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Edelvino Razzolini Filho ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO AD M IN IS TR AÇ ÃO D E M AT ER IA L E PA TR IM ÔN IO Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3588-5 9 7 8 8 5 3 8 7 3 5 8 8 5 Edelvino Razzolini Filho Administração de Material e Patrimônio IESDE Brasil S.A. Curitiba 2013 Edição revisada © 2006-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________ R219a Razzolini Filho, Edelvino. Administração de material e patrimônio / Edelvino Razzolini Filho. - 1. ed., rev. - Curi- tiba, PR : IESDE Brasil, 2013. 330 p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3588-5 1. Administração de material 2. Logística empresarial. I. Título. 13-1182. CDD: 658.7 CDU: 658.7 22.02.13 27.02.13 043049 __________________________________________________________________________________ Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Edelvino Razzolini Filho Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, Especialista em Marketing, Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coorde- nador do curso de Gestão da Informação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi su- pervisor de vendas e gerente de vendas de di- versas empresas distribuidoras de materiais e equipamentos médico-hospitalares na região Sul do Brasil; gerente de produtos de indústria farmacêutica com atuação em todo o território nacional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Con- sultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treinamento e consultorias na área de lo- gística; também foi diretor-presidente da UNIE- DUC Cooperativa dos Educadores e Consultores de Curitiba; autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos na- cionais e internacionais. su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Administração de materiais | 13 13 | Considerações iniciais 14 | Recursos à disposição das organizações 17 | Conceito de administração de materiais 19 | Evolução das organizações e da administração de materiais 24 | Logística e Supply Chain Management (SCM) O sistema de administração de materiais e patrimônio | 33 33 | Funções componentes de um sistema de administração de materiais 39 | Atividades da administração de materiais 43 | Os estoques e a área de materiais A administração de materiais nas organizações | 55 55 | A organização da área de materiais 59 | Localização e abrangência da administração de materiais 65 | Papel da administração de materiais nas organizações Identificação, classificação e controle de materiais e bens patrimoniais | 75 75 | Introdução 75 | Identificação de materiais 79 | Classificação de materiais 82 | Controle de materiais 88 | Avaliação de desempenho como ferramenta de controle O método ABC de classificação de materiais | 97 98 | Classificação de materiais conforme o valor – classificação ABC 104 | Outros critérios para a classificação dos materiais 106 | Ferramentas e indicadores de gerenciamento dos estoques Sistemas de armazenagem | 119 121 | Razões para a manutenção de espaços de armazenagem 125 | Funções dos sistemas de armazenagem 131 | Opções de armazenagem e tipos de armazéns 134 | Atividades nos sistemas de armazenagem Dimensionamento e controle de estoques | 139 139 | Considerações iniciais 140 | Como dimensionar os estoques 142 | Política de estoque e previsão de demanda 151 | Controle de estoque Planejamento e programação da produção | 165 165 | Introdução 166 | Questões introdutórias ao planejamento 167 | Planejamento da produção 173 | Programação da produção – programa-mestre de produção 175 | A administração de materiais e a produção su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Material Requirements Planning (MRP) | 181 181 | Introdução 183 | O MRP e as informações que o alimentam 186 | O funcionamento do MRP A Filosofia JIT e sua importância para a administração de materiais | 199 199 | Introdução 199 | Integração e otimização 199 | Melhoria contínua (kaizen) 200 | Resposta às necessidades dos clientes 202 | O que é necessário para implantar o JIT? 208 | O JIT, seus objetivos operacionais e a questão dos estoques 212 | Os custos no ambiente JIT Os sistemas logísticos, subsistemas e atividades | 221 221 | Introdução 222 | O sistema logístico – conceitos elementares 230 | Os subsistemas logísticos 233 | Funções e atividades logísticas Os sistemas de distribuição | 243 244 | Canais de distribuição – a interface da administração de materiais com o marketing 247 | Planejamento de distribuição 255 | Inter-relacionamento da distribuição física com os demais elementos do composto de marketing Os sistemas de transportes | 263 263 | Introdução 264 | Modal de transporte 265 | Transporte próprio ou terceirizado? 265 | Roteirização 265 | Nível de serviço 266 | O sistema de transportes 273 | Os intervenientes (atores) nos sistemas de transportes O gerenciamento da cadeia de suprimento (SCM) | 283 283 | Introdução 285 | Supply Chain Management (SCM) – conceitos básicos 291 | Colaboração nas cadeias de suprimento 295 | Outras considerações sobre o SCM A cadeia de suprimento digital e os negócios eletrônicos | 305 305 | A informação nas cadeias de suprimento 314 | Tipologia do comércio eletrônico – a linguagem do E 318 | Soluções organizacionais nas cadeias de suprimento digitais Referências | 325 A dm inistração de M aterial e P atrim ônio Apresentação A Administração de Material e Patrimônio é uma das mais relevantes disciplinas nos cursos de Administração. Sua relevância é tão expressiva que, atualmente, passou a receber a denominação genérica Logística Empresarial. Um dos primeiros livros de logística a ser publicado no Brasil, por volta de 1990, trazia em seu subtítulo a expres- são “administração de materiais”, para demonstrar como já naquele momento havia um reconhe- cimento da importância dessa disciplina. Então, atualmente, com a ênfase dada à logística nas or- ganizações, essa disciplina está recebendo o seu merecido destaque. Um dos objetivos deste livro é destacar a impor- tância da Administração de Material e Patrimônio dentro dos cursos de Administração, preenchen- do, talvez, uma importante lacuna no mercado editorial. O livro é composto por 15 capítulos e está estru- turado em três partes essenciais: a primeira parte apresenta os conceitos básicos da administração de materiais; a segunda parte apresenta conceitos dos sistemas de armazenagem e da gestão de es- toques, além de apresentar algumas ferramentas para seu adequado gerenciamento; e a terceira parte apresenta os conceitos modernos da logísti- ca empresarial e do seu gerenciamento. Os cinco primeiros capítulos compõem a pri- meira parte do livro e têm a finalidade de introdu- zir o aluno nos conceitos essenciais da administra- ção de materiais. No capítulo 1 são apresentados os conceitos da administração de materiais e a forma como esses conceitos foram evoluindo ao longo do tempo; no capítulo 2 se apresenta o sistema de administra- ção de materiais e patrimônio, destacando-se as funções que compõem esse sistema; o capítulo 3 mostra a administração de materiais nas organi- zações, destacando-se sua localização (em termos de organograma)e sua abrangência nos sistemas gerenciais; já o capítulo 4 trata da identificação, classificação e controle de materiais e dos bens pa- trimoniais, como elementos essenciais para uma administração de materiais eficiente, que auxilie a organização a atingir os objetivos estabelecidos pela alta administração; por fim, o capítulo 5 apre- senta o método ABC de classificação de materiais como uma importante ferramenta para facilitar o gerenciamento dos recursos materiais (principal- mente os estoques), de forma a minimizar os in- vestimentos de recursos organizacionais. A segunda parte do livro, que são os capítulos de 6 a 10, objetiva apresentar o papel da armaze- nagem para uma boa administração de materiais. O capítulo 6 apresenta os conceitos essenciais de um sistema de armazenagem e os principais sis- temas de armazenagem, com suas respectivas es- truturas. No capítulo 7 se discorre sobre o dimensio- namento e o controle dos estoques, demonstrando o papel das variáveis demanda e tempo sobre o controle dos estoques. No capítulo 8 se apresen- tam os conceitos de planejamento e programação de materiais, sua importância e relevância para a diminuição dos investimentos em estoques. O ca- pítulo 9 trata do planejamento das necessidades de recursos materiais para o adequado funciona- mento dos sistemas produtivos, apresentando os conceitos de MRP (Material Requirement Planning) e sua evolução. Por fim, o capítulo 10 trata da Filo- sofia Just-in-Time, seus conceitos elementares, sua evolução e importância para a administração de materiais. A terceira parte do livro busca relacionar a ad- ministração dos materiais no contexto mais amplo da moderna logística empresarial. Para tanto, o ca- pítulo 11 apresenta o sistema logístico, seus com- ponentes e as atividades logísticas (primárias e se- cundárias). No capítulo 12 se apresenta o sistema A dm inistração de M aterial e P atrim ônio A dm inistração de M aterial e P atrim ônio de distribuição, relacionando seu impacto sobre a administração de materiais. O capítulo 13 trata do sistema de transportes e busca demonstrar o papel da variável tempo para a administração de mate- riais. O capítulo 14 trata de um tema atual e sempre relevante: a administração da cadeia de suprimen- tos, que é extremamente importante para a admi- nistração de materiais. No último capítulo da obra aborda-se outro tema relevante e atual: a cadeia de abastecimento e o comércio eletrônico, uma vez que a prática do comércio eletrônico apresenta crescimento constante nos dias atuais. Assim estruturado, o livro busca apresentar os conceitos e as ferramentas essenciais para uma adequada administração dos recursos materiais e patrimoniais que são colocados à disposição das organizações e que necessitam ser minimizados para que os resultados possam ser maximizados. Com essa visão em mente é que se buscou elabo- rar o presente livro. Portanto, desejamos ao leitor uma boa leitura e ótimo aproveitamento dos con- teúdos aqui disponibilizados. Administração de materiais O objetivo deste capítulo é apresentar o conceito de administração de materiais e sua evolução ao longo do tempo, como forma de estabelecer as bases para a aprendizagem desse conteúdo tão importante para a formação do administrador. A administração de materiais é de vital importância para a redução de custos e aprimoramento dos processos produtivos, quando corretamente compreendida e desempenhada. Analisando-se os balanços das organiza- ções é possível perceber que os investimentos em estoques representam uma média de 1/3 dos ativos totais das empresas. Isso significa que é funda- mental gerenciar adequadamente os materiais que são utilizados nos pro- cessos produtivos. Considerações iniciais Essencialmente, a atividade administrativa implica o processo de trans- formação de recursos de entrada em recursos de saída, conforme se visualiza na figura a seguir: Fornecedores ClientesRecursos de entrada Recursos de saída Processamento dos recursos Processos administrativos Processos operacionais Processos tecnológicos Outros processos Financeiros Materiais Humanos Energéticos Tecnológicos Equipamentos Etc. Juros/Lucros Produtos Salários Serviços Marcas/Patentes Etc. Figura 1 – A dinâmica do funcionamento organizacional. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. 13 14 Administração de materiais Os recursos de entrada são obtidos junto a fornecedores, e podem ser ordenados em grupos principais: recursos financeiros; recursos materiais; recursos humanos; recursos energéticos; recursos tecnológicos; equipamen- tos; facilidades1 etc. A organização agrupa esses recursos e, utilizando-se de processos inter- nos, os transforma em recursos de saída, destinados aos seus clientes. Isso implica que os recursos colocados à disposição da organização, obtidos de seus fornecedores, devem ser bem gerenciados para se obter as saídas de recursos desejados pelos clientes da organização. Essa transformação de recursos depende em grande parte da adminis- tração de materiais, que é responsável por obter e gerenciar os recursos que serão processados pela organização. É exatamente sobre essa atividade, a administração de materiais, que vamos discorrer nesta obra, buscando de- monstrar o seu papel para a Administração, como ela funciona e os resulta- dos que oferece aos sistemas organizacionais. Recursos à disposição das organizações Como se percebe, pela figura 1 (A dinâmica do funcionamento organiza- cional), os recursos que são disponibilizados às organizações, para que atin- jam seus objetivos, têm sua origem naquilo que genericamente chamamos de fornecedores. Tais fornecedores podem disponibilizar às organizações os diferentes tipos de recursos de que elas precisam para operacionalizar seus processos produtivos, podendo ser visualizados na figura a seguir. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Materiais Patrimoniais Financeiros (capitais) Energéticos Tecnológicos Humanos Recursos organizacionais Figura 2 – Os recursos gerenciáveis pelas organizações. 1 Do inglês facilities, para significar todos os recur- sos adicionais necessários aos processos produtivos, como: instalações de ar comprimido, instalações elétricas, de gás etc. Administração de materiais 15 Claro que existem outros recursos que podem ser utilizados pelas organi- zações, como os recursos informacionais. Porém, relacionamos apenas os seis encontrados na figura 2, e daremos ênfase aos recursos materiais e aos patri- moniais, uma vez que os mesmos são o objeto de nosso estudo. Os fornecedores dos recursos financeiros são chamados de capitalistas e podem fornecer capitais próprios, os sócios ou acionistas, ou capitais de ter- ceiros, os fornecedores, bancos etc. Os fornecedores dos recursos energéticos podem ser os governos (energia elétrica, gás etc.) ou empresas privadas (madeira, óleo diesel etc.). Os fornecedores de recursos tecnológicos (máquinas, equipamentos, soft- ware, processos etc.) podem ser tanto empresas públicas quanto privadas. Os recursos humanos podem ser fornecidos por empresas terceirizadas ou contratados diretamente pela própria organização. Os recursos materiais são as matérias-primas, materiais auxiliares e os in- sumos utilizados nos processos produtivos, os de escritório, de higiene e lim- peza etc., e devem ser corretamente administrados, uma vez que são recur- sos de uso contínuo e precisam ser adquiridos e gerenciados visando atingir os objetivos de redução de custos e/ou de maximização de resultados. Ge- ralmente, os recursos materiais encontram-se no chamado Ativo Circulante das organizações e recebem o nome genérico de estoques. Por fim, os recursos patrimoniais são aqueles que compõem o chama- do Ativo Permanente das organizações e são representados por máquinas, equipamentos, veículos, móveis, utensílios e demais facilidades necessárias ao funcionamento da organização. Recursos materiais Essencialmente, entende-sepor recursos materiais quaisquer bens que sejam utilizados nos processos produtivos organizacionais. Segundo Mar- tins e Alt (2000, p. 6), “por transmitirem a ideia de que são capazes de gerar produtos e serviços e, portanto, produzir riquezas, os bens são muitas vezes considerados como sinônimo de recursos”. Para a administração de materiais, os bens (parte do patrimônio da or- ganização) são sinônimos de recursos materiais e, assim, são considerados 16 Administração de materiais apenas aqueles que integram o chamado Ativo Circulante das organizações e que, genericamente, recebem o nome de estoques. Ou seja, o objeto central da administração de materiais é o estoque à disposição das organizações. Os estoques são compostos, basicamente, de materiais auxiliares, maté- rias-primas, produtos em processo (WIPs – Work in Process) e produtos acaba- dos. Cada um desses materiais merecerá um cuidado e atenção diferenciada para que os objetivos da organização possam ser atingidos. A correta gestão dos estoques é a essência da administração de materiais. Recursos patrimoniais Para a contabilidade, o patrimônio de uma organização é entendido como o conjunto de bens, direitos e obrigações que são colocados à sua disposi- ção pelos sócios e/ou fornecedores. O papel da administração de materiais e do patrimônio é zelar por tais recursos, gerindo-os de forma a garantir sua utilização racionalmente para permitir que se atinjam os objetivos organiza- cionais de maximização dos resultados (lucro). Esse “conjunto de bens, direitos e obrigações” representa um conjunto de recursos que, bem administrado, poderá contribuir com os objetivos da organização, uma vez que, ainda segundo a ciência contábil, o patrimônio líquido é representado pela seguinte equação: Patrimônio Líquido = (Bens + Direitos) – Obrigações No conjunto de bens e direitos encontram-se os recursos patrimoniais (ativos permanentes), os estoques, os recursos financeiros etc. e, no conjunto dos direitos, encontram-se os resultados da venda dos produtos e/ou ser- viços gerados pelos processos produtivos, representados, entre outros, por duplicatas a receber. Para a disciplina de administração de materiais quando nos referimos ao patrimônio, estamos dedicando atenção apenas aos bens que fazem parte do ativo permanente. Como se pode perceber, pelos conteúdos acima, a administração de re- cursos materiais é diferente da administração dos patrimoniais, embora sua gestão tenha a mesma finalidade, ou seja, contribuir para que se atinjam os objetivos das organizações, em termos de minimizar os recursos (materiais ou patrimoniais) para possibilitar uma maximização dos resultados. Administração de materiais 17 Conceito de administração de materiais Para compreender o significado da administração de materiais, é necessá- rio compreender o significado das duas palavras: administração e materiais. A palavra administração designa tanto a ciência que estuda os fenôme- nos organizacionais, quanto o local onde se localizam os serviços adminis- trativos ou, ainda, o conjunto de regras que objetivam ordenar e controlar os processos organizacionais, com produtividade e eficiência, visando atingir resultados predeterminados. Por outro lado, a palavra materiais assume o significado do conjunto de objetos, instrumentos, equipamentos, ferramentas ou outros que são utiliza- dos em um serviço ou processo produtivo. Ou, ainda, o mobiliário ou conjun- to de utensílios de uma organização. Dessas duas palavras, assim conceituadas, podemos inferir que adminis- tração de materiais implica gerenciar os recursos à disposição de uma deter- minada organização para atingir os objetivos estabelecidos. Porém, não são todos os recursos apresentados na figura 1 que são objeto do gerenciamen- to pela área de atuação da administração de materiais. Apenas os recursos materiais propriamente ditos e os relacionados com o patrimônio é que são objetos de preocupação da área de materiais. Inicialmente, podemos definir a administração de materiais como sendo o conjunto de regras, ou normas, que visam ordenar os processos organizacio- nais relacionados com os materiais à disposição da organização, com produti- vidade e eficiência, de forma a atingir objetivos preestabelecidos. Segundo diferentes autores, existem formas diversas de se conceituar a administração de materiais. Segundo Arnold (1999, p. 26), a administração de materiais é a função “responsável pelo fluxo de materiais a partir do forne- cedor, passando pela produção até o consumidor” ou, ainda, “planejamento e controle da distribuição e administração da logística”. Para Martins e Alt (2000, p. 5), [...] a administração dos recursos materiais engloba a sequência de operações que tem seu início na identificação do fornecedor, na compra do bem, em seu recebimento, transporte interno e acondicionamento, em seu transporte durante o processo produtivo, em sua armazenagem como produto acabado e, finalmente, em sua distribuição ao consumidor final. 18 Administração de materiais Para Arnold (1999, p. 26) “administração de materiais é uma função coor- denadora responsável pelo planejamento e controle do fluxo de materiais”. Por outro lado, Francischini e Gurgel (2002, p. 5) definem a administra- ção de materiais como a “atividade que planeja, executa e controla, nas con- dições mais eficientes e econômicas, o fluxo de material, partindo das es- pecificações dos artigos a comprar até a entrega do produto terminado ao cliente”. Outra definição útil é a do Council of Supply Chain Management Professio- nals (CSCMP), ou Conselho dos Profissionais de Administração das Cadeias de Suprimentos, que definem a administração de materiais como sendo “a logística de entrada de materiais, desde os fornecedores até o processo pro- dutivo”. Ou, ainda, a movimentação e a administração de materiais e produ- tos acabados desde a obtenção (compra), até o processo de produção2. Nos três primeiros conceitos apresentados, temos em comum a existência de um “fluxo” de materiais desde o fornecedor, atravessando a organização, até chegar ao cliente final. Apenas para o CSCMP é que o fluxo se encerra no processo produtivo. Além disso, também está implícita no conceito a existên- cia de uma “quantidade” de materiais em movimentação. Como fluxo se rela- ciona com tempo, isso significa que temos duas variáveis essenciais a serem consideradas nos conceitos apresentados: (1) quantidade; e (2) tempo. Essas duas variáveis (quantidade e tempo) serão sempre objetos de preo- cupação da administração de materiais. Importante esclarecer, também, que o objeto de preocupação da administração de materiais, sua razão de ser, deve estar focada em: utilizar da maneira mais racional possível os recursos da organização � (maximizando-os); e apresentar um nível de serviço em consonância com o desejado pelo � cliente. Isso significa que a administração de materiais deve preocupar-se em ge- renciar adequadamente os fluxos de materiais ao longo dos processos, de forma a garantir sua melhor utilização e, ao mesmo tempo, oferecendo o mais alto nível de serviços possível aos clientes. Na evolução dos conceitos como consequência da evolução da admi- nistração, como se verá no próximo tópico, o que existiam eram termos 2 No original em inglês: Materials Management - Inbound logistics from suppliers through the pro- duction process. The mo- vement and management of materials and products from procurement through production. Administração de materiais 19 diferentes com significados semelhantes. Ou seja, tratava-se de atividades relacionadas com o deslocamento de materiais e um fluxo de informações, desde uma fonte de matéria-prima até o cliente final. Ao longo do tempo, a evolução natural conduziu ao conceito mais amplo de logística, que vem ocupando espaço nas organizações, conquistando respeito profissional e in- fluindo na estratégia das organizações. Finalmente, podemos conceituar a administração demateriais como sendo o conjunto de regras, ou normas, que visam adequar os processos orga- nizacionais aos fluxos de materiais à disposição da organização, garantindo sua maximização, para atingir os objetivos organizacionais e os de satisfação do cliente em termos de nível de serviço. Ao longo do texto, utilizaremos indistintamente as expressões adminis- tração de materiais, suprimentos, gestão de suprimentos ou logística de su- primentos, com o mesmo significado acima exposto. Uma vez que sabemos conceitualmente o que é administração de mate- riais, podemos analisar sua evolução ao longo do tempo e como as organi- zações evoluíram sob essa perspectiva. Evolução das organizações e da administração de materiais Para se compreender como as organizações evoluíram, e com elas a admi- nistração de materiais, é necessário entender o ambiente no qual as organi- zações se inserem, ou seja, o cenário (“pano de fundo”) em que elas precisam competir. Para isso, efetuamos um corte temporal a partir da II Grande Guerra Mundial (IIGGM), iniciando com a década de 1950 para explicar esse ambiente e suas consequências para as organizações. Uma vez que, segundo Corrêa e Corrêa (2004, p. 34-35): A guerra praticamente ocorreu sobre a Europa e o Japão. Numa situação de guerra, os envolvidos não apenas visam a objetivos militares, mas também industriais de seus inimigos, de onde saem equipamentos e suprimentos. Isso significa que ao final da IIGGM a capacidade produtiva mundial encontrava-se severamente deprimida. Ao mesmo tempo, a capacidade de demanda, reprimida por muitos anos durante a guerra, estava vivendo um período de “bolha de consumo”. No início da década de 1950, o mundo vivia ainda as consequências do pós-guerra, em que as indústrias estavam focadas em atender às demandas de um mundo em reconstrução, um mercado francamente comprador, exi- 20 Administração de materiais gindo grandes volumes de produção para atender a duas necessidades bási- cas: redução de custos operacionais; satisfazer clientes ávidos por novidades. Quando as empresas precisam competir através de grandes volumes, para reduzir seus custos operacionais, a administração de materiais deve estar focada no gerenciamento de seus inventários. Na década de 1960, com o mundo reconstruído e clientes atendidos em suas necessidades, em termos de produtos básicos, surgem os grandes su- permercados, sobretudo nos Estados Unidos da América, e com as empresas necessitando realizar grandes esforços para concretizar vendas, passa a ser imperioso agregar valor aos produtos através da adição de serviços. Nesse cenário, o marketing ocupa o espaço central das preocupações organizacio- nais e a ênfase da administração de materiais passa a ser a distribuição dos produtos. Já na década de 1970 o mundo assiste ao fenômeno da “invasão” de pro- dutos japoneses, sem compreender muito bem o que acontecia. O início da década teve a primeira grande crise do petróleo (1973), quando o barril de petróleo chegou à casa dos U$30.00, fazendo com que os países produtores auferissem grandes ganhos com suas exportações e, como consequência, buscassem aplicações para seus recursos financeiros. Isso gerou uma enorme onda de investimentos de capitais, levando as organizações a focarem na lu- cratividade, uma vez que precisavam remunerar adequadamente os capitais investidos. Nesse caso, a administração de materiais teve que se concentrar nos processos produtivos para garantir eficiência operacional. Na década seguinte, 1980, em virtude da conquista de mercado pelos japoneses, as organizações, compreendendo que o sustentáculo das in- dústrias japonesas era o fenômeno da gestão da qualidade, investiram em programas de qualidade e fizeram com que o cenário passasse a represen- tar uma competição mundial extremamente acirrada, em que conquistava clientes aquela organização com produtos com qualidade, preços competi- tivos e entregas pontuais. Isso conduziu a administração de materiais a ge- renciar os fluxos de materiais (matérias-primas) tanto nas compras, quanto na produção, como nas vendas, de forma a assegurar a qualidade desde o início até o final do processo. Na década de 1990, como reflexo do processo evolutivo, as empresas se tornam globais, ou seja, passam a atuar em diferentes pontos do globo ter- restre e, para isso, estabelecem parcerias com seus fornecedores e/ou distri- Administração de materiais 21 buidores, para garantir que seus produtos cheguem antes que os do con- corrente aos clientes. Também ganha força a preocupação com as questões ecológicas, levando as organizações a cuidarem com a compra de materiais ecologicamente corretos e com produtos idem. Isso conduz a administração de materiais a novas técnicas de gerenciamento, uma vez que era necessá- rio ajustar os processos internos aos processos dos seus fornecedores e/ou clientes, fazendo com que o foco passasse a ser nos processos gerenciais. Ao iniciar o século XXI, na década de 2000, o fenômeno da globalização ganha ainda mais força e a adição de inúmeros novos competidores globais (suportados, inclusive, pelas facilidades da tecnologia da informação dispo- nível), ao invés de parcerias, as empresas começam a estabelecer alianças tanto com fornecedores quanto com clientes, as preocupações com as ques- tões ecológicas evoluem ainda mais (observe as exigências de certificação ambiental para inúmeras empresas) e ganha espaço a preocupação com as questões sociais. A esse cenário, a administração de materiais é obrigada a responder com ações flexíveis e extremamente ágeis, uma vez que as organizações com- petem com velocidade cada vez maior e, por outro lado, atuando em um número maior de países. Além disso, o surgimento do comércio eletrônico também exige maior atenção às questões espaço-temporais. Um resumo do processo evolutivo aqui descrito encontra-se no quadro a seguir. Quadro 1 – Quadro evolutivo da administração de materiais Época Cenário de negócios Ênfase organizacional Ênfase de materiais (R O D RI G U EZ , 2 00 4. A da p ta do .) Anos 1950 Volume de produção Foco nos custos opera-cionais Foco no inventário Anos 1960 Vendas Agregação de valor atra-vés de serviços Foco na distribuição Anos 1970 Investimento de capitais Foco na lucratividade Foco na produção Anos 1980 Competição acirrada Foco na gestão da quali-dade total Foco em compras – pro- dução – vendas Anos 1990 Globalização, parcerias, ecologia Competição baseada no tempo Foco nos processos gerenciais Anos 2000 Globalização, alianças, ecologia e responsabili- dade social Competição baseada no tempo e no espaço geográfico Foco na flexibilidade e na agilidade 22 Administração de materiais O quadro mostra como as organizações evoluíram e de que forma as exi- gências sobre os sistemas gerenciais foram se ampliando. Na verdade, as exi- gências em cada um dos cenários de negócios continuam sendo feitas sobre os sistemas gerenciais. Tudo isso fez com que a administração de materiais fosse ganhando cada vez mais relevância para as organizações. A administração de materiais, com o apoio das Tecnologias da Informa- ção e de Comunicação (TICs), tem atuado de forma integrada na gestão do fluxo de materiais através dos processos produtivos. Assim, os sistemas inte- grados de gestão empresarial (ERPs) são os responsáveis por assegurar que a administração de materiais consiga cumprir os objetivos organizacionais com eficiência e eficácia. A partir dessa evolução, e da inclusão da área dentro do sistema logís- tico, a expressão mais utilizada para designar a área de materiais é gestão de suprimentos que, segundo Arnold (1999, p. 30), “inclui todas as atividades em movimentar bens, do fornecedor para o início do processo produtivo” e, incluindo-se a distribuição física, do final do processo produtivo até o cliente final (consumidor3). Importância da administração de materiais Diante do processo evolutivo por que passou, a administração de mate- riaisassume importância essencial para as organizações ao ter que realizar o equilíbrio entre o nível de serviços a ser oferecido aos clientes e o custo de fornecer tal nível de serviços. Ainda segundo Arnold (1999, p. 31), [...] agrupando-se todas as atividades envolvidas na movimentação e estocagem de bens em um departamento, a empresa tem uma oportunidade melhor de fornecer o melhor serviço a um custo mínimo e assim aumentar lucros. A preocupação geral da administração de materiais é balancear prioridade e capacidade. O mercado estabelece a demanda. A administração de materiais deve planejar as prioridades da empresa (quais bens produzir e quando) para atender a essa demanda. A capacidade é a habilidade do sistema de produzir ou entregar bens. Prioridade e capacidade devem ser planejados e controlados para atender à demanda de consumidores a um custo mínimo. Como é possível perceber, trata-se de um desafio enorme e, para tanto, é necessário compreender o fluxo, apresentado na figura a seguir, que começa nos fornecedores, atravessa a organização, passa pelos canais de distribui- ção, até chegar aos clientes finais. 3 Usamos a expressão clien- te, de forma abrangente, para incluir todos os elos da chamada cadeia de su- primentos: atacadistas, dis- tribuidores, varejistas etc., e não apenas o consumidor ou usuário final. Administração de materiais 23 Figura 3 – O fluxo de materiais. Fornecedor ClientesSuprimentos Distribuição Física Processo Produtivo MP Transformação (WIPs) PA A gestão de suprimentos é a gestão de um fluxo de materiais. Legenda: MP = Matéria-prima WIPs = Work in Process ou Progress (Produtos em Processo) PA = Produtos Acabados Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. A gestão desse fluxo de materiais implica uma série de atividades (que compõem processos) que, em última análise, visam assegurar a disponibi- lidade dos materiais certos, na hora certa, no lugar correto, em condições de utilização, por um custo que atenda às expectativas da organização e de seus clientes. A área de materiais é, em essência, uma importante área operacional das organizações, “e paradoxalmente, no nível das unidades de operações pro- priamente dito, a tomada de decisões em muitas empresas ainda não obe- dece a uma consideração mais sistêmica de impactos nos resultados globais da organização” (CORRÊA; CORRÊA, 2004, p. 45). A área de materiais é uma [...] atividade de gerenciamento estratégico de recursos escassos (humanos, tecnológicos, informacionais e outros), de sua interação e dos processos que produzem e entregam produtos e serviços visando atender a necessidades e ou desejos de qualidade, tempo e custo de seus clientes. Além disso, deve também compatibilizar este objetivo com as necessidades de eficiência no uso dos recursos que os objetivos estratégicos da organização requerem. (CORRÊA; CORRÊA, 2004, p. 45) O comentário acima deixa clara a importância estratégica da adminis- tração de materiais para, com um adequado gerenciamento dos recursos escassos, atender aos interesses dos diferentes públicos das organizações, gerando as saídas esperadas por cada um desses públicos, que estão relacio- nadas na figura 1: juros, para os capitais de terceiros; lucros, para os capitais próprios; produtos e/ou serviços, para os clientes; salários, para os empre- gados; marcas e/ou patentes, para a sobrevivência da organização; tributos, para os governos; e, ainda, outras saídas que atendam às necessidades ou desejos de outros públicos específicos. 24 Administração de materiais Em síntese, a importância da administração de materiais se caracteriza por reduzir custos e pela garantia de que os materiais corretos estarão no lugar certo, ao tempo certo e, ainda, que os recursos à disposição da organi- zação serão utilizados da forma mais racional / produtiva possível. Na continuação, vamos apresentar uma breve introdução à logística em- presarial para possibilitar unificar a linguagem que será adotada doravante. Logística e Supply Chain Management (SCM) Vamos estabelecer alguns conceitos iniciais para que seja possível en- tender porque vamos utilizar indistintamente os termos administração de materiais, suprimentos, gestão de suprimentos ou logística de suprimentos, com o mesmo significado. Logística empresarial A chamada logística empresarial é um conceito definido também pelo CSCMP (2008), como sendo a parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla o fluxo e o armazenamento, à jusante e reverso, com eficiência e eficácia, dos bens, serviços e informações rela- cionadas, desde um ponto de origem até o ponto de consumo ou utiliza- ção; com o objetivo de atender às exigências dos clientes e os propósitos da organização. Como é possível perceber, o conceito acima é muito semelhante ao con- ceito de administração de materiais, apresentado há pouco, uma vez que modernamente a administração de materiais tem sido chamada de logística de suprimentos ou, simplesmente, suprimentos. Além disso, o conceito deixa clara a existência de fluxos: de materiais; e de informações. Ou seja, um fluxo físico, que conduz os bens e/ou serviços produzidos em direção ao cliente final (à jusante), ou do cliente final de volta para algum ponto do processo (à montante, a chamada logística reversa). A palavra logística entrou no cotidiano da empresas a partir do momento em que ocorreu a estabilização econômica do Brasil, quando os responsá- Administração de materiais 25 veis pela administração das organizações descobriram que os estoques ele- vados, na maioria das vezes, escondiam os problemas existentes. Assim, a expressão logística empresarial é utilizada para englobar três dos principais subsistemas logísticos: suprimentos, produção e distribuição física, confor- me se percebe na figura a seguir. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Logística empresarial Logística de suprimentos + Logística de produção + Logística de distribuição física Figura 4 – A composição da logística empresarial. Além desses três subsistemas existem ainda, pelo menos, mais dois que são relevantes: o de pós-venda e o da logística reversa. Supply Chain Management (SCM) O Supply Chain Management (SCM), ou administração das cadeias de su- primentos, trata de uma abordagem mais estratégica da logística, em que a mesma é percebida como fator de diferenciação para as organizações, a partir da utilização das tecnologias da informação e da comunicação, uma vez que atualmente as organizações necessitam de mais flexibilidade e agilidade no atendimento de seus mercados. Isso obriga as organizações a integrarem seus processos internamente e, ao mesmo tempo, a buscar integrá-los com os de seus fornecedores e/ou clientes, visando reduzir custos e/ou aumentar sua eficiência na satisfação de desejos e necessidades dos clientes. Portanto, o SCM é a integração da organização a partir de uma aborda- gem da logística como elemento diferenciador, buscando integrar o ambien- te interno com o externo para otimizar processos, possibilitando maior valor agregado e todas as etapas da cadeia produtiva. Essa abordagem pode ser percebida na figura a seguir. 26 Administração de materiais Planejamento e controle da produção Suprimentos Logística Ambiente internoDistribuição Ambiente externo (R A ZZ O LI N I F IL H O , 2 00 1a ) Figura 5 – A logística como fator integrador e diferenciador. Os objetivos do SCM são três: redução de custos; adição de valor; e gerar vantagem estratégica para a organização. Segundo Ching (1999, p. 67), o SCM pode ser compreendido como todo esforço realizado nos processos empresa- riais que geram valor ao cliente final, na forma de produtos e serviços. Portanto, segundo o autor, é uma forma de gerenciamento integrado do planejamento e controle do fluxo de mercadorias, informações e recursos, ao longo da cadeia logística. Isso significa que uma das tarefas essenciais da logística é o gerencia-mento de relacionamentos, de forma cooperativa, formando parcerias do tipo ganha-ganha, de forma que todos os membros da cadeia sejam beneficiados. Diante dessas considerações, pode-se definir Supply Chain Management (SCM) como [...] a administração sinérgica dos canais de suprimentos de todos os participantes da cadeia de valor, através da integração de seus processos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas sustentáveis ao longo do tempo. (RAZZOLINI FILHO, 2001a) Ampliando seus conhecimentos O papel da administração de materiais na logística (VERLANGIERI*, 2000) Na década de setenta, as empresas não davam muita atenção para as com- pras de matérias-primas e sua administração. Tinham valores relativamente Administração de materiais 27 baixos, considerando todo o processo industrial e, portanto, achavam sem muita importância no contexto geral. Foi nesta época que os compradores ganharam fama de serem corruptí- veis, pois muitos denegriram a imagem da categoria, obtendo ganhos pesso- ais de fornecedores, para facilitar fechamentos, já que havia pouca fiscalização e auditoria no setor. Naquele tempo, os compradores de uma maneira geral não tinham uma formação de nível superior e consequentemente não tinham um salário con- siderado bom. Talvez por isso, muitos ficavam tentados em tirar proveito da situação e obter ganhos extras, devido a terem todo o controle da situação. No final dos anos setenta e começo dos anos oitenta, a situação se modifi- cou. Acabou aquela fase de vamos produzir à vontade, fazer altos estoques e depois deixar para o departamento de vendas se incumbir de desovar tudo. Começava uma crise violenta no Brasil, onde o conceito de logística começou a surgir por aqui, lentamente nas empresas, pois necessitavam ter um diferen- cial da situação vigente. Nesta fase, onde qualquer ganho conseguido com economia dos custos era importante, comprar e administrar os materiais passou a ser tão importan- te como as vendas da empresa. Foi uma época de “limpeza” nos departamentos de compras. Muitos funcio- nários foram dispensados e até o departamento inteiro, em muitas empresas. Começou a se formar uma nova mentalidade em compras, com: profissionais de nível superior; � boa fluência verbal, para argumentar/negociar; � boa apresentação para representar a empresa; � muitos com formação técnica, conforme os materiais comprados; � bom salário, que representava sua importância para a empresa. � Quem assumiu compras nesta fase, verificou que os antigos compradores: abarrotavam os estoques com matérias-primas, para não ter o risco de � faltar material para produção e serem cobrados; 28 Administração de materiais não tinham controles históricos das aquisições (fornecedor, preço, con- � dição de pagto, prazo de entrega etc.); não tinham critérios técnicos para escolha de fornecedores consultados; � não tinham um � follow-up confiável (os fornecedores entregavam com atrasos, com erros de materiais, com quantidades a mais proposital- mente e muitas vezes com preços diferentes do pedido); não havia uma verificação mais apurada e constante do padrão de qua- � lidade dos materiais dos fornecedores. Desta época para os dias atuais, a administração de materiais só evoluiu e passou a ser um elo super importante na cadeia logística, por que: atende ao cliente interno (manufatura); � é responsável pela não interrupção da produção por falta de material; � tem que ter um estoque mínimo, devido ao custo de manutenção de � estoque; tem que adquirir sempre prontamente novas compras, conforme osci- � lação na demanda. Os profissionais desta área são considerados de várias maneiras nas empre- sas, em termos de cargo. Antes todos eram compradores. Depois foram deno- minados analistas de suprimentos, analistas de materiais, compradores, entre outros. Cada empresa designa o cargo, conforme a abrangência da atividade. A administração de materiais, pela sua importância, vai além do papel que executa em uma indústria e ganha o papel principal em vários negócios, entre eles os mercados, os super/hiper mercados e as grandes empresas de varejo, como os mega magazines. Estas empresas que compram para revender põem em prática toda uma ótima administração de materiais, que envolve estudos dos lotes econômicos de compra, lotes ideais de compra, estoque mínimo, estoque regulador, tempo de pedido, tempo de ressuprimento etc. Hoje em dia é muito comum ter vários cursos de aperfeiçoamento pro- fissional nesta área. O profissional de logística, para ser mais valorizado, tem que entender sobre todos os assuntos que dizem respeito a cadeia logística e portanto não pode deixar de entender de administrar materiais. * Marcos Valle Verlangieri é diretor da Vitrine Serviços de Informações S/C Ltda. Administração de materiais 29 Atividades de aplicação 1. Após a leitura do capítulo, com suas palavras, procure conceituar ad- ministração de materiais escrevendo seu conceito em no máximo 5 linhas. 2. Em uma rápida pesquisa, procure identificar e relacionar os principais recursos tecnológicos que as organizações utilizam. Se possível, sepa- rar por organizações industriais, comerciais e de serviços, uma vez que cada uma delas utilizará recursos tecnológicos diferentes. 3. Entende-se por recursos patrimoniais: a) o ativo circulante das organizações. b) o conjunto de bens, direitos e obrigações das organizações. c) o ativo permanente à disposição das organizações. d) o Patrimônio Líquido das organizações. e) a diferença entre bens e direitos menos as obrigações. 4. Podemos entender Supply Chain Management, de forma resumida, como a busca de: a) integração interna dos processos logísticos. b) sinergia dos processos organizacionais internos. c) sinergia entre os processos logísticos da organização. d) integração dos processos de todos os membros da cadeia de su- primentos. e) integrar a logística de suprimentos com produção e distribuição física. 30 Administração de materiais Gabarito 1. A administração de materiais é a área funcional da administração que se responsabiliza por gerenciar o processo de suprir uma organização com os materiais necessários ao seu adequado funcionamento, bem como o gerenciamento do patrimônio à disposição das organizações. 2. Organizações industriais: sistemas CAD/CAM, sistemas de progra- mação da produção, sistemas MRP, sistemas de gerenciamento de armazéns, máquinas e equipamentos de produção, máquinas e equi- pamentos para movimentação de materiais, computadores, equipa- mentos de comunicação, redes etc. Organizações comerciais: sistemas de gerenciamento de armazéns, sistemas de gerenciamento de estoques, sistemas para gerenciamen- to de distribuição, sistemas roterizadores, máquinas e equipamentos para movimentação de materiais, computadores, equipamentos de comunicação, redes etc. Organizações de serviços: computadores, sistemas específicos para gerenciamento de suas atividades principais, sistemas contábeis, de gerenciamento de recursos humanos, equipamentos de comunica- ção, redes etc. 3. C 4. D Administração de materiais 31 32 Administração de materiais O sistema de administração de materiais e patrimônio Os estudos de Ludwig Von Bertalanffy (criador da teoria geral dos siste- mas) permitiram compreender o fato de todas as áreas do conhecimento pos- suírem sistemas e que tais sistemas possuem características, regras e normas (leis), independentemente da área das ciências em que se encontram. Um sistema pode ser entendido como um conjunto de elementos de uma mesma espécie que constituem um corpo (grupamento) intimamen- te relacionado. Ou, ainda, como um conjunto de elementos interagentes, interatuantes, interdependentes e que se inter-relacionam para atingir um objetivo comum. Para nossos objetivos, vamos assumir que um sistema é um conjunto de partes interdependentes, interatuantes e interagentesque, combinadas, atuam sinergicamente sobre entradas produzindo as saídas desejadas. Como todas as demais áreas organizacionais, a administração de mate- riais também funciona como um sistema, com suas funções e processos pró- prios, para garantir o atingimento dos seus objetivos e, com isso, contribuir para que se atinjam os objetivos organizacionais. Neste capítulo vamos ver como o sistema administração de materiais funciona. Funções componentes de um sistema de administração de materiais A administração de materiais implica um conjunto de atividades coorde- nadas, de forma que possibilite ao administrador manter uma sintonia per- feita entre a produção e os setores de apoio, além de possibilitar resultados econômico-financeiros compensadores. Tais atividades coordenadas compreendem desde a previsão do material (em relação ao tipo, quantidade, qualidade etc.), aquisição (compras), ins- peção e recebimento, armazenamento, fornecimento aos setores da produ- ção, acompanhamento das modificações nos estoques, reaprovisionamen- to, controle dos materiais estocados, conservação do material armazenado, 33 34 O sistema de administração de materiais e patrimônio além de inúmeras outras atividades que visam garantir a existência contínua de estoques, organizados de forma a não permitir que ocorram faltas sem onerar excessivamente o investimento total. As funções e as atividades da administração de materiais podem ser sinte- tizadas em quatro subsistemas principais, que compreendem todas as ativi- dades relacionadas no parágrafo anterior, conforme se verá na continuação. Subsistema normalização Esse subsistema tem por finalidade selecionar, padronizar e especificar os materiais, além de classificá-los e codificá-los de forma a garantir a unifor- midade do que entra no processo produtivo para gerar produtos finais que atendam às especificações da produção e, ao mesmo tempo, atendam às exigências de qualidade por parte dos clientes. É o subsistema que responde a questão “o que” comprar, armazenar e distribuir? O subsistema normalização e suas principais atividades são apresentados na figura a seguir. Normalização e padronização de materiais Classificação de materiais Subsistema normalização Figura 1 – O subsistema normalização. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Entende-se por normalização a forma como são organizadas as ativida- des, como se definem as normas e a utilização de regras; bem como a elabo- ração, publicação e disseminação do uso das normas e regras, com o objeti- vo de selecionar, avaliar e certificar os fornecedores da organização. O subsistema normalização tem a responsabilidade de adequar tecnica- mente os materiais que entram nos processos produtivos das organizações, definindo os padrões (tanto em termos técnicos quanto em termos de quali- O sistema de administração de materiais e patrimônio 35 dade), e realizando a catalogação e classificação dos materiais, conforme os sistemas de gestão adotados pela organização. Subsistema controle Tem como responsabilidade a gestão e a valoração dos estoques disponí- veis à organização. Busca responder às questões quando comprar e quanto com- prar? É o subsistema responsável por garantir que as quantidades necessárias estejam disponíveis no lugar e no momento em que sejam necessárias. Assim, é fundamental que as quantidades a serem adquiridas sejam as mais econômicas possíveis, auxiliando no objetivo de minimizar os recursos utilizados. A minimização dos recursos passa, principalmente, pelos financeiros, uma vez que o impacto das compras se reflete imediatamente no fluxo de caixa da organização. O subsistema controle pode ser visto, com suas funções, na figura a seguir. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Gestão dos estoques Valoração dos estoques Subsistema controle Figura 2 – O subsistema controle. Garantir que os materiais certos, nas quantidades certas, ao preço mais econômico possível, estejam disponíveis quando e onde são necessários so- mente é possível com um controle apurado sobre os níveis de estoques que devem ser gerenciados pela área de materiais. Subsistema aquisição Também chamado, simplesmente, compras, é o subsistema responsável pelas compras de materiais necessários às operações das organizações e, além disso, também é responsável pela venda (alienação) dos materiais inu- 36 O sistema de administração de materiais e patrimônio tilizáveis ou inservíveis, e mesmo do patrimônio da organização que esteja obsoleto ou já completamente depreciado. O subsistema compras depende fundamentalmente das informações ori- ginadas no subsistema controle, uma vez que é em virtude das informações daquele sistema que se consegue realizar as compras nas condições mais vantajosas possíveis para a organização. O subsistema aquisição, com suas respectivas funções, pode ser visualiza- do na figura que segue. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Aquisição de materiais Alienação de materiais Subsistema aquisição Figura 3 – O subsistema aquisição. A área de compras atua em profunda sintonia com os demais subsistemas, uma vez que, para iniciar o processo de compras, depende das informações (sob a forma de requisições) que recebe do controle. Recebendo as informa- ções do controle busca informações geradas pelo subsistema normalização e que constam na base de dados do cadastro de fornecedores devidamente homologados pela normalização. Então, consulta-se o subsistema armaze- namento para verificar capacidade de estocagem, de forma a assegurar que os materiais comprados possam ser alocados adequada e corretamente no sistema de armazenagem. Após todas essas etapas, emitem-se as ordens de compra aos fornecedo- res que ofertaram as condições mais vantajosas para a aquisição. Subsistema armazenamento É o subsistema responsável pela recepção dos materiais, seu armazena- mento e distribuição. Apresenta as funções de inspeção e controle da qua- O sistema de administração de materiais e patrimônio 37 lidade, o armazenamento propriamente dito, a movimentação interna dos materiais e o seu transporte. Sua representação gráfica encontra-se a seguir. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Recebimento, inspeção e controle da qualidade Armazenamento Movimentação e transporte Subsistema armazenamento Figura 4 – O subsistema armazenamento. As atividades desempenhadas no subsistema armazenamento são rele- vantes para que se garanta a qualidade dos materiais que entram nos pro- cessos produtivos. No momento do recebimento, é necessário realizar um controle quantitativo e qualitativo dos materiais que chegam. O controle quantitativo, segundo Francischini e Gurgel (2002, p. 29-30), tem as seguintes atividades: conferência; contagem; canhoto (anotar no recibo a ser entregue ao transportador que o recebimento está sujeito à ins- peção de qualidade, quando o procedimento for demorar); registro (regis- trar a entrada dos documentos para encaminhamento à contabilidade); e documentação. Por outro lado, o controle qualitativo, ainda segundo Francischini e Gurgel (2002, p. 30-31), tem a responsabilidade de averiguar a qualidade do material recebido, assegurando que ele esteja em consonância com as normas técnicas de especificação, ensaio e recebimento dos itens que compõem o produto, a partir das condições contratuais estabelecidas nos pedidos de compras. A movimentação e o transporte também são duas atividades essenciais para o bom funcionamento da administração de materiais. A movimentação refere-se ao trânsito interno dos materiais, produtos em processo e produtos acabados. Seu adequado gerenciamento visa diminuir os tempos de ciclo entre as diferentes atividades internas e, ainda, assegurar a integridade física dos bens movimentados. 38 O sistema de administração de materiais e patrimônio O transporte refere-se aos elos de ligação externos: dos fornecedores com a administração de materiais, para que os materiais comprados entremno sistema; e, o fluxo de produtos acabados desde a organização em direção aos clientes. Como é possível perceber, os subsistemas são “o coração” da administra- ção de materiais, uma vez que asseguram o bom funcionamento da área. Além disso, os quatro subsistemas interagem completamente entre si, con- forme se percebe na figura a seguir. Ed el vi no R az zo lin i F ilh o. Figura 5 – O sistema de administração de materiais. Normalização e padronização de materiais Classificação de materiais Subsistema normalização Aquisição de materiais Alienação de materiais Subsistema aquisição Gestão dos estoques Valoração dos estoques Subsistema controle Recebimento, inspeção e controle da qualidade Armazenamento Movimentação e transporte Subsistema armazenamento Para alguns autores, como Francischini e Gurgel (2002), as tarefas da ad- ministração de materiais são, principalmente, administração de compras, planejamento e controle da produção, distribuição e tráfego. Independente da nomenclatura que se dê aos diferentes subsistemas organizacionais, ou às atividades neles desenvolvidas, existe consenso em relação às atividades até aqui descritas. Além disso, como a figura permite perceber, todos os subsistemas obje- tivam coordenar os fluxos (de informação e físicos) de materiais representa- dos pelos estoques, uma vez que o volume a ser estocado é significativo para as organizações, pois envolve desde a entrada de suprimentos (materiais auxiliares e matéria-prima), passando pelos estoques dentro do processo produtivo (produtos em processo), chegando aos produtos acabados, que serão distribuídos aos clientes finais. Essa relação dos estoques ao longo da organização pode ser visualizada na figura a seguir. O sistema de administração de materiais e patrimônio 39 Ed el vi no R az zo lin i Fi lh o. Figura 6 – Visualização dos estoques ao longo do processo produtivo. Recursos de entrada Recursos de saídaE1 Processo produtivo E3 E2 Os recursos de entrada são todas as entradas do processo produtivo, in- cluindo-se as matérias-primas e materiais auxiliares (representados por E1), dentro da produção estão os estoques de produtos em processo (indicados como E2) e, ao final, encontram-se os estoques de produtos acabados (no caso, E3). Os recursos de saída da organização são os produtos acabados que seguem em direção ao cliente final (mercado). Essa visão dos fluxos de ma- teriais permite concluir que a administração de materiais e de patrimônio não pode ser tratada de maneira isolada e está profundamente integrada às seguintes áreas da administração: Orçamentos; � Pesquisa e Desenvolvimento (P & D); � Planejamento e Controle da Produção (PCP); � Planejamento da Distribuição; � Logística; � Produção; � Administração de Ativos Fixos (Permanentes), ou seja, Contabilidade. � Outro ponto importante a ser considerado são os impactos na socieda- de, pois as preocupações com a responsabilidade social e a ecologia devem iniciar a partir do momento em que a organização inicia seus processos de aquisição, desenvolvendo fornecedores também responsáveis social e eco- logicamente, e encerra-se na destinação final dos resíduos gerados pelos produtos que a organização coloca no mercado. Atividades da administração de materiais As principais atividades desenvolvidas pela administração de materiais são aquelas relacionadas dentro de cada um dos subsistemas já apresenta- dos, e podem ser assim relacionadas: 40 O sistema de administração de materiais e patrimônio normalizar e padronizar os materiais; � catalogar e classificar os materiais; � gerenciar e valorar os estoques; � adquirir (comprar) materiais; � fazer o acompanhamento ( � follow-up) das aquisições; alienar materiais obsoletos ou inservíveis; � receber e inspecionar os materiais; � controlar a qualidade dos materiais; � movimentar internamente os materiais; � transportar os materiais e produtos acabados; � realizar o armazenamento dos materiais e produtos acabados; � etc. � Todas essas atividades têm como principal objetivo conseguir economia dos materiais no processo produtivo. Isso significa que é essencial uma boa atividade de planejamento para a realização dessas atividades. Isso significa que o estabelecimento das normas e regras que condicionam os materiais a serem entregues pelos fornecedores é a primeira etapa de um pro- cesso com o objetivo de garantir que as especificações sejam claras para todos os envolvidos, desde o início. Outra vantagem da normalização é possibilitar simplificações no projeto do produto e padronização de seus componentes. A catalogação dos materiais auxiliará significativamente para que os usu- ários e clientes internos tenham condições de requisitar os materiais que já estão homologados pelo serviço de normalização e padronização. Além disso, possibilita uma maior abertura no tratamento com os fornecedores e uma negociação sistemática para o aprimoramento do fornecimento. A classificação dos materiais permitirá que o gerenciamento e a valoração dos estoques e dos sistemas de armazenagem sejam facilitados pela utiliza- ção de modernas técnicas de gerenciamento e, inclusive, da informatização dos sistemas gerenciais. A partir disso, o processo de aquisição também fica facilitado, uma vez que se sabe claramente o que deve ser comprado para O sistema de administração de materiais e patrimônio 41 atender às especificações de cada cliente ou usuário. Quando a atividade está bem estruturada, as aquisições são realizadas com maior eficiência, ge- rando o abastecimento dos processos com pontualidade, condições finan- ceiras adequadas (leia-se preços ou custos) e qualidade. A aquisição de materiais é abordada pelas organizações numa visão sim- ples e objetiva através dos seus departamentos de compras (em algumas organizações a denominação pode ser diretoria, divisão, setor ou seção de compras). Também pode ser denominada de departamento de suprimentos (sobretudo naquelas organizações onde existe uma área específica denomi- nada logística). Mesmo nas micro e pequenas organizações a atividade de compras está presente, sendo realizada pelo próprio dono. A atividade de administração do patrimônio é responsável pela aliena- ção (venda) dos materiais obsoletos (que ficam defasados pelo tempo, por qualquer razão) ou inservíveis (que não apresentam mais condições de utili- zação). Caso não consiga alienar (vender) tais materiais, essa atividade tem a responsabilidade de recomendar a baixa contábil de tais materiais para que deixem de aparecer nos demonstrativos contábeis, oferecendo uma análise irreal dos recursos à disposição da organização. Outra atividade importante é a realização da manutenção dos materiais, equipamentos, máquinas, facili- dades etc., que são utilizados para o funcionamento das organizações. A recepção e inspeção dos materiais adquiridos implicam um recebimen- to bem informado, com o suporte das atividades de normalização, padroni- zação, catalogação e classificação, para somente receber o material adequa- do para organização. O controle da qualidade dos materiais visa assegurar que os materiais sejam aqueles mais adequados aos processos produtivos e, além disso, im- plica uma atenção especial para identificar desperdícios mínimos, mas repe- titivos, que podem comprometer os resultados da organização. A atividade de movimentação interna é essencial para garantir a inte- gridade física dos materiais e, ainda, para evitar desperdícios e reduzir os tempos de ciclo (lead times) dos processos internos, uma vez que o tempo também é um recurso escasso que deve ser objeto de preocupação de todas as áreas organizacionais. A movimentação implica a utilização de equipa- mentos (empilhadeiras, transelevadores, carrinhos manuais etc.), e recursos de apoio (paletes, caixas etc.), que também devem ser motivo de preocupa- ção da administração de materiais. 42 O sistema de administração de materiaise patrimônio O transporte também é uma das atividades importantes, pois ocorre em duas fases do processo: no transporte dos fornecedores para a organização (por ocasião das aquisições), e da organização para os clientes (por ocasião das vendas). Assim, a organização tem duas opções para a atividade de trans- porte: transporte próprio ou transporte terceirizado. Quando a organização opta por realizar o transporte com seus próprios equipamentos (veículos), tais recursos devem ser gerenciados pela adminis- tração do patrimônio, uma vez que representam investimentos em ativos permanentes e a preocupação com os custos é uma das mais importantes no gerenciamento de tais recursos. Porém, o nível de serviço oferecido aos clientes pode ser elevado a partir dessa estratégia. Caso a organização opte por terceirizar o transporte, a gestão dos fretes é essencial para garantir que os custos operacionais da atividade sejam os mais baixos possíveis e, além disso, a preocupação com o nível de serviço oferecido implica sistemas de avaliação de desempenho dos operadores de transporte (transportadores) para garantir que os clientes tenham suas necessidades ou expectativas atendidas. Ou seja, qualquer que seja a estra- tégia da organização, é necessário criar um sistema de transportes o mais econômico possível. Quanto à armazenagem, é necessário que a atividade encontre o suporte mais adequado possível, em termos de recursos (equipamentos, estruturas etc.) e de sistemas (tecnologias, software etc.). Trata-se da atividade respon- sável por guardar os materiais ou produtos acabados pelo tempo que seja necessário para atender às demandas dos clientes (internos e externos), no momento em que elas ocorram. Por fim, existem algumas outras atividades que se incorporam à adminis- tração de materiais na atualidade, principalmente aquelas relacionadas com a chamada logística reversa, como: planejar o sistema de forma a simplificar ou facilitar a reciclagem de todos os materiais, seletiva e proveitosamente; controlar eventuais perdas nas embalagens de produtos acabados e plane- jar a reutilização de embalagens sempre que possível; planejar e implemen- tar a utilização de novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), ainda não utilizadas na área; entre outras. Como é possível perceber, são inúmeras as atividades que a administra- ção de materiais tem sob sua responsabilidade, caracterizando-se como uma das áreas-chave para o sucesso organizacional. O sistema de administração de materiais e patrimônio 43 Os estoques e a área de materiais Duas das principais atividades da administração de materiais dizem respeito à aquisição (compras) de materiais e o seu armazenamento. Essas atividades são exercidas diretamente sobre os estoques. Portanto, vamos discorrer sobre os estoques, sua importância e seu papel para o sistema de administração de materiais. Conforme indicado na figura 6, os três tipos prin- cipais de estoques são os de matérias-primas, produtos em processo e pro- dutos acabados. Porém, não os únicos, conforme veremos na continuação. Os estoques podem ser definidos como os materiais (bens) mantidos por uma organização para abastecer o processo produtivo ou para atender os clientes (através das vendas). Assim, todas as organizações necessitam de estoques para manter-se em funcionamento. Além disso, como já comenta- mos, os estoques representam parte significativa dos ativos totais (algo em torno de trinta por cento) e, com isso, consomem elevados volumes de re- cursos financeiros para sua manutenção. Segundo Arnold (1999, p. 265), os estoques variam de 20% e 60% dos ativos totais e, na medida em que são utilizados, o seu valor é transformado em dinheiro, melhorando o fluxo de caixa e o retorno sobre o investimento realizado. Como existem custos para manter estoques, esses custos exercem impacto sobre os custos operacionais, diminuindo as margens de lucro. Por- tanto, uma boa administração dos estoques à disposição das organizações é de fundamental importância. Podemos classificar os estoques em uma organização, segundo Arnold (1999, p. 267), em: Matérias-primas � – são os bens ainda não disponibilizados aos proces- sos produtivos, incluindo materiais, subconjuntos e peças componen- tes que se agregam ao produto final. Materiais auxiliares � – são os itens que não se agregam aos produtos acabados. Porém, são necessários de alguma forma no processo, como as embalagens. Produtos em processo � 1 – também chamados de produtos em elabo- ração, são aqueles materiais que já entraram no processo de transfor- mação e estão sendo processados ou aguardam para entrar no proces- so, mas que já saíram do estoque de matérias-primas. 1 Do inglês WIP: Work In Process (ou Progress). 44 O sistema de administração de materiais e patrimônio Produtos acabados � – são aqueles bens que passaram pelo processo produtivo e estão prontos para serem vendidos, como itens comple- tos. Podem ficar armazenados na fábrica ou num centro de distribui- ção, ou em vários pontos dispersos no sistema de distribuição. Suprimentos de manutenção, reparo e operações (MRO) � – como o nome indica, são os itens utilizados no processo produtivo, mas que não se agregam ao produto acabado. Incluem lubrificantes, peças sobressa- lentes, ferramentas manuais, gabaritos, materiais de limpeza etc. Estoques de distribuição � – são os produtos acabados que estão lo- calizados (posicionados) no sistema de distribuição, o mais próximo possível dos mercados da organização. São diferentes as formas de se classificar os estoques dentro de uma organi- zação, pelo seu valor, pela sua importância para o processo etc. Uma das formas mais frequentemente utilizadas é a que se relaciona com o fluxo de materiais, conforme indicado na figura 6 e a seguir, representamos de outra forma. Figura 7 – Os estoques e o fluxo de materiais. (A RN O LD , 1 99 9, p . 2 67 . A da p ta do .) Demanda clientes Mercado A Demanda clientes Mercado B Demanda clientes Mercado N Produtos em Processo Suprimentos MRO Matérias-primas Materiais auxiliares Produtos acabados Fornecedor A Fornecedor B Fornecedor N Depósito A Depósito B Depósito N A forma como um bem será classificado como um item de estoque es- pecífico depende do ambiente produtivo em que se encontra. Uma bateria, por exemplo, é um produto acabado para o seu fabricante, mas é um com- ponente (matéria-prima) para uma montadora de automóveis. O sistema de administração de materiais e patrimônio 45 Classificação dos estoques pelas suas funções Outra forma de se classificar os estoques é pelas funções que desempe- nham no sistema de administração de materiais, o que justifica as razões pelas quais se mantêm estoques. Assim, os estoques podem ser: Estoques de antecipação � – são mantidos para antecipar-se às de- mandas futuras, como promoções de vendas, épocas de sazonalida- de (natal, dia das mães etc.), férias coletivas, ou ameaças de greves. O objetivo é ajudar no nivelamento da produção (que tem capacidade sempre limitada) e na redução dos custos de mudança nos níveis de produção. Estoque de ciclo � – são os estoques necessários para o atendimento a um ciclo normal de operações, que pode ser definido em dias, semanas, quinzenas ou meses, conforme a visão de cada organização. São aque- las quantidades mantidas em estoque para garantir um determinado ciclo produtivo. Também chamados de estoque de tamanho do lote. Estoques em trânsito � – são aquelas quantidades de materiais que não se encontram nem na origem nem no destino final. Pode ser con- siderado parte do estoque cíclico. Sua existência é resultado do tempo necessário para transportar os materiais de um ponto a outro. Estoque de segurança � – trata-se daquela parcela de materiais que são mantidos como excedentes do estoque cíclico, devido à incerteza da demanda ou do prazo de entrega. É a quantidade que garantirá o consumo ou as vendas, em caso de atrasos de fornecedorese ou pro- dução, aumento do consumo ou das vendas. É mantido para proteger a organização dessas possibilidades. Também chamado de estoque de flutuação, de armazenamento intermediário, ou estoque reserva. O estoque de segurança determina que o estoque médio seja igual à metade do pedido mais o estoque de segurança. Estoque especulativo � – São estoques mantidos por outras razões que não a de satisfazer a demanda. Por exemplo, para antecipar um au- mento de preço ou falta de matéria-prima. Estoque parado � – são os estoques sobre os quais não houve deman- da por um determinado período de tempo; pode estar obsoleto ou não ter tido saída em um depósito particular. 46 O sistema de administração de materiais e patrimônio Segundo Arnold (1999, p. 270), existem também os estoques hedge e os estoques de suprimentos MRO. Estoque � hedge – para produtos considerados commodities, por exem- plo, grãos, produtos animais e minérios que são comercializados no mercado mundial têm seus preços flutuando em função da oferta e demanda mundiais. Caso os compradores prevejam que os preços irão subir, podem fazer estoques hedge (de segurança contra oscilações nos preços) quando os preços ainda estão baixos. Estoques de suprimentos MRO � – são os itens de manutenção, reparo e operações, utilizados para oferecer o suporte necessário às opera- ções e atividades de manutenção. Funções dos estoques Quando falamos que os estoques formam um “fluxo” ao longo das ca- deias de suprimentos, definimos aí a principal função dos estoques: regular os fluxos de materiais existentes ao longo da cadeia de suprimentos. Ocorre que os fluxos não são simultâneos e nem ocorrem nos mesmos volumes ao longo das cadeias. Assim, a principal função dos estoques nas cadeias de su- primentos é regular os fluxos de materiais, uma vez que os fluxos de entrada e saída de materiais funcionam de forma irregular. Ou seja, a velocidade com que os materiais são recebidos não é necessariamente igual à velocidade com que vão para o processo produtivo ou como produtos acabados em direção aos clientes, conforme a figura a seguir permite perceber, numa ana- logia com uma caixa d’água residencial. (M A RT IN S; A LT , 2 00 0, p . 1 34 . A da p ta do .) V(t) Estoque v(t) Nível de estoque Figura 8 – Entradas e saídas de materiais em um sistema. O sistema de administração de materiais e patrimônio 47 Se considerarmos V(t) como sendo a velocidade de entrada dos materiais no sistema e v(t) como sendo a velocidade de saída, pode-se concluir as se- guintes possibilidades: possibilidade A – V(t) > v(t): ocorre aumento nos estoques; � possibilidade B – V(t) < v(t): ocorre diminuição nos estoques; ou � possibilidade C – V(t) = v(t): os estoques permanecem inalterados. � Para não termos diferenças nos níveis de estoques seria necessário que as velocidades fossem sempre iguais, ou seja, a produção e a demanda aconte- cessem simultaneamente (possibilidade C), o que não existe em termos reais. Diante dessa diferença entre as velocidades, é necessário manter os esto- ques em um determinado nível para regular o fluxo. Outra razão para a manutenção dos estoques diz respeito à criação de utilidade dos materiais, da seguinte forma: Utilidade espacial � – significa ter o material no lugar (espaço) certo e essa utilidade é criada pela atividade de transporte (transportar é des- locar alguma coisa de um ponto A para um ponto B). Utilidade temporal � – significa fazer com que o material esteja dispo- nível no momento (tempo) em que ele é necessário. Essa utilidade é criada pela atividade de armazenagem (armazenar é guardar alguma coisa para utilizar em um momento futuro). Essas são as principais funções para os estoques nas cadeias de suprimentos. Razões para a manutenção de estoques Controlar os estoques pode ser uma atividade essencial para a sobrevi- vência das organizações, sobretudo quando elas atuam com margens de lucro bastante reduzidas, fazendo com que pequenos erros na sua gestão provoquem grandes prejuízos ou, ainda, quando mantêm em estoque ma- teriais de baixo giro, fazendo com que os custos de manutenção de tais esto- ques diminuam a lucratividade. Para garantir que a administração de materiais cumpra seus objetivos, a palavra de ordem é: giro. O giro dos estoques é uma medida empregada para 48 O sistema de administração de materiais e patrimônio verificar a velocidade de giro que se consegue do capital empregado em esto- ques e, ao mesmo tempo, se os estoques são mantidos em níveis baixos. Além das funções dos estoques, existem algumas razões para sua manu- tenção nos sistemas organizacionais. Segundo Ballou (2006, p. 272-273), “são inúmeros os motivos que justificam a presença de estoques em um canal de suprimentos”. Vamos enumerar tais motivos a favor, bem como relacionar algumas razões contrárias à manutenção dos estoques. A primeira razão é melhorar o nível de serviço ao cliente, porque, quando os estoques são posicionados próximos aos clientes, acabam “satisfazendo as altas expectativas destes em matéria de disponibilidade. E dessa dispo- nibilidade muitas vezes acaba resultando não apenas a manutenção como também o aumento do nível das vendas” (BALLOU, 2006, p. 272). Ocorre que os estoques auxiliam a atividade de marketing na venda dos produtos da organização, uma vez que eles podem ser posicionados, nas quantidades demandadas, próximos aos pontos de venda. Com isso, é possí- vel atender os clientes que precisam de disponibilidade imediata ou tempos de reposição mais curtos. A segunda razão para se manter estoques é a redução dos custos; porque, mesmo que os custos de manutenção de estoques cresçam, sua existência acaba diminuindo os custos operacionais em outras atividades do canal de suprimentos de tal modo que pode ser altamente compensador. Ocorre que uma produção com menor oscilação, com maior constância operacional, per- mite manter os recursos humanos envolvidos em níveis estáveis e, ainda, os custos de preparação dos lotes podem ser minimizados. Também se sabe que os custos unitários de produção, para grandes lotes, são menores. Além disso, consegue-se redução nos custos de fretes, uma vez que ao se transportar volu- mes maiores (cargas consolidadas), os preços dos fretes são mais baixos. Por outro lado, as críticas à manutenção de estoques são relacionadas, em primeiro lugar, a questões de ordem financeira, uma vez que os esto- ques seriam um desperdício, pois “absorvem capital que teria utilização mais rentável se destinado a incrementar a produtividade e a competitividade” (BALLOU, 2006, p. 273); isso porque os estoques não agregam valor aos pro- dutos acabados, apesar de armazenarem valor. Outra crítica é que os estoques “escondem” os problemas de qualidade por não permitirem que os mesmos efetivamente apareçam. Além disso, a manutenção de estoques dificulta o planejamento cooperativo do canal de suprimentos. O sistema de administração de materiais e patrimônio 49 Ampliando seus conhecimentos Justificando os estoques (BALLOU, 2006, p. 273. Adaptado.) A fabricação de papel depende de caras máquinas Fourdrinier e outros equipamentos com grande capacidade de produção. Porém, equipamentos como esses exigem que os mesmos sejam mantidos em permanente ativida- de (com a máxima utilização possível). Por outro lado, a demanda de produtos de papel industrial (por exemplo, papel kraft de embalagem, sacolas de várias camadas e produtos de grande volume) não é estável e nem garantida, acontecendo de forma aleatória e, até mesmo, sazonal. Embora grandes pedidos possam ser programados diretamente, a produ- ção de pedidos pequenos é onerosa demais, considerando a necessidade de preparação dos equipamentos que leva até trinta minutos em máquinas cuja operação chega a custar R$7.000,00 por hora. Ou seja, parar a operação de uma máquina como essa durante duas vezes por dia representa custos diários de R$14.000,00 ou R$280.000,00 mensais, se
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