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REATORES E CINÉTICA HOMOGÊNEA Prof. Isaías Soares Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade O que é Cinética Química? Grande parte da Química trata das reações, assim, um conhecimento das velocidades com que elas acontecem é transcendental para prevermos se dada reação é mais lenta ou mais rápida que outra e para conhecermos como os reagentes interagem para formar os produtos. A cinética química, dessa forma, estuda as velocidades das reações químicas e seus mecanismos, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento de novos processos e produtos e para o projeto de reatores. Definições Básicas em Cinética Química Homogênea Reação homogênea: aquela que ocorre envolvendo apenas uma única fase. Exemplo: quando há reação química ao se misturarem duas soluções (fase líquida), tal como ácido e base. Ou então quando há reações entre substâncias gasosas, caso da produção da amônia (NH3) a partir de N2 e H2. )g(NH2)g(3H (g)N 322 →+ Prof. Isaías Soares Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade O quão rápido uma reação química ocorrre? As reações químicas possuem velocidades diferentes entre si. A ferrugem de um prego é um processo lento, enquanto que a explosão de uma bomba é um processo instantâneo, por exemplo. Dessa forma, é útil encontrarmos expressões que nos digam o quão rápido um determinado reagente (ou mais de um) se transformam nos produtos. Para isso, é necessário definir velocidade de uma reação: Seja a reação: A→ produtos, a velocidade de reação (chamada de – rA) é o número de mols de A que reage (ou “desaparece”) por unidade de volume e por unidade de tempo. Matematicamente: sLmol s Lmol tempod d ./ / )( A) reagentes do ção(concentra r- A = == Prof. Isaías Soares Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade Aplicação 1 A reação: A → produtos é realizada num reator de volume constante. A concentração inicial de A é de 20 mol/L. Após 8 minutos de reação, constatou-se que resta no reator 16 mol/L. Qual a velocidade da reação? Velocidade de formação do produto Seja a reação A → B Podemos também expressar a velocidade de formação de B (chamada de rB), como: Note que, pela estequiometria da reação: -rA = rB ,ou seja, já que para cada mol de A que “desaparecem” do reator “aparecem” um mol de B, as velocidades de reação de A e produção de B são iguais. Solução: -rA = 0,5 mol/L.min sLmol s Lmol tempod d ./ / )( B) produto do ção(concentra rB = == Prof. Isaías Soares Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade Velocidades relativas de uma reação As velocidades relativas de uma reação envolvendo várias espécies podem ser obtidas a partir das razões dos coeficientes estequiométricos. Seja a reação abaixo: Podemos escrever: Reagentes: possuem velocidades simbolizadas com um sinal negativo, pois estão sendo consumidos. Isso não significa, entretanto, que a velocidade é negativa. O valor numérico da velocidade de consumo dos reagentes é um número positivo. Produtos: possuem velocidades simbolizadas com sinal positivo, pois estão sendo formados. Isso não significa, entretanto, que a velocidade é negativa dDcCbBaA +→+ d r c r b r a r DCBA == − = − Prof. Isaías Soares Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade Exercício 1 Seja a reação: 2NO + O2 → 2NO2 Sendo a velocidade de consumo do NO (-rNO) igual a 0,4 mol/L.h, determine a velocidade de consumo do O2 (-rO2) e de formação do NO2 (rNO2). Solução: Da estequiometria da reação, temos: Dessa forma, basta apenas substituir o dado da velocidade de consumo do NO. Assim: Resolvendo, vamos encontrar – rO2 = 0,2 mol/L.h e rNO2 = 0,4 mol/L.h 212 22 NOONO rrr = − = − 212 ./4,0 22 NOO rrhLmol = − = Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Aplicação 2 Dada a seguinte reação: Sabendo-se que o a velocidade de consumo do NOBr é de 1,8 mols/L.min, qual a velocidade de formação do Br2? Qual a velocidade de formação do NO? Aplicação 3 Para a reação de formação da amônia (NH3): A velocidade da formação da amônia foi medida como 0,06 mol/L.s. Qual a velocidade de consumo do hidrogênio(H2)? Solução: -rH2 = 0,09 mol/L.s Solução: -rBr2 = 0,9 mols/L.min; rNO = 1,8 mols/L.min )g(Br)g(NO2)g(NOBr2 2+→ )g(NH2)g(3H (g)N 322 →+ Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Leis de velocidade de uma reação química Na verdade, a velocidade de consumo do reagente A (-rA) depende da temperatura e da composição do sistema reacional, pois um dos fatores que influenciam na velocidade das reações químicas é a concentração dos reagentes. Dessa forma, a velocidade de consumo do reagente A pode ser expressa em função de sua concentração (ou da concentração das demais espécies), o qual é denominada Lei de velocidade. Dada a reação genérica: Como a velocidade depende da concentração dos reagentes, a velocidade de consumo de A depende da concentração de A e de B. Assim a lei de velocidade desta reação é: Onde kA é uma constante denominada constante de velocidade ou velocidade específica da espécie A e que depende apenas da temperatura da reação e α e β são denominados na lei como ordens da reação. Nesse caso, a reação possui ordem α em relação a A e ordem β em relação a B e ordem total α + β. Se a reação é elementar, ou seja, ocorre em uma única etapa, as ordens da reação são iguais a seus respectivos coeficientes estequiométricos (então α = a e β = b). No entanto, as ordens da reação devem ser sempre determinadas através de observações experimentais. produtosbBaA →+ BAAA CCkr =− Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Aplicação 4 Dada a seguinte reação elementar: Determine: a) A lei de velocidade em relação ao consumo do brometo de metila; b) A ordem da reação em relação ao mesmo reagente; c) A lei de velocidade em relação ao OH-; d) A ordem da reação em relação ao OH-; e) A ordem total da reação. Solução: a) –rCH3Br = kCH3BrCCH3BrCOH- ; b) 1ª ordem; c) –rOH- = kOH-CCH3BrCOH- d) 1ª ordem; e) 2ª ordem −− +→+ BrOHCHOHBrCH 33 Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Aspectos dimensionais da constante de velocidade (k) As unidades da constante de velocidade dependem da ordem global da reação, n (onde n = α + β) . Sendo assim, k terá as seguintes dimensões: Assim sendo, se a reação for de ordem zero (n = 0 e –rA = kA), teremos: k = Concentração/tempo. As unidades de k serão mol/L.s; mol/L.h, e assim sucessivamente. Se for de 1ª ordem global (n = 1 e –rA = kACA), teremos: k = 1/tempo = tempo -1. A unidade de k será s-1, min-1, h-1, e assim por diante. Se for de 2ª ordem (n = 2 e –rA = kACA 2), teremos: k = tempo/concentração. As unidades de k serão L/mol.s; L/mol.min, dm3/mol.h, e assim por diante. Tempo )ãoConcentraç( 1 n k − = Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Reações não elementares Um grande número de reações químicas não segue leis simples de velocidade. Essas reações geralmente ocorrem em mais de uma etapa, onde geralmente alguma etapa é determinante na velocidade da reação. Como um exemplo, considere a síntese do fosgênio (COCl2) em fase gasosa: CO + Cl2 → COCl2 Na qual a lei de velocidade em relação ao CO é: Assim, essa reação é de primeira ordem em relação ao CO e de ordem três meios em relação ao gás cloro, e portanto, de ordem global igual a cinco meios. Outro exemplo é a reação entre hidrogênio e bromo: H2 + Br2 → 2HBr 2/3 2ClCOCO CkCr =− Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Cuja lei de velocidade é: E não podemos falar de ordens de reação aqui, a não ser em certas condições. Por exemplo, se a concentração do HBr for muito pequena (ou seja CHBr << k’), a reação será de 1ª ordem em relação ao H2 e ordem ½ em relação ao Br2. A lei de velocidade possui essa forma comprovada experimentalmente, mas seu complexo mecanismo de reaçãoé o responsável pela forma da equação. Essa reação ocorre em cadeia com produção de radicais Br . e H . . Br2 → 2Br . (Iniciação) Br . + H2→ HBr + H . (Propagação) H . + Br2 → HBr + Br . (Propagação) H . + HBr → H2 + Br . (Inibição) H. + Br. → HBr (Terminação) 2 222 2 /' 2/1 BrHBr BrHBr Br CCk CCk r + =− Prof. Isaías Soares Aula1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Reações reversíveis As leis de velocidade para reações reversíveis (que ocorrem nos dois sentidos) precisam ser reduzidas para a relação dada na termodinâmica, que relaciona as concentrações das espécies no equilíbrio. Assim, para a reação geral: Temos a expressão para a constante de equilíbrio (KC): Onde o subscrito “e” indica que a concentração de cada espécie se encontra no equilíbrio. Nessa situação, as velocidades de reação para todas as espécies é igual a zero. dDcCbBaA ++ b Be a Ae d De c Ce C CC CC K = Aula 1 – Cinética Química e Lei de Velocidade Exercício 2 Seja a reação: A ↔ B Demonstre que quando o sistema atinge o equilíbrio (ou seja, quando as velocidades de reação das espécies se tornam iguais a zero), a expressão obtida se iguala à expressão da constante de equilíbrio obtida da termodinâmica: Solução: Sendo kA a constante de velocidade da reação direta e k-A a constante da inversa, temos as leis: Ae Be C C C K = A) de produção( A) de produção(A) de consumo( BAAinv AAAdirAAAdir Ckr CkrCkr −= −=→=− Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade A velocidade de produção líquida de A é igual à soma das velocidades de formação vindas da reação direta e da inversa. Assim: A velocidade de consumo líquido de A é obtida multiplicando-se a equação acima por -1, e ainda colocando kA em evidência, ficamos com: Por definição, a constante de equilíbrio , KC = kA/k-A. Então, ficaremos com: Finalmente, fazendo – rA = 0, e resolvendo a equação (chamando CA de CAe e CB de CBe, concentrações no equilíbrio), chegamos a: BAAAAAA CkCkinversardiretarr −+−=+= )()( −=− − B A A AAA C k k Ckr −=− B C AAA C K Ckr 1 Ae Be C C C K = Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Teoria das colisões Em qualquer reação química os átomos que formam os reagentes se rearranjam formando os produtos. Os reagentes se transformam em produtos através das colisões que os átomos dos reagentes exercem uns sobre os outros. Assim, pode-se dizer que a velocidade da reação é proporcional ao número de colisões por segundo entre as moléculas dos reagentes. Porém, nem todos os choques são efetivos, ou seja, nem todas as colisões entre os átomos constituintes dos reagentes formam os produtos. Quando isso acontece, pode-se dizer que as colisões foram não-efetivas. Para que uma colisão seja efetiva é necessário que os átomos colidam numa certa orientação espacial favorável. Nesse momento há a formação de moléculas em estado intermediário, caracterizado pela formação de um complexo ativado, isto é, uma estrutura altamente energética que, ao ser convertida nos produtos, libera energia. Formação do complexo ativado para a reação O2 + N2→ 2NO Fonte: Usberco e Salvador – Editora Saraiva-2002 Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Para a formação do complexo ativado, as moléculas dos reagentes, além de estarem numa posição geométrica favorável para reagirem precisam receber também uma certa energia para isso. Essa energia, que é necessária para que a reação se inicie, é denominada Energia de Ativação (Ea). Assim: Essa energia e ativação é necessária tanto para as reações exotérmicas, quanto as endotérmicas. Seus diagramas estão mostrados abaixo: Na prática, diferentes reações químicas possuem diferentes Ea’s e quanto menor a energia de ativação, maior a velocidade da reação. . Prof. Isaías Soares Fonte: Usberco e Salvador – Editora Saraiva-2002 Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade A equação de Arrhenius Foi dito anteriormente que a constante de velocidade kA dependia da temperatura. Esta hipótese é bastante válida experimentalmente para a maioria das reações e parece funcionar bem. Foi o químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927) quem primeiro sugeriu que a dependência da constante de velocidade com a temperatura pudesse seguir uma função exponencial do tipo: Em que: A : fator pré-exponencial ou fator de frequência. Ea: Energia de ativação da reação R: constante dos gases (R = 8,314 J/mol.K) T: Temperatura absoluta (em K) (lembre-se: T(K)/K = T(°C)/°C + 273) Essa equação é uma das maiores contribuições dadas à cinética química e mantém sua validade até hoje, mais de um século de formulada. Uma forma útil da equação é obtida quando comparamos a mesma constante a duas temperaturas diferentes. RTE A aAeTk / )( − = Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Seja kA1 a constante de velocidade de uma dada reação realizada a uma Temperatura T1 e seja kA2 a constante de velocidade quando essa mesma reação é realizada a uma temperatura diferente T2. Substituindo na equação de Arrhenius, teremos: Dividindo (1) por (2): Essa forma da equação de Arrhenius é útil porque podemos determinar a razão entre as velocidades de uma dada reação química quando alteramos a temperatura de T1 para T2, por exemplo, e vice-versa. Um exemplo do uso dessa equação é dado a seguir. (2) 2 / 2 RTE A aAek − = (1) 1 / 1 RTE A aAek − = −= = − 122 1 11 2 1 11lnou 12 TTR Ea k k e k k A ATTR Ea A A Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Exercício 3 A energia de ativação para uma reação química é de 200 kJ/mol. A constante de velocidade dessa reação é de 1,28 x 10-3 L/mol.s a 600°C. Qual a sua constante de velocidade a 800°C? Solução: temos que k a 600°C (kA1) é 1,28 x 10 -3 L/mol.s e queremos saber o k da mesma reação (kA2) a 800°C. Utilizando a equação modificada de Arrhenius (lembre-se que T terá que ser dado em K, pois temos o R em J/mol.K): .s0,218L/mol== →=→−= → −= → −= − − − −− − 136,5 3 2 136,5 2 3 2 3 5 2 3 122 1 ./1028,1 ./1028,1 136,5 ./1028,1 ln 873 1 1073 1 ./314,8 /102./1028,1 ln 11 ln e smolLx k e k smolLx k smolLx KKKmolJ molJx k smolLx TTR Ea k k A A AA A Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Como determinar a Energia de Ativação da reação? A energia de ativação (Ea) pode ser determinada experimentalmente, se tivermos os valores de kA1 e kA2 e das temperaturas T1 e T2, ou mais precisamente, se tivermos vários valores de kA e suas respectivas temperaturas. Se tomarmos o logaritmo natural dos dois membros na equação de Arrhenius, vamos ter: Se plotarmos um gráfico de ln kA contra 1/T, vemos que obteremos uma reta com coeficiente angular –Ea/R. Basta então calcularmos o coeficiente da curva utilizando o conceito de coeficiente angular, ou seja: Ou ainda, utilizar um programa que possa plotar esse gráfico, como o Microsoft Excel. Basta então “pedir” ao programa que determine a melhor equação que relacione os pontos e comparar o valor de –Ea/R com o coeficiente angular. −= TR Ea AkA 1 lnln )/1( )(ln T kA R Ea = − Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Exercício 4 A reação de decomposição do cloreto de benzeno diazônio (C6H5N2Cl) para produzir clorobenzeno (C6H5Cl) e nitrogênio (N2) foi realizada a várias temperaturas e obteve-se a tabela abaixo: Com base nesses dados, determine a energia de ativação da reação. Solução: precisamos plotar ln k em função de 1/T utilizando o Excel. Os dados que serão utilizados são: k(s-1) 0,00043 0,00103 0,00180 0,00355 0,00717 T(K) 313 319 323 328 333 ln k -7,75 -6,88 -6,32 -5,64 -4,941/T(K-1) 0,00320 0,00314 0,00310 0,00305 0,00300 Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Plotando o gráfico, teremos: Cuja equação, mostrada logo acima é: y = -14017x + 37,119. Assim: y = -14017x + 37,119 R² = 0,9998 -9,00 -8,00 -7,00 -6,00 -5,00 -4,00 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 0,00295 0,00300 0,00305 0,00310 0,00315 0,00320 0,00325 ln ( k) 1/T(K-1) ln k versus 1/T KJ/mol 116,54Ea = ==→−= − J/mol 116537,34 J/mol.K 8,314K x 1401714017 EaK R Ea Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Também observamos que: ln A = 37,119 ou seja, A = 1,32 x 1016 s-1. Uma observação a ser feita sobre a forma logarítmica da equação de Arrhenius é que quanto maior for a energia de ativação de uma reação, mais sensível a reação é com a mudança de temperatura, visto que –Ea/R é o coeficiente angular. Ou seja, qualquer pequena variação na temperatura poderá mudar muito o valor de kA, e consequentemente, a velocidade da reação. Ao contrário, se Ea é pequena, a velocidade da reação só terá mudança significativa se variarmos muito sua temperatura. Prof. Isaías Soares Aula 1 - Cinética Química e Lei de Velocidade Aplicação 5 Para uma dada reação química, determine a energia de ativação e o fator pré-exponencial a partir dos seguintes dados: Solução: Ea = 33,12 kJ/mol e A = 2174 min-1 k(min-1) 0,001 0,05 T(°C) 0,0 100,0 Prof. Isaías Soares