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A Gênese educacional
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Buscar por uma data ou evento específico que se configure como a gênese da educação é adentrar num campo perigoso cuja única certeza é a de que não é possível estabelecer tal ou tais eventos. Entretanto, é convenção entre os historiadores da educação que, desde o instante em que os primeiros grupos humanos passaram a construir uma cultura, ou seja, em que saberes, fazeres e formas de pensar passaram a ser criados, reproduzidos e modificados, iniciou-se processos de aprendizagens diversos e informais configurando-se no “modelo” educacional primitivo baseado na imitação e na disseminação difusa ocorrida entre os primeiros hominídeos.
Figura 01: Pinturas rupestres, região de Tadrart Acacus, Líbia, 12.000 a.C a 100 d.C
Existem pinturas e esculturas de animais, como girafas e elefantes, refletindo as dramáticas mudanças climáticas na área
Fonte: @Luca Galuzzi em wikimedia
Antes, porém, de estudarmos o modelo primitivo de educação, veremos o significado do termo educação.
O Conceito de Educação
De um modo geral, sempre que ouvimos o termo “educação” costumamos reduzi-lo a um período que, normalmente, fica situado entre os anos de estudo vividos por uma determinada pessoa. Portanto, é claro que sempre relacionamos educação com estudo em um processo sistematizado.
A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados, estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos. A ação educativa implica um conceito de homem e de mundo concomitantes, é preciso não apenas estar no mundo e sim estar aberto ao mundo. Captar e compreender as finalidades deste a fim de transformá-lo, responder não só aos estímulos e sim aos desafios que este nos propõe. Não posso querer transmitir conhecimento, pois este já existe, posso orientar tal indivíduo a buscar esse conhecimento existente, estimular a descobrir suas afinidades em determinadas áreas (FREIRE, 1986, p. 46).
Conforme descrito acima, podemos compreender que a educação não está limitada ao espaço físico que denominamos escola, sala de aula etc. Os estudos acadêmicos fazem parte do processo educacional do homem de forma que seria errôneo associar educação às diferentes etapas de estudo. O processo de ensino e aprendizagem faz parte de uma dinâmica que precisa ser buscada e vivida durante toda a existência humana.
A educação engloba os processos de ensinar e aprender, de ajuste, adaptação e de socialização. É um fenômeno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas; responsável pela sua manutenção e perpetuação às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade.
@artista em freepik
Enquanto processo de socialização, a educação é exercida nos diversos espaços de convívio social, seja para a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade. A prática educativa formal (observada em instituições específicas) se dá de forma intencional e com objetivos determinados, como no caso das escolas quando pode ser definida como Educação Escolar. Já no caso específico da educação exercida para a utilização dos recursos técnicos e tecnológicos e dos instrumentos e ferramentas de uma determinada comunidade, dá-se o nome de Educação Tecnológica.
Para além desses modelos, atualmente configura-se um modelo educacional que busca juntar saberes, ou seja, o fazer e o pensar devem estar alinhados para que a formação seja completa. O conceito de Noosfera, como utilizado por Chevallard (2000), trata de espaço no qual as ideias produzem e são produtoras de saberes com interação com a cultura, colocando a educação na atualidade como uma das áreas essenciais para a formação do indivíduo de fins do século XX e início do XXI para uma vida complexa.
Em última análise, educação é passar de uma mentalidade ou de um senso comum a uma consciência. Significa sair de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista, para assumir uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada, como define Libâneo (1990, p. 62):
o ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida.
Sendo assim, só podemos compreender a educação por meio do contexto histórico-social concreto e da cultura existente, quando a prática social se coloca como ponto de partida, mas, também, como ponto de chegada da ação educacional. Portanto, a educação tem intencionalidades geradas pelo processo de necessidades dos setores a serem atendidos. Estes, por sua vez, determinam dentro dos meios sociais específicos, definindo e explicitando, dentro de sua práxis, os fins a serem atingidos no processo.
A Gênese Educacional
Como visto na conceituação acima, muito antes da criação de instituições de ensino já havia o processo de educação que, de certa forma, permanece em nosso meio social, como a primeira educação. Estamos nos referindo ao papel da família no processo de iniciação da criança como sujeito cultural, uma tarefa que se repete desde os primeiros grupos humanos organizados, instrução inicial esta que faz parte do que chamamos de educação primitiva e que pode ser considerada como a gênese da educação.
[...] sob o regime da tribo, a educação tem como característico essencial o de ser difusa; ela é dada por todos os membros do clã, indistintamente. Não há mestres determinados, encarregados especiais da formação da juventude; são todos os anciãos, é o conjunto das gerações anteriores, que desempenha esse papel (DURKHEIM, 1978, p. 61).
Figura 2 - Cotidiano de povos primitivos
Pintura em pedra, estão representados nos desenhos guerreiros a cavalo com espadas nas mãos
Fonte: MORABAD, Mahantesh C. Esboços de guerreiros a cavalo com espadas nas mãos desenhadas por povos primitivos nas Cavernas Bhimbetka perto de Bhopal, Madhya Pradesh, Índia, Ásia
O saber da comunidade, aquilo que todos sabem, o saber próprio dos homens, mulheres, velhos e jovens. Os que sabem, ensinam, orientam, vigiam, demonstram, corrigem, punem, premiam. Os que não sabem observam, imitam, são treinados, corrigidos. Estamos diante da fase anterior ao período Neolítico quando,
[...] o Homo Sapiens, que já tem as características atuais: possui linguagem, elabora múltiplas técnicas, educa os seus “filhotes”, vive da caça, é nômade, é “artista (de uma arte naturalista e animalista), está impregnado de cultura mágica, dotado de cultos e crenças, e vive dentro da “mentalidade primitiva” marcada pela participação mística dos seres e pelo raciocínio concreto, ligado a conceitos-imagens e pré-lógicos, intuitivo e não-argumentativo (CAMBI, 1999, p. 58, grifos no original).
Entre os povos primitivos, as crianças aprendiam por meio do método da imitação. Naquele contexto, a aprendizagem ocorria naturalmente enquanto a criança participava progressivamente das atividades comuns de seu grupo, forma denominada por Aranha (2012) como uma educação difusa, ou seja, o aprendizado se dava a partir da vivência cotidiana e não de forma sistêmica ou esquematizada. Ao crescer, o papel que desempenha na comunidade se torna mais importante e definido. Nessa fase, a educação consistia em um processo iniciado no interior do núcleo familiar e prosseguia nas atividades desempenhadas pelo grupo social, conforme seu potencial físico e intelectual.
@alfmaler em freepik
O homem atua sobre o meio ativamente e o transforma dentro de sua perspectiva cultural e econômica, obtendo bens materiais necessários para sua sobrevivência ou em outras instâncias superando esta barreira. Para isso, desenvolve instrumentos necessáriospara a otimização do trabalho e, em cada nova geração que recebe estes instrumentos das gerações anteriores, são modificados e melhorados.
Nesse sentido, de acordo com estudos realizados por arqueólogos, a capacidade humana de produzir cultura teria sido o elemento essencial para o desenvolvimento humano há mais de 100 mil anos antes do presente.
Os ossos humanos da foz do rio Klasies e de outros sítios africanos mostram que pessoas anatomicamente semelhantes a nós, o que inclui o tamanho do cérebro, apareceram nesse continente entre 120 e 100 mil anos atrás. Seu comportamento, entretanto, não teria seguido o mesmo ritmo de progresso percebido no aspecto físico. A arqueologia relaciona a expansão geográfica dos seres humanos moderna à sua capacidade altamente desenvolvida de inventar utensílios, formas sociais e ideias. Isso é, sua habilidade absolutamente atual de produzir cultura (MOREIRA; QUINTEIROS, 2011, p. 18).
Nesse sentido, a transformação de instrumentos obedece a uma ordem organizada por uma necessidade de aprimoramento em virtude de alguma superação com um fim maior. Ou seja, o trabalho não é uma atividade isolada, mas uma atividade social e à medida que essa sociedade se transforma, junto com ela também, os meios de produção e reprodução.
@pennz em pixabay
Para Oliveira (2001), o trabalho primitivo era diversificado, descontínuo e cessava toda vez que se alcançava o objetivo da manutenção da sobrevivência. Uma vez que estas comunidades não produziam ou não obtinham mais do que o necessário, não havia, a produção de excedentes.
A humanidade contava com elementos de trabalho muito rudimentares: pau, machado de pedra, faca de pederneira e lança com ponta de pederneira; mais tarde foram inventados o arco e a flecha. A alimentação era produto da caça e a colheita de frutos silvestres; posteriormente começa a agricultura na base do trabalho com picareta. A única forma conhecida era o músculo do homem. Com somente este instrumento e armas, o homem tinha sérias dificuldades para enfrentar as forças da natureza e fornecer seu alimento; unicamente o trabalho em comum podia garantir a obtenção dos recursos necessários para a sua vida (OLIVEIRA, 2001, p. 31).
Os grupos humanos eram nômades e colhiam vegetais ou faziam pequenas caçadas. Somente com a melhoria dos instrumentos de trabalho é que foi possível organizar um sistema de trabalho em que se pudesse melhorar as condições de sobrevivência do grupo. Armadilhas, lanças, facas e outros instrumentos aperfeiçoados, além do desenvolvimento da comunicação, aliada a uma primeira divisão do trabalho, foram determinantes para que estes grupos pudessem conseguir obter mais recursos alimentares, bem como a melhoria das condições de vida.
Eiroa (2000) nos informa que, há aproximadamente 8.000 a.C., vários grupos espalhados em regiões do Oriente promoveram mudanças que transformariam profundamente a organização social, inclusive o trabalho. Estou me referindo ao que historiadores chamam de revolução agrícola, ocorrida durante o período conhecido como Neolítico.
Com o homem do Neolítico:
A comunidade primitiva entra em fase de desintegração e as caçadas se tornam especializadas.
O aporte de carne, agora, passa a servir tanto para o consumo quanto para a troca.
O homem aprende a fazer a fundição de metais, criando novas ferramentas.
A invenção e o uso do arado nas plantações permitiram um grande rendimento na produção.
Como garantia, o homem passa a domesticar os animais para o uso no trabalho e, também, para o consumo.
A partir deste momento, os grupos deixam de ser nômades para se tornarem sedentários.
As relações sociais se aprimoram e encontramos as primeiras civilizações mais complexas, nas quais a divisão do trabalho passa a ter um contexto não mais de igualdade coletiva, mas de diferentes hierarquias.
A reprodução do conhecimento, que, inicialmente, tinha um cunho de informação mais voltada às tarefas que davam condições de sobrevivência dentro da economia focada na obtenção de alimentos, sofre drástica alteração. À medida que os grupos foram se aglomerando e se estabelecendo em definitivo nas áreas ocupadas, outros fatores se tornaram importantes, como a defesa territorial e dos integrantes da aldeia. Saberes especiais, como questões espirituais em um momento em que o pensamento mítico era o que predominava, portanto, as respostas dos sacerdotes eram entendidas como leis.
ATENÇÃO
Nas sociedades que atingiram um grau mínimo de desenvolvimento, ocorreu a divisão de trabalho, o que denota um aprimoramento nas relações internas. A primeira divisão se dá pelo sexo, onde homens e mulheres executam tarefas distintas, orientados por diferentes parâmetros, nos quais a força física é, comumente, o que norteia a classificação das tarefas.
É possível notar esta divisão mais claramente dentro dos grupos que deixaram de ser nômades e aplicaram o recurso do plantio e da colheita. São grupos nos quais amplia-se a possibilidade de obtenção de alimentos bem como o estímulo para tornaram mais complexas as relações. Isso foi possível porque dentro destas sociedades ocorreram as hierarquizações e a divisão dos trabalhos de maneira a otimizar as operações de reprodução da economia de subsistência. Além da força física, o outro parâmetro utilizado também é o dote intelectual.
A revolução neolítica é também uma revolução educativa: fixa uma divisão educativa paralela à divisão do trabalho (entre homem e mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e grupos de produtores); fixa o papel-chave da família na reprodução das infraestruturas culturais: papel sexual, papéis sociais, competências elementares, introjeção da autoridade; produz o incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento específicos (nas diversas oficinas artesanais ou algo semelhante; nos campos; no adestramento; nos rituais; na arte) que, embora ocorram sempre por imitação e segundo processos de participação ativa no exercício de uma atividade, tendem depois a especializar-se, dando vida a momentos e locais cada vez mais específicos para a aprendizagem (CAMBI, 1999, p. 59).
Posteriormente e já entre as sociedades complexas, como a mesopotâmica e a egípcia, por exemplo, a linguagem e as técnicas (linguagem mágica e técnicas pragmáticas) passam a regular, “de maneira cada vez mais separada – dois modelos de educação” (CAMBI, 1999, p. 59): a formal e institucionalizada e a familiar e cotidiana. À medida que crescem e se tornam mais capazes, as crianças deixam o núcleo familiar para serem assistidas por um preceptor ou um oficial, que, aos poucos, vai passando seu conhecimento ao aprendiz. A partir deste momento, a educação perpassa a fronteira familiar e passa a compor o interesse da comunidade.
@Free-photos em Pixabay 
Nesta estrutura de educação, somente no campo dos ritos e das crenças é que havia uma especialização educativa, também para uma atividade de trabalho exclusiva e qualitativamente distinta dos demais grupos. Aos poucos, com o processo de especialização de tarefas dentro dos grupos sociais, desenvolveram-se sistemas de aprendizagem diferenciados. Da cristalização deste processo surgiram as divisões sociais mais complexas muitas vezes denominadas de castas. As castas, com interesses próprios e antagônicos, vão utilizar mediante a educação diferenciada, um meio de aumentar as divisões em hierarquias cada vez mais distintas e distantes entre si. Neste contexto é onde irá surgir a escola, ou seja, surge da necessidade de estabelecer a divisão de tarefas, separando de forma hierárquica os saberes e sistematizando as diferentes formas de trabalho.
É a partir desse novo olhar sobre a educação que, ao ensino, soma-se a necessidade de uma “pedagogia” capaz de traçar as teorias que determinarão as práticas de transmissão do saber. Algumas sociedades aprimoraram de tal forma esse processo de educação que acabaram por eleva-lo a um nível complexo de especialização. Diante dessa complexidade, em um breve período de tempo, o saber acumulado propiciou o desenvolvimento de tecnologiaem diversos segmentos da vida em sociedade, definindo as estruturas econômicas, políticas e culturais. Foram civilizações muito poderosas e que deixaram um rico legado que chegam aos nossos dias sob as mais diversas formas: literatura, matemática, filosofia, organização política etc.
Na próxima unidade discutiremos a educação desde a Antiguidade Oriental até a Contemporaneidade, considerando os modelos educacionais propostos por diferentes sociedades.

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