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SABER DIREITO – FORMULÁRIO TÍTULO DO CURSO Direitos e Garantias Fundamentais PROFESSOR João Alexandre Viegas QUALIFICAÇÃO Professor de Direito Constitucional AULA 01 TÍTULO Teoria Dimensional ROTEIRO DE ESTUDO 1. Teoria das Gerações dos Direitos Fundamentais (ou dimensões) Num primeiro momento, é de se ressaltarem as fundadas críticas que vêm sendo dirigidas contra o próprio termo “gerações”, já que o reconhecimento progressivo dos novos direitos fundamentais tem o caráter de um processo cumulativo, de complementaridade, e não de alternância, de tal sorte que o uso da expressão “gerações” pode ensejar a falsa impressão da substituição gradativa de uma geração por outra, razão pela qual há quem prefira o termo “dimensões” dos direitos fundamentais, posição esta que aqui optamos por perfilhar, na esteira da mais moderna doutrina. (pág. 258 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) … a “teoria dimensional” dos direitos fundamentais não aponta, tão somente, para o caráter cumulativo do processo evolutivo e para a natureza complementar de todos os direitos fundamentais, mas afirma, para além disso, sua unidade e indivisibilidade no contexto do direito constitucional interno e, de modo especial, na esfera do moderno “Direito Internacional dos Direitos Humanos”. Além disso, assim como não se pode falar em modelos uniformes de Estado e Constituição, visto que se trata de categorias de conteúdo muito variável e que não experimentaram um processo evolutivo linear (por exemplo, muitos Estados, em pleno século XXI, ainda não vivenciaram o Estado Social, embora possam – e mesmo assim, várias vezes nem isso – terem consagrado formalmente nos textos constitucionais), também a evolução do reconhecimento jurídico-positivo dos direitos humanos e fundamentais não se revela uniforme. Com efeito, segue havendo constituições que não contemplam uma série de direitos fundamentais, notadamente os assim chamados direitos sociais da segunda dimensão, ao passo que outros diplomas constitucionais já asseguram direitos até mesmo à vida não humana. (pág. 259 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) … se trata apenas de um modo de apresentação da trajetória evolutiva, que não afasta a integração e interdependência entre todos os direitos humanos e fundamentais. (pág. 260 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) 1.1. Os direitos fundamentais de primeira geração Em rigor, o lema revolucionário do século XVIII, esculpido pelo gênio político francês, exprimiu em três princípios cardeais todo o conteúdo possível dos direitos fundamentais, profetizando até mesmo a sequência histórica de sua gradativa institucionalização: liberdade, igualdade e fraternidade. (pág. 576/577 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) ... Os direitos fundamentais passaram na ordem institucional a manifestar-se em três gerações sucessivas, que traduzem sem dúvida um processo cumulativo e qualitativo, o qual, segundo tudo faz prever, tem por bússola uma nova universalidade: a universalidade material e concreta, em substituição da universalidade abstrata e, de certo modo, metafísica daqueles direitos, contida no jusnaturalismo do século XVIII. (pág. 577 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Enfim, se nos deparam direitos da primeira, segunda e terceira gerações, a saber, direitos da liberdade, da igualdade e da fraternidade, conforme tem sido largamente assinalado, com inteira propriedade, por abalizados juristas. Haja vista a esse respeito a lição de Karel Vasak na aula inaugural de 1979 dos Cursos do Instituto Internacional dos Direitos do Homem, em Estrasburgo. (pág. 577 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Os direitos da primeira geração são os da liberdade, os primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente. (pág. 577 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Os direitos da primeira geração ou direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é o seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado. (pág. 578 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Entram na categoria do status negativus da classificação de Jellinek e fazem também ressaltar na ordem dos valores políticos a nítida separação entre Sociedade e Estado. Sem o reconhecimento dessa separação, não se pode aquilatar o verdadeiro caráter antiestatal dos direitos da liberdade, conforme tem sido professado com tanto desvelo teórico pelas correntes do pensamento liberal de teor clássico. (pág. 578 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) São por igual direitos que valorizam primeiro o homem-singular, o homem das liberdades abstratas, o homem da sociedade mecanicista que compõe a chamada sociedade civil, da linguagem jurídica mais usual. (pág. 578 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) 1.2. Os direitos fundamentais da segunda geração São direitos sociais, culturais e econômicos bem como direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal do século XX. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula. (pág. 578 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Da mesma maneira que os direitos de primeira geração, esses direitos foram inicialmente objeto de uma formulação especulativa em esferas filosóficas e políticas de acentuado cunho ideológico; uma vez proclamados nas Declarações solenes das Constituições marxistas e também de maneira clássica no constitucionalismo da social-democracia (a de Weimar, sobretudo), dominaram por inteiro as Constituições do segundo pós-guerra. (pág. 578 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) 1.3 Os direitos fundamentais de terceira geração ... Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos de terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. (pág. 584 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) A teoria com Vazak e outros, já identificou cinco direitos da fraternidade, ou seja, de terceira geração: o direito ao desenvolvimento, a direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. (pág. 584 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Decisão do STF a respeito das gerações de direitos fundamentais: “Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados,enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.” (MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-10-1995, Plenário, DJ de 17-11-1995.) 1.4. Os direitos de quarta e quinta geração A globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos da quarta geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social. São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. (pág. 585/586 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) A democracia positivada enquanto direito de quarta geração há de ser, de necessidade, uma democracia direta. (pág. 586 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) 1.4.1 A quinta geração dos direitos fundamentais A concepção da paz no âmbito da normatividade jurídica configura um dos mais notáveis progressos já alcançados pela teoria dos direitos fundamentais. Karel Vasak, o admirável precursor, ao coloca-lo no rol dos direitos da fraternidade – a saber, da terceira geração -, o fez, contudo, de modo incompleto, teoricamente lacunoso. Não desenvolveu as razões que a elevam a categoria de norma. Sobretudo aquela que lhe conferem relevância pela necessidade de caracterizar e encabeçar e polarizar toda uma nova geração de direitos fundamentais, como era mister fazer, e ele não o fez. O direito à paz caiu em um esquecimento injusto por obra, talvez da menção ligeira, superficial, um tanto vaga, perdida os direitos de terceira geração. (pág. 594 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) O direito à paz é concebido ao pé da letra qual o direito imanente à vida, sendo condição indispensável ao progresso de todas as nações, grande e pequenas, em todas as esferas. (pág. 595 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) A quinta geração dos direitos fundamentais corresponde à paz. (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 516) 1.4.2 A visualização da paz enquanto direito da quinta geração Karel Vasak o classificara entre os direitos da fraternidade, fazendo avultar, acima de todos, o direito ao desenvolvimento; o mais característico, portanto, em representar os direitos da terceira geração. Tão característico e idôneo quanto a liberdade o fora em relação aos da primeira geração, a igualdade aos da segunda, a democracia aos da quarta, e doravante a paz há de ser com respeito aos da quinta. (pág. 598 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) De último, a fim de acabar com a obscuridade a que ficara relegado, o direito à paz está subindo a um patamar superior, onde, cabeça de uma geração de direitos humanos fundamentais, sua visibilidade fica incomparavelmente maior. (pág. 598 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) O novo Estado de Direito das cinco gerações de direitos fundamentais vem coroar, por conseguinte, aquele espírito de humanismo que, no perímetro da juridicidade, habita as regiões sociais e perpassa o Direito em todas as suas dimensões. (pág. 598 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) A dignidade jurídica da paz deriva do reconhecimento universal que se lhe deve enquanto pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de conservação da espécie, reino de segurança dos direitos. (pág. 598 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) Tal dignidade unicamente se logra, em termos constitucionais, mediante a elevação autônoma e paradigmática da paz a direito de quinta geração. (pág. 599 – Paulo Bonavides – Curso de Direito Constitucional 29ª edição) 1.4.3 Posição de outros autores quanto aos direitos de quarta e quinta geração Além da posição de Paulo Bonavides, que, consoante visto, advoga ser a democracia direta (participativa) o eixo da quarta dimensão, ao passo que o direito à paz poderia ser reconduzido a uma quinta dimensão, podem ser identificadas outras propostas que agregam uma quarta ou mesmo uma quinta dimensão às convencionalmente reconhecidas três dimensões. Dentre tais propostas, colaciona-se, em caráter ilustrativo, a de José Alcebíades de Oliveira Júnior, para quem, com base na dinâmica da sociedade tecnológica, a quarta geração dos direitos incluiria os direitos relacionados ao domínio da biotecnologia e bioengenharia, os quais, por tratarem de questões ligadas à vida e à morte, requerem uma discussão ética prévia, ao passo que a quinta geração diz respeito ao campo da cibernética e da tecnologia da informação e comunicação de dados, que apresenta como característica comum a superação das fronteiras mediante o uso da internet e outras ferramentas. (nota de rodapé: Oliveira Júnior, José Alcebíades de. Teoria jurídica e novos direitos, p. 83 e ss.) (pág. 265 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) … Mas já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo. Quais são os limites dessa possível (e cada vez mais certa no futuro) manipulação? Mais uma prova, se isso ainda fosse necessário, de que os direitos não nascem todos de uma vez. Nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando o aumento do poder do homem sobre o homem — que acompanha inevitavelmente o progresso técnico, isto é, o progresso da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros homens — ou cria novas ameaças à liberdade do indivíduo ou permite novos remédios para as suas indigências: ameaças que são enfrentadas através de demandas de limitações do poder; remédios que são providenciados através da exigência de que o mesmo poder intervenha de modo protetor. (Norberto Bobbio – A Era dos Direitos – Editora Campus/Elsevier - Página 9) Referimo-nos aos direitos fundamentais de quarta geração, relativos à saúde, à informática, softwares, biociências, eutanásia, alimentos transgênicos, sucessão de filhos gerados por inseminação artificial, clonagens, dentre outros acontecimentos ligados à engenharia genética. (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 516) Os direitos de quarta geração estão em fase de definição e ainda não despertaram consenso entre os estudiosos. Seriam, para uns, desdobramentos da terceira geração, com o destaque necessário para a vida permanente e saudável na e da Terra, compondo os direitos intergeracionais a uma vida saudável ou a um ambiente equilibrado... Reconhecem-se os direitos à vida das gerações futuras; a uma vida saudável e em harmonia com a natureza e o desenvolvimento sustentável (Tehrarian, 1997 a e b; Shabecoff, 1996). Também incluiriam limites ou restrições aos avanços da ciência e especialmente da biotecnologia nos domínios da interferência com a liberdade, a igualdade e a dignidade humanas. Assim, temos os direitos bioéticos ou biodireitos, referidos à manipulação genética, à biotecnologia e à bioengenharia. (Direitos Fundamentais – José Adércio Leite Sampaio – 2ª Edição - pág. 278/279) De outra parte, em obra conjunta com Celso Bastos publicada em 2000, havia indicado esta quarta dimensão como composta por um direito universal ao desarmamento nuclear, como forma de preservação da própria espécie humana, o direito à não intervenção genética (como a replicação na espécie) e o direito a uma democracia participativa (Bonavides). (Curso de Direito Constitucional – André Ramos Tavares – 12ª Edição – pág. 355) … há quem fale já de uma quinta geração dos direitos humanos com múltiplas interpretações. Tehrarian (1997 a e b) diz sobre “direitos ainda a serem desenvolvidos e articulados”, mas que tratam do cuidado, compaixão e amor por todas as formas de vida... (Direitos Fundamentais – José Adércio Leite Sampaio – 2ª Edição - pág. 278/279) 1.4.4Proposta de uma sexta dimensão (ainda não reconhecida pela doutrina) Afirma-se, agora, a existência de uma sexta dimensão de direitos fundamentais. A água potável, componente do meio ambiente ecologicamente equilibrado, exemplo de direito fundamental de terceira dimensão, merece ser destacada e alçada a um plano que justifique o nascimento de uma nova dimensão de direitos fundamentais. (Fonte: FACHIN, Zulmar; SILVA, Deise Marcelino. Direito fundamental de acesso à água potável: uma proposta de constitucionalização. http://www.stf.jus.br/arquivo/biblioteca/NovasAquisicoes/2011- 07/892910/sumario.pdf) Confusão feita pelo autor Uadi Lammêgo Bulos, interpretando os direitos de quarta geração de Paulo Bonavides como de sexta dimensão: Os direitos fundamentais de sexta geração correspondem à democracia, à liberdade de informação, ao direito de informação e ao pluralismo político. (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 517) 2. Teoria dos quatro status dos direitos fundamentais (Jellinek) ... publicista alemão George Jellinek, tendo sido formulada no final do século XIX, portanto, ainda fortemente impregnada de elementos do Estado Liberal, mas que mesmo assim foi precursora da evolução posterior. De maneira sumária, para Jellinek, designadamente a partir de sua obra intitulada “Sistema dos Direitos Subjetivos Públicos” (System der subjektiv offentlichen Rechte), o indivíduo, como vinculado a determinado Estado, encontra sua posição relativamente a este cunhada por quatro espécies de situações jurídicas (status), seja como sujeitos de deveres, seja como titular de direitos. No âmbito do status passivo (status subjectionis), o indivíduo estaria subordinado aos poderes estatais, sendo, neste contexto, meramente detentor de deveres, de modo que o Estado possui a competência de vincular o cidadão juridicamente por meio de mandamentos e proibições. O status negativus consiste numa esfera individual de liberdade imune ao jus imperii do Estado, que, na verdade, é poder juridicamente limitado. O terceiro status referido por Jellinek é o assim denominado status positivus (ou status civitatis), no qual ao indivíduo é assegurada juridicamente a possibilidade de utilizar-se das instituições estatais e de exigir do Estado determinadas ações positivas. Por fim encontra-se o chamado status activus, no qual o cidadão passa ser considerado titular de competências que lhe garantem a possibilidade de participar ativamente da formação da vontade estatal, como, por exemplo, pelo direito de voto. (pág. 299/300 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) RESUMO FINAL - Os direitos fundamentais de primeira geração - Os direitos fundamentais da segunda geração - Os direitos fundamentais de terceira geração - Os direitos de quarta e quinta geração - Proposta de uma sexta dimensão (ainda não reconhecida pela doutrina) - Teoria dos quatro status dos direitos fundamentais (Jellinek) AULA 02 TÍTULO Características ROTEIRO DE ESTUDO 2. Caracteres dos direitos fundamentais Esse tema desenvolveu-se à sombra das concepções jusnaturalistas dos direitos fundamentais do homem, de onde programa a tese de que tais direitos são inatos, absolutos, invioláveis (intransferíveis) e imprescritíveis. (pág.182/183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) a) Universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica. (Alexandre de Moraes –Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) O traço da universalidade deve ser compreendido em termos. Não é impróprio afirmar que todas as pessoas são titulares de direitos fundamentais e que a qualidade de ser humano constitui condição suficiente para a titularidade de tantos desses direitos. Alguns direitos fundamentais específicos, porém, não se ligam a toda e qualquer pessoa. Na lista brasileira dos direitos fundamentais, há direitos de todos os homens - como o direito à vida -, mas há também posições que não interessam a todos os indivíduos, referindo-se apenas a alguns – aos trabalhadores, por exemplo. (pág. 142/143 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Os direitos fundamentais caracterizam-se pela universalidade, ou seja, são direitos que valem em todos os lugares, em todos os tempos e são aplicáveis a todas as pessoas. Tal característica passou a ser destacada depois da Segunda Guerra Mundial, tendo sido prevista de modo expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Proclamação de Teerã (1968) e na Declaração e Programa de ação de Viena (1993). A universalidade dos direitos fundamentais pode conflitar com direitos, também fundamentais, de grupos minoritários e de culturas diferentes da ocidental. Por essa ótica, poder-se-ia reconhecer que tais direitos não seriam universais, porém relativos. ( Pág. 236 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) Ultrapassam os limites territoriais de um lugar específico para beneficiar os indivíduos, independentemente de raça, credo, cor, sexo, filiação etc. Exemplo: princípio da isonomia (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) Devem abranger todos os indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica. (Direito Constitucional Descomplicado – Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino – 7ª Edição - pág. 100) a.1 A titularidade dos direitos fundamentais: quem é o sujeito dos direitos? ... Em apertada síntese, titular do direito é o sujeito do direito, ou seja, é quem figura como sujeito ativo da relação de direito subjetivo, ao passo que destinatário do direito é a pessoa (física ou mesmo jurídica ou ente despersonalizado) em face da qual o titular pode exigir o respeito, proteção ou promoção do seu direito. (pág. 302/303 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) ... Assim, resulta correto afirmar que a determinação da titularidade (independentemente da distinção entre titularidade e capacidade jurídica) de direitos fundamentais não pode ocorrer de modo prévio para os direitos fundamentais em geral, mas reclama identificação individualizada, à luz de cada norma de direito fundamental e das circunstâncias do caso concreto e de quem figura nos polos da relação jurídica. (pág. 300 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) a.2 A pessoa natural como titular de direitos fundamentais: a titularidade universal e sua interpretação na Constituição Federal ... De acordo com o princípio da universalidade, todas as pessoas, pelo fato de serem pessoas, são titulares de direitos e deveres fundamentais, o que, por sua vez, não significa que não possa haver diferenças a serem consideradas, inclusive, em alguns casos, por força do próprio princípio da igualdade, além de exceções expressamente estabelecidas pela Constituição, como dá conta a distinção entre brasileiro nato e naturalizado, algumas distinções relativas aos estrangeiros, entre outras. (pág. 304 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) O princípio da universalidade, por sua vez, diz respeito, em primeira linha, à pessoa natural (pessoa física)... (pág. 305 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) a.3 Pessoas jurídicas como titulares de direitos fundamentais .... recepcionada no direito constitucional brasileiro a tese de que as pessoas jurídicas, ao contrário das pessoas naturais (físicas ou singulares) não são titulares de todos os direitos, mas apenas daqueles direitos que lhes são aplicáveis por serem compatíveis com a sua natureza peculiar de pessoa jurídica, além de relacionados aos fins da pessoa jurídica, o que, todavia, há de ser verificadocaso a caso. (pág. 311 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) ... não há como deixar de reconhecer às pessoas jurídicas de direito público, evidentemente consideradas as peculiaridades do caso, a titularidade de determinados direitos fundamentais. ...é possível identificar algumas hipóteses atribuindo a titularidade de direitos fundamentais às pessoas jurídicas de direito público, o que se verifica especialmente na esfera de direitos de cunho processual (como o de ser ouvido em Juízo, o direito à igualdade de armas – este já consagrado no STF – e o direito à ampla defesa), mas também alcança certos direitos de cunho material, como é o caso das Universidades (v. a autonomia universitária assegurada no art. 207 da CF), órgãos de comunicação social (televisão, rádio etc.), corporações profissionais, autarquias e até mesmo fundações, que podem, a depender das circunstâncias, serem titulares do direito de propriedade, de posições defensivas em relação a intervenções indevidas na sua esfera de autonomia, liberdades comunicativas, entre outros. (pág. 312 Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) a.4 Destinatários dos direitos e garantias individuais (José Afonso da Silva diverge de Sarlet, pois utiliza a expressão “Destinatários” referindo-se aos “Titulares” dos direitos fundamanetais) Por isso, quando a constituição, como as anteriores, assegura tais direitos aos brasileiros e estrangeiros residentes no país, indica, concomitantemente, sua positivação em relação aos sujeitos subjetivo (poder ou permissão de exigibilidade) relativamente aos enunciados constitucionais dos direitos e garantias individuais. Se a constituição aponta os destinatários desses direitos, isso há de ter consequências normativas. (pág. 195 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) Isso não quer dizer que os estrangeiros não residentes, quando regulamente se encontrem no território nacional, possam sofrer o arbítrio, e não disponham de qualquer meio, incluindo os jurisdicionais, para tutelar situações subjetivas. Para protegê-los, há outras normas jurídicas, inclusive de Direito Internacional, que o Brasil e suas autoridades têm que respeitar e observar, assim como existem normas legais, traduzidas em legislação especial, que definem os direitos e a condição jurídica do estrangeiro não residente, que tenha ingressado regularmente no território brasileiro. (pág. 195 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) A pesquisa no texto constitucional mostra que vários dos direitos arrolados nos incisos do art.5º se entendem às pessoas jurídicas, tais como o princípio da isonomia, o princípio da legalidade, direito de resposta, o direito de propriedade, o sigilo da correspondência e das comunicações em geral, a inviolabilidade do domicílio, a garantia do direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, assim como a proteção jurisdicional e o direito de impetrar mandando de segurança. Há até direito que é próprio de pessoa jurídica, como o direito à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos (logotipos, fantasias, p.ex.). Mas as empresas de capital estrangeiro, incluindo as multinacionais, não se beneficiam desses direitos e garantias constitucionais individuais, salvo, no que tange a marcas, nomes e signos, proteção de Direito Internacional. (pág.194 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) a.5 Destinatários dos direitos fundamentais (Para Sarlet a expressão “destinatários” tem significado diferente do abordado por José Afonso, vejamos a seguir) Destinatários dos direitos e garantias fundamentais são, em contraposição aos titulares, os sujeitos passivos da relação jurídica, em outras palavras, as pessoas físicas ou jurídicas (de direito público ou privado) que estão vinculadas pelas normas de direitos fundamentais. (pág. 319 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) a.6 Particulares como destinatários dos direitos fundamentais: o problema da eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas (Eficácia Horizontal) Além dos órgãos estatais (na acepção ampla aqui utilizada) também os particulares, na condição de destinatários, estão sujeitos à força vinculante dos direitos fundamentais, temática habitualmente versada sob o rótulo da constitucionalização do direito privado ou, de modo mais preciso, da eficácia dos direitos sociais nas relações privadas. (pág. 323 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) b) Historicidade: São históricos como qualquer direito. Nascem, modificam- se e desaparecem. Eles aparecem com a revolução burguesa e evoluem, ampliam-se, com o correr dos tempos. Sua historicidade rechaça toda fundamentação baseada no direito natural, na essência do homem ou na natureza das coisas. (pág.183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) ...O recurso à História mostra-se indispensável para que, à vista da gênese e do desenvolvimento dos direitos fundamentais, cada um deles se torne mais bem compreendido. O caráter da historicidade, ainda, explica que os direitos possam ser proclamados em certa época, desaparecendo em outras, ou que se modifiquem no tempo. Revela-se, desse modo, a índole evolutiva dos direitos fundamentais. Essa evolução é impulsionada pelas lutas em defesa das novas liberdades em face de poderes antigos – já que os direitos fundamentais custumam ir-se firmando gradualmente – e em face das novas feições assumidas pelo poder... (pág. 144 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Os direitos fundamentais são produto da história. Se, por um lado, é possível admitir o caráter transcendental de alguns direitos fundamentais (vida), por outro, não se pode ignorar que tais direitos vão se afirmando na dinâmica da realidade histórico-social (bem de família, direito de greve). Nasceram a partir de lutas encetadas na vida cotidiana – lutas sem tréguas, longas no tempo. Os direitos fundamentais foram-se construindo e sendo construídos ao longo do tempo. Ensina Noberto Bobbio que eles “nascem em certas circunstâncias, caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de vez por todas”. ( Pág. 235 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) Derivam da longa evolução, participando de um contexto histórico perfeitamente delimitado. Nascem, morrem e extinguem-se. Não são obra da natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender das circunstâncias. Exemplo: direito de propriedade (CF, art. 5º, XXII) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) c) Indisponibilidade (Inalienabilidade e Irrenunciabilidade) Uma vez que a indisponibilidade se funda na dignidade humana e esta se vincula à potencialidade do homem de se autodeterminar e de ser livre, nem todos os direitos fundamentais possuiriam tal características. Apenas os que visam resguardar diretamente a potencialidade do homem de se autodeterminar deveriam ser considerados indisponíveis... (pág. 146 - Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) c.1) Inalienabilidade: São direitos intransferíveis, inegociáveis, porque não são de conteúdo econômico-patrimonial. Se a ordem constitucional os confere a todas, deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis. (pág.183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) Não há possibilidade de transferência dos direitos humanos fundamentais, seja a título gratuito, seja a título oneroso. (Alexandre de Moraes –Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) Os direitos fundamentais não podem ser alienados. Na lição de Walter Rothenburg, uma pessoa não pode se desinvestirde seus direitos fundamentais, embora, na prática, possa deixar de exercê-los; ou seja, “os direitos fundamentais não se perdem com o tempo, sendo imprescritíveis inclusive quanto ao seu exercício”. Nesse sentido, é juridicamente ineficaz o ato de pessoa que aliena algum aspecto de sua liberdade de sua liberdade, como, por exemplo, a liberdade religiosa. ( Pág. 236 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) Inalienável é um direito ou uma coisa em relação a que estão excluídos quaisquer atos de disposição, quer jurídica – renúncia, compra e venda, doação -, quer material – destruição material do bem. Isso significa que um direito inalienável não admite que o seu titular o torne impossível de ser exercitado para si mesmo, física ou juridicamente... (pág. 145– Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) A inalienabilidade traz uma consequência prática importante – a de deixar claro que a preterição de um direito fundamental não está sempre justificada pelo mero fato de o titular do direito nela consentir. (pág. 145– Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) São indisponíveis. Os seus titulares não podem vendê-los, aliená-los, comercializá-los, pois não têm conteúdo econômico. Exemplo: a função social da propriedade não pode ser vendida porque não corresponde a um bem disponível (CF, art. 5º, XXIII) (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) c.2) Irrenunciabilidade: Alguns deles podem até não ser exercidos, pode-se deixar de exercê-los, mas não se admite sejam renunciados. (pág.183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) O que pode ocorrer é o seu não exercício, mas nunca a sua renunciabilidade. (Pedro Lenza – Direito Constitucional Esquematizado 18ª Edição – Pág. 1060) Podem deixar de ser exercidos, mas nunca renunciados. Exemplo: não ajuizamento de mandado de segurança, algo que não o retira da Constituição (CF, art. 5º, LXIX) (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) Os direitos humanos fundamentais não podem ser objeto de renúncia. Dessa característica surgem discussões importantes na doutrina e posteriormente analisadas, como a renúncia ao direito à vida e a eutanásia, o suicídio e o aborto. (Alexandre de Moraes –Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) d) Imprescritibilidade: Os direitos humanos não se perdem pelo decurso do prazo. (Alexandre de Moraes –Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) Nunca deixam de ser exigíveis. Prescrição é um instituto jurídico que somente atinge, coarctando, a exigibilidade dos direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade de direitos personalíssimos. (pág.183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) Tem-se afirmado que os direitos fundamentais não prescrevem. Pode decorrer o tempo que for sem serem exercidos, e contra eles não corre a prescrição extintiva do direito. Imagine-se a hipótese de uma pessoa que, durante vinte anos, não exerceu o direito à liberdade de locomoção. Ela poderá exercê-lo a qualquer momento, pois o direito fundamental de locomover-se livremente não prescreve. Porém, o exercício do direito de ação em face de um direito fundamental pode ser atingido pela prescrição. Isso ocorre, por exemplo, em face de lesão ao direito fundamental da imagem de uma pessoa (art. 5º, X). Deixando fluir o prazo para ajuizá-la, estará prescrito o direito de ação. ( Pág. 236/237 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) Não prescrevem, uma vez que não apresentam caráter patrimonial. Exemplo: direito à vida (CF, art. 5º, caput). (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) … Não desaparecem pelo decurso do tempo. Nesse sentido, eles são sempre dotados de exigibilidade. (Curso de Direito Constitucional – Bernardo Gonçalves Fernandes – 4ª Edição - pág. 328) RESUMO FINAL - Caracteres dos direitos fundamentais: a) Universalidade - A titularidade dos direitos fundamentais: quem é o sujeito dos direitos? - A pessoa natural como titular de direitos fundamentais - Pessoas jurídicas como titulares de direitos fundamentais - Destinatários dos direitos e garantias individuais (José Afonso da Silva diverge de Sarlet, pois utiliza a expressão “Destinatários” referindo-se aos “Titulares” dos direitos fundamanetais) - Caracteres dos direitos fundamentais: b) Historicidade c) Indisponibilidade (Inalienabilidade e Irrenunciabilidade) c.1) Inalienabilidade c.2) Irrenunciabilidade d) Imprescritibilidade AULA 03 TÍTULO Características ROTEIRO DE ESTUDO e) Relatividade/Limitabilidade: Pode-se ouvir, ainda, que os direitos fundamentais são absolutos, no sentido de se situarem no patamar máximo da hierarquia jurídica e de não tolerarem restrição. Tal ideia tem premissa no pressuposto jusnaturalista de que o Estado existe para proteger direitos naturais como a vida, a liberdade e a propriedade, que, de outro modo, estariam ameaçados. Se é assim, todo poder aparece limitado por esses direitos e nenhum objetivo estatal ou social teria como prevalecer sobre eles. Os direitos fundamentais gozariam de prioridade absoluta sobre qualquer interesse coletivo. Essa acertiva esbarra em dificuldades para ser aceita. Tornou-se voz corrente em nossa família do Direito admitir que os direitos fundamentais podem ser objeto de limitações, não sendo, pois, absolutos. Tornou-se pacífico que os direitos fundamentais podem sofrer limitações , quando enfrentam outros valores de ordem constitucional, inclusive outros direitos fundamentais. (pág. 143 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Quanto ao caráter absoluto que se reconhecia neles no sentido de imutabilidade, não pode mais ser aceito desde que se entenda que tenham caráter histórico. (pág.183 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) Outra abordagem doutrinária sobre a relatividade: Nem todo direito ou garantia fundamental pode ser exercido de modo absoluto ou irrestrito, salvo algumas exceções. (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) Relatividade dos direitos fundamentais em julgado do STF: "Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas – e considerado o substrato ético que as informa – permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros." (MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-9-1999, Plenário, DJ de 12-5-2000.) Vide: HC 103.236, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14-6-2010, Segunda Turma, DJE de 3-9- 2010. Relatividade dos direitos fundamentais em julgado do STF: "As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria CF (CF, art. 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o 'direito à incitação ao racismo', dado que um direitoindividual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica." (HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-2003, Plenário, DJ de 19-3-2004.) f) Inexauribilidade: O rol de direitos fundamentais previsto na Constituição de 1988 não é exaustivo, não se exaure. Ao contrário, os direitos ali constantes são meramente exemplificativos, admitindo-se outros que decorram do regime, dos princípios adotados por ela ou dos tratados em que a República federativa do Brasil seja parte (art. 5º, § 2º). Por outro lado, não se deve ignorar que, em razão da historicidade, há sempre novos direitos fundamentais, formando-se na dinâmica social. É o caso, por exemplo, do direito à moradia, que por força da Emenda Constitucional 26, de 14 de fevereiro de 2000, passou a ser considerado formalmente direito fundamental (art.6º) ( Pág. 237/238 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) g) Constitucionalização: … a locução direitos fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem em uma ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra. (pág. 147 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Essa característica da constitucionalização dos direitos fundamentais traz consequências de evidente relevo. As normas que os obrigam impõe-se a todos os poderes constituídos, até ao poder de reforma da Cionstituição. (pág. 147 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) h) Vinculação dos Poderes Públicos: O fato de os direitos fundamentais estarem previstos na Constituição torna-os parâmetros de organização e de limitação dos poderes constituídos. A constitucionalização dos direitos fundamentais impede que sejam considerados meras autolimitações dos poderes constituídos – dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário -, passíveis de serem alteradas ou suprimidas ao talante destes. Nenhum desses Poderes se confunde com o poder que consagra o direito fundamental, que lhe é superior. Os atos dos poderes constituídos devem conformidade aos direitos fundamentais e se expõe à invalidade se os desprezam. (pág. 147/148 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Vinculação dos Poderes Públicos em julgado do STF: "Extradição e necessidade de observância dos parâmetros do devido processo legal, do estado de direito e do respeito aos direitos humanos. CB, arts. 5º, § 1º, e 60, § 4º. (...) Obrigação do STF de manter e observar os parâmetros do devido processo legal, do estado de direito e dos direitos humanos. (...) Necessidade de assegurar direitos fundamentais básicos ao extraditando. Direitos e garantias fundamentais devem ter eficácia imediata (cf. art. 5º, § 1º); a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos deve obrigar o Estado a guardar-lhes estrita observância. Direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição (art. 60, § 4º)." (Ext 986, rel. min. Eros Grau, julgamento em 15-8-2007, Plenário, DJ de 5-10-2007.) i) Indivisibilidade: Cada direito fundamental constitui uma unidade incindível em seu conteúdo elementar. Por exemplo, não se pode cindir a liberdade religiosa, de modo que seja admitida a liberdade de crença, porém nagada a liberdade de culto. Se isso ocorrer, o direito fundamental – liberdade religiosa – terá sido negado. A indivisibilidade dos direitos fundamentais, todavia, pode ser compreendida em outro sentido. Os direitos civis e políticos não podem estar dissociados dos direitos econômicos, sociais e culturais. Essa compreensão está formalizada na Proclamação de Teerã (art. 13). Nessa perspectiva, segundo Vladimir Brega Filho, “a indivisibilidade dos direitos fundamentais faz com que tenhamos que tratar os direitos fundamentais das várias gerações de forma igual, pois se cuida de um mesmo gênero de direitos”. ( Pág. 237 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) j) Interdependência: as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas, possuem diversas intersecções para atingirem suas finalidades. Assim, por exemplo, a liberdade de locomoção está intimamente ligada à garantia do habeas corpus, bem como previsão de prisão somente por flagrante delito ou por ordem de autoridade judicial competente. (Alexandre de Moraes – Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) j.1) Indivisibilidade e interdependência: pela indivisibilidade, entende-se que a realização dos direitos civis e políticos, sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e de solidariedade, torna-se impossível; portanto, só há falar em direitos fundamentais se todos eles tiverem sendo respeitados, pelo caráter conjunto deles. A interdependência significa que, considerados em espécie, determinado direito fundamental não alcança a eficácia plana sem a realização simultânea de alguns ou de todos os outros direitos humanos (Direito Constitucional – Kildare Gonçalves Carvalho – 19ª Edição - pág. 614) k) Complementaridade: os direitos humanos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador constituinte. (Alexandre de Moraes – Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) Os direitos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcançar os objetivos previstos pelo legislador constituinte. (Direito Constitucional Descomplicado – Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino – 7ª Edição - pág. 101) Os direitos fundamentais complementam-se. Segundo Francisco Balaguer Callejón, eles são complementares “porque se apoiam uns nos outros; não são compartimentos estanques, mas se inter-relacionam mutuamente, de tal forma que o desfrute de um deles pressupõe o desfrute de outro”. Há direitos fundamentais que, para serem efetivados, dependem de outros. O exercício do direito fundamental de participação política pressupõe o direito fundamental de informação. Em outras palavras, a informação é imprescindível para o exercício dos direitos políticos. (Pág. 238/239 -Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) l) Fundamentalidade: Os direitos fundamentais têm posição de fundamentalidade em dois sentidos: primeiro, constituem a base axiológica, a base de valores vigentes em uma sociedade; segundo, localizam-se em um plano normativo especial: a Constituição. A fundamentalidade, segundo Walter Rothenburg, “revela-se pelo conteúdo do direito (o que é dito: referência aos valores supremos dos ser humano e preocupação com a promoção da dignidade da pessoa humana) e revela-se também pela posição normativa (onde e como é dito: expressão no ordenamento jurídico como norma da constituição). Concorrem, portanto, ambos os critérios (material e formal) para definir a fundamentalidade de um direito”. ( Pág. 235 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) l.1) A dupla fundamentalidade em sentido formal e material: ... José Joaquim Gomes Canotilho, “aponta para a especial dignidade e proteção dos direitos num sentido formal e material” (pág. 266 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) A fundamentalidade formal encontra-se ligada ao direitos constitucional positivo, no sentido de um regime jurídico definido a partir da própria constituição, seja de forma expressa, seja de forma implícita, e composto, em especial, pelos seguintes elementos: (a) como parte integrante da Constituição escrita, os direitos situam-se no ápice de todo o ordenamento jurídico, gozando da supremaciahierárquica das normas constitucionais; (b) na qualidade de normas constitucionais encontram-se submetidos aos limites formais (procedimento agravado) e materiais (cláusulas pétreas) da reforma constitucional (art. 60 da CF), muito embora se possa controverter a respeito dos limites da proteção outorgada pelo Constituinte, aspecto desenvolvido no capítulo sobre o poder de reforma constitucional; (c) além disso, as normas de direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e vinculam de forma imediata as entidades públicas e, mediante as necessárias ressalvas e ajustes, também os atores privados (art. 5º, § 1º, da CF), o que igualmente será aprofundado mais adiante. (pág. 267 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) A fundamentalidade material (ou em sentido material, por sua vez, implica análise do conteúdo dos direitos, isto é, da circunstância de conterem, ou não, decisões fundamentais sobre a estrutura do Estado e da sociedade, de modo especial, porém, no que diz a posição nestes ocupada pela pessoa humana. (pág. 268 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) m) Positividade: Apesar de se admitir a existência de direitos fundamentais independentemente de terem sido reconhecidos pelo Estado, eles se encontram positivados. Expõe Gomes Canotilho que “ a positivação dos direitos fundamentais significa a incorporação na ordem jurídica positiva dos direitos considerados 'naturais' e 'inalienáveis' do indivíduo. Não basta qualquer positivação. É necessário assinalar-lhes a dimensão de Fundamental Rights colocado no lugar cimeiro das fontes do direito: as normas constitucionais”. A Constituição de cada país costuma a ter um rol específico desses direitos. Essa prática tem a sua regra-matriz na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que assim previu: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes, não tem Constituição” (art. 16). ( Pág. 238 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) n) Transindividualidade: Há direitos fundamentais cuja titularidade não pertence a uma, mas a centenas, milhares ou milhões de pessoas. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e o direito à paz são exemplos de de direitos fundamentais transindividuais. Esses direitos, que se afirmaram a partir da segunda metade do século XX, constituem uma categoria diversa, gerando a noção de direitos difusos e coletivos. ( Pág. 238 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) o) Concorrência/Cumulatividade: podem ser exercidos cumulativamente, quando, por exemplo, o jornalista transmite uma notícia (direito de infirmação) e, ao mesmo tempo, emite uma opinião (direito de opinião); (Pedro Lenza – Direito Constitucional Esquematizado 18ª Edição – Pág. 1060) Podem ser exercidos ao mesmo tempo. Exemplo: direito de informação e de liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV e XXXIII) (CF, art. 5º, caput) (Curso de Direito Constitucional – Uadi Lammêgo Bulos – 5ª Edição - pág. 520) Os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente. Vale dizer, num mesmo titular podem cumular-se vários direitos, como, por exemplo, o direito de liberdade de manifestação do pensamento com o direito de reunião ou associação. (Curso de Direito Constitucional – Dirley da Cunha Júnior – 5ª Edição - pág. 622) p) Inerência: são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de existir, o que não exclui a sua constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social e no processo histórico. (Direito Constitucional – Kildare Gonçalves Carvalho – 19ª Edição - pág. 614) q) Proibição de Retrocesso: sendo os direitos fundamentais o resultado de um processo evolutivo, marcado por lutas e conquistas em prol da afirmação de posições jurídicas concretizadoras da dignidade da pessoa humana, uma vez reconhecidos, não podem ser suprimidos, ou abolidos, ou enfraquecidos. Milita em seu favor a proteção da proibição de retrocesso. No plano normativo, essa característica impede a mera revogação das normas que consagram direitos fundamentais ou a substituição dessas normas por outras menos generosas para com tais direitos; já no plano concreto, a eficácia impeditiva de retrocesso obsta a implementação de políticas públicas de enfraquecimento dos direitos fundamentais. Canotilho também defende essa importante característica dos direitos fundamentais, quando alude a um princípio do não retrocesso social, com base no qual os direitos sociais, uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjetivo. Essa proteção dos direitos subjetivamente adquiridos constitui um poderoso limite jurídico da liberdade de conformação do legislador e, simultaneamente, uma obrigação de realização de uma política consentânea com os direitos concretos e as expectativas subjetivamente alicerçadas, de sorte que o núcleo essencial dos direitos sociais, já realizado e efetivado através de medidas legislativas ou políticas públicas, “deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa 'anulação', 'revogação', ou 'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial”. (Curso de Direito Constitucional – Dirley da Cunha Júnior – 5ª Edição - pág. 623) r) Inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determinações infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. (Alexandre de Moraes – Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) Impossibilidade de sua não observância por disposições infraconstitucionais ou por atos de autoridades públicas (Direito Constitucional Descomplicado – Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino – 7ª Edição - pág. 100) s) Efetividade: a atuação do Poder Público deve ser no sentido de garantir a efetivação dos direitos e garantias previstos, com mecanismos coercitivos para tanto, uma vez que a Constituição Federal não se satisfaz com o simples reconhecimento abstrato. (Alexandre de Moraes – Direitos Humanos Fundamentais - 8ª Edição – Pág. 22) A atuação do Poder Público deve ter por escopo garantir a efetivação dos direitos fundamentais. (Direito Constitucional Descomplicado – Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino – 7ª Edição - pág. 100) Em termos teóricos temos que o poder público em suas ações deve sempre se voltar para o cumprimento dos direitos fundamentais. Todavia, aqui cabe pontuar que uma ves assumindo uma ou outra teoria sobre direitos fundamentais, as consequências práticas serão radicalmente opostas: na perspectiva liberal, por serem os direitos fundamentais direitos subjetivos de todos indivíduos de uma sociedade que se reconhece livre e igual, devem ser efetivados na mesma medida para todos, sem exceção. Além do mais, sua condição de norma pré-estatal não transmite o dever de efetivação do Poder Público, garantindo-se, desde o início, o mesmo catálogo de direitos fundamentais aos seus cidadãos; por outro lado, a perspectiva do comunitarismo, a tese dos direitos fundamentais como ordens de valores, delega ao Poder Público a sua implementação na sociedade, que se pode dar em graus, ou seja, de modo não efetivo para todos, mas sempre buscando um resultado otimizado. (Curso de Direito Constitucional – Bernardo Gonçalves Fernandes – 4ª Edição - pág. 330) t) Continuidade/Identidade: O constituinte reconheceu ainda que os direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição, considerando, por isso, ilegítima qualquer reforma constitucional tendente a suprimi-los (art. 60, § 4o). (Gilmar Ferreira Mendes - Os Direitos Fundamentais e seus múltiplos significados na ordem constitucional – Revista Jurídica Virtual - Brasília,vol. 2, n. 13, junho/1999) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_14/direitos_fund.htm) Contitunidade/Identidade em julgado do STF: "Extradição e necessidade de observância dos parâmetros do devido processo legal, do estado de direito e do respeito aos direitos humanos. CB, arts. 5º, § 1º, e 60, § 4º. (...) Obrigação do STF de manter e observar os parâmetros do devido processo legal, do estado de direito e dos direitos humanos. (...) Necessidade de assegurar direitos fundamentais básicos ao extraditando. Direitos e garantias fundamentais devem ter eficácia imediata (cf. art. 5º, § 1º); a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos deve obrigar o Estado a guardar-lhes estrita observância. Direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição (art. 60, § 4º)." (Ext 986, rel. min. Eros Grau, julgamento em 15-8-2007, Plenário, DJ de 5-10-2007.) RESUMO FINAL - Caracteres dos direitos fundamentais: e) Relatividade/Limitabilidade f) - Caracteres dos direitos fundamentais: g) Constitucionalização h) Vinculação dos Poderes Públicos i) Indivisibilidade - Caracteres dos direitos fundamentais: h) Vinculação dos Poderes Públicos i) Indivisibilidade j) Interdependência j.1) Indivisibilidade e interdependência k) Complementaridade - Caracteres dos direitos fundamentais l) Fundamentalidade l.1) A dupla fundamentalidade em sentido formal e material - Caracteres dos direitos fundamentais m) Positividade n) Transindividualidade o) Concorrência/Cumulatividade - Caracteres dos direitos fundamentais p) Inerência q) Proibição de Retrocesso r) Inviolabilidade s) Efetividade t) Continuidade/Identidade AULA 04 TÍTULO Aplicabilidade e Eficácia ROTEIRO DE ESTUDO 4. Aplicação imediata dos direitos fundamentais (natureza e eficácia das normas sobre direitos fundamentais) A eficácia e aplicabilidade das normas que contêm os direitos fundamentais dependem muito do seu enunciado, pois se trata de assunto que está em função do Direito positivo. A Constituição expressa sobre o assunto, quando estatui que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Mas certo é que isso não resolve todas as questões, porque a Constituição mesma faz depender da legislação ulterior a aplicabilidade de algumas normas definidoras de Direitos sociais, enquadrados dentre os fundamentais. Por regra, as normas que consubstanciam os Direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata, enquanto as que definem os direitos econômicos e sociais tendem a sê-lo também na Constituição vigente, mas algumas, especialmente as que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada, de princípios programáticos e de aplicabilidade indireta, mas são tão jurídicas como as outras e exercem relevante função, porque, quanto mais se aperfeiçoam e adquirem eficácia mais ampla, mais se tornam garantias da democracia e do efetivo exercício dos demais direitos fundamentais. (pág.182 – José Afonso da Silva – Direito Constitucional Positivo 37ª Edição) O significado essencial dessa cláusula é ressaltar que as normas que definem direitos fundamentais são normas de caráter preceptivo, e não meramente programático. Explicita-se, além disso, que os direitos fundamentais se fundam na Constituição, e não na lei – com o que se deixa claro que é a lei que deve mover-se no âmbito dos direitos fundamentais, não o contrário. Os direitos fundamentais não são meramente normas matrizes de outras normas, mas são também, e sobretudo, normas diretamente reguladoras de relações jurídicas. (pág. 154 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Há normas constitucionais, relativas a direitos fundamentais, que, evidentemente, não são autoaplicáveis. Carecem da interposição do legislador para que produzam todos os seus efeitos. As normas que dispõe sobre fundamentais de índole social, usualmente, têm a sua plena eficácia condicionada a uma complementação pelo legislador... (pág. 155 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Mesmo algumas normas constantes no art. 5º da Constituição Federal não dispensam concretização, por via legislativa, para que posssam produzir efeitos plenos e mesmo adquirir sentido. (pág. 155 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) … essas circunstâncias levam a doutrina a entrever no art. 5º, § 1º, da Constituição Federal uma norma-princípio, estabelecendo uma ordem de otimização, uma determinação para que se confira a maior eficácia possível aos direitos fundamentais. O princípio em tela valeria como indicador de aplicabilidade imediata da norma constitucional, devendo presumir a sua perfeição, quando possível. (pág. 155 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Os direitos fundamentais, dotados de normatividade, têm aplicação imediata (art. 5º, § 1º). Na lição de Walter Rothenburg “Consequência desta característica é a necessidade de previsão de mecanismos de garantias dos direitos fundamentais, do que decorre: (i) que a própria Constituição deve, além de apontar os direitos, fornecer-lhes meios assecuratórios adequados; (ii) que também os meios assecuratórios devem ser dotados de aplicabilidade direta ou imediata; (iii) que os meios assecuratórios nunca podem, a pretexto de regular o direito constitucional, restringi-lo; (iv) que, na ausência da previsão de meios específicos, podem-se utilizar os meios ordinariamente previstos (por exemplo, o procedimento judicial comum); (v) que os direitos fundamentais devem valer mesmo que não estejam acompanhados de garantias jurisdicionais (não correlação necessária). Somente em hipóteses excepcionais, previstas na Constituição, um direito fundamental exige intermediação normativa de órgão estatal para ser aplicado no caso concreto. Pode-se mencionar, como exemplo, o direito de o trabalhador participar nos lucros ou resultados da empresa, “conforme definido em lei” (art. 7º, inciso XI). Nessa hipótese, mesmo se tratando de um direito fundamental, entendeu-se que ele somente seria aplicado ao caso concreto após a edição da lei exigida. A lei 10.101, de 19 de dezembro de 2000, veio dispor sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas. ( Pág. 239 - Zulmar Fachin – Curso de Direito Constitucional 7ª Edição) 5. Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos Fundamentais Cuida-se da proposta formulada por Robert Alexy, que edifica sua concepção de direitos fundamentais (o que chamou de sistema das posições jurídicas fundamentais) com base na seguinte tríade de posições fundamentais, que, em princípio pode integrar um direito fundamental na condição de direito subjetivo (a) direitos a qualquer coisa (que englobariam os direitos e ações negativas e positivas do Estado e/ou particulares e, portanto, os clássicos direitos de defesa e os direitos a prestações); (b) liberdades (no sentido de negação de exigências e proibições); e (c) os poderes (competências e autorizações). ... a noção de uma perspectiva subjetiva de direitos fundamentais engloba a possibilidade do titular do direito fazer valer judicialmente os poderes, as liberdades ou mesmo o direito à ação ou às ações negativas ou positivas que lhe foram outorgadas pela norma consagradora do direito fundamental em questão, ainda que tal exigibilidade seja muito variável e careça de uma apreciação à luz de cada direito fundamental em causa, dos seus limites, entre outros aspectos a serem considerados. (pág. 295 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) ... os direitos fundamentais passaram a apresentar-se, no âmbito da ordem constitucional, como um conjunto de valores objetivos básicos e fins diretivos da ação positiva dos poderes públicos, e não apenas garantias negativas(e positivas) dos interesses individuais. Como um dos mais importantes desdobramentos da força jurídica objetiva dos direitos fundamentais, costuma-se apontar-se para o que boa parte da doutrina e da jurisprudência constitucional na Alemanha denominou de uma eficácia irradiante ou efeito de irradiação dos direitos fundamentais, no sentido de que estes, na sua condição de direito objetivo, fornecem impulsos e diretrizes para a aplicação e interpretação do direito infraconstitucional, implicando uma interpretação conforme aos direitos fundamentais de todo o ordenamento jurídico ((pág. 296 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) Outra função que tem sido reconduzida à dimensão objetiva está vinculada ao reconhecimento de que os direitos fundamentais implicam deveres de proteção do Estado, impondo aos órgãos estatais a obrigação permanente de, inclusive permanentemente, zelar pela proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos, não somente contra os poderes públicos, mas também contra agressões por parte de particulares e até mesmo por parte de outros Estados. (pág. 297 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) Uma terceira função, igualmente vinculada à dimensão objetiva... pode ser genericamente designada de função organizatória e procedimental. Nesse sentido, sustenta-se que a partir do conteúdo das normas de direitos fundamentais é possível se extrair as consequências para a aplicação e interpretação das normas procedimentais, mas também para uma formatação do direito organizacional e procedimental que auxilie na efetivação da proteção aos direitos fundamentais, evitando-se os riscos de uma redução de seu significado e conteúdo material. (pág. 297/298 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero - 2ª Tiragem) A dimensão subjetiva dos direitos fundamentais corresponde à característica desses direitos de, em maior ou menor escala, ensejarem uma pretensão a que se adote um dado comportamento ou se expressa no poder da vontade de produzir efeitos sobre certas relações jurídicas. Nessa perspectiva, os direitos fundamentais correspondem à exigência de uma ação negativa (em especial, de respeito ao espaço de liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem, e, ainda, correspondem a competências – em que não se cogita de exigir comportamento ativo ou omissivo de outrem, mas do poder de modificar-lhe as posições jurídicas. (pág. 167 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da ordem constitucional. Os direitos fundamentais participam da essência do Estado de Direito democrático, operando como limite do poder e como diretriz para sua ação. As constituições democráticas assumem um sistema de valores que os direitos fundamentais revelam e positivam. Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos. (pág. 167 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Os direitos fundamentais, assim, transcendem a perspectiva da garantia de posições individuais, para alcançar a estatura de normas que filtram os valores básicos da sociedade política, expandindo-se para todo o direito positivo. Formam, pois, a base do ordenamento jurídico de um Estado democrático. (pág. 167 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) A perspectiva objetiva, nesse sentido, legitima até restrições aos direitos subjetivos individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos direitos fundamentais em favor dos seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos. (pág. 167 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) O aspecto objetivo dos direitos fundamentais comunica-lhes, também, uma eficácia irradiante, o que os converte em diretriz para a interpretação e aplicação das normas dos demais ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja, ainda, a discussão sobre a eficácia horizontal dos direitos fundamentais – a eficácia desses direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares. (pág. 168/169 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) 6. Eficácia Vertical e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais 6.1 Destinatários dos direitos fundamentais Destinatários dos direitos e garantias fundamentais são, em contraposição aos titulares, os sujeitos passivos da relação jurídica, em outras palavras, as pessoas físicas ou jurídicas (de direito público ou privado) que estão vinculadas pelas normas de direitos fundamentais. (pág. 319 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) 6.2 Eficácia Vertical Como se sabe, os direitos fundamentais foram concebidos, originariamente, como instrumentos de proteção dos indivíduos contra a opressão estatal. O particular era, portanto, o titular dos direitos e nunca o sujeito passivo. É o que se pode chamar de eficácia vertical dos direitos fundamentais, simbolizando uma relação (assimétrica) de poder em que o Estado se coloca em uma posição superior em relação ao indivíduo. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 337) 6.3 Eficácia Horizontal No entanto, atualmente, onde cada vez é mais aceita a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, tem-se reconhecido que os valores contidos nesses direitos projetam-se também nas relações entre os particulares, até porque os agentes privados – especialmente aqueles detentores de poder social e econômico – são potencialmente capazes de causar danos efetivos aos princípios constitucionais e podem oprimir tanto ou até mais que o estado (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 337) …fala-se hoje na aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, ou seja, esses direitos deixaram de ser um mero instrumento de limitação do poder estatal para se converter também em uma ferramenta de conformação ou modelação de toda a sociedade, melhor dizendo, em um “sistema de valores” a orientar toda ação pública e privada. É o que se pode chamar de eficácia horizontal dos direitos fundamentais. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 338) A percepção clara da força vinculante e da eficácia imediata dos direitos fundamentais e da sua posição no topo da hierarquia das normas jurídicas reforçou a ideia de que os princípios que informam os direitos fundamentais não poderiam deixar de ter aplicação também no setor privado. Ganhou alento a percepção de que os direitos fundamentais possuem uma feição objetiva, que não somente obriga o Estado a respeitar os direitos fundamentais, mas que também o força fazê-lo respeitados pelos próprios indivíduos, nas suas relações entre si. Ao desvendar o aspecto objetivo dos direitos fundamentais, abriu-se à inteligência predominante a noção de que esses direitos, na verdade, exprimem os valores básicos da ordem jurídica e social, que devem ser prestigiados em todos os setores da vida civil, que devem ser preservados e promovidos pelo Estado como princípios estruturante da sociedade. (pág. 172 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) … Definir quando um direito fundamental incide numa relação entre particulares demanda exercício de ponderação entre o peso do mesmo direito fundamental e o princípio da autonomia da vontade. Há de se efetuar essa ponderação à vista de casos concretos, reais ou ideados... (pág. 178 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) … o princípio da autonomia de vontade, mesmo que não conste literalmente na Constituição, acha no Texto Magno proteção para os seus aspectos essenciais. A Carta de 1988 assegura uma liberdade geral nocaput de seu art. 5º e reconhece o valor da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado brasileiro (art. 1º, III, da CF), dignidade que não se concebe sem referência ao poder da autodeterminação. Confirma-se os status constitucional do princípio da autonomia do indivíduo. (pág. 177 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) … A incidência das normas de direitos fundamentais no âmbito das relações privadas passou a ser conhecida, sobretudo a partir dos anos cinquenta, como o efeito externo, ou a eficácia horizontal, dos direitos fundamentais (a drittwirkung do Direito alemão)... (pág. 176 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) O reconhecimento da eficácia horizontal dos direitos fundamentais ocorreu, pela primeira vez, de forma expressa, em 1958, quando o Tribunal Constitucional Federal alemão julgou o caso Luth. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 338) A decisão deu início ao desenvolvimento da ideia da dimensão objetiva dos direitos fundamentais e da eficácia irradiante desses direitos (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 340) … a eficácia horizontal tem muito a ver com a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, até porque é consequência desta. Com a eficácia horizontal e a dimensão objetiva (força irradiante), toda legislação infraconstitucional, inclusive aquela que disciplina as relações privadas, deve ser interpretada sob a ótica dos direitos fundamentais. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 342) 6.3.1 Eficácia Horizontal direta (imediata) e indireta (mediata) Além dos órgãos estatais (na acepção ampla aqui utilizada) também os particulares, na condição de destinatários, estão sujeitos à força vinculante dos direitos fundamentais, temática habitualmente versada sob o rótulo da constitucionalização do direito privado ou, de modo mais preciso, da eficácia dos direitos sociais nas relações privadas. (pág. 323 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) Nesse particular, a doutrina oscila entre os que advogam a tese da eficácia mediata (indireta) e os que sustentam uma vinculação imediata (direta), ressaltando-se a existência de posicionamentos que assumem feição mais temperada em relação aos modelos básicos referidos, situando-se, por assim dizer, numa esfera intermediária. (pág. 324 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) Na doutrina, duas teorias disputam o equacionamento das questões relacionadas com a incidências dos direitos fundamentais nas relações entre particulares. Conforme o grau de interferência que reconhecem a esses direitos nessas relações, dividem-se os que postulam uma eficácia imediata e direta dos direitos fundamentais sobre as relações privadas e os que advogam que os direitos fundamentais, aí, devem atuar indiretamente (teoria da eficácia mediata ou indireta) (pág. 179 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Em primeiro lugar, há quem negue completamente a incidência dos direitos fundamentais nas relações privadas. Esse ponto de vista vigora, por exemplo, nos Estados Unidos da América, onde predomina a doutrina do state acion (ação estatal), que defende a não aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, se houver lei expressamente prevendo essa aplicação ou então se o agente privado estiver exercendo uma função estatal (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 342) A segunda possibilidade é reconhecer um efeito indireto dos direitos fundamentais nas relações privadas, de modo que as normas constitucionais funcionariam tão somente para permitir melhor interpretação do direito infraconstitucional, não se aplicando de modo direto nessas relações. Essa ideia vigora, por exemplo, na Alemanha, que entende que a lei é o principal instrumento normativo para a regulação das relações entre particulares, devendo a Constituição ser utilizada de modo meramente subsidiário. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 342) A teoria da eficácia indireta ou mediata, pretendendo maior resguardo do princípio da autonomia de do livre desenvolvimento da personalidade, recusa a incidência direta dos direitos fundamentais na esfera privada, alertando que uma tal latitude dos direitos fundamentais redundaria num incremento do poder do Estado, que ganharia espaço para uma crescente ingerência na vida privado do indivíduo, a pretexto de fiscalizar o cumprimento dos deveres resultantes da incidência dos direitos fundamentais sobre as relações particulares. A incidência dos direitos fundamentais nas relações entre particulares haveria de aflorar por meio de pontos de irrupção do ordenamento civil, propiciados pelas cláusulas gerais (ordem pública, bons costumes, boa-fé etc) insertas nas normas de direito privado, ou pela interpretação das demais regras desse ramo do ordenamento jurídico... (pág. 180 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) Por fim, a última opção é considerar que os direitos fundamentais devem ser aplicados de forma direta às relações entre particulares, da mesma forma como são aplicados na relação entre o Estado e os indivíduos, ainda que com temperamentos.(George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 342) No Brasil, essa terceira possibilidade vem ganhando cada vez mais força na doutrina e na jurisprudência e parece ser a mais adequada ao espírito da Constituição Federal de 1988. (George Marmelstein – Curso de Direitos Fundamentais - 5ª Edição – Pág. 342) A teoria da eficácia direta ou imediata sustenta que os direitos fundamentais devem ter pronta aplicação sobre as decisões das entidades privadas que desfrutem de considerável poder social, ou em face de indivíduos que estejam, em relação a outros, numa situação de supremacia de fato ou de direito... (pág. 179 – Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes e Gonet Branco – 9ª Edição) De qualquer modo, para além dessas e de outras considerações que aqui poderiam ser tecidas, constata-se que no direito constitucional brasileiro tem prevalecido a tese de que, em princípio, os direitos fundamentais geram uma eficácia direta prima facie na esfera das relações privadas, sem deixar de reconhecer, todavia, que o modo pela qual se opera a aplicação dos direitos fundamentais às relações jurídicas entre particulares não é uniforme, reclamando situações diferenciadas. (pág. 325 – Curso de Direito Constitucional – Sarlet/Marinoni/Mitidiero) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais em julgamento do STF: "Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. Os princípios constitucionais como limites à autonomia privada das associações. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos
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