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Laís Kemelly UNIME – 2020.2 Na categoria de infecções ginecológicas, a sífilis se enquadra como úlcera genital. Sendo assim, apresenta: • Lesões ulcerativas e erosivas • Podem ser precedidas ou não por pústulas ou vesículas • Podem ser acompanhadas ou não de dor, ardor, prurido, sangramento e linfadenopatia regional A sífilis é uma IST causada pela bactéria Treponema pallidum. Pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). É uma doença de evolução lenta e quando não tratada, alterna entre períodos sintomáticos e assintomáticos, com características clínicas, imunológicas e histopatológicas distintas. Podemos dividi-la em três fases: • Sífilis primária • Sífilis secundária • Sífilis terciária Se não houver tratamento após a sífilis secundária, existem dois períodos de latência. • Recente: com menos de dois anos • Tardia: com mais de dois anos A infecção pelo Treponema pallidum não confere imunidade permanente. Por isso, é necessário diferenciar a cicatriz sorológica (persistência de exames reagentes) da reinfecção. O Treponema pallidum é uma bactéria espiroqueta Gram negativa (esse negócio de Gram é importante pro mecanismo dos antibióticos, não estou dando uma de Ribas ok?). O T. pallidum não tem fatores de virulência evidentes, como endo e exotoxinas. No entanto, produz diversas lipoproteínas que induzem uma resposta imune inflamatória intensa, o que resulta na destruição tecidual característica da doença. As espiroquetas penetram nas mucosas, principalmente após contato sexual, podendo invadir o sistema linfático e se disseminar pelo organismo por via hematogênica, resultando em suas manifestações sistêmicas. Em seu estágio primário a sífilis é caracterizada pelo aparecimento de lesão ulcerada e pequena no local da inoculação do treponema. Essa lesão primária é denominada protossifiloma, popularmente conhecido como cancro duro. • Úlcera única e indolor • Bordas bem definidas e regulares • Base endurecido • Fundo limpo • Linfoadenopatia regional Seu período de incubação é de 10 – 90 dias, tendo uma média de 3 semanas. Sua duração pode variar muito, em geral de 3 a 8 semanas, regredindo espontaneamente sem deixar cicatriz. Maior período de transmissibilidade. Laís Kemelly UNIME – 2020.2 A maioria das lesões primárias surge nos órgãos genitais, mas em alguns casos há protossifilomas em áreas extragenitais. Na mulher, as áreas mais comuns são: pequenos lábios, parede vaginal, colo uterino, região anal, boca e língua, região mamária. Nesse estágio da doença, a espiroqueta é disseminada pela corrente sanguínea produzindo lesões mucocutâneas generalizadas e edema nos linfonodos. As lesões são chamadas de sifilites e essa fase ocorre em média entre 3 semanas a 6 meses após cicatrização do cancro. Inicialmente, apresenta-se uma erupção macular eritematosa pouco visível, também chamada de roséola (imagem 1). Nesse estágio, são comuns as placas mucosas (imagem 2), assim como lesões acinzentadas e pouco visíveis nas mucosas. As lesões cutâneas progridem para lesões mais evidentes, papulosas eritemato-acastanhadas, que se disseminam por toda a pele. Habitualmente, são bem observadas na região plantar e palmar (imagem 3). E vocês achando que dermato é só creme... Com a evolução da doença, podem ser identificados condilomas planos (imagem 4), especialmente na área anogenital. Essas lesões são frequentemente confundidas com as verrugas anogenitais causadas pelo HPV. Outros sintomas inespecíficos: • Febre • Perda de apetite • Mal-estar • Anorexia • Náuseas • Fadiga • Cefaleia Sem tratamento, as lesões podem desaparecer em poucos dias ou semanas. Podem também persistir por meses, mas desaparecem sem cicatrizes. A manifestação sistêmica pode atingir outros órgãos. Atualmente, a frequência de uveítes e outros quadros oculares tem aumentado. ↳ Uveíte é uma doença inflamatória oftalmológica que atinge a úvea ou uma de suas partes (íris, corpo ciliar e coroide) Em pacientes imunodeprimidos, a neurossífilis meningovascular pode ocorrer durante essa fase secundária, contrariando a ideia de que a sífilis neurológica é exclusiva da fase tardia. Nesses pacientes, a sífilis é caracterizada por lesões ulceradas hemorrágicas que acometem principalmente a face e o couro cabeludo. Toda erupção cutânea sem causa determinada deve ser investigada com testes para sífilis. Laís Kemelly UNIME – 2020.2 Período no qual não se observa nenhum sinal ou sintoma. O diagnóstico da doença nessa fase ocorre exclusivamente pela reatividade dos testes treponêmicos e não treponêmicos. • Latente recente: menos de dois anos de infecção • Latente tardia: mais de dois anos de infecção Ocorre em 15% a 25% das infecções não tratadas após um período variável de latência, podendo surgir entre um e 40 anos após o início da infecção. Suas manifestações são sistêmicas e graves. Manifestações cutâneas • Lesões gomosas e nodulares de caráter destrutivo Manifestações cardiovasculares • Estenose de coronárias • Aortite • Aneurisma de aorta, especialmente da porção torácica Manifestações neurológicas • Meningite • Atrofia do nervo óptico • Lesão do VII par craniano (facial) • Manifestações psiquiátricas • Tabes dorsalis (degeneração neuronal) • Paralisia geral • Testes imunológicos de sífilis São os mais utilizados na prática clínica. Nesses testes, pesquisamos a titulação de anticorpos em amostra de sangue total, soro ou plasma. Dentro dos testes imunológicos, existem duas classes. • Testes treponêmicos Detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos de T. pallidum. São os primeiros a se tornarem reagentes, podenso ser utilizados como primeiro teste ou teste complementar. Não são indicados para o monitoramento da resposta ao tratamento, pois permanecem reagentes para toda a vida em 85% dos casos. Exemplos de testes treponêmicos: teste rápido, testes de hemaglutinação, teste de imunofluorescência indireta, ensaios imunoenzimáticos (ELISA). • Testes não treponêmicos Detectam anticorpos anticardiolipina não específicos para os antígenos T. pallidum. Permitem análise qualitativa (positivo ou negativo) e quantitativa (titulação de anticorpos). Quando o teste é reativo, a amostra deve ser diluída em um fator dois de diluição, até a última diluição em que não haja mais reatividade no teste. O resultado final é expresso em títulos (1:2, 1:4, 1:8). Por conta dessa característica quantitativa, o teste não treponêmico é utilizado para o monitoramento da resposta ao tratamento e controle da cura. A queda adequada dos títulos é o indicativo de sucesso do tratamento. No Brasil, o teste não treponêmico mais comumente usado é o VDRL. O teste torna-se reagente em cerca de 1 a 3 semanas após o aparecimento do cancro duro. Laís Kemelly UNIME – 2020.2 Titulações baixas (a partir de 1:4) podem persistir por meses ou anos. Pessoas com títulos baixos em testes não treponêmicos, sem registro de tratamento e sem data de infecção conhecida são consideradas como portadoras de sífilis latente tardia e devem ser tratadas. Sinceramente eu não entendo muito bem esse rolê de não treponêmico e titulações, então deve ter ficado um pouco confuso. Vou dar um CTRL C + V nos próximos parágrafos de umas coisas que achei interessantes, mas n sei resumir. Nesse link tem um material específico sobre isso pra quem quiser. http://abre.ai/sifilisvdrl “Todos os testes não treponêmicos detectam anticorpos IgM e IgG chamados de reaginas, imunoglobulinas não específicas encontradas no material lipídico que é liberado pelas células danificadas, as quais são geradas pelo sistema imune em diversassituações além da sífilis, tais como em casos de doenças crônicas como lúpus eritematosos sistêmicos, síndrome antifosfolipídica, hepatite crônica, hanseníase e malária, além de uso de drogas ilícitas injetáveis. A presença das reaginas no soro nessas situações geralmente ocorre em baixas concentrações,mas pode resultar em testes falso-positivos. Dessa forma, sempre que um teste não treponêmico de floculação apresenta-se positivo torna-se necessária a realização de outros testes imunológicos para a confirmação do diagnóstico” “Adicionalmente, vale salientar que nos testes não treponêmicos pode ocorrer o fenômeno de prozona que se refere à ausência de reatividade em uma amostra positiva analisada na forma não diluída. E esse fenômeno origina-se da relação desproporcional entre a quantidade de antígenos e anticorpos, o que resulta em falsos-negativos e é muito comum em lesões secundárias, fase em que há uma grande produção de anticorpos. Dessa forma, indica-se testar todas as amostras negativas na forma diluída para confirmar a negatividade do resultado” O tratamento da sífilis é fase-dependente, ou seja, a escolha é determinada pelos sinais e sintomas e pelo perfil sorológico do paciente. • Penicilina benzatina É a droga de primeira escolha e sua dose varia conforme a fase da infecção. Segundo o MS: Primária: 2.400.000 UI intramuscular, DU Secundária, 2.400.000 UI intramuscular, duas doses com uma semana de intervalo entre cada uma. (total de 4.800.000 UI) Terciária: 2.400.000 UI, intramuscular, semanal durante três semanas. (total de 7.200.000 UI) Para indivíduos alérgicos à penicilina, as drogas recomendadas são: • Doxicilina • Tetraciclina • Estearato eritromicina LEÃO, B. S. O, et al. Sífilis: fisiopatologia, diagnóstico laboratorial e tratamento. Revista de Ciências Biológicas e da Saúde. v. 17, n° 11. Mato Grosso, 2020. http://abre.ai/sifilisvdrl
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