Buscar

Aula 19 a 22: Inflação e Crise

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
CAMPUS SANTANA DO LIVRAMENTO 
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
Economia Monetária 
 
 
Aula XVII a XX 
Inflação e Crise 
O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO 
Cap. 11: CARVALHO ET AL. 
 
 
 
 
 
Prof.: Pierre Joseph NELCIDE 
 
 
2 
 
Conteúdo do capítulo: 
 INTRODUÇÃO 
 OBJETIVOS E ASPECTOS OPERACIONAIS 
 O CASO DO BRASIL: UMA BREVE DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO 
 APÊNDICE 2 
 TEORIAS MONETÁRIAS E CONTROVÉRSIAS SOBRE O REGIME 
DE METAS DE INFLAÇÃO 
 EVIDÊNCIAS INTERNACIONAIS 
 RESUMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
Nova Zelândia (1990), Canadá (1991), 
Reino Unido (1992), Finlândia (1993), 
Suécia (1993), Austrália (1993), entre 
outros, foram os primeiros países 
desenvolvidos que adotaram o regime de 
metas inflacionárias. 
 
Os países em desenvolvimento que 
adotaram tal regime foram: Chile (1991), 
Israel (1992), Polônia (1998), República 
Tcheca (1998), Colômbia (1999) e México 
(1999), entre outros. O Brasil aderiu ao 
mesmo regime no ano de 1999. 
 
Tal regime propõe uma meta de 
crescimento para algum índice de preços, 
que é anunciada no início de um 
 
 
4 
 
determinado período. A meta é 
estabelecida pelo governo e/ou 
parlamento e deve ser perseguida pelo 
banco central cuja política monetária 
passa a ter um único objetivo: alcançar a 
meta inflacionária determinada. 
 
O capítulo analisa o regime de metas de 
inflação e, particularmente, descreve o 
caso brasileiro. 
 
OBJETIVOS E ASPECTOS 
OPERACIONAIS 
 
O regime de metas de inflação, que foi 
implementado em vários países a partir 
da década 1990, tem como ponto de 
partida dois pressupostos: 
 
 
 
5 
 
1. Fracasso da adoção do regime de 
regras de expansão monetária à la 
Friedman com destaque para as 
dificuldades enfrentadas pela política 
monetarista adotada pelo Federal 
Reserve (FED) nos EUA a partir de 
1979: impossibilidade de se prever o 
comportamento da demanda por moeda 
em um sistema financeiro caracterizado 
por inovações financeiras e mobilidade de 
capitais. 
 
2. Pressuposto teórico: a política 
monetária é inócua (incapaz) para 
afetar as variáveis reais (níveis de 
produto e emprego) da economia de 
forma duradoura. 
 
 
 
 
6 
 
A adoção de um regime de metas de 
inflação tem como característica o 
reconhecimento explícito de que o 
objetivo da política monetária é a 
manutenção de uma taxa de inflação 
baixa e estável. 
 
Em versões mais flexíveis do regime de 
metas, o objetivo de estabilidade de 
preços pode ser acompanhado do 
objetivo de manter a estabilização do 
produto corrente em níveis próximos da 
taxa potencial de crescimento, mas 
somente naquelas condições em que a 
estabilidade de preços não seja violada. 
 
Para atingir tal objetivo, uma meta 
numérica para inflação é anunciada, seja 
um ponto ou uma banda, assim como um 
horizonte de tempo para a meta 
 
 
7 
 
inflacionária ser alcançada (que pode ser 
um ano ou mais). 
 
A taxa de juros de curto prazo atua como 
principal instrumento de política 
monetária que deve ser calibrada para 
fazer com que a inflação tenda a 
convergir para a meta estabelecida. 
 
A taxa de juros adotada, de acordo com a 
experiência de alguns países, poderia ser 
descrita por regras tipo Taylor (cap. 12). 
 
A política monetária, ao mesmo tempo 
em que é vista como um dos principais 
instrumentos da política 
macroeconômica, não pode afetar a 
atividade econômica (emprego e produto) 
de forma duradoura. 
 
 
8 
 
 
A política fiscal, por sua vez, deve estar 
submetida à política monetária. Não 
deve haver dominância fiscal, ou seja, a 
conduta da política monetária não pode 
ser ditada por constrangimentos de 
ordem fiscal. 
 
A existência de déficits fiscais poderia 
conduzir a uma situação de descontrole 
na emissão monetária e que, por sua vez, 
levaria ao recrudescimento da inflação, 
tanto por meio de mecanismos de 
transmissão diretos como por intermédio 
de expectativas de inflação ascendentes. 
 
A política monetária, portanto, é vista 
como um instrumento flexível e poderoso 
 
 
9 
 
para alcançar o objetivo da estabilização 
de preços. 
 
Os defensores de tal regime argumentam 
que a simplicidade e a transparência do 
regime de metas de inflação possibilita ao 
público entender mais facilmente a 
intenção e os efeitos da política 
monetária, reduzindo assim a incerteza 
quanto ao comportamento futuro da 
inflação. 
 
O regime de metas de inflação poderia 
não ser uma “regra de política” rígida, 
mas uma estrutura para a política 
monetária em que uma 
“discricionariedade limitada” poderia ser 
exercida. 
 
 
 
10 
 
Contudo, para que o regime de metas de 
inflação seja adotado, é necessária a 
definição de alguns aspectos operacionais 
relevantes, que dependem de escolhas das 
autoridades econômicas e das 
especificidades de cada país. 
 
A escolha de uma meta pontual e/ou 
uma banda: a questão se refere ao 
conhecido trade-off entre credibilidade e 
flexibilidade. 
 
Por um lado, uma meta pontual é mais 
facilmente compreendida pelo público; 
por outro, a utilização de bandas, ainda 
que com uma meta pontual estabelecida, 
ou seja, o anúncio de intervalos de 
confiança para a inflação (com teto e 
piso), tem a vantagem de conceder certa 
flexibilidade à política monetária diante 
 
 
11 
 
da ocorrência de choques que possam 
causar impacto sobre a inflação (Ex: um 
aumento exacerbado do preço 
internacional do petróleo). 
 
Quanto maior o tamanho da banda, mais 
reduzida seria a crença do público no 
esforço do banco central para manter 
uma inflação baixa. 
 
A escolha do período de tempo no 
qual a meta é esperada ser 
alcançada: é importante destacar que o 
horizonte da meta (no qual o banco 
central é esperado alcançar sua meta de 
inflação) não pode ser menor do que o 
horizonte de controle, sobre o qual a 
política adotada é esperada afetar a 
variável relacionada à meta. 
 
 
12 
 
 
Quanto à definição do horizonte da meta, 
de novo se coloca o trade-off 
credibilidade versus flexibilidade: 
 A adoção de um horizonte mais 
curto (digamos, um ano) pode 
sinalizar o maior compromisso da 
autoridade monetária com o objetivo 
de estabilidade de preços, além da 
vantagem de ser mais claramente 
compreendida pelo público; 
 
 A adoção de um horizonte mais 
longo e flexível permite acomodar 
mais gradualmente ao longo do 
tempo os efeitos de choques sobre a 
inflação, reduzindo assim os efeitos 
negativos da política de estabilização 
de preços sobre os níveis de produto e 
emprego. Propicia, portanto, uma 
 
 
13 
 
reação menos agressiva da política 
monetária diante de choques. 
 
A definição do índice de preços que 
será adotado como referência para a 
meta: neste caso, em geral duas opções 
são usadas: 
 
 Um índice cheio, como no caso do 
índice de preços ao consumidor; 
 Um núcleo de inflação, que exclui 
do índice de preços ao consumidor os 
itens que causam perturbações 
transitórias ou autocorrigíveis, e que 
têm pouca relação com os movimentos 
mais permanentes dos preços. 
 
 
 
 
14 
 
O CASO DO BRASIL: UMA BREVE 
DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO 
 
O regime de metas de inflação foi 
instituído pelo Decreto no 3.088, de 2 de 
junho de 1999, ou seja, um pouco depois 
do País ter adotado um regime de câmbio 
flutuante após um período de forte 
pressão especulativa sobre o real, que 
ocorreu em janeiro daquele ano. 
 
No Brasil, as metas são propostas pelo 
Ministro da Fazenda, mas decididas e 
anunciadas pelo Conselho Monetário 
Nacional (CMN), que é constituído pelo 
Ministro da Fazenda, Ministro do 
Planejamento e o Presidente do Banco 
Central do Brasil (BCB). 
 
 
 
15 
 
Além do centro da meta, expresso pela 
variação do Índice de Preços ao 
Consumidor Amplo (IPCA), calculadopelo IBGE, o CMN determina o intervalo 
de tolerância adotado, que tem variado 
entre 2% e 2,5% acima e abaixo da meta 
central, de modo a permitir algum grau 
de flexibilidade à política monetária. 
 
No regime de metas de inflação adotado 
no Brasil não há o uso de um núcleo de 
inflação, já que, como visto, é utilizado 
um índice de preços cheio (o IPCA). 
 
 
 
16 
 
 
 
A meta de 2003 era inicialmente 3,25%, 
com intervalo de tolerância de 2%, sendo 
depois alterada para 3,5%; 
posteriormente foi modificada de novo 
para o limite máximo de 8,5%, que ficou 
conhecida como “meta ajustada”. Esta 
meta foi proposta pelo próprio Banco 
Central em carta enviada ao Ministro da 
Fazenda em 21 de janeiro de 2003, que 
aceitou a mudança. 
 
 
 
17 
 
O Comitê de Política Monetária 
(COPOM), que é composto pela diretoria 
do Banco Central, se reúne 
periodicamente (a cada 45 dias) para 
estabelecer a taxa de juros (a taxa Selic) 
que considera adequada ao cumprimento 
da meta de inflação. 
 
Além de determinar a taxa de juros, o 
COPOM estabelece também o chamado 
viés, que pode ser de baixa, de alta ou 
neutro. 
 
Ex: quando é estabelecida uma 
determinada taxa de juros com viés de 
baixa, isto significa que o presidente do 
BCB está autorizado pelo COPOM a 
reduzir a taxa de juros se assim achar 
conveniente antes da próxima reunião 
ordinária deste organismo. 
 
 
18 
 
 
Quando o viés é neutro, não há 
autorização concedida ao presidente do 
BCB. Contudo, o presidente do BCB 
sempre poderá convocar uma reunião 
extraordinária do COPOM para alterar a 
taxa de juros. 
 
Ao final de cada trimestre, o COPOM 
publica o Relatório da Inflação, que 
provê informações detalhadas sobre a 
conjuntura econômica do país, assim 
como suas projeções para a taxa de 
inflação, que são levadas em conta pelo 
COPOM nas reuniões em que é definida a 
taxa de juros. 
 
Caso a meta de inflação, considerando 
inclusive o intervalo de tolerância, não 
 
 
19 
 
seja atingida ao final de cada ano, o 
presidente do BCB tem que enviar uma 
carta (que deve ser de conhecimento 
público) ao Ministro da Fazenda 
justificando as razões pelos quais a meta 
não foi cumprida, assim como as medidas 
propostas para trazer a inflação para 
baixo, além do período de tempo no qual 
espera que as medidas tenham efeito. 
 
As cartas dirigidas pelo Presidente do 
BCB ao Ministro da Fazenda estão 
disponíveis em 
http://www.bcb.gov.br/?CARTAMETA. 
 
Um dos pontos críticos da persistência de 
uma taxa de inflação ainda 
desconfortável no Brasil (em comparação 
com a inflação prevalecente em outros 
http://www.bcb.gov.br/?CARTAMETA
 
 
20 
 
países) está relacionado ao peso dos 
preços administrados no cálculo do 
IPCA, que tem sido de cerca de 30%. 
Esses preços em geral têm crescido mais 
do que os preços livres, pressionando o 
IPCA para cima. 
 
Preços administrados são definidos como 
aqueles preços que são insensíveis à 
demanda e que são de alguma forma 
regulados pelo governo ou agências 
públicas, incluindo, neste grupo, 
produtos como petróleo e derivados, 
tarifas telefônicas, tarifa de eletricidade e 
transporte público. 
 
Assim, a política monetária não é 
plenamente efetiva para controlar os 
preços administrados. 
 
 
21 
 
APÊNDICE 2 
 
OS PREÇOS ADMINISTRADOS E A 
EFICÁCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA 
ANTI-INFLACIONÁRIA NO BRASIL 
(1999-2005) 
 
POR André de Melo Modenesi 
 
OS PREÇOS ADMINISTRADOS E A 
REDUÇÃO DA EFICÁCIA DA POLÍTICA 
MONETÁRIA 
 
Desde a adoção, em 1999, do regime de 
metas de inflação até 2005, a política 
monetária foi consideravelmente 
restritiva: a Selic foi mantida em níveis 
muito elevados, principalmente se 
comparada com as taxas de juros 
 
 
22 
 
internacionais. Nesse período, a Selic real 
média foi quase 11% a.a. 
 
Apesar da austeridade monetária, o 
Banco Central do Brasil não alcançou as 
metas de inflação nos anos de 2001, 2002 
e 2003. Um dos principais motivos para o 
insucesso do BCB no cumprimento das 
metas é a alta participação dos preços 
administrados no Índice de Preços ao 
Consumidor Amplo (IPCA), cerca de 
30%. 
 
Preço administrado é aquele que “de 
alguma forma é determinado ou 
influenciado por um órgão público; os 
preços administrados variam 
independentemente das condições 
vigentes de oferta e demanda”. (BCB, 
Relatório Anual, 1999, p. 192.) 
 
 
23 
 
 
Uma elevação dos juros, ao desestimular 
o investimento privado e o consumo 
(notadamente de bens duráveis), 
determina uma contração da demanda 
agregada que, por sua vez, reduz a 
variação positiva do nível de preços. 
 
Como os preços administrados não são 
determinados pela interação entre oferta 
e demanda agregada, eles se tornam 
insensíveis à taxa de juros; vale dizer, 
estão fora do controle do BCB. 
 
Segundo estudo do Banco Central do 
Brasil, os preços administrados nas três 
esferas de governo são aqueles listados no 
Quadro 11.1 
 
 
 
24 
 
 
 
O elevado peso dos preços administrados 
na composição do IPCA reduz 
substancialmente a eficácia do único 
instrumento de política econômica 
atualmente utilizado para combater a 
inflação no País: a taxa de juros. 
 
A existência de preços administrados, 
reduzindo a eficácia da política 
monetária, torna-se mais problemática 
quando se observa o crescimento 
acelerado desses preços, mostrado a 
seguir. 
 
 
25 
 
O COMPORTAMENTO ADVERSO DOS 
PREÇOS ADMINISTRADOS 
 
O fato de cerca de 1/3 do IPCA estar fora 
do controle do BCB, em si, já 
compromete a eficácia da política 
monetária no combate inflacionário. 
 
Este problema se torna ainda mais grave 
quando se verifica que os preços 
administrados têm crescido 
consideravelmente acima dos demais 
componentes do IPCA (ou preços livres). 
 
Entre os anos de 1999 e 2003, os preços 
administrados acumularam variação de 
93%, muito acima da inflação medida 
pelo IPCA, acumulada em 53% no 
mesmo período. 
 
 
26 
 
 
O Gráfico 11.9 mostra que os preços 
administrados têm-se comportado 
sistematicamente de forma mais adversa 
do que os preços livres. Isto é indesejável, 
pois o crescimento de reduzido conjunto 
de preços (os administrados) requer que 
os preços livres sejam mantidos 
suficientemente reprimidos para que o 
IPCA (ou a média ponderada dos dois 
grupos de preços) permaneça em 
patamares minimamente compatíveis 
com as metas de inflação. 
 
 
 
 
27 
 
 
A ELEVAÇÃO EXCESSIVA DA SELIC E 
SUAS CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS 
PARA A ECONOMIA 
 
Para assegurar o cumprimento das metas 
de inflação, é necessário que os preços 
livres, determinados pelas condições de 
oferta e demanda, sejam excessivamente 
represados para compensar a forte 
pressão exercida pelos preços 
administrados sobre o IPCA. 
 
Ou seja, a Selic deve ser fixada em níveis 
demasiadamente elevados para manter a 
demanda agregada suficientemente 
reprimida e, consequentemente, 
controlar a inflação. Isto é, para uma 
dada meta de inflação, a existência de 
 
 
28 
 
preços administrados implica que a Selic 
deve ser mantida em patamar superior 
àquele que seria necessário caso todos os 
preços fossem livres. 
 
Essa é a conclusão de estudo do próprio 
BCB: “(...) a política monetária poderia 
ter sido consideravelmente mais amena caso 
os preços administrados apresentassem um 
comportamento semelhante ao dos preços 
livres”. 
 
Destacam-se duas consequências 
negativas desse fato: 
 O desestímulo às decisões de investimento, 
comprometendo o crescimento econômico; 
 A elevação da despesa com os juros da dívida 
pública, convertendo o superávit primário 
em déficit nominal (temas tratados em 
seguida). 
 
 
29 
 
 
SUBAQUECIMENTO DA ECONOMIA 
 
Entre os anos de 1999 e 2005, o PIB 
brasileiro apresentou taxa média de 
crescimentode apenas 2,3% a.a. 
Resultado ainda mais decepcionante se 
comparado com o desempenho dos países 
em desenvolvimento que, de forma geral, 
têm crescido a taxas consideravelmente 
superiores e de forma sustentável. 
 
Ainda que não se possa considerar a 
política monetária a única responsável 
pelo subaquecimento da economia, ela 
certamente figura dentre as principais 
causas desse problema. 
 
 
 
30 
 
Ex: Em setembro de 2004, o Copom viu-
se forçado a iniciar um movimento de 
elevação da Selic para reverter a 
trajetória de crescimento do PIB. Isto 
porque o aquecimento da economia 
ameaçava o cumprimento da meta de 
inflação no ano de 2005. 
 
Segundo o BCB, ... em meados do ano [de 
2004], registrou-se crescente ocupação da 
capacidade instalada na indústria, cuja 
continuidade poderia ter provocado 
pressões inflacionárias e ameaçado a 
continuidade do ciclo de crescimento. 
 
(...) o Copom interrompeu, em maio, o 
processo de redução da taxa de juros, 
mantendo-a em 16% a.a. até setembro, 
quando passou a ocorrer o processo de 
ajuste moderado da política monetária 
 
 
31 
 
(...). A opção por essa conduta, 
favorecendo a moderação do ritmo de 
expansão da economia no segundo 
semestre, e a maturação dos 
investimentos em curso mostraram-se 
suficientes para dissipar perspectivas 
pessimistas quanto à evolução dos 
preços... . 
 
Notadamente em resposta ao processo de 
contração monetária, a taxa de 
crescimento do PIB caiu de 4,9%, em 
2004, para 2,3%, em 2005 (Gráfico 
11.10). 
 
 
 
32 
 
 
 
A DOMINÂNCIA MONETÁRIA 
 
A partir de 1999, tornou-se claro o efeito 
perverso da política monetária sobre as 
contas públicas: como o pagamento de 
juros tem sido muito alto, verificaram-se 
déficits nominais superiores a 3,5% do 
PIB a despeito dos elevados superávits 
primários, cuja média foi de quase 4% do 
PIB. 
 
 
 
33 
 
Ou seja, tem havido uma dominância 
monetária: a política monetária afeta de 
forma negativa as contas públicas. Isso 
ocorre devido à elevada participação das 
Letras Financeiras do Tesouro 
(indexadas à Selic) na dívida pública, 
cerca de 50%. 
 
A manutenção da Selic em níveis 
elevados resulta em um custo financeiro 
igualmente elevado: a despesa com juros 
da dívida foi em média 8,1% do PIB, de 
1999 a 2005. Em suma, o impacto fiscal 
da política monetária tem anulado o 
enorme esforço do setor público na 
redução de sua dívida líquida, que se 
elevou de 48,7% (1999) para 51,6% do 
PIB (2005), alcançando o pico de mais de 
57% do PIB, em 2003 (Tabela 11.2). 
 
 
 
34 
 
 
 
 
TEORIAS MONETÁRIAS E 
CONTROVÉRSIAS SOBRE O REGIME 
DE METAS DE INFLAÇÃO 
 
Os defensores da adoção de metas de 
inflação acreditam que o principal 
objetivo da política monetária é a 
manutenção de uma taxa de inflação 
baixa e estável; acreditam ainda que esta 
política não é um instrumento que pode 
estimular o investimento e, 
 
 
35 
 
consequentemente, reduzir o 
desemprego. 
 
Estes defensores postulam que uma 
política monetária que aumente a 
liquidez da economia (e/ou reduza os 
juros), objetivando estimular o 
crescimento, somente pode causar efeitos 
reais passageiros e efeitos inflacionários 
permanentes (Robert Lucas, Robert 
Barro e David Gordon). 
 
Alguns consideram que nem sequer 
efeitos passageiros seriam produzidos, 
somente inflação seria gerada (Finn 
Kydland e Edward Prescott). 
 
Assim sendo, a política monetária não 
deve ser utilizada para estimular o 
 
 
36 
 
crescimento econômico de um país. Caso 
uma política monetária ativa fosse 
implementada, estaria verdadeiramente 
sendo inócua e, adicionalmente, estaria 
dificultando o crescimento duradouro, 
pois geraria um ambiente de inflação. 
 
Alguns economistas que acreditam na 
existência da taxa natural de desemprego 
e na curva de Phillips não são favoráveis 
à adoção do regime de metas de inflação 
(Milton Friedman). 
 
Milton Friedman, o maior expoente 
monetarista, está entre aqueles que 
condenam a concessão de plena liberdade 
aos dirigentes do banco central para 
alcançar o objetivo da estabilidade de 
preços, subjacente ao regime de metas de 
inflação. 
 
 
37 
 
 
Outros autores críticos deste regime 
monetário afirmam, grosso modo, que 
uma correta e responsável administração 
monetária, fiscal e cambial associada à 
instituição de regras eficientes são as 
âncoras que o nível de preços necessita. 
 
A teoria econômica desenvolvida por 
Keynes entre os anos de 20 e 40 postula 
que uma taxa de juros baixa e estável era 
necessária para estimular o investimento 
produtivo porque desestimularia o 
investimento financeiro. 
 
A política monetária, em conjunto com 
as demais políticas (fiscal e cambial) 
poderia criar um ambiente seguro que 
estimulasse os empresários a despertar o 
 
 
38 
 
seu “espírito animal”. Em particular, a 
política monetária ao afetar o portfólio 
dos empresários, em favor de ativos mais 
ilíquidos, pode servir de instrumento 
capaz de estimular o investimento 
produtivo. 
 
Os críticos do regime de metas de 
inflação argumentam que a política 
monetária é uma das políticas 
econômicas governamentais que podem 
ser utilizadas conjuntamente com as 
demais políticas para se atingir níveis 
socialmente aceitáveis (e tecnicamente 
sustentáveis) de emprego e inflação. 
 
Uma política monetária voltada somente 
para manter a inflação sob controle 
estaria, na verdade, sendo subutilizada. 
 
 
39 
 
 
“vamos mirar só a inflação, não 
temos objetivo de olhar a atividade 
econômica” (Gazeta Mercantil, diretor 
do Banco Central do Brasil, 29/6/1999). 
 
Fica claro nesta passagem que o 
compromisso principal do Banco Central 
do Brasil, no contexto do atual regime de 
metas de inflação, é com a estabilidade 
de preços, o que significa que o BCB não 
utiliza a taxa de juros para facilitar taxas 
de crescimento do PIB ou a geração de 
empregos. 
 
Defensores do regime de metas de 
inflação no Brasil sustentam que embora 
as metas de inflação não tenham sido 
atingidas em alguns anos, em função de 
 
 
40 
 
choques externos, tal regime tem 
contribuído para uma redução a médio e 
longo prazos na taxa de inflação. 
 
O regime adotado no Brasil, argumentam 
os defensores, tem concedido alguma 
flexibilidade para acomodação de 
choques externos e, ao mesmo tempo, 
tem aumentado a credibilidade das 
autoridades monetárias. 
 
Para aqueles que são favoráveis ao 
regime de metas de inflação, como já 
visto, a prioridade principal da política 
econômica deve ser a estabilidade de 
preços. Mesmo que o governo seja 
tentado a fazer diferente, por exemplo, 
adotando políticas ditas expansionistas, 
suas ações não serão eficazes, gerarão 
apenas mais inflação. 
 
 
41 
 
 
O melhor que o governo deve fazer é não 
atrapalhar: ao garantir a estabilidade de 
preços, permite que o mercado possa 
executar melhor seu papel na alocação de 
recursos na economia. 
 
Para eles, o crescimento econômico 
depende de fatores reais (relacionados ao 
capital humano, à tecnologia etc.), e não, 
de fatores monetários. 
 
EVIDÊNCIAS INTERNACIONAIS 
 
Argumentos empíricos têm sido 
utilizados na defesa do regime de metas 
inflacionárias. 
 
 
 
42 
 
Frederic Mishkin (1999), ao analisar a 
experiência internacional com diferentes 
regimes de política monetária, conclui 
que “o desempenho dos regimes de metas 
de inflação tem sido muito bom. 
 
Os países que o adotam parecem ter 
reduzido significativamente tanto a taxa 
de inflação quanto as expectativas 
inflacionárias bem mais do que 
provavelmente teria ocorrido na ausência 
de metas de inflação. 
 
A Nova Zelândia, em 1990, foi o primeiro 
país a implementar o regime de metas, 
depois veio o Canadá, em 1991, o Reino 
Unido, em 1992, a Suécia, a Finlândia ea 
Austrália, em 1993. 
 
 
 
43 
 
Como mostram os Gráficos 11.1 a 11.7, a 
inflação de alguns países desenvolvidos, 
que adotaram o regime de metas 
inflacionárias, manteve a sua rota 
descendente após a implementação do 
novo regime comparativamente à década 
de 1980. 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
 
 
Entretanto, é importante destacar que o 
regime de metas não pode ser apontado 
como responsável pela trajetória 
descendente da variação do nível de 
preços nesses países. 
 
 
 
46 
 
Com exceção do Canadá (Gráficos 11.1 a 
11.7), todos os demais países já possuíam 
uma trajetória descendente da inflação 
que é anterior à implantação do regime 
de metas de inflação, cujo início está 
marcado em cada gráfico. 
 
A despeito das evidências indicadas nos 
Gráficos 11.1 a 11.7, não existem 
evidências suficientemente sólidas que 
garantam que a adoção de metas 
inflacionárias seja a responsável pela 
queda da inflação. 
 
Países que adotaram o regime de metas 
de inflação e países que não o adotaram 
têm tido igualmente sucesso na inflação. 
 
 
 
47 
 
O Gráfico 11.8 mostra a trajetória da 
inflação média, à época, de países com 
economias desenvolvidas que não 
adotaram o regime de metas de inflação: 
Estados Unidos, Japão, Noruega, 
Dinamarca, Bélgica, Holanda, Áustria e 
Portugal. 
 
Cada ponto do gráfico corresponde à taxa 
de inflação de um determinado país em 
determinado ano. 
 
A inflação desse conjunto de países 
também apresentou uma tendência de 
queda durante a década de 1990 
relativamente à década de 1980, tal como 
os países que possuem metas de inflação. 
 
 
 
48 
 
 
 
RESUMO 
 
1. O regime de metas de inflação foi 
implementado em vários países ao longo 
das décadas de 1990 e de 2000. A adoção 
de um regime de metas de inflação tem 
característica principal o reconhecimento 
explícito de que o principal objetivo da 
política monetária é a manutenção de 
uma taxa de inflação baixa e estável. 
 
 
49 
 
 
Para atingir tal objetivo, uma meta 
numérica para inflação é anunciada (seja 
um ponto ou uma banda) assim como um 
horizonte de tempo para alcançar a meta 
inflacionária (que pode ser um ano ou 
mais). 
 
Nesse sistema, a taxa de juros de curto 
prazo atua como principal instrumento 
de política monetária que deve ser 
calibrada para fazer com que a inflação 
tenda a convergir para a meta 
estabelecida pela autoridade econômica. 
 
2. Os defensores de tal regime 
argumentam que sua simplicidade e a 
transparência tornam mais fáceis ao 
público entender a intenção e os efeitos 
 
 
50 
 
da política monetária, reduzindo assim a 
incerteza quanto ao comportamento 
futuro da inflação. 
 
Esta estratégia também pode aumentar a 
prestação de contas em relação ao 
desempenho da inflação e permitir uma 
acomodação flexível da política 
monetária sem sacrificar a credibilidade 
da política monetária e a reputação dos 
bancos centrais. 
 
3. O Brasil adotou o regime de metas de 
inflação em junho de 1999. No Brasil, as 
metas são propostas pelo Ministro da 
Fazenda, mas estabelecidas e anunciadas 
pelo Conselho Monetário Nacional 
(CMN), que é constituído pelo Ministro 
da Fazenda, Ministro do Planejamento e 
o Presidente do Banco Central. 
 
 
51 
 
 
A variação do índice de preços escolhida 
como meta para a inflação é a variação 
do Índice de Preços ao Consumidor 
Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. 
 
Além do centro da meta, o CMN 
determina o intervalo de tolerância 
adotado, que tem variado entre 2% e 
2,5% acima e abaixo da meta central, de 
modo a conferir algum grau de 
flexibilidade à política monetária. 
 
4. Os proponentes da adoção de metas 
inflacionárias se apoiam em teorias 
monetárias que não são consensuais entre 
os economistas. 
 
 
 
52 
 
Alguns economistas que acreditam na 
existência da taxa natural de desemprego 
e na curva de Phillips não são favoráveis 
à adoção do regime de metas de inflação. 
Dentre eles, destaca-se Milton Friedman, 
o maior expoente monetarista, que está 
entre aqueles que condenam a concessão 
de plena liberdade aos dirigentes do 
banco central para alcançar o objetivo da 
estabilidade de preços, subjacente ao 
regime de metas de inflação. 
 
Outros autores críticos deste regime 
monetário afirmam, grosso modo, que 
uma correta e responsável administração 
monetária, fiscal e cambial associada à 
instituição de regras eficientes são as 
âncoras que o nível de preços necessita. 
 
 
 
53 
 
5. Cabe ressaltar que as economias 
desenvolvidas e em desenvolvimento que 
não aderiram ao regime de metas têm 
mantido a inflação em níveis aceitáveis. 
Como foi mostrado, não há evidências de 
que conceder ao banco central a tarefa 
única de alcançar uma meta de inflação 
seja necessariamente benéfico. 
 
Ex: o Federal Reserve System tem 
explicitamente dois objetivos, conter a 
inflação (sem qualquer meta fixada) e 
buscar o pleno emprego. 
 
6. Em suma, as evidências empíricas são 
inconclusivas em relação à adoção do 
regime de metas. Ademais, existem 
controvérsias relevantes acerca da teoria 
que sustenta tal regime. 
 
 
54

Continue navegando

Outros materiais