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PSICOLOGIA ESCOLAR PSICOLOGIA ESCOLAR NA PERSPECTIVA CRÍTICA A Psicologia e a Psicologia Escolar passaram a perguntar a serviço de quê e de quem estariam, em uma sociedade de classes, bem como a que prática psicológica se vinculariam. A partir dos anos 1980 tinha início, na trajetória da Psicologia e da Psicologia Escolar, um conjunto de questionamentos a respeito: I. do papel social da Psicologia enquanto Ciência e Profissão e da Psicologia Escolar, enquanto campo de atuação do psicólogo. II. dos pressupostos que norteavam a construção do conhecimento no campo da Psicologia e da Psicologia Escolar, bem como suas finalidades em relação à escola e àqueles que dela participam. Esta ruptura permite contribuir para o bem- estar das crianças, assim como para a aprendizagem das mesmas e superação dos obstáculos que barram o desenvolvimento de seu potencial, e a promoção do autoconhecimento, de modo a possibilitar ações na comunidade em que vivem. QUAL É A PERGUNTA BÁSICA DA EDUCAÇÃO PARA A PSICOLOGIA? POR QUE A CRIANÇA NÃO APRENDE? A partir das discussões e críticas desenvolvidas no campo da Psicologia na sua relação com a educação escolar, a Psicologia Escolar e Educacional, inauguram uma nova década de pesquisas que se voltaram para o novo objeto de estudo da psicologia: O FRACASSO ESCOLAR. A análise do fracasso escolar tem como um de seus principais argumentos, o fato de que os problemas de aprendizagem incidem maciçamente sobre as crianças das classes populares e é sobre elas que durante décadas recaem as explicações a respeito dos chamados problemas de aprendizagem: ou porque apresentam problemas ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE SUBSIDIAM PSIC. ESC. CRÍTICA • Sociologia da Educação • Pesquisas Etnográficas Educacionais • Pedagogias Histórico-Críticas • Referenciais Histórico-Críticos em Psicologia CONSTITUIÇÃO DE NOVOS CONCEITOS • Processos de Escolarização • Vida Diária Escolar • Queixa Escolar • Fracasso Esolar A Constituição de 1988 abre caminhos para a institucionalização dos espaços democráticos, na recuperação de direitos civis e sociais, centrada em dois princípios básicos: a descentralização do poder do Estado e a participação social ampla nas decisões políticas. A ela seguem-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Declaração de Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), apenas para citar algumas das mais importantes iniciativas institucionais de introduzir mudanças estruturais nas relações sociais e civis no campo dos avanços dos direitos sociais e humanos. Portanto, é no bojo da redemocratização do Estado, da descentralização do poder para os Municípios e Estados, que a educação passa a ter autonomia para planejar, implementar e gerir suas políticas educacionais. psicológicos, ou biológicos, ou orgânicos ou mais recentemente, socioculturais. • PROBLEMAS NO INDIVÍDUO/NO ALUNO o Desajustamentos de personalidade da criança e das relações familiares o Determinantes neuropsicológicos o Disfunção cerebral mínima • PROBLEMAS NO AMBIENTE FAMILIAR • PROBLEMAS DE NÍVEL SÓCIO ECONÔMICO Existe também um complexo universo de questões institucionais, políticas, individuais, estruturais e de funcionamento presentes na vida diária escolar que conduzem ao seu fracasso, mantendo os altos índices de exclusão, principalmente das crianças e adolescentes das camadas mais pobres de nossa sociedade. Dentre os complexos aspectos implicados na tentativa de se romper com esta produção do fracasso escolar, podem ser apontados, por exemplo, os relativos ao trabalho realizado com os professores, visando-se contribuir para a realização profissional dos mesmos, bem como para a melhoria de sua competência técnica, com ênfase na conscientização acerca da prática pedagógica e de aspectos ético-políticos presentes em tal atuação profissional. Portanto, a discussão crítica no campo da Psicologia Escolar insere um novo eixo de análise: O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO, constituído a partir das condições objetivas, concretas, que permitem, ou não, que a escola possa cumprir as suas finalidades sociais. A concepção teórica que nos permite analisar o processo de escolarização ― e não os problemas de aprendizagem ― desloca o eixo da análise do indivíduo para a escola e o conjunto de relações institucionais, históricas, psicológicas, pedagógicas e políticas que se fazem presentes e constituem o DIA A DIA ESCOLAR. Ou seja, os aspectos psicológicos são parte do complexo universo da escola, encontrando-se imbricados nas múltiplas relações que se estabelecem no processo pedagógico e institucional presentes na escola. CONCEPÇÕES DE CRIANÇA A partir das divisões de problemas voltados para o indivíduo apresentam-se tipos de crianças denominadas: • ANORMAL • PROBLEMA • CARENTE CULTURAL • COM DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM QUEIXA ESCOLAR A Psicologia e a Psicologia Escolar vem reiteradamente trabalhando para defender a participação de seus conhecimentos de forma a garantir pelo menos três grandes eixos de ação: compromisso com a luta por uma escola democrática e com qualidade social; ruptura epistemológica relativa à visão adaptacionista de Psicologia e a construção de uma práxis psicológica frente à queixa escolar. Queixa Escolar é constituída pelo conjunto de relações e práticas individuais, sociais, institucionais. Encaminhamentos que chegam à Psicologia e que são expressão das dificuldades vividas no interior do processo de escolarização. Foco de análise está no processo de escolarização e em como as apropriações do conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento ocorrem nesta área. Esta concepção busca romper com modelos clássicos da Psicologia. É o momento de uma revisão estrutural do sistema educacional para compreendermos tantos casos de crianças que permanecem anos na escola e continuam analfabetas. Jamais devemos atribuir a elas as causas do não aprender, pois, neste caso, estaremos penalizando-as duplamente, por não termos cumprido nosso papel social ― deixando de oferecer uma escola de qualidade para toda uma geração ― e por acreditarmos que ao encontrar em seu corpo, ou em seu cérebro, os sinais do não cumprimento desse papel social, denominamos tal constatação de distúrbio e utilizamos terapias e tratamentos, inclusive medicamentosos, para aliviar o peso do não aprender. TRANSFORMAÇÃO DA PERGUNTA SOBRE AS DIFICULDADES ESCOLARES DE “POR QUE A CRIANÇA NÃO APRENDE?” PARA “O QUE ACONTECE NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO QUE FAZ COM QUE ESTA CRIANÇA NÃO SE BENEFICIE DA ESCOLA?” COMO É TRATADO PELA PSICOLOGIA? Desta forma, desenvolve-se de uma abordagem da PERSPECTIVA CLÁSSICA E TRADICIONAL (que vê o aluno como originador do problema – ALUNO PROBLEMA) para PERSPECTIVA CRÍTICA (que entende que o problema/ fenômeno pode ocorrer no processo de escolarização - REDE DE RELAÇÕES QUE PRODUZ A QUEIXA ESCOLAR). Enquanto o movimento de crítica se fortaleceu no campo da Psicologia e construiu novas formas de aproximação da Psicologia com a Educação Escolar em uma perspectiva crítica, a pouca presença de psicólogos no campo da educação escolar permaneceu. E o que é mais grave, o espaço deixado pela Psicologia no momento de sua autocrítica foi sendo paulatinamente ocupado por outras explicações, também de cunho adaptacionista, mas que respondiam diretamente às demandas de professores e dos gestores escolares, advindas, principalmente, da Psicopedagogia e da Psicomotricidade. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS TRADICIONAIS DOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM PERSPECTIVA CLÁSSICA E TRADICIONAL – ALUNO PROBLEMA Os termos utilizados para descrever a profissão centram-seem uma visão de diagnóstico, tratamento e cura, avaliação e de pesquisa, cujo aspecto individual e emocional é a tônica. TRATAMENTOS OFERECIDOS PARA AS CRIANÇAS COM PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM PERSPECTIVA CLÁSSICA E TRADICIONAL – ALUNO PROBLEMA EXAMES NEURO/ IMAGENS/ QUESTIONÁRIOS PSICO- DIAGNÓSTICO CLÍNICO TESTES PSICOLÓ GICOS PSICO TERAPIA ORIENTAÇÃO FAMILIAR EDUCAÇÃO ESPECIAL MEDICAMENTOS ESTIMULAÇÃO PRECOCE EDUCAÇÃO COMPENSATÓRIA FATORES QUE CONSTITUEM O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO As discussões que os psicólogos vêm realizando no campo da educação, as questões postas para a atuação profissional em uma perspectiva que critica a visão medicalizante da psicologia não são contempladas nos descritores referentes à profissão de psicólogo, tampouco naqueles que atuam no campo da educação. Temos, portanto, um desafio pela frente: resgatar as finalidades da profissão no que tange às relações com o campo educativo. PERSPECTIVA CRÍTICA – REDE DE RELAÇÕES QUE PRODUZ A QUEIXA • Políticas Educacionais • Relações Escolares • Aspectos Pedagógicos • Relações Institucionais COMO INTERPRETAR O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO PERSPECTIVA CRÍTICA – REDE DE RELAÇÕES QUE PRODUZ A QUEIXA • Fenômenos escolares são produto do processo de escolarização • Processos de avaliação da escolarização devem expressar a complexidade da vida escolar • Entender aprendizagem e desenvolvimento fenômenos inseparáveis Esses dois campos de interface de conhecimentos da Psicologia com a Educação primam por realizar diagnósticos de caráter cognitivo, afetivo, pedagógico ou psicomotor, propondo uma série de atendimentos e de acompanhamentos individuais da criança ou do adolescente, reforçando a idéia de que o problema do não aprender está na criança e que o tratamento ou acompanhamento ou ainda a reeducação permitirão que esta criança volte a aprender. QUAL A FUNÇÃO DA ESCOLA? Os vigilantes disciplinares da escola tradicional foram trocados pelos vigilantes do desenvolvimento (psicólogos e pedagogos). O professor passou a ser visto como um organizador de condições para uma aprendizagem ativa. O aluno era compreendido como sujeito ativo que construía seu próprio conhecimento e poderia escolher o que e quando aprender. A ênfase recaiu sobre o processo de aprendizagem, não se valorizava tanto os conteúdos escolares, o importante era aprender a aprender. • Formação do cidadão crítico • Ampliação dos valores democráticos • Formação do pensamento científico A MEDICALIZAÇÃO E A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. O QUE É MEDICALIZAÇÃO? O processo de medicalização, e não o ato de medicar, sendo este entendido como processo de prescrever remédios e a utilização dos mesmos em tratamentos, o que pode ser necessário e eficaz desde que seja feito com cautela e não como fim em si mesmo. Entendemos medicalização como: Assim, este processo de medicalização encarrega-se de normatizar comportamentos por meio da incorporação de discursos médicos. A categorização de comportamentos e emoções como desordens psíquicas, possibilitados, principalmente, com o lançamento dos manuais psiquiátricos como o DSM, vem transformando em sintomas psicopatológicos comportamentos e/ou acontecimentos muitas vezes passageiros ou transitórios constituídos por uma multiplicidade de fatores. Processo de transformar questões não médicas, eminentemente de origem social e política, em questões médicas, isto é, tentar encontrar no campo médico as causas e soluções para problemas dessa natureza. A medicalização ocorre segundo uma concepção de ciência médica que discute o processo saúde-doença como centrado no indivíduo, privilegiando a abordagem biológica, organicista. Daí as questões medicalizadas serem apresentadas como problemas individuais, perdendo sua determinação coletiva. Omite-se que o processo saúde- doença é determinado pela inserção social do sujeito, sendo, ao mesmo tempo, a expressão do singular e do coletivo. (Collares & Moysés, 1994, p. 25) MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Parte de uma concepção da perspectiva tradicional, na qual, se tem destaque a questões que culpabilização e condenam os alunos. • Porque uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem ou de comportamento na escola? • Seria uma questão orgânica? o Ele enxerga bem? o Ele ouve bem? o Se alimenta bem? A concepção hegemônica é a de que sim, seria unicamente uma questão de ordem biológica. Não se fala das precárias condições de trabalho do professor, mas sim de “Burnout”. Não se fala de indivíduos questionadores, mas de portadores de “Transtorno Opositivo Desafiador”. *ABORDAGEM SOCIAL versus BIOLOGIZANTE A definição das dificuldades escolares como “transtornos” acalma o mal-estar de famílias e profissionais de saúde e educação frente a uma série de dilemas sociais. Disponibilidade de medicamentos cria a necessidade nas pessoas de automedicação ou da procura por atendimento médico e/ou terapêutico para estarem produtivas. Diante deste fenômeno da medicalização: ➢ Modos de ser e viver transformados em doenças, subjetividades explicadas pela via estrita dos aspectos orgânicos. ➢ Concepções equivocadas sobre doença mental. ➢ Epidemia de diagnósticos. O que também acaba por acarretar em: ➢ Racionalidade individualista ➢ Reducionismo biológico ➢ Naturalização dos aspectos sociais Toda a sociedade sofre com a medicalização, no entanto, as populações mais susceptíveis são: ☻ Crianças em idade escolar, ☻ Adolescentes e adultos em privação de liberdade, ☻ Usuários que necessitam de atenção em saúde mental, ☻ Pessoas com mais de 60 anos. QUAL A PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL NOS PROCESSOS DE MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO? Vivemos hoje um processo conhecido como medicalização da existência ou medicalização da vida cotidiana. A medicina e suas práticas discursivas afins adquiriram o papel de significante-mestre a organizar nossas vidas que, em um momento histórico não muito longínquo foi ocupado pela religião e pela lei. Esse imaginário biomédico vem produzindo um processo de adoecimento ao medicalizar as experiências mais comuns e naturais da nossa existência. ❖ Ideologia de explicação do fracasso escolar pela via da patologização dos indivíduos. ❖ Localiza nele a dificuldade advinda de uma política educacional falha. ESFERAS MACRO E MICRO PROJETOS DE LEI – ESFERA MACRO PL 321/2004 Dispõe sobre a criação do Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação PL 512/ 2005 Dispõe sobre a criação do programa integrado de saúde e higiene nas escolas da rede estadual de educação, ensino fundamental e médio e dá outras providências PL 172/2005 Cria Programa de Acompanhamento para Alunos do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual, com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e com Transtorno no Déficit de Atenção sem Hiperatividade (TDA), no âmbito do Estado de São Paulo. Assim como há uma educação que visa a regulação dos corpos e normatização dos comportamentos há, também, um discurso normativo atrelado à saúde. Deste modo, quando a criança não se adequa ao comportamento esperado na escola, este fato constantemente tem sido retirado do âmbito escolar e judicializado ou medicado. ESCOLA – MICRO • Boletins • Invasão do “discurso do especialista”. • Individualização da queixa e encaminhamentos. o O que escapa à norma disciplinar da escola é travestido de questão médica a ser investigada, como no relato que segue: DA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE ☻ Diagnósticos estigmatizantes ☻ Ignoram a história do processo de escolarização do sujeito ☻ Profissionais de saúde reforçam oudeixam de problematizar a situação da escola. ☻ Necessário incremento na formação do profissional de saúde que ampliem o olhar. PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO TEMOS UM MODELO IDEAL DE FAMÍLIA? Muitas vezes, problemas familiares aparecem como justificativas de supostos comportamentos sociais desviantes por parte de crianças e adolescentes. MODOS DE SER/ESTAR NO MUNDO DSM V (2013) O DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – é um dos principais conjuntos de classificações diagnósticas de uso corrente. ☻ Modelo teórico (Psicanalítico) encontrado somente nos DSM I (1952) e II (1968). ☻ DSM III (1978) seria livre de qualquer definição teórica. ☻ Descritivo e classificatório, baseado em sintomas externos. ☻ Encorajam a supressão de sintomas com o uso de psicofármacos. "Comportamental. Apresenta comportamento tumultuado com os colegas de classe, apresenta dificuldade em aceitar um 'não', ultimamente tem demonstrado necessidade de pegar, de tocar nos colegas, que se sentem incomodados e 'invadidos' e rejeitam o seu toque" (Encaminhamento enviado à APE - Aluno de 7 anos do 2° ano do Ensino Fundamental, 2016). TDAH Forte presença em âmbito escolar, é um transtorno muito discutido quando se fala em medicalização. O TDAH sendo hipoteticamente causado por uma “disfunção cerebral mínima”, depende fortemente de relatos dos pais e professores para seu diagnóstico. *Não existem exames laboratoriais confiáveis. Surge a hipótese, então, do TDAH poder ser classificado como um tipo de transtorno escolar. o Em 2000, foram vendidas 71 mil caixas e em 2011 esse número chegou a 1.212.850 o Há evidências de que a Orientação de Pais tem mais eficácia do que o uso do medicamento. DISLEXIA Hinshelwood é um médico muito citado quando se fala da descoberta da dislexia como um distúrbio. Desde 1895, ele estudou e escreveu sobre o que denominou cegueira verbal congênita (perda do domínio da leitura e escrita). Hinshelwood rejeitou ou ignorou qualquer hipótese sobre a escola, família, e outras condições ambientais. (Coles, 1987) O médico notou problemas de leitura em uma mesma família. Notou inteligência média, sem déficits visuais, boa memória exceto para letras e palavras. Falha no aprendizado mesmo estando na escola = Cegueira Verbal Congênita. Ainda hoje o diagnóstico da Dislexia é realizado por exclusão. Não se investiga, no protocolo oficial do diagnóstico, as questões intraescolares ou a história do processo de escolarização do sujeito avaliado. “Tudo o que se poderia problematizar sobre leitura e escrita como representação social da linguagem humana e enquanto construção simbólica (portanto, dependente de mediação) é reduzido a uma suposta “doença neurológica” contra a qual pouco se pode fazer.” (Fórum Sobre Medicalização da Educação e Sociedade, 2015, p.11) SÍNTESE Não negamos que podem haver crianças encontram dificuldades em seu processo de desenvolvimento atentivo, em seus processos de aprendizagem e/ou de comportamento. TDAH • sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. • Origem neurobiológica, com causas genéticas, surgindo na infância e acompanhando o indivíduo por toda a sua vida. DISLEXIA ADQUIRIDA • Lesão Cerebral • Perda da Capacidade de Leitura e Escrita DISLEXIA DE DESENVOLVIMENTO • Raciocínio clínico segue a lógica de que, se alguns indivíduos com lesão cerebral reconhecida apresentam certas características de comportamento, logo pessoas com estas mesmas características devem possuir alguma lesão cerebral (Kavale e Forness, 2000). No entanto, o psiquismo humano, complexo e multideterminado, não pode ser compreendido à margem das determinações econômicas e sociais nas quais se constitui. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA ESCOLA EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA. O QUE É JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO? DEFINIÇÃO: Conflitos educacionais que ocorrem no cotidiano da escola que são mediadas pela justiça. É “quando se tenta resolver uma contenda, um conflito, se não conseguir por meios de acordo, entra-se com uma judicialização para que o juiz determine uma sentença, um resultado para tal contenda”. CAUSAS: Fragilidade no diálogo dentro escola entre equipe gestora, professores, alunos e suas famílias. Fragilidade na busca efetiva de soluções coletivas para os problemas escolares. ALTERNATIVAS: Gestores escolares conheçam a legislação e promovam formação de seu quadro docente a respeito deste assunto, objetivando lembrar que o ensino democrático deve ser constitutivo do projeto político/pedagógico da escola. Aceleração de estudos crianças comprovadamente superdotadas impedidas de prosseguir os estudos em séries mais adiantadas só conquistando esse direito expresso em legislação (LDB 9394/96, Lei de Educação Especial, ECA, Constituição Federal, dentre outras) com mandado de segurança. Briga e/ou acidentes no interior da escola crianças que são feridas (fratura de dentes, fratura de braço, etc.) no pátio ou na sala de aula em consequência de briga e/ou acidentes são indenizadas por dano material, moral e estético, pois o estabelecimento de ensino tem a responsabilidade pela guarda e vigilância porque a criança tem o direito de ser resguardado em sua incolumidade física, enquanto estiver nas dependências da escola. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA ESCOLA Psicólogos clínicos em consultórios particulares e Serviços Escola de Psicologia recebem um número crescente de encaminhamentos de crianças e adolescentes para avaliação psicológica com problemas de aprendizagem e de comportamento escolar. O QUE É AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA? De acordo com a Resolução nº 9, de 25 de abril de 2018 - CFP Art. 1º - Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas. REDUCIONISMO BIOLÓGICO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO EDUCAÇÃO DIAGNÓSTICOS CLASSIFICATÓRIOS E NÃO EXPLICATIVOS MEDICALIZAÇÃO DIAGNÓSTICOS MÉDICOS COMO RESPOSTA ÀS QUEIXAS ESCOLARES. NÃO CONSIDERAM QUESTÕES INTRAESCOLARES SILENCIAMENTO DE QUESTÕES PEGAGÓGICAS, SOCIAIS, POLÍTICAS, ECONÔMICAS. CRÍTICA REALIZADA ▪ PSICOLOGIA ESCOLAR EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA ▪ ANÁLISE DO HISTÓRICO DO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO ▪ PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL ▪ PRESSUPÕE ANÁLISE DO PROCESSO E NÃO SOMENTE DO PRODUTO, BEM COMO DOS FENÔMENOS EM SUA MULTIDETERMINAÇÃO Art. 30 - Na Avaliação Psicológica, a psicóloga ou psicólogo deverão considerar os princípios e artigos previstos no Código de Ética Profissional das psicólogas e dos psicólogos, bem como atender aos requisitos técnicos e científicos definidos nesta Resolução. PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA ESCOLA Existe uma distinção entre o modelo clássico tradicional e a perspectiva crítica de avaliação psicológica das queixas escolares. 1. Avaliação psicológica em uma perspectiva tradicional 2. Avaliação psicológica em uma perspectiva crítica AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA TRADICIONAL NA ESCOLA No modelo clássico tradicional o objeto de análise é a criança, nesse sentido busca-se compreender o que ela tem, o problema está na criança, nas suas relações familiares, no seu mundo interno. Em concordância com esse paradigma, para a avaliação da queixa escolar, algumas ações são realizadas, tais como: ➢ entrevista com os pais ➢ anamnese ➢ sessões lúdicas com a criança ➢ aplicação de testes ➢ diagnóstico ➢ prognóstico ➢ entrevista devolutiva com os pais ➢ encaminhamento para tratamento Os procedimentos diagnósticos em psicologiaseguem, usualmente, uma perspectiva tradicional na avaliação psicológica e o resultado é a atribuição de um laudo que apresenta uma deficiência, distúrbio, patologia no aluno e suas consequências podem variar, de acordo com a classe social do aluno: - Psicoterapia, terapias pedagógicas e orientação aos pais, visando a adaptação do aluno na escola. - Elaboração de um laudo que justificará a exclusão do aluno na escola; a desigualdade e a exclusão são justificadas cientificamente, ignora-se a dimensão política do problema. Portanto, a produção de laudos psicológicos apresenta diagnósticos reducionistas, com uma avaliação no plano do indivíduo e de sua família – produzem estigmas e justificam a exclusão escolar, reduzindo os alunos a ‘portadores’ de defeitos, anormalidades. As dificuldades escolares não podem ser entendidas sem considerar-se as práticas e os processos escolares que dificultam o processo de aprendizagem, produzindo nos alunos determinados comportamentos e atitudes, erroneamente interpretados por professores e psicólogos, como indisciplina, agressividade, distúrbio, hiperatividade, apatia – visão medicalizante das dificuldades de escolarização de crianças. CRÍTICA AOS TESTES DE INTELIGÊNCIA E DE PERSONALIDADE ▪ Uso exclusivo por psicólogos ▪ Atuação técnica em psicologia ▪ Conteúdo dos testes não correspondem à realidade brasileira ▪ As perguntas (adultos) tem significados e funções diferentes para a criança ▪ Avaliação de aptidão com mensuração de resultados ▪ Falta de clareza para o indivíduo durante a aplicação do teste ▪ Rapidez da resposta como definição de inteligência ▪ Mensuração do psiquismo e produção de laudos Em resumo, problemas relativos ao conteúdo das provas/testes, à conceituação de inteligência e à lógica da situação de avaliação fazem com que os testes se transformem em ‘artimanha’ do poder, que prepara uma ‘armadinha’ para a criança, que acaba vítima de um resultado que não passa de um ‘artefato’ da própria natureza do instrumento e de sua aplicação, situação tanto mais verdadeira quanto mais o examinando for uma criança pobre e portadora de uma história de fracasso escolar produzido pela escola. (Patto, 1997, p.3) O QUE OS LAUDOS PSICOLÓGICOS NÃO DIZEM SOBRE AS CRIANÇAS QUE NÃO CONSEGUEM SE ESCOLARIZAR NA ESCOLA PÚBLICA? o que em uma sociedade de classes o Estado defende os interesses das classes dominantes, com poder político. o que o ensino público brasileiro tem uma história marcada pelo descaso do Estado pela escola para o povo. o que uma política educacional tecnicista sucateou a rede pública de escolas. o que a burocratização da escola eliminou uma avaliação fecunda de qualidade do ensino oferecido. o que a política salarial desestimula os professores e, frustrados, fazem dos alunos bodes expiatórios. o que grande parte dos professores representa o preconceito, a raiva e o desrespeito aos pobres, traço de uma sociedade escravocrata, violenta e dominadora. o que a vida escolar concretiza (os fatores acima) por meio de práticas e processos pedagógicos e administrativos produtores de dificuldades de aprendizagem dos bens culturais que cabe a escola transmitir. o que as relações pessoais na escola são autoritárias e produtoras de estigma e exclusão. o que a falta frequente de professores faz com que classes inteiras de alunos fiquem abandonadas por longos períodos, sendo rotuladas no ano seguintes como ‘fracas’. o que todo esse processo é vivido com dor pelas crianças e causa-lhes danos na autoestima, os quais psicólogos irão entender como dificuldades escolares. o que os resultados alcançados nos testes psicológicos dependem da história escolar, uma vez que esta exerce influência sobre a reação da criança à situação de avaliação e sobre o resultado obtido em testes saturados de atitudes e informações escolares que não poderiam se exigidas, como prova de inteligência, de crianças que não tiveram garantido o direito a uma escola de boa qualidade. CRÍTICAS AOS TESTES PSICOLÓGICOS Portanto, os testes psicológicos resultam em um ‘psicologismo’ que pressupõe que: o a dificuldade de aprendizagem e de adaptação escolar decorrem de distúrbios físicos ou psíquicos encerrados no próprio aluno; o são instrumentos ideológicos criados como forma de controle social e patologização social. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA ❖ Qual objeto de análise quando realizamos o diagnóstico de uma criança que nos foi encaminhada pela escola? ❖ Como realizar essa avaliação psicológica? É importante ao fazer a avaliação psicológica, incluir todos os elementos ampliando assim o espectro de causas para aquilo que pretendemos avaliar. Investigar a rede de relações e de práticas cotidianas produtoras do fracasso escolar – relações institucionais, relação professor aluno, procedimentos didáticos, relacionamento entre os alunos, a história escolar do aluno, professoras sobrecarregadas e mal remuneradas, etc. ❖ Pensar o processo de avaliação da queixa escolar em harmonia com a perspectiva crítica requer uma mudança paradigmática. ❖ Observem que ao alterarmos nosso paradigma alteramos nosso olhar e consequentemente as nossas ações. ❖ Assim, na perspectiva crítica o objeto de análise passa a ser o contexto das relações que produzem o fenômeno (não aprender) o objetivo do nosso trabalho será intervir no processo de produção da queixa escolar para rompê-lo. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM PSICOLOGIA ESCOLAR CRÍTICA o Questiona-se a ação comum da escola em encaminhar o aluno para avaliação psicológica pelos Serviços-Escola de Psicologia o Questiona-se a ação comum da psicologia em realizar um psicodiagnóstico neste aluno encaminhado o Cuidado com a avaliação, cuidado em não estigmatizar, compromisso ético-político, olhar não reducionista, olhar não patologizante, humanizar o humano, não coisificação do aluno, cuidado ao medicalizar para cuidar da diferença, cuidado ao compreender as características de personalidade como transtorno. o Necessária a reinvenção da avaliação psicológica (Adriana Marcondes, 1996) Essas perguntas da escola, o encaminhamento que a escola faz ao psicólogo e a avaliação psicológica produzida (laudo), buscam descobrir um atributo individual como justificativa para o fracasso escolar; trazem uma concepção de que o problema está NA criança e em sua família, sendo estas as causas das atitudes agressivas e do problema de aprendizagem. Á PARTIR DA PERSPECTIVA CRÍTICA QUAIS SERIAM AS POSSÍVEIS AÇÕES DO PSICÓLOGO ESCOLAR? ▪ Pesquisar os bastidores dos encaminhamentos, as versões dos vários profissionais e a história de vida da criança. Para tanto pode-se pedir ao professor que escreva a queixa, ler o prontuário dos alunos, verificar a versão e as expectativas dos diversos segmentos envolvidos no processo, as práticas pedagógicas cotidianas, etc.; ▪ Realizar encontros com o grupo de crianças e com os pais. Com o intuito de pensar o processo de produção da queixa e o que poderia se feito para modificá-la, pode-se verificar a participação dos pais e dos alunos nos processos de decisão na vida escolar, conhecer as diferentes versões dos fatos, observar as relações de poder, obter o consentimento dos pais para o trabalho a ser realizado, entre outras ações. ▪ Conversas com os professores para discussão dos acontecimentos em classe; ▪ Devolver os aspectos percebidos no processo aos professores, pais e crianças, verificar as possibilidades, as modificações, problematizar as questões, colher e oferecer sugestões para que a queixa possa vir a se superada. ▪ Por fim, cabe ressaltar que avaliar o processo de produção da queixa implica em buscar o quanto é possível alterar essa produção afetando osfenômenos nos quais ela se viabiliza. ▪ Encontro com grupos de alunos para brincar e conversar sobre o cotidiano da escola, sobre sua história escolar e problematizar a questão do aprendizado. PORTANTO ➢ A compreensão da queixa a partir da proposta de diálogo com a instituição escolar, compreensão sobre suas práticas escolares e construção coletiva de estratégias para superação. ➢ Incluir a escola na investigação e na intervenção (interlocução com a escola). ➢ Desconstrução da queixa escolar trazida pelos professores e alunos. ➢ Potencialização e fortalecimento de recursos internos tanto do aluno encaminhado quanto de seus professores. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO À QUEIXA ESCOLAR. A necessidade da/o psicóloga/o desenvolver frentes de trabalho diferenciadas, nos planos macro e microestrutural, se pretende atuar no sentido de uma transformação social profunda. O atendimento às queixas escolares no âmbito da clínica (modelo de consultório individual). É preciso desenvolver uma abordagem que superasse as dificuldades das práticas tradicionais, que se fundam numa concepção de indivíduo abstrato - genérico, desconsiderando seus pertencimentos sociais para além do grupo familiar. É preciso incluir a escola na investigação e na intervenção. INVESTIGAÇÃO Perguntas como: ˃ Em que tipo de classe está? ˃ Quantas professoras teve este ano? ˃ Onde senta-se na classe? ˃ Qual a frequência com que ocorrem faltas de professores? ˃ Em que momento da trajetória escolar emergiu a queixa em questão? Precisávamos integrar o rol de perguntas possíveis/necessárias ao atendimento. INTERVENÇÃO A interlocução com a escola, à semelhança com a que se tem com os pais, necessitava ser introduzida. É preciso, ainda, ter um olhar para as pertenças sociais (camada socioeconômica, grupo étnico e religioso, por exemplo) dos envolvidos e os desdobramentos disto na vida e trajetória escolar da criança ou adolescente atendido. A passagem de uma criança pobre e negra pela escola tende a guardar diferenças significativas em relação à de uma rica e branca. ALGUNS FUNCIONAMENTOS DO SISTEMA ESCOLAR QUE PRODUZEM DIFICULDADES E SOFRIMENTO Dos órgãos centrais: ˃ Burocracia criando rupturas no vínculo professor-classe ˃ Políticas públicas implantadas de maneira autoritária e desorganizada Das Unidades Escolares: ˃ Ausência de espaços sistemáticos e organizados de reflexão ˃ Ausência de projeto político-pedagógico da escola ˃ Falta de apoio e orientação ˃ Saber desconsiderado Da relação escola-pais: ˃ Exclusão de decisões sobre seus filhos ˃ Alvo de mitos e preconceitos ˃ Tratados como usuários de favores x sujeitos de direitos Da sala de aula: ˃ Homogeneidade como princípio de trabalho pedagógico ˃ Pedagogia repetitiva e desinteressante ˃ Encaminhamentos a especialistas. ALERTA: Os textos e as imagens, utilizadas neste documento, podem ter direitos autorais PSICOLOGIA ESCOLAR NA PERSPECTIVA CRÍTICA Qual é a pergunta básica da EDUCAÇÃO para a PSICOLOGIA? COMO É TRaTADO PELA PSICOLOGIA? A MEDICALIZAÇÃO E A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. o que é medicalização? MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Qual a participação do sistema educacional nos processos de medicalização da educação? ESFERAs macro e micro Da educação para a saúde Processo de Normatização dsm v (2013) TDAH dislexia Síntese AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA ESCOLA EM UMA PERSPECTIVA CRÍTICA. O que é Judicialização da Educação? Avaliação psicológica na escola Procedimentos de avaliação psicológica na escola Crítica aos testes de inteligência e de personalidade Avaliação psicológica em uma perspectiva crítica Avaliação psicológica em psicologia escolar crítica Á partir da perspectiva crítica quais seriam as possíveis ações do psicólogo escolar? ATENDIMENTO PSICOLÓGICO À QUEIXA ESCOLAR.
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