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COMUNICAÇÃO POPULAR E COMUNITÁRIA W BA 01 34 _v 2. 0 22 Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Comunicação Popular e Comunitária 1ª edição 33 3 Autoria: Prof. Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Revisão: Prof. Giani Vendramel de Oliveira Como citar este documento: Figueiredo, Beatriz H. R. Comunicação popular e comunitária. Valinhos: 2019. © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ mailto:editora.educacional@kroton.com.br http://www.kroton.com.br/ 44 COMUNICAÇÃO POPULAR E COMUNITÁRIA SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Fundamentos da comunicação humana 6 Comunicação popular e comunitária 20 Conceito de comunicação. Filosofia da Linguagem. Fundamentos da comunicação popular e comunitária 33 Participação. Meio de comunicação. Democratização da comunicação 44 Novas tecnologias e utilização de técnicas de comunicação no cotidiano da prática profissional 56 Comunicação na práxis profissional 69 Fundamentos e impactos das novas tecnologias da informação 82 Práticas de comunicação popular e comunitária e as novas tecnologias 93 55 5 Apresentação da disciplina Nunca foi tão importante discutir os rumos da Comunicação em nosso país. Assunto atemporal, porém de grande influência na história das sociedades humanas, a comunicação é sempre uma mediadora entre os campos político e social em qualquer que seja a realidade histórica ou geográfica de um país. Quem detém o conhecimento sobre o campo da Comunicação, detém o poder diante de um ou mais grupos sociais. A comunicação é matéria-prima na relação social. Estamos diariamente inundados de textos comunicacionais que têm por objetivo mediar, controlar, incitar, provocar respostas de comportamento, informar, entreter, enfim, gerir o campo das relações sociais das sociedades contemporâneas. Pensar sobre os caminhos alternativos do campo da Comunicação não é tarefa fácil, mas torna-se todo dia mais essencial. A comunicação popular ou comunitária é uma resposta social diante das relações comunicacionais que por anos foram mediadas apenas por grandes empresas (como os principais canais de televisão ou jornais e revistas impressos). Comunicação comunitária, como o próprio nome diz, é um espaço de determinada comunidade e que gera autonomia e poder diante de entes do campo social e/ou governamental. Não importa onde você vá utilizar esse tipo de conhecimento. O que importa é que você possa ter acesso a ele. Ter acesso às discussões e reflexões que envolvem o campo da Comunicação possibilita que qualquer sujeito social possa se tornar emancipado no contexto da relação social em que se encontra. Comunicação é poder. Você vai ouvir isso muitas vezes durante este curso porque é diante dessa premissa básica que desenvolvemos toda e qualquer reflexão sobre o campo da Comunicação aplicado ao contexto popular e comunitário. 66 Fundamentos da comunicação humana Autora: Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Objetivos • Compreender o que é o campo do estudo da Comunicação. • Entender as diferenças básicas entre a comunicação de massa e a comunicação comunitária. • Conhecer os fundamentos da comunicação humana no decorrer da história. 77 7 1. Introdução Nunca foi tão importante discutir os rumos da Comunicação em nosso país. Assunto atemporal, porém de grande influência na história das sociedades humanas, a comunicação é sempre uma mediadora entre os campos político e social em qualquer que seja a realidade histórica ou geográfica de um país. Quem detém o conhecimento sobre o campo da Comunicação, detém o poder diante de um ou mais grupos sociais. A comunicação é matéria-prima na relação social. Estamos diariamente inundados de textos comunicacionais que têm por objetivo mediar, controlar, incitar, provocar respostas de comportamento, informar, entreter, enfim, gerir o campo das relações sociais das sociedades contemporâneas. Pensar sobre os caminhos alternativos do campo da Comunicação não é tarefa fácil, mas torna-se todo dia mais essencial. A comunicação popular ou comunitária é uma resposta social diante das relações comunicacionais que por anos foram mediadas apenas por grandes empresas (como os principais canais de televisão ou jornais e revistas impressos). Comunicação comunitária, como o próprio nome diz, é um espaço de determinada comunidade e que gera autonomia e poder diante de entes do campo social e/ou governamental. Não importa onde você vá utilizar esse tipo de conhecimento. O que importa é que você possa ter acesso a ele. Ter acesso às discussões e reflexões que envolvem o campo da Comunicação possibilita que qualquer sujeito social possa se tornar emancipado no contexto da relação social em que se encontra. Comunicação é poder. Você vai ouvir isso muitas vezes durante a disciplina em questão, porque é diante dessa premissa básica que desenvolvemos toda e qualquer reflexão sobre o campo da Comunicação aplicado ao contexto popular e comunitário. 88 Estudar o campo da Comunicação é falar sobre o comportamento humano no decorrer da história, refletindo sobre os processos criados pelo homem para potencializar a sua capacidade de se comunicar, aprendendo sobre as ferramentas e as estratégias por meio de uma análise histórica, falando de passado para construir diálogos possíveis com o presente e abrindo caminhos para o futuro. O campo da Comunicação é extenso e abarca questões dos estudos sociais e políticos, do campo da psicologia social, da filosofia, dos estudos da linguagem, do marketing e dos mais novos e avançados estudos sobre mídia e tecnologia. Falar de Comunicação é “abraçar o mundo” com o intuito de compreendê-lo e de transformar esse conhecimento adquirido em potência geradora de controle, manutenção ou transformação social. Para nos aventurarmos nesta viagem é preciso que comecemos a pensar sobre o que compreende efetivamente o ato de se comunicar. Ora, eu me comunico quando digo alguma coisa à alguém. Mas será que a comunicação se dá apenas pela fala? Não. Comunicamo-nos o tempo todo e por várias e inúmeras maneiras, porém devemos pensar cuidadosamente sobre esse processo para melhor entendê-lo. 1.1 Teorizando o processo de comunicação Há uma série de estudos no campo das teorias da comunicação. PARA SABER MAIS Os estudos sobre os processos comunicacionais no decorrer da história são abarcados pelo campo das Teorias da Comunicação. Estas teorias analisam a área da Comunicação Social sob várias óticas com base em olhares da sociologia, da filosofia, da economia, dentre outras áreas. 99 9 As teorias mais conhecidas são a Teoria Hipodérmica, a Teoria Funcionalista, a Teoria Culturológica, a Teoria Crítica e os Estudos Culturais, todas elas são frutos das Escolas Estadunidenses (Escola de Chicago e Escola de Palo Alto), Escola Canadense, Escola Francesa, Escola Alemã e Escola Inglesa. Há ainda uma linha de estudos da Teoria da Comunicação em âmbito nacional. A corrente chamada de folkcomunicação foi introduzida no Brasil pelo teórico Luiz Beltrão de Andrade Lima, durante a década de 1960. A teoria mais simples que pretende explicar o processo comunicativo diz que temos, em qualquer situação de comunicação, pelo menos um emissor, um receptor e uma mensagem. O emissor seria aquele que emite a mensagem. O receptor seria aquele que recebe a mensagem. A mensagem seriao conteúdo emitido, o texto pronunciado, aquilo que é dito. Porém esse processo compreende também outras variáveis. É preciso levar em conta a existência de ruídos. Ruídos, mais do que simplesmente sons que atrapalham o processo de comunicação, podem ser entendidos como elementos que dificultam a recepção da mensagem em todo o seu potencial comunicador. Ou seja, um ruído pode sim ser um som alto enquanto alguém fala e outro alguém ouve. Mas ruídos também podem ser elementos de linguagem pronunciados pelo emissor e que não fazem parte do repertório do receptor da mensagem. Ruídos podem ser, por exemplo, dificuldades com a língua falada pelo emissor quando esta não é a língua pátria do receptor. Figura 1 – Processo básico de comunicação Fonte: elaborado pelo autor. 1010 A mensagem é construída a partir de um determinado código que poderia ser definido como um conjunto de sinais organizados segundo um padrão preestabelecido. Este documento que você agora lê é um suporte de comunicação organizado a partir de um código comum ao autor e ao leitor. É por isso que ao ler este documento você consegue compreender o que lê. Se ao invés da língua portuguesa este documento tivesse sido publicado em russo, talvez você tivesse mais ou total dificuldade para compreender o que está escrito. Teríamos então um ruído gravíssimo em nosso processo de comunicação. Há mais um elemento para construirmos esta leitura, ainda básica, do processo de comunicação. É o que chamamos de “canal de comunicação”. Como esta comunicação se dá? É uma comunicação direta, ou seja, entre duas pessoas que se encontram frente a frente? Ou é uma comunicação que se dá por meio de telefone, internet, televisão, texto impresso, emissora de rádio, etc.? Estes são canais de comunicação. É o suporte em que a comunicação se efetiva. Cada meio de comunicação tem características próprias que também devem ser entendidas para que possamos potencializar o processo comunicacional. Isso tudo parece básico, mas não é. É importante que tenhamos essas ideias cristalizadas para que possamos avançar nos estudos da área da Comunicação e para que possamos, posteriormente, fazer uso efetivo e eficiente desse conhecimento. ASSIMILE Comunicação é o ato de comunicar alguma coisa a alguém. Este ato envolve sujeitos e variáveis que precisam ser entendidos em toda a sua complexidade. Johannes Gutenberg, alemão, foi o responsável pela criação e desenvolvimento da prensa móvel, o que possibilitou a impressão continuada de publicações como 1111 11 livros e jornais. É considerado um dos principais nomes na história da imprensa (aliás, o nome “imprensa” vem de sua criação). A prensa é considerada uma das melhores contribuições para as sociedades modernas. 1.2 Comunicação de massa e comunicação comunitária Você já ouviu falar do termo “comunicação de massa”, não é? O que seria esse conceito? Você já pensou sobre ele? Inicialmente, quando criado no início do século XX, esse conceito procurava abarcar a ideia de uma comunicação advinda do rádio, da televisão e do cinema (os chamados novos meios de comunicação) que poderiam alcançar um público maior do que a minoria alfabetizada. Apesar de aparentemente ser similar ao uso que fazemos do conceito nos dias atuais, ele já não possui a mesma carga de significação histórica, em razão de novos tipos de suporte (como a internet) que criaram uma nova relação de comunicação, menos hierárquica e mais horizontal. Atualmente, fazemos uso do termo “comunicação de massa” para falarmos de meios de comunicação de largo alcance e de poder uniformizador. Um exemplo é a televisão. Ela está em quase 100% dos lares brasileiros. Atinge um grupo enorme e heterogêneo de pessoas, tornando-as uma massa uniforme em processos de comunicação que procuram reforçar os valores que as igualam em detrimento dos valores que as diferenciam. Ela fala com todos ao mesmo tempo. Ela fala com a massa e nesta relação com a televisão, somos a massa. PARA SABER MAIS O conceito de comunicação de massa foi formulado na década de 1920 ou 1930 para se aplicar às novas possibilidades de comunicação pública que surgiram com 1212 a imprensa de massa, o rádio e o cinema. Estes meios ampliaram o público potencial para além da minoria alfabetizada. Também eram essencialmente novos o estilo e a escala industriais da organização de produção e divulgação. Grandes populações dos Estados-nação poderiam ser atingidas mais ou menos ao mesmo tempo com conteúdo basicamente igual, o qual, muitas vezes, levava o selo de aprovação de quem tinha poder político e social (MCQUAIL, 2012, p. 508-509). 1.3 O papel da comunicação em nosso cotidiano Você já pensou sobre o papel que a comunicação assume na vida da gente? Tudo a nossa volta comunica. Ao acordar, você será inundado de mensagens se ligar o rádio, se abrir a janela e encontrar em frente à sua casa um outdoor (aqueles grandes painéis publicitários de rua), se entrar numa estação de metrô numa grande cidade, ou mesmo se ligar a televisão. Em todos os lugares haverá textos que pretendem comunicar algo a você. A recepção de cada uma dessas mensagens se dará de forma mais ou menos eficiente segundo o seu repertório, interesse e disponibilidade ao recebê-las, mas é fato que elas chegarão até você. Estamos mergulhados numa sociedade que está mergulhada em processos comunicacionais que têm, entre outros interesses, uma forte tendência a nos fazer consumidores de algo, seja de um produto, de um serviço, de uma ideia ou de uma ideologia. Os textos que estão colocados na sociedade são, em grande parte, altamente persuasivos. Aprofundando esse olhar em apenas um dos meios de comunicação ditos “de massa”, provoco uma reflexão: você já pensou sobre a importância da televisão em seu cotidiano? Já percebeu como até nossas casas são arrumadas em função deste aparelho transmissor de ideias e mensagens? Já pensou sobre a dependência que temos deste meio? Muitas vezes sequer estamos na sala, mas somos capazes de mantê-la 1313 13 ligada dias inteiros. O ruído dela nos toca e, se não podemos estar ali sentados, absorvidos por aqueles textos audiovisuais, queremos apenas ter a sensação de ouvi-los. A televisão se faz presente o tempo todo em nossa vida. Aliás, a televisão não se faz presente apenas quando temos a possibilidade de ligar o aparelho televisor, ela se faz presente no consumo de conteúdos mesmo quando o que temos a nossa frente é a tela de um computador conectado à internet. Veja o que te interessa em um portal de notícias e reflita sobre a quantidade de informações que você acessa sobre a novela, o artista, o reality show, o apresentador, etc. Nossa vida é, em certa medida, mediada pela televisão. Aliás, faz- se importante dizer que isso é um traço cultural e que não é em todos os espaços geográficos do mundo que essa dependência da televisão existe. Sérgio Mattos destaca em História da televisão brasileira: uma visão econômica, social e política que essa dependência está intimamente ligada a fatores econômicos e desenvolvimento social. Historicamente sempre existiu uma preocupação crescente entre os estudiosos, principalmente aqueles dos países periféricos, de que as corporações globais, as empresas transnacionais que atuam no setor das comunicações e as agências de publicidade multinacionais ameaçam a política, a economia e a soberania das nações em desenvolvimento. O grande impacto da publicidade na mídia dos países de Terceiro Mundo foi observado por muitos estudiosos que realizaram pesquisas e produziram estudos específicos sobre o imperialismo na mídia, a homogeneização cultural, além de constatar a dependência cultural e dos veículos de comunicação. (MATTOS, 2010, p. 8) Elizabeth Bastos Duarte é uma pesquisadora que aborda especificamente o tema dos estudos sobre televisão e que propõe uma interessante comparação entre tempo, televisão e cinema. Ela diz que: A televisão ritma nossos dias e nossosanos. A sessão de cinema suspende o tempo social, a televisão estrutura nossa temporalidade, nossa vida. Mas esse objeto está longe de ser considerado com a seriedade que merece. (DUARTE, 2004, p. 7) 1414 É possível compreender facilmente o que ela quer dizer com isso, basta olharmos para nós mesmos. Quando vamos ao cinema, temos o tempo “suspenso” durante o período em que estivermos ali absorvidos pela grande tela. O cinema é uma espécie de “pausa” em nossa vida, porém é preciso entendê-lo também como um meio eficiente de comunicação. A televisão organiza a nossa rotina. Há alguns anos marcávamos um encontro “depois da novela”, por exemplo. Uma vez ou outra, você já deve ter marcado algo para depois do “Jornal XPTO” ou assim que acabar o “programa X”, por exemplo. É isso que quer dizer Duarte quando afirma que a televisão “ritma nossos dias”. Outra questão a se pensar sobre a importância desse tema diz respeito à influência do campo da comunicação em nosso comportamento. A comunicação pode ditar regras, moda ou nos influenciar diante de escolhas? Sim, o tempo todo. A novela dita moda, por exemplo. Antigamente a novela lançava moda (que poderia ser uma roupa, um calçado, um esmalte, um anel, um brinco ou tudo isso junto) e os fabricantes e lojistas ganhavam sozinhos muito dinheiro com a moda lançada em horário nobre. Atualmente a própria emissora de televisão mantém uma loja virtual em que vende os produtos que ela mesma lança como moda. E sabemos: vende muito! 1.4 Onde essa história começa? Mas essa história de comunicação começou quando? É preciso que tenhamos em mente que são inerentes ao homem a capacidade e a necessidade de comunicação. Desde a pré-história o homem não só criou sistemas próprios de comunicação como também deixou registros que se tornaram documentos para a humanidade. Eles pintaram paredes de cavernas e rochas, imprimindo marcas e símbolos que continham certa intenção narrativa. O processo de comunicação humana foi evoluindo conforme o desenvolvimento das sociedades e atingiu o ápice com o desenvolvimento da prensa (1455), que possibilitou a reprodução de textos e o desenvolvimento da própria história da comunicação e, 1515 15 dentro desse escopo, a própria história da informação e da imprensa. Porém, foi com o desenvolvimento tecnológico que se possibilitou criar, ainda no contexto global, suportes como o rádio (1900) e posteriormente a televisão (1924). Durante o desenvolvimento das sociedades, outras tecnologias vão, aos poucos, transformando a nossa relação com esses meios. O controle remoto, por exemplo, foi uma pequena, porém significativa, revolução em nossa relação com a televisão. Se antes estávamos absolutamente passivos na relação com a televisão pois, para vencer essa relação de forças, teríamos que levantar de nossos sofás para trocar o canal da televisão, agora tínhamos o poder de escolha em nossas mãos. Posteriormente foram os canais de televisão fechados que nos deram ainda mais autonomia e força na relação com esse aparelho transmissor de mensagens. Com o advento da internet, que se popularizou a partir do final do século XX, tornamo-nos ainda mais autônomos e, nesse processo, fomos capacitados para a interação. Isso fez com que aquela antiga fórmula que afirma que o processo de comunicação se dá a partir de emissor se tornasse ainda mais complexa. Hoje dizemos que o protagonismo não está mais no emissor, mas no receptor da mensagem, e devemos estar atentos a um novo processo que se naturaliza nessa relação: o feedback (retorno) gerado pelo receptor da mensagem que se dá, cada vez mais, de forma imediata e instantânea. PARA SABER MAIS A internet surgiu em torno de 1960 em contexto de guerra (no auge da chamada Guerra Fria) e era utilizada exclusivamente pelo Governo (Ministério da Guerra) como uma forma de compartilhamento de informações confidenciais. Tornou-se uma tecnologia civil autorizada em universidades a partir da década de 1970 e se popularizou, ganhando definitivamente o ambiente civil, a partir do início dos anos 1990, com a criação do www (World Wide Web). 1616 2. Considerações finais O campo da Comunicação é um campo de mediação social. A consciência disso nos faz sujeitos sociais mais críticos. Comunicação comunitária é uma forma importante de gerar autonomia ao grupo ou sujeito social que empreende nesse processo. A necessidade de comunicação não é um comportamento da sociedade contemporânea, mas uma necessidade humana possível de ser percebida desde o início da história da humanidade. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Como podemos definir o ato de comunicar? a. Comunicar nada mais é do que falar alguma coisa diante de uma ou mais pessoas. b. Comunicar é o ato de dizer alguma coisa a alguém e isso pode se dar por uma linguagem verbal ou não verbal, diretamente ao outro ou por meio de canais de comunicação. c. Comunicar é o ato de dizer algo em âmbito oficial e por meio de canais de comunicação de massa. d. Comunicar é o ato de se expressar única e exclusivamente diante de outra pessoa, sem nenhum tipo de mediação. e. Comunicar é o ato de oficializar a informação. 1717 17 2. Quais os principais sujeitos existentes em um processo de comunicação? a. Emissor e receptor. b. Emissor e ouvinte. c. Comunicador e audiência. d. Comunicador e sociedade. e. Locutor e receptor. 3. Por que dizemos que na sociedade contemporânea o receptor ganhou protagonismo em um processo de comunicação? a. Porque o receptor, a partir de uma série de mudanças sociais que incluem o desenvolvimento de diversos suportes tecnológicos, deixou de ser passivo na relação de comunicação. b. Porque é sempre o cliente (receptor) que tem a razão. c. Esta não é uma afirmação verdadeira, uma vez que o protagonismo é sempre do sujeito ou do veículo que emite a mensagem. d. Porque atualmente o que interessa não é o que é dito, mas o que é compreendido. e. Porque, na relação de consumo. 1818 Referências bibliográficas DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão – ensaios metodológicos. Porto Alegre: Sulina, 2004. MATTOS, Sérgio. História da televisão brasileira: uma visão econômica, social e política. Petrópolis: Vozes, 2010. McQUAIL, Denis. Teorias de comunicação de massa. Porto Alegre: Penso Editora, 2012. Gabarito Questão 1 – Resposta: B Resolução: comunicar nada mais é do que o ato de dizer alguma coisa a alguém. Neste processo levamos em conta que sempre existirá um emissor, um receptor e uma mensagem que será emitida e recebida de forma eficiente quanto mais sensíveis estivermos para a percepção de uma série de outros fatores como o nível de ruídos existentes no processo de comunicação e a compreensão das potencialidades do canal de comunicação escolhido. Feedback de reforço: lembre-se de que a comunicação não é apenas verbal. Questão 2 – Resposta: A Resolução: qualquer processo de comunicação compreende pelo menos um emissor e um receptor. Esse processo pode se dar de forma presencial (como numa conversa entre amigos) ou por meio de canais de comunicação diversos (como rádio, televisão, etc.). Feedback de reforço: há sempre pelo menos dois sujeitos no processo de comunicação: quem diz alguma coisa e quem ouve/vê/sente o que é dito. 1919 19 Questão 3 – Resposta: A Resolução: a partir de uma série de mudanças sociais que incluem o desenvolvimento de diversos suportes tecnológicos, o receptor passou a interagir durante o processo comunicacional. Se antes ele só recebia a mensagem, hoje ele imediatamente interage, emite respostas e feedback e altera o quadro teórico de como se dá a comunicação. Feedback de reforço: não somos mais os mesmos sujeitos de outros tempos e a própria tecnologia nos transformou. 2020 Comunicação popular e comunitária Autora: Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Objetivos • Compreender o processo de comunicação comunitária. • Refletir sobre a importância dos espaços para a comunicação popular ecomunitária. • Conhecer meios e referências de histórias de quem empreendeu no campo da comunicação comunitária. 2121 21 1. Introdução Com o uso de suportes midiáticos e ferramentas comunicacionais, a comunidade se organiza para criar um canal de comunicação interno que atenda a determinada demanda ou necessidade do grupo social. Atualmente qualquer agrupamento de pessoas pode vir a desenvolver projetos simples de comunicação comunitária. Para isso é preciso, antes, detectar uma necessidade ou um desejo do grupo. O que desejamos comunicar? Diante das respostas à essa questão, o segundo passo é estudar e compreender as características básicas do grupo social que será o receptor de nossas mensagens. Uma compreensão aprofundada das características e do comportamento social daquele grupo de pessoas que apontamos como “receptores” de nossas mensagens (ou simplesmente como “público”) diante de determinada proposta de comunicação se faz fundamental. O cuidado deve ser sempre no sentido de não partir do senso comum. Torna-se necessário procurar por ferramentas que auxiliem na leitura desse público. Com conhecimentos específicos sobre o público e com propriedade diante daquilo que se deseja comunicar (o conteúdo), o próximo passo é definir o meio ou suporte midiático mais adequado para a demanda. 2222 Figura 1 – Processo de Comunicação com base em meios e veículos de comunicação Fonte: elaborado pelo autor. Não adianta, por exemplo, criar um canal de comunicação via internet para falar com um grupo social que tem dificuldade de acesso a sinais de internet ou que não tem familiaridade com o meio. Parece simples, não é? Porém é neste ponto que residem os erros mais comuns no planejamento de uma ação de comunicação comunitária. As pessoas escolhem muitas vezes aquilo que lhe está mais à mão (pelo meio mais fácil ou mais barato), sem analisar o que implica sua escolha diante daquele grupo ou indivíduo social que receberá sua mensagem. Não esqueça nossa conversa anterior, em que apontávamos que há na sociedade contemporânea uma clara mudança de eixo do entendimento do processo de comunicação: o protagonismo não está mais em quem fala (o emissor), mas em quem recebe e como recebe a mensagem (o receptor). 2323 23 2. Suportes e ações de comunicação comunitária A mais simples ação de comunicação comunitária poderia ser, por exemplo, um carro de som que faça o papel do que chamamos popularmente de “rádio itinerante”. Pode-se também pensar na impressão de jornais ou panfletos informativos que, impressos e reproduzidos por meios simples (à mão ou em xerox), distribuídos com certa periodicidade, também ganham caráter de comunicação comunitária. Pode-se pensar ainda na organização de uma emissora de rádio que atenda a determinada demanda local (porém tenha muito cuidado com o estudo da legislação brasileira nesse quesito). Transmitir um sinal através de ondas de rádio é fácil, mas fazer isso sem as devidas tramitações legais é crime. Pode-se pensar em uma rádio web que possibilite a transmissão de uma programação de rádio pela internet de forma legal e livre. Pode-se pensar também em um programa em vídeo web, ou seja, um canal de conteúdo audiovisual transmitido através da internet. Ou ainda, em uma ou mais redes sociais transmitindo conteúdos por meio da criação de um perfil no Twitter ou de uma página no Facebook, por exemplo. PARA SABER MAIS Fonte: BrAt_PiKaChU/Istock.com. Acesso em: 17 out. 2019. 2424 2.1 O conteúdo no campo da comunicação comunitária Também é preciso pensar no conteúdo a ser transmitido. Criar um sistema de comunicação comunitária, seja ele qual for, exige que tenhamos certa periodicidade na disponibilização de conteúdo para que consigamos criar a cultura do acesso a esse canal de comunicação. As pessoas precisam compreender que dentro de determinado período de tempo poderão acessar um novo conteúdo, criando assim um processo de educação para o consumo da informação. A repetição da experiência pelo grupo social possibilita que ele desenvolva um comportamento de consumo daquela informação. É preciso destacar que é muitas vezes pela repetição de determinado processo que as pessoas são educadas a consumi-lo. É parte do processo de mudança de comportamento e aprendizagem a repetição de um padrão que gera, consequentemente, a imitação por parte dos indivíduos que compõem o grupo receptor da mensagem daquilo que desejamos que seja internalizado. A imitação tem sido apontada como uma habilidade importante no que se refere aos estudos da cultura e vem sendo tratada como um aspecto fundamental para a compreensão do trânsito entre as informações que estão no mundo e a sua possibilidade de internalização. (KATZ; GREINER, 2001, p. 69) Outro ponto fundamental nessa construção diz respeito ao tipo de conteúdo que podemos transmitir em um processo de comunicação comunitária. É fato, e já pontuado, que uma ação de comunicação comunitária nasce de determinada demanda. Então, antes de tudo, é preciso se certificar se o conteúdo elaborado e veiculado atende especificamente a demanda identificada como objeto principal do projeto de comunicação. 2525 25 Há um conteúdo central que será o nortear da ação e poderá também haver conteúdos secundários, porém não menos importantes. Se você deseja criar uma emissora de rádio web para discutir os problemas cotidianos de determinada comunidade, a sua programação não precisa se limitar à abordagem exclusiva dos problemas. Você pode, por exemplo, inserir um conteúdo cultural, um horário de transmissão musical, entrevistas do campo do entretenimento, uma agenda cultural, anúncios de comerciantes locais, entre outras opções de quadros. Esse conteúdo que não está na agenda central do projeto, ou seja, o chamado conteúdo secundário, é muitas vezes considerado tão importante quanto o objeto central de seu projeto. Isso porque é no consumo daquilo que enquadramos como entretenimento que se dá a fidelização de um público. Um indivíduo social muitas vezes passa a consumir determinado conteúdo em razão daquilo que o agrada na relação com o veículo, ou seja, às vezes é aquela programação musical diária que faz com que você possa conquistar ouvintes que, posteriormente, se disponibilizarão a ouvir tudo o que você possa ter a dizer. Isso é um processo de conquista e, por assim ser, ele nunca é imediato. Isso faz com que você precise ter planejado seu projeto sabendo que para a resposta ideal é preciso tempo. Respeitar o tempo do receptor para que ele internalize a relação com determinado meio de comunicação é parte importante para o sucesso do projeto. PARA SABER MAIS Para criar uma emissora de rádio web você precisa apenas de um projeto bem elaborado, um computador, um software de captação e edição de som, um microfone e um endereço eletrônico para disponibilizar o conteúdo na internet. Há servidores que oferecem plataformas gratuitas para a criação de rádio web. Sobre a produção do conteúdo, 2626 uma forma fácil e rápida de aprender a utilizar softwares de captação e edição de sons é procurar por tutoriais em sites como o YouTube. Experimente! Mas o que seria o conteúdo central de um projeto de comunicação comunitária? Há inúmeras possibilidades de pensarmos isso, porém podemos destacar necessidades cotidianas de uma determinada comunidade que, ao organizar um canal de comunicação, pode vir a ganhar voz em âmbito mais amplo na relação com o espaço social da cidade ou mesmo do país. Assuntos como o asfalto que está deteriorado em determinada rua, a necessidade de canalização de córrego, a violência, questões de saúde e campanhas educacionais, conteúdos de cunho de formação política, entre outros, podem estar em pauta como assuntos que protagonizam este processo. Lembre-se sempre: o campo da comunicação é fundamental para que possamos preservar a autonomia de determinado sujeito ou grupo social. Os campos da comunicação e dainformação são estratégicos na formação de sujeitos emancipados, conscientes de seus direitos e deveres e com instrumental para a realização de seus sonhos individuais e coletivos. (MORIGI; GIRARDI; ALMEIDA, 2011, p. 7) 2.2 Voz das Comunidades: um caso emblemático Voz das Comunidades é um exemplo emblemático da força de um canal de comunicação comunitária. Criado em 2005 por um garoto de nome Renê Silva dos Santos, morador do Morro do Adeus, uma das 13 comunidades que compõem o Complexo do Alemão (um dos maiores complexos de favelas da zona norte do Rio de Janeiro/ RJ), para atender a determinada necessidade local, ganhou enorme visibilidade na ocasião da ocupação policial do Complexo do Alemão em 2010, quando se iniciava o projeto de pacificação proposto pelo 2727 27 governo com a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em morros ocupados pelo tráfico de drogas e considerados pontos estratégicos da cidade do Rio de Janeiro. ASSIMILE O Complexo do Alemão é um conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro que por muito tempo foi apontado como um dos espaços de maior violência da cidade. Sob o domínio do tráfico de drogas por várias décadas, foi a partir de 2010, com o projeto de ocupação dos morros por Unidades de Polícia Pacificadora, que o espaço passou a receber investimentos públicos e ser visto como forte potencial turístico e de consumo. Vivem no Complexo do Alemão em torno de 70 mil pessoas. Renê Silva tinha começado seu primeiro projeto com um jornal de colégio que pretendia abordar as necessidades internas da sua escola. Ele, seu irmão e alguns amigos perceberam que o projeto surtia efeito e resolveram, juntos, criar um outro canal de comunicação que atendesse às demandas da comunidade em que moravam. Com mais de vinte anos de existência, o projeto Voz das Comunidades não é mais apenas um jornal impresso em papel A4. Tornou-se um site, uma página em rede social (Facebook) com aproximadamente 200 mil seguidores e ainda está presente no Instagram, Twitter, dentre outros meios. O conteúdo oferecido diz respeito à realidade e às necessidades do Complexo do Alemão. Virou referência não apenas na comunidade, mas em toda a cidade e em outras localidades do mundo. Tornou-se um caso de estudos diversos. Provou a força da comunicação quando organizada de forma planejada e com sólidos 2828 objetivos. Atuam hoje no projeto Voz das Comunidades quase 20 colaboradores, porém Renê Silva continua na coordenação do projeto assinando como editor chefe. São noticiados fatos acontecidos no contexto do Complexo, há estatísticas de violência e morte de moradores por confronto com policiais, tornando-se inclusive fonte de informação para grandes veículos de comunicação. Seu diferencial é o fato de falar de dentro da comunidade. Foi justamente isso que levou à criação do Voz das Comunidades. Renê desejava falar sobre a realidade do espaço em que morava com base em fatos e olhares de quem ali vive e convive, contrapondo-se a uma leitura superficial da grande mídia que olhava e assistia a tudo como quem vê de fora, de cima e com olhar estrangeiro. ASSIMILE Comunicação comunitária pode ser definida de forma bastante simples. Trata-se de um processo de comunicação que ocorre a partir da participação e da organização de determinada comunidade. 3. Considerações finais Comunicação comunitária é um campo de organização de grupos sociais que vislumbram a autonomia individual e coletiva do espaço geográfico atendido ou de dado grupo de organização social. Criar e promover canais de comunicação popular ou comunitária envolve planejamento, capacidade de gestão e reflexão constante sobre o campo da Comunicação. Aprofundar os estudos no campo da Comunicação possibilita a criação de projetos sólidos e de grande potencial social. 2929 29 Conhecer histórias que se tornaram referências no campo nos ajuda a construir o olhar para um projeto particular ou coletivo no exercício de observação da experiência do outro. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Como podemos definir “comunicação de massa”? a. Atualmente, utilizamos esse conceito para abarcar a ideia de uma comunicação mediada por grandes meios que possuem largo alcance e poder uniformizador. b. É qualquer meio de comunicação que se utilize de suporte tecnológico. c. É um conceito que não mais utilizamos, pois diz respeito ao momento histórico posterior à Revolução Industrial. d. O único exemplo de comunicação de massa que temos na sociedade contemporânea é a televisão. e. É a comunicação advinda de sinais digitais mediada pela internet. 2. O que engloba o conceito de comunicação comunitária? a. É a comunicação que se dá dentro de um grupo social determinado e independente de organização ou de qualquer tipo de suporte ou canal de comunicação. b. É a comunicação de massa do século XXI. 3030 c. É um processo de comunicação dirigido por grandes meios para pequenas comunidades. d. É um processo de comunicação que ocorre a partir da participação e da organização de determinada comunidade. e. É a comunicação regional produzida por retransmissoras de sinal. 3. O que é uma rádio itinerante? a. É uma emissora de rádio com várias retransmissoras regionais, por isso o conceito de itinerância. b. É um sistema de transmissão de áudio realizado por um carro com sistema de som, por isso o conceito de itinerância. c. É a única forma de comunicação comunitária de que temos notícias. d. É um sistema de transmissão de áudio extremamente complexo que depende de mais de uma retransmissora para que atinja o espaço geográfico desejado. e. Não existe rádio itinerante, pois o rádio necessita de ambiente e tecnologia fixos, como é o caso da instalação de antenas de transmissão. 3131 31 Referências bibliográficas MORIGI, Valdir José; GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; ALMEIDA, Cristovão Domingos (orgs.). Comunicação, informação e cidadania: refletindo práticas e contextos. Porto Alegre: Sulina, 2011. KATZ, Helena; GREINER, Christine. Corpo e processo de comunicação. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, 2001, v. III, n. 2, dezembro de 2001, p. 65-75. Disponível em: <www.helenakatz.pro.br>. Acesso em: 04 set. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta: A Resolução: é um conceito formulado na primeira metade do século XX que se dispunha a abraçar o campo da comunicação surgido a partir da imprensa de massa. Atualmente, utilizamos esse conceito para falarmos de uma comunicação de largo alcance e de poder uniformizador, porém sempre com o cuidado de apontar que tal conceito não possui a mesma carga de significação histórica, em razão do desenvolvimento de novos tipos de suportes midiáticos, como a internet. Feedback de reforço: massa nos traz a ideia de uma grande quantidade de pessoas que se dispõe uniformemente. Questão 2 – Resposta: D Resolução: com o uso de suportes midiáticos e ferramentas comunicacionais diversas, uma comunidade pode organizar uma forma particular de comunicar por meio de canais de comunicação que atendem a determinada demanda social. Feedback de reforço: comunidade nos traz a ideia de um grupo social organizado em prol de um bem comum. http://www.helenakatz.pro.br 3232 Questão 3 – Resposta: B Resolução: é um sistema de transmissão de áudio que se dá de forma bastante simples: um automóvel que transporte um sistema de som externo e circule por determinada região, transmitindo a programação. Feedback de reforço: itinerância é um termo que tem origem no latim e significa “ato de deslocar”. 3333 33 Conceito de comunicação. Filosofia da Linguagem. Fundamentos da comunicação popular e comunitária Autora: Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Objetivos • Compreender a epistemologia da palavra “comunicação”. • Conhecer os elementos básicos dos estudos da linguagem. • Refletir sobre a importância do conhecimento teórico no campo da comunicação para melhor aproveitamento das ferramentas e da práticacomunicacional. 3434 1. Introdução No contexto dos estudos da comunicação comunitária há um necessário entendimento da etimologia do conceito de comunicação. ASSIMILE Podemos definer como Etimologia o estudo da origem ou história das palavras. O termo “comunicação” traz em sua raiz a representação simbólica da ideia de comunidade, pois trata-se de palavra de origem latina, derivada do termo “communicare”, que traz em sua significação a ideia de partilhar ou tornar comum alguma coisa. Isso significa dizer que o ato de comunicar subentende em sua raiz a ideia de partilhar conhecimento ou informação. Quem comunica, compartilha uma ideia, seja ela qual for. E o que está na base da ideia de comunidade? Comunidade seria o espaço do compartilhamento comum de experiências. Olhe aí a ideia de “compartilhar” também na raiz do que entendemos por comunidade. Há diálogo entre o uso que fazemos de ambos os conceitos. PARA SABER MAIS Comunidade é palavra que deriva do termo em latim “communitas”, que tem por objetivo definir aquilo que é comum a determinado grupo. É aquilo que nos identifica, é aquilo que partilhamos em comum. 3535 35 Diante desta introdução, vale dizer que se tornam também fundamentais os estudos que envolvem a linguagem, afinal a linguagem é o instrumento principal de qualquer processo de comunicação humana. 2. Uma sucinta passagem pelo campo da Filosofia da Linguagem Há diversos caminhos acadêmicos para nos aprofundarmos no campo da linguagem, porém dentro da proposta de estudos aqui apresentada, algumas de nossas possibilidades são abraçadas pelo campo de estudos da Filosofia da Linguagem. PARA SABER MAIS Podemos considerar que os estudos da Filosofia da Linguagem surgiram ainda na Grécia Antiga, com Platão e Aristóteles. O campo da Filosofia da Linguagem é apontado por muitos estudiosos modernos como um dos principais campos para a compreensão dos fenômenos filosóficos porque compreende o estudo da linguagem, que seria a expressão ou forma que damos às ideias e crenças. Trata-se de um campo filosófico que estuda essencialmente os fenômenos linguísticos, levando em conta, primordialmente, o contexto na aplicação da linguagem. Complexo? Vamos simplificar isso. Quando pensamos em linguagem, falamos da relação entre seres vivos e, especificamente, da nossa relação enquanto seres humanos. É a linguagem um suporte de comunicação básico para que as relações humanas possam acontecer. 3636 Figura 1 – É a linguagem a base da comunicação humana Fonte: Spiderstock/Istock.com. O ser humano, aliás, é considerado o ser vivo que desenvolveu os mais complexos códigos de comunicação. Estes códigos fazem parte justamente do estudo da linguagem. É preciso reforçar que existe mais de um tipo de linguagem e não apenas a verbal (oral ou textual). O texto é apenas um dos suportes da linguagem. PARA SABER MAIS Há interessantes discussões acerca dos estudos da linguagem no campo da comunicação televisiva. A televisão se utiliza de linguagem verbal, porém são fortes o apelo e as estratégias de uso de linguagem não verbal, uma vez que o meio audiovisual potencializa o uso do corpo como instrumento de comunicação para além da fala. Na televisão, tudo no corpo comunica. Podemos falar de linguagem não verbal (visual) porque os símbolos e as imagens também comunicam. Você já pensou no quanto os símbolos exprimem textos que geram em nós a compreensão da 3737 37 mensagem? Um semáforo vermelho nos diz “pare” sem precisar falar ou escrever em letras de forma, uma placa de trânsito nos fala o que devemos, podemos ou não podemos fazer diante dela, e placa não fala, mas sinaliza, simboliza o texto que é apreendido a partir do repertório adquirido. Podemos falar ainda, quando o assunto é linguagem não verbal, daquilo que convencionamos chamar de linguagem corporal, afinal nosso corpo comunica. Em contato com o ambiente emitimos uma série de informações que o transformam, porém somos também o tempo todo transformados por ele, pois recebemos informações do ambiente externo que influem na percepção deste corpo no espaço numa relação tensionada entre corpo e ambiente. 2.1 Uma interpretação social da palavra Diante disso, fica claro que aqui não nos interessa simplesmente o significado literal de determinado grupo de palavras. Para essa compreensão, temos os dicionários. O que interessa para o campo da Filosofia da Linguagem é, por exemplo, o significado que uma palavra adquire em determinados contextos. O estudo da filosofia nos leva a um olhar que torna mais complexa a relação entre palavra e significado. É preciso compreender qual a carga de significações de determinada palavra em cada grupo social que a expressa. Essa variação de significação não acontece apenas de um grupo para o outro, mas também de um território para outro, de uma cultura para outra, enfim, há palavras que ganham carga de significação diferente daquela que pode ser exprimida na compreensão de um termo consultado em qualquer dicionário. O que importa aqui é a relação da palavra com o campo social. Difícil? Diria: “filosófico”. E por que nos importa isso? Porque é a comunidade que imprime legitimidade a um processo comunicacional. 3838 2.1 A linguagem, a comunidade e a importância do repertório como representação política de uma comunidade Diante do exposto, torna-se ainda mais complexo o estudo do campo da comunicação comunitária. É preciso que saibamos fazer escolhas a partir de um repertório de informações necessárias. Não é apenas a necessidade de comunicação que envolve um processo como este. É preciso que consigamos enxergar todas as variáveis do processo comunicacional para que possamos posteriormente potencializar a capacidade comunicacional de nossos projetos de comunicação popular e comunitária. Quanto mais aprofundarmos o olhar para o campo dos estudos da comunicação, maiores se tornam as chances de potencializarmos o nosso projeto de comunicação comunitária. Se soubermos compreender o campo de estudos, fazer uso do conhecimento adquirido, nos espelharmos em ações de terceiros e perceber a íntima relação entre comunicação e estudos sociais, teremos em mãos um cabedal de conhecimentos pronto para ser traduzido em práticas efetivas. É preciso compreender a máxima já afirmada anteriormente de que comunicação é poder. O conhecimento dos mecanismos e dos estudos do campo nos torna sujeitos mais aptos a lidar com o campo social. Saber e compreender o poder da comunicação midiática, que em processos de repetição e imitação formam, moldam e medeiam as relações sociais, torna o pesquisador autônomo e emancipado. Há um elemento social preponderante para entendermos a relação com os meios de comunicação em nosso país. Foi-nos ensinada, por décadas, uma relação de confiança com os meios. Temos como verdade tudo o que é transmitido por canais de comunicação. Quanto maior a influência do veículo de comunicação, maior é a nossa relação de subordinação àquela verdade aparente. 3939 39 Vale destacar aqui mais dois conceitos: o conceito de meio de comunicação e o conceito de veículo de comunicação. Você percebe diferenças? Meio de comunicação é o tipo de suporte ou canal (por exemplo: televisão, rádio, internet). Já o veículo de comunicação é a empresa, grupo ou instituição que veicula a informação ou mensagem comunicacional (por exemplo, no meio televisivo, podemos citar os veículos Globo, SBT, Record, Bandeirantes, etc.). Diante da reflexão acerca desta relação de dependência que os veículos de comunicação despertam em nós, torna-se possível também percebermos que a Comunicação, dentro de nosso contexto cultural, é um campo de regulação social e de fortes tensões políticas. Nesse caminho de análise torna-se ainda possível pensarmos sobre as diferenças diante da recepção das mensagens midiáticas. Há um enorme campo de variáveis para essa análise. Dentre as informações básicas sobre o público que recebedeterminado tipo de mensagem podemos pensar em classificações simples, como faixa etária, classe social, sexo e nível de escolaridade. Porém, é preciso levar em conta, nessa leitura, elementos geográficos ou regionais e culturais. Aproximando essa análise do campo do estudo da linguagem, há uma série de exemplos de ações publicitárias veiculadas em nível nacional que tiveram problemas em determinadas regiões com relação ao vocabulário veiculado. Um exemplo emblemático foi o comercial de lançamento de uma nova marca de cervejas em que o texto dito pelo ator iniciava com uma exclamação “Caraca!”. “Caraca” é uma gíria muito utilizada em determinados espaços geográficos do Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, é cotidianamente ouvida no jeito de falar do carioca. Em São Paulo, é compreendida, mas não é tão usual. Porém, em algumas localidades do Norte e Nordeste brasileiros essa é uma palavra de significação pejorativa. O comercial da cerveja precisou ser suspenso pelo CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e 4040 refeito porque o que era para vender um novo produto virou motivo de rejeição ao novo produto. Diante desse exemplo é possível perceber o quanto é sutil a fórmula de sucesso de um processo de comunicação. As variáveis são inúmeras e o cuidado é (e deve ser sempre) constante. 3. Considerações finais A palavra “comunicação” traz em seu conceito raiz a ideia de partilhar, assim como o conceito de “comunidade”. Isso nos faz perceber que esses campos estão intimamente ligados, apesar de algumas vezes nos serem apresentados como campos de conflito e oposição. O estudo da linguagem e a compreensão do campo da Filosofia da Linguagem são questões primárias e fundamentais para uma melhor interação com o campo da Comunicação. É preciso compreender a significação que uma palavra assume em determinado contexto social para potencializar ações comunicacionais. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Qual é especificamente o campo de estudos que se preocupa com o estudo e a compreensão da linguagem no âmbito das relações sociais? a. Língua Portuguesa. b. Sociologia. c. Psicologia. d. Filosofia da Linguagem. e. Comunicação. 4141 41 2. Por que dizemos que nos estudos da Filosofia da Linguagem é mais importante a compreensão da significação da palavra em contexto social do que de seu significado junto aos dicionários de língua portuguesa? a. Porque a Filosofia da Linguagem estuda o campo das ciências sociais e não da língua portuguesa. b. Porque a Filosofia da Linguagem é um campo de estudo da história da filosofia apenas. c. Esta afirmação está incorreta. A Filosofia da Linguagem estuda o significado da palavra assim como consta em dicionário. d. Porque a Filosofia da Linguagem estuda a língua portuguesa. e. Porque a Filosofia da Linguagem leva em conta o contexto na aplicação da linguagem. 3. O que é linguagem verbal e linguagem não verbal, respectivamente? a. Linguagem verbal é o texto e linguagem não verbal é a fala. b. Linguagem verbal é a fala e linguagem não verbal é o texto. c. Linguagem verbal é a oratória e linguagem não verbal é a retórica. 4242 d. Linguagem verbal é a linguagem oral ou textual e a linguagem não verbal é a visual. e. Não existe distinção entre linguagem verbal e não verbal. Referências bibliográficas CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2003. HALL, Stuart. Codificação Decodificação. In: Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. MARTÍN-BARBERO, J. Globalização comunicacional e transformação cultural. In: MORAES, D. de. (Org.). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003. Gabarito Questão 1 – Resposta: D Resolução: há diversos campos acadêmicos que tratam do estudo da linguagem, porém é a Filosofia da Linguagem que se preocupa com os estudos sociais aliados à compreensão do uso de determinada linguagem em um dado contexto social. Feedback de reforço: massa nos traz a ideia de uma grande quantidade de pessoas. Questão 2 – Resposta: E Resolução: quando pensamos em linguagem, falamos da relação entre seres vivos que se comunicam por meio da linguagem, por isso é preciso compreender qual a carga de significações de determinada palavra em cada grupo social que a expressa. Essa significação está além do significado formal expresso em um dicionário. Trata-se da compreensão da relação social de determinado grupo com a palavra. 4343 43 Feedback de reforço: comunidade nos traz a ideia de um grupo social organizado em prol de um bem comum. Questão 3 – Resposta: D Resolução: linguagem verbal é o uso do texto ou da fala como forma de comunicação. Linguagem não verbal é o uso de imagens, símbolos, expressões corporais, gestos, entre outros, como forma de comunicação. Feedback de reforço: itinerância é um termo que tem origem no latim e significa “ato de deslocar”. 4444 Participação. Meio de comunicação. Democratização da comunicação Autora: Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Objetivos • Compreender como se dá a participação em processos de comunicação. • Refletir sobre como mudanças tecnológicas alteram a relação do sujeito social com os meios de comunicação. • Refletir sobre a importância do debate a respeito da democratização da comunicação. 4545 45 1. Introdução No contexto contemporâneo, os estudos da comunicação comunitária ganham, a cada dia, maior importância. O processo de participação popular nos campos social e político é diariamente fortalecido. A participação na produção de conteúdos em processos comunicacionais ditos “alternativos” se faz cada dia mais presente e essas movimentações e organizações populares ganham um importante e significativo espaço no campo da comunicação. O processo de comunicação democrática subentende o direito à relação não apenas de receptor de conteúdo, mas também do produtor e do disseminador de mensagens e ideias. Faz parte de um contexto democrático o direito a “poder dizer”, além do direito de “poder receber” (ouvir e ver). Comunicar-se está para nós no campo daquilo que nos é garantido por direito, há também a responsabilidade diante daqueles para quem comunicamos algo. É preciso refletir sobre a responsabilidade de quem assume o papel de comunicador. Quando se estuda jornalismo, por exemplo, muito se fala sobre a necessidade primordial de que o jornalista se mantenha sempre imparcial diante da notícia. Quando se estuda publicidade, muito se fala sobre os valores éticos e morais que precisam ser cuidadosamente preservados para que não ultrapassemos limites em nome das estratégias que têm por objetivo o incentivo ao consumo. Porém, vale aqui uma reflexão sobre os campos de atuação do jornalista e do publicitário. No Brasil, será mesmo que essas premissas básicas são constantemente respeitadas? É fato que não. Há muitos outros interesses políticos e econômicos em jogo nas relações empresariais que envolvem o campo da comunicação em nosso país. 4646 2. Planejar e compreender estratégias para ter e dar acesso É preciso que procuremos compreender todos os elementos que cercam o campo da comunicação para que possamos atuar de forma mais efetiva. Pesquisar, planejar e analisar estratégias existentes com o intuito de fazer as melhores escolhas durante o desenvolvimento de um projeto de comunicação comunitária é essencial para o sucesso. O planejamento envolve um olhar específico sobre os objetivos e a prática comunicacional escolhida. O que se deseja comunicar? Para quem se deseja comunicar? Com qual intuito você deseja comunicar? Onde você pretende chegar? Ou quais resultados pretende alcançar? Do que você precisa para atingir seus objetivos? Qual o investimento de tempo e financeiro para que possa atingir tais objetivos? Quem você precisa ter ao seu lado para desenvolver as atividades necessárias? Quais são as leis que regem a área de atuação em que você pretende empreender? Com o queou quem você vai concorrer? Quais as histórias anteriores que você pode ter como referências de acertos e de erros na área de seu projeto? Como vê, são muitas as perguntas a serem elaboradas e respondidas. Há uma fala comum no campo da educação que diz que mais importante do que saber respostas é saber formular as perguntas corretas. E como você pode saber quais as questões que envolvem a área de atuação de seu projeto de comunicação comunitária? A resposta é simples: estudando, pesquisando, analisando e ouvindo. Aliás, no campo da comunicação é importante saber se comunicar, mas é extremamente importante saber ouvir. 4747 47 ASSIMILE Há uma pequena história do escritor Rubem Alves (2018) sobre a nossa incapacidade de ouvir que exemplifica bem o quanto o aprendizado de ouvir o outro é essencial. Acesse pela internet a crônica Escutatória (que faz parte do livro O amor que acende a lua, de sua autoria). Nesta crônica, Rubem Alves inicia sua provocação filosófica dizendo que todo mundo quer aprender a falar, mas ninguém quer aprender a ouvir. ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. 15. ed. Campinas: Papirus Editora, 2018. 2.2 A participação e a democratização da Comunicação Participação é direito do cidadão em uma relação social de base democrática. Porém, a participação é um comportamento que precisa ser ensinado e exercitado. Culturalmente, no Brasil, exercitamos muito pouco nosso direito à participação. Historicamente não temos uma boa relação com a cultura participativa. Talvez seja por causa dos anos que passamos sob um regime militar que arrancou à força os nossos direitos. Talvez seja por que somos mesmo uma democracia ainda jovem. Talvez sejam essas e sejam outras variáveis, como a estrutura frágil de educação que ainda temos no país ou a hegemonia de um sistema de comunicação que defende quase exclusivamente os interesses privados. São muitas as leituras, são inúmeros os debates no campo acadêmico, mas são poucas as certezas com relação à origem do problema. Quais os motivos de nossa dificuldade e de nossa indisponibilidade para a solidificação da relação participativa e política na sociedade? Pense em você mesmo e reflita. Por que você se dispõe a uma participação política tão pequena em seu cotidiano? 4848 Para muitos cidadãos brasileiros, a única ação no campo da participação política é o voto, que só se dá por ser obrigatório. E por que o voto, que é um direito, se mantém ainda obrigatório? Estamos engatinhando no campo democrático e há muito a aprendermos sobre a nossa força e sobre as formas de participação dentro de um contexto efetivamente democrático. É preciso que nos façamos cada vez mais presentes diante das decisões de cunho político e social no país. Só assim haverá possibilidade de efetivas mudanças. Podemos afirmar que a internet nos tirou da posição cômoda de apenas “receber” aquilo que nos era ofertado no campo da comunicação. A relação cotidiana com a internet fez com que desenvolvêssemos um comportamento mais participativo. Agora desejamos mesmo é ter preservado o nosso direito a interagir. É nesse contexto que muita coisa à nossa volta rapidamente se altera e, dentre outros temas, começamos a adotar para nós mesmos discussões como a que chamamos de “democratização da comunicação”. 2.3 A democratização da mídia Mas afinal, o que é essa conversa sobre a “democratização da mídia”? Há algum tempo a sociedade e o governo vêm discutindo sobre a necessidade de repensar as leis que regulam a área midiática no Brasil. Assunto polêmico e duramente combatido por grandes empresas do ramo da comunicação que, muitas vezes de forma tendenciosa, noticiam discussões acerca do tema como tentativas governistas de censurar o sistema de comunicação brasileiro. Trata-se de um assunto polêmico, mas essencial de ser debatido. O projeto de lei que ficou conhecido como “Nova Lei de Meios” ou “Projeto de Regulamentação da Mídia” está disponível na internet para que possamos acessá-lo com facilidade. Porém, diante desse novo comportamento de participação que temos desenvolvido, ainda não 4949 49 aprendemos a lidar com a sensação de que a verdade absoluta é sempre noticiada por grandes meios de comunicação. Nos mantemos em nossa cômoda posição de receber a informação pronta e apenas compartilhá- la com um clique. Diante dos estudos do campo da Comunicação, faz-se necessário e urgente que descortinemos tudo o que nos embaça o olhar e nos disponibilizemos a procurar por mais de uma fonte de pesquisa. É exercício cotidiano saber que uma notícia nunca deve ser apresentada apenas por um lado da situação. É preciso que tenhamos acesso a mais de uma visão sobre determinado fato. E assim como procuramos por notícias que tenham olhares múltiplos sobre o fato e que visem realmente informar (e não confundir), torna-se necessário que nos proponhamos a olhar também criticamente para os meios de comunicação. Se assim o fizermos, nossa primeira necessidade será a de procurar por fontes diversas. Uma mesma notícia nos é apresentada de forma completamente diferente se a analisarmos em diferentes veículos. Mas voltemos à reflexão sobre o projeto de lei que se propõe a democratizar a mídia. O que há de democratização na proposta dessa lei? E o que há de censura, como afirmam alguns veículos de comunicação? A ideia de democratizar a mídia está explicitada como uma desarticulação de indivíduos que ocupam cargos políticos e que são, ao mesmo tempo, donos de empresas midiáticas. Muitos de nossos políticos hoje são donos de canais de televisão, de jornais impressos, de emissoras de rádio, entre outros meios. A proposta primordial apresentada por esse projeto de lei é a de que um político passará, a partir da aprovação da lei, a não mais poder exercer cargo político e ser, ao mesmo tempo, dono de um veículo de comunicação. Imagine-se dono de uma emissora de rádio em sua cidade. Você se elege vereador e, em dado momento de sua carreira, vê seu nome envolvido em um 5050 escândalo qualquer. Imagine-se então culpado de determinado ato ilícito. Perguntamos: sua emissora estará acima de seus interesses e irá, como outros veículos isentos, noticiar os fatos ou primará por defendê- lo publicamente de tais acusações em nome daquilo que se noticia como “verdade”? É fato que há aí um grande conflito de interesses, não é? É na premissa básica de que o campo da Comunicação no Brasil não é um espaço de interesse privado (e sim de interesse público) que a nova lei vem se pautando. Aliás, você sabia que uma emissora não é uma empresa privada? Emissoras de rádio e televisão são concessões públicas e, por isso mesmo, devem atender ao interesse público na mesma proporção que atendem ao interesse do proprietário de determinada empresa midiática. Este é um outro ponto que pretende garantir a nova lei: que as cotas de programação sejam equilibradamente divididas para atender aos interesses sociais (com programação do campo social e comunitário), aos interesses públicos de governo (com conteúdo estatal) e aos interesses privados do detentor do direito de transmissão (o “dono” da emissora). Outra proposta é acabar com aquilo que se chama de “propriedade cruzada”. Propriedade cruzada diz respeito aos grandes conglomerados de mídia e essa é uma das características do campo das comunicações no Brasil. Esse projeto de lei mexe em grandes forças políticas e por isso não foi levado à frente até para que possamos vislumbrar a sua aprovação. E se mantém apenas como um projeto. PARA SABER MAIS O conceito de propriedade cruzada no contexto do estudo das novas propostas de regulamentação da mídia diz respeito à concentração de poder de algumas empresas e conglomerados midiáticos diante de diferentes meios de comunicação (uma mesma empresa é detentora de poder 5151 51 diante de um número X de emissoras e retransmissoras de sinal de televisão, de rádio, etc.). O artigo 220 da Constituição Brasileira proíbeos monopólios e oligopólios diretos e indiretos, porém no Brasil o direito à exploração dos meios de comunicação que servem ao país está nas mãos de poucas famílias que detêm o poder de uma gama variada de veículos de comunicação de largo alcance. Entretanto, quem nos diz que é um projeto que visa censurar a imprensa brasileira? É preciso que façamos o exercício constante de procurar entender qual é o espaço do emissor da mensagem. Que interesses há por trás de algumas falas disseminadas pelo campo midiático? Quem fala? Para quem é dito? São questões que devemos ter em mente para que possamos começar a exercitar a capacidade crítica diante do campo da comunicação e só assim poderemos ampliar horizontes e conquistar apoio para as mudanças necessárias em um espaço daquilo que é possível (não apenas como um sonho distante). Ao acessar o projeto da “Nova Lei de Meios” é possível verificar que não há, em nenhum de seus artigos, propostas que visem censurar o conteúdo veiculado pela empresa midiática. O que há é uma proposta de maior equilíbrio na programação e de maior participação social com a criação de conselhos consultivos. ASSIMILE Um conselho consultivo é formado por representantes da sociedade civil e tem por objetivo recomendar, sugerir, orientar e fiscalizar as ações do Estado. Existem também outros tipos de conselhos, como o normativo e o deliberativo, com outras atribuições que não vêm ao caso no contexto apresentado. 5252 Democratizar os meios de comunicação é um processo político que exige esforço e pressão popular porque é uma briga com grandes e conservadoras forças políticas. Mas é essencial que se faça. Países de diversas partes do mundo já o fizeram. A lei (Lei n. 4.117/1962) que regula o campo das Telecomunicações no Brasil é antiga. Data da década de 1960. Nascida no contexto da Ditadura, é uma lei que precisa urgentemente ser revisitada. Democratizar significa dar acesso. A ideia é que o espaço para o conteúdo nacional possa ser preservado nos meios de comunicação. Também está no projeto o fortalecimento da comunicação do Estado através das emissoras educativas e dos meios de comunicação comunitários. A ideia é que se consiga uma melhor distribuição das concessões públicas para que tenhamos uma balança mais equilibrada no que diz respeito aos espaços de comunicação do Estado, da iniciativa privada e das comunidades. 3. Considerações finais A comunicação, por ser um espaço de poder, é sempre um campo de tensões de forças e interesses políticos. É preciso cuidado ao se relacionar com o conteúdo oferecido por grandes canais de comunicação. Questionar e exercitar o olhar para mais de uma fonte de informação se faz necessário para a construção de uma postura crítica em relação ao campo social e da comunicação. As discussões acerca do tema da democratização do acesso à comunicação são campos de disputa e por isso o projeto de lei que visa democratizar o acesso aos meios de comunicação e preservar a veiculação de conteúdos de interesse público se mantém há vários anos parado no Congresso. 5353 53 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O que seria uma comunicação democrática? a. É o campo de comunicação de um país democrático. b. Não existe comunicação que não seja democrática. c. É uma comunicação que tem por base o direito à verdade, à informação para todos e que compreende o direito para além daquele que recebe a mensagem, mas dá direito ao sujeito social de também produzir a mensagem e veiculá-la. d. É o campo da comunicação que se desenvolve em países democráticos e que é mediado por grandes grupos midiáticos. e. É a comunicação que se faz por grandes grupos midiáticos em nosso país, o Brasil. 2. O que significa dizer que meios de comunicação são concessões públicas? a. São autorizações do Estado para que empresas explorem o mercado com objetivo mercantil, como qualquer outra área da economia. b. Os meios de comunicação não são simplesmente empresas privadas que visam lucro para seus proprietários. São, antes de tudo, empresas autorizadas pelo Estado para veiculação de conteúdo de interesse público. c. São empresas que concedem conteúdo de comunicação ao público consumidor. 5454 d. É apenas um conceito que traduz o campo da concessão pública de conteúdo midiático, não tem valor para além do campo conceitual. e. Meios de comunicação são empresas públicas. Não há empresa privada neste campo. 3. O que é democratização da mídia? a. É uma discussão contemporânea que visa dar acesso aos meios de produzir e de receber conteúdo midiático, inclusive da veiculação de informação. b. É a democratização do acesso ao sinal digital para que todos possam usufruir da internet. c. É a democratização do acesso ao conteúdo televisionado. d. É tornar pública todas as empresas do ramo da Comunicação. e. É acabar com as empresas privadas no ramo da Comunicação, tornando-as todas concessões públicas. Referências bibliográficas ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. 15. ed. Campinas: Papirus Editora, 2018. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2003. HALL, Stuart. Codificação Decodificação. In: Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. MARTÍN-BARBERO, J. Globalização comunicacional e transformação cultural. In: MORAES, D. de. (Org.). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003. 5555 55 Gabarito Questão 1 – Resposta: C Resolução: o campo da comunicação democrática subentende um sistema de comunicação que prima pela ética e preceitos sociais diante do direito à informação e da imparcialidade jornalística. Também compreende um espaço de comunicação não concentrado por grandes conglomerados midiáticos, mas de acesso igualmente facilitado a comunidades e grupos que desejem se organizar para serem também emissores de mensagens comunicacionais. Feedback de reforço: democracia implica no envolvimento e na representatividade de grupos representantes da sociedade civil. Questão 2 – Resposta: B Resolução: concessão pública é uma espécie de contrato entre a empresa que recebe a concessão e o Estado. Nesse contrato, o Governo transfere a responsabilidade diante da execução do serviço e exploração comercial do setor. No caso da concessão pública de um meio de comunicação, como a televisão, a empresa que recebe a concessão deve prestar serviço de utilidade pública. Feedback de reforço: comunicação é direito do cidadão.. Questão 3 – Resposta: A Resolução: é uma discussão que pretende descentralizar o poder sobre os meios de comunicação e que se propõe a ser um processo de comunicação que democratize o direito à relação não apenas de receptor de conteúdo, mas também de produtor e disseminador de conteúdo. É a tentativa de garantir o direito de “poder dizer” e de “poder receber”. Feedback de reforço: a mídia não deve estar concentrada nas mãos de alguns poucos grupos empresariais, o monopólio não é permitido por lei. 5656 Novas tecnologias e utilização de técnicas de comunicação da prática profissional Autora: Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo Objetivos • Compreender como se dá a influência do desenvolvimento tecnológico no campo do consumo da comunicação social. • Refletir sobre as mudanças comportamentais, fruto do desenvolvimento social e tecnológico. • Pensar sobre como a tecnologia contribui para o desenvolvimento da prática profissional no campo da comunicação. 5757 57 1. Introdução O desenvolvimento das tecnologias sempre foi responsável direto por grandes transformações sociais. Com a invenção da máquina de escrever (no final do século XIX), e posteriormente do computador (na segunda metade do século XX), pudemos perceber uma primeira e clara agilização dos processos comunicacionais. A criação do primeiro veículo automotor (no início do século XX) encurtou distâncias. As experiências com ondas eletromagnéticas e a posterior criação do rádio revolucionaram a nossa relaçãocom os tímidos processos de comunicação do início do século XX, e a criação e popularização da televisão virou a nossa rotina de cabeça para baixo. A sensação de aceleração do tempo é o primeiro impacto trazido pelo desenvolvimento das tecnologias. O século XX pode ser considerado o século da primeira grande revolução advinda da tecnologia. Se começamos o século encantados com os 13 km/h que um carro alcançava na estrada, chegamos na metade do século levando o homem a conhecer a lua e terminamos o século fazendo clonagem de ovelhas. Porém esse desenvolvimento não nos leva sempre às melhores escolhas. Também desenvolvemos a bomba atômica e destruímos gerações com os efeitos dela. 2. A tecnologia e a dependência cotidiana É fato que a tecnologia transforma o cotidiano. Ela reconfigura o nosso tempo e as nossas relações. Temos a clara sensação de que o tempo está mais curto. As atividades não cabem mais em um único dia de trabalho. Mas essa sensação de que o relógio roda mais rápido nada mais é do que reflexo de uma sociedade absorvida por sólidos processos mediados pela tecnologia. O cotidiano era mais simples. Vivíamos antes um dia de cada vez e fazíamos uma coisa de cada vez. Atualmente estamos absorvidos por 5858 uma lógica que nos exige sermos absolutamente integrados a sistemas múltiplos. Fazemos mil coisas ao mesmo tempo e, consequentemente, o tempo sendo o mesmo, o resultado nunca será. Temos agora as mesmas jornadas de oito horas de trabalho e mais do que o dobro de atividades para serem cumpridas neste curto espaço de tempo diário. O mercado exige um sujeito social adaptado ao contexto das ferramentas e dos dispositivos tecnológicos. Somos hoje novos sujeitos sociais. Podemos procurar por exemplos do cotidiano para pensarmos sobre como a tecnologia muda a vida da gente e muda a nós mesmos. A tecnologia nos torna dependentes. Estes tempos lembram-nos aqueles velhos filmes de ficção científica em que se previa que no “futuro” (o nosso presente) o ser humano estaria rendido à máquina. Você consegue se imaginar sem um celular? Desconectado do mundo? Longe de dispositivos tecnológicos ou, mais especificamente, longe da internet? Podemos até pensar “ah, a vida era melhor antes...” e numa lógica saudosista acreditar que, quem sabe, um dia a gente se veja mais livre de tudo isso. Será? Talvez um dia a sociedade aprenda a lidar melhor com os suportes tecnológicos, porém é fato que estaremos a cada dia mais e mais absorvidos por uma sociedade que também a cada dia estará mais e mais adaptada a processos tecnológicos e, sem dúvida, absolutamente conectada à rede. O celular, quando surgiu, era visto como um “tijolão”, um aparelho grande que foi reduzindo em tamanho e aumentando em importância nos anos que se seguiram. Atualmente somos tão dependentes dele que não podemos esquecê-lo em casa, pois a sensação é de que deixamos parte de nós mesmos para trás. Ele se tornou parte do corpo. Uma extensão ao corpo a que está acoplado. Para ele transferimos parte de nossas capacidades. Hoje, por exemplo, poucos de nós têm na memória números de telefone. Transferimos essa memória para o celular. Este pequeno aparelho guarda todos aqueles telefones que antes sabíamos de cor. 5959 59 A importância desse aparelho é tanta que não dormimos mais sem ele ao lado. Ele nos mantém conectados em 100% de nosso tempo. Até para o banho o celular agora nos acompanha. E isso é porque não adentramos em um campo em que a dependência se torna vício e, consequentemente, doença. Falamos apenas do espaço em que ainda caminhamos dentro daquilo que convencionamos chamar de “normalidade”. Numa leitura social contemporânea, é “normal” essa dependência. Algumas situações são apontadas como incômodas. Uma situação cotidianamente criticada é aquela em que vemos um grupo de amigos em uma mesa de restaurante e todos os membros do grupo estão absolutamente seduzidos pelas telas de seus celulares. Eles estão e não estão juntos naquele ambiente. Figura 1 – A vida contemporânea se faz simultaneamente on-line e off-line Fonte: elaborado pelo autor. Há alguns anos tínhamos inúmeras pesquisas sobre a vida humana na contemporaneidade que eram divididas entre uma vida on-line e uma 6060 vida off-line. Analisávamos o comportamento humano separando-o em ambientes off-line como sendo a vida dita “real”, que acontece presencialmente, em contatos diretos do sujeito social com o ambiente em que vive, e em ambientes on-line, que seria a vida virtual, aquela que levamos na relação com as telas no contexto das redes de internet. Dizíamos que não era mais possível pensar em olhar o ser humano apenas pela vida off-line porque agora a vida on-line ganhava importância expressiva em seu cotidiano. Pesquisas mais recentes falam que não devemos mais separar vida on-line de vida off-line como se fossem leituras de duas vidas separadas em um único ser humano. O ser humano atual é on e off- line ao mesmo tempo. Parece uma conversa filosófica, não é? Mas é essencial para entendermos o potencial das redes virtuais no campo dos estudos da comunicação. Somos parte da rede agora. A rede já não pode mais ser considerada uma escolha externa a nós mesmos. Sendo parte, estamos mais absorvidos do que nunca por todos os textos que ela emana. Quando falamos sobre isso, estamos falando de uma outra dependência para além do aparelho celular, é a dependência da internet. Precisamos estar conectados como se, ao escolher não estar na rede, estivéssemos perdendo fatos, experiências e momentos imprescindíveis. A sensação de estarmos fora do ar pela falta de um sinal é quase a mesma sensação de estarmos perdendo algo. Este também é um comportamento novo e que vem sendo estudado por pesquisadores do campo. A internet nos traz a constante sensação de algo que passou pelos vãos dos dedos e que, ao fazer uma escolha, abrimos mão de outras tantas que poderiam ser até melhores. Essa sensação de sermos insaciáveis é natural, mas se potencializa com a relação em rede porque agora estamos o tempo todo sendo incitados a estar em algum lugar e, na rede, essa sensação é sempre a de que esse “lugar” não é onde “estamos agora”. Queremos sempre o outro lugar. 6161 61 PARA SABER MAIS A “sensação de estarmos perdendo algo” é um comportamento da vida contemporânea que vem sendo estudado por vários especialistas. A este fenômeno eles deram o nome de “FOMO”, sigla em inglês que se origina do termo “Fear of Missing Out” (que significa “medo de perder alguma coisa”) e tem sido campo de contínuos estudos. Podemos voltar novamente aos filmes de ficção científica. Eles nos mostravam um futuro em que poderíamos ser “onipresentes” e estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Este futuro se faz presente. Os filmes viraram uma representação simbólica de uma realidade que se dá por meio das telas. Hoje estamos em vários ambientes ao mesmo tempo e, quando não mais se separa vida on-line e off-line, somos nós mesmos presentes na rede social (interagindo, postando ou compartilhando), na vida presencial, numa conversa privada com um amigo ou um grupo, em programas de mensagem instantânea. Nesse contexto, voltamos a algumas teorias como a que alguns sociólogos chamam de “não lugar”. Há lugares no cotidiano em que estamos sem estar. A rua seria um exemplo de um “não lugar”. Passamos pela rua, mas geralmente não estamos nela. O corpo passa. A cabeça está em outro lugar e, com o suporte dos dispositivos tecnológicos, isso se torna ainda mais fácil. Aeroportos, rodoviárias e espaços de passagem são também exemplos de não lugares. Estamos sem estar. Outro exemplo de dependência é a relação que criamos em um ambiente privado com a televisão e com o computador. Quantos de nós, ao chegar em casa, temos como primeira ação, ao adentrar pela porta da rua, ligar a televisão e o computador? Muitos. Talvez a maioria de nós. É um comportamento quase automático. É como se precisássemos desses
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