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MODELOS-DE-TERAPIA-FAMILIAR

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1 
 
SUMÁRIO 
1 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA TERAPIA CONJUGAL E FAMILIAR 3 
2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS 
E CONCEITUAIS ................................................................................................... 5 
2.1 A Cibernética ................................................................................. 12 
2.2 A Teoria da Comunicação ............................................................. 19 
2.3 O Enfoque Sistêmico ..................................................................... 22 
2.4 Escola Estrutural ........................................................................... 23 
2.5 Escola Estratégica ......................................................................... 24 
2.6 Escola de Milão ............................................................................. 26 
2.7 Escola Construtivista ..................................................................... 27 
2.8 O Enfoque Psicanalítico ................................................................ 29 
3 OS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA .................................................. 33 
3.1 Família Monoparental .................................................................... 33 
3.2 Família Nuclear ............................................................................. 34 
3.3 Família Reconstituída .................................................................... 34 
3.4 União Estável ................................................................................ 34 
3.5 Família Anaparental ...................................................................... 35 
3.6 Família Eudemonistas ................................................................... 35 
4 PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR.............................................. 35 
5 A FAMÍLIA E SUAS FASES ................................................................. 37 
5.1 Biológicas ...................................................................................... 40 
5.2 Psicológicas .................................................................................. 40 
5.3 Sociais ........................................................................................... 41 
6 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO DAS FAMÍLIAS ......................... 42 
6.1 Entrevista Circular ......................................................................... 43 
6.2 Entrevista familiar .......................................................................... 43 
 
2 
 
7 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO FAMILIAR APROVADO PELO CFP:
 46 
8 O QUE É UM CASAMENTO BOM OU UM BOM CASAMENTO ? ...... 48 
9 SEGREDO NA FAMÍLIA ...................................................................... 51 
9.1 Segredo e Privacidade .................................................................. 55 
10 O TERAPEUTA ................................................................................ 57 
11 BIBLIOGRAFIA ................................................................................. 59 
 
 
 
 
3 
 
1 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA TERAPIA CONJUGAL E FAMILIAR 
 
Fonte: www.oficinadeervas.com.br 
O campo da psicoterapia familiar é relativamente novo e vem se desenvol-
vendo desde a década de 1950 após a segunda guerra mundial, em um mundo 
traumatizado pelas recentes experiências. Inicialmente seu objeto de atenção foi 
com pacientes esquizofrênicos e com o trabalho com crianças. Não se trata apenas 
de uma técnica terapêutica, já que apresenta uma forma diferente de compreender 
a saúde e a doença mental, contribuindo para a ampliação de intervenções tera-
pêuticas. 
O momento histórico que precedeu o “Movimento de Terapia Familiar”, ca-
racteriza-se por mudanças importantes na teoria e prática da psiquiatria. Nesta 
época, a psicanálise já estava consolidada e reconhecida como método de trata-
mento e paralelamente novas abordagens e temas inovadores começaram a ga-
nhar força. A sociologia, a psicologia social, os crescentes trabalhos com grupos, o 
psicodrama, as concepções de comunidade terapêutica como modalidade de tra-
tamento e a inclusão do atendimento paralelo aos pais de crianças em tratamento 
psicoterapêutico, fizeram com que, na área clínica, houvesse um crescente inte-
resse pelas influências do campo interpessoal sobre as sintomatologias psiquiátri-
cas. 
 
4 
 
A influência do desenvolvimento das ciências físicas e naturais no decorrer 
do século XX foi significativa para a formulação de uma nova epistemologia, condi-
zente com as inquietações daquele momento, notadamente no campo interpessoal. 
Destacamos aqui, a Teoria Geral dos Sistemas, de Von Bertallanffy, que tenta bus-
car os princípios válidos para todos os sistemas, com interesse por sua integração 
e organização e cuja contribuição não se restringiu apenas ao campo das ciências 
exatas. Ao contrário, foi ampliada e mostrada como poderia ser aplicada no campo 
da psiquiatria ao tratar da dinâmica das relações a ao entender os fenômenos (físi-
cos, sociais, culturais, econômicos etc.) como interdependentes e inter-relaciona-
dos. 
Destacamos também o trabalho de Norbert Wiener sobre Cibernética (teoria 
do controle e comunicação de maquinas), cuja atenção é centrada nos processos 
pelos quais, sistemas auto–reguladores, minimizam os efeitos dos distúrbios do 
meio ambiente, através do conceito de reversibilidade, feedback negativo e ho-
meostase. 
Os primeiros sinais de uma nova epistemologia para tratamento de distúrbios 
mentais surgiram a partir dos estudos do antropólogo e etologista, Gregory Bate-
son. Considerado um dos pensadores mais influentes de nossa época, Bateson 
desafiou os pressupostos básicos e os métodos de várias ciências, ao buscar os 
padrões que se articulam em processos subjacentes às estruturas, “o padrão que 
une”, ou seja, o princípio de organização em todos os fenômenos observáveis. Pro-
pôs que a mente fosse definida como um fenômeno sistêmico característica de or-
ganismos vivos, sociedades ecossistemas etc., sendo uma consequência necessá-
ria e inevitável de uma complexidade que começa muito antes dos organismos de-
senvolverem um cérebro e um sistema nervoso superior. 
O trabalho de Bateson é central para o desenvolvimento das noções sistê-
micas com relação ao comportamento humano. As primeiras pesquisas que articu-
laram o pensamento batesoniano e os fenômenos psiquiátricos foram realizadas 
com a colaboração, John Weakland, Don Jakson e Paul Watzlavick, todos psiquia-
tras, através de observações sobre os padrões de transições esquizofrênicas. Al-
gumas dessas ideias encontram-se no livro “Pragmática da Comunicação Hu-
mana”, dos autores referidos acima. 
Os resultados destes estudos levam à conclusão de que não se pode com-
preender o indivíduo isolando-o de seu contexto e, uma vez que o indivíduo e o 
 
5 
 
ambiente são intimamente dependentes e interligados, também o sintoma psiquiá-
trico não pode ser compreendido isoladamente, visto que o comportamento e as 
emoções alterados são o resultado de disfunções em um sistema complexo. 
 A patologia pode estar simultaneamente ou não em diversos níveis, desde 
o molecular, o intrapsíquico, o familiar e o social, porém, parece que o que a faz 
aflorar é a falta de acomodação do sistema às peculiaridades de um dos níveis. Se 
considerarmos, por exemplo, uma criança com distúrbio por déficit de atenção, ela 
apresentará alterações de comportamento ou não, dependendo da resposta da fa-
mília e/ou da escola às suas dificuldades apresentadas. 
2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E 
CONCEITUAIS 
 
Fonte: pisicosophia.webnode.com 
Desde a década de 1920, quando inicia sua carreira como biólogo em Viena, 
Ludwig Von Bertalanffy critica a predominância do enfoque mecanicista tanto na 
teoria quanto na pesquisa científica. Em 1925, ele publica suas ideias em alemão 
e, em 1930, lança alguns artigos na Inglaterra. Na década seguinte,o autor apre-
senta sua teoria do organismo considerado como sistema aberto. Em meio ao con-
texto da Segunda Guerra Mundial, as ideias de Bertalanffy não foram bem aceitas 
em um primeiro momento. O biólogo conhece então, a Teoria da Cibernética que 
 
6 
 
florescia nos Estados Unidos e passa a ser influenciado por ela. Em 1960, Berta-
lanffy começa a ministrar conferências nos Estados Unidos e em 1967 e 1968 pu-
blica a Teoria Geral dos Sistemas por meio de uma editora canadense e, em função 
da maior propagação de suas ideias, que passam a estar disponíveis em língua 
inglesa, a Teoria ganha visibilidade (Vasconcellos, 2010). 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
A Teoria Geral dos Sistemas também é conhecida por Teoria Sistêmica. 
Contudo, elas são diferentes, visto que a Teoria Geral dos Sistemas é mais ampla 
e abarca todas as áreas do conhecimento (Física, Química, entre outras). Já a Te-
oria Sistêmica está mais voltada para a área da Psicologia. Para fins práticos, elas 
serão utilizadas como sinônimos, o que não se mostra errôneo, mas faz-se essa 
ressalva para fins didáticos e de esclarecimento (Costa, 2010). 
Assinala-se que, em 1912, o pesquisador, médico, filósofo e economista 
russo Alexander Bogdanov, também desenvolveu uma teoria, que se assemelha à 
Teoria Geral dos Sistemas, a qual deu o nome de Tectologia. O principal objetivo 
era esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas as estruturas 
vivas e não vivas e formular uma ciência universal da organização. Mesmo que tal 
teoria seja anterior a Teoria Geral dos Sistemas e que, em 1928, tenha sido publi-
cada uma segunda edição elaborada em alemão, Bertalanffy não faz referências a 
Bogdanov em seus livros (Capra, 2006). 
 
7 
 
Bertalanffy confere importância ao Pensamento Sistêmico como um movi-
mento científico por meio de suas concepções de sistema aberto e de sua Teoria 
Geral dos Sistemas. De acordo com o autor, organismos vivos são sistemas aber-
tos que não podem ser descritos pelas termodinâmica clássica, que trata de siste-
mas fechados em estado de equilíbrio térmico ou próximo dele. Os sistemas aber-
tos podem se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas e 
devolvidas ao meio ambiente. Mantêm-se, portanto, afastados do equilíbrio em um 
estado quase estacionário ou em equilíbrio dinâmico (Capra, 2006). 
 
Fonte: teoriadosistemas.blogspot.com.br 
O objetivo da Teoria Geral dos Sistemas se constituía em estudar os princí-
pios universais aplicáveis aos sistemas em geral, sejam eles de natureza física, 
biológica ou sociológica. Bertalanffy conceitua sistema como um complexo de ele-
mentos em estado de interação. A interação ou a relação entre os componentes 
torna os elementos mutuamente interdependentes e caracteriza o sistema, diferen-
ciando-o do aglomerado de partes independentes (Vasconcellos, 2010). A Teoria 
Geral dos Sistemas combina conceitos do Pensamento Sistêmico e da Biologia 
(Costa, 2010), incidindo na generalização do Modelo Organicista, ou seja, na noção 
de que o universo pode ser pensado como um grande organismo vivo (Pinheiro, 
Crepaldi, & Cruz, 2012). Assim, pressupõem-se que os fenômenos não podem ser 
considerados isoladamente, e sim, como parte de um todo. 
 
8 
 
 
Fonte: terapiacasalefamilia.blogspot.com.br 
Sendo assim, o todo emerge além da existência das partes e "as relações 
são o que dá coesão ao sistema todo, conferindo-lhe um caráter de totalidade ou 
globalidade, uma das características definidoras do sistema" (Vasconcellos, 2008, 
p.199). Os conceitos básicos de sua teoria são: globalidade, não-somatividade, ho-
meostase, morfogênese, circularidade e equifinalidade (Vasconcellos, 2010). Se-
gue abaixo uma breve descrição de cada um desses conceitos. 
De acordo com a globalidade, todos os sistemas funcionam como um todo 
coeso e mudanças em uma das partes provocam mudanças no todo. O conceito 
de não-somatividade afirma que o sistema não é a soma das partes, devendo-se 
considerar o todo em sua complexidade e organização; assim, embora o indivíduo 
faça parte da família, ele mantém sua individualidade. 
 
9 
 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
 A homeostase é o processo de autorregulação que mantém a estabilidade 
do sistema preservando seu funcionamento. A morfogênese é o processo oposto a 
homeostase, ou seja, é a característica dos sistemas abertos de absorver os as-
pectos externos do meio e mudar sua organização. A circularidade, também cha-
mada de causalidade circular, bilateralidade ou não-unilateralidade, diz respeito à 
relação bilateral entre elementos, sendo que esta relação é não linear e obedece a 
uma sequência circular. O último conceito, equifinalidade, refere que em um sis-
tema aberto, o resultado de seu funcionamento independe do ponto de partida, ou 
seja, o equilíbrio é determinado pelos parâmetros do sistema; diferentes condições 
iniciais geram igualdade de resultados e diferentes resultados podem ser gerados 
por diferentes condições iniciais. Desta forma, nos sistemas fechados o estado de 
equilíbrio é dado pelas condições iniciais (Barcellos &Moré, 2007; Osorio, 2002; 
Vasconcellos, 2010). 
A Teoria Geral dos Sistemas também fez uso do conceito de retroalimenta-
ção ou feedback que emergiu na cibernética (como será ressaltado adiante), o qual 
garante a circulação de informações entre elementos do sistema. A retroalimenta-
ção pode ser negativa, o que acontece quando esse mantém a homeostase, ou 
positiva, ocorre quando o sistema responde pela mudança sistêmica (morfogênese) 
(Vasconcellos, 2010). 
 
10 
 
 
Fonte: embu-sp.all.biz 
Além desses conceitos, Bertalanffy dedicou-se a investigar os princípios bási-
cos interdisciplinares que pudessem constituir uma teoria interdisciplinar. Apontou 
para a necessidade de categorias mais amplas de pensamento científico, de forma 
que a Sociologia e a Biologia também pudessem ser abarcadas por uma ciência 
mais rigorosa, além da Física e da Química. O autor não queria se afastar do refe-
rencial da ciência tradicional e por isso manteve-se preso ao pressuposto de obje-
tividade. Ele acreditava em um mundo hierarquicamente organizado, em uma rea-
lidade independente do observador (Capra, 2006). 
De acordo com Bertalanffy, uma Teoria Geral dos Sistemas ofereceria um ar-
cabouço conceitual abrangente capaz de unificar várias disciplinas científicas que, 
naquele momento, estavam isoladas e fragmentadas. Propõe, portanto, uma ciên-
cia da totalidade, da integridade ou de entidades totalitárias. O autor busca uma 
síntese do conhecimento sem eliminar as diferenças por meio de um esquema claro 
e consistente de conceitos, uma teoria unitária em torno de conceitos de sistema e 
organização. O foco é deslocado da constituição das entidades para a organização 
dos sistemas e para o conceito de interação (Grandesso, 2000). 
 
11 
 
 
Fonte: www.minutopsicologia.com.br 
A interação gera realimentações (feedbacks) que podem ser positivas ou ne-
gativas, criando assim uma autorregulação regenerativa, que, por sua vez, cria no-
vas propriedades, as quais podem ser benéficas ou maléficas para o todo indepen-
dente das partes. 
A interação dos elementos do sistema é chamada de sinergia. Por outro lado, 
a entropia é a desordem ou ausência de sinergia. Um sistema para de funcionar 
adequadamente quando ocorre entropia interna. Os sistemas orgânicos em que as 
alterações benéficas são absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas 
onde as qualidades maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência 
tendem a desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutra-
lize aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Bertalanffy, a mudança per-
manece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam e se retroalimentam 
(Vasconcellos, 2010). 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
 
12 
 
Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico,já que 
deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação, uma saída é ca-
paz de alterar a entrada que a gerou, e consequentemente, a si própria. Se o sis-
tema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto, em 
uma malha de realimentação deve haver certo retardo na resposta dinâmica. Esse 
retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo 
com variações bruscas na entrada, isto é, ele deve possuir uma tendência de resis-
tência a mudanças. Assim, uma organização realimentada e autogerenciada gera 
um sistema cujo funcionamento é independente da substância concreta dos ele-
mentos que a formam. Dessa forma, elementos podem ser substituídos sem dano 
ao todo, o que caracteriza o processo de autorregulação, no qual o todo assume as 
tarefas da parte que falhou (Vasconcellos, 2010). 
Na década de 1940, aportes teóricos se articularam à Teoria Geral dos Sis-
temas, quais sejam, a Cibernética e a Teoria da Comunicação. Embora Osório 
(2002) afirme que a Teoria dos Jogos também influenciou a Teoria Geral dos Sis-
temas, optou-se aqui por tratar exclusivamente da Cibernética e da Teoria da Co-
municação, visto apenas estas são referenciadas nas obras como fundantes da 
Teoria Geral dos Sistemas. 
2.1 A Cibernética 
A Teoria da Cibernética foi desenvolvida pelo matemático americano, e pro-
fessor do Massachussets Institute of Technology (MIT), Norbert Wiener (1894-
1964). No início da década de 1940, Wiener participava de reuniões vinculadas à 
escola de Medicina de Harvard nas quais se discutia o método científico. Estas 
reuniões tinham uma proposta interdisciplinar, pois participavam professores e pes-
quisadores de diversas áreas que se interessavam pelo tema. Assim, Wiener co-
nheceu Walter Cannon e Arturo Rosenblueth (fisiologistas), com os quais iniciou 
discussões que deram início ao pensamento que originou a Cibernética (Vascon-
cellos, 2010). 
 
13 
 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
Naquela época, o mundo vivia a Segunda Guerra Mundial e os Estados Uni-
dos começou a financiar pesquisas que pudessem contribuir para a melhoria das 
máquinas de guerra. Com isso, Wiener, em parceria com Rosenblueth e com o 
engenheiro eletrônico Julian Bigelow, criou um projeto que aprimorou a artilharia 
antiaérea. Wierner desenvolveu programas e "máquinas computadoras" que ti-
nham conexão com o sistema nervoso humano. 
A ideia de Wierner e dos pesquisadores com quem trabalhava era de projetar 
máquinas que tivessem performance de funções humanas. Nas pesquisas realiza-
das para a execução do projeto, Wiener e Bigelow criaram o conceito de feedback, 
também chamado de realimentação ou retroação (como já mencionado anterior-
mente), o qual foi desenvolvido para explicar de que forma pode-se corrigir desvios 
a máquinas computadorizadas, os quais eram essenciais para a guerra e se fazia 
analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e o funcionamento das máqui-
nas de computação (Vasconcellos, 2010). 
 
14 
 
 
Fonte: sistemica09.blogspot.com.br 
Em 1944, houve um encontro em Princenton para discutir "Cibernética", do 
qual participaram engenheiros, projetistas de máquinas computadorizadas, fisiolo-
gistas, neurocientistas e matemáticos. Em 1946, acontece a 1ª Conferência Macy 
em Nova Iorque, a qual teve como tema "Feedback" e que contou com a presença 
dos pesquisadores acima citados e de psicólogos, antropólogos, economistas e es-
pecialistas na Teoria dos Jogos. 
O encontro pretendia reunir cientistas que pudessem ajudar na compreen-
são do sistema nervoso, comunidades sociais e meios de comunicação. Nos anos 
subsequentes, houve várias conferências Macy e pode-se afirmar que o arcabouço 
teórico da Cibernética foi construído nestes encontros. 
 
Fonte: www.psicologia.pt 
 
15 
 
A partir dessas reuniões, a área foi reconhecida por inúmeras realizações 
tecnológicas, tais como: aparelho que permite aos cegos a leitura auditiva de um 
texto impresso, computadores ultra rápidos, próteses para membros perdidos, má-
quinas artificiais com performances altamente elaboradas, pulmão artificial, má-
quina de jogar xadrez, aparelho auditivo para deficientes auditivos, máquinas para 
atuarem em situações em que o trabalho implica risco para o homem, dentre outras 
invenções (Vasconcellos, 2010). 
Desta forma, no final de década de 1940, Wierner escreveu sobre a Teoria 
da Cibernética, também chamada de "Ciência da Correção". O termo Cibernética 
origina-se da palavra grega kybernetes que significa piloto, condutor. Desta forma, 
tal teoria apresenta uma tendência mecanicista por sua associação com máquinas 
ou sistemas artificiais. A preocupação do autor era com a construção de sistemas 
que reproduzissem os mecanismos de funcionamento de sistemas vivos, isto é, ele 
propôs a construção dos chamados autômatos simuladores de vida ou máquinas 
Cibernéticas (Vasconcellos, 2010). 
Para Wiener, o propósito da Cibernética era o de desenvolver uma lingua-
gem e técnicas que permitissem abordar o problema da comunicação e do controle 
em geral. Portanto, considerava que a mensagem era o elemento central, tanto na 
comunicação quanto no controle, ou seja, quando nos comunicamos enviamos uma 
mensagem e, da mesma forma, quando comandamos. A mensagem pode ser 
transmitida por meios elétricos, mecânicos ou nervosos e é considerada uma se-
quência de eventos mensuráveis, distribuídos no tempo (Vasconcellos, 2010). Por 
esta razão, o antropólogo Gregory Bateson, que também participava das conferên-
cias Macy, desenvolve a Teoria da Comunicação que contribui de forma significa-
tiva para a melhoria das máquinas Cibernéticas. A Teoria da Cibernética divide-se 
em Cibernética de 1ª ordem e de 2ª ordem. A Cibernética de 1ª ordem se subdivide 
em 1ª e 2ª Cibernética. 
 
16 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
A 1ª Cibernética trata dos processos morfoestáticos (manutenção da mesma 
forma), resultantes da retroalimentação negativa ou retroação autorreguladora, a 
qual conduz o sistema de volta a seu estado de equilíbrio homeostático, otimizando 
a obtenção da meta. Assim, trata da capacidade de auto-estabilização ou de auto-
manutenção do sistema (Vasconcellos, 2010). Apresenta conceitos de input e ou-
tput, enfatiza a presença do observador fora do sistema e como expert (objetivi-
dade), e a compreensão dos fenômenos ainda está arraigada à causalidade linear 
(estabilidade). 
Assim, nesta 1ª Cibernética emerge o pressuposto da complexidade, que 
reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações e, portanto, busca-se 
contextualizar os fenômenos e explorar os sistemas dos sistemas, entendendo que 
não há uma causalidade linear e sim, circular (Vasconcellos, 2010). 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
 
17 
 
Já a 2ª Cibernética trata dos processos morfogenéticos (gênese de novas 
formas), resultantes de retroalimentação positiva ou retroação amplificadora de 
desvios, amplificação que pode - caso não produza a destruição do sistema e se a 
estrutura do mesmo permitir - promover sua transformação, levando-o a um novo 
regime de funcionamento. Trata da capacidade de auto-mudança do sistema (Vas-
concellos, 2010). Os conceitos de input e output persistem, mas aparece o conceito 
de feedback (criado por Wiener e Bigelow, como já mencionado anteriormente) e 
de causalidade circular retroativa e recursiva. Assim, aqui tem origem o pressu-
posto da instabilidade, o qual baseia-se na noção do mundo como em um processo 
de constante transformação, no qual há a indeterminação e, por isso, alguns fenô-
menos são imprevisíveis e irreversíveis, e, portanto, incontroláveis (Vasconcellos, 
2010). 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
A Cibernética de 2ª ordem também é chamada de Si-Cibernética porque Ed-
gar Morin propôs um movimento que ultrapassasse a Cibernética: a Si-Cibernética. 
O prefixo si é o elemento da preposição grega sun que significa "estar junto",o que 
marca a obrigação recíproca entre as partes. O físico Heinz Von Foster é conside-
rado uma figura central para o desenvolvimento da Si-Cibernética. Ele é responsá-
vel pela noção de sistemas observantes, de acordo com o qual o observador, inclu-
indo-se no sistema que observa, se observa observando (Vasconcellos, 2010). A 
partir da noção de sistemas observantes, a Cibernética tomou a si mesma como 
objeto de estudo e surgiu, então, a Cibernética de 2ª ordem, também chamada de 
 
18 
 
construtivismo ou visão construtivista, pois pressupõe o observador como parte do 
sistema observado (Osorio, 2002; Vasconcellos, 2010). 
Então, a Cibernética de 2ª ordem, também chamada de Cibernética da Ci-
bernética, ou Cibernética novo-paradigmática, apresenta os três pressupostos da 
ciência novo-paradigmática, quais sejam: complexidade, instabilidade e intersubje-
tividade. A noção de complexidade está ligada a sistemas, ecossistemas, causali-
dade circular, recursividade, contradições e pensamento complexo. A ideia de ins-
tabilidade está relacionada à desordem, evolução, imprevisibilidade, saltos qualita-
tivos, auto-organização e incontrolabilidade. O pressuposto da intersubjetividade 
envolve a inclusão do observador, autorreferência, significação da experiência na 
conversação e coconstrução (Vasconcellos, 2010). 
A articulação dos desenvolvimentos da Cibernética que fazem emergir a Si-
Cibernética mudou os pressupostos epistemológicos da ciência tradicional (simpli-
cidade, instabilidade e objetividade), exigindo uma reorganização dos conceitos an-
teriormente elaborados (Barcellos &Moré, 2007). Fala-se então em Pensamento 
Sistêmico, o qual também é chamado de epistemologia sistêmica, de novo para-
digma da ciência (ou paradigma da ciência contemporânea), ou ainda, de episte-
mologia da ciência novo-paradigmática (Vasconcellos, 2010). Todavia, nem tudo o 
que é sistêmico e nem tudo o que se apresenta como Teoria Sistêmica ou Pensa-
mento Sistêmico, pode ser reconhecido como sendo da epistemologia da ciência 
novo-paradigmática; para que seja novo-paradigmático, é necessário que tenha os 
três pressupostos mencionados acima, quais sejam, complexidade, instabilidade e 
intersubjetividade. 
 
Fonte: www.newsrondonia.com.br 
 
19 
 
2.2 A Teoria da Comunicação 
Gregory Bateson (1904-1980), antropólogo inglês, se utilizou das teorias 
acima citadas para desenvolver a Teoria da Comunicação. O autor, junto com seus 
colaboradores de Palo Alto (Califórnia), descreveu a comunicação patogênica na 
família do esquizofrênico e apresentou a hipótese do duplo vínculo, ou seja, uma 
forma de comunicação paradoxal que tem profundas implicações nas relações in-
terpessoais. Bateson fazia uso de analogias, metáforas e histórias por acreditar que 
esses recursos eram um caminho para o estudo das relações (Osório, 2002). 
O processo de comunicação humana abrange uma complexidade de fatores, 
tais como conteúdo, forma e linguagem, os quais estão sempre presentes nos pro-
cessos interrelacionais. 
A Teoria da Comunicação humana, na sua origem, engloba três dimensões: 
a sintaxe, a semântica e a pragmática. A sintaxe se refere à transmissão da infor-
mação; a semântica está relacionada ao significado dos símbolos; e a pragmática 
diz respeito aos aspectos comportamentais da comunicação. A teoria também apre-
senta o conceito da metacomunicação (comunicação sobre a comunicação) e o uso 
de mensagens congruentes ou incongruentes (Watzlawick, Beavin, & Jackson, 
1973). 
 
Fonte: 8m1sdf.blogspot.com.br 
Segundo Watzlawick et al. (1973), invariavelmente as pessoas enviam e re-
cebem uma diversidade de mensagens, sejam elas pelos canais verbais ou não 
verbais, e as mesmas necessariamente modificam ou afetam umas às outras. 
Quando duas pessoas interagem constantemente, reforçam e estimulam o que está 
 
20 
 
sendo dito ou feito, de tal forma que o padrão de comunicação entre os participan-
tes de uma interação define o relacionamento entre eles. Percebe-se, assim, que a 
importância das mensagens não está vinculada somente à questão de comunicar 
algo, mas também, e especialmente, à influência que ela exerce no comportamento 
e nas atitudes das pessoas em interação (Nieweglowski& More, 2008). 
A Teoria da Pragmática da Comunicação Humana afirma que a comunica-
ção afeta o comportamento ocasionando implicações nas relações interpessoais. 
De acordo com Watzlawick et al. (1973), "atividade ou inatividade, palavras ou si-
lêncio, tudo possui valor de mensagem, influencia os outros, e estes outros que, 
por sua vez, não podem não responder a essas comunicações, estão, portanto, 
comunicando também" (p. 45). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
Além disso, Bateson e Watzlawick preconizaram que a teoria também abarca 
os cinco axiomas que são: 1) É impossível não comunicar; 2) Toda comunicação 
tem aspecto de relato (conteúdo) e de ordem (relação); 3) A natureza de uma rela-
ção está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre os 
 
21 
 
comunicantes (cada comportamento é causa e efeito do outro); 4) Os seres huma-
nos se comunicam de maneira digital (comunicação verbal) e analógica (comunica-
ção não-verbal); e 5) Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou 
complementares, e estão baseadas na igualdade ou na diferença (Watzlawick et al. 
1973). 
Bateson concebeu um conceito novo e radical de mente, capaz de superar 
a visão cartesiana. Mente é um fenômeno sistêmico característico dos seres vivos, 
uma característica relacional. A mente não está no cérebro e sim nas relações. 
Também nega a objetividade da realidade quando afirma que o observador traz a 
marca de quem observa. Não existe, portanto, uma realidade objetiva, indepen-
dente do observador (Vasconcellos, 2010), conforme já explicitado no pressuposto 
da intersubjetividade. A compreensão dos padrões comunicacionais que possibili-
tam ou dificultam as relações são de suma importância para aqueles que trabalham 
dentro do paradigma sistêmico. A seguir, serão destacados os principais requisitos 
para a formulação do Pensamento Sistêmico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.youtube.com 
 
 
 
22 
 
2.3 O Enfoque Sistêmico 
 
Fonte: equipeat.com.br 
Os Estados Unidos, que estão agora na terceira geração de terapeutas fa-
miliares, reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias. 
A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias 
escolas de terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de forma-
ção foram criados. 
Para os teóricos da comunicação, qualquer comportamento verbal ou não 
verbal, manifestado por uma pessoa - o emissor -em presença de outra - o receptor 
- é comunicação. Ao mesmo tempo que a comunicação transmite uma informação, 
ela define a natureza da relação entre os comunicantes. Estas duas operações 
constituem, respectivamente, os níveis de relato (digital) e de ordem (analógico) 
presentes em qualquer comunicação. Quando estes dois níveis se contradizem, 
temos o paradoxo. A comunicação paradoxal está na origem da patologia familiar. 
A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio 
são as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras 
são quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido. 
A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema 
familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da famí-
lia. O passado é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o 
 
23 
 
modo comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas 
pessoas para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma 
organização e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do 
sistema com relação a outras partes, de modo que a comunicaçãoanalógica é mais 
enfatizada que a digital. 
Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em 
que assumem que novas experiências - no sentido de um novo comportamento que 
provoque modificações no sistema familiar - é que geram mudanças. Neste sentido 
são usadas prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de comuni-
cação, e prescrições, fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma 
gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma 
certa concentração no problema presente, mas este não é considerado apenas 
como um sintoma. O comportamento sintomático é visto como uma resposta ne-
cessária e apropriada ao comportamento comunicativo que o provocou. 
A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvol-
veram, entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, a de Milão e, mais recente-
mente, a Escora Construtivista. 
2.4 Escola Estrutural 
Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um 
sistema que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O 
sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas. 
As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa 
de cada subsistema e como participa. Para que o funcionamento familiar seja ade-
quado, estas fronteiras devem ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as 
famílias são aglutinadas; fronteiras rígidas caracterizam famílias desligadas. Famí-
lias saudáveis emocionalmente possuem fronteiras claras. 
 
24 
 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente aces-
sível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém 
os dados. A medida em que a terapia evolui, o terapeuta coloca questões, identifica 
os padrões transacionais e as fronteiras, levanta hipóteses sobre os padrões dis-
funcionais e obtém assim um mapa familiar. 
O terapeuta deve ajudar a transformação do sistema familiar, e para isto ele 
se une à família desempenhando o papel de líder, identifica e avalia a estrutura 
familiar, e cria circunstâncias que permitam a transformação da estrutura. As mu-
danças terapêuticas são alcançadas através das operações reestruturadoras, tais 
como: a delimitação de fronteiras, a distribuição de tarefas, o escalonamento do 
stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é uma terapia de ação, e o 
sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma determinada estru-
tura. 
2.5 Escola Estratégica 
Jay Haley é um dos principais teóricos da Escola Estratégica juntamente com 
Jackson, Bateson, Weakland e Watzlawick. 
 
25 
 
Para Haley (1976) o que caracteriza o sistema familiar é a luta pelo poder. 
Ele utiliza o termo estratégico para descrever qualquer terapia em que o terapeuta 
realiza ativamente intervenções para resolver problemas. 
A visão estratégica define o sintoma como expressão metafórica ou analó-
gica de um problema representando, ao mesmo tempo, uma forma de solução in-
satisfatória para os membros do sistema em questão. 
 
Fonte: biosom.com.br 
Nesta abordagem há uma orientação franca para o sintoma e os problemas 
são vistos como dificuldades interacionais que se desenvolvem através da supe-
rênfase ou da subênfase nas dificuldades de viver. A resolução dos problemas re-
quer a substituição dos padrões interacionais. A abordagem terapêutica é pragmá-
tica: trabalham-se as interações e evitam-se os porquês. 
O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São 
utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos 
que, aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que vi-
sam a mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais freqüentemente 
utilizada sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando-se aparente-
mente o comportamento sintomático. Para Watzlawick et al (1967) o uso do para-
doxo leva à substituição do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêu-
tico. 
 
26 
 
2.6 Escola de Milão 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
A principal representante deste grupo é Mara Selvini Palazzoli que, junta-
mente com Boscolo, Ceccin e Prata, fundou em 1967 o Centro para o Estudo da 
Família. Partindo dos mesmos pressupostos teóricos da Escola Estratégica, Palaz-
zoli et al (1980) consideram que os problemas que emergem quando os mapas 
familiares não são mais adequados, ou seja, os padrões de comportamento desen-
volvidos não são mais úteis nas situações atuais. Dada a tendência à homeostase, 
os problemas surgem quando as regras que governam o sistema são tão rígidas 
que possibilitam padrões de interação repetitivos, homeostáticos e vistos como 
"pontos nodais" do sistema. 
Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação 
positiva dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam 
como positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência ho-
meostática do sistema e não os comportamentos. 
Outro tipo de intervenção utilizada pelo grupo de Milão é o ritual familiar, ou 
seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros da família são 
levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário verbal sobre 
as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras substi-
tuem tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta deve 
 
27 
 
ser bastante observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma de-
terminada família. 
2.7 Escola Construtivista 
 
Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br 
No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de segunda 
ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A 
partir da concepção de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-
se que a evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história 
em que, a cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e 
assim sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são conside-
rados como hipercomplexos e indeterminados, instabilidade e a crise ganham um 
novo sentido no sistema familiar. A crise não é mais um risco, mas parte do pro-
cesso de mudanças, assim como o sintoma. 
 
28 
 
 
Fonte: www.psicologiaviva.com.br 
Assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a conside-
rar a autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organi-
zados, da cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados 
por Humberto Maturana (1990). 
Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o 
terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O 
terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas 
no processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no 
sistema. A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para 
aquilo que o sistema permite a ele selecionar e compreender. 
Alguns terapeutas estratégicos podem ser citados como tendo incluído pos-
teriormente na sua prática o modo de pensar construtivista; entre eles, os do grupo 
de Milão. Palazzoli et al (1980) estabelecem três princípios indispensáveis ao tra-
balho terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade. 
 A hipótese formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o 
terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da pri-
meira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir 
todos os membros da família e fornecer uma conjetura que explique a função da 
relação. A circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a ses-
são baseando-se nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação 
 
29que solicitou em termos relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de im-
parcialidade do terapeuta que se alia a cada membro da família, neutralizando qual-
quer tentativa de coalizão ou sedução de qualquer componente do grupo familiar. 
 
Fonte: www.psicologicamentevincular.com 
O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de se-
gunda ordem, questiona portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as in-
tervenções terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na 
construção da interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções 
onde surgem os problemas. 
2.8 O Enfoque Psicanalítico 
 
Fonte: psicologado.com 
 
30 
 
A terapia familiar de enfoque psicanalítico dá ênfase ao passado, à história 
da família tanto como causa de um sintoma, quanto como um meio de transformá-
lo. Os sintomas são vistos como decorrência de experiências passadas que foram 
recalcadas fora da consciência. O método utilizado, na maior parte das vezes, é 
interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da família a tomar consciência 
do comportamento passado, assim como do presente e das relações entre eles. 
Influenciados pelo trabalho estritamente psicanalítico, desenvolvido na Clí-
nica Tavistock de Londres, Pincus&Dare (1978) formulam suas hipóteses que fun-
damentam a prática clínica com famílias e casais a partir de um grande interesse 
na trama inconsciente dos sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem 
os membros de uma família entre si e aos passados individuais e familiar. 
Estes autores interessam-se particularmente pelos efeitos dos segredos e 
dos mitos na dinâmica familiar. Ressaltam que os segredos podem pertencer a um 
membro da família, ou serem, tacitamente, compartilhados com outros; ou, incons-
cientemente, endossados pelos membros da família, de geração para geração, até 
se tornarem um mito. Quando um membro da família desafia um segredo familiar, 
a atitude dos outros membros também muda em relação ao segredo, o conluio é 
rompido e novos fatos e fantasias vêm à tona. A partir da prática clínica Pin-
cus&Dare mostram como os segredos mais freqüentes e mais cuidadosamente es-
condidos são aqueles que nascem de sentimentos ou fantasias incestuosas. 
O enfoque psicanalítico em terapia familiar é denominado por Ruffiot (1981) 
de grupalista e é inspirado na sua teoria e na sua prática, por uma representação 
fantasmática e grupal do indivíduo no seio de sua família. Assim, Ruffiot formula a 
hipótese de um aparelho psíquico familiar a partir do modelo de aparelho psíquico 
grupai de Kaës (1976). Ele estabelece uma relação entre aparelho psíquico do 
grupo familiar e o aparelho psíquico primitivo do recém-nascido, considerando que 
a natureza do psiquismo primário é o fundamento do psiquismo familiar e de todo 
psiquismo grupai. Esta abordagem se baseia numa escuta do funcionamento da 
fantasmática familiar no aparelho psíquico da família, um inconsciente a várias vo-
zes que aparece na associação livre dos membros da família reunidos na sessão. 
 
31 
 
 
Fonte: pt.dreamstime.com 
Eiguer (1984) postula que a família compõe-se de membros que têm, em 
grupo, formas típicas de funcionamento psíquico inconsciente que se diferenciam 
do funcionamento de cada membro. Ele formula o conceito de organizadores gru-
pais para explicar os investimentos recíprocos que ocorrem entre os membros da 
família e, ressalta a fantasia original de castração como determinante da definição 
de diferença sexual, derivando daí a delimitação dos papéis de pai, mãe, irmão, 
irmã. Para Eiguer a fantasia original está na base dos vínculos, sendo portanto ati-
vadora como os investimentos narcísicos e objetais, e favorecendo o reagrupa-
mento interfantasioso. 
Critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico 
 
Fonte: www.casulepsicologia.com.br 
 
32 
 
A palavra "sistema" deriva do grego synhistanai que significa colocar junto. 
O entendimento sistêmico requer uma compreensão dentro de um contexto, de 
forma a estabelecer a natureza das relações. A principal característica da organi-
zação dos organismos vivos é a natureza hierárquica, ou seja, a tendência para 
formar estruturas multiniveladas de sistemas dentro de sistemas. Cada um dos sis-
temas forma um todo com relação as suas partes e também é parte de um todo. A 
existência de diferentes níveis de complexidade com diferentes tipos de leis ope-
rando em cada nível forma a concepção de "complexidade organizada" (Vascon-
cellos, 2010). 
O primeiro dos critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico se refere à 
mudança das partes para o todo, a partir do entendimento de que as propriedades 
essenciais são do todo de forma que nenhuma das partes as possui, pois estas 
surgem justamente das relações de organização entre as partes para formar o todo. 
Outro critério diz respeito à capacidade de deslocar a atenção de um lado para o 
outro entre níveis sistêmicos (Vasconcellos, 2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
O pensamento é contextual, pois a análise das propriedades das partes não 
explica o todo. É ambientalista porque considera o contexto. A ênfase está nas 
relações e não nos objetos, ou seja, os próprios objetos são redes de relações, 
 
33 
 
embutidas em redes maiores. O mundo vivo é entendido como uma rede de rela-
ções. O conhecimento científico é tido como uma rede de concepções e de modelos 
sem fundamentos firmes e sem que um deles seja mais importante do que outros. 
O mundo material é visto como uma teia dinâmica de eventos interrelacionados 
(Vasconcellos, 2010). 
Por fim, o último critério se refere à mudança da ciência objetiva para a epis-
têmica; o método de questionamento torna-se parte integral das teorias científicas. 
A compreensão do processo de conhecimento precisa ser explicitamente incluída 
na descrição dos fenômenos naturais, de forma que tais descrições não são obje-
tivas (Capra, 2006; Grandesso, 2000; Vasconcellos, 2010). 
3 OS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
http://aunipedag.com.br 
3.1 Família Monoparental 
É a família constituída por uma pessoa, independente de sexo, que encon-
tra-se sem companheiro, porém vive com um ou mais filhos. Pode ocorrer do fim 
 
34 
 
de uma família bioparental, ou seja, como ocorre com as viúvas, separadas, ado-
ção, divorciadas e solteiras que a princípio viviam em união estável, ou até mesmo 
em casos de ser por opção. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, prevê a possibilidade, inde-
pendente do estado civil uma pessoa sozinha, tanto o homem quanto a mulher, 
poderá adotar uma criança, e assim se tornar uma família, está disposto no art. 42 
do ECA. 
3.2 Família Nuclear 
Era considerado como único e legítimo modelo de família, onde tinha o ho-
mem, a mulher e seus descendentes. Era o modelo inspirado na Revolução Indus-
trial. 
Refletia a ideia de sociedade dinâmica e mais produtiva. Pois era como um 
núcleo pequeno, onde um chefe provedor do lar, poderia com facilidade resolver 
questões geográficas ou sociais. 
Representando assim, um modelo de sociedade capitalista. 
3.3 Família Reconstituída 
Quando ocorre o divórcio, surge então a chance de uma nova família. Além 
de juntar marido e mulher, também os filhos provenientes de relações anteriores, 
vivendo todos sobre o mesmo teto. Seja proveniente de um novo casamento ou 
uma união estável, os filhos possuem origens distintas quanto a paternidade bioló-
gica. Diante da realidade atual, este modelo tende a aumentar sua incidência. 
3.4 União Estável 
Com advento da Constituição Federal de 1988, a união estável, no passado 
estigmatizada pela expressão de concubinato, em que a mulher era classificada 
vulgarmente como amante ou amásia, foi equiparada à figura de entidade familiar. 
É definida como aquela formada por um homem e uma mulher livre de for-
malidades legais do casamento, com o animus de convivereme constituir família. 
 
35 
 
Em assim sendo, se a união estável é entidade familiar, como também o 
casamento, não há como se fugir da conclusão de que as regras do instituto da 
guarda devem ser aplicadas à união estável. 
3.5 Família Anaparental 
É a convivência de pessoas sem vínculos parentais que convivem por algum 
motivo, possuindo uma rotina e dinâmica que os aproximaram, podendo ser estas 
afinidades sociais, econômicas ou outra qualquer. 
3.6 Família Eudemonistas 
A princípio pode ter uma formação convencional, pais, filhos, mas ao obser-
var sua constituição, nota-se que em seus indivíduos existe pouco apego a regras 
sociais que formulam as famílias mais tradicionais, religião, moral ou política. 
4 PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR 
 
 
Fonte: acessepsicologia.blogspot.com.br 
A terapia familiar e de casal baseia-se no princípio de que os indivíduos e os 
seus problemas são melhor entendidos em contexto relacional e é precisamente 
 
36 
 
neste contexto que podem surgir as soluções para o que não está a acontecer da 
melhor forma. 
Acredita-se, pois, que se surge um problema no contexto familiar ou conju-
gal, é nele mesmo que emergem as soluções para que uma família e um casal 
continuem a evoluir. 
Assim, a terapia familiar e de casal é uma modalidade de psicoterapia que 
procura ajudar os elementos de uma família a identificar e solucionar as dificulda-
des das dinâmicas e comunicação familiar, quando sozinhos já não estão a conse-
guir fazê-lo. 
 
Fonte: www.daquidali.com.br 
O contexto da consulta de terapia familiar e de casal decorre num espaço 
em que na mesma consulta estão presentes vários elementos da família em simul-
tâneo, na tentativa de colocar em comum aquelas que são as dificuldades da famí-
lia/casal, de acordo com a perspectiva de cada elemento para chegar a conclusões 
e soluções comuns. 
Todo este processo é mediado por terapeutas familiares que alinham num 
modelo de psicoterapêutico mais rápido e orientado para os resultados. 
 
37 
 
5 A FAMÍLIA E SUAS FASES 
 
Fonte: www.belasmensagens.com.br 
A família é o lugar de origem da história pessoal de cada um, é o espaço 
privado onde se emergem as relações mais espontâneas. Não podemos escolher 
nossa qualidade de membro na família a não ser, talvez, pelo casamento. Ainda 
que possamos acreditar que é possível deixar de pertencer a uma família, rom-
pendo os laços com a família de origem e não nos enveredando na constituição de 
outra, mesmo assim as lembranças e memórias de um convívio familiar ficarão 
como marcas em nossas histórias, podendo ser acessadas a qualquer momento. 
O ciclo de vida de uma pessoa acontece dentro do ciclo de vida familiar, que 
é o contexto primário do desenvolvimento humano, e suas intersecções vão cons-
tituir a trama da vida familiar. Com isto não há um ponto de partida predeterminado 
para compreender o ciclo familiar. Devemos levar em conta que afamília é como 
um sistema movendo-se através do tempo, não de forma linear, mas como uma 
espiral. 
É possível reconhecer diferentes padrões na organização das famílias ao 
longo do tempo, assim como diversas formas de relacionamento entre seus mem-
bros. Apesar destas diversidades, podemos também observa rmuitas característi-
cas semelhantes ao longo do ciclo de vida das famílias. 
Estas características semelhantes costumam ser chamadas de Fases do Ci-
clo de Vida das Famílias. Conhecer melhor o modo como as famílias enfrentam e 
superam cada fase, tornando visíveis as dificuldades encontradas. O estudo destas 
 
38 
 
Fases aos profissionais e também às famílias com quem trabalham, colaboram no 
entendimento e na busca de ações que contribuam para o seu desenvolvimento. 
Segundo Nahas: 
... quando a abordagem se focaliza também sobre as transições, sobre as 
mudanças descontinuas necessárias para enfrentar novas si 
tuações de vida, há uma escuta. As pessoas percebem que ou podem 
ficar paradas, estacionadas em determinado momento da vida, e isso pro-
voca dor, sintomas em uma pessoa ou disfuncionalidade em toda a famí-
lia. Ou então podem viver as mudanças como coisas previsíveis, aceitá-
veis, e então se tranquilizar (Nahas,1995, p.265). 
 
Desde o começo da década de 50, os estudos de terapia familiar têm utili-
zado conceitos vindos da sociologia para explicar o desenvolvimento do ciclo de 
vida das famílias, tal qual a psicologia o fez com relação ao desenvolvimento do 
indivíduo. Foi em 1980que Mônica McGoldrick e Betty Carter “escreveram sobre a 
sucessão de estágios do ciclo de vida na família americana de classe média, inclu-
indo um enfoque tri-geracional, e descrevendo não só as tarefas de desenvolvi-
mento inerentes a cada estágio, mas também as dificuldades de transição. 
As famílias contemporâneas guardam muitas nuances do que se pode ca-
racterizar como modelo burguês de família: patriarcal, autoritário, monogâmico, pri-
mando pela privacidade, a domesticidade e os conflitos entre sexo e idade. 
 Os modos de vida nas famílias contemporâneas vêm se modificando, ocor-
rendo novas configurações de gênero e gerações, onde se elaboram novos códi-
gos, mas mantem-se certo substrato básico de gerações anteriores (Motta,1998). 
Estas mudanças guardam relação com algumas tendências que emergiram na dé-
cada de 1960 (Castells,2006): 
 O crescimento de uma economia informacional global, 
 Mudanças tecnológicas no processo de reprodução da espécie e 
 O impulso promovido pelas lutas da mulher e pelo movimento femi-
nista. 
 
39 
 
 
Fonte: www.cefatef.com.br 
Destacam-se ainda algumas tendências globais recentes que refletem signi-
ficativas transformações no âmbito familiar (Rizzini,2001): 
 
 As famílias tendem a ser menores, 
 Há menos mobilidade para as crianças, com redução de espaço de 
autonomia das crianças em locais urbanos; 
 As famílias ficam menos tempo juntas, fato associado ao aumento 
significativo do número de integrantes da família que trabalham; 
 As famílias tendem a ser menos estáveis socialmente, como exemplo 
temos o declínio das uniões formais, o aumento dos índices de divór-
cios e separações, assim como de novas uniões; 
 A dinâmica dos papeis parentais e da relação de gênero está mu-
dando intensamente. Homens e mulheres são chamados a desempe-
nhar, cada vez mais, papeis e funções que sempre foram fortemente 
delimitados como sendo dos pais ou das mães. 
 
A tendência atual da família moderna é ser cada vez mais simétrica na dis-
tribuição dos papeis e obrigações, sujeita a transformações constantes, devendo 
ser portanto flexível para poder enfrentar e se adaptar às rápidas mudanças sociais 
inerentes ao momento histórico em que vivemos. 
 
 
 
 
 
40 
 
 
Fonte: institutomindcare.com.br 
A família possui um papel primordial no amadurecimento e desenvolvimento 
biopsicossocial dos indivíduos, apresentando algumas funções primordiais, as 
quais podem ser agrupadas em três categorias que estão intimamente relaciona-
das: 
5.1 Biológicas 
A função biológica principal da família é garantir a sobrevivência da espécie 
humana, fornecendo os cuidados necessários para que o bebê humano possa se 
desenvolver adequadamente. 
5.2 Psicológicas 
Em relação às funções psicológicas podem- se citar três grupos centrais: 
 
 Proporcionar afeto, aspecto fundamental para garantir a sobrevivên-
cia emocional do indivíduo; 
 Servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos 
seres humanos durante seu desenvolvimento, auxiliando-os na supe-
ração das crises vitais pelas quais todos os seres humanos passam 
no decorrer do seu ciclo vital (ex:adolescência); 
 
41 
 
 Criar um ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica 
que sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres hu-
manos. 
5.3 Sociais 
O cerne da função social da família está na transmissão da cultura de uma 
dada sociedade aos indivíduos, bem como na preparaçãodos seus membros para 
o exercício da cidadania. 
É a partir do processo socializador que o indivíduo elabora sua identidade e 
sua subjetividade, adquirindo, no interior da família, os valores, as normas, as cren-
ças, as ideias, os modelos e os padrões de comportamento necessários para a sua 
atuação na sociedade. 
As normas e os valores que introjetamos no interior da família permanecem 
conosco durante toda a vida, atuando como base para a tomada de decisões e 
atitudes que apresentamos no decorrer da fase adulta. 
Além disso a família continua mesmo na etapa adulta a dar sentido às rela-
ções entre os indivíduos, funcionando como um espaço no qual as experiências 
vividas são elaboradas. 
As mudanças que ocorrem no mundo globalizado afetam a dinâmica familiar 
como um todo e de forma particular em cada família considerando seus valores, 
história, composição, cultura e pertencimento social. 
A partir da constituição da família como grupo social, são estabelecidas as 
relações com a sociedade a que ela pertence. Os modos de vida das famílias con-
temporâneas vão se transformando, são criadas novas articulações de gênero e 
geracional, elaborando novos códigos e ao mesmo tempo mantendo certo substrato 
básico de tradição. 
Como cada sociedade tem sua história e sua cultura, são diversas as formas 
de ser família, de criar os filhos, como também são diversos os costumes relativos 
ao matrimônio e aos papeis do homem e da mulher. 
 
 
 
 
42 
 
6 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO DAS FAMÍLIAS 
 
Fonte: setorsaude.com.br 
A avaliação psicológica da família deve ser baseada, como qualquer outro 
processo de avaliação psicológica, em hipóteses desenvolvidas pelo profissional 
sobre o funcionamento do sistema familiar. 
Os métodos de avaliação e entrevista familiar foram desenvolvidos à medida 
que diversas teorias sobre a família surgiram em diferentes paradigmas psicológi-
cos, embora todos se fundamentem na hipótese da influência dos grupos sociais 
na construção do sujeito e no agenciamento de seu comportamento. 
Segundo Féres- Carneiro e Diniz Neto (2012), a entrevista psicológica é a 
técnica mais antiga e a mais valiosa no contexto de investigação, avaliação e inter-
venção clínica. 
A abordagem psicodinâmica foi a primeira a desenvolver e aplicar o olhar 
clinico psicológico em uma situação de entrevista. Autores como Freud, Adler e 
Jung apontaram para a importância do ambiente e do relacionamento familiar para 
a constituição psicológica do indivíduo. 
A terapia de família surgiu orientando-se inicialmente por dois paradigmas: 
a abordagem psicanalítica e a abordagem sistêmica. Conceitos sistêmicos foram 
desenvolvidos à medida que a técnica de entrevista de diagnóstico sistêmico e a 
entrevista evoluíram. 
 
 
43 
 
6.1 Entrevista Circular 
A abordagem sistêmica nos trouxe a entrevista circular, técnica que permite 
interagir com a família, revelando aspectos do seu funcionamento ao focar seus 
aspectos ecossistêmicos. 
A entrevista circular refere-se a um modo específico de desenvolver um pa-
drão de interação entre o terapeuta e a família. Nessa técnica, as questões são 
formuladas com o objetivo de revelar as conexões recorrentes, levando tanto a fa-
mília quanto o terapeuta a desenvolver uma compreensão da situação problema 
em uma visão sistêmica. 
Segundo Féres- Carneiro e Diniz Neto (2012), os terapeutas sistêmicos do 
grupo de Milão esboçaram três princípios para orientar a conduta do: 
Neutralidade: refere-se a atitude do terapeuta de família que não se alia a 
nenhum membro específico, procurando manter –se curioso e aberto sobre os pa-
drões de funcionamento. 
Circularidade: denota a busca de compreensão do enlaçamento dos diver-
sos aspectos de funcionamento da família que revelam a multiplicidade de olhares 
e vivências. 
Hipotetização: refere-se a construção constante de hipóteses centradas na 
circularidade, mantendo uma atitude de curiosidade e abertura, apoiando a neutra-
lidade. 
6.2 Entrevista familiar 
O processo de avaliação e diagnóstico da entrevista familiar é guiado pela 
orientação teórica do clínico. 
Os objetivos de uma entrevista familiar inicial incluem (Féres-Carneiro e Di-
niz Neto,2012): 
 Identificar as variáveis familiares e individuais que podem ter influên-
cia decisiva na situação familiar problemática, 
 Abordar o funcionamento da família, assim como sua dinâmica e de 
seus membros; 
 Conduzir a sessão de tratamento inicial, quando necessário. 
 
 
44 
 
 A entrevista diagnóstica é dividida em três momentos: 
 
Estágio Social- o profissional age criando um setting social e culturalmente 
adequado à família, possibilitando a investigação e a intervenção psicoterapêutica 
inicial. Os aspectos de interação e enquadre são tão importantes quanto o ambiente 
físico, que pode ter o aspecto de uma sala de visita, com mesa, material de brin-
quedo e cadeira para as crianças pequenas, caso necessário (Féres-Carneiro e 
Diniz Neto,2012). 
O rapport inicial pode incluir um tempo de conversação informal e o estabe-
lecimento de relacionamento através de comunicação verbal e não verbal amistosa 
Féres-Carneiro e Diniz Neto,2012). 
 
Estágio de questionamento multidimensional- o profissional investiga o 
motivo da consulta tanto quanto o modo como a família o descreve. 
A apresentação da problemática inicial é frequentemente um estágio confor-
tável para a família que tenderá a descrever a imagem oficial do problema. 
A exploração de visões alternativas dos outros membros da família deve ser 
feita respeitosamente, buscando-se a neutralidade sistêmica. 
Áreas potencialmente problemáticas não repostadas devem ser investiga-
das, pois podem relacionar –se retroativamente com as dificuldades da família na 
área da queixa. 
A resistência em explorar outras áreas talvez esteja presente e surja na 
forma de convite à aliança com o terapeuta ou com a injunção para que ele aplique 
soluções preestabelecidas para o problema. É importante evitar confronto, já que a 
resistência pode ser compreendida como a comunicação silenciosa de áreas pro-
blemáticas de tensão que estão acima da possibilidade de manejo da família. 
A abordagem de áreas problemáticas deve ser realizada com cuidado e res-
peito, apontando- se a necessidade de compreender amplamente o problema e de 
demonstrar que o ponto de vista de todos é importante. 
 
Desenvolvimento- diversas técnicas podem ser utilizadas para explorar a 
estrutura, o desenvolvimento e as questões emergentes do ciclo familiar. Elas cor-
respondem às condições nas quais se realiza a entrevista, bem como à orientação 
teórica e à habilidade técnica do entrevistador. 
 
45 
 
Féres-Carneiro e Diniz neto (2012), ao estudar os métodos de avaliação fa-
miliar propõe a classificação em métodos objetivos, subjetivos e mistos, apontando 
ainda a possibilidade de utilização de testes psicológicos que, por sua constituição 
poderiam ser adequadamente utilizados em processos de atendimento familiar. 
 
Os métodos objetivos classificam-se em dois grupos: 
 Métodos que utilizam questionários 
 Métodos que utilizam jogos 
 
Os métodos subjetivos por sua vez se classificam em três grupos: 
 Métodos que utilizam técnicas de desenhos 
 Métodos que se baseiam em técnicas psicodramáticas, 
 Métodos que utilizam testes projetivos. 
 
Entre as técnicas mistas, estão: 
 A tarefa familiar 
 A entrevista estruturada de watzlawick 
 A primeira entrevista de Satir 
 A entrevista familiar via videoteipe 
 A entrevista diagnóstica conjunta 
 A entrevista familiar estruturada 
 
 
Fonte: www.pharmadouro.com 
 
46 
 
A atuação terapêutica apropriada deriva-se de um diagnóstico compreendido 
como um conjunto de hipóteses úteis e produtivas. À medida que um diagnóstico 
familiar emerge distinções de condições permitem ao terapeuta realizar indicações 
gerais de tratamento conforme o universo possível.A avaliação familiar é, contudo um processo continuo que orienta o clinico 
em cada sessão. 
Cabe ressaltar que a construção de hipóteses na prática clínica é sempre 
um processo de reavaliação, já que as hipóteses podem sempre se alterar, por não 
refletirem a especificidade da família ou por serem transformadoras, levando a no-
vas dinâmicas e reestruturações. 
7 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO FAMILIAR APROVADO PELO CFP: 
 
Fonte: www.clinicaalamedas.com.br 
Entrevista familiar estruturada(EFE): constitui-se em um processo de ava-
liação intergeracional entre o entrevistador e os membros da família. 
O avaliador procura durante a entrevista, investigar dimensões relativas a 
comunicação, regras, papéis, liderança, conflitos etc., por meio de tarefas verbais 
e não verbais. Trata-se de um método clínico que busca realizar um diagnóstico 
interacional da família (Teodoro,2012). 
 
Inventário de Estilos parentais(IEP): visa avaliar as práticas educativas e 
está disponível em três versões: do filho em relação à mãe, do filho em relação ao 
 
47 
 
pai e dos pais em relação ao filho. As questões do IEP são respondidas por meio 
da seguinte escala: nunca (0), às vezes(1) e sempre (2). 
Esse instrumento é composto por 42 questões, abordando sete práticas edu-
cativas, sendo duas positivas (monitoria positiva e comportamental moral) e cinco 
negativas (negligência, punição inconsistente, monitoria negativa, abuso físico e 
disciplina relaxada). 
 
Inventário de percepção de suporte familiar(IPSF): Escala do tipo likert 
de três pontos que investiga três características de suporte familiar (Teodora,2012): 
 Afetivo consistente- avalia a expressão de afetividade entre os membros 
familiares, incluindo proximidade, clareza nas regras intra-familiares, consis-
tência de comportamentos e verbalizações na resolução de problemas. 
 Adaptação familiar- composto por itens referentes a sentimentos e compor-
tamentos negativos em relação à família. 
 Autonomia- investiga relações de confiança, liberdade e privacidade entre 
os membros. 
 
Roteiro de entrevista de habilidades sociais educativas parentais: re-
fere-se ao conjunto de habilidades sociais dos pais utilizado na prática educativa 
dos filhos e engloba comportamentos como comunicação, expressão dos senti-
mentos e estabelecimento de limites. 
O roteiro é apresentado no formato de escala likert de três pontos e visa a 
identificar as habilidades de familiares de crianças na pré-escola, sendo composto 
por categorias de comportamentos, incluindo temas como manter conversação, ex-
pressar sentimentos, demonstrar carinho, etc. (Teodoro,2012). 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
8 O QUE É UM CASAMENTO BOM OU UM BOM CASAMENTO ? 
 
Fonte: www.zankyou.com 
A ideia do que seja efetivamente uma boa união, se transforma através dos 
tempos. No período dos povos nômades e mais tarde, no período da agricultura os 
conceitos de família eram totalmente diferentes. No século XVIII, no período do 
romantismo, por razões econômicas e políticas começa a surgir o modelo do casal 
onde o homem é o provedor e a mulher é a que cuida dos assuntos relacionados a 
afetos e emoções. Aí se iniciam as construções sociais como: a rainha do lar, o 
instinto materno, etc., que estão muito bem representados e apresentados em fil-
mes da década de 50. Aquele era e “é” ainda o casamento perfeito, ao menos em 
nosso imaginário. E, nós ficamos desesperadamente tentando realizá-lo da ma-
neira que, em verdade, só existe nos filmes. 
Isto ocorre através das transmissões de valores culturais atualizada princi-
palmente pelas mães. Mas somente a partir da decepção na relação com o cônjuge 
é que se torna possível uma nova construção. Uma nova narrativa. 
 
49 
 
 
Fonte: revistamarieclaire.globo.com 
Um grande marco na mudança de padrões ocorre na década de 70 com a 
revolução sexual e o advento da pílula anticoncepcional. É quando a mulher con-
segue separar o sexo da reprodução. O feminismo surge com força total. A partir 
daí também começa a crescer o homossexualismo. Surge a fertilização in vitro, a 
fecundação artificial, enfim as novas, diferentes e variadas formas de procriação. 
Nos últimos 10 anos a ciência e a tecnologia avançaram mais que em toda 
a história da humanidade! Mas, com todas estas mudanças e transformações, pa-
rece que a narrativa permanece na década de 50. O modelo de família ideal. 
Na verdade os problemas não existem! Existem os fatos. É a maneira de 
lidar com eles que vai torná-los ou não um problema. Que vai permitir a transfor-
mação ou a dissolução do problema. O trabalho do terapeuta está em criar novas 
narrativas, isto é, ampliar o campo perceptual e transformar a gestalt, possibilitando 
ao cliente novas alternativas. Novas escolhas. 
Somente as pessoas que conseguem fugir do padrão podem criar. Seguir o 
modelo é extremamente castrador e desvitalizante. 
 
50 
 
 
Fonte: somostodosum.ig.com.br 
 Cabe ao terapeuta conseguir intervir nas narrativas ao modo da família e 
não partindo do padrão dele, terapeuta. O terapeuta não deve funcionar como re-
gulador social, mas sim como um facilitador das possibilidades e dos novos arranjos 
plausíveis de serem criados pela família ou pelo casal. 
Para tanto, passeamos juntos com a família pelas construções individuais de 
saúde, dinheiro, fidelidade, decepção, gênero, filhos, ciclo-vital, idade, família de 
origem, cultura, raça, religião, etc. 
Trabalhamos então com os estressores verticais e horizontais: 
 
 Estressores Verticais: 
 Padrões 
 Mitos 
 Segredos e legados familiares 
 Estressores Horizontais: 
Desenvolvimentais (Transições do Ciclo de Vida) 
Imprevisíveis (Morte, doença crônica, acidente) 
 
 
 
51 
 
9 SEGREDO NA FAMÍLIA 
 
 Fonte: pensandoemfamilia.com.br 
 
O segredo familiar aprisiona os indivíduos nas histórias por não se poder 
falar sobre elas. Paralisa o tempo familiar. 
 O segredo nas palavras de Bernstein (apud Fernández, 1990, p. 101), “trata-
se de informações vinculadas com a história do grupo familiar ou aspectos particu-
lares de um de seus membros que, em geral, são ocultados parcialmente, com a 
certeza de que não são desconhecidos por outros integrantes”. “Complementando, 
IMBER-BLACK (1994) afirma que” é um fenômeno sistêmico. Ele está ligado ao 
relacionamento, molda as díades, forma triângulos, aliança encoberta, divisões, 
rompimentos, define limites de quem está ‘dentro’ e de quem está ‘fora’. 
O segredo traz em si dualidades inseparáveis. Ele é ao mesmo tempo indis-
pensável e temido, colore e sufoca, protege e invade, nutre e consome. Existem 
diversos temas que podem se transformar em grandes segredos num núcleo fami-
liar. Podem estar relacionados a: nascimento, adoção, origem familiar, infertilidade, 
aborto, doenças físicas ou mentais, orientação sexual e sexualidade, incesto, estu-
pro, violência, adicções, religião, casamento com pessoas de diferentes raças ou 
religiões, terrorismo, comportamento em tempo de guerra, divórcio, situação como 
imigrante, suicídio, morte. 
 
52 
 
Não existe garantia quanto ao resultado na revelação de um segredo. Esta 
pode ser de efeito curativo ou de risco, assim como promover reconciliação ou di-
visão. 
 
Fonte: emsegredo.blogs.sapo.pt 
A postura quanto a revelação de um segredo varia de terapeuta para tera-
peuta. Os segredos têm efeitos físicos intra e interpessoais extremamente nocivos 
ao bem-estar individual. Mas sem dúvida ele impõe o grande desafio da escolha 
entre a revelação ou a não revelação e tudo que pode advir de qualquer uma das 
escolhas. 
Por ser um fenômeno sistêmico, está ligado ao relacionamento, moldam dí-
ades, formam triângulos, alianças encobertas, divisões, rompimentos. Definem li-
mites de quem está dentro e quem está fora. Calibram a intimidade e o distancia-
mento nos relacionamentos. Eles tambémenvolvem um grande conflito de leal-
dade, se tornando extremamente restritivo. 
Neste caso, a terapia permite aos participantes desenvolverem definições 
novas e expandidas de lealdade tanto cognitiva quanto experiencialmente. 
Existem segredos que podem ser considerados como positivos ou negativos. 
Chamaremos de segredos positivos os segredos temporários como os relaciona-
dos a presentes que serão oferecidos ou os que antecedem a rituais. Também se 
enquadram nesta categoria os segredos dos adolescentes que objetivam autono-
mia e diferenciação. Um outro caso seria os segredos “carinhosos” que visam pou-
par vulnerabilidades. 
 
53 
 
 
Fonte: formulasdaimaginacao.blogspot.com.br 
Os segredos negativos são os segredos nocivos ou que envolvem riscos 
como o abuso físico ou sexual. São também segredos de longa duração e envolvem 
ações ocorridas no passado, que permanecem vivas no presente. É importante res-
saltar que os segredos que envolvem risco necessitam de ação imediata 
do terapeuta. Os segredos negativos exigem trabalho cuidadoso e senso de opor-
tunidade para o momento de revelação e possibilidade da família em lidar com as 
consequências. 
Qualquer segredo pode ter múltiplos significados para os diferentes mem-
bros da família. Podem significar proteção, traição, diferenciação, autonomia, etc. 
Podemos citar como exemplo um caso de infidelidade conjugal que pelo marido 
pode ser entendido como autonomia e pela mulher, percebido como traição. Outro 
exemplo seria num caso de adoção não revelada que pode ser sentido pela mãe 
como proteção, pelo pai como insegurança e pelo filho adotivo como traição. 
 
54 
 
 
Fonte: regisaeculorumimmortali.wordpress.com 
Na revelação, se faz necessária a criação de um ambiente capaz de conter 
e possibilitar a expressão dos significados múltiplos e disparatados vinculados ao 
segredo e à sua manutenção. O segredo afeta diretamente a comunicação na fa-
mília e desta com o mundo. O estilo de comunicação da família pode se tornar 
marcado pelo fato de precisar manter o segredo até em áreas distantes do segredo 
original. Um exemplo disso seria uma mãe, numa roda de amigas, conversando 
sobre a gestação e o parto de um filho que sigilosamente é adotado. 
Sendo assim, a manutenção da mentira fomenta mentiras deliberadas, infor-
mações retidas, sentimento de culpa, sentimento de desconfiança, distorce os pro-
cessos de comunicação tornando os indivíduos “cegos, surdos e mudos”, afeta a 
aprendizagem/curiosidade e finalmente, o que é de suma importância, dificulta o 
acesso aos recursos necessários e disponíveis para transformação da situação ou 
manejo do sintoma. 
Os sintomas mais frequentemente encontrados na situação de segredo são: 
 O próprio sintoma como segredo. Neste caso se incluem o alcoolismo, 
as drogas, as doenças mentais, a anorexia. A negação do sintoma 
dificulta a busca de recursos para manejo do sintoma e dos efeitos. 
 Sintoma como disfarce. Objetiva deslocar o foco do problema do se-
gredo propriamente dito para o sintoma. 
 
55 
 
 O sintoma da ansiedade e da culpa sempre presentes como resul-
tante da manutenção do segredo, com todo custo que esta manuten-
ção envolve. Como exemplo podemos pensar no esforço exigido no 
controle do rumo das conversas para que o assunto não chegue pró-
ximo à questão em segredo. 
 
 
Fonte: www.sobrerelacionamento.com 
9.1 Segredo e Privacidade 
 
Fonte: www.curapessoal.com 
É importante destacar a diferença entre segredo e privacidade. Estas defini-
ções variam também de acordo com o contexto. Variam com a época, a cultura, de 
 
56 
 
família para família, de pessoa para pessoa. A grosso modo poderíamos pensar 
que segredo envolve medo e ansiedade frente à sua revelação enquanto privaci-
dade seria mais uma questão de se sentir ou não confortável em revelar uma situ-
ação. Podemos também nos nortear pelo fato de que o que é íntimo pertence a 
uma pessoa só e que o segredo envolve outros também. Eu diria que meu nortea-
dor seria a pergunta: “Quem tem direito à informação? 
A Prática 
Alguns norteadores podem se tornar extremamente úteis. 
 
Passo 1 - Localização do Segredo 
Quantas pessoas participam do segredo? Duas ou mais pessoas? Quem 
são? 
Duas ou mais pessoas da família nuclear. Localização de triângulos e obri-
gações de lealdade. 
Uma pessoa da família e alguém de fora. Ex: 1- Um caso extraconjugal. 2-
Uma pessoa e um profissional de saúde. 
Somente entre os membros da família nuclear. Neste caso o segredo molda 
a relação com o mundo externo, contribui para o senso de unidade e isola de mai-
ores possibilidades de relações e recursos. 
Entre os membros, mas todos “fingem” que não sabem. Distância e divide 
as pessoas. 
De fora do núcleo familiar para dentro. Ex: 1- Diagnósticos médicos ocultos. 
2- Registros de saúde de uma criança adotada que não são passados para a família 
adotiva. 3- Questões políticas de instituições ou governamentais. 
 
Passo 2 - Revelação do segredo 
Construção de ambiente suficientemente seguro. 
Saber quem mais conhece e qual seria sua posição em revelar o segredo. 
Saber as consequências imaginadas. Dificilmente há este espaço de discus-
são anterior ao espaço terapêutico. Geralmente o que pensam a este respeito é 
mantido em segredo. Ouvir tais previsões cheias de temor permite ao terapeuta 
trabalhar no sentido de oferecer potencial para resultados mais positivos. 
 
57 
 
A partir do momento em que resultados mais positivos possam ser conside-
rados o terapeuta pode então realizar uma intervenção direta com relação à reve-
lação. Saber sobre os temores permite ao terapeuta propor o planejamento de es-
tágios subsequentes do trabalho pensando junto com a família sobre onde, como, 
quando, com quem e por quem a revelação pode se dar. 
 
Passo 3 - Restauração das consequências 
Após a revelação é necessário ainda um trabalho visando a possibilidade de 
expressão e contenção das diferentes respostas e reações relativas a este desve-
lamento. Se isto não for feito, corre-se o risco de um novo segredo se formar com 
relação a como os membros da família sentem-se acerca do conteúdo do segredo. 
É sempre muito mais fácil recuperar a confiança quando existe a intenção 
de proteção por trás do segredo. O oposto ocorre nos casos onde a intenção passa 
pelo abuso do poder ou pelo dano físico. De uma maneira geral, a revelação de um 
segredo facilita a emergência de outros. 
Não se pode pensar de uma maneira simplista que apenas a revelação de 
um segredo oferece a dissolução do problema. Quando certos segredos são reve-
lados, precisamos estar disponíveis a longo prazo para atender as demandas que 
possam vir a surgir. 
10 O TERAPEUTA 
 
Fonte: www.relacoessaudaveis.com.br 
 
58 
 
 O terapeuta necessita antes de tudo afirmar sua própria posição ética 
com relação a manter ou revelar um segredo familiar. 
 A família também tem direito a conhecer a posição do terapeuta não 
devendo esta conter um segredo em si mesma. 
 O terapeuta precisa ter flexibilidade e estar constantemente desafi-
ando suas próprias posições. 
 Quando o segredo é nocivo ou perigoso, se faz necessário estar 
atento a um presumível direito de esconder que pode emergir do ilici-
tamente poderoso da família, como se fosse em benefício do mais 
vulnerável. 
 É a equidade nos relacionamentos que toda terapia almeja, que res-
palda o direito de saber o que afeta nossas vidas e o direito de dar 
voz à dor mais profunda. 
 
Fonte: pt.dreamstime.com 
 
 
 
59 
 
11 BIBLIOGRAFIA 
BARCELLOS, W. B. E., &Moré, C. L. O. O. (2007). Profissionais trabalhando com 
famílias em situação de violência intrafamiliar: Como a abordagem sistêmica 
pode ajudar? (Resumo expandido). Ciência, Cuidado e Saúde, 6(1). 
BÖING, E., Crepaldi, M. A., &Moré, C. L. O. O. (2009). A epistemologia sistêmica 
como substrato à atuação do psicólogo

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