são as espécies de mandado de criminalização?
· Mandados de criminalização Expressos: A ordem está explícita (expressa) no texto constitucional;
Art. 225, § 3º da CF/88 “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais, administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. 
· Mandados de criminalização Tácitos: Estão implícitos na CF/88, ou seja, a ordem não é direta, e sim extraída da interpretação da CF/88. Como exemplo, temos o combate à corrupção no poder público.
O que são mandados de criminalização por omissão? Tais institutos ocorrem nas hipóteses em que a CF determina ao legislador a criminalização de um comportamento omissivo, a exemplo que se verifica no art. 5º, XLIII da CF/88.
Art. 5º, XLIII da CF/88 “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.
4.2.2 Princípio da anterioridade
A- Previsão Legal: Está previsto no art. 1º do CP e também no art. 5o, XXXIX, da CF.
Art. 1 do CP “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.
Art. 5, XXXIX, da CF “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
Os princípios da reserva legal e da anterioridade são inseparáveis entre si. Este complementa aquele.
B- Conceito: A lei penal deve ser anterior ao fato cuja punição se pretende, ou seja, a lei penal apenas poderá ser aplicada para os fatos praticados após a sua entrada em vigor.
C- Consequência lógica de aplicação do princípio anterioridade: É a irretroatividade da lei penal (art. 5, inciso XL, da CF).
Atenção: A vacância da lei é o intervalo que medeia a publicação da lei até sua entrada em vigor.
Para se respeitar o princípio da anterioridade, basta que a lei exista (tenha sido publicada), ou é necessário que esteja em vigor? Não há crime quando o fato foi praticado durante o período de vacância da lei. Apenas haverá crime a partir do momento da entrada em vigor da lei penal.
4.2.3 Princípio da Alteridade 
A- Origem: Foi criado por Claus Roxin, esse princípio estabelece que não há crime na conduta que prejudica somente quem a praticou.
	O princípio da alteridade “assinala que, para haver crime, a conduta humana deve colocar em risco ou lesar bens de terceiros, e é proibida a incriminação de atitudes que não excedam o âmbito do próprio autor”.
Segundo Stuart Mill “nenhuma lei criminal deve ser usada para obrigar as pessoas a atuar em seu próprio benefício; o único proposito para o qual o poder público pode exercitar-se com direito sobre qualquer membro da comunidade civilizada, contra sua vontade, e para prevenir danos a outros. Seu próprio bem, seja físico ou moral, não é uma razão suficiente”. 
B- Consequência lógica de aplicação: Por essa razão, a conduta da pessoa que utilizou uma droga não pode ser considerada crime. A Lei de Drogas proíbe o porte de entorpecente para uso pessoal, pois coloca em risco a saúde da coletividade. 
4.2.4 Princípio da lesividade ou da ofensividade 
A- Conceito: Não há crime, quando a conduta não é capaz de causar lesão ou no mínimo perigo de lesão ao bem jurídico.
	Segundo o Princípio da Ofensividade: Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado. 
Esse princípio funciona como fator de legitimação do Direito Penal, e está diretamente relacionado com o princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos.
B- Consequência lógica de aplicação: Segundo o Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos o Direito Penal não deve se ocupar de questões políticas, éticas, morais, econômicas, religiosas, filosóficas, etc.
C- Bens jurídicos: são valores ou interesses relevantes para a manutenção e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
	Segundo Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli “Bem jurídico penalmente tutelado é a relação de indisponibilidade de um indivíduo com um objeto, protegida pelo Estado, que revela seu interesse mediante a tipificação penal de condutas que o afetam”.
Qualquer bem jurídico pode ser classificado como bem jurídico penal? Não, apenas os bens jurídicos fundamentais (indispensáveis) para o indivíduo e a para a coletividade interessam ao Direito Penal.
Quem faz essa escolha dos bens jurídicos mais importantes? Essa escolha é feita única e exclusivamente pela CF/88. É o que se convencionou chamar de teoria constitucional (ou constitucionalista) do Direito Penal.
Atenção: A criação de crimes e a cominação de penas só é legitima quando protege valores consagrados na Constituição Federal. 
Para essa teoria, o Direito Penal só é legítimo quando protege valores consagrados na Constituição Federal. Em outras palavras, todo crime deve ter seu fundamento de validade na Lei Suprema. 
Nesse contexto, o homicídio é crime porque o art. 5º, caput, da CF assegura a todos o direito à vida.
Claus Roxin “um conceito de bem jurídico vinculante político-criminalmente só pode derivar dos valores garantidos na lei fundamental, do nosso Estado de Direito baseado na liberdade do indivíduo, através dos quais são marcados os limites da atividade punitiva do Estado”.
D- Espiritualização de bens jurídicos: é também chamada de liquefaçãoou desmaterialização de bens jurídicos. É mais uma criação de Claus Roxin.
Para Roxin, o Direito Penal, em sua origem, ocupava-se somente dos crimes de dano (ou lesão) contra bens jurídicos individuais. Com a evolução dos tempos, o Direito Penal antecipou sua tutela, assumindo um papel preventivo, ou seja, passou a punir os crimes de perigo contra bens supraindividuais (bens jurídicos difusos). 
Exemplo: pune-se o porte ilegal de arma de fogo para evitar roubos, latrocínios, etc.
	Segundo o direito penal, é possível incriminar a simples conduta humana que exponha a perigo bens jurídicos, ainda que não exista vítima determinada e direta.
4.2.5 Princípio da proporcionalidade
A- Origem: O nome “proporcionalidade” tem raízes na Alemanha. Alguns autores têm inspiração no direito italiano, e utilizam a nomenclatura “razoabilidade”. 
Nos EUA o nome mais utilizado é “convivência das liberdades públicas”.
A pena imposta ou cominada a pratica de um delito deve ser de acordo com a gravidade da conduta (bem jurídico).
B- Consequência lógica de aplicação: é a proibição do excesso (garantismo negativo), pois não se admite a punição exagerada, é dizer, além da necessária à proteção do bem jurídico.
Esse princípio representa a proibição da proteção insuficiente (ou deficiente) de bens jurídicos (garantismo positivo). 
	A concepção de um “garantismo positivo” alia-se ao princípio da proibição de proteção deficiente, trazendo como consequência a extensão da função de tutela penal aos bens jurídicos de interesse coletivo.
O que é garantismo hiperbólico monocular? É o garantismo exagerado, voltado exclusivamente aos interesses do réu.	
C- Espécies de proporcionalidade:
· Proporcionalidade abstrata: também chamada de proporcionalidade legislativa, é que aquela que diz respeito ao legislador no momento da criação do crime e da cominação da pena.
· Proporcionalidade concreta: também chamada de proporcionalidade judicial ou jurisdicional, fica a cargo do magistrado, no momento da dosimetria da pena.
· Proporcionalidade executória: também chamada de administrativa, é a que se manifesta durante o cumprimento da pena.
F- Princípio da confiança: Foi criado na Espanha, ele é especificamente aplicado no âmbito dos crimes de trânsito. 
A ideia é a de que aquele que respeita as regras de trânsito tem o direito de confiar que as demais pessoas também as respeitarão.
No Brasil esse princípio foi ampliado para abranger qualquer crime que envolve as regras da sociedade. No Brasil a aplicação do princípio da confiança é aplicado de forma geral, para toda e qualquer espécie de crime.
4.2.6 Princípio da responsabilidade penal pelo fato
A- Conceito: O direito penal moderno é um direito penal do fato (preocupa-se exclusivamente com o fato típico e ilícito praticado pelo agente).
B- Consequência lógica de aplicação: O afastamento do direito penal do autor, o qual é ultrapassado, pois rotula determinadas pessoas como indesejadas aos interesses da sociedade. Um exemplo moderno deste direito penal do autor é o Direito Penal do Inimigo.
4.2.7 Princípio da intervenção mínima
A- Origem e conceito: também é chamado de princípio da necessidade do Direito Penal.
	O Princípio da Intervenção mínima “constitui verdadeira barreira ao abuso da intervenção punitiva do Estado, evitando-se o exagero da utilização desmedida do Direito Penal como agente solucionador de conflitos e panaceia de todos os males. Busca restringir o âmbito de atuação do Direito Penal às situações realmente relevantes, em que a ação do Estado seja necessária e outros ramos do Direito não sejam capazes de dar solução adequada ao conflito”.
Esse princípio surge em 1789, na França, na época da Revolução Francesa, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, dispondo que a lei deve prever somente as penas estritamente necessárias.
Como podemos trazer o princípio da intervenção mínima para a atualidade? O Direito Penal só deve ser utilizado quando não há outra forma de proteção do bem jurídico. 
Desse princípio decorre o Direito Penal Mínimo, reservado para os casos realmente necessários.
B- Consequência lógica de aplicação: A função do princípio da intervenção mínima é orientar a criação de leis incriminadoras e a cominação das penas.
O princípio da intervenção mínima também tem a finalidade de orientar a aplicação da lei penal. 
Qual a relação entre o princípio da intervenção mínima e o princípio da reserva legal? Figura como reforço ao princípio da reserva legal, no sentido de que o legislador não deve usar seu poder legiferante ao seu bel prazer.
Atenção: O princípio da intervenção mínima subdivide no princípio da fragmentariedade e da subsidiariedade. 
4.2.7 Princípio da Fragmentariedade
A- Conceito: O referido princípio também chamado de “caráter fragmentário do Direito Penal”. 
	O direito penal tem natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito.
No universo da ilicitude, apenas alguns poucos fragmentos caracterizam ilícitos penais. 
Esse princípio preceitua que o Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico, ou seja, um crime apenas pode ser criado se os demais ramos do Direito não foram suficientes para a proteção do bem jurídico.
B- Consequência lógica de aplicação: Nem tudo o que é ilícito, também é ilícito penal. Porém, todo ilícito penal também é ilícito perante os demais ramos do Direito. 
	O postulado da fragmentariedade em matéria penal relativiza a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal.
Esse princípio se manifesta no plano abstrato, ou seja, tem como destinatário o legislador.
O que é o Princípio da Fragmentariedade às avessas? Em um primeiro momento, o crime era necessário. Mas, ao longo do tempo, a relevância penal do fato deixa de existir, a exemplo do que ocorreu com o adultério, operando-se a abolitio criminis.
4.2.8 Princípio da subsidiariedade
A- Conceito: O Direito Penal é a “ultima ratio” (última razão). Funciona como executor de reserva. Na prática, o Direito Penal só pode ser utilizado quando um problema não puder ser solucionado pelos demais ramos do Direito.
B- Consequência lógica de aplicação: Segundo a Jurisprudência o Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. Dentre os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal somente é admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar os conflitos sociais. In casu, tendo-se apurado, em verdade, apenas um ilícito de colorido meramente contratual, relativamente à distribuição da água, com o equacionamento da quaestio no plano civil, não se justifica a persecução penal.
4.2.9 Princípio da Insignificância
A- Origem e conceito: Este princípio surgiu no Direito Romano. Em Roma, foi construído a partir do brocardo “de minimus non curat praetor”, ou seja, os pretores (Juízes e Tribunais) não se ocupam daquilo que é mínimo, irrelevante, insignificante. 
No Direito Romano, este princípio se destinava exclusivamente ao direito privado. Este princípio é trazido para o Direito Penal somente na década de 1970, com os estudos de Claus Roxin, que começa a desenvolver o “funcionalismo penal”, e uma de suas características é o princípio da insignificância.
Em síntese, “não há crime quando a conduta se revela como insignificante, ou seja, incapaz de lesar ou sequer de colocar em perigo o bem jurídico protegido pela lei penal”. 
A conduta é tão irrisória que não se revela capaz de ofender o bem jurídico protegido pelo tipo penal.
O STF diz expressamente que a finalidade desse princípio consiste na chamada “interpretação restritiva da lei penal”. 
	Princípio da Insignificância: “Devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetam muito infimamente a um bem jurídico penal. A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir a tipicidade em casode danos de pouca importância.”
B- Consequência lógica de aplicação: Em outras palavras, a lei penal é muito abrangente, o princípio da insignificância vem para limitar seu alcance. Destina-se a diminuir a intervenção penal; a restringir a atuação do Direito Penal – nunca para aumentá-lo.
O princípio da insignificância é causa supralegal (ou seja, não prevista em lei) de exclusão da tipicidade.
Destarte, quando incide o princípio da insignificância, o fato é atípico, não há crime.
A tipicidade penal é a soma da chamada tipicidade formal com a tipicidade material. Tipicidade formal é o mero juízo de adequação entre o fato e a norma. 
· Tipicidade formal: analisa se o fato praticado na vida real se amolda ao modelo de crime descrito na lei penal. 
· Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.
No princípio da insignificância existe tipicidade formal, porém falta a tipicidade material.
	 A aplicação do princípio da insignificância, que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado, objetiva excluir ou afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material.
C- Requisitos para aplicação do princípio da insignificância: São de ordem objetiva e subjetiva. 
· Requisitos objetivos: são aqueles ligados ao fato praticado pelo agente. 
· Requisitos subjetivos: dizem respeito ao agente e à vítima.
Os quatro requisitos objetivos, são citados em todos os julgados do STF que tratam do princípio da insignificância. Os quais são:
· Mínima ofensividade da conduta;
· Ausência de periculosidade social da ação;
· Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
· Inexpressividade da lesão jurídica.
Os requisitos objetivos são próximos entre si para permitir a flexibilidade na interpretação do princípio da insignificância no caso concreto. A análise deste princípio deve ser realizada no caso concreto, pois funciona como instrumento de política criminal (aplicar a lei de acordo com os interesses da coletividade em que a lei está inserida).
D- Aplicação do princípio: 
Aplica-se o princípio da insignificância para o reincidente? 
No STF, prevalece que não se aplica o princípio da insignificância para o reincidente. Isto porque o princípio é um benefício que se dá para quem merece. Se o agente já tem uma condenação definitiva e insiste em violar a lei penal, não se pode conceder-lhe este benefício. 
Por outro lado, no STJ prevalece o entendimento em sentido contrário, pois o princípio da insignificância exclui a tipicidade do fato. Ou seja, se o fato é atípico, não há crime – tanto para o primário quanto para o reincidente. A reincidência é uma agravante genérica, que só será utilizada no momento da dosimetria da pena, quando o crime já foi reconhecido.
 
Aplica-se o princípio da insignificância para criminoso habitual? 
Criminoso habitual é aquele que faz da prática de crimes o seu meio de vida, dedicando-se ao cometimento de infrações penais. Nesse caso, a jurisprudência é tranquila ao entender que não se aplica o princípio da insignificância para o criminoso habitual.
Aplica-se o princípio da insignificância nos Crimes Militares? 
O entendimento amplamente dominante, tanto no STF quanto no STJ, é de que não se aplica o princípio da insignificância, porque os militares são regidos, em suas atuações, por valores elevados como hierarquia e disciplina; e os militares representam uma parcela do poder do Estado, não se podendo valer do prestígio de seu cargo para praticar crimes.
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Atenção: Na aplicação do princípio da insignificância o operador do direito deve analisar a extensão do dano e a existência de valor sentimental do bem. 
A aplicação do princípio da insignificância a todo e qualquer crime que seja com ele compatível, e não somente aos crimes patrimoniais (exemplo: descaminho).
No entanto, há crimes que são incompatíveis com o princípio da insignificância (exemplo: crimes hediondos e equiparados, homicídio, latrocínio, estupro, roubo, crimes praticados com violência à pessoa ou grave ameaça, etc).
	VUNESP – Juiz TJ-SP 2019. 
	O princípio da insignificância, que defende a não intervenção do Direito Penal para coibir ações típicas que causem ínfima lesão ao bem jurídico tutelado é afastado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, por sua Súmula no 599, em relação aos crimes contra a Administração Pública.
Súmula 599 do STJ  “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública”. 
	Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça, INAPLICÁVEL o princípio da insignificância às contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações domésticas e aos crimes contra a Administração pública.
Quem pode aplicar o princípio da insignificância? Quem pode analisar o seu cabimento no caso concreto? 
A jurisdição é do membro do Poder Judiciário (Juízes, Desembargadores). 
Delegado de Polícia pode aplicar o princípio da insignificância? 
O STJ entende que não. Para aquela Corte, a análise do princípio da insignificância compete exclusivamente ao Poder Judiciário. O STF ainda não se pronunciou diretamente sobre a questão. A Autoridade Policial pode e deve aplicar o princípio da insignificância. 
4.2.10 Princípio da Bagatela imprópria
A- Conceito: o fato e típico e ilícito, no entanto, o agente não é culpável (não há justa causa para mover a ação penal). 
Exemplo: furto simples. Instaura-se ação penal contra o agente e, por alguma falha do Judiciário, ou do MP, ou da Polícia, apenas quatro anos depois ocorre à audiência de instrução e julgamento. 
O Juiz, ao analisar o caso concreto, observa que dos quatro anos entre a prática do crime e a data da audiência o agente não cometeu mais nenhum delito; casou-se, tornou-se pai de família, abriu uma empresa, tem cem empregados, paga os tributos em dia, etc. 
B- Consequência lógica de aplicação: Diante deste cenário, a aplicação da pena não traria nada de útil, apenas prejudicando o agente, sua família, os empregados, o Poder Público e a sociedade. Assim, o Juiz deixa de punir o réu em razão da chamada desnecessidade da pena no caso concreto.
O fundamento da bagatela imprópria, portanto, é a desnecessidade da pena. Este princípio funciona como causa supralegal (não prevista em lei) de extinção da punibilidade. Quem admite este princípio o aplica com fundamento no art. 59, caput, do Código Penal (“O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”).
4.2.11 Princípio da vedação do bis in idem
A- Conceito: o agente somente pode ser punido uma única vez pelo mesmo fato. 
B- Consequência lógica de aplicação:
Art. 8, § 4 do Pacto de São Jose da Costa Rica “O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”. 
Súmula 241 do STJ “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente como circunstância judicial”. 
4.2.12 Princípio da Adequação Social 
O princípio da adequação social serve de parâmetro ao legislador, que deve buscar afastar a tipificação criminal de condutas consideradas socialmente adequadas.
5. EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO DIREITO PENAL 
5.1 Funcionalismo Penal
5.1.1 Introdução 
Surge na Alemanha na década de 1970, com a finalidade de discutir a função do Direito Penal. Não existe, todavia, um único funcionalismo penal. Os conceitos funcionalistas são inesgotáveis. Cada estudioso do Direito Penal tem um modo de pensar diverso sobre esse assunto.
5.1.2 Características fundamentais
A- Proteção do bem jurídico: o funcionalismo defende que o Direito Penal só é legítimo na medida em que protege um bem jurídico. O papel do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos. O Direito Penal não pode ir além do necessário para aproteção do bem jurídico.
B- Desapego da técnica jurídica excessiva: o Direito Penal não pode ficar preso a formalismos desnecessários. O Direito Penal pode quebrar este formalismo, se o bem jurídico não precisa de proteção.
C- Prevalência do jurista sobre o legislador: no Direito Penal os operadores do direito são mais importantes do que os legisladores. A lei é um ponto de partida no Direito Penal, mas não poderá engessar o movimento do operador do direito, que terá liberdade para aplicá-la ou não, na medida da necessidade da proteção do bem jurídico.
5.1.3 Espécies de funcionalismo
A- Funcionalismo moderado, dualista ou de política criminal: O funcionalismo de Roxin é moderado por defender que o Direito Penal tem limites: aqueles impostos pelo próprio Direito Penal, pelos demais ramos do Direito e também pela sociedade. 
O funcionalismo de Roxin é dualista, por compreender que o Direito Penal é um sistema próprio de regras e de valores, que convive em harmonia com os demais ramos do Direito.
O funcionalismo de Roxin é também de política criminal – que nada mais é do que aplicar a lei de acordo com os anseios da sociedade. É aplicar a letra fria da lei em conformidade com os valores da sociedade.
O funcionalismo de Roxin é denominado, no Brasil, de funcionalismo racional-teleológico, pois se trata de um Direito Penal movido pela razão, equilibrado, centrado no bom senso. 
Além disso, busca uma finalidade, que consiste na proteção de bens jurídicos.
B- Funcionalismo radical, monista ou sistêmico: Para Günther Jakobs o Direito Penal “só deve respeitar os limites impostos pelo próprio Direito Penal”. Considera-se monista, ademais, pois o Direito Penal vive isolado dos demais ramos do Direito.
Jakobs alicerça seu funcionalismo com base na Teoria dos Sistemas (Niklas Luhmann). Para ele, o Direito Penal, enquanto sistema, é autônomo, autorreferente e autopoiético.
O Direito Penal é autônomo, pois vive por si só, isolado dos demais ramos do Direito.
O Direito Penal é autorreferente porque todas as definições, conceitos e referências de que precisa estão no próprio Direito Penal. As referências do Direito Penal estão alojadas no próprio Direito Penal.
O Direito Penal é autopoiético pois se renova, se atualiza por conta própria. 
Exemplo: o Direito Penal cria novos institutos de que necessita, e descarta as partes superadas.
Para Jakobs, a função do Direito Penal “é a proteção da norma”. O Direito Penal só adquire respeito quando a norma penal é aplicada de forma severa e reiterada. Não é o Direito Penal que se adapta à sociedade, e sim o contrário.
5.2 Direito de Intervenção (ou Intervencionista)
Esta é uma proposta doutrinária criada por Winfried Hassemer, o qual entende que, sendo o Direito Penal muito amplo, saturado, ele terá pouca (ou nenhuma) utilidade prática. Nesse sentido, seria preciso esvaziar o Direito Penal, diminuindo o seu tamanho. 
Deve-se deixar no Direito Penal apenas o seu núcleo fundamental, ou seja, os crimes de dano e de perigo contra bens individuais. 
O restante (crimes de perigo contra bens difusos e coletivos) deveria ser levado para o chamado Direito de Intervenção. O que sai do Direito Penal e ingressa no Direito de Intervenção deixa de ser crime, é dizer, perde sua natureza penal.
	 
O Direito de Intervenção equivale, no Brasil, ao que se denomina Direito Administrativo Sancionador. A sanção, que até então era aplicada pelo Poder Judiciário, passa a ser aplicada pela Administração Pública.
5.3 Velocidades do Direito Penal
A- Introdução: Teoria criada por Jesús-Maria Silva Sánchez, no livro chamado “A expansão do Direito Penal”. 
Para Silva Sánchez, o Direito Penal sempre se desenvolveu em duas velocidades. Assim, há um Direito Penal de primeira velocidade e um Direito Penal de segunda velocidade.
B- Primeira Velocidade: é o chamado Direito Penal da prisão. É composto pelos poucos crimes que inevitavelmente levam seu responsável à perda da liberdade. No caso brasileiro, por exemplo, são exemplos o homicídio qualificado e o latrocínio, entre outros delitos. 
O Direito Penal de primeira velocidade pode ser representado por um círculo pequeno, pois poucos crimes entram neste grupo. O Direito Penal de primeira velocidade é lento, porque é um Direito Penal garantista. A liberdade do ser humano está em jogo. 
Assim sendo, é preciso tramitar com toda a cautela. É por isto que há prazos processuais dilatados, diversas oportunidades para defesa, um número grande de testemunhas a serem ouvidas, etc.
C- Segunda velocidade: é o chamado Direito Penal sem prisão. É o Direito Penal das penas restritivas de direitos e da pena de multa. É a fuga da prisão. 
Nesse Direito Penal de segunda velocidade pode-se traçar um círculo muito maior, pois a grande maioria dos crimes entra nesse grupo. 
Então, este Direito Penal de segunda velocidade é extremamente rápido, pois flexibiliza os direitos e garantias do ser humano.
Tanto o Direito Penal de primeira velocidade quanto o Direito Penal de segunda velocidade são aplicados pela justiça penal (Poder Judiciário). 
É diferente do Direito de Intervenção, aplicado pela Administração Pública.
C- Terceira velocidade do Direito Penal: O Direito Penal do Inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”. 
Isto porque se aplica a pena de prisão (até mesmo aquela por tempo indeterminado) e, ao mesmo tempo, é extremamente célere, já que suprime direitos e garantias.
D- Quarta velocidade do Direito Penal: 
A teoria é criação do penalista argentino Daniel Pastor. Esta quarta velocidade é o que Pastor chama de “neopunitivismo” ou “panpenalismo”. Neopunitivismo é uma nova forma de punir. Panpenalismo é um Direito Penal absoluto, totalitário.
Trata-se de um Direito Penal mais arbitrário, mais autoritário até mesmo do que o Direito Penal do Inimigo. É aplicado para antigos chefes de Estado pela prática de crimes de guerra.
Viola-se o princípio da reserva legal e também o princípio da anterioridade. Viola-se também o princípio do juízo natural, pois são criados tribunais de exceção (tribunais “ad hoc”) para efetuar os julgamentos. 
O Direito Penal de quarta velocidade ofende o sistema acusatório, em que as funções de acusar, defender e julgar são exercidas por pessoas e órgãos diferentes.
5.4 Direito Penal do Inimigo
5.4.1 Introdução
Alguns pesquisadores e historiadores do Direito Penal sustentam que o Direito Penal do Inimigo faz parte da história do Direito Penal.
O criador desta teoria foi o alemão Günther Jakobs, que começa a escrever sobre o Direito Penal do Inimigo na década de 1980, no contexto da queda do Muro de Berlim e da unificação das Alemanhas (Oriental e Ocidental). 
Mas nessa época, e também na década de 1990, a teoria não recebeu muita simpatia dos estudiosos do Direito Penal.
Contudo, com os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, volta à tona a teoria do Direito Penal do Inimigo. 
Em 2003, Jakobs escreve o livro “Direito Penal do Inimigo”, nascendo, para valer, esta teoria.
Para Jakobs, o inimigo é a antítese do cidadão. Todos nascem com o status de cidadão. O ponto é saber como algumas pessoas abandonam o status de cidadão e se tornam inimigos.
Em primeiro lugar, o sujeito pratica um crime grave (ex: latrocínio). 
Mesmo assim, ainda é um cidadão. Em segundo lugar, o agente repete o crime grave.
Em terceiro lugar, o agente se torna um criminoso habitual, fazendo da prática de crimes o seu meio de vida.
O sujeito apenas se transforma em inimigo quando ingressa em uma organização criminosa, enquanto uma estrutura ilícita de poder. Agora, o inimigo, por excelência, é o terrorista. Os inimigos do Direito Penal têm em comum: o fato de serem imprevisíveis; a insubmissão às regras do Estado, submetendo-se a um comando próprio, com regras próprias.
Nem todo criminoso é inimigo; apenas uma parcela reduzida de criminosos é que entra neste rol.
O sujeito não precisa passar por todas as etapas acima descritas para se tornar inimigo.
Jakobs, após separar os cidadãos dos inimigos, identificaa existência de dois Direitos Penais: de um lado, o Direito Penal do Cidadão (representado por um grande círculo, pois a grande maioria das pessoas pertence a este grupo, inclusive os criminosos) e, do outro, o Direito Penal do Inimigo (representado por um pequeno círculo, pois poucas pessoas são consideradas inimigos).
O Direito Penal do Cidadão é garantista, porque respeita os direitos e garantias do ser humano. Este Direito Penal do Cidadão é retrospectivo, porque se baseia na culpabilidade do agente. É aquele que olha para o passado: o agente é punido por aquilo que fez ou o deixou de fazer. 
O Direito Penal do Cidadão é, também, “do fato”, porque julga o fato típico e ilícito praticado pelo agente. As condições do agente vão interferir na dosimetria da pena, mas não caracterizarão o crime.
O Direito Penal do Inimigo é autoritário porque suprime direitos e garantias do ser humano. É, também, prospectivo, porque olha para o futuro, amparando-se na periculosidade do agente. Por esta razão, é um Direito Penal do autor, que vai estereotipar determinadas pessoas como indesejáveis para o convívio social. 
O que importa, na verdade, é o que o inimigo pode vir a fazer. O inimigo terá uma defesa meramente formal, no lugar de uma ampla defesa; não terá acesso ao duplo grau de jurisdição; pode ficar incomunicável; para ele se admitem somente penas indeterminadas.	
5.4.2 Efeitos da aplicação do Direito Penal do inimigo
O Direito Penal do Inimigo propõe a chamada antecipação da tutela penal: no Brasil, a punibilidade é possível a partir do momento em que o sujeito pratica atos de execução do crime. 
O Brasil pune o crime consumado e o crime tentado. A antecipação da tutela penal é a punição de atos preparatórios: o Direito Penal do Inimigo pune atos preparatórios, para evitar um dano maior.
No Direito Penal Brasileiro e no Processo Penal Brasileiro adota-se o sistema do livre convencimento motivado, da persuasão racional ou da liberdade de prova. 
O Juiz pode absolver ou condenar o réu utilizando qualquer prova, desde que o faça fundamentadamente. No Direito Penal do Inimigo, admite-se o emprego da tortura como forma de obtenção da confissão, considerando-se lícita a prova assim extraída. 
Essa autorização deriva do princípio da proporcionalidade: de um lado, há a integridade física e moral de um sujeito que quer destruir o Estado; de outro, há bens jurídicos de pessoas inocentes.
O Direito Penal do Inimigo defende o fortalecimento, a ampliação dos poderes da Polícia. Então, é contra a chamada reserva de jurisdição: tudo o que a Polícia deve fazer deverá ser solicitado anteriormente ao Juiz. Para Jakobs, isto somente tornaria o trabalho burocrático, dificultando a apuração dos crimes e favorecendo o inimigo. O Judiciário deveria fazer um controle apenas posterior, e não prévio.
5.4.3 O Direito Penal do Inimigo no Brasil
É possível aplicar, no Brasil, o Direito Penal do Inimigo? Na forma proposta por Jakobs, a resposta é não: o art. 5º, caput, da CRFB/88, consagra o princípio da isonomia formal e material. 
Se todos são iguais perante a lei, não há como dividir as pessoas em dois grupos (cidadãos e inimigos). Além do mais, diversos incisos do art. 5º da CF vedam a tortura, tratamento desumano ou degradante, consagram a ampla defesa, o devido processo legal, etc. Tudo isto vai contra o Direito Penal do Inimigo.
Todavia, é indiscutível que, no plano informal, o Direito Penal do Inimigo existe no Brasil. Exemplos: grupos de extermínio, chacinas, execuções sumárias. É o Estado aplicando este Direito Penal de uma forma clandestina. É o chamado Direito Penal Subterrâneo: trata-se dos crimes cometidos por agentes públicos na clandestinidade, muitas vezes apoiados pela sociedade.
Todavia, há situações em que o Direito Penal do Inimigo acaba existindo formalmente no Brasil. 
Exemplo: caso Carandiru.
5.5 Escolas penais 
A- Introdução: O Estudo das Escolas Penais começou a ser estudado no Século XVIII e teve termino no Século XX. O Estudo das Escolas Penais, trata-se do conjunto harmônico de ideias com embasamento cientifico, versando sobre o conceito de crime, a finalidade da pena e os fundamentos do direito de punir Estatal. 
B- Escola Clássica: A Escola Clássica se divide em dois períodos. 
· Período Humanitário: O primeiro autor que se remonta é Cesare Bonesana (Marquês de Beccaria). A obra que ele publicou foi “Dos delitos e das Penas”. Beccaria transpunha uma visão humanitária e racional ao direito penal (período humanitário). O modelo de direito penal da época era o Direito Penal do terror, pródigo em aplicar pena de morte; protegia homens em detrimento mulheres e os escravos eram considerados coisas. A obra de Beccaria foi uma crítica a esse modelo do “terror”.
· Período Científico: Dentro da escola clássica há o período científico. O seu representante foi o Francesco Carrara. Sua obra foi intitulada “Programa do Curso de direito criminal”, que define as bases da escola clássica. Sua premissa é de que existem valores fundamentais que prescindem às leis estatais, que são as leis naturais, que devem estabelecer as balizas do direito penal. E contra essas leis naturais, a lei do homem não pode se impor. Carrara dizia que o crime é um ente jurídico (código penal). 
Dessa definição o autor nos revela o método científico empregado, qual seja, o método dedutivo (parte do geral ao específico) – início da construção do ordenamento jurídico. 
O que legitima o Estado a punir (fundamento do direito de punir) é o livre arbítrio, de maneira que se deve reprimir os atos moralmente imputáveis. 
A escola clássica, portanto, é um pouco hoje o que se chama “garantismo negativo”, corpo de doutrina que defende limitações ao poder de punir do Estado. Esta doutrina concita o direito penal a ser justo.
· Conceito de Crime: Ente jurídico. 
· Método Dedutivo: o estudo do direito penal deveria partir do estudo da lei para a conduta do agente. 
· Finalidade da Pena: Retributiva, fundamentada na culpa moral.
· Fundamento do Direito de Punir: Livre arbítrio (escolheu o caminho errado, vai colher seus frutos).
5.6 Histórico do direito penal no Brasil
6. APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
6.1 Lei Penal 
A- Introdução: A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal, pois só ela pode criar crimes e cominar penas (desdobramento do princípio da reserva legal).
Qual é a estrutura da Lei Penal incriminadora? A Lei Penal incriminadora é estruturada pelo preceito primário e secundário. 
· Preceito primário: define a conduta criminosa;
· Preceito secundário: define a pena cominada. 
Atenção: não é correto falar em “pena cominada em abstrato”. Isso é redundância, pois a cominação se dá em abstrato. 
Nosso Código Penal segue a teoria das normas, desenvolvida pelo alemão Karl Binding. Para ele, a lei penal é descritiva, ou seja, ela apenas descreve a conduta criminosa, não proíbe a sua prática, apenas diz “se cometer determinada conduta, será responsabilizado com determinada pena”. Cuida-se do chamado “sistema da proibição indireta”.
6.2 Classificação das Leis Penais 
A- Leis Penais Incriminadoras: criam crimes e cominam penas. Estão previstas na Parte Especial do CP e na legislação extravagante. Não existem normas penais incriminadoras na Parte Geral.
B- Leis penais não incriminadoras: não criam crimes nem cominam penas. Estão previstas na Parte Geral, na Parte Especial e na legislação extravagante. Subdividem-se em:
· Permissivas: são as causas de exclusão da ilicitude (art. 23 do CP), também chamadas de “eximentes”, “justificantes” ou “tipos penais permissivos”. 
Em regra estão previstas na Parte Geral do CP, mas também podem ser encontradas na Parte Especial (ex. art. 128 do CP – aborto) e na legislação extravagante.
· Exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do agente. Estão previstas tanto na Parte Geral (ex. art. 26, caput) como também na Parte Especial (ex. art. 182 do CP).
· Interpretativas: são as que esclarecem o conteúdo e o significado de outras leis penais.
Exemplo: art. 327 do CP (“conceito defuncionário público para fins penais”).
· De aplicação, finais ou complementares: delimitam o campo de validade da legislação penal. 
Exemplo: art. 5° do CP (conceito de território para fins penais).
· Diretivas: apresentam os princípios vetores do Direito Penal. 
Exemplo: O art. 1° do CP (princípios da reserva penal e da anterioridade).
· Integrativas, de extensão ou complementares da tipicidade: complementam a tipicidade na tentativa, na participação e nos crimes omissivos impróprios.
C- Leis penais completas ou perfeitas: são as que apresentam todos os elementos da conduta criminosa.
Exemplo: Art. 121, caput, do CP: “matar alguém”.
D- Leis penais incompletas ou imperfeitas: são as que reservam a complementação da conduta criminosa a outra lei, a um ato administrativo ou ao aplicador do Direito.
6.3 Características da lei penal
a) Exclusividade: só a lei penal pode criar crimes e cominar penas (princípio da reserva legal - art. 1º do CP).
b) Anterioridade: a lei penal deve ser anterior ao fato que pretende punir. Há uma exceção a isso, consistente na retroatividade benéfica (art. 5º, XL da CF/88).
c) Imperatividade: o descumprimento da lei penal acarreta na imposição de uma pena ou de uma medida de segurança.
d) Generalidade: a lei penal dirige-se indistintamente a todas as pessoas.
e) Impessoalidade: a lei penal projeta seus efeitos para fatos futuros, visando qualquer pessoa que venha a praticá-los. Há duas exceções: anistia; e a “abolitio criminis”.
Atenção: A Anistia e a abolitio criminis são duas hipóteses, criadas por leis, que alcançam fatos passados e concretos.
6.4 Tempo do crime
O art. 4º do CP adotou a teoria da atividade.
Art. 4º do CP “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.
Quais são as consequências dessa teoria? Aplica-se a lei penal que estava em vigor no momento da conduta, salvo se a lei penal posterior for mais favorável. A imputabilidade do agente deve ser analisada ao tempo da conduta.
Atenção: no tocante ao termo inicial da prescrição da pretensão punitiva, o art. 111, inc. I, do Código Penal adota a teoria do resultado.
Art. 111, inciso I, do Código Penal “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: do dia em que o crime se consumou”. 
A Súmula 711 do STF é aplicada aos crimes e continuados.
Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
	VUNESP – Juiz TJ-SP 2019. 
	A lei penal mais gravosa aplica-se ao crime continuado, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade.
· Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo, por vontade do agente. O agente deliberadamente mantém a situação contrária ao Direito Penal.
Exemplo: art. 159 do CP (extorsão mediante sequestro). O crime se consuma no momento em que o agente priva a vítima da liberdade, mas continua se consumando até a libertação do ofendido.
Se a vítima foi privada da liberdade quando estava em vigor à lei “A”, menos grave, mas no período em que ficou em poder do agente entrou em vigor a lei “B”, mais grave, qual delas será aplicável?
Aplica-se a lei “B”. Tal conclusão não viola o princípio da anterioridade. E também não se pode utilizar a ultratividade da lei “A”. O fundamento da súmula é simples: o crime também foi praticado na vigência da lei mais grave.
· Crime continuado: É aquele em que o agente pratica, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais delitos da mesma espécie, e pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro (art. 71 do CP).
Art. 71 do CP “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”.
O Código Penal adota a teoria da ficção jurídica. Imaginemos que o agente pratique seis crimes, porém os cinco primeiros estavam sob a lei “A”, mas o 6º crime é praticado na vigência da lei “B”, mais grave. O CP, de forma fictícia, considera, exclusivamente para fins de aplicação da pena, que um único crime foi praticado pelo agente.
E qual lei será aplicada para esses seis crimes? A lei “B”. Se, por ficção jurídica, existe um único crime para fins de aplicação da pena, ele também foi cometido durante a vigência da lei mais grave.
6.5 Lugar do crime
O art. 6° do CP adota a teoria da ubiquidade.
Art. 6º do CP “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.
	VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto
	Para efeito de análise sobre o local do crime, a legislação brasileira adota a teoria da ubiquidade.
	VUNESP - 2018 - PC-SP - Investigador de Polícia
	No que diz respeito ao lugar do crime, o CP adotou a teoria: da ubiquidade, ou seja, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Lembra-se da palavra LUTA, ou seja, Lugar (Ubiquidade) e Tempo (Atividade). 
Essa teoria não é aplicada para todo e qualquer delito, mas apenas para os crimes à distância ou de espaço máximo, isto é, aos delitos em que conduta e resultado ocorrem em países diversos.
O fundamento dessa teoria é a soberania dos países envolvidos, pois se o delito ofende interesses dos dois países, um deles não pode retirar do outro a possibilidade de processar, julgar e punir quem violou a lei penal.
Para evitar o bis in idem, o art. 8º do Código Penal diz que a pena cumprida no estrangeiro será descontada da pena aplicada no Brasil pelo mesmo crime.
Art. 8º do CP “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”.
Não se pode confundir os crimes à distância com os crimes plurilocais (ou de espaço mínimo).
· Crimes à distância: o CP adota a teoria da ubiquidade. A questão diz respeito à soberania dos países envolvidos.
Exemplo: Mévio toma um tiro no peito próximo da ponte de amizade em Foz do Iguaçu. Mévio, ferido, atravessa a ponte da amizade e falece no solo Paraguaio. 
	VUNESP - 2016 - Prefeitura de Alumínio - SP - Procurador Jurídico
	Um brasileiro, João, que reside em Buenos Aires, Argentina, decide matar um desafeto, José, que reside na cidade de Alumínio, SP, Brasil. João, em sua residência, fabrica uma “carta-bomba”, no dia 10, e, no mesmo dia, posta o objeto em uma unidade dos correios de Buenos Aires, com destino a Alumínio. O artefato é recebido por José, em Alumínio, no dia 20. No dia 25 é aberto, explode e mata José. Com relação à aplicação da Lei Penal, João praticou crime no dia 10 e o local em que ele foi praticado pode ser considerado em Buenos Aires ou na cidade de Alumínio. 
· Crimes plurilocais: são os que ocorrem em comarcas diversas, mas no mesmo país. A questão não é de soberania, e sim de competência. Nesse ponto, o art. 70 do CPP acolhe a teoria do resultado.
	VUNESP - 2015 - PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1a Classe
	Na data de 03 de outubro de 2014, na cidade de Aquiraz – CE, o indivíduo B efetuou dois disparos de arma de fogo contra a pessoa C, que foi socorrida no Hospital mais próximo. A pessoa C foi posteriormente transferida para um Hospital na cidade de Fortaleza – CE, local em que faleceu na data de 09 de outubro de 2014, em decorrência dos disparos de arma de fogo efetuados pelo indivíduo B na cidade de Aquiraz – CE.  Em relação ao lugar e tempo do crime praticado pelo indivíduo B, segundo o previsto no Código Penal considera-se o lugar do crime tanto aquele em que ocorreram

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