Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CASO CLÍNICO A paciente E.C.S., 73 anos, 46 kg, 1,46 m de altura, sexo feminino, dona de casa, residente em Campina Grande – PB. Na avaliação inicial, em 03/10/2011, a mesma relatou ter dor constante e dificuldade para fletir os joelhos. Em sua história, apresentava dores de forma esporádicas nas articulações após esforços físicos, julgando ser natural. Seu quadro álgico se agravou progressivamente. Neste período de agravamento dos sintomas, fez uso de analgésico (composto por diclofenaco sódico, paracetamol, carisoprodol e cafeína) por dois meses. Atualmente faz uso de Sulfato de Glicosamina. A dor intensificou-se inicialmente nos tornozelos, progredindo para os joelhos; sendo o membro inferior direito (MID) atualmente mais comprometido que o esquerdo (MIE). No presente momento, apresenta membros inferiores (MMII) bastante comprometidos, principalmente para flexão de joelhos; movimento esse que desencadeia dor nas regiões infra-patelar e poplítea. Questionada sobre a intensidade de sua dor, a paciente elegeu nota 5, de acordo com a Escala Visual Analógica (EVA). Entre outras patologias que possui, destacamos a hipertensão arterial; anemia; e osteopenia leve. Durante a inspeção, notou-se que o pé do MID é cavo do tipo rígido, apresentando dedos em garra. Segundo a paciente, essa alteração é de origem congênita. A marcha se deu com hipomobilidade dos joelhos e quadris, mais por adaptação protetora do que por limitação física; os MMII apresentaram-se hipotrofiados, sem sinais de inflamação articular. À palpação, os acidentes ósseos dos joelhos mostraram se aparentemente normais. Radiografia convencional realizada em 10/02/2010 revelou redução dos espaços articulares tibiofemoral e patelofemoral em ambos os joelhos, em especial no D, onde também se nota pinçamento articular e osteófitos discretos no fêmur, tíbia e patela. A goniometria apresentou os seguintes dados para flexão de joelho: 50° para o joelho D e 60° para o joelho E. A paciente não apresentou limitação para a extensão. Agoniometria se deu com a paciente em decúbito ventral, com flexão ativa da articulação até o limite não doloroso. Essa forma de avaliação serviu para verificação indireta do nível de força muscular dos flexores de joelho (que se encontra diminuída, possivelmente pelo desuso), evitando a sobrecarga que um teste convencional teria sobre a articulação. No que concerne à função, os principais problemas enfrentados pela paciente são subir degraus (o que quase sempre desencadeia as crises álgicas, associadas com edema) abaixar-se e flexionar o tronco, o que prejudica sua locomoção e seus afazeres domésticos. Foi encaminhada para tratamento de osteoartrite. OSTEOARTRITE DEFINIÇÃO Afecção crônica, degenerativa e progressiva que afeta as articulações sinoviais, sendo caracterizada por dor, limitação da ADM e possíveis deformidades nos estágios mais avançados. Pode ter origem tanto na cartilagem como no osso subcondral (imediatamente abaixo da cartilagem), ou até mesmo no líquido sinovial (produzido pela membrana sinovial, responsável por lubrificar a articulação). Lesão das superfícies articulares, abrasão da cartilagem hialina e desgaste progressivo do osso subcondral. TIPOS DE ARTICULAÇÕES Articulação é o ponto em que dois ossos se encontram adjacentes um ao outro, com ou sem a capacidade de se mover. Classificação estrutural ● Sinovial: ossos não estão diretamente unidos e compartilham a cavidade sinovial, que é fechada pela cápsula articular, e os ossos adjacentes são revestidos por cartilagem hialina; ● Fibrosa: ossos são unidos por tecido conjuntivo fibroso denso; ● Cartilaginosa: ossos são unidos por cartilagem, pode ser sincondrose (hialina) ou sínfise (fibrocartilagem). Classificação funcional (movimento) ● Sinartrose: pouca ou nenhuma mobilidade (principalmente fibrosas); ● Anfiartrose: alguma mobilidade (principalmente cartilaginosas); ● Diartrose: elevada mobilidade (articulações sinoviais). Classificação funcional (eixos) ● Uniaxial: único eixo; ● Biaxial: dois eixos; ● Multiaxial: três eixos. ETIOLOGIA ● Primária (generalizada ou idiopática): maior incidência no sexo feminino, a partir de 50 anos, no período pós-menopausa. Acredita-se que há um fator genético entre as causas. Afeta várias articulações simultaneamente, gera alterações na cartilagem hialina e degeneração articular, sendo geralmente do tipo simétrica; ● Secundária: resulta de traumas ou de alterações biomecânicas das articulações. CLASSIFICAÇÃO Feita quanto ao número de articulações afetadas: ● Monoarticular; ● Oligoarticular; ● Poliarticular. HISTOLOGIA - TECIDO CARTILAGINOSO É um tecido conjuntivo muito rígido, flexível e avascular. Tem funções de sustentação, revestimento, amortecimento de impactos e crescimento. É formado pela matriz extracelular (que contém colágeno e/ou elastina, proteoglicanos e ácido hialurônico) e pelas células condroblastos (mais ativos - produz MEC) e condrócitos (dentro das lacunas e menos ativos). É revestido pelo pericôndrio (TC), e fornece células novas para o crescimento ou regeneração. Tipos de cartilagem ● Hialina: mais comum, nas extremidades dos ossos principalmente; ● Elástica: rica em fibras elásticas; ● Fibrosa: a mais resistente, com muito colágeno e é a única não revestida pelo pericôndrio, entre as vértebras. A cartilagem está em um eterno processo de degradação e regeneração, por isso tem-se: ● Pró-catalisadores: citocinas, como IL-1, TNF-alfa, metaloproteases; ● Formadores: fatores de crescimento e inibidores de metaloproteases. FISIOPATOLOGIA As alterações iniciais ocorrem na cavidade articular. Modificações qualitativas e quantitativas na rede de colágeno e proteoglicanos que sustenta o tecido e progressiva perda de condrócitos levam a uma modificação das propriedades biomecânicas da cartilagem, precipitando a degeneração progressiva com erosão e liberação de fragmentos de tecido no líquido sinovial. SINAIS E SINTOMAS Dor e sensibilidade à mobilização, palpação ou manobras; Crepitação palpável, excepcionalmente audível; Espasmo e atrofia da musculatura articular satélite; Limitação da amplitude articular seguindo um padrão de acometimento capsular, sem anquilose como regra; Sinais discretos de inflamação articular, raramente acentuados. FATORES DE RISCO Obesidade: o peso causa uma sobrecarga; Estresse mecânico; Trauma; Inflamação articular; Desordens congênitas; Doenças endócrinas. DIAGNÓSTICO Avaliação clínica ● História do paciente ● Exame físico: inspeção (identificar condições como pé chato ou cavo, geno valgo, etc), palpação e movimentação, para buscar casos de artralgia, dor pós repouso, artrite (inflamação), crepitação articular. É importante comparar articulações (do joelho esquerdo e do direito, por exemplo). Busca-se reconhecer aumento de volume, rubor, atrofias, desalinhamento articular, deformidades. Radiografia para buscar alterações específicas, diminuição da interlinha articular, esclerose do osso subcondral, osteófitos, cistos e rarefação óssea. Obs.: Exames laboratoriais são complementares, pois podem não sofrer alteração ou ela ser muito pequena. TRATAMENTO Não-medicamentoso: medidas gerais, corrigir fatores de risco, repouso nos períodos de maior dor, utilização de órteses(bengalas), reabilitação com fisioterapia. Medicamentoso: Analgésicos (paracetamol, dipirona, codeína, tramadol) e AINH (diclofenato, aceclofenato, nimesulida, ibuprofeno) + ácido hialurônico intra articular para redução de quadro inflamatório. JOELHO A articulação do joelho é a maior do corpo, sendo classificada como sinovial em dobradiça. É uma diartrose (apresenta grande amplitude de movimento). Parte de 0° de extensão até 130° de flexão. Os músculos responsáveis pela flexão do joelho são bíceps femoral, semitendíneo, semimembranáceo, sartório e grácil. Os músculos gastrocnêmios e poplíteo são auxiliares. Os responsáveis pela extensão são o reto femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto intermédio. Ela inclui três superfícies articulares, que formam duas articulações distintas: a patelofemoral e a tibiofemoral; contidas dentro de uma simples cápsula. A OA pode afetar um ou mais dos três compartimentos do joelho: tibiofemoral medial, tibiofemoral lateral e patelofemoral. Quando afeta o compartimento medial, pode levar ao aparecimento da deformidade em varo (joelhos afastados), da mesma forma que, quando acomete o lateral, geralmente ocorre deformidade em valgo (joelhos unidos). A ocorrência de dor à compressão da patela contra o fêmur durante a contração do quadríceps pode indicar osteoartrite do compartimento patelofemoral. PÉ A classificação é baseada na altura do arco plantar medial (“o arco do pé”); ● Plantígrados: normal; ● Cavo: altura maior que o normal, fisiológico, geralmente relacionado ao posicionamento do calcâneo em varo, isso é, para dentro; ● Plano: altura abaixo do normal, fisiológico, geralmente associado ao posicionamento do calcâneo em valgo, isso é, para fora. O pé cavo-varo é um pé com menor flexibilidade, que pode levar a problemas como entorses de repetição do tornozelo, sobrecarga do tendão de Aquiles, fraturas por estresse e dor na região lateral do pé e dedos em garra, metatarsalgia. O pé plano é um pé mais flexível, que traz como consequências a artrose e dor no tornozelo, sobrecarga de estruturas mediais do tornozelo e encurtamento muscular da panturrilha causando fadiga muscular, dores no tendão de aquiles e na fáscia plantar. CURIOSIDADES Uma das causas mais comuns de dor e de incapacitação no mundo Ocidental - 80% das pessoas com mais de 65 anos; Segunda maior causa de incapacidade de longa duração; No Brasil, em terceiro lugar como causas de pagamento de seguros da Previdência Social.
Compartilhar