Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
– Teoria Psicanalítica Seu nome ficou associado à psicanálise, a mais famosa de todas as teorias da personalidade, cujos pilares, sexo e agressão, são temas de popularidade constante. A compreensão de Freud da personalidade humana foi baseada em suas experiências com pacientes, em sua análise dos próprios sonhos e em sua vasta leitura de várias ciências e humanidades. Freud se baseou mais no raciocínio dedutivo, fazendo observações de modo subjetivo e em uma amostra relativamente pequena de pacientes, e seu conceito de personalidade passou por constantes revisões durante os últimos 50 anos de sua vida. Para Freud, a vida mental divide-se em dois níveis: o Inconsciente; dividido em dois níveis: o Inconsciente propriamente dito; o Pré-consciente; o Consciente. Na psicologia freudiana, os três níveis são usados para designar tanto um processo quanto uma localização (hipotética). Contém todos os impulsos, desejos ou instintos que estão além da consciência, mas que, no entanto, motivam a maioria de nossos sentimentos, ações e palavras. Exemplo: um homem pode saber que está atraído por uma mulher, mas pode não compreender inteiramente todas as razões para a atração, algumas das quais podem, até mesmo, ser irracionais. Freud defendia que a existência do inconsciente podia ser comprovada apenas indiretamente, sendo a explicação para o significado subjacente de sonhos, lapsos de linguagem e certos tipos de esquecimento, chamados de repressão. Os processos inconscientes com frequência entram na consciência, mas somente depois de serem disfarçados ou distorcidos para escapar da censura, sendo então vistas como experiências relativamente agradáveis, não ameaçadoras. Na maioria dos casos, tais imagens possuem fortes temas sexuais ou agressivos, pois estes costumam ser punidos ou suprimidos, criando sentimentos de ansiedade, a qual estimula a repressão como forma de defesa. Freud usou a analogia de um guardião ou censor bloqueando a passagem entre o inconsciente e o pré- consciente e impedindo que lembranças indesejáveis entrem na consciência. Para entrar, essas imagens primeiro devem ser disfarçadas para escapar do censor primário e, então, fugir de um censor final. No entanto, Freud acreditava que uma parte do nosso inconsciente se origina das experiências de nossos ancestrais que nos foram transmitidas por meio de repetição em centenas de gerações, denominadas herança filogenética. Freud se baseava na noção de disposições herdadas somente como último recurso (quando as explicações construídas sobre as experiências individuais não eram adequadas). A mente inconsciente de uma pessoa pode se comunicar com o inconsciente de outra sem que nenhuma delas esteja consciente do processo. Além disso, as ideias inconscientes têm potencial para motivar as pessoas. Contém todos aqueles elementos que não são conscientes, mas podem se tornar conscientes prontamente ou com alguma dificuldade. Seu conteúdo provém de duas fontes: o Consciente: a percepção consciente rapidamente passa para o pré-consciente quando o foco da atenção muda para outro. Essas ideias estão, em grande parte, livres de ansiedade. o Inconsciente: ideias que podem escapar do censor vigilante e entrar no pré-consciente – de uma forma disfarçada. Algumas nunca se tornam conscientes, pois experimentaríamos níveis crescentes de ansiedade (que ativariam o censor final para reprimi-las de volta), enquanto outras são admitidas na consciência, mas somente porque são disfarçadas pelos sonhos, por um lapso de linguagem ou por uma medida defensiva elaborada. Pode ser definido como aqueles elementos mentais na consciência em determinado ponto no tempo. Ele é o único nível da vida mental que está diretamente disponível para nós. As ideias chegam à consciência a partir de duas direções: o Do sistema consciente perceptivo: está voltado para o mundo exterior e age como um meio para a percepção dos estímulos externos (percebidos pelos órgãos do sentido, se não for muito ameaçador). o Da estrutura mental: inclui ideias não ameaçadoras do pré-consciente, além de imagens ameaçadoras, porém bem disfarçadas, do inconsciente. Freud comparou o inconsciente a um grande hall de entrada, em que muitas pessoas (imagens inconscientes) perambulam e tentam incessantemente escapar para uma sala de recepção menor adjacente (pré-consciente). No entanto, um vigilante (censor primário) protege o limite entre eles – fazendo as pessoas voltarem para a porta ou rejeitando aquelas que anteriormente haviam entrado de modo clandestino na sala de recepção –, impedindo-as de se mostrar para um convidado importante (olhar da consciência) que está sentado ao fundo da sala de recepção, atrás de uma tela (censor final). Modelo introduzido por Freud na década de 1920 que o ajudou a explicar as imagens mentais de acordo com suas funções ou propósitos. Esse modelo divide a mente em três instâncias (lugares hipotéticos), que interagem com os três níveis da vida mental. Encontra-se na essência da personalidade e é totalmente inconsciente. Não tem contato com a realidade, embora se esforce para isso, e não é alterado pela passagem do tempo ou pelas experiências da pessoa. Sua única função é procurar o prazer, logo, dizemos que serve ao princípio do prazer. Exemplo: um recém-nascido procura a gratificação das necessidades sem consideração pelo que é possível ou apropriado. Em vez disso, ele suga quando o mamilo está presente ou ausente e obtém prazer nas duas situações, pois seu id não está em contato com a realidade. Além disso, o id é ilógico e pode, simultaneamente, possuir ideias incompatíveis. Esses desejos opostos são possíveis porque o id não possui moralidade, sendo meramente amoral. O id opera pelo processo primário. Como ele busca cegamente satisfazer o princípio do prazer, sua sobrevivência depende do desenvolvimento de um processo secundário, que funciona por meio do ego, para colocá-lo em contato com o mundo externo. É a única região da mente em contato com a realidade. Ele se desenvolve a partir do id e se transforma na única fonte de comunicação da pessoa com o mundo externo, sendo governado pelo princípio da realidade. Como é parte consciente, parte pré-consciente e parte inconsciente, o ego pode tomar decisões em cada um desses três níveis. Exemplo: o ego de uma mulher pode motivá-la conscientemente a escolher roupas limpas e sob medida, porque se sente confortável quando está bem-vestida. Ao mesmo tempo, ela pode ser apenas vagamente consciente (pré-conscientemente) de experiências prévias de ser recompensada por isso. Além disso, ela pode ser – inconscientemente motivada a tal hábito devido ao treinamento no início da infância. Ao desempenhar suas funções cognitivas, o ego deve levar em consideração as demandas irracionais do id e do superego e deve servir às demandas realistas do mundo externo, tentando reconciliá-las. Em meio a tantas divergências, o ego torna-se ansioso, e então usa a repressão e outros mecanismos de defesa para se defender. O ego deve controlar e inibir os impulsos do id, porém ele está de modo mais ou menos constante à mercê do id, mais forte, porém pouco organizado. O ego não tem sua própria força, mas toma emprestada a energia do id. Há vezes em que o ego consegue controlar o id, mas, outras vezes, ele perde o controle. Na infância, prazer e dor são funções do ego. Quando as crianças atingem a idade de 5 ou 6 anos, elas se identificam com seus pais e começam a aprender o que devem e não devem fazer, dando origem a uma consciência de um ideal de ego, o superego Representa os aspectos morais e ideais da personalidade, não possui energia própria e é guiado por princípios moralistas e idealistas. O superego se desenvolve a partir do ego, mas não tem contato com o mundo externo e, portanto, é irrealista em suas demandas por perfeição. O superegopossui dois subsistemas: o A consciência: resulta de experiências com punições por comportamento impróprio e diz o que não devemos fazer; o O ideal de ego: se desenvolve a partir de experiências com recompensas por comportamento adequado e dita o que devemos fazer; Um superego bem-desenvolvido atua para controlar os impulsos sexuais e agressivos pelo processo de repressão, ordenando que o ego faça isso. Ele não se preocupa com a felicidade do ego, mas com a perfeição. A culpa é o resultado da atuação contrária aos padrões morais do superego, enquanto os sentimentos de inferioridade surgem da incapacidade do ego de corresponder aos padrões de perfeição do superego. No indivíduo saudável, o id e o superego estão integrados em um ego de funcionamento tranquilo e operam em harmonia e com um mínimo de conflito. No entanto, Freud assinalou que as divisões entre as diferentes regiões da mente não são nítidas e bem- definidas, e seu desenvolvimento varia de forma ampla em indivíduos diferentes. Explica a força motora por trás das ações das pessoas, cujos impulsos básicos originam energias psíquica e física que as motivam a procurar o prazer e reduzir a tensão e a ansiedade. Operam como uma força motivacional constante que difere dos estímulos externos, pois não podem ser evitados pela fuga. Os impulsos se originam no id, mas ficam sob o controle do ego, e cada um deles tem sua própria forma de energia psíquica. Cada impulso básico é caracterizado por um (a): o Ímpeto: a quantidade de força que ele exerce; o Fonte: a região do corpo em estado de excitação ou tensão; o Finalidade: buscar uma meta removendo essa excitação ou reduzindo a tensão; e o Objeto: a pessoa ou coisa que serve como meio pelo qual a finalidade é satisfeita. Os impulsos podem ser agrupados em dois títulos: 1. Sexo, ou Eros A finalidade do impulso sexual é o prazer, não limitado à satisfação genital (Freud acreditava que todo o – corpo é investido de libido, assim, boca e ânus – chamados de zonas erógenas – seriam capazes de produzir prazer sexual). O objetivo final do impulso sexual (redução da tensão sexual) não pode ser mudado, mas o caminho pelo qual a finalidade é alcançada pode variar, de uma forma ativa ou passiva, ou temporária ou permanentemente inibido. Por isso, muitos comportamentos motivados por Eros são difíceis de reconhecer como comportamento sexual. Para Freud, no entanto, toda atividade prazerosa é rastreável até o impulso sexual. Exemplo: um bebê forçado prematuramente a abandonar o mamilo como um objeto sexual pode substituí-lo pelo dedo polegar como um objeto de prazer oral. O sexo pode assumir muitas formas, incluindo: a. Narcisismo: os bebês, primariamente autocentrados, têm sua libido investida quase exclusivamente em seu próprio ego, condição universal conhecida como narcisismo primário. À medida que o ego se desenvolve, as crianças tendem a expressar um interesse maior por outras pessoas (a libido narcisista é, então, transformada em libido objetal). Durante a puberdade, no entanto, os adolescentes redirecionam sua libido para o ego e se tornam preocupados com a aparência pessoal e outros interesses próprios, o chamado narcisismo secundário (não universal). b. Amor: se desenvolve quando as pessoas investem sua libido em um objeto ou uma pessoa que não elas mesmas. Durante a primeira infância, as crianças de ambos os sexos experimentam o amor sexual pela pessoa que cuida delas, em geral a mãe. Esse amor costuma ser reprimido, o que traz à tona um segundo tipo: o amor com finalidade inibida (porque a finalidade original é reprimida), o tipo de amor que as pessoas sentem por seus irmãos ou pais. Amor e narcisismo estão inter- relacionados: narcisismo envolve o amor por si mesmo, enquanto o amor é com frequência acompanhado por tendências narcisistas. c. Sadismo: é a necessidade de prazer sexual por meio do ato de infligir dor ou humilhação a outra pessoa. Levado ao extremo, ele é considerado uma perversão sexual, mas em grau moderado é uma necessidade comum e existe até certo ponto em todos os relacionamentos sexuais. d. Masoquismo: experimentam o prazer sexual ao sofrerem dor e humilhação infligida por eles mesmos ou por outros, não dependendo necessariamente de outra pessoa para a satisfação das necessidades. Como o sadismo, é uma necessidade comum, mas se transforma em uma perversão quando Eros se torna subserviente ao impulso destrutivo. 2. Agressividade, destruição ou Tanatos A finalidade do impulso destrutivo é a autodestruição. Como ocorre com o impulso sexual, a agressividade é flexível e pode assumir inúmeras formas, como provocação, fofoca, sarcasmo, humilhação, humor e satisfação com o sofrimento de outras pessoas. A tendência agressiva está presente em todos e é a explicação de guerras, atrocidades e perseguições religiosas, e também explica a necessidade das barreiras erigidas para controlar a agressividade. Ao longo da vida, os impulsos de vida e morte lutam constantemente um contra o outro pela ascendência, mas, ao mesmo tempo, ambos precisam se curvar ao princípio da realidade. Eles, muitas vezes, criam ansiedade. É um estado afetivo desagradável acompanhado por uma sensação física que alerta a pessoa contra um perigo iminente. Compartilha o centro da teoria dinâmica freudiana com o sexo e a agressividade. Somente o ego pode produzir ou sentir ansiedade, mas o id, o superego e o mundo externo estão envolvidos em um dos três tipos de ansiedade: a. Neurótica: apreensão ante um perigo desconhecido. O sentimento existe no ego, mas se origina nos impulsos do id. b. Moral: provém do conflito entre o ego e o superego, é o medo da consciência. – c. Realista: é definida como um sentimento desagradável não específico que envolve um possível perigo. Intimamente relacionada ao medo, no entanto, ela não envolve um objeto de temor específico. Decorre da dependência do ego ao mundo externo. Esses três tipos de ansiedade raramente são nítidos ou separáveis, e tendem a existir em combinação. A ansiedade também serve como um mecanismo de preservação do ego, porque ela sinaliza que algum perigo está rondando. Além disso, ela é autorreguladora, pois precipita a repressão, o que, por sua vez, reduz a dor da ansiedade. Do contrário, a ansiedade se tornaria intolerável. Freud reconheceu a existência de outros mecanismos de defesa, mas dedicou a maior parte de sua atenção à repressão. Sua filha, Anna, expandiu o trabalho do pai ao descrever em detalhes nove mecanismos de defesa individuais, e reconheceu as implicações que essa observação cada vez mais atenta da operação defensiva do ego teria no tratamento. Todas as defesas têm em comum a proteção do ego contra demandas instintivas do id. Todos nós temos mecanismos de defesa, e as defesas que utilizamos revelam muito sobre nós. Com frequência, elas são classificadas segundo uma hierarquia que vai da mais imatura, ou patológica, até a mais madura, ou saudável (ver quadro p. 06). A personalidade se desenvolve em resposta a quatro fontes de tensão: 1. Processos de crescimento fisiológico 2. Frustrações 3. Conflitos 4. Ameaças Para Freud, os primeiros quatro ou cinco anos de vida são os mais cruciais para a formação da personalidade. Além disso, um de seus pressupostos mais importantes é que os bebês possuem uma vida sexual e atravessam um período de desenvolvimento sexual pré- genital durante esses anos. Na época, o conceito foi recebido com alguma resistência. Hoje, contudo, quase todos os observadores atentos aceitam a ideia de que as crianças apresentam interesse pelos genitais, deleite no prazer sexual e manifestam excitação sexual. A sexualidade infantil difere da adulta, já que a primeira é exclusivamente autoerótica (não tem capacidade reprodutiva). Contudo, para ambos, os impulsos sexuais podem ser satisfeitos por meio de outros órgãos alémdos genitais. Freud dividiu o período infantil em três fases, de acordo com qual das três zonas erógenas primárias o desenvolvimento é mais relevante. Os três períodos se sobrepõem, e cada um continua após o início do posterior. 1. Fase oral A boca é o primeiro órgão a proporcionar prazer a um bebê, visto que, através dela, obtém nutrição para manutenção da vida e também prazer pelo ato de sugar. Durante a fase oral-receptiva, a finalidade sexual da atividade é incorporar ou receber dentro do próprio corpo o objeto de escolha (o seio). Os bebês não sentem ambivalência quanto ao objeto prazeroso, e suas necessidades tendem a ser satisfeitas com um mínimo de frustração e ansiedade. À medida que crescem, no entanto, é mais provável que experimentem tais sentimentos, em geral, acompanhados por sentimentos de ambivalência em relação a seu objeto de amor (a mãe) e pela crescente capacidade de seu ego de se defender do ambiente e da ansiedade. Uma segunda fase, o período oral-sádico, origina- se pela emergência dos dentes, uma defesa do bebê contra o ambiente no qual eles respondem mordendo, arrulhando, fechando a boca, sorrindo e chorando; enquanto isso, sugar o polegar (sua primeira experiência autoerótica) atua como defesa contra a ansiedade, satisfazendo suas necessidades sexuais, mas não nutricionais. Enquanto as crianças crescem, a boca continua a ser uma zona erógena, e, quando se tornam adultas, são capazes de satisfazer suas necessidades orais de inúmeras maneiras. – Mecanismo de defesa Descrição Defesas primitivas Cisão Compartimentalização de experiências do self e do outro, de modo que a integração não é possível. Quando o indivíduo é confrontado com as contradições no comportamento, no pensamento ou no afeto, ele encara as diferenças com suave negação ou indiferença. Essa defesa impede que o conflito surja da incompatibilidade dos dois aspectos polarizados do self ou do outro. Identificação projetiva Sendo tanto um mecanismo de defesa intrapsíquico quanto uma comunicação interpessoal, esse fenômeno envolve se comportar de tal modo que uma pressão interpessoal sutil é colocada sobre outra pessoa para que essa adquira características de um aspecto do self ou de um objeto interno que é projetado naquela pessoa. A pessoa que é o alvo da projeção começa, então, a se comportar, pensar e sentir de acordo com aquilo que foi projetado nela. Projeção A percepção e a reação a impulsos internos inaceitáveis e seus derivados como se eles estivessem fora do self. Difere da identificação projetiva pelo fato de o alvo da projeção não ser mudado. Negação A evitação da consciência de aspectos da realidade exterior que sejam difíceis de encarar pela desconsideração de dados sensoriais. Dissociação A perturbação do sentido de continuidade do indivíduo nas áreas da identidade, da memória, da consciência ou da percepção, como forma de reter uma ilusão de controle psicológico diante do desamparo e da perda de controle. Apesar de se parecer com a cisão, a dissociação pode, em casos extremos, envolver a alteração da memória de eventos em decorrência da desconexão entre o self e o evento. Idealização A atribuição de qualidades perfeitas ou quase perfeitas a outras pessoas, como forma de evitar a ansiedade ou os sentimentos negativos, como desprezo, inveja ou raiva. Atuação A encenação impulsiva de uma fantasia ou um desejo inconsciente, como forma de evitar afeto doloroso. Somatização A conversão de dor emocional ou de outros estados afetivos em sintomas físicos, bem como o foco da atenção do indivíduo em preocupações somáticas (em vez de intrapsíquicas). Regressão O retorno a uma fase anterior do desenvolvimento ou do funcionamento para evitar conflitos e tensões associados ao nível atual de desenvolvimento do indivíduo. Fantasia esquizoide A busca pelo refúgio no mundo interno privado do indivíduo a fim de evitar a ansiedade relacionada às situações interpessoais. Defesas neuróticas “de nível mais elevado” Introjeção A internalização de aspectos de uma pessoa significativa, como forma de lidar com a perda dessa pessoa. Também pode ser introjetado um objeto mau ou hostil, como forma de obter a ilusão de controle sobre o objeto. A introjeção ocorre de maneiras não defensivas, como parte normal do desenvolvimento. Identificação A internalização das qualidades de outra pessoa, tornando-se parecida a essa. Enquanto a introjeção leva a uma representação internalizada que é vivenciada como um “outro”, a identificação é vivenciada como parte do self. Isso também pode desempenhar funções não defensivas no desenvolvimento normal. Deslocamento A transferência de sentimentos associados a uma ideia ou um objeto para outro que se parece, de alguma forma, com o original. Intelectualização O uso de ideação excessiva e abstrata para evitar sentimentos difíceis. Isolamento afetivo A separação de uma ideia de seu estado afetivo associado, a fim de evitar turbulência emocional. Racionalização A justificação de atitudes, crenças ou comportamentos inaceitáveis para torná-las aceitáveis para si mesmo. Sexualização A concessão de significado sexual a um objeto ou comportamento para transformar uma experiência negativa em uma outra que seja excitante e estimulante ou para debelar ansiedades associadas ao objeto. Formação reativa A transformação de um impulso ou desejo inaceitável em seu oposto. Repressão A expulsão de impulsos ou ideias inaceitáveis, ou o impedimento de que esses entrem na consciência. Esta defesa difere da negação uma vez que a última está associada a dados sensoriais externos, enquanto a repressão está associada a estados internos. Anulação A tentativa de negar implicações sexuais, agressivas ou vergonhosas de um comentário ou comportamento anterior elaborando, esclarecendo ou fazendo o oposto. Defesas maduras Humor A descoberta de elementos cômicos e/ou irônicos em situações difíceis, a fim de reduzir afetos desagradáveis e desconforto pessoal. Este mecanismo também permite alguma distância e objetividade dos eventos, de modo que um indivíduo pode refletir sobre o que está acontecendo. Supressão A decisão consciente de não dar vazão a um sentimento, estado ou impulso em particular. Esta defesa difere da repressão e da negação uma vez que é consciente, em vez de inconsciente. Ascetismo A tentativa de eliminar aspectos prazerosos da experiência por causa de conflitos produzidos por esse prazer. Este mecanismo pode estar a serviço de metas transcendentais ou espirituais, como no celibato. Altruísmo O comprometimento do indivíduo com as necessidades dos outros mais do que com as próprias. O comportamento altruísta pode ser usado a serviço de conflitos narcisistas, mas pode, também, ser a fonte de grandes realizações e contribuições construtivas à sociedade. Antecipação O retardo de gratificação imediata ao planejar e pensar sobre conquistas e realizações futuras. Sublimação A transformação de objetivos socialmente reprováveis ou internamente inaceitáveis em outros que sejam socialmente aceitáveis. – 2. Fase anal/anal-sádica Esse período é caracterizado pela satisfação obtida pelo comportamento agressivo, no qual esse impulso atinge seu desenvolvimento integral, e pela função excretória. Divide-se em duas subfases: a. Anal inicial: as crianças encontram satisfação destruindo ou perdendo objetos (natureza destrutiva do impulso sádico > erótica) e, com frequência, se comportam agressivamente em relação a seus pais por frustrá-las com o treinamento esfincteriano. b. Anal final: as crianças assumem um interesse amistoso em relação a suas fezes, que provém do prazer erótico de defecar. Com frequência, elas apresentam suas fezes aos pais como um presente. Se seu comportamento for aceito e elogiado pelos pais, provavelmente se transformarão em adultos generosos e magnânimos, mas se for rejeitado de maneira punitiva, as crianças podem adotar outro método para a obtenção deprazer anal – retendo as fezes até que se torne doloroso e eroticamente estimulante. Esse modo de prazer narcisista e masoquista estabelece as bases para o caráter anal. Tal erotismo anal se transforma na tríade anal de organização, mesquinhez e obstinação que tipifica o caráter anal adulto. Freud acreditava que, para as meninas, o erotismo anal era transferido para a inveja do pênis durante o estágio fálico e podia, por fim, ser expresso ao dar à luz um bebê. Ele também acreditava que, no inconsciente, os conceitos de pênis e bebê (referidos como “o pequeno”), significam a mesma coisa, e, junto com as fezes (forma alongada removidas do corpo), são representados pelos mesmos símbolos nos sonhos. Durante os estágios oral e anal, não existe uma distinção básica entre o crescimento psicossexual masculino e feminino. As crianças de cada gênero podem desenvolver uma orientação ativa (qualidades masculinas de dominância e sadismo) ou passiva (qualidades femininas de voyeurismo e masoquismo), e podem, cada uma delas, ou uma combinação das duas, se desenvolver tanto em meninas quanto em meninos. 3. Fase fálica Em torno dos 3 ou 4 anos de idade, a área genital se torna a principal zona erógena. Esse estágio é marcado pela dicotomia entre o desenvolvimento masculino e feminino, uma distinção que Freud acreditava ser devida às diferenças anatômicas entre os sexos, que justificariam muitas distinções psicológicas importantes. Durante o estágio fálico, a masturbação é quase universal, mas, como os pais geralmente suprimem essas atividades, as crianças tendem a reprimir seu desejo consciente quando esse período chega ao fim. Complexo de Édipo masculino: Freud acreditava que, antes do estágio fálico, o menino desenvolve uma identificação com seu pai (deseja ser seu pai) e, posteriormente, desenvolve um desejo sexual por sua mãe (deseja ter sua mãe). Quando finalmente reconhece a inconsistência de tais desejos, ele abandona a identificação com seu pai e passa a ver seu pai como um rival pelo amor da mãe. O desejo de afastar seu pai e possuir sua mãe em uma relação sexual é uma condição conhecida como complexo de Édipo masculino simples. A natureza bissexual da criança (de ambos os gêneros) complica esse quadro. Antes que um menino ingresse no estágio edípico, ele desenvolve certa tendência feminina, a qual, durante esse período, pode levá-lo a exibir afeição por seu pai e hostilidade por sua mãe, enquanto, ao mesmo tempo, sua tendência masculina o disponha para o contrário. Durante essa condição ambivalente, conhecida como complexo de Édipo completo, afeição e hostilidade coexistem, sendo um ou ambos inconscientes. Esses sentimentos de ambivalência desempenham um papel na evolução do complexo de castração: a ansiedade de castração ou medo de perder o pênis. O complexo de castração começa depois que o menino (que assumiu que todas as outras pessoas, incluindo as meninas, têm genitais como os dele) toma conhecimento da ausência de um pênis nas meninas, e conclui que a menina teve seu pênis cortado. Para ele, essa consciência se transforma no maior choque emocional de sua vida e se torna uma possibilidade temida. Como essa ansiedade não pode ser tolerada por muito tempo, o menino reprime seus impulsos de atividade sexual. – Depois que seu complexo de Édipo é dissolvido ou reprimido, o menino transforma seus desejos incestuosos em sentimentos de amor terno e começa a desenvolver um superego primitivo. Ele pode se identificar com o pai ou com a mãe, dependendo da força de sua disposição feminina, e usa o pai ou a mãe como um modelo para a determinação do comportamento certo e errado, incorporando-os ao próprio ego, cultivando, assim, as sementes de um superego maduro. Complexo de Édipo feminino: assim como os meninos, as meninas pré-edípicas assumem que todas as outras crianças possuem genitais semelhantes aos seus. Logo, elas descobrem que os meninos não só possuem genital diferente, como têm algo extra, e sentem-se ludibriadas, desejando possuir um pênis. Tal experiência de inveja do pênis, diferente da ansiedade de castração, pode durar anos, em uma forma ou outra, frequentemente expressa como um desejo de ser um menino ou de ter um homem, sendo quase universalmente transferida para o desejo de ter um bebê. Antes do complexo de castração, a menina estabelece uma identificação com sua mãe similar à desenvolvida por um menino (fantasia ser seduzida). Posteriormente, esses sentimentos são transformados em hostilidade, quando atribui a sua mãe a responsabilidade por trazê-la ao mundo sem um pênis. Sua libido, então, volta- se para o pai, que pode satisfazer seu desejo por um pênis, dando-lhe um bebê (um substituto para o falo). O desejo de ter relação sexual com o pai e os sentimentos de hostilidade pela mãe são conhecidos como complexo de Édipo feminino simples. Nem todas as meninas, entretanto, agem assim. Freud sugeriu que, quando as meninas pré-edípicas tomam conhecimento de sua castração e reconhecem sua inferioridade em relação aos meninos, elas se rebelam de três maneiras: abandonando a sua sexualidade – tanto as disposições femininas quanto masculinas – e desenvolvendo intensa hostilidade em relação a sua mãe; agarram-se desafiadoramente a sua masculinidade, esperando por um pênis e fantasiando ser um homem; ou, se desenvolvendo normalmente (complexo de Édipo simples). A escolha é influenciada por sua bissexualidade inerente e pelo grau de masculinidade desenvolvido durante o período pré-edípico. O complexo de Édipo feminino simples é resolvido quando a menina desiste da atividade masturbatória, renuncia a seu desejo sexual por seu pai e se identifica mais uma vez com a mãe. No entanto, ele é dissolvido de modo mais lento e menos completo do que o masculino. Freud acreditava que o superego da menina era mais fraco, mais flexível e menos severo do que o do menino. A razão é que, como as meninas não experimentam uma ameaça de castração, elas não sofrem um choque traumático repentino, e assim, a sua libido permanece parcialmente empregada para manter o complexo de castração e seus vestígios, bloqueando, desse modo, parte da energia psíquica que poderia ser usada de outra maneira para construir um superego forte. Freud acreditava que, do quarto ou quinto ano até a puberdade, meninos e meninas geralmente atravessavam um período de desenvolvimento sexual adormecido, ocasionado, em parte, pelas tentativas dos pais de punir ou desencorajar a atividade sexual em seus filhos pequenos. Entretanto, Freud ainda sugeriu que esse período de proibição da atividade sexual é parte de nossa dotação filogenética e não precisa de experiências pessoais de punição das atividades sexuais para reprimir o impulso sexual. A continuação da latência é reforçada pela supressão constante da parte de pais e professores e da parte de sentimentos internos de vergonha, culpa e moralidade. A libido sublimada agora se apresenta em realizações sociais e culturais e durante esse tempo, as crianças formam grupos ou turmas. A puberdade sinaliza o redespertar do alvo sexual e o início do período genital, que continua por toda a vida. Durante a puberdade, a vida sexual difásica de uma pessoa entra em um segundo estágio, o qual difere do período infantil: os adolescentes abandonam o autoerotismo e direcionam sua energia sexual para outra pessoa; a reprodução agora é possível; embora a inveja do pênis possa perdurar nas meninas, a vagina finalmente obtém o mesmo status do que o pênis para elas (paralelamente, os meninos agora veem o órgão feminino como um objeto desejado); e, todo impulso sexual assume uma organização – mais completa, e a boca, o ânus e outras áreas produtoras de prazer agora possuem supremacia como zona erógena. Em vários outros aspectos, no entanto, Eros permanece imutável, e pode continuar a ser reprimido, sublimado; ou expresso na masturbação ou em outrosatos sexuais. Um período de maturidade psicológica é um estágio alcançado depois que a pessoa passou pelos períodos evolutivos anteriores de maneira ideal. Infelizmente, ela raras vezes acontece, porque as pessoas têm muitas oportunidades de desenvolver psicopatologias ou predisposições neuróticas. Tais pessoas teriam um equilíbrio entre as estruturas da mente, com o ego controlando o id e o superego, mas, ao mesmo tempo, permitindo desejos e demandas razoáveis. O ideal de ego seria realista e congruente com o ego da pessoa e a fronteira entre seu superego e seu ego se tonaria quase imperceptível. A consciência desempenharia um papel mais importante no comportamento das pessoas maduras, que teriam apenas uma necessidade mínima de reprimir os impulsos sexuais e agressivos. Como o complexo de Édipo de pessoas maduras está por completo ou quase por completo dissolvido, a sua libido, que anteriormente era direcionada para os pais, seria liberada para procurar o amor terno e sensual. Psicologia do Ego Filha de Sigmund Freud, Anna foi a responsável por refinar e organizar o conceito dos mecanismos de defesa, ideia elaborada inicialmente por ele. Em seu livro “O Ego e os Mecanismos de Defesa” ela aprofunda alguns desses mecanismos e muda a ênfase da psicanálise dos impulsos para as defesas do ego, antecipando o movimento da psicanálise e da psiquiatria dinâmica, rumando em direção à patologia do caráter. Anna seguiu a linha psicanalítica de seu pai e vivenciou uma história de divergências com Melanie Klein. O atrito entre ambas jamais cedeu, com cada lado alegando ser mais “freudiano” do que o outro, até que, em 1946, a Sociedade Psicanalítica Britânica aceitou três procedimentos de treinamento: o tradicional de Melanie Klein (relação de objetos), o defendido por Anna Freud (psicologia do ego) e o de um grupo intermediário que não aceitava qualquer escola de treinamento, mas era mais eclético em sua abordagem. Anna defendia que “todos os métodos defensivos até hoje descobertos pela análise servem a uma finalidade única: auxiliar o ego na luta com a sua vida pulsional”, ou seja, no embate do ego com o id. Assim, a identificação com o agressor serve como uma forma de evitar o medo. A Síndrome de Estocolmo ocorre quando a vítima passa a se identificar com/ter afeição pelo agressor, podendo assumir algumas características do agressor, geralmente em um contexto de trauma. Isso faz parte de distorções cognitivas que acontecem no Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), as quais, não raro, são enfatizadas pela cultura ou pela sociedade. – Os estudos sobre Transtorno de Estresse Pós- Traumático ganharam evidência cientifica depois dos anos 80, quando recebeu esse nome, mas os conceitos iniciais remontam a uma época anterior. Conhecida como neurose traumática, essa condição, na época, se referia principalmente a traumas de guerra (situações avassaladoras, como em contextos de guerra, ataques terroristas, etc.), experiências incomuns à maioria das pessoas. Nesse contexto, Anna começou a mostrar que existia uma neurose traumática decorrente de traumas “menos violentos”, mas continuados (como abuso emocional, assédio, violência sexual, etc.), que, particularmente quando acontecem na infância, acabam gerando traumas complexos que impactam no desenvolvimento propício da instância psíquica, alterando a trajetória daquela personalidade. Nos anos 90, o trauma complexo foi revisitado por um grupo de psiquiatras e psicanalistas/psicólogos que lançaram uma proposta diagnostica denominada, na CID-11, como TEPT complexo. – Teoria das Relações Objetais Klein estendeu a teoria psicanalítica além das fronteiras definidas por Sigmund Freud. Sua teoria da relação dos objetos foi construída a partir de observações de crianças pequenas pois, em contraste com Freud, enfatizava a importância dos primeiros 4 a 6 meses após o nascimento e insistia que os impulsos do bebê (fome, sexo, etc.) são direcionados para um objeto: o seio, o pênis, a vagina. Assim, as ideias de Klein tendem a mudar o foco da teoria psicanalítica para o papel da fantasia precoce na formação das relações interpessoais. Sua teoria é fruto da teoria dos instintos de Freud, porém difere em, pelo menos, três aspectos gerais: coloca menos ênfase nos impulsos fundamentados biologicamente e mais importância nos padrões consistentes das relações interpessoais; tende a ser mais materna, destacando a intimidade e a criação da mãe; e, vê, em geral, o contato e as relações humanas – não o prazer sexual – como o motivo primordial do comportamento humano. Para Klein, os bebês não começam a vida como uma tela em branco, mas com uma predisposição herdada de reduzir a ansiedade que experimentam em consequência do conflito entre as forças do instinto de vida e de morte, pressupondo a existência de dotação filogenética. Um de seus pressupostos básicos é que o bebê, mesmo no nascimento, possui uma vida de fantasia ativa, representações psíquicas dos instintos inconscientes do id. Klein dizia que os bebês que adormecem enquanto sugam os dedos estão fantasiando ter o seio bom da mãe dentro deles, enquanto, os bebês com fome que choram e esperneiam estão fantasiando chutar ou destruir o seio mau. Em ambos os casos, “bom” e “mau” tratam-se de imagens inconscientes. À medida que o bebê amadurece, tais fantasias inconscientes continuam a exercer um impacto na vida psíquica, mas também surgem novas fantasias, moldadas pela realidade e pelas predisposições herdadas. Como essas fantasias são inconscientes, elas podem ser contraditórias. Klein concordava com Freud que os humanos possuem impulsos/instintos inatos, incluindo um de morte, e que esses precisam ter algum objeto. Além disso, acreditava que, desde o início da infância, as crianças se relacionam com esses objetos externos, tanto em fantasia quanto na realidade. As primeiras relações objetais são com o seio da mãe, mas logo em seguida se desenvolve interesse pelo rosto e pelas mãos. Em sua fantasia ativa, os bebês introjetam ou assimilam a sua estrutura psíquica esses objetos externos (incluindo o pênis do pai, as mãos e o rosto da mãe e outras partes do corpo), em fantasias de internalizar o objeto em termos concretos e físicos. Exemplo: crianças que introjetaram suas mães acreditam que elas estão dentro do corpo delas. A noção de Klein de objetos internos sugere que esses objetos têm força própria, comparável ao conceito de Freud de superego. Klein via os bebês como constantemente se engajando em um conflito básico entre o instinto de vida e o de morte. Na tentativa de lidar com essa dicotomia, eles organizam suas experiências em posições, ou formas de lidar com os objetos internos e externos, que representam o crescimento e o desenvolvimento social normal. As experiências alternantes de gratificação e frustração (seio bom/seio mau) ameaçam a existência do ego vulnerável do bebê: ele deseja controlar o seio devorando-o e abrigando-o e, ao mesmo tempo, cria fantasias de dano mordendo-o e rasgando-o. Para tolerar tais sentimentos, o ego se divide, retendo parte de seus instintos de vida e de morte enquanto desvia parte deles para o seio, e o bebê passa a temer o seio persecutório. Para controlar o seio bom e combater seus perseguidores, o bebê adota a posição esquizoparanoide, uma forma de organizar as experiências que inclui os sentimentos paranoides de ser perseguido e uma divisão – dos objetos internos e externos em bons e maus. Os bebês desenvolvem essa posição durante os primeiros 3-4 meses de vida, quando a percepção que o ego tem do mundo externo é subjetiva e fantástica. Esses sentimentos persecutórios são considerados paranoides, pois não se fundamentam em algum perigo real. No mundo esquizoide do bebê, a ira e os sentimentos destrutivos são direcionados para o seio mau, enquanto os sentimentos de amor e conforto estãoassociados ao seio bom, devido a uma predisposição biológica de vincular um valor positivo ou negativo a um instinto. Essa dissociação pré-verbal em bom e mau serve como protótipo para o posterior desenvolvimento de sentimentos ambivalentes em relação a uma única pessoa. Exemplo: a posição esquizoparanoide infantil pode ser comparada com os sentimentos de transferência que os pacientes em terapia desenvolvem quando, sob pressão da ambivalência, dissociam a figura do analista, e, assim, podem, em certos momentos, amá-lo ou odiá-lo. A maioria das pessoas tem sentimentos positivos e negativos em relação aos entes queridos; ambivalência consciente, no entanto, que não captura a essência da posição esquizoparanoide. Quando os adultos adotam essa posição, fazem isso de maneira primitiva e inconsciente. Exemplos: algumas pessoas podem projetar seus sentimentos paranoides inconscientes nos outros como um meio de evitar sua própria destruição; outros podem projetar sentimentos positivos inconscientes em outra pessoa e ver essa pessoa como perfeita, enquanto veem a si mesmos como vazios ou sem valor. Em torno dos 5 ou 6 meses, o bebê começa a ver os objetos externos como um todo, a entender que o bom e o mau podem existir na mesma pessoa e a desenvolver uma imagem mais realista da mãe. O ego começa a amadurecer e passa a tolerar alguns dos próprios sentimentos destrutivos, em vez de projetá-los. O bebê então percebe que a mãe pode ir embora e ser perdida para sempre, e passam a sentir empatia por ela. Todavia, seu ego é maduro o suficiente para perceber que ele não tem capacidade de protege-la, e, assim, o bebê experimenta culpa por seus impulsos destrutivos anteriores. Os sentimentos de ansiedade quanto à perda de um objeto amado associados a um sentimento de culpa por querer destruí-lo constituem a posição depressiva. Essa posição é resolvida quando as crianças fantasiam que fizeram a reparação por suas transgressões anteriores e quando reconhecem que a mãe não irá embora permanentemente. Quando resolvida, as crianças são capazes não só de experimentar o amor da mãe, mas também de expressar seu amor por ela; contudo, uma resolução incompleta pode resultar em falta de confiança, luto patológico pela perda de uma pessoa amada e uma variedade de outros transtornos psíquicos. As crianças adotam vários mecanismos de defesa psíquicos para proteger seu ego contra a ansiedade despertada por suas fantasias destrutivas, que surgem com as ansiedades oral-sádicas referentes ao seio. Os bebês fantasiam incorporar a seu corpo percepções e experiências que tiveram com o objeto externo, originalmente o seio da mãe. Normalmente, o bebê tenta introjetar objetos bons, como uma proteção contra a ansiedade; contudo, às vezes, introjeta objetos maus, para obter controle sobre eles. Esses objetos não são representações precisas dos objetos reais, mas influenciados pelas fantasias das crianças. Quando objetos perigosos são introjetados, eles se transformam em perseguidores internos, capazes de aterrorizar o bebê e deixar resíduos expressos em sonhos ou em um interesse por contos de fadas como “O lobo mau” ou “Branca de Neve e os sete anões”. É a fantasia de que sentimentos e impulsos próprios, na verdade, residem em outra pessoa e não dentro de nosso corpo. Ao projetarem impulsos destrutivos incontroláveis nos objetos externos, em especial nos pais, os bebês aliviam a ansiedade insuportável de serem destruídos por forças internas perigosas. Exemplo: um menino que deseja castrar o pai pode projetar essas fantasias no pai, invertendo os desejos de castração e acusando o pai de querer castrá-lo. Impulsos bons também podem ser projetados. Os adultos, por vezes, projetam os próprios sentimentos de – amor em outra pessoa e se convencem de que os outros os amam. A projeção permite, assim, que as pessoas acreditem que suas opiniões subjetivas são verdadeiras. Separação dos impulsos incompatíveis por meio da qual os bebês conseguem manejar os aspectos bons e maus deles mesmos e dos objetos externos. Para isso, o ego precisa ser dividido: assim, os bebês desenvolvem uma imagem de “eu bom” e “eu mau” que lhes possibilita lidar com os impulsos em relação aos objetos externos. A dissociação pode ter um efeito positivo ou negativo na criança. Se não for extrema e rígida, ela possibilita, incluindo adultos, ver os aspectos positivos e negativos de si mesmos, avaliar seu comportamento e diferenciar entre os conhecidos admirados e desagradáveis; todavia, a dissociação excessiva e inflexível pode levar à repressão patológica. Mecanismo no qual os bebês dissociam partes inaceitáveis de si mesmos, as projetam em outro objeto e as introjetam de volta de forma alterada ou distorcida, se identificando com aquele objeto. Essa identificação exerce influência nas relações interpessoais adultas, existindo somente no mundo das relações interpessoais reais. Exemplo: um marido com tendências de dominar os outros projeta esses sentimentos na esposa, a quem ele vê como dominadora. O homem, então, sutilmente, tenta tornar a esposa dominadora, se comportando com submissão excessiva na tentativa de forçá-la a exibir as tendências depositadas nela. Incorporação de aspectos do mundo externo organizados em uma estrutura psicologicamente significativa. Na teoria kleiniana, as 3 internalizações são: Klein acreditava que o ego, ou a noção de self, atinge a maturidade em um estágio anterior ao considerado por Freud. Ela ignorou em grande parte o id e baseou sua teoria na capacidade precoce do ego de perceber as forças destrutivas e amorosas e manejá-las por meio da dissociação, da projeção e da introjeção. Klein acreditava que, no nascimento, o ego é desorganizado, mas suficientemente forte para sentir ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar relações objetais, tanto em fantasia quanto na realidade. O ego começa a se desenvolver na primeira experiência do bebê com a amamentação, quando introjeta o seio bom e o seio mau, fornecendo um ponto focal para a maior expansão do ego: todas as experiências são avaliadas em termos de como elas se relacionam com o seio bom e com o seio mau. Entretanto, antes de emergir um ego unificado, ele deve, primeiro, dividir-se. Os bebês lutam pela integração, mas, ao mesmo tempo, são forçados a lidar com as forças opostas de vida e morte, como reflexo de sua experiência com o seio. Para evitar a desintegração, o ego recém-emergente deve se dissociar em “eu bom” e “eu mau”, permitindo aos bebês manejar os aspectos bons e maus dos objetos externos. À medida que eles amadurecem, suas percepções se tornam mais realistas e seu ego se torna mais integrado. Por meio da análise de crianças pequenas, Klein chegou a três diferenças da imagem de superego de Freud: ele surge muito mais cedo (entre 2 anos e 9 meses e 4 anos de idade); não é fruto do complexo de Édipo; e, é muito mais severo e cruel. Klein ainda concordava que o superego maduro produz sentimentos de inferioridade e culpa, mas acreditava que o superego precoce produz não culpa, mas terror. Para ela, as crianças pequenas temem ser devoradas e rasgadas em pedaços em resposta ao seu próprio instinto destrutivo, experimentado como ansiedade. Para manejar essa ansiedade, o ego da criança mobiliza a libido (instinto de vida) contra o instinto de morte, de modo que o ego é forçado a se defender contra suas próprias ações, resultando no estabelecimento das bases para o desenvolvimento do superego. Esse superego severo e cruel seria responsável por tendências antissociais e criminais em adultos. A concepção de Klein se afastou da de Freud em vários aspectos, uma vez que ela: sustentava que o complexo de Édipo começava em idade muito mais precoce (durante os primeiros meses de vida, sobrepondo-se às – fases oral e anal e atingindo seu clímax durante a fase genital – ou fálica, para Freud -, em torno dos 3 ou4 anos de idade); acreditava que uma parte significativa do complexo de Édipo é o medo da criança de retaliação pelo genitor, devido a sua fantasia de esvaziar o corpo dele; enfatizava a importância de as crianças conservarem sentimentos positivos em relação a ambos os pais durante os anos edípicos; levantou a hipótese de que, durante as fases iniciais, o complexo de Édipo serve à mesma necessidade para ambos os gêneros, isto é, estabelecer uma atitude positiva com o objeto bom e gratificante (seio ou pênis) e evitar o objeto mau e aterrorizador (seio ou pênis), podendo direcionar seu amor de forma alternada ou simultânea para cada um dos pais. Do mesmo modo que Freud, Klein assumiu que meninas e meninos acabam experimentando o complexo de Édipo de formas diferentes. Para ambos, no entanto, uma resolução saudável desse complexo depende da capacidade de permitir que a mãe e o pai fiquem juntos e tenham relações sexuais um com o outro. Os sentimentos positivos em relação aos pais posteriormente servem para reforçar suas relações sexuais adultas. Desenvolvimento edípico feminino: nos primeiros meses de vida, a menina vê o seio da mãe como “bom e mau”. Por volta dos 6 meses, ela começa a ver o seio como mais positivo do que negativo. Mais tarde, ela vê a mãe inteira como cheia de coisas boas, e começa a imaginar como são feitos os bebês: ela fantasia que o pênis do pai alimenta a mãe com coisas valiosas, incluindo bebês. Como a menina vê o pênis do pai como doador de crianças, ela desenvolve uma relação positiva com ele e fantasia que seu pai irá encher seu corpo com bebês. Se o estágio edípico feminino prossegue tranquilo, a menina adota uma posição “feminina” e tem uma relação positiva com ambos os pais. No entanto, em circunstâncias menos ideais, a menina verá sua mãe como uma rival e fantasiará roubá- la o pênis do pai e os bebês. Esse desejo produz um temor paranoide de que a mãe faça uma retaliação, causando- lhe danos ou levando seus bebês, resultando em ansiedade, somente aliviada quando der à luz um bebê saudável. De acordo com Klein, a inveja do pênis se origina do desejo da menina de internalizar o pênis do pai e receber um bebê dele e, ao contrário de Freud, para ela a menina mantém uma forte ligação com a mãe durante o período edípico. Desenvolvimento edípico masculino: assim como a menina, o menino vê o seio da mãe como bom e mau. Então, durante os primeiros meses do desenvolvimento edípico, transfere alguns de seus desejos orais do seio da mãe para o pênis do pai, adotando uma atitude homossexual passiva em relação ao pai. A seguir, ele avança para uma relação heterossexual com a mãe, mas, devido a seu sentimento homossexual anterior, não tem medo de que o pai o castre. Conforme amadurece, no entanto, desenvolve impulsos orais sádicos em relação ao pai, desejando arrancar seu pênis e matá-lo, sentimentos que despertam a ansiedade de castração e o temor de retaliação do pai. O complexo de Édipo do menino é resolvido parcialmente por essa ansiedade. Um fator importante é a capacidade de estabelecer relações positivas com ambos os pais ao mesmo tempo, quando vê seus pais como objetos totais, possibilitando-lhe elaborar sua posição depressiva. Teoria da Simbiose Mahler preocupava-se com o nascimento psicológico do indivíduo, que ocorre durante os primeiros três anos de vida, quando a criança gradualmente renuncia à segurança em favor da autonomia, a qual leva a uma noção de identidade. Originalmente, suas ideias partiram da observação do comportamento de crianças perturbadas interagindo com as mães; depois, observou bebês normais em sua ligação com as mães durante os primeiros 36 meses de vida. Para atingir o nascimento psicológico e a individuação, a criança passa por três estágios evolutivos: 1. Autismo normal ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ _________________________________ – É o primeiro estágio evolutivo e se estende do nascimento até 3 ou 4 semanas de idade. Para Mahler, um bebê recém-nascido satisfaz várias necessidades dentro da órbita protetora dos cuidados da mãe e possui um senso de onipotência, porque suas necessidades são atendidas automaticamente e sem que tenha que fazer esforço. Ao contrário de Klein, Mahler apontava para períodos relativamente longos de sono e ausência geral de tensão, sendo um período de narcisismo primário absoluto no qual o bebê não tem consciência de qualquer outra pessoa - ou seja, um estágio “sem objeto”, no qual o bebê naturalmente procura pelo seio da mãe - e discordava da noção de que os bebês incorporam o seio bom e outros objetos a seu ego. 2. Simbiose normal À medida que os bebês vão percebendo que não conseguem satisfazer suas próprias necessidades, eles começam a reconhecer sua cuidadora primária e a buscar uma relação simbiótica com ela, levando-os ao segundo estágio evolutivo, da 4a ou 5a semana até o 4o ou 5o mês. Ao longo desse período, o bebê se comporta e funciona como se ele e sua mãe fossem um sistema onipotente – uma unidade dual dentro de uma fronteira comum. Nessa idade, o bebê consegue reconhecer o rosto da mãe e pode perceber seu prazer ou sofrimento. Entretanto, as relações objetais ainda não começaram – a mãe e os outros ainda são “pré-objetos”. Crianças maiores e até mesmo adultos às vezes regridem para esse estágio, procurando a força e a segurança dos cuidados da mãe. Mahler reconheceu que essa relação não é uma simbiose verdadeira, pois, embora a vida do bebê dependa da mãe, a mãe não precisa absolutamente do bebê. 3. Separação-individuação O terceiro estágio estende-se do 4o ou 5o mês até aprox. o 30o a 36o mês de idade. Durante esse período, as crianças tornam-se psicologicamente separadas de suas mães, alcançam um senso de individuação e começam a desenvolver sentimentos de identidade pessoal. Como já não experimentam mais uma unidade dual, precisam renunciar à ilusão de onipotência e enfrentar sua vulnerabilidade às ameaças externas. Assim, acabam experimentando o mundo externo como mais perigoso do que anteriormente. Divide-se em 4 subestágios que se sobrepõem: a. Diferenciação: dura do 5o até o 7o ou 10o mês de idade e é marcado por um rompimento corporal da órbita simbiótica. Nessa etapa os bebês sorriem em resposta à mãe, indicando uma ligação com outra pessoa específica. Os bebês psicologicamente saudáveis são curiosos acerca de estranhos e os examinam; os não saudáveis temem os estranhos e se distanciam deles. b. Treinamento: período do 7o ao 10o até aprox. o 15o ou 16o mês de idade. As crianças nessa subfase distinguem seu corpo do da mãe, estabelecem um vínculo com ela e começam a desenvolver um ego autônomo. Ao longo dos primeiros estágios, não gostam de perder a mãe de vista; eles seguem-na com os olhos e demonstram sofrimento quando ela se afasta.Posteriormente, começam a caminhar e a assimilar o mundo externo, experimentado como fascinante e excitante. c. Reaproximação: de 16 a 25 meses de idade. Nela, as crianças desejam reunir-se outra vez com a mãe, física e psicologicamente, e compartilham com ela cada nova aquisição de habilidade e experiência. Agora, embora consigam caminhar com facilidade, têm maior probabilidade de apresentarem ansiedade de separação, já que suas habilidades cognitivas aumentadas as tornam mais conscientes da separação, fazendo-as experimentar estratagemas para recuperar a unidade dual com a mãe. Como nunca são completamente bem-sucedidas, as crianças dessa idade com frequência lutam dramaticamente com a mãe, em uma crise de reaproximação. d. Constância do objeto libidinal: é a subfase final, em torno do 3o ano de vida. Durante essa época, as crianças precisam desenvolver uma representação interna constante da mãe, para que consigam tolerar a separação física. Além disso, as crianças precisam consolidar sua individualidade, ou seja, aprender a funcionar sem a mãe e a desenvolver outras relações de objeto. – Teoria Social Psicanalítica Os primeiros escritos de Karen Horney têm um toque freudiano próprio, no entanto, ela se desencantou com a psicanálise ortodoxa e construiu uma teoria revisionista que refletia suas experiências pessoais – clínicas e outras. Sua teoria foi construída sobre o pressuposto de que as condições sociais e culturais, em especial as experiências da infância, são, em grande parte, responsáveis pela formação da personalidade. Apesar de Horney ter escrito quase exclusivamente sobre neuroses e personalidades neuróticas, seu trabalho sugere muito do que é apropriado ao desenvolvimento normal e sadio. Para ela, a cultura, em especial as experiências precoces da infância, desempenha um papel essencial na formação da personalidade humana. Horney, então, concordava com Freud que os traumas no início da infância são importantes, mas discordava dele ao insistir que as forças sociais, em vez das biológicas, são primordiais no desenvolvimento da personalidade. Horney acreditava que cada indivíduo começa a vida com um potencial para o desenvolvimento saudável, mas, assim como outros organismos vivos, precisa de condições favoráveis para o crescimento, tais como um ambiente afetivo e amoroso, que não seja excessivamente permissivo. As crianças precisam experimentar o amor genuíno e uma disciplina saudável, que proporcionam sentimentos de segurança e satisfação e permitem-na crescer em conformidade com seu self real. Muitas influências adversas podem interferir nessas condições favoráveis, sendo a principal delas a incapacidade ou indisponibilidade dos pais. Devido a suas necessidades neuróticas, os pais, com frequência, dominam, negligenciam, superprotegem, rejeitam ou mimam em excesso a criança, que desenvolve sentimentos de hostilidade básica em relação a eles. No entanto, as crianças costumam reprimir sua hostilidade em relação aos pais e não têm consciência de tal circunstância, levando, então, a profundos sentimentos de insegurança e a uma sensação vaga de apreensão, denominada ansiedade básica. Horney acreditava que a hostilidade básica e a ansiedade básica estão “inextricavelmente interligadas”, sendo os impulsos hostis a principal fonte de ansiedade básica. Contudo, ansiedade e medo também podem levar a fortes sentimentos de hostilidade. Crianças que se sentem ameaçadas por seus pais desenvolvem uma hostilidade reativa em defesa a essa ameaça, que, por sua vez, pode criar ansiedade adicional, completando, assim, o ciclo interativo entre hostilidade e ansiedade. A ansiedade básica, em si, não é uma neurose, mas é constante e implacável. Ela permeia todas as relações com os outros e leva a formas insalubres de tentar lidar com as pessoas. Horney identificou quatro mecanismos protetores contra o sentimento de estarem sozinhos em um mundo potencialmente hostil. São eles: 1. Afeição É uma estratégia que nem sempre leva a amor autêntico. Em sua busca, algumas pessoas podem tentar comprar amor com complacência e autoanulação, bens materiais ou favores sexuais. 2. Submissão Os neuróticos podem se submeter a pessoas ou a instituições, tais como uma organização ou uma religião. Aqueles que se submetem a outra pessoa com frequência fazem isso para ganhar afeição. 3. Poder, prestígio ou posse O poder é uma defesa contra a hostilidade real ou imaginada dos outros e assume a forma de uma tendência a dominar os demais; o prestígio é uma proteção contra a humilhação e é expresso como uma tendência a humilhar os outros; e a posse atua como um amortecedor contra a destituição e a pobreza e se manifesta como uma tendência a privar os outros de algo. 4. Afastamento Os neuróticos, muitas vezes, se protegem desenvolvendo uma independência dos outros ou tornando- se emocionalmente desligados deles. Ao afastarem-se psicologicamente, sentem que não podem ser machucados por outras pessoas. – Os indivíduos neuróticos têm os mesmos problemas que afetam as pessoas normais, mas em grau maior. Todos utilizam os mecanismos protetores para se defender, todavia, os neuróticos repetem compulsivamente a mesma estratégia de forma improdutiva. Essa estratégia defensiva, no entanto, os prende em um círculo vicioso, em que suas necessidades compulsivas de reduzir a ansiedade básica conduzem a comportamentos que perpetuam a baixa autoestima, a hostilidade generalizada, a luta inadequada pelo poder, os sentimentos inflados de superioridade e a apreensão persistente, todos os quais resultam em mais ansiedade básica. Horney identificou 10 categorias de necessidades neuróticas, descrevendo as mesmas quatro estratégias defensivas básicas de maneira mais específica. Essas 10 categorias se sobrepõem umas às outras, e uma única pessoa pode empregar mais de uma. São elas: 1. Necessidade neurótica de afeto e aprovação Em sua busca por afeto e aprovação, os neuróticos tentam, indiscriminadamente, agradar os outros. Eles tentam estar à altura das expectativas dos outros, tendem a temer a autoafimação e ficam muito desconfortáveis com a hostilidade de terceiros, assim como com os sentimentos hostis dentro de si mesmos. 2. Necessidade neurótica de um parceiro poderoso Carecendo de autoconfiança, os neuróticos tentam se vincular a um parceiro poderoso, incluindo uma superavaliação do amor e um temor de ficar sozinho ou ser abandonado. 3. Necessidade neurótica de restringir a própria vida dentro de limites estreitos Os neuróticos, com frequência, se esforçam para permanecer imperceptíveis, assumem o segundo lugar e temem fazer exigências aos outros. 4. Necessidade neurótica de poder Geralmente acompanha as necessidades de prestígio e posse e se manifesta como a necessidade de controlar os outros e evitar sentimentos de fraqueza ou ignorância. 5. Necessidade neurótica de explorar os outros Os neuróticos, muitas vezes, avaliam os outros com base em como podem ser usados ou explorados, mas, ao mesmo tempo, temem ser explorados pelos outros. 6. Necessidade neurótica de reconhecimento ou prestígio social Algumas pessoas combatem a ansiedade básica tentando ser as primeiras, ser importantes ou atrair a atenção para si. 7. Necessidade neurótica de admiração pessoal Os neuróticos têm uma necessidade de ser admirados pelo que são, em vez de pelo que possuem. Sua autoestima inflada deve ser constantemente alimentada pela admiração e pela aprovação dos outros. 8. Necessidade neurótica de ambição e realização pessoal É comum os neuróticos possuírem um forte impulso de serem os melhores. Eles precisam derrotar outras pessoas para confirmarem sua superioridade. 9. Necessidade neurótica de autossuficiência e independência Muitos neuróticos possuem uma forte necessidade de se afastar das pessoas, provando, assim, que conseguem ficar bem sem os outros.10. Necessidade neurótica de perfeição e invulnerabilidade Esforçando-se incansavelmente pela perfeição, os neuróticos recebem a “prova” de sua autoestima e superioridade pessoal. Eles temem cometer erros e ter falhas pessoais, e tentam desesperadamente esconder suas fraquezas dos outros. São o agrupamento das 10 necessidades neuróticas em três categorias gerais, cada uma se relacionando a uma atitude básica da pessoa em relação a si e aos outros (ver esquema p. 17). Em crianças saudáveis, esses três impulsos não são, necessariamente, incompatíveis. Entretanto, a ansiedade básica leva algumas delas a experimentar atitudes basicamente contraditórias em relação aos outros, levando-as a resolver tal conflito básico tornando dominante uma dessas três tendências. São elas: – 1. Movimento em direção às pessoas Em suas tentativas de se protegerem contra os sentimentos de desamparo, as pessoas submissas lutam desesperadamente pela afeição e pela aprovação dos outros ou procuram um parceiro poderoso que assumirá a responsabilidade por suas vidas. Horney se referiu a essas necessidades como “dependência mórbida”, conceito que antecipou o termo “codependência”. Essa tendência neurótica envolve um complexo de estratégias e é também uma filosofia de vida. Os neuróticos que adotam essa filosofia provavelmente se veem como amorosos, generosos, altruístas, humildes e sensíveis aos sentimentos dos outros, mas são inclinados a se subordinarem aos outros, a verem os outros como mais inteligentes ou atraentes e a se classificarem de acordo com o que os outros pensam deles. 2. Movimento contra as pessoas Os indivíduos neuroticamente agressivos são tão compulsivos quanto os submissos, e seu comportamento é da mesma forma impulsionado pela ansiedade básica, no entanto se movem contra os outros, parecendo duros ou implacáveis. Eles são motivados por uma forte necessidade de explorar os outros e usá-los para seu próprio benefício, raras vezes admitem seus erros e são compulsivamente levados a parecerem perfeitos, poderosos e superiores. Cinco das 10 necessidades neuróticas estão incorporadas à essa tendência neurótica: a necessidade de ser poderoso, de explorar os outros, de obter reconhecimento e prestígio, de ser admirado e ter sucesso. Tais indivíduos podem parecer que se esforçam e são engenhosos no trabalho, mas desfrutam de pouco prazer no trabalho em si. Sua motivação básica é por poder, prestígio e ambição pessoal, e essas pessoas, de fato, com frequência chegam ao topo em muitos empreendimentos valorizados pela sociedade. 3. Movimento para longe das pessoas Para resolver o conflito básico do isolamento, alguns se comportam de uma maneira desprendida. Essa estratégia é uma expressão das necessidades que podem levar a comportamentos positivos. No entanto, tais necessidades tornam-se neuróticas quando as pessoas tentam satisfazê-las ao colocarem compulsivamente uma distância emocional entre elas e os outros. Muitos neuróticos consideram a associação com outros um esforço intolerável e, em consequência, são compulsivamente levados a se mover para longe das pessoas. Eles valorizam a liberdade e a autossuficiência, parecem indiferentes e inacessíveis e evitam compromissos sociais, mas seu maior medo é precisar de outras pessoas. Essas pessoas têm uma necessidade intensificada de serem fortes e poderosas, mas têm medo da competição, temendo um abalo em seus sentimentos ilusórios de perfeição e superioridade. Em vez disso, preferem que sua grandeza oculta seja reconhecida sem qualquer esforço de sua parte. Tendências neuróticas Conflito básico ou fonte da tendência neurótica Em direção às pessoas Contra as pessoas Para longe das pessoas Necessidades neuróticas 1. Afeto e aprovação 2. Parceiro poderoso 3. Limites estreitos na vida 4. Poder 5. Exploração 6. Reconhecimento e invulnerabilidade 7. Admiração pessoal 8. Conquistas pessoais 9. Autossuficiência e independência 10. Perfeição e prestígio Análogo normal Amistoso, carinhoso Capacidade de sobreviver em uma sociedade competitiva Autônomo e sereno Hostilidade básica Resulta de sentimentos da infância de rejeição ou negligência por parte dos pais ou de uma defesa contra a ansiedade básica. Ansiedade básica Resulta de ameaças parentais ou de uma defesa contra a hostilidade. Defesas contra a ansiedade Defesas normais Movimento espontâneo Em direção às pessoas (personalidade amigável, terna) Contra as pessoas (um sobrevivente em uma sociedade competitiva) Para longe das pessoas (personalidade autônoma, serena) Defesas neuróticas Movimento compulsivo Em direção às pessoas (personalidade complacente) Contra as pessoas (personalidade agressiva) Para longe das pessoas (personalidade isolada) – Conforme a teoria de Horney evoluiu, ela passou a enfatizar os conflitos internos que tanto os indivíduos normais quanto os neuróticos experimentam. Os processos intrapsíquicos se originam das experiências interpessoais; mas, à medida que se tornam parte de um sistema de crenças da pessoa, eles adquirem uma existência separada dos conflitos interpessoais que lhes deram vida. Horney acreditava que os seres humanos, em um ambiente de disciplina e afeto, desenvolverão sentimentos de segurança e autoconfiança e tenderiam em direção à autorrealização. Influências negativas precoces impediriam essa tendência natural, deixando-as com sentimentos de isolamento e inferioridade, somado a um crescente senso de alienação de si mesmas. Sentindo-se alienadas de si mesmas, as pessoas precisam desesperadamente adquirir um senso de identidade estável. Esse dilema só pode ser resolvido criando-se uma autoimagem idealizada, uma visão extravagantemente positiva de si mesmas, existente apenas em seu sistema de crenças pessoais, por meio da autoconcessão de poderes infinitos e capacidades ilimitadas e da glorificação e veneração a si mesmos. Assim, as pessoas submissas se veem como boas e santas; as agressivas constroem uma imagem como fortes, heroicas e onipotentes; e os distantes pintam-se como sábios, autossuficientes e independentes. Quando solidificada, os neuróticos começam a acreditar na realidade daquela imagem, perdendo contato com seu self real e usam o self idealizado como padrão para autoavaliação. Horney ainda reconheceu 3 aspectos da imagem idealizada: 1. Busca neurótica pela glória Trata-se do impulso abrangente em direção à realização do self ideal, quando os neuróticos passam a acreditar na realidade da imagem idealizada e começam a incorporá-la em todos os aspectos de sua vida – seus objetivos, seu autoconceito e suas relações com os outros. Além da autoidealização, inclui ainda três outros elementos: a. Necessidade de perfeição: refere-se ao impulso de moldar toda a personalidade em um self idealizado. Dessa forma, os neuróticos tentam alcançar a perfeição por um conjunto complexo de “deveria” e “não deveria” (impulso referido como tirania do dever) no qual eles, de modo inconsciente, dizem a si mesmos: “esqueça a criatura vergonhosa que você realmente é; isso é como você deveria ser”. b. Ambição neurótica: é o impulso compulsivo em direção à superioridade. Por terem uma necessidade exagerada de se sobressair em tudo, os neuróticos comumente canalizam suas energias para aquelas atividades que são mais prováveis de trazer sucesso. Esse impulso pode assumir diversas formas, inclusive uma menos materialista. c. Impulso em direção a um triunfo vingativo: embora possa ser disfarçado como um impulso por realizações ou sucesso, sua finalidade principal é levar os outros à vergonha ou derrotá-los por meio do próprio sucesso; ou alcançar o poder para infligir sofrimento a eles – sobretudo humilhante. Esse impulso se desenvolve a partir do desejo de infância de se vingar por humilhações reais ou imaginadas e nunca termina – em vez disso, aumenta a cada vitória. 2. Reivindicaçõesneuróticas Na busca pela glória, os neuróticos constroem um mundo de fantasia e, acreditando que o mundo externo está errado, proclamam que são especiais e, portanto, têm o direito de serem tratados de acordo com a visão idealizada que possuem de si mesmos. Suas reivindicações neuróticas se originam das necessidades e dos desejos normais; porém, quando as reivindicações neuróticas não são atendidas, os neuróticos ficam indignados, confusos e incapazes de compreender por que os outros não foram ao encontro de suas reivindicações. Exemplo: em uma fila para comprar ingressos no cinema, a maioria das pessoas próximas ao fim gostaria de estar na frente, no entanto, sabem que, na verdade, elas não merecem passar na frente dos outros. As pessoas neuróticas, por sua vez, acreditam verdadeiramente que têm o direito de ficar no início da fila e não sentem culpa ou remorso em desrespeitar a ordem na fila. – 3. Orgulho neurótico É um falso orgulho fundamentado em uma imagem idealizada do self, qualitativamente diferente do orgulho saudável ou da autoestima realista, e que costuma ser proclamado em altos brados para proteger e sustentar uma visão glorificada do próprio self. Os neuróticos se imaginam como gloriosos, maravilhosos e perfeitos; portanto, quando não são tratados dessa forma, seu orgulho neurótico é ferido. Para impedir a ofensa, eles evitam as pessoas que se recusam a ceder a suas reivindicações neuróticas e passam a tentar se associar a instituições e a aquisições socialmente prestigiosas. As pessoas com uma busca neurótica pela glória nunca estão felizes consigo mesmas, porque, quando percebem que seu self real não combina com as demandas insaciáveis do self idealizado, elas começam a odiar e a menosprezar a si mesmas. Horney reconhecia seis formas pelas quais as pessoas expressam auto-ódio: 1. Demandas incessantes ao self São exemplificadas pela tirania do dever. Exemplo: pessoas que fazem demandas a si mesmas e que não terminam nem mesmo quando elas atingem uma medida de sucesso; 2. Autoacusação impiedosa Os neuróticos criticam-se constantemente; essa autoacusação pode assumir uma variedade de formas – desde expressões obviamente grandiosas, como assumir a responsabilidade por desastres naturais, até questionar de modo escrupuloso o mérito de suas motivações. Exemplo: assumir a responsabilidade por desastres naturais; questionar de modo escrupuloso o mérito de suas motivações; 3. Autodesprezo Pode ser expresso como desvalorização, depreciação, dúvida, descrédito e ridicularização de si mesmo. O autodesprezo impede que as pessoas se esforcem pela melhora ou por realizações. Exemplo: um jovem que diz a si mesmo: “Seu idiota convencido! O que faz você achar que pode ter um encontro com a mulher mais bonita da cidade?” 4. Autofrustração Distingue-se entre autodisciplina saudável, que envolve adiar ou abrir mão de atividades prazerosas para alcançar objetivos razoáveis, e autofrustração neurótica, que provém do auto-ódio e é concebida para tornar real uma autoimagem inflada. Os neuróticos costumam ser imobilizados por tabus contra o prazer. Exemplo: uma pessoa que diz não “merecer um carro novo” ou não “precisar usar roupas bonitas porque muitas pessoas no mundo usam trapos”; 5. Autotormento ou autotortura Apesar de poder existir em cada uma das outras formas de auto-ódio, ele se torna uma categoria separada quando a intenção principal das pessoas é infligir dano ou sofrimento a elas mesmas. Exemplo: um indivíduo que obtêm uma satisfação masoquista se angustiando com uma decisão ou cortando- se com uma faca; 6. Ações e impulsos autodestrutivos Podem ser físicos ou psicológicos, conscientes ou inconscientes, agudos ou crônicos, executados na ação ou encenados apenas na imaginação. Exemplo: comer excessivo; o abuso de álcool e outras drogas; o abandono de um emprego justamente quando ele começa a ser gratificante. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ FEIST, Jess; FEIST, Gregory J; ROBERTS, Tomi-Ann. Teorias da personalidade. 8 ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. GABBARD, Glen O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Compartilhar