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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE PALMAS CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO A RESPONSABILIDADE CIVIL POR VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DE PERSONALIDADE DO OBREIRO EM FACE DO PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR NELSON HENRIQUE DE ARAÚJO FORTALEZA 2019 NELSON HENRIQUE DE ARAÚJO A RESPONSABILIDADE CIVIL POR VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO OBREIRO EM FACE DO PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR Monografia apresentada à Faculdade de Tecnologia de Palmas, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Direito e Processo do Trabalho. FORTALEZA 2019 A RESPONSABILIDADE CIVIL POR VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE DO OBREIRO EM FACE DO PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR Nelson Henrique de Araújo RESUMO As relações de trabalho são resultantes da sucessão das mais variadas condutas e/ou ações experienciados pelos empregados e empregadores na ambiência laboral. Ocorre que, em determinadas situações, os empregadores, malgrado sua condição de superioridade, extrapolam os limites do seu poder de direção, de modo que afrontam direitos e garantias fundamentais que norteiam as relações de trabalho, resultando, destarte, em responsabilização civil, ante a violação de preceitos esculpidos na Carta Magna e na legislação infraconstitucional, o que justifica desde já a feitura do presente trabalho monográfico.Assim,a presente pesquisa tem como principal objetivo analisar a aplicabilidade do instituto da responsabilidade civil nas relações laborais, notadamente quando da violação aos direitos da personalidade do trabalhador, abordando, ainda, o conceito e características desse instituto, assim como explanar sobre os direitos da personalidade e expor as nuances atinentes ao poder diretivo do empregador. A metodologia empregada foi a qualitativo-bibliográfica, a partir da qual foram utilizados embasamentos doutrinários e jurisprudenciais, os quais trataram do tema em voga. A fim de concretizar o objetivo proposto, o trabalho, inicialmente, apresenta aspectos históricos, conceituais e características da responsabilidade civil, direitos da personalidade e poder diretivo do empregador, imersos no Ordenamento Jurídico Pátrio. Posteriormente, detecta condutas nocivas adotadas pelos empregadores, as quais violem direitos e resultem na sua responsabilização civil e, por fim, desenvolve uma análisede decisões proferidas no âmbito do Colendo Tribunal Superior do Trabalho no tocante ao reconhecimento de violação de direitos fundamentais com a respectiva responsabilização civil dos agentes patronais, em face da conduta ilícita perpetrada por aqueles em desfavor da classe trabalhadora. Palavras chave: Responsabilidade Civil. Direitos da Personalidade. Poder Diretivo do Empregador. Tribunal Superior do Trabalho. ABSTRACT Labor relations are the result of succession of the most varied conducts and / or actions experienced by employees and employers in the work environment. In certain situations, employers, in spite of their status as employers, go beyond the limits of their power of management, so that they face fundamental rights and guarantees that guide labor relations, resulting in civil violation of precepts carved in the Magna Carta and in the infraconstitutional legislation, which justifies already the making of this monographic work. Thus, the main Graduado em Direito. Pós-graduando em Direito e Processo do Trabalho. objective of this research is to analyze the applicability of the institute of civil liability in labor relations, especially when it violates the rights of the employee's personality, also addressing the concept and characteristics of this institute, as well as explaining the rights of the worker. personality and expose the nuances pertaining to the directive power of the employer. The methodology used was qualitative-bibliographical, from which doctrinal and jurisprudential foundations were used, which dealt with the current theme. In order to fulfill the proposed objective, the work initially presents historical, conceptual aspects and characteristics of civil responsibility, personality rights and directive power, immersed in the Brazilian Legal Order. Subsequently, it detects harmful conduct adopted by employers, which violates rights and results in their civil responsibility and, finally, develops an analysis of decisions issued in the scope of the Higher Labor Court in relation to the recognition of violation of fundamental rights with the respective civil liability of the employers in the face of the unlawful conduct perpetrated by those in disadvantage of the working class. Keywords: Civil responsability. Rights of the Personality. Executive Power of the Employer. Superior Labor Court SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO; 2. RESPONSABILIDADE CIVIL – Breve Panorama Conceitual; 2.1 Conceito e características; 2.2 Incidência nas Relações de Trabalho; 3. PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR; 4. DIREITOS DA PERSONALIDADE; 4.1 Direitos da Personalidade nas Relações de Trabalho; 5. Responsabilidade Civil e Direitos da Personalidade: Atuação do Tribunal Superior do Trabalho; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS. 1 1 INTRODUÇÃO É cediço que a condição de empregado, ao qual decorre de um contrato de trabalho firmado com o empregador, torna o trabalhador subordinado aos ditames pré-estabelecidos por aquele, por meio do seu poder diretivo, de modo que tais comandos devem ser obedecidos na ambiência das relações laborais. Ocorre que esse poder de direção não é absoluto, de modo que o empregador deve atentar-se quando da feitura e/ou imposição de normas, corporificadas por meio dos seus regulamentos internos, a fim de evitar o cometimento de excessos, notadamente a violação de direitos da personalidade do obreiro, resultando na ilicitude do negócio jurídico, apto, portanto, à devida responsabilização nas esferas cabíveis. Em que pese à proteção dada ao trabalhador pelo ordenamento jurídico pátrio, observa- se, comumente, a violação de direitos na esfera das relações laborais, mormente a condição de superioridade do empregador, de modo a impor ordens, punições, bem como condições de trabalho desarrazoáveis e desproporcionais, ferindo, destarte, a dignidade do obreiro. Partindo desta conjuntura, patente a estrita necessidade de impor limites a este poder de direção do empregador, precipuamente a crescente violação de direitos fundamentais dos trabalhadores, ante aos excessos cometidos pelos empregadores, quando da imposição de normas de organização, fiscalização e controle a serem adotadas no local de trabalho, resultando, assim, na ilicitude do negócio jurídico. É diante dessa realidade que se justifica a devida responsabilização civil do empregador, em se tratando de violação de direitos constitucionalmente previstos, assim como na legislação infraconstitucional, quais sejam os direitos da personalidade, no fito de coibir que práticas abusivas e discriminatórias norteiem as relações de trabalho. Assim, a presente pesquisa tem como escopo fazer uma abordagem acerca da responsabilização civil do empregador, ante aos excessos cometidos por meio do seu poder diretivo, de forma a violar direitos da personalidade do empregado, assim como mostrar a possibilidade de se sopesar direitos e deveres nas relações laborais, nas quais devem se pautar no respeito mútuo, propiciando um adequado e saudável ambiente de trabalho. Desta forma, a abordagem deste assunto se dá pela veemente necessidade de se discutir e difundir acerca da proteção do trabalhador, considerando a sua condição de hipossuficiência,em face do poder diretivo do empregador e dos reflexos decorrentes, visto que esse poder, na maioria das vezes, é exercido de forma irregular e ilícita, importando em violação de direitos. 2 Assim, com base nas considerações expostas acerca da problemática que envolve o tema em voga, esta pesquisa tem por finalidade analisar a aplicabilidade do instituto da responsabilidade civil nas relações laborais, notadamente quando da violação aos direitos da personalidade do trabalhador, expondo todas as nuances atinentes a este instituto, de modo a possibilitar aos leitores e eventuais pesquisadores interesse em aprofundar e pesquisar sobre essa temática nos mais diferentes enfoques possíveis. Nesse contexto, a pesquisa apresenta os seguintes objetivos específicos: expor os limites do poder diretivo do empregador, notadamente quando da colisão de direitos fundamentais; conceituar e caracterizar os direitos da personalidade; detectar dispositivos normativos que protejam o trabalhador das conduta nocivas perpetradas pelo empregador e traçar um panorama geral acerca das decisões proferidas no âmbito do Colendo Tribunal Superior do Trabalho no tocante ao reconhecimento de violação de direitos fundamentais com a respectiva responsabilização civil dos agentes patronais. Em busca de concretizar os objetivos propostos, o presente trabalho está dividido em duas etapas, sendo a primeira uma reflexão teórica, através de uma pesquisa bibliográfica, baseada em doutrinas que abordam a respectiva temática. Dentre as fontes pesquisadas, destacam-se os seguintes autores: Martins (2018), Barros (2016), Delgado (2017), Leite (2007), dentre outros. A segunda etapa ficou caracterizada por uma pesquisa analítica, na qual se analisam os julgados proferidos pelo Tribunal Superior do Trabalho que discutiram a temática proposta no presente trabalho, qual seja a responsabilização civil pela violação de direitos, de modo que é traçado um panorama geral, sendo realizados alguns apontamentos pertinentes à pesquisa. Com a finalidade de concretizar os objetivos propostos, a pesquisa está estruturada em 5 tópicos. Primeiramente, é traçado um panorama geral acerca do instituto da responsabilidade civil, sendo expostos os aspectos gerais, seu conceito, características e sua aplicabilidade nas relações de trabalho. Em seguida, abordam-se os aspectos gerais atinentes ao poder diretivo do empregador e, em ato contínuo, os direitos da personalidade aplicados às relações laborais. Por fim, são analisados os julgados proferidos na ambiência do Tribunal Superior do Trabalho que versem sobre a responsabilidade do empregador, face ao cometimento de excessos por meio do seu poder diretivo, ao qual impactou na sua responsabilização civil. 3 2 RESPONSABILIDADE CIVIL: BREVE PANORAMA CONCEITUAL Sabe-se que o ser humano, desde os primórdios e no decorrer de sua existência, sempre teve que conviver e se relacionar com seus iguais pares, de forma a buscar sua subsistência, já que a vida em coletividade se tornou uma máxima para fins de sobrevivência. Nesse esteio, a vida em sociedade, fatalmente, impõe a observância de regras de boa convivência, a fim de que se possa garantir um convívio harmonioso, equilibrado e duradouro entre os diferentes e variados grupos sociais. Assim, em caso de descumprimento desses ditames por algum dos membros daquela coletividade, este deverá ser responsabilizado pelos seus atos, uma vez que agiu de forma ilícita em não respeitar as regras de convivência então estabelecidas. Com efeito, quando se fala em responsabilidade, significa exprimir uma “idéia de restauração de equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano” Gonçalves (2017). Nesse contexto, infere-se que em caso de cometimento de algum ilícito, por óbvio caberá o dever de reparação, ante o prejuízo causado a outrem. Em verdade, tal reparação é inerente a vida em coletividade, sendo tal dever positivado por meio das normas jurídicas. Fato é que desde os primórdios da humanidade, já existia a idéia de responsabilização, por danos causados a terceiro, porém com o tempo, esse instituto foi se aperfeiçoando a se amoldando às significativas mudanças estruturais das sociedades. Vale ressaltar que, quando se fala em danos causados, deve-se fazer uma interpretação extensiva, visto que estes podem advir de um caráter patrimonial, moral ou até mesmo religiosa. Ou seja, a responsabilidade pode resultar da violação de normas tanto jurídicas como morais. (GONÇALVES. 2017). Relevante a reflexão acerca da responsabilidade civil no contexto dos direitos da personalidade do indivíduo, uma vez que, em se tratando de violação dos referidos direitos, o agente causador do dano deverá ser devidamente responsabilizado, ante o cometimento do ilícito. Logo, a importância e efetiva aplicabilidade desse instituto traduzem, inegavelmente, na efetividade dos direitos da personalidade. Assim, o instituto da responsabilidade civil tem como premissa maior o dever de reparar o dano por parte do agente causador, seja ele de natureza patrimonial ou extrapatrimonial e decorrente da violação de um dever legal ou até mesmo contratual (TARTUCE, 2018). 4 2.1 Conceito e características Etimologicamente, o vocábulo “responsabilidade” encontra sua origem no latim respondere, ou seja, responder por algo. Em outras palavras, significa dizer que aquele que cometer algum ato ilícito, deverá ser devidamente responsabilizado, ante a ilicitude perpetrada. Stolze e Pamplona definem responsabilidade civil lecionando que a mesma “deriva da transgressão de uma norma jurídica preexistente (civil), legal ou contratual, resultando na imposição do dever de indenizar ao causador do dano.” O renomado Jurista Clóvis Bevilácqua também terce considerações acerca da responsabilidade civil quando sustenta que esta pode ser definida como a situação de quem sofre as conseqüências da violação de uma norma, ou como a obrigação que incumbe a alguém de reparar o prejuízo causado a outrem pela sua atuação ou em virtude de danos provocados por pessoas ou coisas dele dependentes. Assim, o instituto da responsabilidade civil se apresenta no escopo de responsabilizar aquele que cause dano a outrem, trazendo, destarte, efetividade às normas jurídicas. Ademais disso, ressalte-se que o referido instituto surge com o fito de restaurar o equilíbrio patrimonial e moral violado, de modo que toda atividade que acarrete prejuízo a um terceiro gera a responsabilidade ou dever de reparar, sendo, portanto, a responsabilidade civil todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar. (VENOSA, 2017). Em outros dizeres, o intuito da responsabilidade civil é buscar obter o status quo ante, ao dano causado, ou seja, é tentar de alguma forma compensar o prejuízo suportado pelo terceiro, seja em pecúnia, seja com a prestação de serviço, o que ocorre por meio das indenizações de cunho moral ou material. A legislação brasileira disciplina o instituto da responsabilidade civil no Art. 5º, inciso V e X da Constituição Federal, assim como nos arts. 187, 187 e 97, todos do Código Civil. Assim, para verificar a responsabilidade civil do agente, deverão estar presentes o ato ilícito, o nexo causal e o elemento subjetivo, conforme preceitua o art. 186 do Código Civil. Quanto a sua origem, a responsabilidade civil se apresenta em duas grandes vertentes: a responsabilidade civil contratual e a extracontratual. A responsabilidade contratual pode ser entendida como aquela que pressupõe a existência de um contrato firmado entre as partes, ao qual fora descumprido, tornando-se o agente, portanto, inadimplente. 5 A extracontratual, por seu turno, também chamada de aquiliana, pressupõe a infração a uma norma jurídica vigente, gerando, destarte, o dever de indenizar. Vale ressaltar que nesse caso não há qualquer vínculojurídico existente entre a vítima e o causador do dano. Venosa (2017) adverte que, em que pese à responsabilidade contratual decorrer essencialmente de um contrato, outros atos unilaterais de manifestação da vontade e negócios jurídicos também são passíveis de devida responsabilização, como por exemplo, testamento, procuração, dentre outros. No que tange aos elementos da responsabilidade civil, pode-se afirmar a existência de duas dimensões no ordenamento jurídico pátrio, as quais se diferenciam pelo elemento culpa, quando da obrigação de reparar o dano, quais sejam: a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva. Na responsabilidade subjetiva, o fator culpa é primordial para caracterização da responsabilidade civil, de modo que a ausência do referido elemento descaracteriza a responsabilidade de indenizar. Assim, têm-se como elementos da responsabilidade subjetiva: a conduta, o nexo causal, o dano e a culpa Ademais, segundo a exegese do art. 186 do Código Civil, dolo e culpa são pressupostos fundantes para obrigação de reparar, razão pela qual é adotada como regra geral a responsabilidade civil subjetiva, de modo que o ofensor tem o dever de reparar ou de restituir o mal causado desde que comprovado o dano, nexo causal e a culpa. Nesse sentido, têm-se os ensinamentos do renomado Sérgio Cavalieri Filho, in verbis: Há primeiramente um elemento formal, que é a violação de um dever jurídico mediante conduta voluntária; um elemento subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa; e, ainda, um elemento causal-material, que é o dano e a respectiva relação de causalidade. Esse três elementos, apresentados pela doutrina francesa como pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, podem ser claramente identificados no art. 186 do Código Civil, mediante simples análise do seu texto [...] (Sergio Cavalieri Filho, Programa de responsabilidade civil, 7ªedição, p. 17. São Paulo: Atlas, 2007). Por sua vez, a responsabilidade objetiva dispensa o elemento culpa para fins de responsabilização, de modo que a lei impõe a reparação, tendo como elemento fundante o risco, consubstanciado no art. 927 do Código Civil, ao qual admite a responsabilidade sem culpa pelo exercício da atividade que por sua própria natureza, já representa risco para terceiros. Por isso é também chamada de responsabilidade pelo risco. Nesse espeque, Silvio Venosa elucida que o risco é inerente a atividade desempenhada pelo agente de sorte que este deverá arcar com prejuízos ocasionados a terceiros e complementa 6 sustentando que tal atividade de risco proporciona benefícios. Logo, nada mais justo a devida reparação e conseqüente responsabilização do agente causador do ilícito. (VENOSA, 2002). Com efeito, para que seja caracteriza a responsabilidade civil, seja ela subjetiva ou objetiva, ou até mesmo contratual ou extracontratual, necessário se faz a presença de requisitos, a saber: conduta, nexo causal, dano, risco em se tratando de responsabilidade objetiva ou culpa, em se tratando de responsabilidade subjetiva. Ressalte-se que não há unanimidade na doutrina quanto aos pressupostos do dever de indenizar, notadamente quando se fala em culpa. A conduta consiste na atuação e consciência humana quando da prática de um ato ilícito, que se perfaz de forma voluntária, livre e consciente, de modo que pode ser comissiva ou omissiva. Nos dizeres de Maria Helena Diniz, a conduta significa a existência de uma ação, comissiva ou omissiva igualmente qualificada juridicamente, ou seja, que se apresente como ato lícito ou ilícito, juntamente com culpa ou risco. (DINIZ, 2005). Ademais, há de se ressaltar que a conduta por derivar de ato próprio ou de terceiro que esteja sob a guarda do agente, podendo ainda a responsabilidade ser solidária. Nesse caso, considerando que existem vários causadores do dano, a vítima pode eleger dentre os corresponsáveis aquele que tenha maior capacidade econômica, a fim de suportar os prejuízos, segundo exegese do art. 942 do Código Civil. No que tange ao nexo causal, oportuno salientar que se trata de um tema de vital relevância no estudo da responsabilidade civil, visto que aquele é fator decisivo para o dever de indenizar. Ou seja, uma vez verifica a ocorrência de um dano, certamente este adveio de uma conduta causadora e no liame desta reação está o nexo de causalidade. Gonçalves elucida que o nexo causal é a “relação de causa e efeito entre a ação e a omissão do agente e o dano verificado” (GONÇALVES, 2017). Sergio Cavalieri Filho (2007), por sua vez, assevera que é por meio do nexo causal que se pode mensurar quem de fato foi o causador do dano, decerto, que o nexo causal é pressuposto indispensável para fins de responsabilização civil, já que sem nexo, não há o que se falar em dever de indenizar. Outro pressuposto da responsabilidade civil é o dano. Como o próprio nome sugere, o dano traduz um prejuízo para a vítima que pode se manifestar nas mais variadas formas. Ou seja, trata-se de uma lesão a um bem jurídico tutelado, podendo este ser de cunho material, moral ou estético. Sergio Cavalieri Filho define dano como: 7 (...). Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral" (FILHO, 2005, p. 95/96. Vale ressaltar que, para maioria da doutrina, não há responsabilidade sem dano. O que pode ocorrer é um dano implícito, mas que tem que haver prejuízo para fins de responsabilização, mormente o fato de que o dano é que traduz a violação de um interesse patrimonial ou extrapatrimonial. Nesse esteio, a vítima, uma vez prejudicada, tem o direito de ver o seu dano devidamente reparado e, se possível, restaurado o statu quo ante. Para ser indenizável, o dano possui requisitos: Violação de um interesse jurídico material ou moral, a subsistência do dano, bem como a sua certeza. Posto essas considerações gerais acerca da responsabilidade civil, adiante ver-se-á algumas reflexões acerca da responsabilização patronal na ambiência laboral, notadamente quando da violação aos direitos da personalidade do obreiro. 2.2 Incidência nas Relações de Trabalho Em que pese à proteção legal e constitucional conferida ao trabalhador quando do exercício de suas atividades laborais, comumente observa-se nas relações de trabalho, em especial, no liame empregador e empregado, violação de direitos fundamentais desse obreiro, notadamente pelo fato daquele figurar em uma posição inferior na escala funcional da ambiência empregatícia. Ademais, nas relações de emprego, espécie do gênero relação de trabalho mais comum na conjuntura atual, o empregado preenche vários requisitos que configuram o vínculo empregatício, quais sejam a habitualidade, subordinação, pessoalidade e onerosidade. O empregador, por sua vez, assume o risco da atividade ora desenvolvida, devendo, se responsabilizar por eventuais danos causados aos seus empregados, não só do ponto de vista material, mas, sobretudo moral com espeque na dignidade humana. Com efeito, necessária a devida intervenção estatal no escopo de coibir condutas que resultem em afronta à dignidade dos trabalhadores, devendo o agente patronal ser devidamente responsabilizado, ante o ilícito perpetrado, maculando, destarte, a validade do negócio jurídico firmado entre patrão e empregado, quando da formalização do contrato de trabalho. 8 Via de regra, quando se fala em responsabilidade civil, a Carta Magna de 1988 confere proteção ao empregado para fins de indenização, quando o empregador agir com dolo ou culpa, a chamada responsabilidadecivil subjetiva, de modo que o deve de indenizar o trabalhador, ante o dano sofrido por este, só será obrigatório se presentes os requisitos para tanto, a saber: conduta, nexo causal, dano e a culpa. O Código Civil, por sua vez, elucida a responsabilidade civil objetiva, ou seja, aquela que independe de culpa para fins de responsabilização, na hipótese em que a atividade desempenhada pelo autor do dano, no caso o empregador, acarrete risco aos seus empregados. Dispõe o artigo 927, parágrafo único do Código Civil brasileiro que: Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Fato é que o empregador tem a obrigação legal de indenizar seus empregados em caso de dano ocasionados a estes, incluindo, frise-se, dano à sua dignidade, de modo que direitos personalíssimos do obreiro são violados. Ademais, quando se fala em responsabilização do agente patronal, comumente diz respeito a um dano decorrente de um acidente de trabalho, por exemplo, de modo que afeta o corpo ou patrimônio da vítima, gerando o direito a uma indenização no escopo de minorar os efeitos do dano causado. Ocorre que não se deve observar tão somente essa lógica de dano. Em verdade, o dano material ocorre, de fato, porém as relações de trabalhos são muito complexas, passíveis de constantes atritos entre seus membros, de sorte que o aspecto psicológico, emocional e moral se tornam máxima quando se fala em eventual violação de direitos, mormente, os que dizem respeito à dignidade do trabalhador, a exemplo do assédio moral ou práticas ofensivas e/ou discriminatórias no ambiente de trabalho. Kaminici (2014) elucida de forma objetiva e sensata o dano moral nas relações de trabalho, a saber: Os danos morais ou extrapatrimoniais no direito trabalhista consistem em consequências de uma prática degradante ou aviltante, que obsta a continuidade de uma relação de trabalho digna, ao passo que a torna insuportável em virtude de lesionar a integridade dos direitos da vítima de forma material, pessoal, na sua alma, espírito ou capacidade de se relacionar. (KAMINICI, Nathália Ayumi Prado. Direitos da personalidade no direito do trabalho. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 126, jul 2014. E continua: 9 (...) Os danos que atacam os direitos à personalidade e a dignidade humana, afetam sua consciência, seus sentimentos e comportamento. E merecem maior destaque estes direitos, uma vez que a nova tipologia a ser aqui apresentada e defendida no tocante à possibilidade de seu ressarcimento no direito do trabalho é considerada deles decorrente, e também merece ressarcimento autônomo e desvinculado das classes maiores de dano. (KAMINICI, Nathália Ayumi Prado. Direitos da personalidade no direito do trabalho. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 126, jul 2014. É nesse contexto que se fala em responsabilidade civil do empregador ante a violação de direitos personalíssimos do obreiro, momento pelo qual aquele age com excessos, se utilizando do seu poder diretivo de forma desarrazoável e desproporcional, reputando, ressalte- se, em abuso de direito, de modo a expor os trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras, ofensas a sua honra, imagem e dignidade perante os colegas de trabalho; agressões físicas, verbais, coações, perseguições, rigor excessivo, dentre outras situações ultrajantes. Tal situação, inegavelmente, acarreta prejuízos de cunho psicológico ao trabalhador, visto que o mesmo fica impossibilitado de trabalhar, de modo que adquire síndromes, pânico e aversão ao ambiente de trabalho. Diante desse quadro, cabe à vítima buscar a tutela estatal de modo a ver responsabilizado o agente patronal causador do dano de cunho moral, sendo-lhe devida uma indenização proporcional á lesão ocasionada, muito embora seja impossível restabelecer o status quo ante, visto às seqüelas que ficam sob a ótica emocional, cabendo ao Direito ressarcimento de ordem econômica, ou seja, mediante indenização monetária no fito de remediar a perda sofrida (MONTEIRO, 2012). Como se verá adiante, o colendo Tribunal Superior do Trabalho já vem se manifestando no sentido de resguardar a personalidade do obreiro, visto que o dano personalíssimo lesa um bem jurídico do trabalhador, razão pela qual perfeitamente cabível a responsabilização do empregador. Assim, inadmissível, em plena conjuntura de precarização de direitos trabalhistas, ainda se permitir lesões aos direitos da personalidade, direitos estes amplamente tutelados pelo ordenamento pátrio, notadamente por se tratarem atributos essenciais e indisponíveis da pessoa humana. 3 PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR 10 É sabido que o empregador, ao optar em abrir seu próprio negócio, inegavelmente trás para si o ônus em assumir os riscos do empreendimento advindos da atividade econômica desenvolvida. Nesse esteio, nada mais prudente que o mesmo goze de algumas prerrogativas no que dizem respeito ao seu poder de gerir a empresa, bem como os seus colaboradores, da maneira que achar melhor conveniente, por meio do seu poder de direção, ou seja, de dirigir, fiscalizar, controlar e disciplinar seus empregados. Delgado (2017) assevera que o poder empregatício, gênero do poder diretivo e demais dimensões de poderes, confere a pessoa do empregador determinadas prerrogativas, as quais apresentam “grande relevo socioeconômico, que favorecem, regra geral, a figura do empregador, conferindo-lhe enorme influência no âmbito do contrato de trabalho e da própria sociedade.” Sergio Pinto Martins (2018), leciona que o empregador é quem determina a forma e o modo como serão desenvolvidas às atividades do empregado, consubstanciado no seu poder de direção, ao qual tem como amparo legal o art. 2ª da CLT. Nas palavras de Alice Monteiro de Barros (2016), o poder diretivo do empregador caracteriza-se pela capacidade que o mesmo tem de dirigir o empreendimento, ou seja, uma espécie de poder jurídico existente perante os empregados, de modo que impõe alterações na estrutura da relação de emprego. Delgado (2017) conceitua poder empregatício como o “conjunto de prerrogativas asseguradas pela ordem jurídica e tendencialmente concentradas na figura do empregador, para exercício no contexto da relação de emprego” (DELGADO, 2017, p. 749). Em sua obra, Delgado (2017) esclarece que utiliza o termo “poder empregatício” como expressão de caráter geral, no qual envolve todos os demais poderes do empregador, não sendo muito usual por parte da doutrina, de modo que esta se utilizava da expressão “poder hierárquico”, ou até mesmo de referências autônomas que Delgado chama dimensões do poder empregatício, quais sejam, poder diretivo, poder regulamentar, poder fiscalizatório e poder disciplinar. Por seu turno, imperioso ressaltar que, segundo Delgado (2017), o poder diretivo e disciplinar, por alcançarem maior amplitude nas relações de trabalho, se apresentam como dimensões específicas poder empregatício. Por outro lado, o poder regulamentar e fiscalizatório seriam desdobramentos do poder diretivo. Não obstante a ressalva aqui exposta ver-se-á mais adiante as características individuais de cada poder. 11 Fato é que vários doutrinadores tentam explicam, por meio de teorias, a justificativa desse poder de direção atribuído aos empregadores na ambiência das relações laborais. Segundo Alice Monteiro de Barros (2016, p. 386), “são três as principais correntes utilizadas para fundamentar a existência do poder diretivo e disciplinar: a teoria da propriedade privada, a teoria institucional e a teoria contratual.” Na teoria da propriedade privada, afirma-se que o empregador faz jus a essa prerrogativa, pois é, simplesmente, o proprietárioda empresa, razão pela qual possui o direito de impor ordens de trabalho. Outrossim, para a teoria institucional, a empresa é análoga a uma instituição, de modo que os empregados fazem parte do seu corpo de pessoal, motivo pela qual estão sujeitos ao poder de direção do empregador, devendo, portanto, obedecer às normas impostas pela instituição. Ademais, no que se refere à teoria contratual, defende-se que, considerando a presença de um dos requisitos da relação de emprego, qual seja a subordinação, essa condição, por si só, já pressupõe o poder de direção do empregador, face o empregado. Nesse contexto, conforme defendido pela doutrina, o poder diretivo seria um direito potestativo, “ao qual o empregado não poderia opor-se”, leciona Sergio Pinto Martins (2018, p.357). Nos dizeres de Delgado (2017), poder diretivo também chamado por ele de poder organizativo ou de comando, pode ser entendido como: [...] o conjunto de prerrogativas tendencialmente concentradas no empregador dirigidas à organização da estrutura e espaço empresariais internos, inclusive o processo do trabalho adotado no estabelecimento e na empresa, com a especificação e orientação cotidianas no que tange à prestação de serviços. Infere-se do conceito supracitado que o referido autor inclui na ambiência do poder diretivo o poder de organização, no qual o empregador faz jus, conceito este divergente de outros autores que conferem ao poder de organização uma modalidade autônoma, conforme se verá adiante. Porém, oportuno ressaltar que esse poder, consoante exposto anteriormente, não é absoluto, uma vez que existem limites internos e externos a serem seguidos pelo empregador quando da imposição de serviços ilegais/ilícitos, os quais são impostos pela própria Constituição, assim como pelas leis, normas coletivas, contrato, a boa-fé objetiva e o exercício regular do direito. (Martins, 2018). 12 Destarte, vislumbra-se a presença de subdivisões dentro do poder diretivo do empregador, ou seja, para que se dirija com eficiência e qualidade a empresa e seus empregados, necessário o estabelecimento de outros poderes que irão nortear a atuação patronal, mas, frise- se, sempre com limites, respeitando a constituição e a legislação infraconstitucional, quais sejam eles: Poder de organização; poder de controle e poder disciplinar. Ressalte-se que a nomenclatura dos poderes pode diferir de um autor para outro. Delgado (2017), por exemplo, trás, ainda, a figura do poder regulamentar que nada mais é que o poder do empregador de fixar regras gerais de observância obrigatória pelos empregados no interior do estabelecimento e da empresa, ou seja, uma mera manifestação do poder diretivo. O poder de organização consiste, como o próprio nome sugere, na prerrogativa que o empregador detém de organizar a sua empresa de acordo com as necessidades destas, de modo a otimizar os trabalhos e, conseqüentemente, na geração de resultados. Tal poder resta corporificado por meios dos regulamentos internos das empresas, os quais informam os ditames a serem seguidos pelos empregados. Partindo desse contexto, o conceito de poder de organização atinge uma máxima quando engloba aspectos organizacionais nos mais variados setores do empreendimento, tais como setor jurídico, departamento pessoal, recursos humanos, financeiro, administrativo, dentre outros. Sergio Pinto Martins (2018) exemplifica bem o poder e organização do empregador no aspecto jurídico, por exemplo, quando aquele estabelece o tipo societário, ao qual a empresa será regida. Ainda dentro do seu poder de organização, importante citar algumas medidas do empregador consubstanciada no referido poder, tais como estabelecimento de jornada de trabalho, número de empregados, criação de cargos e funções; implantação de áreas e/ou setores estratégicos no seu empreendimento, dentre outros. No que tange ao poder disciplinar, este pode ser definido como o poder que o empregador tem de impor sanções aos seus empregados em caso de descumprimento de normas internas da empresa, ou seja, das obrigações contratuais. Vale ressaltar que o referido poder se confunde com o poder diretivo, mas segundo Delgado (2017), aquele contém certas particularidades o que o torna uma modalidade própria, notadamente quanto ao aspecto punitivo, visto que decorre de um ilícito trabalhista, gerando, por ser turno, uma sanção corporificada mediante um procedimento punitivo. 13 O poder de controle do empregador é, indiscutivelmente, o que mais demanda polêmicas e controvérsias quando da sua aplicação nas relações de trabalho. Tal poder consiste em fiscalizar e controlar as atividades do empregado no exercício de suas funções. É certo às vastas discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca dos excessos cometidos pelo empregador no que tange à aplicação do poder de controle. Importante frisar que o referido controle, nas palavras de Sergio Pinto Martins (2018, p.358), “é feito sobre o trabalho e não sobre a pessoa do trabalhador”. Assim, qualquer tipo de controle/fiscalização que viole a honra ou intimidade do empregado ou, até mesmo, que o exponha a uma situação vexatória, deve ser reprimida, de modo que o empregador deve ser responsabilizado civilmente, ante à violação de direitos. Nas palavras de Maurício Godinho Delgado (2017), poder de controle “seria o conjunto de prerrogativas dirigidas a propiciar o acompanhamento contínuo na prestação de trabalho e a própria vigilância efetivada ao longo do espaço empresarial interno” (DELGADO, 2017, p. 753.) Alice Monteiro de Barros (2016, p. 388) conceitua o poder de controle como aquele que “consiste na faculdade do empregador de fiscalizar as atividades profissionais de seus empregados. A função de controle compreende as revistas”. Um exemplo clássico que ainda é motivo de bastante discussão na ambiência do poder de controle é a chamada “revista”. Esta ocorre no escopo do empregador evitar perdas patrimoniais, sob o fundamento do seu direito de propriedade garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXII, de modo que o obreiro, ao final do expediente, é revistado, a fim de verificar a presença de objetos de propriedade do empregador. Nesse esteio, oportuno frisar que a doutrina e jurisprudência são unânimes quando acentuam que essa conduta é lícita e legal, desde que seja realizada de forma discreta, cautelosa e sem constrangimento ao trabalhador, que esteja expressa no regulamento interno da empresa, bem como buscando o equilíbrio entre os direitos da personalidade da classe obreira e os direitos da classe patronal, pautando a conduta em critérios como a razoabilidade e proporcionalidade. Para Alice Monteiro de Barros (2016), a revista só deve ocorrer em última opção, ou seja, quando não mais houver, para o empregador, outros meios lícitos e legais que resguardem o seu patrimônio e mais do que isso, para resguardar a vida dos próprios trabalhadores, mormente a crescente onda de violência que terrorismo que assola vários países ao redor do mundo. 14 A referida autora complementa seus dizeres ao assinalar que é possível minimizar eventuais distorções quanto ao real intento da revista, não conferindo qualquer abuso, quando se utiliza da tecnologia, “a título de exemplo, a colocação de etiquetas magnéticas em livros e roupas, torna desnecessária a inspeção em bolsas e sacolas, nos estabelecimentos comerciais” (Alice Monteiro de Barros, 2016, p. 389) A citada prática é só mais uma das diversas condutas que se pode mensurar no âmbito do poder de controle. Outros exemplos, têm-se o monitoramento da atividade do empregado no computador, qual seja a utilização de e-mails; a marcação do ponto, instalação de câmeras ou microfones no local de trabalho, submissão a exames toxicológicos, definição de padrão de vestimenta no meio ambiente laboral, controle de portaria,controle de horário e freqüência, dentre outros. Fato é que todas essas condutas, ao serem impostas pelo empregador aos seus empregados, devem respeitar o princípio da dignidade da pessoa humana, assim como o direito à privacidade, intimidade, honra e imagem do obreiro, preceitos estes esculpidos na Carta Magna de 1988, sob pena de o empregador ser responsabilizado nas esferas cabíveis, notadamente a cível e criminal. Outrossim, deve-se, indiscutivelmente, se estabelecer limites para quaisquer dos poderes aqui discutidos, de modo que é necessário que a ordem jurídica vigente estabeleça “firme contingenciamento ao exercício de tais atividades de fiscalização e controle internas à empresa em benefício da proteção à liberdade e dignidades básicas da pessoa do trabalhador” (DELGADO, 2017, p. 754). Partindo dessa premissa básica, a Constituição Federal de 1988 tem um papel primordial no combate desses abusos, notadamente pelo fato de que tais condutas violadoras de direitos por parte do empregador chocam-se frontalmente com os preceitos esculpidos na Carta Magna que instituiu um Estado Democrático de Direito, primando pela dignidade da pessoa humana em todas as suas relações sociais. Nesse contexto, Delgado (2017) elucida: [...] todas essas regras e princípios gerais, portanto, criam uma fronteira inegável ao exercício das funções fiscalizatórias e de controle no contexto empregatício, colocando na franca ilegalidade medias que venham agredir ou cercear a liberdade e dignidade da pessoa que trabalha empregaticiamente no país. DELGAGO, 2017, p. 755. Grifos nossos. Portanto, à guisa do exposto, patente a necessidade de se coibir efetivamente afrontas aos direitos da personalidade do obreiro, mormente a norma jurídica máxima do ordenamento 15 pátrio, rechaçar toda e qualquer violação a dignidade dos trabalhadores na sua ambiência laboral. 4 DIREITOS DE PERSONALIDADE DO EMPREGADO É de notório conhecimento que, com o advento da globalização, da propagação desenfreada dos meios de comunicação e das múltiplas relações interpessoais na ambiência laboral, restou patente a facilidade em violar preceitos fundamentais, notadamente àqueles que dizem respeito aos direitos da personalidade do indivíduo, assim como ao princípio fundamento da dignidade da pessoa humana. Nesse panorama, considerando que a dignidade da pessoa humana atua como valor fundante do ordenamento jurídico pátrio, mister ressaltar a imprescindibilidade do referido preceito fundamental no intróito dos direitos da personalidade. Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald ressaltam a importância da abordagem do princípio da dignidade da pessoa humana quando do estudo dos direitos da personalidade, mormente que, sem essa análise, a teoria da personalidade, bem como os efeitos dela decorrentes, tornar-se-iam vazios. Tal acepção parte do pressuposto de que, o princípio da dignidade da pessoa humana, é o fundamento do Estado Democrático de Direito do Brasil (art.1ª, inc.III da C/88), o que condiciona a validade e a eficácia das demais fontes do direito brasileiro, dentre estas as dos direitos da personalidade. De igual modo, considerando o fato de o princípio da dignidade da pessoa humana ser o valor fundante do nosso ordenamento pátrio, o indivíduo ocupa uma posição central no sistema jurídico, de modo que às normas e regras jurídicas devem ser pensadas e impostas no fito de proteger a sua dignidade, além do que devem garantir o mínimo de direitos fundamentais para lhe proporcionar uma vida digna (Farias e Rosenvald, 2013, p.164). Superada essa fase introdutória, fato é que os direitos da personalidade são direitos inerentes aos valores existenciais da pessoa humana e a ela ligados de maneira perpétua e permanente. Não são mensuráveis economicamente, pois estão voltados à própria condição existencial da pessoa, tais como, à vida, à liberdade, o nome, o próprio corpo, à imagem e à honra (Farias e Rosenvald, 2013, p.177; Gonçalves, 2013, p.184). Ademais, os direitos da personalidade decorrem essencialmente dos direitos fundamentais consagrados na carta magna de 1988, razão pela qual é necessário estudá-los não se olvidando da ótica constitucional, muito embora integrem a legislação ordinária. 16 Nesse esteio, brilhante as palavras de Tartuce (2014, p.119) quando afirma que “a ordem jurídica é um todo harmônico e os grandes princípios e garantias ditados pela Constituição Federal devem ter os contornos e características que a lei ordinária lhes der, sem infringi-los ou restringi-los.” Partindo desse contexto, os direitos da personalidade estão dispostos genericamente em duas escalas dentro do ordenamento pátrio, qual seja, na Constituição Federal, onde se tem a base de todos os direitos; e no Código Civil Brasileiro, onde se encontra as especificidades dos mesmos. (Venosa, 2012). Por sua vez, há de se ressaltar que os direitos da personalidade possuem como grande alicerce o fundamento constitucional do respeito à dignidade da pessoa humana, no qual embasa todo o ordenamento jurídico brasileiro. (Gonçalves, 2013). Assim, derivados do referido princípio, os direitos da personalidade tutelam os valores mais significativos do indivíduo, seja perante outras pessoas, seja em relação ao Poder Público. Com as cores constitucionais, os direitos da personalidade passam a expressar o mínimo necessário e imprescindível a uma vida com dignidade e integridade (Farias e Rosenval, 2013, p.178). Com efeito, fora editado e aprovado o enunciado nº 274 oriundo da IV Jornada de Direito Civil do CSJ/STJ com fundamento no art. 11 do Código Civil, in verbis: Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana.). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. Ademais, é certo que os direitos da personalidade, como explicitado no enunciado supracitado, estão dispostos no Código Civil não de maneira taxativa, mas sim meramente exemplificativa razão essa pela qual, poder-se-á agrupar outros direitos que tutelam a proteção humana, tal como nas relações de trabalho. Logo, os Direitos da Personalidade são ilimitados diante da impossibilidade de se enumerar todas as suas vertentes, toda a sua extensão (DINIZ, 2005, p. 124). Seu rol não é exaustivo ou taxativo. Por visar tutelar de forma holística o ser humano, não há como estabelecer um rol taxativo dos direitos da personalidade, visto que o homem enquanto produto da sociedade evolui conjuntamente com esta, incorporando novos valores à sua personalidade, os quais assim como os outros já existentes, merecem toda proteção do ordenamento jurídico. 17 Nessa linha de idéias, pode-se afirmar que os direitos da personalidade são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art.11º, inc.III da CF/88 (enunciado 274 da Jornada de Direito Civil). Logo, os direitos da personalidade decorrem de uma cláusula geral de proteção da personalidade, a qual encontra-se inserida no princípio da dignidade da pessoa humana, o que por si impossibilita que tais direitos sejam esgotados e limitados (Farias e Rosenvald, 2013, p.207). Flávio Tartuce (2014) coaduna nesse sentido, quando escreve sobre os direitos da personalidade em suas múltiplas derivações, no sentido de que estes podem se manifestar, até mesmo, em uma derivação que não consta em nenhuma norma jurídica. Silvio Venosa corrobora com este entendimento de que os direitos da personalidade se manifestam nas mais diferentes vertentes, sendo impossível individualizá-lo (2012, p.177). Geralmente, os direitos da personalidade decompõem-se em direito à vida, a própria imagem, ao nome e à privacidade.Essa classificação, contudo, não é exaustiva. Os direitos de família puros, como, por exemplo, o direito ao reconhecimento de paternidade e o direito a alimentos, também se inserem nessa categoria. Não é possível, como apontamos, esgotar esse elenco. Tem-se, ainda, no ordenamento jurídico pátrio, uma gama de autores civilistas, razão pela qual se faz imperioso ressaltar as impressões dos mesmos acerca dos direitos da personalidade e seus desdobramentos, notadamente no seu aspecto conceitual e suas características. Para Sílvio Venosa, os direitos da personalidade são “direitos privados fundamentais que devem ser respeitados como conteúdo mínimo para permitir a existência e a convivência dos seres humanos” (2012, p.175). É cediço que os direitos da personalidade possuem imensa proteção por parte do estado, notadamente quando a legislação pertinente, qual seja o Código Civil vigente, elenca um capítulo específico para os mesmos. Tal fato se dá pela preocupação do estado em proteger a vida humana em suas mais variadas manifestações, assim como pela importância da matéria na pós-modernidade, momento em que o direito privado assume uma nova feição, face às transformações sociais. (Venosa, 2012). Tamanha a importância e a relação destes direitos para com a dignidade da pessoa humana, que os autores são unânimes, em se tratando das características de tais direitos, quando afirmam que estes são inatos, vitalícios, imprescritíveis e inalienáveis. Analisando tais características, percebe-se quão complexo e importante são estes direitos, razão pela qual merecem toda a atenção e proteção estatal, precipuamente, por tutelarem a proteção à vida, o bem jurídico maior. 18 A título exemplificativo, Silvio Venosa (2012, p.178) enumera alguns destes direitos, lembrando que o rol não é taxativo: Os direitos da personalidade são os que resguardam a dignidade humana. Desse modo, ninguém pode, por ato voluntário, dispor da sua privacidade, renunciar à liberdade, ceder seu nome de registro para utilização por outrem, renunciar ao direito de pedir alimentos no campo de família, por exemplo. Já sob a ótica de Pablo StolzeGagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2016, p.196), os mesmos elucidam, por sua vez, que os direitos da personalidade são “aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais”. No que tange às suas características, continuam: Sendo direitos ínsitos à pessoa, em suas projeções física, mental e moral, os direitos da personalidade são dotados de certas características particulares que lhes conferem posição singular no cenário dos direitos privados. Assim, os direitos da personalidade são: a) absolutos; b)gerais; c)extrapatrimoniais; d)indisponíveis; e)imprescritíveis; f)impenhoráveis; g)vitalícios. Mesmo considerando que os direitos da personalidade decorrem de uma cláusula geral – a qual por sua vez encontra-se inserida no princípio da dignidade da pessoa humana – é possível classificá-los levando em consideração alguns critérios, sem contudo, remover o seu caráter ilimitado. Assim, confirme Farias e Rosenvald (2013, p.207), os direitos da personalidade são classificados segundo a: a) integridade física: direito à vida, direito ao corpo, direito à saúde ou a inteireza corporal, direito ao cadáver e outros; b) integridade moral ou psíquica: direito à imagem, direito à privacidade, ao nome, etc ; c) integridade intelectual: direito à autoria científica ou literária, à liberdade religiosa e de expressão, dentre outras manifestações do intelecto. Bittar (2003), assim leciona: Os direitos da personalidade são direitos reconhecidos à pessoa humana tomada em si mesma e em suas projeções na sociedade, previstos no ordenamento jurídico exatamente para a defesa de valores inatos ao homem, como a vida, a higidez física, a intimidade, a honra, a intelectualidade e outros tantos. (BITTAR, 2003, p. 03). Por sua vez, Maria Helena Diniz preceitua os direitos da personalidade com algumas reflexões acerca da personalidade: [...] a personalidade consiste no conjunto de caracteres próprios da pessoa. A personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano tem direito à personalidade. A personalidade é que apóia os direitos e deveres que dela irradiam, é objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar às 19 condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar outros bens3 (DINIZ, 2005, p. 121). Fato é que os direitos da personalidade englobam diversos direitos, sendo os mais relevantes segundo Gonçalves (2012), o direito a intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas. Ademais, oportuno salientar que, em se tratando de violação a uma destes direitos, a Constituição preconiza que é “assegurado direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” (art. 5º, X). Por sua vez o Código Civil em seu art. 12 também vai de encontro ao postulado constitucional supra quando dispõe que “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. O parágrafo único do referido artigo complementa, dizendo que “Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.” Nesse esteio, a violação do direito da personalidade de modo a acarretar danos aos indivíduos, gera, por si só, responsabilização civil decorrente de ato ilícito. Assim, nasce para o lesionado, o direito subjetivo de reparação sob a ótica não somente dos ditames constitucionais e cíveis, mas também na seara trabalhista. 4.1. Os Direitos da Personalidade nas Relações de Trabalho. Os direitos da personalidade, inegavelmente, estão associados a valores existenciais da pessoa humana, ou seja, estão voltados para a própria concepção do ser em suas diversas relações sociais. Partindo dessa conjuntura, é bem verdade que o ser humano passa grande parte da sua vida na ambiência laboral, de sorte que é por meio do seu trabalho que tiram a sua subsistência e de sua família. Nesse sentido, Belmonte (2004, p. 28) preceitua uma problemática crescente no ambiente de trabalho nos tempos hodiernos, ou seja, é que “está cada vez mais difícil delimitar o espaço do trabalho, pela mistura crescente entre os elementos relacionados ao trabalho ou à vida profissional com os relacionados à vida íntima do empregado” Assim, considerando a sucessão das mais variadas condutas e/ou ações experienciados pelos empregados e empregadores na ambiência laboral, facilmente pode-se acarretar conflitos internos que, em excesso, pode se traduzir em afronta direta aos direitos da personalidade do 20 empregado, notadamente quando se leva em consideração a sua situação de vulnerabilidade em relação ao seu empregador. Fato é que aspectos do trabalhador, intrinsecamente ligados aos direitos da personalidade, tais como o físico, psíquico, moral, intelectual, dentre outros devem ter a sua plena preservação, sob pena de se estar violando a sua dignidade. Delgado (2017) destaca o universo dos direitos da personalidade do trabalhador com características próprias, in verbis: [...] esse novo universo normativo trata, certamente, de temas como a dignidade da pessoa do trabalhador, sua intimidade e até mesmo a simples privacidade, com as diversas facetas que podem assumir no contexto da vida real no contrato de emprego e no ambiente de trabalho. Trata também, com certeza, do tema da imagem do trabalhador, com as dimensões diversas que pode manifestar na experiência empregatícia. (DELGADO,2017, p. 726). Delgado (2017) leciona, ainda, importante questão envolta aos direitos da personalidade do obreiro na ambiência laboral, qual seja o contraponto jurídico envolvendo estes direito em divergência com o poder empregatício e, frise-se, em qualquer de suas dimensões, a saber: poder normativo, diretivo, fiscalizatório e disciplinar. Tal contraponto decorre do fato de, enquanto os direitos da personalidade têm como propósito a tutela da dignidade humana, consubstanciado na ordem jurídica democrática e republicana, o poder empregatício confere ao empregador excessiva vantagem “inerente à situação jurídica de subordinação de seus empregados” (DELGADO, 2017, p. 726). Essa relação desarrazoável e desproporcional no âmbito das relações laborais foi fator determinante para que o Direito do Trabalho buscasse sopesar tais relações, proporcionando meios legais para fins de proteção da parte hipossuficiente da relação empregatícia. Nas brilhantes palavras de Delgado (2017), o Direito do Trabalho, em decorrência de contraponto jurídico: [...] afirmou-se como o grande contraponto às prerrogativas do poder empregatício. Com suas regras, princípios e institutos, consolidou, nos últimos 150 anos, no Ocidente, significativa barreira – ou pelo menos atenuação - ao antes incontrastável exercício desse poder no mundo laborativo. (DELGADO, 2017, p. 727). Ademais disso, relevante ressaltar que com a promulgação da Carta Magna de 1988, inaugurou-se uma nova força normativa capaz de frear abusos nas relações de emprego, sendo notável a expressiva valoração dos direitos da personalidade e, conseqüentemente, em um novo contraponto jurídico no Brasil, mormente, a tendência de se harmonizar as duas posições ora contrapostas, de forma sistêmica e harmônica. Segundo Delgado (2017), a harmonização ora discutida dar-se-á: 21 [...] por meio da atenuação, racionalização e civilização do poder empregatício, que tem, de passar a se harmonizar à relevância dos princípios, regras e institutos constitucionais que asseguram tutela aos direitos de personalidade do ser humano, partícipe da relação de emprego no pólo obreiro. (DELGADO, 2017, p. 727). A guisa do exposto, a legislação trabalhista vigente, em consonância com a nova ordem jurídica de harmonização e não se olvidando da necessidade e importância de se tutelar a dignidade do trabalhador, com espeque no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, confere proteção aos trabalhadores no que tange à proteção aos direitos da personalidade do obreiro, em especial por limitar os poderes do empregador. A CLT (consolidação das leis do trabalho) possui dispositivos normativos que albergam a proteção da dignidade do empregador, quando determina proibições e/ou limitações quanto ao poder empregatício. Como norma expressa de proteção aos direitos da personalidade, por exemplo, a CLT, em seu art. 373-A,VI, veda que o empregador proceda com revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias, protegendo, portanto, a intimidade e privacidade da obreira. Ademais, ainda segundo a legislação celetária, é hipótese de justa causa para rescisão do contrato de trabalho, ato lesivo a honra contra qualquer pessoa, exegese do art. 482, j,k. da CLT. Outrossim, o art. 483 da CLT, ao qual trata da rescisão indireta do contrato de trabalho, elenca hipóteses que em sua essência são protetivas ao trabalhador, mormente, por tutelar direitos da personalidade, quando, por exemplo, o empregado é submetido a um rigor excessivo e perigo manifesto, situações que afrontam a dignidade do obreiro. Alvarenga (2014) detecta dispositivos normativos na legislação celetária que tutelam os direitos da personalidade. Por exemplo, a referida autora faz referência ao art. 29 da CLT que confere proteção aos direitos da personalidade do trabalhador quando proíbe o empregador de proceder a qualquer espécie de anotação desabonadora acerca da conduta do empregado em sua CTPS. Vale ressaltar que, em que pese os direitos da personalidade estarem dispostos no Código Civil, nada impede que os mesmos sejam aplicados na seara trabalhista, uma vez observadas lacunas na legislação celetista, por meio da aplicação subsidiária. Ressalte-se, porém, que essa aplicação subsidiária do Código Civil nas relações laborais, especificamente aos artigos que tratam dos direito da personalidade, quais sejam arts. 11 a 21 deve observar algumas peculiaridades. 22 Maurício Delgado (2017) perfeitamente leciona quanto à necessidade de se observar alguns critérios quando da aplicação subsidiária da legislação cível na esfera trabalhista, in verbis: Qualquer dos princípios gerais que se aplique ao Direito do Trabalho sofrerá, evidentemente, uma adequada compatibilização com os princípios e regras próprias a este ramo jurídico especializado, de modo que a inserção da diretriz geral não se choque com a especificidade inerente ao ramo justrabalhista. (DELGADO, 2017, p. 192). Leite (2007) complementa que, em que pese a CLT não possuir um capítulo específico destinado à proteção dos direitos da personalidade no direito do trabalho, assim como há no Código Civil, a própria Constituição Federal tutela tais direito, o que já legitima a sua aplicação na esfera trabalhista, in verbis: Sem embargo da autorização do parágrafo único do art. 8º da CLT para a aplicação subsidiária do Código Civil de 2002, o certo é que a própria Constituição Federal de 1988, por ser a fonte de todo o ordenamento jurídico brasileiro, já é condição suficiente para sanar a lacuna do texto consolidado. (LEITE, 2007, p. 40). Portanto, resta indiscutível a aplicação dos direitos da personalidade nas relações de trabalho, notadamente quando estes resultam de preceitos fundamentais, os quais se aplicam em todas as esferas jurídicas com supedâneo no princípio da dignidade da pessoa humana. 5 RESPONSABILIDADE CIVIL E DIREITOS DA PERSONALIDADE: ATUAÇÃO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Por se tratar de uma problemática corriqueira nas relações de trabalho, demandas judiciais pugnando por indenizações de cunho moral em decorrência de afronta aos direitos da personalidade do obreiro em face de excessos cometidos pelo empregador, comumente chegam ao Colendo Tribunal Superior do Trabalho, ao qual já vem firmando posicionamento acerca da matéria em voga. São inúmeras às imposições e condutas patronais decorrentes do abuso do poder diretivo, assim como práticas ofensivas e/ou discriminatórias no ambiente de trabalho dispostas nos regulamentos internos das empresas, que geram reflexos em demandas judiciais propostas pelos trabalhadores na Justiça do Trabalho. Pode-se citar, por exemplo, como hipóteses de conflitos entre poder diretivo e direitos da personalidade do empregado as revistas íntimas e pessoal; fiscalização por instrumentos visuais, assédio moral, monitoramente de e-mail, dentre outras condutas patronais na ambiência do poder diretivo. 23 Assim, levando em consideração a gama de situações conflitantes que surgem das relações de trabalho no que tange ao cometimento de excessos no poder diretivo e no ajuizamento de ações judiciais na Justiça do Trabalho, que o Tribunal Superior do Trabalho já vem se posicionando sobre o tema, adotando como premissa básica os critérios de razoabilidade e proporcionalidade quando da aplicação do direito ao caso concreto. Compulsando a jurisprudência do TST, o que mais se observa é a prática da revista seja pessoal, seja a revista íntima sendo judicializada. Em verdade, tais condutas não encontram guarida na doutrina e jurisprudência pátria, de modo que o empregador é devidamente responsabilizado. O empregador justifica a prática imoderada, sustentando a tese de que tal procedimento encontra respaldo na Carta Política de 1988, a qual confere a este o direito propriedade, tese esta já derrubada e não aceita pela comunidadeacadêmica. Segue julgado do TST que corrobora com o aqui expendido, in verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - DESCABIMENTO . 1. TRANSCENDÊNCIA. A lembrança do princípio da transcendência não é necessária ao impulso do apelo, pois, em que pese o art. 896 da CLT, acrescido pela MP nº 2.226/2001, dispor sobre o requisito para o recurso de revista, ainda não foi regulamentada a sua aplicação. 2. REVISTA PESSOAL. ABUSO NO EXERCÍCIO DO PODER DIRETIVO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, INCISOS V e X. INDENIZAÇÃO. VALOR. CRITÉRIOS PARA ARBITRAMENTO. Os princípios e garantias constitucionais atuam, na contemporaneidade, em defesa do trabalhador, enquanto e em contrapartida, estabelecem freios para a conduta patronal. A ordem inaugurada pela Constituição Federal de 1988, quando dá destaque à dignidade da pessoa humana e tutela intimidade, privacidade e honra, vedando tratamentos degradantes, revela visível avanço em relação à situação pregressa: ergue a nível matricial a proteção que a classe trabalhadora reclama desde a Revolução Industrial. Fazendo concreto o ideal do Estado Democrático de Direito, este conjunto de princípios deita-se sobre a legislação ordinária, relendo os limites da atuação patronal no exercício do poder diretivo - de base restritamente contratual -, sobretudo naquilo que represente desnecessária exposição e ofensa aos seus subordinados. Somente como exceção e sob escasso olhar, o art. 373-A da CLT admite revistas, regra igualmente limitada para as mulheres e, por influência do princípio isonômico, para os homens: ao empregador incumbe adotar os meios que a tecnologia lhe oferece para defesa de seu patrimônio, sendo-lhe vedado, mesmo com tal aparato, violentar a esfera privada daqueles trabalhadores que contrata. Sendo a última de suas possibilidades, o empregador poderá recorrer às revistas pessoais, desde que o faça sob condições, mas sem jamais macular a privacidade e a intimidade dos empregados. O excesso a tais parâmetros desperta a sanção constitucional e obriga à indenização do dano moral, providência que empresta coerção e concretude ao pilar da dignidade da pessoa humana e delega expressão máxima ao vetor eleito pela Constituição Federal. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (TST - AIRR: 1699220125050101, Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de Julgamento: 07/12/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/12/2016) grifos do autor. 24 No caso em espeque, o TST entendeu que houve, de fato, abuso no poder diretivo do empregador, de modo que pugnou por devida a obrigação de indenizar o empregado, ante a conduta da revista pessoal feita de forma desarrazoável e desproporcional, com supedâneo em princípios e garantias fundamentais como a dignidade humana. Por outro lado, imperioso ressaltar que tal entendimento não é absoluto, devendo cada caso concreto ser analisado em consonâncias com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Um exemplo disso é um julgado recente do TST em sede de Recurso de Revista interposto pelo empregador a que fora dado provimento, sob a relatoria do Ministro Douglas Alencar Rodrigues, que entendeu pelo exercício regular do poder diretivo, defesa do patrimônio e dentro dos limites legais e constitucionais, em se tratando de revista pessoal. Ementa, in verbis: RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REVISTA DIÁRIA AOS PERTENCES DO EMPREGADO. O Tribunal Regional consignou que "Não há controvérsia acerca da vistoria de bolsas e sacolas, salvo que concerne à sua publicidade para clientes, o que não foi confirmado." e que "No caso, configura excesso na fiscalização patronal e extrapolação do exercício regular do seu poder diretivo a submissão do empregado à revista pessoal em seus pertences, de forma diária" O entendimento da SBDI-1 deste Tribunal Superior é no sentido de que a fiscalização do conteúdo das mochilas, sacolas e bolsas dos empregados, indiscriminadamente e sem qualquer contato físico ou revista íntima, não caracteriza ofensa à honra ou à intimidade da pessoa, capaz de gerar dano moral passível de reparação. Assim, tem-se que a Reclamada agiu dentro dos limites do seu poder diretivo, no regular exercício de proteção e defesa do seu patrimônio. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST - RR: 104927720135050019, Relator: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 11/04/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 13/04/2018). Grifos do autor. Por seu turno, relevante destacar o posicionamento do TST no que atine a revista pessoal que, na hipótese de contato físico durante a revista a que se submete o trabalhador, evidencia- se a conduta abusiva e violadora de direitos, in verbis: RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014.1. HORAS EXTRAS. INTERVALO INTRAJORNADA. PARTE DOS CARTÕES DE PONTO APÓCRIFOS. IRRELEVÂNCIA. JORNADA DE TRABALHO APONTADA NA INICIAL CONFIRMADA PELA PROVA ORAL PRODUZIDA. SÚMULA 126 DO TST. [...] INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REVISTA PESSOAL. CONTATO FÍSICO. CONFIGURAÇÃO. SÚMULA 333/TST. O entendimento da SBDI-1 desta corte é no sentido de que a fiscalização do conteúdo das mochilas, sacolas e bolsas dos empregados indiscriminadamente e sem qualquer contato físico ou revista íntima, não caracteriza ofensa à honra ou intimidade da pessoa, capaz de gerar dano moral passível de reparação. No caso, contudo, verifica-se situação diversa, na medida em que o Tribunal Regional sustentou que havia contato físico durante a revista a que era submetido à Reclamante, circunstância que evidencia conduta abusiva da Reclamada que implica ofensa à honra e à dignidade da Reclamante. Recurso de revista não conhecido. (TST – RR: 11215220145050020. 25 Relator: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 04/04/2018. 5ª turma, Data da publicação: DEJT 13/04/2018. Outrossim, relevante destacar julgados tratando de outras hipóteses de conflitos entre poder diretivo e direitos da personalidade do empregado, como por exemplo a utilização de instrumentos visuais como câmeras, a fim de se observar o obreiro no exercício de suas funções. Com efeito, é de farta sabença que o aporte tecnológico já é uma realidade nas empresas. Empregadores se utilizam de tais ferramentas digitais no fito de resguardar seu patrimônio, assim como conferir se o trabalhador está exercendo seus mister nos moldes esperados, ou seja fiscalizar e controlar os seus empregados. Ademais disso, oportuno ressaltar que o uso indiscriminado desses artifícios tecnológicos pode configurar afronta aos direitos personalíssimos do obreiro, notadamente a instalação de câmeras em locais íntimos, ensejando na ilicitude da prática adotada. Nessa linha de raciocínio, o TST entendeu como excesso no poder diretivo do empregado, a instalação de câmeras nos vestiários da empresa, mantendo a condenação em danos morais em favor do trabalhador, considerando que tal conduta fere o direito a intimidade do obreiro. Segue ementa do julgado, in verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL – MONITORAMENTO DE VESTIÁRIOS COM CÂMERAS – A corte regional assenta a premissa fática, impassível de revisão nessa fase recursal extraordinária, de que a reclamada não provou que as câmeras instaladas nos vestuários estavam voltadas exclusivamente para os armários. Sem superar essa premissa (óbice da Súmula nº 126 do TST), não se pode afastar a tese regional no sentido de que a conduta da empregadora fere o direito a intimidade dos empregados, ensejando dano moral, uma vez que o exercício do poder empregatício não justifica a exposição e a invasão da esfera privada e da intimidade dos empregados. Por essa razão, medidas de segurança devem ser adotadas com cautela suficientepara que estas sejam compatibilizadas com os direitos da personalidade dos empregados de forma ilícita e culposa, preenchendo os requisitos para a reparação por dano moral. Precedentes. Agravo de Instrumento desprovido. (TST – AIRR: 16844120155230107. Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. Data de Julgamento: 16/05/2018, 7ª turma, Data da Publicação: DEJT 18/05/2018). Grifos do autor. Outra questão bastante polêmica e que, constantemente, chega ao TST nos tempo hodiernos é o assédio moral no ambiente de trabalho. Tal problemática se resume a submissão de trabalhadores a situações vexatórias, ultrajantes, humilhantes e constrangedoras, em grande maioria dos casos, atingindo o sexo feminino. Vale ressaltar que o assédio moral pode ocorrer nas diversas escalas hierárquicas, e não somente no liame patrão e empregado. 26 Delgado (2017) leciona que no assédio moral, o agente causador buscar desgastar o equilíbrio emocional da vítima, por meio de gestos, palavras, condutas no fito de rebaixar a vítima e até mesmo diminuir sua autoestima, causando, destarte, desequilíbrios e tensões emocionais graves. Nesse esteio, infere-se que para configuração do assédio moral, dever-se-á verificar a intensidade da violência psicológica, de modo a ocasionar um dano psíquico ou moral no empregado, tratando-se, portanto de violência que perdura no tempo. Segue julgado do TST corroborando com o entendimento acima delineado: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. 1. DISPENSA IMOTIVADA. DANOS MORAIS. Segundo consignou o Tribunal Regional, restou cabalmente demonstrado nos autos o assédio moral sofrido pelo autor, em razão da conduta do superior hierárquico do reclamante. Por esse motivo, o Regional julgou correta a decisão de origem que afastou a demissão e converteu a dispensa para imotivada. Diante desse contexto fático, insuscetível de reexame nesta instância recursal, nos termos da Súmula nº 126/TST, não há falar em violação dos arts. 5º, X, e 7º, XXVIII, da CF e 186 e 927 do Código Civil, porque demonstrado o assédio moral sofrido pelo reclamante. 2. INDENIZAÇÃO. CONVÊNIO MÉDICO. O Tribunal Regional não emitiu tese sobre a matéria, o que atrai a incidência da Súmula nº 297 do TST, em razão da ausência de prequestionamento. Agravo de instrumento conhecido e não provido. 3. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO. Em face de possível violação do art. 5º, V, da CF, dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o prosseguimento do recurso de revista. 4. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. Em face de possível violação do art. 880 da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o prosseguimento do recurso de revista. Agravo de instrumento conhecido e provido. B) RECURSO DE REVISTA. 1. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO. Tendo em vista o que determina o artigo 5º, V, da Constituição Federal, a fixação do valor da indenização por danos morais deve pautar-se por critérios de proporcionalidade e de razoabilidade. No presente caso, a indenização arbitrada revela-se excessiva em face da circunstância que ensejou a condenação, qual seja o assédio moral sofrido pelo reclamante. Recurso de revista conhecido e provido. 2. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. O Tribunal a quo concluiu que o cumprimento da sentença deve observar o disposto nos arts. 652, "d", e 832, § 1º, da CLT. Contudo, o art. 880 da CLT disciplina expressamente os procedimentos relativos à execução trabalhista, sobretudo em relação à obrigação de pagar quantia certa, no sentido de que o pagamento seja efetuado no prazo de quarenta e oito horas ou de que seja garantida a execução, sob pena de penhora. Logo, a imposição de multa pelo descumprimento da sentença quanto à obrigação de pagar, com escopo em normas de caráter genérico, afronta o referido preceito consolidado. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ARR-1001638-16.2015.5.02.0464. Relatora: Dora Maria da Costa. Data do julgamento:14/11/2018, 8ª turma. Data da Publicação: DEJT 19/11/2018). Por fim, oportuno tecer comentários no que tange aos desdobramentos do assédio moral em distintas hipóteses. Exemplo claro é a restrição ao uso do banheiro. O seu uso de forma limitada é hipótese de abuso de direito por parte do empregador, sendo uma prática lesiva de afronta a dignidade do trabalhador. Porém a quem defenda que se trata de conduta inserida dentro dos limites do poder diretivo do empregador, a qual estabelece parâmetros para utilização do banheiro, tais como 27 quantidade de idas no decorrer da jornada de trabalho, assim como o tempo despendido para realização das necessidades fisiológicas. TST firmou entendimento no sentido de restrição do uso de banheiro expõe indevidamente a privacidade do empregado, ofendendo sua dignidade, visto que não se pode objetivamente controlar a periodicidade da satisfação de necessidades fisiológicas que se apresentam em diferentes níveis em cada indivíduo. Tal procedimento revela abuso aos limites do poder diretivo do empregador. Segue julgado nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014 REGIDO PELO CPC/2015 E PELA IN Nº40/2016 DO TST. DANO MORAL. RESTRIÇÃO PELA EMPREGADORA AO USO DO BANHEIRO DA EMPREGADA. ATO ILÍCITO. OFENSA A HONRA SUBJETIVA DA EMPREGADA. DANO IN RE IPSA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. O Regional manteve a decisão do juiz de origem em que se condenou a ré ao pagamento de indenização por danos morais, ao fundamento de se encontrar evidenciada a restrição ao uso de banheiros de maneira abusiva que configurasse lesão à integridade física e psicológica da autora. O Tribunal Superior do Trabalho tem entendido que a restrição pelo empregador ao uso do banheiro pelos seus empregados fere o princípio da dignidade da pessoa humana, traduzindo-se em verdadeiro abuso no exercício do poder diretivo da empresa (art. 2 ª da CLT), o que configura ato ilícito, sendo, assim, indenizável o dano moral sofrido pelos empregados (Precedentes desta corte). Por outro lado, cabe salientar que a ofensa à honra subjetiva do reclamante se revela in re ipsa, ou seja, presume-se, sendo desnecessário qualquer tipo de prova para demonstrar o abalo moral sofrido em decorrência da restrição ao uso do banheiro a que o trabalhador estava submetido. Isso significa afirmar que o dano moral se configura independentemente de seus efeitos, já que a dor, o sofrimento, a angústia, a tristeza ou o abalo psíquico da vítima não são passíveis de um direito da personalidade e da dignidade da pessoa humana para que o dano moral esteja configurado. Agravo de instrumento desprovido. (TST – AIRR: 114806720155010075. Relator: José Roberto Freire Pimenta. Data de Julgamento: 22/10/2018, 2 ª turma, Data da publicação: DEJT: 26/10/2018). Outras medidas que merecem destaque do ponto de vista jurisprudencial e que se encaixam nas hipóteses de conflito entre poder o diretivo do empregador e direitos personalíssimos do trabalhador são, por exemplo, a utilização de instrumentos visuais para fins de fiscalização, assim como monitoramento de e-mail. O TST já se manifestou no sentido de ser abusiva a utilização de câmeras que afrontem a intimidade e privacidade do obreiro, com supedâneo no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, notadamente em locais íntimos, como em banheiros, por exemplo. Segue julgado sob a perspectiva dita alhures, in verbis: RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. DANOS MORAIS. INSTALAÇÃO DE CÂMERA DE SEGURANÇA NO BANHEIRO. CONFIGURAÇÃO. A dignidade da pessoa humana, fundamento da república, no termos do era. 1ª, III da CF/88 e regra matriz do direito a indenização por danos morais, previsto no art. 5ª, X da CF/88, impo-se contra a conduta abusiva do empregador no exercício do poder de 28 direção a que se refere o art. 2ª da CLT, o qual abrange os poderes de organização, disciplinar
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