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1 GESTÃO DA ENERGIA: ABNT 50001, OPORTUNIDADES E A APLICAÇÃO DE OUTRAS FONTES OU FORNECEDORES Matheus Henrique Cavalheiro Garros*¹ ¹UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados Resumo – A norma ABNT NBR ISO 50001, estabelece uma metodologia sistemática para melhoria no desempenho energético de organizações a partir de um sistema de gerenciamento de energia (SGE), aplicado e construído nos moldes estratégicos da empresa, coma definição de indicadores de desempenho energético e linhas de base energéticas, que permitem analisar o consumo e o uso de energia dentro da organização, permitindo que os processos e a cultura da empresa seja modificado afim de tornar o seu funcionamento mais eficiente. Desse modo a norma se mostra extremamente útil, ainda mais quando aliada a conceitos como o mercado livre de energia ou a contratos de energia. Palavras-Chave – Eficiência, energia, gerenciamento, demanda. ENERGY MANAGEMENT: ABNT 50001, OPPORTUNITIES AND THE APPLICATION OF OTHER SOURCES OR SUPPLIERS Abstract - The ABNT NBR ISO 50001 norm establishes a systematic methodology for improving the energy performance of organizations based on an energy management system (SGE), applied and built in the company's strategic molds, with the definition of energy performance indicators and guidelines energy bases, which allow analyzing the consumption and use of energy within the organization, allowing the company's processes and culture to be modified in order to make its operation more efficient. So, the norm proves to be extremely useful, especially when combined with concepts such as the free energy market or energy contracts. Keywords – Efficiency, energy, management, demand. I. INTRODUÇÃO Um dos grandes motivadores do fomento da eficiência energética são os crescentes problemas climáticos enfrentados pela nossa sociedade devido a crescente demanda de energia e expansão de parques industriais. Mudança de hábitos, melhorias tecnológicas e troca de fontes de energia podem não ser o suficiente para que essa situação acabe, sendo que boa parte dos indicadores mostra que a eficiência energética tem cada vez mais ganho um papel importando na luta contra emissões e a poluição. Diversos setores ainda possuem um potencial para atingir com os avanços em eficiência energética ainda não explorado, e isso tem criado diversas discussões a respeito da gestão adequada da energia em suas diversas formas. A NBR 50001 é um fruto dessas discussões em busca dessas melhorias, criada internacionalmente afim de determinar um modelo sistemático para melhoria do desempenho energético de organizações. Segundo a própria norma, os objetivos com a mesma são, principalmente, estabelecimento dos sistemas e processos necessários para melhorar continuamente o desempenho energético, incluindo a eficiência energética, o uso da energia e o consumo da energia, especificando os requisitos de um sistema de gestão de energia (SGE) dentro de organizações. O documento ressalta que o desenvolvimento e a implementação de um SGE podem permitir que uma organização estabeleça e alcance objetivos e metas energéticas, tomando ações para melhorar seu desempenho energético, em conformidade com os requisitos da norma. A norma fornece, através de um processo sistemático, orientado por dados e baseado em fatos, requisitos para melhoria contínua no desempenho energético, que está relacionado ao consumo de energia, ao uso da mesma e a eficiência energética. Utilizando de indicadores de desempenho energético (IDE) e linhas de base energéticas (LBE), para permitir que as organizações demonstrem a melhoria do desempenho energético. Os IDE’s são o fator de carga, preço médio, consumo específico, custo específico e a economia. Para o fator de carga, como o mesmo relaciona a energia consumida pela demanda contratada, quanto mais próximo da unidade, melhor, já que estará indicando uma contratação de demanda adequada. Para o preço médio, sua queda indica um bom plano de gestão, já que o preço da energia está caindo, portanto, é um importante indicador para se observar a evolução do plano de gestão. O consumo e o custo específico são bastante próximos, com o consumo fazendo a relação entre a energia necessária para produzir em relação ao seu custo, e o custo com o custo da fatura pelo produto gerado, desse modo, exemplificando, mudando o consumo de fora ponta para ponta, o consumo se manterá o mesmo, mas o custo cairá, visto que a energia consumida será mais barata. A economia de energia se dá pela relação entre os consumos específicos e a economia em reais se dá pela relação entre os custos específicos, demonstrando o retorno do plano de gestão energética. 2 A norma é baseada no ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA), sendo definido por 4 etapas (Fig.1): Plan (Planejar): Estudo da organização, afim de coletar informações pertinentes ao estabelecimento de uma política energética e de uma equipe de gestão energética, afim de conduzir uma revisão para identificar os usos significativos de energia (USE), os indicadores de desempenho energético (IDE) e as linhas de base energéticas (LBE), traçando objetivos, metas e planos de ação necessários para obter os resultados que levarão a melhoria do desempenho energético. Do (Fazer): Executar os planos definidos na etapa anterior, indo a partir dos planos de ação, controles de operação e manutenção e comunicação. Check (Checar): realizar análises pertinentes dos resultados da aplicação do SGE, afim de obter avaliações críticas do seu desempenho. Act (Agir): Adotar ações para correções no SGE, e continuar evoluindo para melhoria continua do desempenho energético. Figura 1 – Plan-Do-Check-Act Fonte: NBR 50001 Portanto, a implementação da NBR 50001 promove uma abordagem sistemática para melhoria do desempenho energético, melhorando o modo de como organizações gerenciam a energia. Sendo um dos principais resultados disso tudo, a aliança entre gestão energética e atividades de negócio, promovendo queda dos custos de energia, tornando as organizações mais competitivas. Além das metas sobre mudanças climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, como mostrado na Fig. 2, onde as projeções mostram que apenas o efeito da eficiência energética é impactante o suficiente para promover uma redução de até 49% sobre as emissões. Figura 2 – Emissões de CO2 Fonte: Guia para aplicação da norma ABNT NBR ISSO 50001 II. GESTÃO DE ENERGIA A aplicação da NBR 50001, inclui a determinação das partes interessadas pertinentes ao desempenho energético e ao SGE, os requisitos dessas partes, e as necessidades e expectativas da organização a partir do seu SGE. Sendo assim, cabe a organização assegurar que ela possua os requisitos legais entre outros a sua eficiência energética, ao uso e ao consumo de energia, determinam o modo como esses requisitos se aplicam a sua eficiência energética e garantir que estes sejam levados em conta, além de revisar em intervalos definidos os requisitos definidos anteriormente. Um dos principais pontos para aplicação da norma dentro de uma organização é a criação do grupo que realizará o projeto do sistema de gestão de energia, sendo necessário a participação de pessoas competentes, e pertinentes a estratégia a ser traçada. A partir do grupo de gestão energética, é possível definir as metas da organização para com o seu SGE, assim como a definição das IDE’s adequadas com a revisão energética dentro da empresa, como por exemplo a quantidade de energia gasta para realizar um determinado serviço ou para a produção de um determinado produto. Diversas empresas usam várias fontes de energia (elétrica, combustíveis, ar comprimido, entre outras) sendo necessário estabelecer qual a fonte mais relevante, e quaisos locais onde ocorre o maior consumo, sendo assim possível focar o SGE inicialmente nesses locais afins que as metas sejam concluídas. Desse modo, as linhas de base da organização precisam sempre estar evoluindo junto com as melhorias realizadas, afim de manter a precisão dos dados coletados e os indicadores disponíveis. Após essa etapa, para melhoria contínua do SGE e do desempenho energético da organização, é necessário que os planos sejam expandidos de acordo com a estratégia definida pela empresa, até que, idealmente, todos, ou pelo menos boa parte, dos setores da organização estejam otimizados. Várias empresas relatam melhorias em seu desempenho e em sua produção com a aplicação da norma, como a Johnson Matthey Company, que conseguiu aumentar sua produção, consumindo menos energia, como mostrado na figura a seguir: Figura 3 – Melhoria de desempenho energético Fonte: Gestão de Energia - As novidades do movimento internacional e a situação do Brasil Um dos desafios para implementação de políticas de gestão energética é que mesmo em situações favoráveis, diversas vezes isso não ocorre, e quando ocorrem por vezes 3 não são sustentadas a longo. A necessidade de novos equipamentos difere muito em realidades muito isoladas, dificultando ainda mais. Sendo assim, a eficiência energética ainda não é uma prática diária na realidade das organizações, sendo necessário engajamento na gestão e na economia de energia. Outra mudança que precisa ocorrer é a percepção que o planejamento baseado na gestão da energia é mais adequado do que a aplicação de práticas corretivas no futuro. A. Sistema de gestão de energia (SGE) - Ações para abordar riscos e oportunidades O SGE deve ser estabelecido, implementado, mantido e melhorado continuamente, incluindo processos necessários para isso, afim de promover a aperfeiçoamento do seu desempenho energético. Cabe a Alta Direção da organização demonstrar comprometimento com a eficácia do SGE, assegurando que seu escopo e fronteiras sejam estabelecidos, que a política, os objetivos e as metas energéticas sejam compatíveis com direção estratégica escolhida, que os planos de ação sejam implementados e que os recursos necessários para o SGE estejam disponíveis. Além de promover a importância da gestão de energia e da conformidade com o SGE. Desse modo se assegura que os resultados com o SGE sejam alcançados. Também é importante o estabelecimento de políticas que permitam um fornecimento de uma estrutura de análise crítica dos objetivos e metas, incluindo um comprometimento com a disponibilidade de informações e recursos para alcançar esses objetivos e metas. A partir disso, a organização se compromete em realizar ações como a aquisição de produtos e serviços energeticamente eficientes, além de apoiar atividades de projeto que considerem melhorias do desempenho energético. Sendo necessário determinar os riscos e oportunidades oriundas do projeto do SGE (Fig. 4), abordando esses assuntos de modo a integrar e implementar as ações nos seus processos de SGE e desempenho energético, avaliando a eficácia dessas ações. Figura 4 – Tratamento dos ricos e oportunidades Fonte: NBR 50001 A organização deve desenvolver e conduzir uma revisão energética afim de analisar seu uso e consumo de energia com base em medições para identificar os tipos de energia atuais e seu uso e consumo de energia passado e atual, para estimar usos e consumos futuros. Identificando os USE, para determinação das variáveis relevantes e do desempenho energético atual, para identificar as pessoas executando trabalho sob o seu controle que influenciam ou afetam os USE. Essa revisão precisa ser atualizada em intervalos definidos ou em resposta a mudanças estruturais dentro da organização. B. Aplicação de outras fontes ou fornecedores Como falado anteriormente, a criação e a aplicação de um SGE para obtenção de melhorias no desempenho energético é inerente ao surgimento de riscos e oportunidades. Uma das oportunidades é utilização de outras fontes de energia, como investimentos em geração distribuída para geração própria, ou da compra de uma demanda planejada de energia elétrica, seja isso no mercado livre de energia ou não. O mercado livre de energia elétrica fornece vantagens como a competitividade fornecida pelos menores gastos com energia elétrica, a flexibilidade da contratação de energia entre consumidor e fornecedor, e a previsibilidade dos gastos com energia a partir de um contrato de longo prazo firmado entre ambas as partes. O maior risco tanto do mercado livre de energia tanto da utilização de uma demanda contratada com a concessionária é a previsão do consumo de energia, onde um sobre um subcontrato pode expor o consumidor a gastos maiores do que os previstos, ou ao que o mesmo gastaria anteriormente. A Fig. 5 demonstra essa situação. Figura 5 – Demanda contrata para a curva de carga de uma unidade consumidora Fonte: Livro de Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações Caso o consumidor não consuma a energia contratada, ele a pagará integralmente, mas caso ele passe do contratado, será taxado por isso, como é possível observar na Fig. 6: Figura 6 – Mercado de curto prazo Fonte: Mercado Livre de Energia A execução de um planejamento adequado, bem como de um monitoramento minucioso e compatível com os modos de operação dos contratos de energia, permite a viabilização de 4 planos que valorizam a demanda contratada. Isso é feito a partir da coleta de dados de consumo de uma organização, durante uma faixa de tempo adequada, permitindo que se possa observar a variação de consumo de energia, ou a sazonalidade da organização, essa podendo ser diária, mensal e anual. Em universidades, em períodos onde não estão ocorrendo aulas, uma menor quantidade de demanda por ser solicitada, embora isso precise ocorrer de acordo com uma série de normas, como 90 dias de antecedência para diminuição da demanda, e ficando essa demanda sujeita a ser redirecionada a outra organização que tenha solicitado aumento, por exemplo. Na Resolução Normativa número 414 da ANEEL, que estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica, em seu art. 93, define que a tarifa de ultrapassagem da demanda contratada será de 2 vezes o valor da tarifa normal, se observando que o consumidor pagará a fatura da demanda medida mais a fatura relativa a ultrapassagem. C. Estudo de caso – Implementação WEG Um dos primeiros casos de sucesso da implementação da NBR ISO 50001 foi na Fábrica VII da empresa WEG que começou no ano de 2011, onde foi estudado a proposta de aplicação em uma área piloto. Foi formada uma equipe com especialistas de diversos setores afim de definir os cronogramas e planos de implementação do SGE, onde após revisão energética se pode definir as áreas a serem trabalhadas. A partir da revisão energética, a empresa verificou que a maior parte do seu consumo de energia vinha da rede elétrica (>80%) e identificou os setores com maior consumo (dinamômetros, estufas, sistemas de iluminação e impregnação), sendo possível a montagem de uma matriz detalhando os locais de consumo assim como sua quantidade (kWh), obtendo os IDE’s adequados para o caso, que foram a energia consumida em relação a potência produzida na fábrica (kWh/cv) e a relação energia consumida e testes realizados nos laboratórios (kWh/núm. de ensaios). A partir desses indicadores de desempenho, foi possível traçar curvas que relacionam o consumo com o produto, sendo possível verificar a evolução da aplicação do SGE. Assim, a empresa pode estipular suas metas, que foram de 10% de redução no consumo de energia para a produção dos motores por cv, além de 11% de redução no tempo dos ensaios, permitindo mais ensaios para o mesmo intervalo de tempo. Além disso,controles operacionais foram estudados e aplicados, como procedimentos de acionamento automático de lâmpadas, limpeza das telhas translúcidas para diminuição da necessidade de iluminação artificial, campanhas de conscientização e treinamentos, sistemas de desligamento automáticas dos equipamentos, avisos sonoros avisando da finalização de processos afim de proporcionais eficiência no andamento das atividades, controle do tempo dos ensaios e instalação de disjuntores para desligamento de bancadas. Todas essas ações foram aliadas a atualização dos equipamentos, permitindo mais segurança e eficiência para as atividades, a partir da troca de motores, disjuntores, medições individuais de consumo, instalação de capacitores para aumentar o fator de potência e a reestruturação do painel de iluminação. Outras atitudes foram tomadas, afim de fazer que o SGE fizesse parte do dia a dia da empresa, garantindo que o aumento do desempenho energético estivesse sempre evoluindo, a partir da mudança da cultura de utilização de ambientes e equipamentos dentro da fábrica, reuniões e treinamentos. Com todas essas ações a empresa conseguiu superar suas metas, obtendo uma redução de aproximadamente 13% do consumo para produção de potência, e de mais de 17% de consumo por ensaio. Os resultados no ano de 2012 chegaram a 1.829.870 kWh economizados, proporcionando 954.535 tCO2 evitadas. Essas reduções mostram o leque de oportunidades relacionadas com a aplicação da norma, promovendo produtos mais competitivos, e permitindo que a empresa economize dinheiro sem afetar seu produto, além dos benefícios e o compromisso com o meio ambiente. III. CONCLUSÃO Assim, se observa que a NBR 50001 promove uma mudança não somente operacional, mas também cultural dentro das organizações que a aplicam, permitindo que ocorra a mudança de diversos aspectos interessantes e o fomento da aplicação de práticas de gestão energética, sendo um aliado a luta contra emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a NBR 50001 ainda funciona em parceria com Resolução Normativa número 414 da ANEEL, permitindo a utilização dos mercados de compra de energia afim de permitir um planejamento das faturas de energia de maneira mais precisa, com as ações do SGE. Portanto, conclui-se que, um SGE com políticas, objetivos, metas, linhas de base, indicadores de desempenho, auditorias internas, processos de aquisição e projetos focados em desempenho energético promove, suporta e sustenta a melhoria do desempenho energético, o alcance de outros resultados pretendidos, como custos reduzidos, maior confiabilidade e uso de fontes renováveis aumentado, além da melhoria continua do próprio SGE em termos de pertinência, adequação, efetividade e alinhamento com novas direções estratégicas. REFERÊNCIAS [1] WEG, Implantação da ISO 50001 – Sistemas de Gestão de Energia. [2] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 50001 – Sistemas de Gestão de Energia. Acedido em 12 de Setembro de 2020, em: https://ww.gedweb.com.br [3] M. Palmieri. ISO50001 – Gestão da Energia. Acedido em 12 de Setembro de 2020, em: https://www.leonardo- energy.org.br/iniciativas/iso-50001-gestao-da-energia- parte-2/ [4] V. M. de Oliveira (2019). Mercado Livre de Energia. [5] A. N. C. Viana, E. C. Bortoni, F. J. H. Nogueira, J. Haddad, L. A. H. Nogueira, O. J. Venturini, R. A. Yamachita. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES. 1ª Edição, Universidade Federal de Itajubá, Campinas, SP, 2012. [6] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 414, DE 9 DE SETEMBRO DE 2010. Acedido em 12 de Setembro de 2012, em: 5 https://www.aneel.gov.br/documents/656877/1448644 8/bren2010414.pdf/3bd33297-26f9-4ddf-94c3- f01d76d6f14a?version=1.0 [7] A. J. Fossa, F. A. Sgarbi. Gestão de Energia – Guia para aplicação da norma ABNT NBR ISO 50001. International Copper Association Brazil.
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