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Unidade III SERVIÇO SOCIAL: SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL Profa. Márcia Toledo O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Profa. Márcia Toledo Salvaia Nesta unidade faremos uma breve análise dos 50 anos iniciais do Serviço Social brasileiro, trataremos do surgimento e institucionalização da profissão, relacionando-a ao amadurecimento do capitalismo e aprofundamentos da questão social. Destacaremos a construção do posicionamento crítico que se apresenta hegemônico na profissão a partir do processo de renovação da profissão sob a ditadura militar. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O surgimento do Serviço Social no Brasil, bem como sua institucionalização, está inserido nas décadas de 1930 e 1940 e não deve ser entendido como um acontecimento isolado ou natural. Deve ser considerado o resultado de dois processos que, relacionados, geraram as condições sócio-históricas necessárias para que a profissão iniciasse seu percurso histórico no cenário brasileiro. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Segundo Iamamoto (2011), a gênese do Serviço Social no Brasil enquanto profissão inscrita na divisão social do trabalho está relacionada ao contexto das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século XX. O debate acerca da “questão social”, que atravessa a sociedade nesse período, exige um posicionamento do Estado, das frações dominantes e da Igreja. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O primeiro processo que devemos destacar é o redimensionamento do Estado brasileiro, que decorre da transição do capital de um estágio concorrencial para a fase monopólica. Netto (2009) tem o entendimento de que o Estado intervém no processo econômico desde a ascensão da burguesia, mas é no capitalismo monopolista que essa intervenção muda estrutural e funcionalmente. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Temos a evidência da(s) política(s) como elemento funcional e estratégico da ordem monopolista por constituir(em) a resposta necessária aos interesses da burguesia e à consequente necessidade de legitimação do Estado burguês em face das “novas” configurações dos conflitos de classe. Tais conflitos foram suscitados por essa ordem do capital e pela consequente conformação política dos movimentos operários – mecanismo tomado como eficiente para aplacar os conflitos que ameaçam pôr em xeque a ordem societária estabelecida. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O segundo processo que se faz necessário destacar está vinculado à busca pela recuperação da hegemonia ideológica da Igreja Católica através do fortalecimento da Ação Católica Brasileira (ACB). Aguiar (2011) nos informa que a missão da Ação Católica é divulgar a doutrina da Igreja, buscando uma reforma social – ação que deve empenhar-se na reconstrução da sociedade. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O movimento político ocorrido no Brasil em 1930 – conhecido como Revolução de 30 – inaugura um período de intervenção social da Igreja nunca antes visto. A partir da queda da República Velha, a Igreja busca uma reaproximação com o Estado. De acordo com Martinelli (2006), a ação cristianizadora do capitalismo era uma forma peculiar de ação política, estrategicamente concebida pela sociedade burguesa constituída para consolidar sua hegemonia de classe. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação No ano de 1931, duas grandes demonstrações de força são engendradas pela hierarquia católica na cidade do Rio de Janeiro – àquela época, capital da República –, por meio destas ações tentará fazer com que o novo regime entenda a sua indispensabilidade, estipulando também o preço de seu apoio. Interatividade (Vunesp, 2012). O surgimento do Serviço Social no Brasil remonta aos primeiros anos da década de 1930 como fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia, fortemente respaldados pela Igreja Católica, e tendo como referencial o Serviço Social europeu. De acordo com Martinelli (2006), a ação cristianizadora do capitalismo era uma forma peculiar de ação política, estrategicamente concebida pela sociedade burguesa constituída para consolidar sua hegemonia de classe. A autora afirma que do imediato envolvimento do Serviço Social com essa ação resultou um profundo fortalecimento de Interatividade a) um perfil imediatista, porém pleno de sentido estrutural, histórico e de ações comprometidas. b) uma profissão revolucionária, em sintonia com as transformações político-sociais contemporâneas que lhe deram sustentação. c) sua especificidade, particularizada por suas bases científicas que lhe deram origem. d) uma dimensão própria da profissão, desafiada a superar as imposições da cotidianidade. e) sua identidade atribuída, aliada à descaracterização de sua função social propriamente dita. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação As atividades da caridade tradicional ganham uma nova conformação e certo caráter organizativo, contando com famílias da burguesia paulista e carioca, que passam a contar com o aporte do Estado, o que possibilita realizar obras sociais mais abrangentes. Podemos destacar o surgimento de duas instituições assistenciais: em 1920, no Rio de Janeiro, a Associação das Senhoras Brasileiras e, no ano de 1923, a Liga das Senhoras Católicas, em São Paulo. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Essas instituições surgem dentro do movimento de reação católica e visam atender algumas demandas oriundas do processo de desenvolvimento capitalista. Essas ações podem ser consideradas como o embrião do Serviço Social brasileiro. As ações se tornam cada vez mais organizadas e outros grupos e associações surgem nesse cenário e, preocupados com a formação de seus componentes, elaboram cursos e semanas de estudos . O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação De um curso intensivo realizado em São Paulo por um grupo de moças religiosas de Santo Agostinho, preocupadas com a “questão social”, surge o Centro de Estudos e Ação Social – CEAS. O CEAS foi o considerado como o embrião da profissionalização do Serviço Social no Brasil : [...] o trabalho de organização e preparação dos leigos se apóia numa base social feminina de origem burguesa, respaldada por Assistentes Sociais belgas que ofereceram a sua experiência para possibilitar a fundação da primeira escola católica de Serviço Social (CASTRO, 2011, p. 102). O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação As ações daquele centro desenvolveram-se e ganharam importância, orientando suas atividades para uma formação técnica especializada, com a finalidade de difundir a doutrina social da Igreja, por isso, atuava diretamente junto ao proletariado . Segundo Iamamoto (2008) e Aguiar (2011), no ano de 1932, o CEAS envia para a Bélgica duas de suas fundadoras, com o intuito de que elas estudem a organização e o ensino do Serviço Social. Deste modo, no ano de 1936, instala-se, no Brasil, a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira do país. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Assim, percebemos uma atuação do Serviço Social brasileiro numa perspectiva de caráter mais doutrinário do que científico. Insta mencionar, que ao se manifestar em relação à “questão social”, a Igreja Católica se contrapõe aos princípios tanto do liberalismo quanto do comunismo, tendo em vista que ambos se apresentam enquanto ameaças para sua posiçãona sociedade. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Este breve histórico nos faz perceber o quanto a origem do Serviço Social brasileiro está imbricada à ação da Igreja Católica e da sua estratégia de adequação das mudanças econômicas e políticas que alteravam a face do país àquela época. Estamos nos deparando com uma profissão que surge com objetivos claros: dar respostas à “questão social” e ao movimento operário e popular – no sentido de controlá-lo. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Portanto, o Serviço Social em sua “fase inicial”, é pautado num posicionamento moralizador em face das expressões da “questão social”, “captando o homem de maneira abstrata e genérica, configurou-se como uma das estratégias concretas de disciplinamento e controle da força de trabalho, no processo de expansão do capitalismo monopolista (FORTI, 2013, p. 99). O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Dessa maneira, o chamado Serviço Social Tradicional pauta sua ação através de um viés de formação social, moral e intelectual das famílias. Ou seja, através de um trabalho tido como “educativo”, que culpa o sujeito pela sua condição. Em suma, uma prática profissional, baseada em atendimentos individualizados e prolongados, numa ideia de adequação ao comportamento moral esperado, como por exemplo, o chamado Serviço Social de Caso. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O período compreendido entre os anos de 1940 até meados da década 1960 significou, para o Brasil, um momento de considerável crescimento econômico. Nos países latino-americanos, emerge a ideia do desenvolvimentismo, entendido como uma possibilidade de superação do subdesenvolvimento presente nos países da região. No Brasil, os planos desenvolvimentistas não alcançaram os resultados esperados. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação O desejo do desenvolvimento econômico com justiça social não se concretizou e o que podemos observar é a forte presença de capital estrangeiro no país, entendida como necessária para o desenvolvimento nacional . O que se observa, em verdade, é a construção de uma indústria no Brasil e não uma indústria do Brasil. O surgimento de uma economia urbano-industrial traz à tona a necessidade de entidades assistenciais para atender às demandas postas e controlar as lutas sociais. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação As grandes instituições assistenciais desenvolvem-se num momento em que o Serviço Social, como profissão legitimada dentro da divisão social do trabalho; [...] é um projeto ainda em estado embrionário; é uma atividade profundamente marcada e ligada à sua origem católica, e a determinadas frações de classes, as quais ainda monopolizam seu ensino e prática. O Serviço Social no Brasil: das origens à renovação Nesse sentido, o processo de institucionalização do Serviço Social será também o processo de profissionalização dos Assistentes Sociais formados nas Escolas especializadas; [...] O Serviço Social reaparece modificado, dentro do aparelho de Estado e grandes instituições assistenciais, guardando, contudo, suas características fundamentais. [...] o Serviço Social mantém sua ação educativa e doutrinária de “enquadramento” da população cliente (IAMAMOTO e CARVALHO, 2008, p. 309-310, grifos do autor). Interatividade (Enade 2007) Analise as afirmativas a seguir. Na expansão monopolista, as funções políticas do Estado burguês articulam-se organicamente com as suas funções econômicas, PORQUE O Estado condensa os interesses comuns de toda a sociedade. A esse respeito, é possível concluir que a) as duas afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) as duas afirmativas são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) a primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa. d) a primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira. e) as duas afirmativas são falsas. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Para o Serviço Social brasileiro, os anos 60 do século XX representaram o início de um processo de reformulação global que se prolongará por pelo menos três décadas, suscitando um redimensionamento e um amadurecimento profissional indubitável. Esse processo não está finalizado, como explicita Ortiz (2010): “está em curso [...] um processo de construção de uma nova imagem para o Serviço Social brasileiro, iniciado em meados dos anos 60”. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Nessa época, na América Latina, surge o Movimento de Reconceituação, que pode ser considerado como “um marco decisivo do processo de revisão crítica do Serviço Social no continente” e que explicita uma preocupação dos profissionais em repensar a estrutura excludente do capitalismo. O Movimento de Reconceituação, como aponta Netto (2010), “é, sem qualquer dúvida, parte integrante do processo internacional de erosão do Serviço Social ‘tradicional’. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Assim, a Reconceituação questionava o papel dos assistentes sociais no processo de superação da condição de subdesenvolvimento dos países latino-americanos em um cenário no qual os projetos desenvolvimentistas nacionais de corte democrático-liberal davam claros sinais de ineficácia e incompatibilidade com os reais interesses e necessidades da população. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país O Movimento de Reconceituação do Serviço Social latino- americano se vê diante de ditaduras burguesas no continente, que visavam uma modernização conservadora das economias locais, ou seja, objetivavam a manutenção da ordem imperialista do capital. No Brasil, no ano de 1964, ocorre uma ditadura militar. Esse fato, segundo Cardoso (2013, p. 129-130), “fez com que a influência da Reconceituação no Brasil tivesse características distintas do restante da América Latina”, pois as possibilidades concretas de participação ativa dos brasileiros nesse processo foram minadas. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Muitas são as transformações sofridas pela sociedade brasileira com a instauração do regime militar. A repressão e a violação de direitos para a manutenção da ditadura é, sem dúvida, o aspecto mais triste desse cenário. É erguido, após o golpe de 1964, um Estado que tem como função assegurar a reprodução do grande capital. Tem-se a instauração de um Estado “antinacional e antidemocrático”, que passa a enfrentar a “questão social” não apenas com repressão, mas também com políticas sociais compensatórias. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Esse ambiente promove profundas alterações também no âmbito do Serviço Social, que se vê diante de novas demandas. Ainda que a requisição continue sendo executar políticas sociais para atender à funcionalidade do Estado e das elites, uma novidade lhe é posta, [...] a exigência de uma atuação profissional realizada com “caráter técnico e científico, que dê conta da burocracia estatal e dos investimentos privados”, como a referência de Cardoso (2013, p. 133). Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Aos assistentes sociais são apresentados espaços de atuação redimensionados, o Estado, as empresas multinacionais e a filantropia privada. Com a ampliação de um mercado nacional para os assistentes sociaisocorre uma modificação tanto na prática quanto na formação desses profissionais. O Serviço Social começa a romper com o que praticava até o momento e passa a apresentar polêmicas, heterogeneidade nas propostas interventivas, busca por uma elaboração teórica mais consistente e, principalmente, apresenta sua laicização. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Podemos mencionar que se coloca em curso, no Serviço Social brasileiro, um processo de renovação que se desenvolve a partir do pós-64 até meados da década de 1980, apresentando três direções e/ou projetos profissionais. São elas: a perspectiva modernizadora, reatualização do conservadorismo – ou fenomenológica – e a intenção de ruptura. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país A renovação do Serviço Social é, portanto, fruto de um processo histórico que possibilita o pluralismo no seio do Serviço Social, ao encontrarmos a diversidade no que diz respeito às maneiras de enfrentar a realidade social, de compreender a questão social e o próprio Serviço Social. Diversidade teórico-metodológica, ético-política e técnico- operativa na profissão: do modo de pensar, fazer e escolher (CARDOSO, 2013, p. 135). Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país A primeira expressão desse processo de renovação é a perspectiva modernizadora, que se configura, como o nome sugere, em adequar o Serviço Social conservador às exigências do momento histórico vivido pelo Brasil. É, portanto, uma tendência de agrupar novas bases técnicas e científicas ao fazer profissional, sem, no entanto, romper com as bases do surgimento da profissão. Interatividade (Cesgranrio, 2011). Considerando as principais linhas de desenvolvimento da reflexão profissional no Serviço Social durante o período de vigência e crise da ditadura no Brasil, a perspectiva modernizadora: a) resiste ao movimento de laicização da profissão. b) afasta-se da tradição positivista e do pensamento marxista. c) resgata tendências críticas que propõem rupturas político-sociais. d) está expressa nos documentos dos seminários de Sumaré e Teresópolis. e) expressa a renovação profissional adequada à autocracia burguesa. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país A tendência da atualização do conservadorismo é aquela que recupera os elementos mais tradicionais da profissão, retomando a vinculação com a doutrina social da Igreja e a ênfase numa intervenção profissional microscópica, com ênfase na centralidade da pessoa e na ação por meio da ajuda psicossocial. A última das perspectivas apresentadas está vinculada, diferente das anteriores, a uma “crítica sistemática ao desempenho ‘tradicional’ e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos.” (NETTO, 2010). Essa vertente se coloca em discussão no seio profissional, não por acaso, na segunda metade da década de 1970. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Nesse período, a participação popular em movimentos contrários ao regime militar se massifica, os movimentos estudantil e sindical ganham vulto e aquela proposta de Estado ditatorial começa a dar sinais de superação. Comprometido com uma proposta alternativa ao projeto hegemônico capitalista, o Serviço Social, na sua vertente crítica, associa-se a grupos sociais e partidos políticos que partilham do mesmo desejo de transformação societária. Para isso, a profissão adota como dimensão teórico- metodológica o marxismo e se coloca eticamente favorável à ideia de emancipação humana. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Sobre um dos elementos centrais na construção dessa vertente, podemos afirmar que o Método Belo Horizonte – Método BH – representa a primeira elaboração (sob o regime da autocracia burguesa) de uma proposta profissional alternativa ao tradicionalismo e demonstra uma preocupação com critérios teóricos, metodológicos e interventivos, tendo surgido na década de 1970, na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Assim, o Método BH representa uma alternativa global ao tradicionalismo, inclusive ao definir e denominar as características do “Serviço Social Tradicional”. As críticas são construídas nas perspectivas ideopolíticas, teórico-metodológicas e operativo-funcionais. Porém, pelas marcas repressoras da autocracia burguesa, a elaboração teórica e a experimentação empírica (extensão/estágio) são interrompidas pela crise no marco da universidade, em 1975, com a demissão dos principais formuladores e gestores. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Contudo, o Método BH é recuperado a partir do primeiro terço da década de 1980 através dos trabalhos de conclusão de curso dos programas de pós-graduação. Insta mencionar que uma das críticas feitas ao Método BH, além de ser um movimento que partiu da universidade, elaborado por professores, é a carência de explicitação acerca do padrão societário que se deseja para substituir a ordem estabelecida. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Dessa maneira, a década de 1980 é marcada como um período de maioridade intelectual do Serviço Social, pois, a partir de sua consolidação acadêmica, percebe-se uma aproximação e comprometimento com a perspectiva ontológica original de Marx. Questão primordial para compreensão do significado social da profissão na sociedade capitalista, bem como das suas ambiguidades, inerentes à prática profissional, ou seja, no dilema de se apresentar enquanto trabalhador liberal e na prática atuar na condição de assalariado, além de mediar as relações entre quem demanda (trabalhadores) e quem remunera (patronato/Estado) seus serviços. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Em suma, ao buscar novas bases de legitimidade para ação profissional (através da aproximação com a tradição marxista e consequente ampliação da bagagem teórica) o Serviço Social passa a considerar as contradições do seu exercício profissional e se posiciona a serviço dos usuários, o que rompe com a perspectiva anterior de reprodução do controle social. Nesse sentido, compreende as implicações políticas de sua prática profissional, a polarização da luta de classes e, a partir disso, desenvolve seu posicionamento crítico. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Esse referencial crítico em relação à sociedade do capital depurou-se e atualmente busca assegurar valores que se dirijam à legitimação de práticas que contribuam para a construção de uma nova ordem societária, uma ordem cuja lógica não seja a contradição gênero/indivíduo e tampouco o primado da mercantilização na vida social (FORTI, 2013, p. 105). Assim, o Serviço Social rompe – ou se propõe a romper – com o conservadorismo tradicional e elabora um aparato jurídico, normativo e político alinhado a esta nova fase profissional. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Nesses quase 80 anos de profissão no país, os últimos 30 anos registram um importante amadurecimento do posicionamento crítico ao projeto capitalista de sociedade. A partir da década de 1980, com o legado da reconceituação, a vertente da ruptura do processo de renovação, o código de ética profissional de 1986 –e seus avanços –, o Serviço Social brasileiro inicia um novo estágio no seu ethos profissional. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Podemos dizer que os processos e modificações vividos na – e influenciados pela – ditadura militar, marcam o “fim do início” da profissão, que agora se apresenta madura e disposta a construir uma trajetória vinculada à classe trabalhadora. Esta é uma tarefa ousada e que requer coragem, e isto não falta aos profissionais que formulam e constroem – acreditamos que este projeto, mesmo sendo originado a partir dos anos de 1970, está em constante construção – o projeto profissional pós-64, projeto este denominado de Projeto Ético-Político, que precisa ser a todo o momento reafirmado, revisitado e fortalecido para que algum dias alcancemos as suas proposições. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Ao mesmo tempo, as transformações vividas seguidamente pelo capital para a manutenção de sua hegemonia colocam desafios constantes e cada vez mais complexos aos assistentes sociais, que precisam criar estratégias de intervenção que materializem a construção profissional histórica de emancipação da classe trabalhadora. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Assim, o assistente social precisa ter uma apreensão crítica das relações sociais na perspectiva da totalidade, realizar constantes análises do movimento histórico da sociedade brasileira, compreendendo o significado histórico da profissão e considerando as novas formulações entre o público e o privado para a identificação das demandas sociais (CFESS, 2011). Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Finalizamos esta unidade enfatizando que resgatar a história e os principais enfrentamentos e conquistas da categoria dos assistentes sociais, é fundamental para que possamos continuar trilhando caminhos contra-hegemônicos e repensando – refazendo, reinventando – nossas ações profissionais. Renovação do Serviço Social brasileiro: marco para a profissão no país Ressaltamos que para tal é necessário o fortalecimento da capacidade teleológica do assistente social a partir de uma apreensão, tanto dos fundamentos do Serviço Social quanto do atual Projeto Ético-Político, compreendido aqui como um processo em constante construção e disputa. Interatividade (Cesgranrio, 2011). A literatura na área do Serviço Social refere-se a um processo de intensa renovação da profissão no Brasil a partir dos anos de 1960. Uma implicação importante desse processo de renovação foi a a) instauração das condições para o pluralismo teórico, ideológico e político. b) consolidação do monolitismo nas práticas profissionais, cancelando as polêmicas. c) ruptura definitiva com as concepções profissionais tradicionais. d) definição de um referencial científico, alçando-o à condição de ciência. e) legitimação profissional no cenário social e econômico. ATÉ A PRÓXIMA!
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