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Higiene do Trabalho Riscos Químicos no Ambiente de Trabalho Elaboração Professor Celso Berilo Cidade Cavalcanti – M.Sc. Engenheiro Químico e de segurança do Trabalho e-mail: korrosao@gmail.com - CREA DF 10.274/D 2 Sumário Introdução ................................................................................................................................ 5 Objetivos .................................................................................................................................. 6 Unidade I – Base Legal............................................................................................................ 7 Capítulo 1 – História – Como começou ................................................................................... 7 1.1. Breve Histórico – No Mundo .................................................................................... 7 1.2. Breve Histórico – No Brasil .................................................................................... 11 Capítulo 2 – Legislação no Mundo e Brasil ............................................................................ 13 2.1 Limite de Exposição Ocupacional - LEO .................................................................. 13 2.2 Conhecendo os Agentes Químicos .......................................................................... 14 2.3 Condição IPVS ......................................................................................................... 15 2.4 Unidade de Medidas ................................................................................................. 16 2.4.1 Relação Peso / Volume ...................................................................................... 16 2.4.2 Relação Volume / Volume .................................................................................. 16 2.4.3 Relação Peso / Peso .......................................................................................... 17 2.4.4 Transformação de Unidades .............................................................................. 17 2.5 Conhecendo o “Limite de Tolerância” Brasileiro ....................................................... 19 2.6 Anexo 11 – Agentes Químicos ................................................................................. 19 2.6.1 Valor Máximo ..................................................................................................... 20 2.6.2 Fator de Desvio – FD ......................................................................................... 22 2.6.3 Asfixiantes Simples ............................................................................................ 23 2.6.4 Valor Teto ........................................................................................................... 25 2.6.5 Absorção Cutânea ............................................................................................. 26 2.6.6 Substâncias Tóxicas .......................................................................................... 26 2.7 Anexo 12 – Poeira Mineral ....................................................................................... 27 2.7.1 Asbestos ............................................................................................................ 27 2.7.2 Manganês e Seus Compostos ........................................................................... 28 2.7.3 Sílica Livre Cristalizada ...................................................................................... 28 2.8 Manual de Métodos Analíticos da NIOSH ................................................................ 30 2.9 Anexo 13 – Agentes Químicos ................................................................................. 36 2.10 Nível de Ação – NR 09 ............................................................................................. 37 2.11 Aprofundando no Limite de Exposição Ocupacional – ACGIH ................................. 38 2.12 BRIEF & SCALA ....................................................................................................... 45 Capítulo 3 - Leitura e interpretação da legislação .................................................................. 48 3.1. Atividade x LEO ........................................................................................................ 48 Unidade II – Higiene do Trabalho .......................................................................................... 54 Capítulo 1 – Higiene do Trabalho – Risco Químico ............................................................... 54 1.1. Agentes Químicos .................................................................................................... 54 1.1.1. Estado Físico – Sólido ....................................................................................... 55 1.1.2. Estado Físico – Líquido ...................................................................................... 57 1.1.3. Estado Físico – Vapor ........................................................................................ 57 1.1.4. Estado Físico – Gasoso ..................................................................................... 58 1.2. Propriedade dos Aerodispersoídes ........................................................................... 59 1.2.1. Tamanho do Aerodispersóide ............................................................................ 59 1.2.2. Morfologia do Aerodispersóide ........................................................................... 61 1.2.3. Distribuição do Aerodispersóide ......................................................................... 62 Capítulo 2 – Rotas de Entrada e Exposição ao Risco Químico ............................................. 63 2.1. Contaminante Químico ............................................................................................. 63 3 2.2. Vias de Penetração dos Agentes Químicos ............................................................. 63 2.2.1. Absorção dos Contaminantes Químicos ............................................................ 63 2.3. Classificação dos Aerodispersóide pelo Efeito no Organismo .................................. 65 2.3.1. Efeitos Agudos (curto prazo) .............................................................................. 66 2.3.2. Efeitos Crônicos (longo prazo) ........................................................................... 67 2.4. IPVS ou IDLH ........................................................................................................... 67 2.5. Classificação de Carcinogenicidade ......................................................................... 67 Capítulo 3 – Patologias do Risco Químico ............................................................................. 71 3.1. Doenças Ocupacionais do Trato Respiratório .......................................................... 71 3.1.1. Pneumoconiose ................................................................................................. 71 3.2. Doenças Ocupacionais do Sistema Hematopoético ................................................. 75 3.2.1. Leucopenia / Plaquetopenia / Leucemia ............................................................ 75 3.3. Doenças Ocupacionais da Derme ............................................................................ 75 3.3.1. Dermatose ou Dermatite .................................................................................... 75 Capítulo 4 – Obtendo Informações sobre os Agentes Químicos ........................................... 77 4.1. FISPQ ....................................................................................................................... 77 4.2. SDS ou MSDS .......................................................................................................... 78 4.3. GHS ..........................................................................................................................78 4.4. C.A.S. ....................................................................................................................... 79 4.5. Número ONU ............................................................................................................ 80 4.5.1. Classe 01 - Explosivos ....................................................................................... 80 5.5.2. Classe 02 – Gases ............................................................................................. 81 5.5.3. Classe 03 – Líquidos Inflamáveis ....................................................................... 83 5.5.4. Classe 04 – Sólidos Inflamáveis ........................................................................ 84 5.5.5. Classe 05 – Substâncias Oxidantes ................................................................... 84 5.5.6. Classe 06 – Substâncias Tóxicas e Infectantes ................................................. 85 5.5.7. Classe 07 – Materiais Radioativos ..................................................................... 86 5.5.8. Classe 08 – Corrosivos ...................................................................................... 87 5.5.9. Classe 09 – Substâncias Perigosas Diversas .................................................... 88 Capítulo 5 – Equipamentos de Proteção ............................................................................... 90 5.1. A Filosofia de Segurança .......................................................................................... 90 5.1.1. Letra a) – Eliminação do Agente de Risco ......................................................... 90 5.1.2. Letra b) – Controle da Trajetória do Agente de Risco ........................................ 91 5.1.3. Letra c) – Redução da Concentração do Agente de Risco ................................ 91 5.2. Fronteira entre EPC x EPI ........................................................................................ 91 5.2.1. Letra a) – Medidas de Caráter Administrativo .................................................... 92 5.2.2. Letra b) – EPI ..................................................................................................... 92 5.3. Posicionamento Legal entre EPC x EPI ................................................................... 93 5.4. Melhoria Continua do Ambiente Laboral ................................................................... 93 5.5. Equipamento de Proteção Coletiva .......................................................................... 94 5.6. Equipamento de Proteção Individual ........................................................................ 96 5.6.1. Respiradores ...................................................................................................... 97 Unidade III – Avaliação Ambiental ....................................................................................... 103 Capítulo 1 – Higiene do Trabalho – Risco Químico .......................................................... 103 1.1. Reconhecendo os Agentes Químicos ..................................................................... 103 1.2. Objetivos da Avaliação Quantitativa ....................................................................... 104 1.3. Planejamento da Coleta ......................................................................................... 105 1.4. Quais Agentes Químicos podem ser Coletados ..................................................... 105 1.5. Amostragem dos Agentes Químicos ...................................................................... 105 1.5.1. Amostragem Ativa ............................................................................................ 105 1.5.2. Amostragem Passiva ....................................................................................... 118 Capítulo 2 – Técnicas de Amostragens ............................................................................ 123 2.1. Seleção do Tipo de Coleta ..................................................................................... 123 4 2.1.1. Seleção dos Trabalhadores de Maior Risco..................................................... 124 2.1.2. Seleção Aleatória de Trabalhadores dentro de GES ....................................... 124 2.2. Tempo de Coleta .................................................................................................... 124 2.3. Analisador de Gases .............................................................................................. 126 2.4. Gravimetria ............................................................................................................. 128 2.5. Tubos Colorimétricos .............................................................................................. 130 Glossário .............................................................................................................................. 133 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 134 Índice de Equações ............................................................................................................. 137 Índice de Figuras ................................................................................................................. 138 Índice de Tabelas ................................................................................................................ 140 5 Introdução Bem-vindo(a) à disciplina Higiene do Trabalho – HT, especificamente Risco Químicos no ambiente do trabalho. Considerada como uma das disciplinas mais importantes do curso de formação do Engenheiro de Segurança do Trabalho - EST, onde a teoria e prática se fundirão. Nessa etapa, você aprenderá a avaliar qualitativamente o ambiente de trabalho, montar o plano de amostragem e quantificar os agentes de risco. Somente com essas valiosas informações, você poderá propor as ações de controle e monitoramento para manter um ambiente laboral saudável e sem patologias nos trabalhadores. Este livro é o seu guia com os conhecimentos básicos e informações para o seu aprofundamento do conteúdo com materiais complementares que lhe ajudarão no “discere magis” (saber mais) desse tema, bem como as referências bibliográficas. Vamos disponibilizar vários exercícios com soluções e links de vídeos e artigos científicos. A Higiene do Trabalho – HT, Higiene Industrial - HI ou Higiene Ocupacional – HO são termos utilizados no Brasil para definir a “ciência que se dedica ao estudo dos ambientes de trabalho e à prevenção das doenças causadas por eles”1. Em comum nas três definições: HT, HI e HO encontramos a palavra higiene que é derivada do nome da deusa grega da saúde conhecida como “Hígia” ou “Hygeia”. Ela era filha de “Asklepios” – deus da medicina e irmã de “Panacea” deusa dos medicamentos e ervas medicinais. Enquanto seu pai e sua irmã estavam ligados ao tratamento da doença existente, “Hygeia” era considerada preocupada com a preservação da boa saúde e a prevenção de doenças. Por isso, no idioma português deu origem a palavra Higiene que significa limpeza, higiene e saneamento. Os termos Higiene Industrial, em inglês Industrial Hygiene e Higiene Ocupacional, em inglês Occupacional Hygiene são utilizados há muitos anos nos países de língua inglesa, e sempre geravam calorosas discursões sobre qual termo seria o mais adequado. Somente após a decisão da Conferência Internacional de Luxemburgo realizada de 16 a 21 de junho de 1986, onde estavam presentes as seguintes associações: Associação Internacional de Higienistas Ocupacionais2 - IOHA (International Occupational Hygiene Association), Organização Mundial da Saúde3 - OMS (World Health Organization - WHO), Comissão Internacional de Saúde Ocupacional4 - ICOH (International Commission on Occupational Health) e Conferência Governamental Americana deHigienistas Industriais5 - ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) que prevaleceu a expressão Higiene Ocupacional - HO. No Brasil é comum encontrarmos a expressão Higiene do Trabalho - HT. Neste livro usaremos a terminologia brasileira Higiene do Trabalho – HT (negrito do autor). A Norma Regulamentadora número cinco - NR 056 que define os riscos dos processos de trabalho estão divididos em cinco grupos, a saber: Riscos Químicos, Riscos Físicos, Riscos Biológicos, Risco Ergonômico e Risco de Acidentes, também chamando de Riscos Mecânicos pela previdência social. O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA é apresentado na Norma Regulamentadora número nove - NR 09 que tem como objetivo a “preservação da saúde e 1 Fundacentro, Introdução a Higiene Ocupacional, 1a ed (Sao Paulo: Fundacentro, 2004). 2 Ioha, ‘IOHA – International Occupational Hygiene Association’, 2000 <https://ioha.net/>. 3 WHO, ‘WHO – World Health Organization’, 1980 <https://www.who.int/>. 4 ICOH, ‘ICOH – International Commission on Occupational Health’, 2000 <http://www.icohweb.org/site/homepage.asp>. 5 ACGIH, ‘ACGIH – American Conference of Governmental Industrial Hygienists’, 1938 <https://www.acgih.org/>. 6 MTE, ‘NR 5 - COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES’, 2007, 1–24. 6 da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho”. No PPRA7 encontraremos definições dos agentes de riscos químicos, físicos e biológicos, as exigências do monitoramento, registros dos resultados e divulgação aos interessados. Este livro irá apresentar a você, Engenheiro de Segurança do Trabalho - EST, os conhecimentos necessários para atuar na área da Higiene do Trabalho, onde um deles é a prevenção das doenças causadas pelos agentes laborais, especialmente geradas pelos riscos químicos. Abordaremos a história da HT no mundo e no Brasil, as nomenclaturas atuais, definições legais, limites de exposições ocupacionais, estratégias de amostragens, monitoramento e controle do meio ambiente do trabalho. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos. Os ícones servirão de recursos de aprendizagem. Especial atenção deve ser dada aos ícones “LUPA” com textos para o aprofundamento do assunto e um exemplo é a NR 09 PPRA e “Homem Trabalhando”, com questões ou exercícios inseridos no assunto para aumentar seu conhecimento e ajudar na elaboração das conclusões dos laudos ambientais com uma aplicação prática. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados! Lembre-se de que, apesar de distantes, estamos muito próximos. Objetivos Os objetivos gerais da Higiene do Trabalho - H.T., definidos pela Associação Americana de Higienistas Industriais8 - AIHA (American Industrial Hygiene Association) especificamente com foco no risco químico são: “antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos originais nos locais de trabalho e, que podem prejudicar a saúde e o bem estar dos trabalhadores, tendo em vista também o possível impacto nas comunidades vizinhas e meio ambiente.” Além disso, elencamos alguns objetivos específicos, a saber: Conceituação, abrangência e importância da H.T.; Classificação dos agentes químicos causadores de risco a saúde; Conhecer a base legal trabalhista e previdenciária para os agentes químicos; Reconhecer os agentes químicos no ambiente laboral; Montar uma estratégia de amostragem; Definir qual a melhor forma de coleta do agente químico; Utilização prática de aparelhagem de aparelhagem; Conhecer as técnicas de análises laboratoriais e suas adequadas interpretações; Entender as exposições ocupacionais, eventuais, intermitentes e permanentes; Calcular os graus de filtração dos respiradores; Especificar tecnicamente os Equipamentos de Proteção Individuais - EPI; Concluir se o nível de exposição do trabalhador está salubre ou insalubre; Reconhecer os Equipamentos de Proteção Coletivos – EPC; Interpretação do Decreto nº 3.048, 06/05/1999 e suas atualizações; Interpretação da IN INSS nº 077, 21/01/2015; e Interpretação dos Anexos nº 11, 12 e 13 da NR-15. 7 MTE, ‘NR 9 - PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS Publicação’, 2014, 1–7. 8 AIHA, ‘AIHA – American Industrial Hygiene Association’, 2000 <https://www.aiha.org/Pages/default.aspx>. 7 Unidade I – Base Legal Nesta unidade, você aprenderá o princípio da base legal, início dos estudos da legislação dos agentes químicos e quais os seus limites de exposições ocupacionais e suas limitações técnicas. Capítulo 1 – História – Como começou Caro Aluno(a), a partir deste momento, precisamos de um sólido conhecimento da legislação atual para iniciarmos o estudo da Higiene do Trabalho com foco nos riscos químicos no ambiente de Trabalho. 1.1. Breve Histórico – No Mundo A maioria das cronologias sobre a história do trabalho no mundo parte do Egito Antigo, indo nas escavações das pirâmides. Sempre foi transmitido que as pirâmides foram construídas por escravos capturados, mas essas informações estão mudando. Arqueólogos americanos e egípcios afirmam que os trabalhadores eram livres, bem alimentados e, em sua grande maioria egípcia9. Durante as cheias do rio Nilo não era possível à agricultura e dessa maneira as pessoas trabalhavam nas construções durante a entressafra em troca de alimentos, assistência médica e moradia. Segundo, Zahi Hawass, diretor do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito há indícios de ossadas de trabalhadores enterrados próximos às construções das pirâmides que “apresentavam marcas de fraturas curadas, membros amputados e até cirurgias cerebrais, ou seja, os trabalhadores recebiam tratamento médico à custa do Faraó”. Nesse caso, podemos inferir que havia muitos acidentes de trabalho com os construtores das pirâmides, tais como: artificies, escultores, carregadores, transportadores, pedreiros e cozinheiros. No Egito com suas maravilhosas construções em pedra, mármores e outros materiais em abundância na região que o Filósofo, Professor e Médico Hipócrates (460 – 380 A.C.) observou que as doenças como resultado de alteração do corpo, baseando-se na observação dos sintomas e propondo um diagnóstico e um tratamento10. Hipófises descreveu as doenças dos artífices do mármore expostos as poeiras. Aqui, também, podemos inferir que havia muitos acidentes de trabalho com os construtores dos templos, palácios gregos, tais como: artificies, carregadores e pedreiros. Estamos na Itália, onde o médico Italiano Bernardino Ramazzini, nascido em Carpi em 04/10/1633 e falecido em Pádua 05/11/1714 escreveu e publicou em 1700 um tratado com 360 páginas sobre doenças dos trabalhadores intitulados “De MORBIS ARTIFICUM Diatriba11”. Este livro foi traduzido para o português e impresso pela Fundacentro com o título: “As Doenças dos Trabalhadores”. Ramazzini relacionava as doenças laborais com as profissões, onde citou: mineiros, químicos, ferreiros passando pelos cloaqueiros e coveiros. Doença como o hidrargirismo ou hidragirose que é uma intoxicação pelo mercúrio foi relatada nos trabalhadores “douradores” quando douravam os metais com prata ou bronze e, na atualidade estamos falando dos cromadores. Com esse trabalho maravilhoso, Ramazzini é considerado o pai da medicina do trabalho. 9 Leandro Narloch, ‘Quem Construiu as Pirâmides’, Super Interessante (Sao Paulo, November 2002) <https://super.abril.com.br/historia/nem-ets-nem- escravos/>. 10 Pedro Eurico Rodrigues, ‘Medicina Na Grécia Antiga’, InfoEscola, 2012 <https://www.infoescola.com/historia/medicina-na-grecia-antiga>. 11 BernardinoRamazzini, As Doenças Dos Trabalhadores, 2016 <https://doi.org/10.1016/j.mexoft.2014.08.007>. 8 1.1.1. A Revolução Industrial A revolução industrial iniciada na Inglaterra em 1800 com o advento das máquinas a vapor aperfeiçoadas pelo Matemático e Engenheiro James Watt (1736 – 1819) e os teares mecânicos movidos pelas máquinas a vapor permitiu a industrialização. Antes da revolução industrial o trabalho era: 1) Manual; 2) Familiar; e 3) Generalista. As primeiras fábricas de tecido foram improvisadas em galpões, onde os trabalhadores praticamente viviam nos galpões, dormindo, se alimentando e permanecendo ao lado das máquinas. Portanto, após a revolução industrial com a introdução das máquinas a vapor e teares mecânicos, o trabalho sofreu uma ruptura total e passou a ser: 1) Mecanizado; 2) Cooperativista ou Organizacional; e 3) Especializado. Imaginem como era o ambiente laboral nesse período. A carga horária era elevada, onde permaneciam de 12 a 16 horas por dia. Não havia período de descanso e nem folga, por isso os trabalhadores nem voltavam para suas casas. Nesse período trabalhavam homens, mulheres e crianças, todos juntos. Portanto, nesse cenário havia um ambiente de trabalho caótico, sujo, quente, escuro, ruidoso, perigoso, insalubre, entre outros cenários. Imaginem os acidentes de trabalho! Em 1900, na Inglaterra foi realizado o primeiro acordo, onde nenhum trabalhador poderia exceder 12 horas trabalhadas. Nesse período se iniciam os movimentos dos trabalhadores exigindo melhores condições. Nos EUA, os Sindicatos (UNIONS) se organizam para exigências e até greves. Foi uma manifestação de 1º de maio de 1886 em Chicago no EUA reivindicando a redução da jornada de trabalho de 13 horas para 8 horas diárias que foi escolhida com data alusiva ao Dia do Trabalho. 1.1.2. Criação da OIT A primeira guerra mundial durou quatro anos e encerrou com a assinatura do armistício de Compiègne na França entre os Aliados e a Alemanha em 11 de novembro de 1918. Suas consequências foram terríveis para a humanidade, especialmente com o uso de vários produtos químicos tóxicos, tais como: o fósforo branco e o gás cloro. Este último quando empregado como arma química deixou milhares de mortos, feridos e mutilados pelas terríveis queimaduras na pele, olhos, pulmões e mucosas. Em 11 de abril de 1919, foi apresentado na Plenária da Conferência de Paz, o rascunho da criação do que conhecemos como a Organização Internacional do Trabalho – OIT12 (International Labor Organization – ILO) com objetivo de promover a justiça social. A criação da OIT foi uma das exigências do Tratado de Versalhes que foi assinado em 10 de janeiro de 1920. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (Convenções e Recomendações). O Brasil está entre os membros fundadores da 12 ILO, ‘International Labor Organization - ILO’, 1919 <https://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm>. 9 OIT e participa das conferências desde a sua primeira reunião. Recomendados que você saiba mais sobre a OIT Brasília13. 1.1.3. Limite de Exposição Ocupacional - Origem Segundo o Professor Du Plessis14 foi na Alemanha em 1883 que se apresentou o primeiro Limite de Exposição Ocupacional – LEO (Occupational Exposure Limits – OEL) para o monóxido de carbono (CO), gás presente no gás de hulha ou gás de carvão muito usado na iluminação pública do século XIX e na metalurgia para a conversão do minério de ferro (Fe2O3) em ferro metálico (Fe 0). O primeiro registro da toxidade do monóxido de carbono com estudos em cachorros foram realizados 1857 pelo médico e fisiologista francês Claude Bernard (1813 – 1878)15 com seu estudo “lições sobre os efeitos de substâncias tóxicas e medicamentosas” em Paris e publicado em 1857. Bernard é considerado o pai da moderna fisiologia experimental e realizava cirurgias experimentais com animais com fins científicos, e constantemente desagradava sua esposa e filhas. Várias vezes, a esposa sabotou os experimentos soltando os animais, denunciou o marido a sociedade de proteção animal e fez campanha contra as dissecações16. A primeira lista contendo 20 (vinte) LEO foi publicada pelo Farmacêutico Alemão Rudolf Kobert (1854 a 1918)17 com o seu trabalho “Compêndio de Toxicologia Prática para Uso de Médicos e Estudantes” em 1894, quando era professor na Universidade de Rostock, Alemanha. O artigo somente em 1912 foi traduzido e publicado no idioma inglês e, muitos autores declaram o ano de 1912 como o ano de publicação da lista com os limites de exposições ocupacionais, mas na Alemanha já eram de conhecimento público desde 1894. Segundo a pesquisadora Susan Ripple18, Higienista Industrial da empresa Dow Chemical Company foi em 1916/1917, que o governo da África do Sul definiu o LEO para a poeira mineral contendo quartzo nas minerações de ouro. Lembrando que a África do Sul é um dos maiores exportadores de ouro e diamantes do mundo e suas minas chegam a quilômetros de profundidade. O LEO foi de 8,5mppcf – Milhões de Partículas por Pés Cúbicos (million particles per cubic foot). Os autores Du Plessis e Ripple, separadamente, confirmam que o Departamento Americano de Minas (U.S. Bureau of Mines) também publicou o seu LEO de 10mppcf para poeira mineral contendo quartzo. Em 1921, o U.S. Bureau of Mines publica uma lista com trinta e três limites de exposições ocupacionais. Provavelmente, isso foi uma reação à morte de mais de 400 (quatrocentos) trabalhadores em 1920 por silicose, quando uma empresa da West Virginia construiu um túnel realizando uma escavação em uma montanha e expos dois mil trabalhadores a poeira de sílica com 98% de concentração de quartzo. Na cidade de Washington/DC em 27 de junho de 1938 inúmeros representantes dos estados americanos, cidades, de uma universidade, serviço de saúde e departamento de minas se reuniram para discutir os avanços da saúde ocupacional e meio ambiente na Conferência Nacional Governamental de Higienistas Industriais (National Conference of Governmental 13 OIT, ‘OIT Brasília’, 2000 <https://www.ilo.org/brasilia/lang--pt/index.htm>. 14 Johan L. Du Plessis, ‘Occupational Exposure Limits: Are We Really Protecting the Health of Workers?’, Universidade de North-West, Potchefstroom, Africa Do Sul, 2010. 15 Claude Bernard, Leçons Sur Les Effets Des Substances Toxiques et Médicamenteuses (Paris, France: J.B. Baillière et Fils, 1857). 16 Mary Midgley, Animals and Why They Matter, 1.a (Atlanta, Georgia/EUA: Georgia University Press, 1998). 17 Rudolf Kobert, Compendium Der Praktischen Toxikologie Zum Gebrauche Für Praktische Ärtze Und Studierende (Stuttgart: Enke, 1894) <https://books.google.com.br/books?id=dLvnAAAAMAAJ>. 18 Susan D. Ripple, ‘History of Occupational Exposure Limits’ (IOHA Workshop, 2010). 10 Industrial Hygienists – NCGIH). A NCGIH limitava a apenas dois representantes de cada agencia governamental. Na década de 1940, em plena 2ª Guerra Mundial no ano de 1942, a Conferência Nacional Governamental de Higienistas Industriais (NCGIH) precursora da ACGIH se reuniu e relacionou sessenta e três substâncias químicas e seus limites de exposição ocupacional que na época eram chamados de concentração máxima permitida de substâncias tóxicas (Maximum Allowable Concentrations of Toxic Substances – MAC)19. Em 1946, ocorreu a mudança da NCGIH para a atual ACGIH e foi lançada nova lista com cento e quarenta e oito MAC. Atualmente a ACGIH permite profissionais higienistas americanos, mas provenientes de todo os outros países. Os termos MAC e LEO diferem, pois segundo o Professor Tsuchiya20, MAC é a exposição máxima a um agente físico ou químico biologicamente ativo que é permitido durante um período de 8 (oito) horas (equivalente a uma jornada de trabalho) em uma população de trabalhadores, oudurante um período de 24 (vinte e quatro) horas na população em geral, que não parece causar danos apreciáveis, imediata ou atrasada por qualquer período, na população-alvo. Então, o MAC era um limite superior para a exposição dos trabalhadores. 1.1.4. ACGIH e a TLV® Encontramos no site da ACGIH (www.acgih.org/about-us/history) uma maravilhosa leitura sobre a história de como apareceu um dos mais acessados manuais de limites de exposições ocupacionais – LEO e que anualmente é reeditado com novos limites, substâncias em estudo e até retiradas. Isso tudo iniciou em 1941 com a criação do comitê de limites de exposição ocupacional de substâncias químicas para investigar, recomendar e revisar anualmente os LEO. Em 1944, esse comitê se tornou permanente e em 1946 já editou sua primeira listagem de LEO dos produtos químicos. Apenas em 1956 foi introduzido pela ACGIH, o termo TLVs®21 - limites de exposição ocupacional (Threshold Limit Values). Em 1962 foi publicado a primeira edição do manual de limites de exposição ocupacional – TLVs®. O termo TLV®-TWA que significa Limite de Exposição Ocupacional – Média Ponderada no Tempo (LEO – MPT) (Threshold Limit Values – Time Weighted Average) é o valor médio ponderado no tempo para 8 (oito) horas por dia de trabalho (jornada diária de trabalho) e 40 (quarenta) horas semanais de trabalho (jornada semanal) que se acredita que os trabalhadores podem ser expostos dia a dia, por toda a vida laboral sem os efeitos adversos da exposição. A ACGIH acrescenta que os TLVs® não são linhas divisórias entre condição seguras e perigosas e, adverte que os trabalhadores podem ainda estar sujeitos a Exposição Dérmica, Agentes Químicos Anestésicos, Irritantes, Sensibilizantes, Corrosivos e Carcinogênicos que não estão previstos nas TLVs®. Essa lista foi à conclusão do trabalho desenvolvido nos últimos setenta anos. Atualmente no mundo, inclusive o Brasil, são aceitos os valores de TLVs® da ACGIH, onde eles são revisados e publicados anualmente desde 1947. A ACGIH definiu o termo TLV®-C que significa Limite de Exposição Ocupacional – Valor Teto (LEO – VT) (Threshold Limit Values – Ceiling) é valor máximo que não deve ser excedido em momento algum da jornada de trabalho, mesmo que instantaneamente. Além disso, foi 19 A. A. Letavet, ‘Basic Concepts for Maximum Allowable Concentrations of Toxic Substances’, Pure and Applied Chemistry, 3.1–2 (2008), 21–23 <https://doi.org/10.1351/pac196103010021>. 20 S. Tsuchiya, K. e Harashima, ‘Lead Exposure And The Derivation Of Maximum Allowable Concentrations And Threshold Limit Values’, British Journal of Industrial Medicin, 1965. 21 ACGIH, 2017 TLVs and BEIs (Cincinnnati OH: Signature Publications, 2017) <www.acgih.org/tlv-bei-guidelines/ documentation-publications-and- data/under-study-list>. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Tsuchiya%20K%5BAuthor%5D http://www.acgih.org/about-us/history 11 definido o termo TLV®-STEL que significa Limite de Exposição Ocupacional – Limite de Exposição de Curta Duração (Threshold Limit Values – Short-Term Exposure Limit) valor máximo que não deve ser excedido por mais de 15 (quinze) minutos com um período de intervalo de 60 (sessenta) minutos e não pode repetir por mais de 4 (quatro) vezes no dia. Desde 1961, a ACGIH e a AIHA realizam anualmente e conjuntamente entre os meses de maio e junho sempre em uma cidade americana, a Conferência e Exposição Americana de Higiene Industrial. Essa reunião internacional atrai mais de cinco mil profissionais de segurança, saúde ocupacional e meio ambiente. 2020 será em Atlanta/Geórgia e 2021 em Dallas/Texas. A conferir. 1.1.5. OSHA e a PELs Atualmente, a Administração de Segurança e Saúde Ocupacional22 - OSHA (Occupational Safety and Health Administration) tem Limites de Exposição Permissíveis – PELs (Permissible Exposure Limits) para quase 500 (quinhentos) produtos químicos perigosos que estão relacionados na tabela Z-Table23. A OSHA que foi fundada em 1971 e está subordinada ao Ministério do Trabalho Americano (U.S. Departament of Labor24). Os PELs são baseados em pesquisas realizadas principalmente na década de 1950 e início dos anos 1960. Desde então, muitas informações novas se tornaram disponíveis, indicando que na maioria dos casos, esses limites iniciais de exposição estão desatualizados e não protegem adequadamente os trabalhadores. 1.2. Breve Histórico – No Brasil Estamos em plena segunda guerra mundial (1938 – 1944), no governo Getúlio Vargas (1882 - 1954), durante o período do Estado Novo e foi criada a nossa Consolidação das Leis do Trabalho – CLT pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Um detalhe histórico foi a assinatura da CLT no Estádio de São Januário, que é o Clube de Regatas Vasco da Gama, que estava lotado para comemorar o feito25. Recomendada pela OIT em 1921, a criação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA se transformaram em determinação legal no Brasil em 10 de novembro de 1944, por meio do decreto lei nº 7.036, artigo 82. Este decreto-lei reforma a Lei de Acidentes do Trabalho com o decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934 que veio antes da CLT. Como foi a nossa evolução cronológica do trabalho no Brasil? Tivemos grande marcos, onde podemos citar: Lei nº 5.889, de 08 de Junho de 1973 que institui as normas reguladoras do Trabalho Rural (base legal da NR-31); Lei nº 6.514, de 22 de Dezembro de 1977 que regulamenta o Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452 de 01/05/1942). Essa é considerada a Lei Mãe da SST; Portaria nº 3.214, de 08 de Junho de 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (M.T.E.) que cria e edita as Normas Regulamentadoras. 22 OSHA, ‘Occupational Safety and Health Administration - OSHA’, 1971 <https://www.osha.gov/archive/oshinfo/priorities/pel.html>. 23 OSHA, ‘OSHA Annotated Table Z-1’, 1990 <https://www.osha.gov/dsg/annotated-pels/tablez-1.html>. 24 DOL, ‘US Department of Labor’, 1913 <www.dol.gov>. 25 TRT, ‘História: A Criação Da CLT’, 2012 <https://trt-24.jusbrasil.com.br/noticias/100474551/historia-a-criacao-da-clt>. 12 1.2.1. Lei Mãe da Segurança e Saúde do Trabalhador - SST No Brasil até o ano de 1978 não havia LEO ou “Limites de Tolerância” – LT para as substâncias químicas. Havia até o momento, a Portaria nº 491, de 16 de setembro de 1965 com trabalhos considerados insalubres, baseando-se somente no aspecto qualitativo do agente químico (grifo nosso) e com a criação da Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978, a Portaria nº 491 se tornou o Anexo 13 – Agentes Químicos (qualitativos) da NR 15. A Norma Regulamentadora número quinze (NR 15) Atividades e Operações Insalubres possui quatro anexos envolvendo os riscos químicos, a saber: Anexo 11 – Agentes Químicos (quantitativo); Anexo 12 – Poeiras Minerais (quantitativo); Anexo 13 – Agentes Químicos (qualitativo); e Anexo 13-A – Benzeno (quantitativo). De acordo com Gana Soto em seu maravilhoso artigo técnico26 da Revista da ABHO - Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais27, a página 16 encontramos um relato muito importante sobre a criação da Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, a saber: O Anexo 13 relaciona as atividades e operações envolvendo agentes químicos que são considerados insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. Anterior à portaria nº 3214/78, o dispositivo normativo que regulava as atividades com exposição a agentes químicos nos locais de trabalho era a Portaria nº 491/65. Essa Portaria apresentava uma relação de atividades e operações consideradas insalubres devido a uma avaliação qualitativa, desde que não constatadas a aplicação de medidas de proteção coletiva ou individual. O Anexo 11, por causa das dificuldades de avaliação quantitativa existentes naépoca, não cobriu todas as atividades e operações já previstas na citada Portaria de 1965. Assim, para que não se cometesse alguma injustiça, retirando o adicional de insalubridade de trabalhadores que já o recebiam sem ter um dispositivo para exigir a adoção obrigatória de medidas de controle adequadas para sua eliminação ou neutralização, optou-se por manter no Anexo 13 a relação existente na 491/65. Mas se fez uma ressalva: deveriam ser excluídos da relação prevista nesse Anexo todas as atividades ou operações com os agentes químicos constantes dos Anexos 11 e 12. Este relato da nossa história ligada à criação da Portaria nº 3.217, de 08 de junho de 1978 e como foi contornado o problema da Portaria nº 491, de 16 de setembro de 1965. Nesse momento, você pergunta se desde 1971 já haviam relacionados na OSHA e ACGIH mais de 500 (quinhentos) agentes químicos com limites de exposição ocupacional, por que na montagem do Anexo 11 – Agentes Químicos com “Limites de Tolerância” não foram 26 Jose M. Gana Soto and et alli, ‘Norma Regulamentadora. Um Pouco de Sua História e Considerações Do Grupo Que a Elaborou’ (São Paulo: ABHO, 2010), p. 5. 27 ABHO, ‘ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais’, 1994 <http://www.abho.org.br/>. 13 aproveitados todos os agentes químicos, inclusive os existentes na relação da Portaria 491/65? Essa resposta é obtida no mesmo artigo técnico da Revista ABHO de Setembro de 2010 a página 14, a saber: Assim, mantiveram-se no Anexo 11 todos os agentes químicos que pudessem ser avaliados por meio de tubos colorimétricos (grifo nosso) uma vez que na época, no Brasil, não se dispunha em larga escala de laboratórios com metodologia desenvolvida para análise de amostras ao nível de parte por milhão - ppm. As empresas que efetuavam amostragem para posterior análise laboratorial utilizavam- se, na maioria das vezes, de laboratórios do exterior. ... Devido às dificuldades analíticas existentes naquele período, foi feita uma análise de todos os limites fixados na ACGIH®. Selecionando-se apenas os agentes químicos que pudessem ser avaliados por meio de tubos colorimétricos das marcas disponíveis para importação no Brasil - Dräger e M.S.A. Algumas substâncias podiam ser avaliadas por tubos de qualquer uma dessas duas marcas, e outros apenas por uma delas. Isso resultou na adoção de limites para menos de cento e cinquenta sustâncias, embora a ACGIH® então já estabelecesse limites para mais de 500 agentes químicos. Com esse relato fantástico ficou claro que em 1978 tínhamos uma grande deficiência de laboratórios químicos brasileiros preparados para executarem as marchas analíticas adequadas nas amostras dos agentes químicos coletados, por exemplo, por coletores ativos ou passivos. Além disso, os números de tubos colorimétricos disponíveis no mercado para aquisição era muito aquém das grandes quantidades de agentes químicos no mercado para serem avaliados no ambiente laboral. Um exemplo disso é que até o momento não há tubos colorimétricos para os defensivos agrícolas. Lembre-se nesse momento, caro aluno que trataremos mais adiante com profundidades sobre técnicas de coleta e equipamentos usados nas coletas ambientais, portanto, peço um pouco de paciência, mas chegaremos lá. Capítulo 2 – Legislação no Mundo e Brasil 2.1 Limite de Exposição Ocupacional - LEO Há vários fatores que podem impactar na interpretação dos resultados, quando comparamos o nível de exposição do trabalhador com o “limite de tolerância”. Conforme, cita em seu livro Benjamin Alli28 lembra que o LEO é baseado em uma padronização para um trabalhador americano do sexo masculino com setenta quilos com idade aproximada de quarenta anos (grifo do autor). Esse peso, por exemplo, é superior ao da trabalhadora americana e muitos trabalhadores homens asiáticos. Dessa maneira, fica a pergunta, posso reduzir o LEO para mulheres ou pessoas mais leves que 70kg? Ou uso o mesmo LEO para todos? 28 Benjamin O. Alli, Fundamentalk Principles of Occupational Health and Safety (Geneva, 2008). 14 Além disso, os estudos dos LEO são baseados em substâncias simples ou isolados e fica a dúvida: quando existirem misturas de substâncias? O caso mais clássico é dos combustíveis, onde temos uma mistura de solventes orgânicos alifáticos e aromáticos (grifo nosso). Cada agente químico tem limites de exposição ocupacionais próprios, mas como ficaria o LEO, se ocorrer uma interação química entre eles. Os impactos a saúde do trabalhador serão potencializado? Aqui inicia sua primeira atividade, onde você deverá pesquisar as definições de solvente orgânico aromático e solvente orgânico alifático e citar três exemplos de substâncias químicas que fazem parte dessa classificação. Dica do professor procure a Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico - FISPQ da Gasolina. Dica do professor procure no Dr. Google: digite “FISPQ+GASOLINA”. 2.2 Conhecendo os Agentes Químicos Agentes químicos que além da absorção respiratória que a principal porta de entrada no organismo, também tem absorção cutânea, digestiva e ocular. A própria NR – 15 no Anexo 11 – Agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por “limite de tolerância” e inspeção no local de trabalho informa que: “Todos os valores fixados no Quadro n. 1 – Tabela de Limites de Tolerância é valida para absorção apenas por via respiratória” (grifo nosso). Há agentes químicos presentes nos ambientes laborais que geram efeitos adversos de curto e longo prazo no trabalhador, tais como: Sedação; Dor de cabeça; Efeito narcótico; Irritação de vias aéreas e olhos; Produtos carcinogênicos; Produto oncogênicos; e Produtos teratogênicos e sensibilizantes. E fica mais uma pergunta: Os impactos a saúde do trabalhador serão potencializado? Aqui inicia sua segunda atividade, você deverá pesquisar as definições dos efeitos nos trabalhadores de substâncias: anestésicas, narcóticas, carcinogênica, corrosiva, irritantes dérmicas e do trato respiratório e citar dois exemplos dessas substâncias químicas. Dica do professor procure no Dr. Google. Temos também o fator ambiental, tais como: velocidade do ar, umidade e temperatura. Como ficaria o LEO para solventes altamente voláteis quando comparamos o clima frio do Sul do Brasil com temperaturas próximas de zero e a região Norte que mesmo no inverno está acima de 30ºC e no verão pode passar de 40ºC? O LEO pode sofrer influência da elevada umidade de Belém/PA com suas chuvas constantes, quase diárias, quando 15 comparamos com Brasília/DF que nos meses de maio a agosto a umidade relativa do ar chega a 20%, próximo do clima desértico. Outras limitações dos LEO são a não aplicabilidade a grupos mais susceptíveis, tais como: mulheres grávidas, crianças e idosos. Pessoas com patologias imunodeficientes, como o HIV e a tuberculose ocupacional. O LEO não protegerá grupos de trabalhadores que tenham susceptibilidade pessoal ao agente químico presentes, tais como pessoas alérgicas a poeiras ou fumantes que tem o sistema respiratório sobrecarregado pelo uso do tabaco. Lembre-se que a legislação brasileira criou os “LT” e empregou em vários anexos da NR-15, mas os nossos “Limites de Tolerância” foram tomados emprestados dos TLVs® da ACGIH® do ano de 1976, válidos para 40 horas/semanais e corrigidos para 48 horas/semana. Isso foi possível empregando um fator de conversão chamado de Brief & Scala que aprenderemos mais a frente e faremos inclusive exercícios com ele. Em 1978, definido na CLT havia uma jornada de 48 (quarenta e oito horas) por semana, 8h48min (oito horas e quarenta e oito minutos) por dia, enquanto os americanos trabalhavam uma jornada de 40 (quarenta) horas por semana e 8 (oito) horas por dia. Imagine os gruposde trabalhadores que realizam habitualmente horas extras ou trabalhadores em escala que fiquem em turnos de 12h x 36h, ou seja, naquele período de trabalho sempre excedem o limite de tempo de exposição previsto nas premissas do LEO. Ficou fácil de entender que o LEO das substâncias não consegue prever tantas variáveis que certamente interferem na sua correlação, pois frequentemente o LEO é obtido em condições especiais em laboratório ou em ambiente controlado. Mas esses desafios sempre estarão presentes nos nossos trabalhos como higienista ocupacional / prevencionista. 2.3 Condição IPVS Necessitamos conhecer algumas definições para continuarmos no nosso processo de aprendizagem. Além do “limite de tolerância” que já foi definido, precisamos conhecer o “valor máximo” - VM. O valor máximo são concentrações dos agentes químicos que não podem ser ultrapassados durante a jornada, pois acima do valor máximo - VM, a exposição é considerada uma situação de risco grave e iminente. Essa condição é chamada de Imediatamente Perigoso a Vida e a Saúde – IPVS. IPVS significa Imediatamente Perigoso para Vida e a Saúde e sua palavra correspondente em inglês é IDLH (Immediately Dangerous to Life or Health). É o parâmetro para toxicidade aguda mais importante em saúde ocupacional. Em meados da década de 1970, a OSHA e o NIOSH estabeleceram o valor IPVS ou IDLH para muitas substâncias químicas. A concentração da substância química no ar ambiente ou também chamado de ar atmosférico a partir da qual há risco evidente de morte, ou de causar efeito(s) permanente(s) à saúde, ou de impedir um trabalhador de abandonar uma área contaminada. A definição da situação de risco grave e iminente é encontrada na NR – 03 Embargo ou Interdição, que define o seguinte: “Considera-se grave e iminente risco toda condição ou situação de trabalho que possa causar acidente ou doença relacionada ao trabalho com lesão grave à integridade física do trabalhador.” Quando apenas uma concentração de algum agente de risco químico exceder o valor máximo, o local de trabalho pode ser interditado com a paralisação total ou parcial do estabelecimento, setor de serviço ou equipamento. 16 Além disso, segundo o Programa de Proteção Respiratória - PPR da Fundacentro29, o local é considerado IPVS quando: a) o contaminante presente ou a sua concentração é desconhecida; ou b) a concentração do contaminante é maior que a concentração IPVS; ou c) é um espaço confinado com teor de oxigênio menor que o normal (20,9% em volume ao nível do mar ou PPO2 = 159 mmHg), a menos que a causa da redução do teor de oxigênio seja devidamente monitorada e controlada; ou d) é um espaço confinado não avaliado; ou e) o teor de oxigênio é menor que 12,5% ao nível do mar (PPO2 menor que 95 mmHg); ou f) para um indivíduo aclimatado ao nível do mar, a pressão atmosférica do local é menor que 450 mmHg (equivalente a 4.240 m de altitude) ou qualquer combinação de redução na porcentagem de oxigênio ou redução na pressão que leve a uma pressão parcial de oxigênio menor que 95 mmHg. 2.4 Unidade de Medidas Os riscos químicos identificados qualitativamente e, quantificados ou mensurados na Higiene do Trabalho são apresentados nas unidades que relacionam o soluto sobre o solvente. O soluto é o agente químico na forma, sólida, liquida ou gasosa diluído no ar atmosférico, que é o solvente. A concentração de um sólido, líquido, gás ou vapor pode ser expressa em peso/volume (mg/m3), volume/volume (ppm) e relação peso/peso (%). Onde ppm significa partes por milhão. A grande maioria das unidades dos agentes químicos é expressa em mg/m3 e ppm. O gás oxigênio é relacionado em %. 2.4.1 Relação Peso / Volume PESO / VOLUME (mg/m3): essa unidade de medida representa a massa do pó, poeira, gás ou vapor em miligrama (10-3 grama) de um agente de risco por um metro cúbico (1m3) do volume total do ar atmosférico. Boa unidade para ser utilizada em aerodispersóide sólidos como fumos, pó ou poeira. A unidade da massa é a miligrama que representa a milésima parte da grama (10-3), onde 1g = 1.000mg ou 1mg = 0,001g; A unidade de volume é o metro cúbico que equivale a mil litros, onde 1m3 = 1.000 litros: 2.4.2 Relação Volume / Volume VOLUME / VOLUME (ppm): essa unidade de medida representa o volume do aerodispersóide presente: gás ou vapor por um determinado volume total de ar atmosférico. Boa unidade para ser utilizada em aerodispersóide líquidos ou gasosos como vapor, névoa, neblina ou gás. 29 Maurício Torloni, Programa de Proteção Respiratória: Recomendações e Uso de Respiradores, 4a edn (São Paulo: Fundacentro, 2016) <http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2016/6/programa-de-protecao-respiratoria>. 17 Equação 1 – Relação Volume / Volume (ppm) Relação = ( 𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 𝒅𝒐 𝑨𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒆 𝑹𝒊𝒔𝒄𝒐 𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 𝒅𝒐 𝑨𝒓 𝑨𝒕𝒎𝒐𝒔𝒇é𝒓𝒊𝒄𝒐 ) = ( 𝟏𝒄𝒎𝟑 𝟏𝒎𝟑 ) = ( 𝟏𝒄𝒎𝟑 𝟏.𝟎𝟎𝟎.𝟎𝟎𝟎𝒄𝒎𝟑 ) = 𝟏 𝟏.𝟎𝟎𝟎.𝟎𝟎𝟎 = 𝟏𝒑𝒑𝒎 2.4.3 Relação Peso / Peso PESO / PESO (% porcentagem): essa unidade de medida representa a massa ou volume do contaminante por massa ou volume total do ar contaminado. Boa unidade para ser utilizada em aerodispersoíde gasoso no ambiente como oxigênio e asfixiantes simples30. 2.4.4 Transformação de Unidades É perfeitamente possível converter as unidade de ppm para %, ppm para mg/m3 e vice- versa. Isso aconteceu comigo várias vezes, quando o resultado do levantamento ambiental veio em uma unidade e o LEO disponível estava em outra unidade. Temos de lembrar que a base dos parâmetros sempre será uma pressão atmosférica de 760mmHg (setecentos e sessenta milímetros de mercúrio) e a temperatura ambiente em 25ºC (vinte e cinco graus Celsius). Engenheiro de Segurança do Trabalho - EST, não utilize a palavra “graus centígrados”, pois ela foi substituída em 1948 na Conferência Geral de Pesos e Medidas. Use sempre “Graus Celsius” oC. Equação 2 - Converter ppm para mg/m 3 (25ºC) mg/m3 = [ (𝐕𝐚𝐥𝐨𝐫 𝐞𝐦 𝐩𝐩𝐦)𝐱 (𝐦𝐚𝐬𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐥𝐚𝐫 𝐝𝐚 𝐬𝐮𝐛𝐬𝐭â𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐞𝐦 𝐠𝐫𝐚𝐦𝐚𝐬) 𝟐𝟒,𝟒𝟓 ] Massa Molar a 25ºC = 24,45. Caso a temperatura ambiente seja 20ºC, o valor da Massa Molar muda também para = 24,03 e a formula ficará: Equação 3 - Converter ppm para mg/m 3 (20ºC) mg/m3 = [ (𝐕𝐚𝐥𝐨𝐫 𝐞𝐦 𝐩𝐩𝐦)𝐱 (𝐦𝐚𝐬𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐥𝐚𝐫 𝐝𝐚 𝐬𝐮𝐛𝐬𝐭â𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐞𝐦 𝐠𝐫𝐚𝐦𝐚𝐬) 𝟐𝟒,𝟎𝟑 ] Equação 4 - Converter mg/m 3 para ppm: ppm = [ (𝐕𝐚𝐥𝐨𝐫 𝐞𝐦 𝐦𝐠/𝒎𝟑)𝐱 𝟐𝟒,𝟒𝟓 𝐦𝐚𝐬𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐥𝐚𝐫 𝐝𝐚 𝐬𝐮𝐛𝐬𝐭â𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐞𝐦 𝐠𝐫𝐚𝐦𝐚𝐬 ] 30 Marcia Corrêa and Tuffi Saliba, Manuak Prático de Avaliação e Controle de Gases e Vapores - PPRA, 1a edn (Sao Paulo: Editora LTr, 2000). 18 Equação 5 - Converter % para ppm: Relação → 1% = 10.000ppm ou 1ppm = 0,0001% Tabela 1 - Converter as seguintes concentrações a saber: Agente Químico Massa Molar (g) ppm mg/m3 % Ácido Sulfúrico (H2SO4) 98,08 0,1 Amônia (NH3) 17,03 20 Oxigênio (O2) 31,99 20,9 Ácido Sulfúrico 0,1mg/m3 para ppm ? ppm = [(0,1mg/m3 x 24,45)/98,08)] = 0,03ppm Amônia 20ppm para mg/m3 ? mg/m3 = [(20ppm x 17,03)/24,45)] = 13,93mg/m3 Oxigênio 20,9% para ppm ? 1,0% = 10.000ppm Resultado 209.000ppm de Oxigênio 20,9% = Xppm 19 2.5 Conhecendo o “Limite de Tolerância” Brasileiro Desde o início deste livro estamos usando a terminologia de Limite de Exposição Ocupacional – LEO e aparece no artigo científico do Pesquisador Gana Soto26 a terminologia: “Limite de Tolerância” – LT. Lembre-se que estávamos no ano de 1978 e, o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo FIFA com a Argentina campeã. As terminologias foram aprimoradas, mas a nossalegislação ficou congelada desde 1978 e usando o ano de 2019 como referência tem apenas quarenta e hum anos de defasagem. A ACGIH se reúne, discute, acrescenta, retira e altera os LEOs anualmente no mês de maio. Toda vez que usarmos o termo “limite de tolerância” usaremos aspas para lembrar aos alunos que deveria estar na legislação brasileira o Limite de exposição ocupacional – LEO. Um verdadeiro atraso. Segundo a NR-15 Atividades e Operações Insalubres, o “Limite de Tolerância” - LT é definido no item 15.1.5, a saber: Entende-se por “Limite de Tolerância”, para fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. Observe que o “Limite de Tolerância” definido pela norma brasileira não é um limite de segurança, pois ele informa que não “causará dano à saúde do trabalhador”, ou seja, não estamos 100% garantidos. Não existe simplesmente uma fronteira reta, clara, perfeita que define o dano à saúde do trabalhador, onde abaixo do limite de tolerância não faz mal e acima do limite de tolerância haverá dano à saúde e faz mal. Outro detalhe importante da definição do LT é a definição “intensidade” que é usada para os riscos físicos, por exemplo: ruído, vibração, entre outros. O termo “concentração” é empregado para os riscos químicos, por exemplo: os gases, vapores, poeira, fumos, névoas e neblinas. Oportunamente, faremos as definições dos riscos químicos e seus agentes de risco. 2.6 Anexo 11 – Agentes Químicos ANEXO Nº 11 Agentes Químicos cuja Insalubridade é Caracterizada por Limite de Tolerância e Inspeção no Local de Trabalho 1. Nas atividades ou operações nas quais os trabalhadores ficam expostos a agentes químicos, a caracterização de insalubridade ocorrerá quando forem ultrapassados os limites de tolerância constantes do Quadro no 1 deste Anexo. 2. Todos os valores fixados no Quadro no 1 - Tabela de Limites de Tolerância são válidos para absorção apenas por via respiratória. ATENÇÃO !!!! Todos os valores fixados no Quadro no 1 - Tabela de Limites de Tolerância são válidos para absorção apenas por via respiratória. 20 Tabela 2 - Tabela de Limites de Tolerância Fonte: Anexo 11 da NR 15 Atenção, Engenheiro de Segurança do Trabalho - EST, a Figura 1 é muito grande com mais de uma centena de agentes químicos e no resumo anterior apresentamos um agente químico sólido (chumbo), um solvente orgânico (tricloroetileno), dois gases (dióxido e monóxido de carbono) e um gás tóxico (amônia). Aqui inicia sua terceira atividade, você deverá pesquisar as FISPQ do Chumbo (Pb), Tricloroetileno (C2HCl3) e Amônia (NH3). Dica do professor procure no Dr. Google. 2.6.1 Valor Máximo O valor máximo é encontrado no Quadro no 2 do Anexo 11 da NR – 15. Ele é calculado multiplicando o “limite de tolerância” por um fator de desvio - FD. Devemos usar a seguinte fórmula: Valor Máximo = LT x FD Equação 6 – Cálculo do Valor Máximo (anexo 11 NR 15) Tabela 3 - Quadro n o 2 do Anexo 11 da NR 15 LIMITE DE TOLERâNCIA (Anexo 11 da NR-15) FATOR DE DESVIO 0 < LT < 1 ppm ou mg/m3 FD = 3x 1 < LT < 10 ppm ou mg/m3 FD = 2x 10 < LT < 100 ppm ou mg/m3 FD = 1,5x 100 < LT < 1000 ppm ou mg/m3 FD = 1,25x 1.000 < LT ppm ou mg/m3 FD = 1,1x Fonte: Anexo 11 da NR 15 Agentes Químicos V.T. Absorção pela Pele Até 48hs/semana Grau Insalubridade ppm mg/m3 Amônia 20 14 Médio Chumbo - 0,1 Máximo Dióxido de Carbono 3.900 7.020 Mínimo Monóxido de carbono 39 43 Máximo Tricloroetileno 78 420 Máximo 21 Vamos usar um exemplo. O “limite de tolerância” definido no Anexo 11 da NR 15 para o gás amônia (NH3) é 20ppm. Observando na tabela, estamos na faixa entre 10 a 100 ppm ou mg/m3 (circulo vermelho). O fator de desvio será 1,5x (seta azul). Vamos fazer o memorial de cálculo. Valor Máximo = LT x FD (1) Valor Máximo NH3 = 20ppm x 1,5 (2) Valor Máximo NH3 = 30ppm (3) Portanto, com o “limite de tolerância” do gás amônia de 20ppm, o seu respectivo valor máximo será de 30ppm. Vejamos isso em um gráfico. Gráfico 1 - Amônia Vamos fazer isso com outro produto químico. Vamos usar o Álcool Etílico ou Etanol. Gráfico 2 - Álcool Etílico ou Etanol Vamos fazer o memorial de cálculo. 22 Valor Máximo = LT x FD (1) Valor Máximo H3CCOOH = 780ppm x 1,25 (2) Valor Máximo H3CCOOH = 975ppm (3) Portanto, com o “limite de tolerância” do álcool etílico de 780ppm seu respectivo valor máximo será de 975ppm. Aqui inicia sua quarta atividade, você deverá calcular os valores máximos dos seguintes agentes químicos. Tabela 4 - Exercício para Valor Máximo Agente Químico Limite de Tolerância Valor Máximo Chumbo 0,1mg/m3 Anilina 4ppm Álcool Isobutílico 40ppm Estireno 78ppm Fonte: Próprio Autor 2.6.2 Fator de Desvio – FD Como podemos entender esse Fator de Desvio - FD? O fator de desvio é uma faixa de erro que foi colocado no anexo 11 da NR 15 para compensar o desvio das medições ambientais. Lembre-se que estamos em 1978 e a única técnica prevista na época na nossa legislação era a coleta por tubos colorimétricos. Olhando as especificações técnicas dos fabricantes de tubos colorimétricos observamos erro de até 25% por medição. Sim, 25% de erro. Imagine esse erro nos custos da obra de um prédio e no cálculo de uma viga. Dessa maneira, o legislador sabendo desse erro nas medições colocou um elevado fator de desvio nas concentrações mais baixa e foi reduzindo o fator de desvio ao passo que a concentração vai crescendo. Na prática ficou assim: Tabela 5 – Tabela de LT x FD LIMITE DE TOLERâNCIA (Anexo 11 da NR 15) FATOR DE DESVIO Erro em % 0 < LT < 1 ppm ou mg/m3 FD = 3x 300% 1 < LT < 10 ppm ou mg/m3 FD = 2x 200% 10 < LT < 100 ppm ou mg/m3 FD = 1,5x 50% 100 < LT < 1000 ppm ou mg/m3 FD = 1,25x 25% 1.000 < LT ppm ou mg/m3 FD = 1,1x 10% Fonte: Próprio Autor adaptada do Anexo 11 da NR 15 Na faculdade, quando estávamos em dúvida sobre a resistência do material, frequentemente aumentávamos a espessura da chapa ou a bitola da ferragem e lembram como chamávamos isso? Coeficiente do “cagaço”. Sim, achamos mais um agora. 23 2.6.3 Asfixiantes Simples Todos os valores fixados no Quadro no 1 como "Asfixiantes Simples" determinam que nos ambientes de trabalho, em presença destas substâncias, a concentração mínima de oxigênio deverá ser 18% (dezoito) por cento em volume. As situações nas quais a concentração de oxigênio estiver abaixo deste valor serão consideradas de risco grave e iminente (NR 03) – Imediatamente Perigoso a Vida e a Saúde - IPVS. Tabela 6 – Asfixiantes Simples Agentes Químicos V.T. Absorção pela Pele Até 48hs/semana Grau Insalubridade ppm mg/m3 Acetileno Argônio Etano Etileno Hélio Hidrogênio Neônio n-propano Propileno Asfixiante Simples Fonte: Anexo 11 da NR 15 Lembrando aos Engenheiros de Segurança do Trabalho que o teor de oxigênio na atmosfera é de 20,9% (vinte vírgula nove por cento). O oxigênio é o único LEO com concentração mínima de 18%, ou seja, para baixo do nível de exposição. O nível de exposição do trabalhador em ambiente sem contaminantes é de 20,9% e quando o oxigênio é consumido ou entra no ambiente um asfixiante simples à concentração do oxigênio cai e se passar abaixo de 18% será uma condição IPVS e ambiente de trabalho será interditado (NR 03). Além disso, os asfixiantes simples não possuem limite de exposição ocupacional – LEO. O monitoramento deles ocorre de uma forma indireta, pois avaliaremos sempre a concentração do oxigênio e quando aumentar a presença do asfixiante simples no ambiente laboral consequentemente diminuirá a do oxigênio. Apesardo gás carbônico (CO2) ser um asfixiante simples, ele tem um LEO específico definido no anexo 11 da NR 15 de 3.900ppm – três mil e novecentos partes por milhão. Ficou a dúvida, o que um asfixiante simples? Asfixiantes simples são gases não reativos em Condições Normais de Temperatura e Pressão – CNTP, que não participam da reação química. Basicamente, os asfixiantes simples não são perigosos, mas em grande concentração em um ambiente, especialmente confinado, eles deslocam, empurram para fora do ambiente, o gás oxigênio (O2) necessário para a manutenção da vida. Os asfixiantes simples em grandes concentrações deslocam o gás oxigênio, reduzindo sua concentração no ambiente laboral, gerando inicialmente: - uma hipóxia (Hipo=baixa + Oxia=Oxigênio) e em maior gravidade; - uma anóxia (An=negação + Oxia=oxigênio). Segundo Torloni31 sobre os efeitos da deficiência do oxigênio, a saber: 31 Maurício Torloni, Manual de Proteção Respiratória, 1a edn (São PAulo: ABHO, 2003). 24 Tabela 7 - % Oxigênio x Sintomas de Exposição % Volume O 2 Sintomas da exposição 23,5% ou mais Oxigênio enriquecido, risco excessivo de incêndio. 23,0% Oxigênio enriquecido 20,9% Concentração considerada normal na atmosfera 19,5% Nível de segurança (NR 33 - OSHA – NIOSH) 12 a 16% Alteração da respiração e do estado emocional; Fadiga anormal em qualquer atividade; 14% Extinção da chama (=teste de chama ou teste de vela*) 10 a 11% Aumento da respiração e da pulsação; Coordenação motora prejudicada; euforia e possível dor de cabeça. 6 a 10% Náuseas e vômito; Incapacidade de realizar movimentos; possível inconsciência; possível colapso enquanto consciente mas sem socorro. < 6% Respiração ofegante; parada respiratória seguidas de parada cardíaca; Morte em minutos. Fonte: Manual da 3M do Brasil - (*) = detalhe do autor; A redução da concentração do oxigênio no ambiente laboral é muito perigosa e pode gerar uma morte silenciosa para o trabalhador. A respiração no nosso organismo é o processo de entrada e saída de ar nos pulmões e o controle da respiração espontânea, onde você nem se dá conta que está respirando, sendo executado por centros neurais localizado no bulbo do córtex. O aumento da concentração do gás carbônico no sangue, aumenta a acidez do sangue e dispara ou regula o movimento da respiração, mas o organismo não identifica redução ou ausência do oxigênio e assim vamos a óbito muito rápido, sem nenhuma defesa. Por isso, o legislador brasileiro no anexo 11 da NR 15 destacou alguns gases que ficaram classificados como “Asfixiantes Simples”. Dessa família destacamos todos os gases nobres (circulo vermelho) da nossa tabela periódica. Figura 1 - Tabela Periódica Clássica hélio (He) neônio (Ne) argônio (Ar) criptônio (Kr) xenônio (Xe) radônio (Rn) Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/tabela-periodica/ 25 Observa-se também na Tabela 06 - asfixiantes simples, que os gases inflamáveis estão presentes, tais como: acetileno e hidrogênio e porque eles estariam nessa classificação? Simples, se o gás inflamável vazar no ambiente laboral e não entrar em combustão, consequentemente ele deslocará o oxigênio e pode provocar a morte do trabalhador por anóxia. 2.6.4 Valor Teto Na coluna "VALOR TETO" estão assinalados os agentes químicos cujos limites de tolerância não podem ser ultrapassados em momento algum da jornada de trabalho. Tabela 8 – Agentes Químicos com Valor Teto (VT) Agentes Químicos V.T. Absorção pela Pele Até 48hs/semana Grau Insalubridade ppm mg/m3 Ácido Clorídrico + 4 5,5 Máximo Cloreto de Vinila + 156 398 Máximo Dióxido de Nitrogênio + 4 7 Máximo Formaldeído + 1,6 2,3 Máximo Fonte: Anexo 11 da NR 15 Agora nesta classificação, temos agentes químicos com elevada toxidade e o “limite de tolerância” é o máximo permitido para exposição do trabalhador. Nesse caso não é permitido aplicar o cálculo do fator de desvio - FD para achar o valor máximo – VM. Qualquer nível de exposição do trabalhador acima do “LT” ao longo da jornada ou se a média exceder esse limite, o ambiente de trabalho será insalubre e IPVS. Gráfico 3 – Ácido Clorídrico Pegadinha de prova, mandar calcular o Valor Máximo – VM do ácido clorídrico. 26 2.6.5 Absorção Cutânea Na coluna "ABSORÇÃO TAMBÉM PELA PELE" estão assinalados os agentes químicos que podem ser absorvidos, por via cutânea, e, portanto exigindo na sua manipulação o uso de roupas impermeáveis e luvas adequadas, além do EPI necessário à proteção de outras partes do corpo. Tabela 9 – Agentes Químicos com Absorção Cutânea Agentes Químicos V.T. Absorção pela Pele Até 48hs/semana Grau Insalubridade ppm mg/m3 Anilina + 4 15 Máximo Benzeno + 8 24 Máximo Fenol + 4 15 Máximo Tolueno + 78 290 Máximo Fonte: Anexo 11 da NR 15 Bastante cuidado nessa hora, pois o Benzeno (círculo verde) não está mais no anexo 11 da NR 15, desde 20 de dezembro de 1995. Ele está no anexo nº 13-A da NR 15. O benzeno, em função da sua elevada toxidade e pela possibilidade de gerar a anemia aplásica nos trabalhadores, perdeu o LEO e recebeu o Valor de referência tecnológico – média ponderada no tempo (VRT-MPT). Recomendamos a leitura do Anexo 13A da NR 15. Atenção: Somente para benzeno, a legislação brasileira estabelece um limite específico denominado Valor de Referência Tecnológico (VRT), estabelecido pelo anexo nº 13-A, incluído na NR-15 pela Portaria SSST nº 14, em 1995. O VRT é o valor possível de se atingir para determinado processo do ponto de vista da tecnologia vigente. Não exclui risco à saúde, sendo diferente do Limite de Tolerância. Além disso, recomendamos a leitura da Portaria MTb. 1.109, de 21 de setembro de 2016 que trata da Aprova o Anexo 2 - Exposição Ocupacional ao Benzeno em Postos Revendedores de Combustíveis - PRC - da Norma Regulamentadora n.º 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA. 2.6.6 Substâncias Tóxicas Substâncias de efeito extremamente rápido e que podem ser absorvidas por via cutânea. Na coluna "ABSORÇÃO TAMBÉM PELA PELE" estão assinalados os agentes químicos e marcados VALOR TETO. Tabela 10 – Agentes Químicos com Absorção Cutânea e Pele Agentes Químicos V.T. Absorção pela Pele Até 48hs/semana Grau Insalubridade ppm mg/m3 Álcool n-butílico + + 40 115 Máximo n-Butamina + + 4 12 Máximo Monometil hidrazina + + 0,16 0,27 Máximo Sulfato de dimetila + + 0,08 0,4 Máximo Fonte: Anexo 11 da NR 15 27 Essas substâncias possuem um LEO muito baixo, pois além de possuir valor teto tem absorção cutânea. 2.7 Anexo 12 – Poeira Mineral 2.7.1 Asbestos 1. O limite de tolerância é de 4 (quatro) fibras maiores que 5um (cinco micra) com centímetro cúbico. 2. A avaliação será feita pelo método de filtro de membrana com aumento de 400-450x (objetiva 4mm) e iluminação de contraste de fase. O Asbesto (origem do Grego) ou Amianto (origem do Latim) é um mineral natural, utilizado há séculos pelo homem32 e possui inúmeras propriedades, tais como: resistência ao fogo, isolante térmico, resistência mecânica, resistente a produtos químicos e microrganismo e não sofre decomposição química. O amianto é um agente químico muito estável de estrutura fibrosa, forma sedosa e o fibrocimento é o mais importante produto da base de amianto utilizado no planeta, foi criado pelo austríaco Ludwig Hatschek em 189533. O amianto foi largamente utilizado na fabricação de telhas onduladas, placa de revestimento, caixas de água, freios e embreagem automobilísticas, mas seu consumo entrou em declínio devido as terríveis consequências da exposição dos trabalhadores a inalação das poeiras na forma de fibras. O amianto é dividido em dois grandes grupos: 1. Grupo dos Anfibólios; e 2. Grupo das Serpentinas34. O amianto Crisotilaou amianto branco possui formula química Mg3Si2O5(OH)4 e pertence ao grupo das serpentinas, representando 98,5% do amianto consumido no mundo32. Figura 2 - Imagem das Fibras dos Tipos de Amianto, feitas em MEV 32 David M Bernstein, A Biopersistência Do Amianto Brasileiro Por Inalação, ed. by Instituto Brasileiro do Crisotila (Goiania, 2005). 33 A. B. Oliveira, ‘Melhoria Do Processo Hatschek, Por Meio de Tratamento de Dados Históricos, Para Fabricação de Telhas Onduladas.’ (Escola Politecnica de São Paulo, 2010). 34 IARC, ‘Asbestos (Chrysotile, Amosite, Crocidolite, Tremolite, Actinolite, and Anthophyllite) - IARC Monographs Volume 100C’, 1987 (2012), 219– 309 <https://monographs.iarc.fr/wp-content/uploads/2018/06/mono100C-11.pdf>. 28 Fonte:SANTOS, F.R.F. e SOUZA NETO, J.A. Identificação e Quantificação de Amianto em Solo no Entorno de Fábrica de Materiais de Construção a Base de Fibrocimento, no Bairro da Várzea, Recife (PE). Estudos Geológicos, v. 24, n. 2, p. 127–147, 2015. As fotografias apresentados foram tiradas pela técnica da Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV e apresenta a morfologia das fibras do amianto e facilita o nosso entendimento da estrutura tipo agulha ou “needle structure”. Essa estrutura possui um comprimento muito superior que o diâmetro, portanto é fina e comprida e devido a sua morfologia penetra no trato respiratório profundo e se deposita na região alveolar do trabalhador produzindo a asbestose ou na região da pleura, membrana que envolve o pulmão gerando o raro câncer chamado mesotelioma35. A exposição laboral prolongada das fibras do amianto entre os trabalhadores por períodos superiores a 10 anos pode gerar a asbestose e acima de 20 anos pode iniciar o mesotelioma36. Dessa maneira, o Grupo do Anfibólio foi proibido em todo o mundo e o amianto crisotila é proibido em alguns países, mas ainda comercializado em outras regiões, como o Brasil. O amianto é comercializado na forma de mantas ou rolos e sua manipulação gera aerodispersoíde na forma de fibras no ambiente laboral. Exatamente o comprimento das fibras encontradas no ambiente laboral aliado ao tempo de exposição que determinam as patologias, por isso, a legislação brasileira determinou a contagem de fibras e seu tamanho. A biopersistência por inalação é o tempo que uma partícula permanece no pulmão antes de ser eliminada por qualquer dos diversos mecanismos de defesa do organismo, e fibras com tamanho superior a 20µm (vinte micra) apresentam uma média de 1,3dias32. O amianto em todas as suas formas foi classificado como Carcinogênico Confirmado em Humanos desde 2012 pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer - IARC37 (International Agency for Research on Cancer) localizada na França. 2.7.2 Manganês e Seus Compostos 1. O limite de tolerância é de 5mg/m3 para poeira. 2. O limite de tolerância é de 1mg/m3 para fumos. O manganês com formula química (Mn) é encontrado na natureza na forma de óxidos ou hidróxidos, onde sua mineração é realizada dos minerais pirolusita (MnO2), hausmannita (Mn3O4) e manganita (Mn2O3H2O). A manipulação dos minérios tem um “limite de tolerância” e a metalurgia do manganês, especialmente na industrial metalúrgica e siderúrgica possui outro “LT” ainda mais restritivo. 2.7.3 Sílica Livre Cristalizada 2. O limite de tolerância para poeira respirável, expresso em mg/m3, é dado pela seguinte fórmula: Equação 7 – Cálculo do LT Respirável 𝑳𝑻 = 𝟖 % 𝑸𝒖𝒂𝒓𝒕𝒛𝒐+𝟐 ( 𝒎𝒈 𝒎𝟑 ) 35 INCA, Mesotelioma Você Conhece Esta Doença? (rio de janeiro, 2009) <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/mesotelioma.pdf>. 36 EPA, ‘Environmental Protection Agency’, 1960 <https://www.epa.gov/asbestos/learn-about-asbestos#effects>. 37 IARC, ‘IARC - International Agency for Reserarch on Cancer’, 2000 <https://www.iarc.fr/>. 29 3. Tanto a concentração como a percentagem do quartzo, para a aplicação deste limite, devem ser determinadas a partir da porção que passa por um seletor com as características do Quadro n° 1. Tabela 11 - QUADRO Nº 1 da NR 12 Diâmetro Aerodinâmico (um) (esfera de densidade unitária) % de passagem pelo seletor menor ou igual a 2 2,5 3,5 5,0 10,0 90 75 50 25 0 (zero) Fonte: Anexo 12 da NR 15 SÍLICA LIVRE CRISTALIZADA 4. O limite de tolerância para poeira total (respirável e não-respirável), expresso em mg/m3, é dado pela seguinte fórmula: Equação 8 – Cálculo do LT Total 𝑳𝑻 = 𝟐𝟒 % 𝑸𝒖𝒂𝒓𝒕𝒛𝒐+𝟖 ( 𝒎𝒈 𝒎𝟑 ) OBS.: 1) Sempre será entendido que "quartzo" significa sílica livre cristalizada. 2) Os limites de tolerância fixados no item 5 são válidos para jornadas de trabalho de até 48 (quarenta e oito) horas por semana, inclusive. 3) Para jornadas de trabalho que excedem a 48 (quarenta e oito) horas semanais, os limites deverão ser deduzidos, sendo estes valores fixados pela autoridade competente. 2.7.3.1 Variedades Alotrópicas da Sílica Figura 3 – Tetraedro da Sílica Variedades Alotrópicas da Sílica A sílica possui formula química (SiO2) com um arranjo cristalino na seguinte posição: O silício (Si) em vermelho está ligado ao oxigênio (O) em azul produzindo um arranjo tridimensional (SiO4) 4-, onde outro silício se liga ao oxigênio, gerando uma malha tridimensional. Fonte: GOMES, L S ; e FURTADO, A C R ; e SOUZA, M C. A Sílica e suas Particularidades Silica and its Peculiarities. Rev. Virtual Quim, v. 10, n. 4, 2018. Disponível em: <http://rvq.sbq.org.br>. 30 Em função da temperatura, a sílica terá variedades alotrópicas – Quartzo, Tridimita e Cristobalita38. O quartzo se divide em alfa-quartzo e beta-quartzo, conforme reação química de transformação, a seguir: Equação 9 – Variedades Alotrópicas da Sílica O arranjo da estrutura cristalina39 irá variar da estrutura amorfa (Amorphous SiO2), parcialmente cristalizada, e cristalina (cristalline SiO2). A estrutura amorfa (an=ausência + Morfa=forma), ou seja, sem arranjo cristalino definido não possui “LT” na legislação brasileira, mas na ACGIH possui um TLV-TWA de 10mg/m3 quando o total de poeira possua menos de 1% de quartzo40. Figura 4 – Estrutura Cristalina da Sílica Na estrutura cristalina da sílica há uma organização tridimensional em cristais, conferindo inúmeras propriedades. Uma propriedade muito importante da sílica é sua elevada estabilidade química, ou seja, ela não reage facilmente com outros elementos, necessitando muita temperatura ou reagentes extremamente corrosivos. Essa estabilidade é o problema da inalação da poeira pelos trabalhadores, pois após anos de exposição da sílica e seu depósito nos pulmões gerará a famosa silicose. Fonte: GOMES, L S ; e FURTADO, A C R ; e SOUZA, M C. A Sílica e suas Particularidades Silica and its Peculiarities. Rev. Virtual Quim, v. 10, n. 4, 2018. Disponível em: <http://rvq.sbq.org.br>. A variedade alotrópica considerada perigosa para a saúde dos trabalhadores na legislação brasileira e estrangeira é o quartzo ou também chamada de “sílica livre cristalizada”. Dessa maneira, além de coletar a poeira de sílica no ambiente laboral, a amostra obtida será encaminhada para um laboratório químico para determinar o teor de sílica livre cristalizada ou quartzo presente na amostra. Quanto maior o teor de sílica, maior será probabilidade do início do processo da patologia gerada pela inalação deste aerodispersoíde. Dessa maneira, o “Limite de Tolerância” da sílica é variável e sempre diminuirá, quanto maior for a concentração do agente químico. Atualmente, na ACGIH este limite é de 0,025mg/m3. 2.8 Manual de Métodos Analíticos da NIOSH Para saber qual o teor de sílica
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