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APLICAÇÃO DA METODOLOGIA APQP NO DESENVOLVIMENTO DE PEÇAS FUNDIDAS PARA O SEGMENTO AUTOMOTIVO Aquiles Silva de Oliveira1 Resumo: O Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP) é um método estruturado, contido na norma ISO TS 16949, que busca definir e executar as ações necessárias para um processo de desenvolvimento de produtos a fim de assegurar que um determinado produto alcance a satisfação do cliente. Para atender os requisitos do cliente e assim alcançar sua satisfação, durante e após a etapa de desenvolvimento do produto, é imprescindível a total compreensão e conhecimento dos requisitos do cliente por toda a equipe envolvida no processo de desenvolvimento durante as etapas de processo do novo projeto. Neste contexto, a metodologia APQP como método padronizado, é uma ferramenta que permite organizar as etapas de desenvolvimento de produto/processo podendo resultar em vantagens competitivas no mercado, além de proporcionar produtos diferenciados, com boa qualidade, com alta produtividade e a um custo competitivo, resultando no aumento da competitividade da organização e na satisfação das necessidades do cliente. O presente trabalha aborda uma revisão bibliográfica bem como um estudo de caso sobre a aplicação da metodologia APQP no setor de desenvolvimento de produtos de uma indústria de fundição, bem como uma análise crítica desta metodologia, via estudo de caso dos processos e procedimentos utilizados na aprovação de amostras para produção. Palavras-chave: Desenvolvimento de Produtos, Fundição, APQP, Segmento automotivo. 1 INTRODUÇÃO O setor de fundição caracteriza-se como uma importante indústria primária que fornece componentes para diversas outras indústrias, tais como, automotivas, bens de capital, siderúrgicas, entre outras. No Brasil, o setor produziu no ano de 2012 cerca de 2,8 milhões de toneladas (ABIFA, 2013). A indústria de fundição brasileira é a 7ª produtora mundial de fundidos, com um mercado de 5,6 bilhões de dólares e tem como principal cliente a indústria automotiva, a qual responde por 53% das vendas do setor, sendo que 95% das empresas são de pequeno e médio porte (ABM, 2007). O objetivo deste trabalho é estudar a metodologia e as ferramentas existentes no setor de desenvolvimento de produtos de uma indústria de fundição, identificando de que forma os aspectos citados são atualmente abordados em seus processos internos, buscando-se assim, oportunidades de melhoria através da comparação dos processos e ferramentas identificados, com os disponíveis na bibliografia e estudados no meio acadêmico. Além disso, pretende-se com esse trabalho, fornecer informações que possam auxiliar montadoras e fornecedores na melhoria de seus processos internos de desenvolvimento de produto, principalmente nas questões relativas ao Planejamento Avançado da Qualidade do Produto – APQP, o qual estabelece um conjunto de passos e ferramentas para o desenvolvimento conjunto de produtos entre as montadoras e os seus fornecedores. 1 Aluno do curso EAD de Engenharia da Qualidade – SOCIESC – aquileslu@ibest.com.br 2 O PROCESSO DE FUNDIÇÃO 2.1 A história da fundição A história dos fundidos no mundo se confunde com a própria história e evolução da humanidade. A primeira peça fundida de que se tem registro é a de um sino, fundido na antiga China há mais de 5000 anos. Muitos acreditam que o homem descobriu o ferro no Período Neolítico (Idade da Pedra Polida), entre 6.000 a 4.000 a.C. Teria surgido quando pedras de minério de ferro usadas para proteger as fogueiras, que depois de aquecidas, mudavam suas formas. O uso do ferro nesse período sempre foi algo acidental. Às vezes o material era encontrado também em seu estado nativo, caso de alguns meteoritos (corpos rochosos compostos por muitos minérios, inclusive ferro, que circulam no espaço e caem na Terra.). Muitos achavam que o ferro era uma benção de Deus, por estar vindo do espaço. A fundição é a indústria de base sobre a qual as outras indústrias foram erguidas. Grande parte dos componentes e peças de um equipamento continua sendo construída, atualmente, principalmente de fundidos, nas suas mais diferentes variações e combinações de ligas e materiais hoje disponíveis, para todo o tipo de aplicações (SETTI et al., 2008). 2.2 O setor de fundição A fundição é o processo pelo qual os metais ou ligas metálicas em estado líquido (fundido) são vazadas em um molde para a fabricação dos mais variados tipos de peças, objetos decorativos, jóias, bijuterias, carcaças de máquinas, lingotes e outros. Em muitos casos, a fundição é o processo mais simples e econômico de se produzir uma peça, principalmente quando esta é de grande porte, de geometria complexa ou com canais internos e cavidades (RUNDMAN, 1999). 2.3 Fundição em areia Os moldes, por sua vez, são o negativo da peça a ser produzida e o tipo de material com que são feitos depende do processo que será utilizado. Os mais comuns são feitos de areia de fundição: a areia sintética, composta por uma mistura de areia, argila e água. A areia verde, que contém areia silicosa e a areia seca, utilizada quando se precisa de peças com melhor acabamento ou estabilidade dimensional, que contém aditivos que melhoram suas propriedades. No processo de moldagem com areia é reaproveitada cerca de 98% da areia utilizada. Ela é peneirada e volta para o processo. A figura 1 apresenta um fluxograma esquemático das principais etapas do processo de fundição. 3 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS O Desenvolvimento de Produtos é um processo bastante complexo e relacionado com praticamente todos os demais processos de uma empresa. Para desenvolver produtos são necessárias informações e habilidades de membros de todas as áreas funcionais, caracterizando-se como uma atividade, em princípio, multidisciplinar. Além disso, trata-se de uma atividade com uma característica ad-hoc, em que cada projeto de desenvolvimento pode apresentar características específicas e um histórico particular (MUNDIM et al., 2002). A utilização de um Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) bem estruturado é um importante diferencial competitivo em qualquer segmento de mercado inclusive no desenvolvimento de novos componentes fundidos. Segundo Rundman (1999), o processo de desenvolvimento de novos componentes fundidos consiste de uma combinação de conhecimentos técnicos e experiência, e apresenta as seguintes etapas principais: projeto físico do componente a ser fundido, seleção do material, confecção do ferramental, seleção do processo de fundição, fabricação e operações complementares. Outro fator de grande importância que deve ser considerado no processo de desenvolvimento de novos componentes fundidos é observado por Koch (2007), que relata que componentes fundidos não são commodities, mas sim especificidades, onde cada peça produzida tem uma aplicação específica e um único cliente. Porém deve-se observar que nem todas estas etapas ocorrem numa fundição. Conforme o trabalho de Fernandes & Leite (2002), as empresas de fundição podem ser classificadas em cativas e de mercado. Fundições cativas são aquelas que produzem fundidos apenas para seu próprio uso, de modo que todas as etapas de desenvolvimento ocorrem na própria fundição. Nas fundições de mercado, a especificações dos clientes são recebidas (projeto físico e material do componente) e os componentes produzidos. Portanto, nem todas as etapas do desenvolvimento ocorrem. A figura 2 apresenta uma comparação entre as etapas do processo de desenvolvimento de componentes fundidos para as duas classes de fundições. Figura 1 – Etapas do Processo de desenvolvimento de componentes Fundidos em relação ao tipo de fundição. Etapa do Processo de Desenvolvimento de Componentes Fundidos – Rundman (1999) Classe da Fundição Mercado Cativa Projeto Físico do Componente Cliente Fundição Seleção do Material Confecção do FerramentalFundição Seleção do Processo de Fundição e Produção do Fundido Avaliação do Produto Fundido Operações Complementares O desenvolvimento em fundições cativas contempla todas as etapas propostas por Rundman (1999), e pode ser adequadamente operacionalizado por meio da abordagem para o processo de desenvolvimento de produtos proposta Ulrich & Eppinger (2000), na qual as atividades a serem realizadas estão relacionadas e integradas entre os setores envolvidos enquanto que para fundições de mercado, o processo de desenvolvimento assume uma dimensão a mais, a existência de duas empresas envolvidas. Neste contexto o ponto chave para o sucesso do desenvolvimento não é somente a integração das áreas conforme o modelo de gestão proposto por Ulrich & Eppinger (2000), mas o ponto crítico para o sucesso do desenvolvimento é a forma de realizar a conexão entre cliente e o processo de fundição de mercado. 3.1 O processo de desenvolvimento de produto na fundição Análise da Viabilidade Técnica Após a aprovação do orçamento de um novo item pelo setor de vendas, é iniciada a realização do PPAP - Processo de Aprovação de Peça de Produção, conforme manual do APQP. Este documento se baseia em manuais de referência da QS-9000, e visa atender as especificações da ISO TS 16949. Antes de se iniciar ao desenvolvimento propriamente dito, o setor de engenharia de desenvolvimento de produtos realiza a análise de viabilidade técnica do novo item podendo aprová- lo em primeira instância, aprová-lo condicionalmente desde que as restrições sejam submetidas e aprovadas pelo cliente ou decliná-lo e finalizar o projeto nesta etapa de desenvolvimento. A viabilidade técnica é a condição que permite a operação do sistema, projeto ou idéia a que se refere, de acordo com suas características tecnológicas e as leis da natureza envolvidas. A viabilidade técnica analisa um determinado requisito ou idéia para determinar se é possível realizá- lo com sucesso e segurança com a tecnologia disponível, verificando diversos fatores, tais como a resistência estrutural, a durabilidade, a operabilidade, implicações de energia e os mecanismos de controle, de acordo com o domínio em causa. Além disso, na viabilidade técnica deve-se observar se o projeto atende aos requisitos técnicos, tais como: existência de conhecimento e tecnologia necessários para a realização do projeto; adequação às leis e normas, tanto do estado e país onde o projeto será realizado, como às normas internas da própria organização. Etapas do APQP Surgido no início da década de 90 nos Estados Unidos, o APQP – Planejamento Avançado da Qualidade do Produto – é um modelo estruturado que define ações necessárias para o desenvolvimento de novos produtos na indústria automotiva de acordo com os requisitos da norma ISO/TS 16949. Neste modelo estruturado utilizado especificadamente na indústria automobilística, os procedimentos, formatações e nomenclaturas são padronizados de acordo com todas as especificações das montadoras, evitando assim o trabalho penoso de diversas auditorias. O processo do APQP é ilustrado na figura 2. Figura 2 - Processo do APQP (Manual APQP – AIAG, 1995). De acordo com Gonzalez & Miguel (2000), o APQP tem como meta uma efetiva comunicação com todos os setores envolvidos no desenvolvimento do produto integrando todos os componentes dos grupos que vierem a ser formados, com responsabilidade nesse processo. Os grupos se estruturam a fim de alcançarem a realização de todas as etapas do processo do APQP nos tempos requeridos, buscando uma redução ou eliminação dos problemas com a qualidade como também a minimização dos riscos de baixa qualidade no lançamento do produto. Com a definição da equipe e a identificação do escopo do trabalho, o desenvolvimento do APQP pode ser iniciado de acordo com as cinco fases: 1 – Planejamento e definição do programa: Decisão de fornecimento; Requisitos de entrada do cliente; 2 – Projeto e desenvolvimento de produto: Análise dos modos de falha de projeto e seus efeitos (DFMEA); Revisão de projeto/manufatura; Plano de verificação do projeto; Status do APQP dos subcontratados; Análises críticas do projeto; Instalações, ferramentas e dispositivos; Plano de controle de protótipos; Construção de protótipos; Desenhos e especificações; 3 – Projeto e desenvolvimento do processo: Fluxograma de processo de manufatura; Análise dos modos de falha dos processos e seus efeitos (PFMEA); Avaliação do sistema de medição; Plano de controle de pré-lançamento; Instruções do processo do operador; Especificações de embalagem; 4 – Validação do produto e do processo: Trial Run de produção; Plano de controle de produção; Estudo preliminar da capacidade do processo; Teste de validação da produção; Certificado de envio da peça (PSW). 5 – Retroalimentação, avaliação e ação corretiva: Não tem elementos. Dentre outros objetivos almejados com a utilização do APQP, destacam-se: ter um melhor direcionamento dos recursos do projeto; identificar possíveis problemas e eventuais mudanças de projeto nas etapas iniciais; identificar itens críticos a serem controlados e eliminar práticas desnecessárias para o processo de produção. Estrutura do APQP Implantado na Engenharia da Metalúrgica Funditest A finalidade do manual APQP é comunicar às organizações (internas e externas) e fornecedores as diretrizes comuns do Planejamento da Qualidade do Produto e Plano de Controle desenvolvidas em conjunto pela Chrysler, Ford e General Motors. O manual apresenta diretrizes designadas para produzir um plano de controle do produto que dê suporte ao desenvolvimento de um produto ou serviço que trará satisfação ao cliente. (Manual APQP 4ª edição). 4. ESTUDO DE CASO DE APLICAÇÃO DO APQP 4.1 Aplicação da metodologia APQP na Metalúrgica Funditest A Metalúrgica Funditest (nome fictício dado pelo autor para resguardar o verdadeiro nome da empresa), fabricante de componentes fundidos e usinados para o segmento automotivo, linha médio-pesada e pesada, tendo como principais clientes o Grupo Randon (Suspensys, Master e Jost), Caterpillar, Iveco e Agrale entre outras, tem um quadro de aproximadamente 350 funcionários e situa-se na região de Jaraguá do Sul, Santa Catarina. A empresa em questão tem o seu processo de certificação do sistema de gestão da qualidade desde 2001. Decisão de Fornecimento Esta primeira etapa tem como objetivo entender as expectativas e as necessidades dos clientes para que as mesmas possam ser atendidas e para isso, o programa de qualidade deve ser muito bem entendido, definido e planejado. Ou seja, o foco deve ser sempre o cliente e com isso, fornecer ao cliente melhores produtos e serviços que a concorrência (TOLEDO et al, 2002). Na Metalúrgica Funditest o processo de desenvolvimento do produto inicia-se com a decisão de fornecimento através do fechamento do contrato entre a área comercial da FUNDITEST e o cliente. Em seguida, a área comercial gera um documento denominado ‘Aprovação de Orçamento para Fornecimento’, o qual é enviado para o setor de Engenharia dando início ao processo de desenvolvimento do novo item fundido. Esta etapa é responsável por: Analisar a viabilidade do projeto; Analisar os riscos; Formar a equipe multifuncional e eleger o líder do projeto; Criar o cronograma de desenvolvimento; Coletar e analisar os dados de entrada do projeto; Elaborar o fluxograma preliminar do processo de produção da peça. Requisitos de entrada do cliente Segundo Gonzalez (1999), na segunda etapa do APQP são analisados todos os requisitos, normas e especificações e desenhos do cliente a fim de determinar as necessidades e expectativas do cliente possibilitando definir um programa da qualidade pela realização das seguintes etapas: Ouvir a voz do cliente: reclamações, recomendações, pesquisasde mercado, indicadores de satisfação e análise da concorrência; Plano de Negócios e Estratégia de Marketing: analisar as restrições quanto a prazo, custo investimento, recursos de pesquisa e desenvolvimento que possam alterar o rumo a ser seguido. A estratégia de marketing definirá o cliente-alvo, os principais pontos de venda e os principais concorrentes; Benchmark do Produto e Processo: o uso do benchmark fornece o input para estabelecer as metas de desempenho do produto/processo; Premissas do Produto e Processo: características e conceitos de projeto e processo. Inclui inovações técnicas, materiais avançados, avaliações de confiabilidade e novas tecnologias; Estudos de Confiabilidade do Produto: Este tipo de dado considera a frequência de reparos ou substituições de componentes dentro de determinados períodos e os resultados dos testes de confiabilidade/durabilidade de longo prazo; Inputs do Cliente: informações do futuro usuário com relação as suas necessidades e expectativas. Esses inputs devem ser usados pelo cliente e/ou organização para desenvolver medidas de acordo com a satisfação do cliente. Análise dos modos de falha de projeto e seus efeitos (DFMEA) Definidos os requisitos da etapa anterior, através de desenhos e especificações, parte-se para a elaboração do FMEA de projeto (DFMEA) no qual são determinadas as características críticas do produto em desenvolvimento (GONZALEZ, 1999). Este procedimento não se aplica a fundição, uma vez que o desenho e as especificações do projeto são de domínio do cliente e não do fornecedor em questão. Revisões de projeto Semanalmente o líder de projeto se reúne com a equipe multidisciplinar para acompanhamento dos prazos e das tarefas a serem cumpridas com base no cronograma de APQP que é gerado para cada item novo que é aprovado para desenvolvimento. Verificou-se nesta etapa que existe grande dificuldade para reunir a equipe multifuncional, demonstrando falta de comprometimento ou pouca maturidade do grupo. Plano de verificação do projeto O plano de verificação do projeto consiste num método para planejar e documentar as atividades de testes de cada fase do desenvolvimento do produto/processo desde o seu início até o refinamento durante a execução (CAMPOS 2009). Na metalúrgica Funditest esta verificação é realizada por meio de observações feitas diretamente no cronograma de APQP facilitando a análise e a tomada de ações durante as reuniões de revisão do projeto. Status do APQP dos subcontratados Tanto para a construção dos protótipos como para o lote piloto (trial run) de produção, tem- se a necessidade da garantia do atendimento dos prazos por parte dos fornecedores (subcontratados). Da mesma forma que estrutura-se para o atendimento dos prazos dos clientes, estes subcontratados devem, através de seus APQPs garantir os prazos requeridos (CAMPOS 2009). Os prazos para subcontratados são definidos no cronograma da fundição e monitorados pela equipe do APQP definida no início do desenvolvimento. Nesta etapa do processo, verificou-se que apesar dos esforços da fundição para o cumprimento do cronograma, alguns subcontratados não cumprem com os prazos definidos no cronograma, impactando diretamente no índice de desempenho de APQP no setor de engenharia da Funditest. Análises críticas do projeto Definidas no FMEA de projeto as características importantes do produto, estas são lançadas nos planos de controle do protótipo, os quais definem o sistema, equipamento e a forma de medição a serem utilizados (CAMPOS 2009). Uma vez que o projeto é de domínio do cliente, a fundição Funditest define as características críticas do projeto/processo com base nos desenhos, normas e especificações fornecidos pelo cliente conforme item 4.1.2. Instalações, ferramentas e dispositivos Similarmente a etapa anterior, tanto para confecção dos protótipos como à das peças do lote piloto, deve-se gerenciar necessidades e prazos para disponibilidade de instalações, ferramentas e dispositivos (GONZALEZ, 1999). Plano de controle do protótipo Definidas no FMEA de projeto as características importantes do produto, estas são lançadas nos planos de controle do protótipo, os quais definem o sistema, equipamento e a forma de medição a serem utilizados (GONZALEZ, 1999). Conforme Gonçalves (2006), os planos de controle de protótipos são descrições de medições dimensionais, testes funcionais e de materiais que irão ocorrer durante a construção do protótipo. A decisão de construir o protótipo no início do processo de desenvolvimento de uma peça fundida fica a cargo do cliente. Desta forma, se o cliente decidir não construir o protótipo, o processo de desenvolvimento se inicia diretamente no projeto/processo do ferramental/componente definitivo. Construção do protótipo Com o cumprimento das etapas anteriores, parte-se então para a construção do protótipo ou para o componente definitivo se o cliente assim desejar. Especificações e desenhos de engenharia Os projetos do cliente não excluem a responsabilidade da equipe de planejamento em analisar criticamente os desenhos da engenharia da maneira a seguir. Os desenhos devem ser analisados criticamente para determinar se existe informação suficiente para um lay out dimensional das peças individualmente. As dimensões devem ser avaliadas para assegurar viabilidade e compatibilidade com padrões de medição e fabricação (GONÇALVES, 2006). Um ponto positivo que observou-se na Metalúrgica Funditest é a utilização da engenharia simultânea. A simulação do processo de fundição auxilia na concepção do ferramental pois permite avaliar uma série de parâmetros antes mesmo da confecção do protótipo e do ferramental de produção. Comprometimento da equipe com a viabilidade De acordo com Campos (2009), a equipe de planejamento deverá avaliar a viabilidade do projeto proposto. A equipe deverá estar convencida de que o projeto proposto poderá ser fabricado, montado, testado, embalado e entregue em quantidade suficiente, a um custo aceitável e dentro do prazo. O consenso deve ser documentado juntamente com todas as questões em aberto que requeiram soluções e apresentado para a gerência para suporte. Se for necessário, alguns sub- fornecedores também poderão fazer parte na análise da viabilidade. Esta etapa do APQP é realizado por um único membro da engenharia o qual preenche um formulário padrão contendo todas as questões referentes a viabilidade do projeto. Em seguida, este formulário é submetido ao restante do grupo que deverá revisar e aprovar a viabilidade ou devolver ao nível anterior caso seja necessário alguma alteração. Após a aprovação de todos os membros da equipe, o formulário é submetido a avaliação e aprovação da gerência. Figura 3 – Legendas usuais para fluxogramas de processo. Fluxograma de processo de manufatura O fluxograma de processo é uma representação esquemática do fluxo de processo existente ou proposto. A elaboração do fluxograma do processo de manufatura também irá facilitar a elaboração do FMEA de Processo (GONZALEZ, 1999). Análise dos modos de falha dos processos e seus efeitos (PFMEA) Elaboração do FMEA do processo. Nesta etapa do APQP observou-se que a equipe está bem treinada e é muito disciplinada quanto a elaboração do FMEA do processo. Também observou-se que sempre que é necessário, a equipe do APQP convida membros de outras áreas da empresa para participar da elaboração do FMEA. Avaliação do sistema de medição (MSA) Análise dos sistemas de medição para as características levantadas no FMEA. A equipe multifuncional deve assegurar que seja desenvolvido um plano que realize a análise dos sistemas de medição requeridos e deve incluir a responsabilidade de assegurar a linearidade de dispositivos de medição, precisão, repetitividade, reprodutibilidade e correlação entre dispositivos duplicados (GONÇALVES, 2006). Planode controle de pré-lançamento Elaboração do plano de controle de pré-lançamento através dos dados do FMEA de processo, mais o MSA (GONZALES, 1999). Instruções do processo ao operador Segundo o Instituto da Qualidade Automotiva (1995), as instruções de processo ao operador descrevem em detalhes os controles e ações que o pessoal operacional deve executar para produzir produtos com qualidade. Na unidade em análise, estas instruções são denominadas “Ordem de Fabricação ou OF”. As OFs devem ser claras, não deixando dúvidas para o operador. Especificações de embalagem O cliente normalmente terá padrões de embalagem que devem ser incorporados em qualquer especificação de embalagem para o produto. Caso nenhuma especificação seja fornecida, o projeto deverá assegurar a integridade do produto quando de sua utilização. Nos casos em que nenhuma especificação é fornecida, a Metalúrgica Funditest tem um embalagem padrão para assegurar a integridade do produto. Trial Run de produção De acordo com Campos (2009), o trial run da produção é uma validação da efetividade do processo de manufatura usando o ferramental, equipamentos, condições ambientais (incluindo operadores de produção), instalações e ciclos de tempo de produção. Plano de controle de produção Elaboração dos planos de controle de produção a partir do pré-lançamento. De acordo com Castilho Junior (2009) esta é a ferramenta da qualidade que determina o tipo de inspeção que deve ser realizado em determinados processos críticos dentro da produção. Na Funditest, a determinação do plano de controle geralmente é realizada após o protótipo, pois conterá informações necessárias para a verificação do produto dentro do processo. Estudo preliminar da capacidade do processo Baseado nos conceitos do CEP (controle estatístico do processo), este estudo prove uma representação prática do que foi estudado anteriormente no plano de controle do processo crítico. A equipe multifuncional deve assegurar o desenvolvido de um plano preliminar de capabilidade de processo. As características identificadas no plano de controle servem como base para o plano de estudo preliminar da capabilidade do processo (GONÇALVES, 2006). Teste de validação da produção Teste de validação da produção (PV), que são todas as avaliações realizadas no produto, desde testes de performance a dimensionais. Preocupações adicionais devem ser identificadas para investigação e resolução antes do início da produção regular, e tendo as seguintes etapas: Corrida piloto de produção; Avaliação do sistema de medição; Estudo preliminar da capabilidade do processo; Processo de aprovação de peça de produção (PPAP). Certificado de envio da peça (PSW) De acordo com Campos (2009) este é o último elemento do APQP e consiste na entrega de peças com PSW (part submission warrant) na planta do cliente na data de requisição do produto. Após a primeira entrega, o produto torna-se corrente, ou seja, normal de produção. 5. CONCLUSÃO Este trabalho mostra a importância da utilização de uma metodologia estruturada como o APQP para o desenvolvimento de produtos, demonstrando-se em cada uma de suas etapas o cumprimento de tarefas pertinentes a elas, a negociação dos prazos distribuídos para cada tarefa e o comprometimento dos diversos setores envolvidos, para o sucesso do processo de desenvolvimento. O sucesso da metodologia APQP depende de sua aplicação adequada e do grau de experiência da equipe envolvida no processo e na utilização da metodologia para garantir os melhores resultados e com isso, a satisfação do cliente e a melhoria contínua dos processos e produtos a serem desenvolvidos. Nesse contexto, a Metalúrgica Funditest apresenta uma sistemática detalhada e bem estruturada conforme recomendações do manual APQP, embora ainda ocorra algumas falhas no processo, tais como atrasos no prazo de entrega ou desvios nas etapas do cronograma. De maneira geral, conclui-se que a aplicação da metodologia APQP na Metalúrgica Funditest é realizada de forma bastante satisfatória, evidenciando as vantagens de se aplicar esta ferramenta no desenvolvimento de peças fundidas para o segmento automotivo. A metodologia APQP permitiu a empresa alcançar um sistema de gestão da Qualidade eficaz, atendendo a todos os requisitos do cliente, além de assegurar produtos de qualidade com baixo custo e com um prazo adequado resultando no aumento da satisfação do cliente. REFERÊNCIAS ABIFA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIÇÃO. Indicadores. Revista da ABIFA, Fundição & Matérias Primas, v. 93, n. 1, p. 88-91, 2008 – 2013; ABM - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE METALURGIA E MATERIAIS. VI Seminário de Fundição da ABM. Estudo Setorial sobre Fundição no Brasil (2004-2006). Disponível em: http://www.abmbrasil.com.br/cim/download/semfundicao4ABNT; SETTI, D. Análise do Processo de Desenvolvimento de Produtos de uma Empresa de Fundição de Pequeno Porte: Uma Comparação entre Modelos Referenciais Teóricos e a Prática. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Rio de Janeiro, Out 2008; RUNDMAN, K. B. Metal Casting. Houghton: Michigan Technological University, 1999; MUNDIN, A.P.F.; ROZENFELD, H.; AMARAL, D.C.; SILVA, S.L.; GUERRERO, V.; HORTA, L.C. Aplicando o Cenário de Desenvolvimento de Produtos em um Caso Prático de Capacitação Profissional. Gestão & Produção v.9, n.1, p.1-16, 2002; KOCH, L.C. Palavra do Presidente. Revista da ABIFA, Fundição & Matérias Primas, v. 84, n. 3, p. 3, 2007; FERNANDES, F. C. F. & LEITE, R. B. Automação Industrial e Sistemas Informatizados de Gestão da Produção em Fundições de Mercado. Gestão & Produção, v. 9, n. 3, p. 313-344, 2002; ULRICH, K. T.; EPPINGER, S. D. Product Design and Development. New York, McGraw Hill, 2000; APQP - PLANEJAMENTO AVANÇADO DA QUALIDADE DO PRODUTO E PLANO DE CONTROLE. 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Abstract: The Advanced Product Quality Planning ( APQP ) is a structured method, contained into the ISO TS 16949, which seeks to define and implement the necessary actions for product development process to ensure that a particular product reaches the customer’s satisfaction. To meet the customer requirements andreach your satisfaction during and after the stage of product development, it’s essential a full understanding and knowledge of the customer requirements for all staff involved in the development process during the process steps of the new project. In this context, the APQP methodology as standardized method is a tool that allows you to organize the stages of product/process development resulting in competitive advantages in the market, besides providing differentiated products with good quality, high productivity and a competitive cost, resulting in increased competitiveness of the organization and the satisfaction of customer needs. This work addresses a literature review and a case study on the application of the APQP methodology in the product development sector at a foundry industry, as well as a critical analysis of the methodology by means of a case study of the processes and procedures used in the approval of the samples for production. Key-words: Product development, Foundry, APQP, Automotive sector.
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