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FACULDADE GUAIRACÁ FARMÁCIA - BACHARELADO ANA CAROLINE LOPES SÍFILIS EM GESTANTES: ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA NA PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO CONGÊNITA GUARAPUAVA 2018 ANA CAROLINE LOPES SÍFILIS EM GESTANTES: ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA NA PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO CONGÊNITA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Guairacá como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Farmácia, sob a supervisão da Prof.ª Dra. Lígia Santos Pedroso. GUARAPUAVA 2018 A COMISSÃO EXAMINADORA ABAIXO ASSINADA E PROVADA A MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO SÍFILIS EM GESTANTES: ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA NA PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO CONGÊNITA ELABORADO POR: “ANA CAROLINE LOPES” COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________ Profª. Drª. Ligia Santos Pedroso (Orientadora) ________________________________________ Profª. Ms. Débora Ronik ________________________________________ Prof. Ms. Daniel Brustolin GUARAPUAVA 2018 Dedico todo o esforço que tive para finalizar este trabalho aos meus queridos tios Sonia Maria de Melo e Jauri Fonseca (in memoriam) que não puderam vivenciar este momento, mas que sempre me apoiaram nas minhas escolhas quaisquer que fossem. Foram e sempre serão exemplos a serem seguidos em minha vida. AGRADECIMENTOS Agradeço a meus pais pela dedicação, amor, incentivo e apoio incondicional. A dedicação de todos meus professores da graduação que sempre estavam dispostos a compartilhar seu conhecimento, em especial a minha orientadora Lígia Santos Pedroso pela coragem, suporte, correções e incentivos. Aos amigos que fiz durante o período de graduação, com os quais compartilhei muitos momentos de alegria juntos nesta jornada. Também os meus amigos mais próximos que não mediram esforços para me apoiar. Agradeço também a todas as pessoas que conheci neste período que me fizeram perceber que existem pessoas de diferentes formas e jeitos e todas contribuíram de forma positiva em minha vida, os quais seus ensinamentos jamais irei esquecer. E finalmente agradeço a Deus por proporcionar estes agradecimentos a todos que participaram direta ou indiretamente de minha vida, além de ter me dado pais maravilhosos e a eles devo tudo o que sou. RESUMO A sífilis é uma doença sistêmica, que acomete somente no ser humano, tendo como principal via de transmissão a sexual. A sífilis gestacional apresenta-se como um grande problema de saúde pública, uma vez que as complicações obstétricas e neonatais acarretam em aumento da morbimortalidade materno - infantil. O objetivo deste trabalho é avaliar a prevalência de gestantes portadoras de sífilis pertencentes a 5° Regional de Saúde do Paraná, através de fichas de notificação cadastradas no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). Os dados foram coletados no período de 1 de janeiro de 2017 a 11 de outubro de 2017, para análise retrospectiva quantitativa e qualitativamente. Através dos resultados obtidos pudemos observar dados críticos para investigação da sífilis gestacional e congênita apontando considerável aumento dos casos de 2017 até 11 de outubro de 2018 tanto de casos de sífilis gestacional como de congênita deste modo o presente trabalho propõe sugestões de melhorias na orientação do controle e cuidado no pré-natal das gestantes, incluindo a ativa participação do farmacêutico como profissional educador e promotor da saúde. Palavras - chave: Sífilis gestacional; sífilis congênita; atenção farmacêutica. ABSTRACT Syphilis is a systemic disease, which affects only the human being, having the sexual transmission the main route. Gestational syphilis presents as a major public health problem, since obstetric and neonatal complications result in increased maternal and infant morbidity and mortality. The objective of this study is to evaluate the prevalence of pregnant women with syphilis belonging to the 5 th Regional Health Region of Paraná, through notification forms registered at the SINAN (Notification of Injury Information System). The data were collected from January 1st, 2017 to October 11th, 2017 for retrospective quantitative and qualitative analysis. Through the results obtained we could observe critical data for the investigation of syphilis in pregnancy and congenital pointing to the considerable increase of cases of 2017 until 11th October 2018 for both cases of syphilis in pregnancy as congenital in this way, the present work proposes suggestions for improvements in guidance, control and care in pre-natal of pregnant women, including the active participation of the pharmacist as a professional educator and health promoter. Keywords: Gestational syphilis; congenital syphilis; pharmaceutical care. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Treponema pallidum ......................................................................................... 15 Figura 2 – Relação entre os testes para diagnóstico da Sífilis, as fases da doença, o curso clínico da infecção e o tempo. .............................................................................................. 19 Figura 3 –Distribuição de casos de Sífilis em Gestantes entre janeiro de 2017 e 11 de outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava................................................................................. 26 Figura 4 – Distribuição de casos de Sífilis Congênita entre janeiro de 2017 e 11 de outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava................................................................................. 29 Quadro 1 – Manifestações clínicas, de acordo com a evolução e estágios da sífilis adquirida....................................................................................................................................16 Quadro 2 – Esquema terapêutico para tratamento da Sífilis................................................20 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Diagnóstico final de Investigação de Casos de Sífilis Congênita no período de Janeiro de 2017 a 11 de Outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava.. .............................30 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AIDS Síndrome da Imudeficiência adquirida DPP Plataforma de caminho duplo FTA – ABS Fluorescent treponemal antibody absorption test IST Infecção Sexualmente Transmissível OMS Organização Mundial da Saúde OPAS Organização Pan-Americana de Saúde RPR Rapid Plasma Reagin SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação TPHA Ensaio de hemaglutinação do Treponema pallidum TTPA Ensaio de aglutinação de partículas do Treponema pallidum VDRL Venereal Disease Research Laboratory SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................14 2.1. Infecções Sexualmente Transmissíveis x Sífilis ............................................................. 14 2.2. Treponema pallidum ..................................................................................................... 15 2.3. Sífilis: Manifestações Clínicas e Diagnóstico ................................................................ 15 2.3. Sífilis Congênita ............................................................................................................ 21 2.4. Atenção Farmacêutica x Sífilis ...................................................................................... 22 2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 24 3.1. Objetivo Geral ............................................................................................................... 24 3.2. Objetivos específicos ..................................................................................................... 24 4. METODOLOGIA ............................................................................................................ 25 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 26 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 32 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 33 13 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, após a epidemia de AIDS, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) reassumiram importância como problema na saúde pública. Dentre as ISTs que causam sérios problemas à saúde pública, podemos destacar a Sífilis, uma doença contagiosa e sistêmica de abrangência mundial e evolução crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum. Apresenta o homem como único hospedeiro, transmissor e reservatório. Dentre as infecções transmitidas no período gestacional, à sífilis é a que possui as maiores taxas de infecção através de transmissão vertical (COSTA et al., 2010). Segundo Boletim do Ministério da Saúde de 2017, no período de 2005 a junho de 2017 notificou-se um total de 200.253 casos de sífilis em gestantes. Quando adquirida durante a gestação a sífilis pode levar ao aborto espontâneo, morte fetal ou neonatal, prematuridade e graves danos à saúde do bebê, como comprometimento oftalmológico, auditivo e neurológico. Quando não se há o tratamento da infecção materna recente resulta na contaminação do feto de 80% a 100% dos casos (MAGALHÃES, 2013). A penicilina benzatina é o medicamento de escolha para o tratamento da gestante com sífilis e consequentemente, para prevenção da sífilis congênita. Entretanto, a incidência da sífilis congênita, ainda permanece elevada no Brasil. Isso se deve, provavelmente, pela falta de adesão ao tratamento das mães portadoras de sífilis (BRASIL, 2017). A prática do cuidado ao paciente busca o vínculo entre o profissional farmacêutico e o paciente de forma a desenvolver o compromisso para que o paciente participe de forma ativa da farmacoterapia, identificando suas reais necessidades a fim de melhorar sua adesão e comprometimento com o tratamento, além de medidas educativas que buscam prevenir a transmissão de agentes infecciosos e diagnósticos precoces. Sendo assim, estratégias voltadas à prática da Atenção Farmacêutica podem contribuir para ampliar adesão ao tratamento através da interação direta do farmacêutico com o paciente, visando uma farmacoterapia racional, eficiente e segura, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Os aspectos práticos da Atenção Farmacêutica envolvem educação em saúde, dispensação, orientação farmacêutica, atendimento farmacêutico e acompanhamento da terapia medicamentosa (OPAS, 2002). 14 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Infecções Sexualmente Transmissíveis x Sífilis Infecções transmitidas durante o ato sexual, ocasionadas por bactérias, vírus, microorganismos são denominadas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), sendo algumas curadas ou tratadas, já outras não. Dentre as mais comuns podemos citar a sífilis, gonorréia, candidíase, herpes genital, uretrite não específica e AIDS (MOREIRA, 2011). Nos últimos anos, após a epidemia de AIDS, as ISTs reassumiram importância como problema na saúde pública. Por sua magnitude, importância, vulnerabilidade e controle realizável, devem ser priorizados enquanto agravo à saúde pública. Além de internações e procedimentos necessários ao tratamento de suas complicações, elas causam também grandes impactos sociais traduzidos em custos indiretos para a economia do país (BRASIL, 2006). Dentre as ISTs que causam sérios problemas à saúde pública, podemos destacar a Sífilis, uma doença contagiosa e sistêmica de abrangência mundial e evolução crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum. Apresenta o homem como único hospedeiro, transmissor e reservatório. Sua transmissão pode ocorrer de forma sexual ou vertical, com mais frequência em grandes centros urbanos, afetando igualmente todas as camadas sociais (MAGALHÃES et al., 2013). No período de janeiro 2010 a junho de 2017, foram notificados pelo SINAN (Sistema de Informação e Agravos de Notificação) 342.531 casos de sífilis adquirida, dos quais se destaca a região sudeste com 59,5% dos casos e a região sul com 21, 2%, seguidas pelas regiões nordeste, centro-oeste e norte com 10,4%, 5,3% e 3,9% dos casos (BRASIL, 2017). As condutas para diagnóstico e tratamento precoces, incluindo a avaliação dos parceiros sexuais são pouco conhecidas pelo sistema de saúde e a prevenção específica dirigida aos portadores é pouco valorizada (educação em saúde, a divulgação para informação para conhecimento dos sintomas, busca por assistência precoce, convocação dos parceiros, entre outros). Apesar dos avanços na atenção básica, muitas unidades básicas se apresentam pouco resolutivas, focadas em agendamentos de consultas sem dar espaço à emergência dos casos sintomáticos, restringindo acessibilidade aos serviços, levando homens portadores a procurar outros serviços não especializados e até automedicação, e mulheres, maioria assintomática, a não serem rastreadas ou orientadas no atendimento ginecológico. Além disso, 15 os serviços especializados no tratamento tendem a acontecer em clínicas especializadas rotulando de modo negativo a população que a busca (SILVA et al., 2016). 2.2. Treponema pallidum A sífilis é causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, gênero Treponema, da família Treponemataceae. O T. pallidum tem forma de espiral (10 a 20 voltas), com cerca de 5-20 µm de comprimento e apenas 0,1 a 0,2 µm de espessura (Figura 1). Não possui membrana celular e é protegido por um envelope externo com três camadas ricas em moléculas de ácido N-acetil murâmico e N-acetil glucosamina. Apresenta flagelos que se iniciam na extremidade distal da bactéria e encontram-se junto à camada externa ao longo do eixo longitudinal. Move-se por rotação do corpo em volta desses filamentos. Não é cultivável, patógeno exclusivo do ser humano, apesar de, quando inoculado, pode causar infecções experimentais em macacos e ratos. É destruído pelo calor e falta de umidade, não resistindo muito tempo fora do seu ambiente (26 horas). Divide-se transversalmente a cada 30 horas. A pequena diferença de densidade entre o corpo e a parede do T. pallidum faz com que seja prejudicada sua visualização à luz direta no microscópio. Cora-se fracamente; daí o nome pálido, do latim pallidum (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). Figura 1: Treponema pallidum Fonte: Brasil (2010). 2.3. Sífilis: Manifestações Clínicas e Diagnóstico 16 A sífilis é uma doença de evolução lenta que quando não tratada alterna entre períodos sintomáticose assintomáticos, cada qual com suas características imunológicas, histopatológicas e clínicas distintas, divididas em três fases: sífilis primária, secundária e terciária (BRASIL, 2010). O Quadro 1, abaixo, apresenta os diferentes estágios da sífilis, tempo necessário para aparecimento dos sintomas assim como suas manifestações conforme estágio. Quadro 1: Manifestações clínicas, de acordo com a evolução e estágios da sífilis adquirida. Evolução Estágios da Sífilis Adquirida Manifestações Clínicas Sífilis Recente (menos de um ano de duração) Primária: - 10 a 90 dias após contato, em média três semanas; - A lesão desaparece sem cicatriz em duas a seis semanas com ou sem tratamento. - Úlcera genital (cancro duro) indolor geralmente única, com fundo limpo, infiltrada; - Linfonodos regionais indolores, de consistência elástica, que não fistulizam. Secundária: - Seis semanas a seis meses após contato; - As lesões desaparecem sem cicatrizes em quatro a 12 semanas; - Pode haver novos surtos. - Lesões cutaneomucosas sintomáticas; - Sintomas gerais, micropoliadenopatia; - Pode haver envolvimento ocular (ex: uveíte), hepático e neurológico (ex: alterações nos pares cranianos, meningismo). Latente recente Assintomática, com testes imunológicos reagentes. Sífilis Tardia (mais de um ano de duração) Latente tardia Assintomática, com testes imunológicos reagentes. Terciária - Dois a 40 anos após contato - Quadro cutâneo destrutivo e formação de gomas sifilíticas que podem ocorrer em qualquer órgão, Acometimento cardiovascular, neurológico e ósseo. Fonte: Brasil (2010). 17 O diagnóstico é baseado na história do paciente, exames físicos, testes de laboratório e às vezes radiologia. Entretanto, muitas pessoas não têm sintoma algum de sífilis ou tem apenas alguns menores sintomas e então acham que nada está errado. Identificando a sífilis assintomática, entre gestantes através de rastreamento e através de testes laboratoriais, tratando os casos positivos evitará uma nova transmissão e resultados adversos da gravidez e sífilis congênita. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). A infecção causada pelo T. pallidum não confere imunidade permanente, deste modo deve-se diferenciar entre a persistência de exames reagentes (cicatriz sorológica) e reinfecção pelo T. pallidum (BRASIL, 2010). Os exames laboratoriais compreendem dois tipos: exame direto (realizado com amostra coletada diretamente da lesão) que compreendem exames de microscopia permitindo a identificação do T. pallidum, podendo também ser realizada a pesquisa do treponema em campo escuro após coloração pelo método de Fontana - Tribondeaux ou Imunofluorescência direta; e os exames imunológicos, embora o tempo de surgimento de anticorpos possa variar de pessoa a pessoa, a partir de 10 dias da evolução do cancro duro, pode se observar reatividade dos testes sorológicos. Há dois tipos de testes imunológicos para sífilis: testes treponêmicos e não treponêmicos. Os treponêmicos detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos do T. pallidum, e são os primeiros a tornarem-se reagentes sendo importantes para a confirmação do diagnóstico na maior parte das vezes, permanece positivo mesmo após o tratamento pelo resto da vida do paciente, por este motivo, não são indicados como monitoramento da resposta ao tratamento. Testes treponêmicos incluem o ensaio de hemaglutinação do T. pallidum (TPHA), o ensaio de aglutinação de partículas do T. pallidum (TTPA) e o teste de absorção de anticorpos fluorescentes treponêmicos (FTA-ABS). Estes testes são altamente específicos porque detectam anticorpos contra antígenos treponêmicos específicos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). São testes que empregam como antígeno T. pallidum e detectam anticorpos antitreponêmicos, são testes feitos apenas qualitativamente. Sua reatividade indica que o usuário teve contato com T. pallidum em alguma época da sua vida e desenvolveu anticorpos específicos. Tais testes confirmam o diagnóstico quando a triagem é feita por um teste não treponêmico (BRASIL, 2010). Atualmente, surgiram outros testes treponêmicos que se distinguem pela automação e incluem testes enzimáticos EIA, os testes de quimioluminescência, O Western Blot modificado e os testes rápidos. A maioria destes testes utiliza proteínas treponêmicas 18 recombinantes geneticamente modificadas e detectam a totalidade de anticorpos treponêmicos (IgG e IgM), sendo positivos entre a segunda e quarta semana após infecção, são comumente utilizados para confirmar resultados duvidosos dos testes treponêmicos quando se suspeita de sífilis congênita ou recente, além se serem específicos e sensíveis são de fácil execução (CRUZ; LISBOA; AZEVEDO, 2011). Já os testes não-treponêmicos detectam anticorpos que não são específicos para os antígenos do T. pallidum, podem ser qualitativos ou quantitativos. Tornam-se reagentes de uma a três semanas após o aparecimento do cancro duro, onde o teste qualitativo indica a ausência ou presença de anticorpo na amostra e o quantitativo permite a titulação destes. O resultado pode ser expresso em títulos, sendo importante para o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento, o qual a queda do título indica sucesso na terapia ao paciente (BRASIL, 2015). Os amplamente disponíveis são o VDRL e o RPR. Estes testes utilizam antígenos cardiolipínicos que floculam na presença de anticorpos antitreponêmicos. As cardiolipinas, componentes celulares do hospedeiro, são incorporadas e modificadas pelos treponemas, que as transformam em componentes imunogênicos, despertando desta forma a imunidade humoral do hospedeiro (CRUZ; LISBOA; AZEVEDO, 2011). Estes anticorpos também podem ser produzidos em outras doenças, os testes não- treponêmicos possuem baixa especificidade para sífilis e pode dar resultados falso-positivos em certas condições tais como: infecções virais febris agudas e algumas doenças autoimunes crônicas. A maioria dos resultados falsos positivos possuem baixos títulos de pelo menos de 1: 4. Na sífilis primária e sífilis secundária, estes testes podem sofrer alterações devido a uma reação de prozona (interferência por altas concentrações de anticorpos na amostra, que pode ser descobertas por aumento das diluições, acima de ¼, por exemplo). Quanto aos testes rápidos, os mais comumente utilizados no Brasil utilizam metodologias de imunocromatografia de fluxo lateral e de imunocromatografia em plataforma de duplo percurso DPP (BRASIL, 2010). Eles são exames treponêmicos de fácil execução, podendo ser utilizadas amostras de sangue total ou punção digital ou venosa, com apresentação de resultado em aproximadamente 30 minutos, sem uso de equipamentos. Todos os dispositivos de teste rápido devem ter uma região de leitura para do resultado da amostra e outra para o controle do teste, a amostra será reagente quando houver reatividade na região para leitura da amostra assim como na região de controle, a amostra não será reagente quando houver reatividade somente na região de controle do teste (BRASIL, 2015). 19 Figura 2: Relação entre os testes para diagnóstico da Sífilis, as fases da doença, o curso clínico da infecção e o tempo. Fonte: Brasil (2015). No Quadro 2, abaixo, está demonstrado o esquema terapêutico proposto para tratamento da Sífilis. Sabe-se que a penicilina benzatina é o fármaco de primeira linha. A sensibilidade do treponema a droga, a rapidez à resposta com regressão das lesões primárias e secundárias com apenas uma dose são vantagens que permanecem desde 1943 com Mahoney (médico estadunidense, pioneiro no tratamento de sífilis com penicilina) até hoje. O desconforto gerado pela aplicação intravascular de penicilina benzatina acaba influenciando sua aderência, sendo tentadas alternativas de tratamento, dentre elaspodemos citar a ceftriaxona e azitromicina, ambas mostraram efetividade, porém não superior à penicilina sendo assim, mantidas como drogas de segunda linha (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). 20 Quadro 2: Esquema terapêutico para tratamento da Sífilis. Estadiamento Esquema terapêutico Alternativa Seguimento (teste não treponêmico VDRL ou RPR) Sífilis primária, secundária e latente recente (com menos de 1 ano de evolução) Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 milhões UI em cada glúteo). Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 15 dias (exceto gestantes) OU Ceftriaxona 1 g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestante. População em geral: trimestral (1º ano) semestral (2º ano) Gestante: mensal Sífilis latente tardia (com mais de um ano de evolução) ou latente com duração ignorada, e sífilis terciária Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, IM, semanal, por 3 semanas. Dose total: 7,2 milhões UI, IM. Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 30 dias (exceto gestantes) OU Ceftriaxona 1 g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes. População em geral: trimestral (1º ano) semestral (2º ano) Gestante: mensal Neurossífilis Penicilina G Cristalina 18-24 milhões UI/dia, IV doses de 3-4 milhões UI, a cada 4 horas ou por infusão contínua, por 14 dias. Ceftriaxona 1g, IV, 1 x/dia, por 10 a 14 dias. Exame de líquor de 6/6 meses até normalização Fonte: BRASIL (2015). Quanto às gestantes alérgicas à penicilina, como não se tem garantia que outros medicamentos consigam tratar a ele e ao feto, deve-se ter a dessenbilização além do tratamento com penicilina benzatina e, na impossibilidade de dessensibilização no período gestacional, a gestante deve ser tratada com ceftriaxona. E para abordagem terapêutica da sífilis congênita considera-se o tratamento inadequado da mãe além do recém-nascido ser 21 avaliado clinica e laboratorialmente sendo situações de tratamento inadequado da gestante com sífilis notificadas como casos de sífilis congênita (BRASIL, 2015). 2.3. Sífilis Congênita A sífilis congênita é considerada um importante problema de saúde pública apesar de ser uma doença de fácil prevenção, quando o diagnóstico e tratamento da gestante e seu parceiro são realizados de forma adequada. Dentre as doenças transmitidas no período gestacional, à sífilis é a que possui as maiores taxas de infecção atrás de transmissão vertical, variando de 70 a 100% na fase primária e secundária e reduzindo para 30% nas fases latente, tardia e terciária da infecção materna (COSTA et al., 2010). No ano de 2016, foram notificados 87.593 casos de sífilis adquirida, 37.436 casos de sífilis em gestantes e 20.474 casos de sífilis congênita, dentre estes 185 óbitos no Brasil, sendo a maior parte dos casos notificadas na região sudeste. No período de 2005 a junho de 2017, notificaram-se no SINAN 200.253 casos de sífilis gestacional, dos quais 44,2% foram casos residentes na região Sudeste, 20,7% no Nordeste, 14,6% no Sul, 11,1% no Norte e 9,4% no Centro-Oeste. No Brasil, observou-se uma taxa de detecção de 12,4 casos de sífilis em gestantes/1.000 nascidos vivos, taxas superadas pelas regiões Sul (16,3 casos de sífilis em gestantes/1.000 nascidos vivos) e Sudeste (14,7 casos de sífilis em gestantes/1.000 nascidos vivos) (BRASIL, 2017). Em 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que 1,9 milhões de mulheres grávidas são infectadas por sífilis no mundo todo, onde 66,5% destes têm efeitos adversos no feto quando a sífilis não é tratada. Sífilis congênita contribui significativamente para a mortalidade infantil, 305.000 mortes no mundo anualmente (CERQUEIRA et al., 2017). Avaliações referentes à qualidade do pré-natal apresentaram resultados insatisfatórios, menos da metade das gestantes (7,7% a 49,6%) receberam acompanhamento adequado, dados primários quanto à cobertura dos testes de sífilis em gestantes apontaram que 66% a 95% das gestantes teriam acesso a pelo menos um VDRL no pré-natal, mas quanto ao acesso ao 2º VDRL a ser realizado até a 30ª semana de gestação geralmente alcançaria menos de um quarto das gestantes (0,2% a 20,7%) (ARAÚJO et al., 2012). Tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento os fatores de risco para aquisição de sífilis são: ausência de assistência pré-natal e adolescente gestante e/ou sem parceiro fixo. Em todos os estudos é constante o dado de que o principal fator de risco para sífilis congênita consiste no acompanhamento pré-natal inadequado. Conforme o 22 Ministério da Saúde, a sífilis congênita é consequência da disseminação do T. pallidum através da corrente sanguínea da gestante infectada para o feto. A transmissão pode ocorrer durante a gestação, sendo o risco maior em gestantes com sífilis primária ou secundária (GUINSBURG; SANTOS, 2010). Quando adquirida durante a gestação a sífilis pode levar ao aborto espontâneo, morte fetal ou neonatal, prematuridade e graves danos à saúde do bebê, como comprometimento oftalmológico, auditivo e neurológico. Quando não se há o tratamento da infecção materna recente resulta na contaminação do feto de 80% a 100% dos casos, enquanto a sífilis materna tardia não tratada pode acarretar na infecção fetal de aproximadamente 30% e mesmo após tratamento mulheres que tiveram sífilis gestacional possuem maiores riscos para resultados adversos quando comparadas a aquelas sem histórico de infecção, quanto mais for avançada a doença materna menor é o risco de transmissão e a cada gestação sucessiva a mulher sem tratamento vai diminuindo essa chance, porém sem eliminar os riscos. As gestantes com resultados positivos devem realizar controle mensal de tratamento e cura até o parto, do mesmo modo, haverá testagem com mulheres internadas para curetagem após aborto, baixos títulos devem ser confirmados com o teste treponêmico, sempre que possível e quando não for possível realizá-lo, todos os títulos devem ser reconhecidos como doença ativa e as mulheres tratadas como portadoras de sífilis (MAGALHÃES et al., 2011). A sífilis congênita só poderá ser evitada quando ocorrer diagnóstico precoce e tratamento adequado da sífilis gestacional. O Ministério da Saúde preconiza que durante a assistência pré-natal toda gestante passe por pelo menos dois exames de VDRL, um a ser realizado na primeira consulta e outra por volta da 30ª semana gestacional, além de realizar um VDRL no momento do parto para assim, garantir que o recém-nascido a possibilidade de tratamento precoce, caso a gestante não tenha sido tratada ou tenha sido infectada após o tratamento. (ARAÚJO et al., 2012) E segundo Pinheiro (2011), o controle da sífilis tem como objetivo interromper a transmissão e a prevenir caso haja novos casos, tal transmissão consiste na detecção e no tratamento precoce e adequado do paciente e parceiro, ou parceiros. Detectando os casos, a introdução do teste rápido em parceiros de pacientes ou gestantes ocasionará fator de extrema importância. 2.4. Atenção Farmacêutica x Sífilis Conforme o Ministério da Saúde (2015) um dos fatores determinantes na ocorrência de ISTs está além da administração dos gestores de saúde, mas mesmo assim suas atuações 23 devem se aproveitar de todas as oportunidades para assegurar todos os elementos necessários para desenvolvimento das ações de controle, dentro e fora dos serviços de saúde. O cuidado a estes pacientes deve abranger orientações preventivas, orientações quanto ao diagnóstico e tratamento, estímulos à adesão ao tratamento, além de orientações de autocuidado. O farmacêutico deve se utilizar de atividades que assegurem a boa saúde e a prevenção de doenças na população e ao tratamento farmacológico adequado assegurando maior benefício terapêuticocom menor risco. O papel educador do farmacêutico é essencial para identificar potenciais portadores de ISTs, de forma a orientar sobre medidas preventivas e encaminhar a uma unidade próxima para diagnóstico e tratamento adequado. Além de prevenir novos casos promovendo adesão ao tratamento e uso racional de medicamentos. O farmacêutico deverá se certificar de que o paciente esteja apto a se cuidar, participando ativamente em seu processo de cura, adotando práticas saudáveis, identificando possíveis causas de não adesão ao tratamento e sugerindo estratégias para contornar tais adversidades (NAVES; MERCHAN-HAMANN; SILVER, 2005). O aconselhamento do paciente, seja ele portador de ISTs ou quaisquer outras doenças, é um contínuo processo de troca de informações que traz grandes benefícios ao paciente proporcionando reconhecimento ao farmacêutico e fazendo o paciente reconhecer sua necessidade pelo tratamento, favorecendo a interação com o paciente, extremamente necessária para promoção e apoio ao convívio adequado com a doença. Mesmo que ações de aconselhamento não sejam exclusivas do farmacêutico, como são estes que dispensam os medicamentos e tem conhecimento apurado do tratamento a ser prosseguido, tem-se então a oportunidade e responsabilidade, inclusive ética, de aconselhar o paciente antes que este inicie o tratamento (SILVA; NAVES; VIDAL, 2008). 24 2. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de gestantes portadoras de Sífilis a fim de elaborar um plano de ação de atuação farmacêutica a estas pacientes buscando ampliar a adesão ao tratamento e consequentemente a reduzir a incidência de sífilis congênita. 3.2. Objetivos específicos Identificar a prevalência de gestantes portadoras de Sífilis nos municípios pertencentes a 5° Regional do Paraná; Verificar a incidência de Sífilis Congênita nos municípios pertencentes a 5° Regional do Paraná; Fazer um levantamento de informações importantes contidas nas fichas de notificação que podem ser utilizadas para avaliar os possíveis fatores de risco ao aumento da incidência da sífilis congênita; Determinar os aspectos importantes na atuação do farmacêutico na identificação e acompanhamento dos casos da doença. 25 4. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa retrospectiva quantitativa e qualitativa em que irá analisar dados presente nas fichas de investigação de Sífilis em Gestantes, cadastradas no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) no período de Janeiro de 2017 a 11 de Outubro de 2018, de pacientes cadastradas nas regiões da 5° Regional do Paraná. Devido à pesquisa envolver apenas análise de Fichas de Investigação, sem contato direto com paciente e uma vez que a análise dos dados contidos nestas fichas não interfere na conduta recebida pelo paciente assim como não oferece riscos biológicos ou físicos aos mesmos, foi solicitado à dispensa do TCLE, sendo autorizado pelo COMEP Universidade Estadual do Centro-Oeste, sob o protocolo 2.787.222. Os resultados foram avaliados através análise estatística descritiva dos indicadores quantitativos e representados na forma de tabelas e gráficos percentuais. 26 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Desde 1986, a Sífilis Congênita é de notificação compulsória, incluída no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), sendo notificados 24.448 casos da doença entre os anos de 1998-2004. Em 1995, através da Resolução CE 116. R3 da Organização Pan-Americana de Saúde, o Brasil, unido a outros países da América Latina e Caribe, assumiu compromisso para elaboração do Plano de Ação visando à eliminação da Sífilis Congênita nas Américas até o ano 2000 (BRASIL, 2006). No entanto, os últimos dados demonstram uma situação diferente do planejado. Observando os dados da Figura 3, podemos observar a ocorrência de 191 casos de Sífilis em gestantes, que podem implicar no aumento da Sífilis Congênita. Estas notificações referem-se a casos registrados de Janeiro de 2017 até 11 de Outubro de 2018, na 5ª Regional de Saúde do Paraná. Destes, 92 casos referentes ao ano de 2018, até o momento, o qual se observa o número é similar ao registro total de casos no ano de 2017 (99 casos). Figura 3: Distribuição de casos de Sífilis em Gestantes entre janeiro de 2017 e 11 de outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava. Fonte: Elaborada pela autora. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 N Ú M E R O D E C A S O S P O R A N O 5ª REGIONAL DE SAÚDE 2017 2018 27 Observando a Figura 3 podemos verificar que entre os anos de 2017 e 2018 houve um aumento de casos na maioria dos municípios pertencentes a 5° Regional de Saúde, provavelmente à falta de campanhas relacionadas a tal infecção e sua importância, sugerindo- se assim falhas nas ações de prevenção e controle da sífilis gestacional e congênita que acarretam em um conhecimento tardio quanto as possíveis consequências provocadas pela infecção diminuindo a probabilidade de se tomar medidas imediatas e apropriadas para diagnóstico e tratamento. Outro fator que pode influenciar no aumento dos casos seria a falta de percepção da doença que muitas vezes não se manifesta já que a sífilis em gestante é em sua maior parte diagnosticada na sorologia positiva realizada na rotina pré-natal, fazendo as mulheres tanto como os parceiros não sejam convencidos da necessidade do tratamento. O grande número de casos mesmo com a considerável cobertura realizada pelo pré-natal e tratamento de boa parte dos parceiros indica qualidade de assistência insatisfatória. Fatos estes que condizem com o estudo de Soares et al. (2017) que também indicam pontos relacionados à assistência pré-natal e forma de prevenção de sífilis como possíveis influências no tratamento e orientação adequada. Cabe ressaltar que, as notificações devem ser realizadas de maneira correta e com certa frequência de maneira que as informações possam ser utilizadas para se tomarem decisões relacionadas à vigilância em saúde, o que nem sempre é observado. Tais subnotificações prejudicam o planejamento de ações de prevenção e controle epidemiológico em função das estimativas da relevância das doenças por não serem baseados em dados fiéis à realidade epidemiológica. Apesar de baixos índices de casos dos demais municípios da 5ª Regional podemos levar em conta a importância de averiguar o contexto dos trabalhadores da saúde nestes municípios além de suas dificuldades vivenciadas no cotidiano que contribuem para a não notificação de doenças e agravos de notificação compulsória do SINAN. Pode-se observar através da Figura 3 que apesar de ser mais da metade do ano de 2018 o número total de casos quase alcança ao valor total de casos do ano de 2017, demonstrando considerável aumento o que pode evidenciar problemas atrelados ao cotidiano das unidades de atendimento ao paciente, como por exemplo, quando se é considerada a notificação como atividade burocrática sem importância aos profissionais de saúde os sobrecarregando. Conforme estudo de Melo et al. (2018) o principal problema de subnotificações parece estar ligado aos médicos que tem dificuldade para diagnósticos dos casos, não notificam, não repassam para os demais profissionais a notificação e quando notificado conduz a responsabilidade exclusiva da equipe de enfermagem e longe do paciente, portanto tardiamente. 28 Dentre estes casos, aproximadamente 60% das gestantes apresentavam a faixa etária de 20-32 anos, quadro relativamente diferenciado quando comparado a um estudo realizado em Curitiba-PR, o qual dos 444 casos notificados no período de 2007-2016, 96,8% foi de gestantes de 15 a 19 anos (MOROSKOSKI et al., 2018). Destaca-se que,quanto à faixa etária, as mulheres em idade fértil devem constituir um dos principais grupos de usuários do serviço de saúde, no entanto, algumas não procuram serviço médico para tratamento clínico, e apesar de curáveis, a maioria dessas doenças apresentam infecções subclínicas ou são assintomáticas por muito tempo, sendo um grave problema para saúde da mulher assim como conseguinte o feto (JIMÉNEZ et al., 2001; CARLOTTO et al., 2008; FARIAS; CAVALCANTI E SILVA, 2015). Em outro estudo realizado no Rio de Janeiro no período de 2007-2008, aproximadamente 27% das gestantes possuíam ensino fundamental incompleto, demonstrando similaridade com o presente estudo, uma vez que 30% das gestantes também possuíam o mesmo grau de escolaridade (DOMINGUES; LEAL, 2013). Quanto à escolaridade podemos ressaltar a importância da educação sexual na abordagem de sífilis e ISTs em geral, deste modo é necessário à capacitação dos profissionais da saúde a fim de que se tornem referencia no assunto para seus pacientes, assim como a sustentabilidade se tornou tema transversal nas escolas, os direitos sexuais reprodutivos devem ser utilizados e debatidos para conscientização da população em geral (FONTES et al.; 2017). Em 2008, estimou-se que 50.000 mil brasileiras teriam sífilis gestacional e, considerando a elevada taxa de transmissão vertical, mais de 15 mil crianças poderiam ter sífilis congênita (cerca de 30%) e, apesar de altas taxas de incidência obtidas com base no SINAN, estima-se no Brasil um subregistro de casos de, aproximadamente, 67% (ARAÚJO et al.; 2012). Todas as gestantes devem realizar testes laboratoriais para sífilis no 1° e 3° trimestre da gestação e na internação para o parto, o qual os resultados poderão auxiliar no diagnóstico da sífilis congênita (BRASIL, 2010). Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, dentre as três milhões de mulheres que dão à luz no país por ano, 1,6% sejam portadoras de sífilis no momento do parto (BRASIL, 2017). O diagnóstico é realizado através de uma avaliação epidemiológica criteriosa da situação materna e de avaliações clínica, laboratorial e de estudos de imagem na criança. No entanto, mais da metade das crianças são assintomáticas ao nascimento e, naquelas com expressão clínica, os sinais poderem ser discretos ou pouco específicos, implicando na complexidade para o diagnóstico e em consequência a notificação de casos (BRASIL, 2006a). 29 A Figura 4 apresenta o número de casos de Sífilis Congênita (72 casos) notificados no período de Janeiro de 2017 a 11 de Outubro de 2018, nos municípios pertencentes a 5° Regional de Saúde do Paraná, sendo assim, podemos evidenciar que aproximadamente 38% dos casos evoluíram à Sífilis Congênita. Figura 4: Distribuição de casos de Sífilis Congênita entre janeiro de 2017 e 11 de outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava Fonte: Elaborada pela autora Do total de casos notificados com Sífilis Congênita neste estudo, em torno de 95% dos casos realizou pré-natal e quanto aos parceiros, cerca de 80% realizaram tratamento. Tais percentuais sugerem que houve adesão das gestantes assim como dos parceiros indicando que houve tratamento assim como diagnóstico adequado. No entanto, o cenário observado não reflete os dados notificados, subentendendo-se que houve falhas durante o pré-natal assim como assistência à gestante. Vale ressaltar também que, apesar da doença ser de notificação compulsória pode ter muitos casos que não foram notificados acarretando em alerta sobre subnotificações conforme estudo de Silva (2014), como ocorreu na cidade de Fortaleza onde foram notificados mais casos de sífilis congênita do que de sífilis em gestante no período de 2005 a 2009. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 2017 2018 N Ú M E R O D E C A S O S P O R A N O 30 A transmissão da Sífilis pode ocorrer em qualquer fase da gestação e em qualquer estágio da doença, sendo possível também a transmissão direta no canal do parto. Ocorrendo a transmissão congênita, cerca de 40% dos casos pode evoluir para natimorto, aborto espontâneo óbito perinatal (BRASIL, 2006a). Na Tabela 1 demonstra-se diagnóstico final de investigação de Sífilis Congênita, no presente estudo. Tabela 1: Diagnóstico final de Investigação de Casos de Sífilis Congênita no período de Janeiro de 2017 a 11 de Outubro de 2018 na 5ª Regional de Guarapuava Variável Número de Casos Porcentagem Ignorado 1 1,4 Sífilis Congênita Recente 16 22,2 Descartado 54 75 Natimorto 1 1,4 Total 72 100 Fonte: Elaborada pela autora (2018). Analisando a tabela, podemos perceber que maioria dos casos (75%) é dada como “descartado”. Segundo o dicionário do SINAN, o termo descartado refere-se aos registros que não estão de acordo com os critérios estabelecidos, gerando uma janela de alerta, o qual o caso não preenche os critérios de definição de sífilis congênita, sugerindo uma falha no sistema de notificação. Grande importância deve ser dada à informação e aconselhamento farmacêutico para que se aumentem a percepção de riscos, estimulem mudanças no comportamento sexual e adoção de medidas preventivas. O aconselhamento farmacêutico é uma ferramenta que pode ser utilizada, já que compreende um processo individualizado de escuta ativa e centrado no paciente visando à orientação sobre aspectos de cuidados da saúde e uso racional de medicamentos. Quando relacionado às gestantes, o papel do farmacêutico deve ser de muito cuidado, já que pode haver transmissão à criança. Deve-se ouvir com atenção todas as queixas do paciente, relatar métodos preventivos, falar da importância do diagnóstico eficaz especialmente no caso de gestantes além da necessidade do tratamento dos possíveis parceiros colocando-se a disposição para futuro seguimento farmacoterapêutico. Quando o tratamento já estiver em andamento e o paciente estiver com a prescrição em mãos deve-se ouvir o que o médico lhe disse sobre o tratamento para haver um direcionamento das orientações, esclarecimento de dúvidas quanto o nome, dose, horário, via de administração e 31 duração do tratamento, falar sobre a importância do tratamento correto e das complicações quando o tratamento é realizado incorretamente, investigar na gestante e lactante história de alergia a medicamentos, relatar possíveis interações medicamentosas, efeitos colaterais e efeitos adversos, orientar sobre o tratamento de parceiros, reforçar o retorno ao serviço de saúde quando não houver melhora ou surgir demais sintomas (NAVES; MERCHAN- HAMANN; SILVER, 2005). No campo relacionado ao tratamento dos pacientes com ISTs um dos pontos mais importantes do sistema de saúde com os usuários é o momento da dispensação do medicamento. Esse encontro permite ao farmacêutico não apenas a orientação ou repasse de informações ao usuário, mas que seja um processo de troca, a convicção de sua importância valoriza o papel do farmacêutico na composição da multidisciplinaridade que caracteriza a resposta nacional à epidemia (BRASIL, 2010). Por fim, a interação do farmacêutico e o paciente através de aconselhamento e orientações farmacoterapêuticas garantirá uma farmacoterapia adequada trazendo muitos benefícios ao paciente além de uma melhora na confiança no farmacêutico através de seus serviços prestados. 32 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos através deste estudo que apesar da doença ser de fácil diagnóstico e terapia de baixo custo, existe um grande número de casos, principalmente em gestantes, tendendo-se a aumentar conforme previamente observado entre os anos de 2017-2018 corroborando para um aumento significativo da Sífilis Congênita e assim tornando um desafio a ser superado pelos profissionais da saúde. Destaca-se a dificuldade de abordagem da sífilis e demais ISTs durante o período gestacionalalém do desconhecimento do agravo causado por tais doenças no feto assim como também na saúde da mulher. Além de falhas no sistema de pré-natal, apontando a necessidade de elaborar estratégias que reduziriam tanto a sífilis gestacional como a transmissão vertical. A discussão de casos por meio de capacitação continuada, abordando de forma conjunta com demais profissionais da saúde as formas de prevenção de sífilis assim como possíveis influências no tratamento e orientação adequada além de auxiliar nas notificações compulsórias. Por fim, o farmacêutico pode exercer papel de educador e promotor da saúde, auxiliando assim no manejo da gestante portadora de sífilis associando novas estratégias de prevenção integradas a demais profissionais da saúde ou repensando as antigas estratégias de modo que tais atualizações possam possibilitar a tão desejada assistência pré-natal satisfatória e qualificada. Além de trabalhar na recuperação da saúde através da prática efetiva da Atenção Farmacêutica como alternativa para promover o uso racional de medicamentos e melhorar a qualidade de vida destes pacientes, estimulando-o a participar de forma ativa da farmacoterapia, identificando suas reais necessidades a fim de melhorar sua adesão e comprometimento com o tratamento e consequentemente a transmissão vertical da doença, na busca da erradicação da Sífilis Congênita. 33 REFERÊNCIAS ARAÚJO, C. L.; SHIMIZU, H. E. ; SOUSA, A. I .A.; HAMANN, E. M. Incidência da sífilis congênita no Brasil e sua relação com a Estratégia Saúde da Família. Rev. Saúde Pública, Brasília, v.46, n.3, p.479-486, 2012. AVELLEIRA, J. C. R.; BOTTINO, G. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An Bras Dermatol, Rio de Janeiro, v.81, n.2, p.111-126, 2006. BRASIL. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria de Saúde. Departamento de ações em saúde. Informe Epidemiológico: Edição Especial. Porto Alegre, 2016. 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