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TCC medicina - Sifilis UFRR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
CURSO DE MEDICINA 
 
 
 
 
 
JHONNY FRAGOSO DA SILVA 
 
 
 
 
 
SÍFILIS CONGÊNITA EM RORAIMA: UM ESTUDO DESCRITIVO DO PERÍODO 
DE 2007 A 2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2016
JHONNY FRAGOSO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÍFILIS CONGÊNITA EM RORAIMA: UM ESTUDO DESCRITIVO DO PERÍODO 
DE 2007 A 2015 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Curso de Medicina da Universidade Federal 
de Roraima como parte dos requisitos para 
obtenção do título de bacharel em Medicina. 
Orientadora: Profª Maria Soledade Garcia 
Benedetti 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) 
(Biblioteca Central Maria Auxiliadora de Sousa Melo) 
 
Fragoso, Jhonny Silva. 
Sífilis Congênita em Roraima: um estudo descritivo no período 
de 2007 a 2015– Boa Vista, 2016. 
XX p. 
 
Orientadora: Profª Maria Soledade Garcia Benedetti. 
Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima, 
Bacharel em Medicina. 
 
1 – Sífilis congênita. 2 – Incidência. 3 -Roraima 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
JHONNY FRAGOSO DA SILVA 
 
 
SÍFILIS CONGÊNITA EM RORAIMA: ESTUDO DESCRITIVO NO PERÍODO DE 2007 
A 2015 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-requisito para 
obtenção do grau de bacharel em Medicina da 
Universidade Federal de Roraima. 
 
 
 
 _________________________________________________________ 
Profª Esp. Maria Soledade Garcia Benedetti 
Orientadora / Profª. Efetiva / Curso de Medicina – UFRR 
 
 _____________________________________________________________ 
Prof
a
 Msc. Cynthia Dantas de Macedo de Macedo 
Curso de Medicina – UFRR 
 
 _______________________________________________________________ 
Prof. Esp. Roberto Carlos Carbonell 
Curso de Medicina – UFRR 
 
 
RESUMO 
 
Descrever a ocorrência e o perfil epidemiológico dos casos notificados de sífilis congênita 
(SC) no estado de Roraima no período de 2007 a 2015. Trata-se de um estudo descritivo do 
tipo seccional, realizado no estado de Roraima. A população de estudo constitui-se de todos 
os casos de SC notificados no Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan) 
ocorridos em mães residentes em Roraima no período de 2007 a 2015. Entre os anos de 2007 
e 2015 foram notificados 252 casos de SC, do quais 97,6% corresponderam aos nascidos 
vivos (246/252) e 3,4%, natimortos (6). Durante este período não foi notificado nenhum caso 
de aborto ou de sífilis tardia na criança. A taxa de incidência de SC variou de 2,4 casos por 
1.000 nascidos vivos em 2007 para 1,2, em 2015, sendo a maior taxa encontrada por 
município em Iracema, 13,6 por 1.000 nascidos vivos. Entre as características maternas 
prevaleceu o número de mães com idade entre 20 e 34 anos (62,7%), com ensino fundamental 
incompleto (42%) e de cor parda (83,7%). Quanto ao pré-natal, diagnóstico e tratamento, a 
maioria das mães realizou o pré-natal (83,3%), porém só foram diagnosticadas no momento 
do parto/curetagem (48%), além de serem submetidas a tratamento inadequado (88,1%) e sem 
o tratamento do parceiro (84,1%). Quanto às crianças infectadas, 56,6% receberam tratamento 
com penicilina cristalina por 10 dias, não realizaram radiografia de ossos longos (50,4%), não 
foram submetidas à punção lombar para a realização do VDRL no líquor (84,1%) após o 
nascimento e tiveram informação ignorada quanto à realização do teste treponêmico após os 
18 meses de vida (58,7%), sendo submetidos, apenas, ao VDRL de sangue periférico (90,1%). 
Em Roraima, apesar das subnotificações, ainda é perceptível o impacto que a SC representa 
vinculado à possibilidade da baixa qualidade de assistência ao pré-natal, o que demanda 
melhor preparo dos profissionais para identificar e tratar precocemente a infecção por sífilis, 
interrompendo sua transmissão. 
Palavras-chave: Sífilis congênita. Incidência. Roraima. 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Tabela 1 - Algoritmo para condutas frente à sífilis congênita e gestante com 
sífilis.......................................................................................................... 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Distribuição dos casos de sífilis congênita de Roraima e taxa de 
incidência (por 1.000 nascidos vivos) de Roraima e Brasil, 2007 a 
2015................................................................................................ 20 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Estágios da Sífilis Adquirida..................................................................... 19 
Tabela 2 - Distribuição do número de casos de sífilis congênita e taxa de 
incidência por município de residência da mãe e ano no estado de 
Roraima, 2007 a 2015.............................................................................. 35 
Tabela 3 - Distribuição das características maternas dos casos notificados de sífilis 
congênita no estado de Roraima, 2007 e 2015..................................... 36 
Tabela 4 - Distribuição das características da assistência ao pré-natal dos casos 
notificados de sífilis congênita no estado de Roraima, 2007 e 
2015........................................................................................................... 37 
Tabela 5 - Distribuição das características dos casos notificados de sífilis 
congênita no estado de Roraima, 2007 a 2015..................................... 38 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
APN Assistência pré-natal 
ELISA Ensaio imunossorvente ligado à enzima (do inglês enzyme-
linkedimmunosorbentassay) 
FTA-Abs Teste de anticorpos treponêmicos com absorção (do inglês 
fluorescenttreponemalantibodyabsorptiontest) 
HIV 
IgG 
Vírus da imunodeficiência humana 
Imunoglobulina da classe G 
IgM Imunoglobulina da classe M 
IST Infecções Sexualmente Transmissíveis 
LCR Líquido cefalorraquidiano 
MHA-TP Ensaio de micro-hemaglutinção (do inglês micro-
haemagglutinationassay) 
MS Ministério da Saúde 
OMS Organização Mundial de Saúde 
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde 
PPA Plano Plurianual 
RN Recém-nascido 
RPR Teste de reaginina plasmática rápida (do inglês rapidplasmaticreagin) 
RST Prova de detecção de reaginas (do inglês reaginscreentest) 
SINAN Sistema Nacional de Vigilância de Agravos de Notificação 
SINASC 
SA 
SC 
Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos 
Sífilis adquirida 
Sífilis congênita 
SG 
SVS 
Sífilis gestacional 
Secretaria de Vigilância em Saúde 
TPHA Ensaio de hemaglutinação para Treponema pallidum (do inglês T. 
pallidum haemagglutinationtest) 
TRUST 
UNICEF 
ToluidineRedUnheatedSerum Test 
Fundo das Nações Unidas para a Infância 
VDRL VenerealDiseaseResearchLaboratory 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 13 
2.1 – HISTÓRIA DA SÍFILIS .............................................................................................................. 13 
2.2 – ETIOLOGIA, VIAS DE TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE ................................................... 14 
2.3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA SÍFILIS............................................................................. 17 
2.3.1 Manifestações clínicas da sífilis adquirida ............................................................................... 17 
 Sífilis primária ............................................................................................................................... 17 
 Sífilis secundária ...........................................................................................................................17 
 Sífilis latente .................................................................................................................................. 18 
 Sífilis terciária ............................................................................................................................... 19 
2.3.2 Manifestações clínicas da sífilis congênita................................................................................ 20 
2.4 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................. 21 
2.4.1 Provas diretas ............................................................................................................................. 23 
2.4.2 Provas sorológicas ...................................................................................................................... 23 
2.4.2.1 Testes treponêmicos (TPHA, FTA-Abs, EQL, ELISA ou testes rápidos) ................................ 24 
2.4.2.2 Testes não treponêmicos (VDRL, RPR ou TRUST) ................................................................. 25 
2.5 TRATAMENTO ............................................................................................................................. 27 
2.6 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................... 29 
3 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 31 
3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 31 
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................................... 31 
4 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 32 
4.1 DELINEAMENTO E POPULAÇÃO ALVO ................................................................................. 32 
4.2 VARIÁVEIS E ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................... 32 
5 RESULTADOS ................................................................................................................................. 34 
6 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 40 
7 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 49 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 50 
 
 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
As infecções sexualmente transmissíveis – IST – se encontram entre as 
principais causas de doenças no mundo, com consequências econômicas, sociais e 
sanitárias de grande repercussão (GALATOIRE; ROSSO; SAKAE, 2012), constituindo-
se assim como uma grande preocupação mundial, devido ao alarmante número de 
pessoas infectadas a cada ano. Estima-se aproximadamente 12 milhões de novos casos 
por ano de pessoas infectadas com alguma doença relacionada ao sexo, dentre as quais a 
sífilis tem grande representatividade (FILGUERÓ-FILHO et al., 2012; PIRES et al., 
2013). 
A sífilis é uma doença antiga, conhecida há mais de 500 anos. Tem como agente 
etiológico a bactéria denominada Treponema pallidum, que foi descoberto e identificado 
em 1905 por Schaudinn e Hoffmann e desde então tem sido estudada em várias partes 
do mundo (KOMKA; LAGO, 2007; SOUZA, 2005). 
O mecanismo de transmissão ocorre por contato direto com as lesões, através 
pequenas escoriações causadas por relações sexuais, verticalmente durante a gestação 
ou por meio de transfusões de sangue, tatuagens ou de contato com material 
contaminado contendo o microrganismo - este último bastante incomum hoje 
(AVELLEIRA; BOTINO, 2006). 
A taxa de transmissão vertical é elevada, sendo estimada em 70% a 100% na 
fase primária, 90% na fase secundária e 30% nas fases subsequentes, podendo ocorrer 
em qualquer fase, tanto da infecção quanto da gestação (ALMEIDA; PEREIRA, 2007). 
Os fetos de gestantes com sífilis não tratada serão infectados em 70 a 100% dos 
casos, podendo evoluir com parto prematuro, aborto ou natimorto em 40% das 
gestações. Os recém-nascidos (RN) com sífilis congênita (SC) podem evoluir, se não 
tratados, para um quadro de SC tardia caracterizado, dentre outros sinais e sintomas, por 
surdez e dificuldades no aprendizado, promovendo limitações por toda a vida. 
Paradoxalmente, se a sífilis gestacional (SG) é adequadamente tratada apenas 1 a 2% 
dos RN nascerão com SC (NORWITZ, 2012; ZUGAIB, 2008). Daí a importância de se 
obter o diagnóstico precoce por meio da assistência pré-natal (APN) para que seja 
instituído tratamento em tempo hábil, eliminando, assim, a possibilidade de transmissão 
para o concepto. 
Embora, a prevalência da sífilis tenha diminuído na década de 1940, com a 
 
11 
 
descoberta da penicilina, a partir da década de 1960 e, de maneira mais acentuada, na 
década de 80, tem-se observado uma tendência mundial no seu recrudescimento na 
população em geral e, de forma particular, dos casos de SC (ALMEIDA; PEREIRA, 
2007; LIMA, 2002; XIMENES et al., 2008). 
No Brasil, o Sistema de Vigilância Epidemiológica e de Notificação 
Compulsória de Doenças foi criado em 1976, através do Decreto Presidencial nº 78.231 
(BRASIL, 1976). A SC é doença de notificação compulsória nacional desde o ano de 
1986 (BRASIL, 1986); contudo a SG passou a integrar o Sistema Nacional de 
Vigilância de Agravos de Notificação (Sinan) somente em 2005 (BRASIL, 2005). Em 
2014, foi publicada a Portaria nº 1.271, que passa a incluir também a notificação da 
sífilis adquirida (SA) (BRASIL, 2014). 
A eliminação da SC e da transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência 
Humana (HIV) constitui uma prioridade para a região da América Latina e do Caribe. O 
documento “Estratégia e Plano de Ação para a Eliminação da Transmissão Vertical do 
HIV e da SC”, de 2010, reafirma o compromisso dos países das Américas para eliminar 
a transmissão vertical dos dois agravos até 2015. Esse compromisso está em 
conformidade com as metas estabelecidas pela “Iniciativa de Eliminação” da 
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do Fundo das Nações Unidas para a 
infância (UNICEF), quais sejam: a redução da taxa de transmissão vertical do HIV para 
menos de 2% e da incidência de SC para menos de 0,5 casos por 1.000 nascidos vivos 
até 2015 (BRASIL, 2015). 
No ano de 2011, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Rede Cegonha no 
Sistema Único de Saúde – SUS, que visa assegurar à mulher uma rede de cuidados a 
saber: planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao 
puerpério e a criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao 
desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011). Entre as ações do componente pré-natal 
da Rede Cegonha se encontram a prevenção e tratamento das IST, HIV/Aids e hepatites 
virais, com disponibilização de testes rápidos de sífilis e HIV pelo MS. Com a expansão 
do diagnóstico por meio de testes rápidos de HIV e sífilis e da Rede Cegonha, observou-
se elevação na taxa de detecção de sífilis em gestantes, decorrente da melhoria do 
diagnóstico e da vigilância epidemiológica (BRASIL, 2012). 
Diante da realidade nacional e em consonância com o contexto global, a política 
de prevenção da morbimortalidade materno-infantil do Pacto pela Saúde do MS incluiu 
metas de redução da transmissão vertical do HIV e da sífilis contidas no Plano 
 
12 
 
Plurianual (PPA) 2012-2015 aprovado pelo Congresso Nacional. Por isso, uma das 
prioridades descritas na Agenda Estratégica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) 
do MS é a eliminação da SC como problemade saúde pública até 2015 (BRASIL, 
2015). 
A SC ainda se apresenta com frequência razoável no panorama das causas 
básicas de óbitos infantis, sobretudo entre as perdas fetais. Em 40% das mulheres 
grávidas com sífilis não tratada, primária ou secundária ocorre a perda fetal 
(SARACENI et al., 2005). 
 
 
 
 
13 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
2.1 – HISTÓRIA DA SÍFILIS 
 
Várias são as teorias para explicar a origem da sífilis. Segundo a “Teoria 
Colombiana”, a doença seria originária do Novo Mundo, trazida para o Velho Mundo 
por marinheiros, durante as expedições de Cristovão Colombo. Outra teoria, a Pré-
Colombiana, sugere que a sífilis já existiria na Europa, antes de 1942, sendo 
diagnosticada erroneamente como hanseníase – alguns relatos dos séculos XIII e XIV 
descrevem uma forma de hanseníase de transmissão congênita e sexual. Outra teoria, a 
unitária, propõe a existência de uma única doença, cujo agente etiológico teria sofrido 
mutações quando exposto a diferentes condições ambientais e socioeconômicas. 
Contrariamente, segundo a teoria não unitária, o Treponema pallidum teria sofrido 
quatro mutações ao longo dos últimos 10.000 anos, sendo que a última, ocorrida no 
final do século XV, deu origem à forma mais virulenta da bactéria: a responsável pela 
sífilis. Uma teoria alternativa propõe que a sífilis tenha surgido na África, como 
treponematose endêmica, originária de macacos, trazida para Europa por exploradores 
portugueses (VERONESSI, 2009). 
A denominação sífilis surgiu a partir de um poema de Girolamo Fracastoro, 
intitulado Syphilis sive morbus gallicus (Sífilis ou mal Gálico), escrito em 1530. O 
poeta descreve um rico e bonito pastor, “Syphillus”, que adquiriu doença repulsiva 
como pena por ter blasfemado contra o Deus Sol. No poema, a enfermidade é chamada 
de sífilis (VERONESSI, 2009). 
Em 1905, Fritz Shaudinn, zoólogo e diretor do Laboratório de Protozoários do 
Serviço de Saúde de Berlim, Alemanha, foi procurar o que na época acreditava-se ser 
um protozoário, em uma amostra de uma papila sifílica obtida pela dermatologista Paul 
Erich Hoffman, porém acabou identificando uma bactéria, inicialmente denominada 
Spirochaetta pallida, pela sua pouca afinidade por corantes. Cerca de sete meses após a 
descoberta, Shaudinn e Hoffman, passaram a chamá-la de Treponema pallidum 
(GRIEBELER, 2009; SOUZA, 2005). 
O surgimento da sífilis no Brasil ainda acarreta discussões, mas sua origem 
está associada à época da colonização, com a presença dos europeus, navios negreiros 
africanos e os índios nativos. Inevitavelmente, a transformação social que instaurava um 
 
14 
 
novo cenário na colônia, trocava não apenas culturas, mas também doenças. A 
colonização, com o seu período de intensa miscigenação, provocaria a disseminação de 
inúmeras doenças aos demais povos (GRIEBELER, 2009). 
A teoria mais aceita sobre a origem da sífilis no país é a de que a sífilis teria 
sido levada da América do Norte para a Europa nas embarcações de Colombo, e, através 
dos portugueses, teria ocorrido a disseminação pela América do Sul, contaminando os 
nativos do Brasil (GRIEBELER, 2009). 
No início do século XX, quando os estudos de medicina se voltavam para 
mudanças comportamentais como cuidados com a higiene, saúde coletiva e melhoria da 
infraestrutura das grandes cidades para melhor qualidade de vida e controle de doenças 
na população, surgiram as primeiras pesquisas e relatórios sobre doenças venéreas no 
Brasil. Essas ações foram possíveis graças à criação do Departamento Nacional de 
Saúde Pública por Carlos Chagas, na década de 20. Por meio do Regulamento Sanitário 
de 1920, instituído por esse departamento, previa-se o planejamento e expansão das 
campanhas da luta antivenérea, assim como o tratamento profilático gratuito e a criação 
da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas, primeiro órgão nacional 
destinado a campanhas contra Hanseníase e Sífilis (GRIEBELER, 2009). 
Em 1912, foi criada, no Rio de Janeiro, a primeira sociedade médico-científico 
nacional intitulada Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia (GRIEBELER, 
2009). No ano de 1928, o inglês Alexandre Fleming revelou a descoberta da penicilina 
(penicillium notatum), com a cura da sífilis, revolucionando o tratamento da doença 
(CARRARA, 1996). 
 
2.2 – ETIOLOGIA, VIAS DE TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE 
 
A sífilis é uma infecção bacteriana de caráter sistêmico, curável e exclusiva do 
ser humano. É causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria Gram-negativa do grupo 
das espiroquetas (BRASIL, 2015). Os treponemas penetram na mucosa através de 
pequenas erosões ocorridas durante o coito, porém a presença de processo inflamatório 
do colo uterino facilita a penetração das bactérias. Pode também ser transmitida por via 
transplacentária e em casos mais raros, através de acidentes com pérfuro-cortantes e 
tatuagens (AVALLEIRA; BOTTINO, 2016). 
O Treponema pallidum é um membro da ordem Spirochaetales, família 
 
15 
 
Spirochaetaceae e gênero Treponema, que inclui quatro patógenos humanos e pelo 
menos seis não patógenos para humanos. Dentre as espécies patogênicas encontram-se: 
pallidum subsp. pallidum, que causa a sífilis venérea, T. pallidum subsp. endemicum, 
que causa a sífilis endêmica (bejel), T. pallidum subsp. pertenue, causador da doença 
tropical Bouba, e T. carateum , que é o agente etiológico da Pinta. Estudos iniciais 
indicaram que estes quatro agentes foram morfologicamente indistinguíveis, com 
homologia no DNA acima de 95% (SAMJS; NORRIS; WEINSTOCK, 2011; 
GIANCANI; LUKEHART, 2014). 
Esse micro-organismo tem forma de espiral (10 a 20 voltas), com cerca de 5-20 
nm de comprimento e apenas 0,1 a 0,2 μm de espessura, não possui membrana celular e 
é protegido por um envelope externo com três camadas ricas em moléculas de ácido N-
acetilmurâmico e N-acetilglicosamina, características que o fazem sensível à penicilina. 
Apresenta flagelos que se iniciam na extremidade distal da bactéria e encontram-se 
junto à camada externa ao longo do eixo longitudinal, movendo-se por rotação do corpo 
em volta desses filamentos. Não resiste ao calor nem ao frio (AVALLEIRA; BOTTINO, 
2016). 
A doença é classificada, de acordo com suas diferentes vias de transmissão, em 
sífilis adquirida, que inclui a sífilis gestacional e sífilis congênita (AVALLEIRA, 
BOTTINO; 2016). 
Na sífilis adquirida o treponema penetra na pele através das mucosas, 
principalmente quando houver soluções de continuidade, pequenas erosões ocorridas 
durante o coito. Atinge a corrente sanguínea e os vasos linfáticos, disseminando-se 
rapidamente. O período de incubação varia de 10 a 90 dias, média de três semanas 
(VERONESSI, 2009). 
O número mínimo de treponemas necessários para estabelecer a infecção é 
desconhecido, mas pode ser tão baixo quanto um. A multiplicação do organismo é lenta, 
com um tempo de divisão de 30 a 33 horas. Provavelmente, o lento crescimento dos 
treponemas em humanos reflete, em parte, a natureza prolongada da doença e o período 
de incubação relativamente longo (CECIL, 2014). 
Quando a bactéria penetra a pele humana lesada ou as mucosas, ocorre 
quimiotaxia de neutrófilos no local do inóculo e surge o cancro. Esta é a primeira fase 
da doença. Não tratados, esses neutrófilos são substituídos por linfócitos que secretam 
linfocinas, atraem e ativam macrófagos. Na presença de anticorpos, esses macrófagos 
ingerem e destroem os organismos. É uma resposta celular tipo TH1 (LOPES, 2009). 
 
16 
 
Logo após o início do cancro podem ser encontrados anticorpos contra o 
Treponema pallidum. Há produção de imunoglobulinas M e G (IgM e IgG) e a 
combinação dos dois tipos de resposta imune faz com que, aparentemente, desapareça o 
cancro. No entanto, existe uma resistência das bactérias a esse ataque imunológico; 
provavelmente eles se alojam nos locais que os protegem da detecção pelo sistema 
imune,como sistema nervoso central (SNC), aorta, ossos, linfonodos e olhos 
(HARRISON, 2013). 
Algumas semanas mais tarde, a bactérias se proliferam e inicia o período 
secundário da doença. Os níveis de anticorpos chegam ao máximo em decorrência do 
enorme número de treponemas no organismo e modificam as lesões cutâneas do período 
secundário, que são de diversos tipos (LOPES, 2009). 
Passadas semanas ou meses, as lesões podem desaparecer e surge um período de 
latência, no qual há melhora da imunidade celular. Tem-se então, o estágio terciário, no 
qual a característica é a formação de granulomas. Os treponemas dificilmente são 
detectados nas lesões desse período (CECIL, 2014). 
 
 
17 
 
2.3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA SÍFILIS 
 
2.3.1 Manifestações clínicas da sífilis adquirida 
 
 Sífilis primária 
 
A lesão clássica da sífilis primária, o cancro, uma úlcera, única, indolor, 
endurecida com uma base limpa e acompanhada por linfadenopatia regional satélite em 
80% dos casos, no entanto, existe uma variabilidade significativa na apresentação 
morfológica, tornando-se necessário fazer diagnóstico diferencial. A clássica 
combinação de uma lesão indolor, ulcerada com uma base limpa tem uma sensibilidade 
de apenas 31%, mas uma especificidade de 98%. O endurecimento é o único sinal mais 
específico, ocorrendo em 47 a 92% dos pacientes. O tamanho do cancro varia de 0,3 a 
3,0 cm, geralmente, há uma borda fortemente demarcada, embora as lesões com bordas 
indeterminadas tenham sido descritas. Apesar de o quadro álgico ser incomum, 36% dos 
pacientes apresentam sensibilidade à palpação. O período de incubação varia de 3 a 90 
dias (WATTS; GREENBERG; KHACHEMOUNE, 2016). 
A lesão ulcerada inicial da sífilis primária localiza-se no ponto de inóculo, nos 
homens, o local mais comumente afetado é o pênis, mais especificamente o sulco e a 
glande coronal. Cancros anorretais são comuns em homens homossexuais. Nas 
mulheres, os locais mais comuns das lesões, em ordem decrescente de frequência, são 
os grandes lábios, pequenos lábios e períneo (MATTEI et al., 2012). 
 
 Sífilis secundária 
 
Não há nenhuma demarcação nítida entre sífilis primária e secundária. Um 
cancro primário ainda pode estar presente em até um terço dos pacientes com sífilis 
secundária. A sífilis secundária é muitas vezes uma doença sutil, as lesões de pele 
podem passar despercebidas, podendo mimetizar outras doenças dermatológicas, sendo 
por isso a sífilis conhecida como a grande imitadora (FURLAN et al., 2010). A 
aparência da erupção da pele varia de macular a maculopapular, folicular, e 
ocasionalmente pustulosa. Elas tendem a ser universalmente distribuídas e as palmas 
das mãos e plantas dos pés são comumente mais envolvidas. Embora as lesões sejam 
 
18 
 
geralmente descritas como não pruriginosas, os pacientes podem experimentar algum 
grau de prurido. Em pacientes não tratados, as lesões apresentam melhora espontânea 
podendo apresentar cicatrizes hiper ou hipopigmentadas, embora a maioria não 
apresente qualquer cicatriz. A alopecia clássica da sífilis secundária é irregular e tem 
sido relatada em até 7% dos pacientes (NORONHA et al., 2006; MARQUES et al., 
2009). 
Os sintomas sistêmicos associados à sífilis secundária podem variar de ligeiro 
mal-estar a prostração e caquexia. Normalmente, os sintomas são leves. Eles podem 
iniciar tão cedo quanto uma semana após o cancro primário. Cefaléia pode está presente 
em até um terço dos pacientes e geralmente febre de baixo grau, raramente superior a 
37°C. A meningite assintomática ocorre em 8 a 40% dos pacientes. Os sintomas 
gastrointestinais são inespecíficos e incluem anorexia, náuseas, e ocasionalmente 
vômitos. A adenopatia indolor está presente em 70 a 85% dos pacientes (PEELING; 
HOOK, 2006). 
Embora sejam pouco frequentes, as dores ósseas e articulares têm sido relatadas 
em aproximadamente 12% dos pacientes com sífilis secundária, osteíte e artrite 
raramente são descritas. As complicações oculares da sífilis podem envolver 
praticamente qualquer processo inflamatório incluindo episclerite, esclerite, ceratite 
intersticial, iridociclite, vitritis, uveíte posterior, o envolvimento do nervo óptico e 
anormalidades pupilares. Juntamente com os outros sintomas da sífilis secundária, o 
paciente pode apresentar zumbido bilateral e surdez. A surdez neurossensorial é 
encontrada em até 17% dos casos de sífilis precoce (PEELING; HOOK, 2006). 
 
 Sífilis latente 
 
O estágio latente ou assintomático da sífilis é definido como o período de 
desaparecimento das manifestações secundárias até a ocorrência da cura terapêutica ou 
o desenvolvimento de manifestações. A sífilis latente é arbitrariamente dividida em 
sífilis precoce e tardia com base no tempo da remissão espontânea das infecções muco-
cutâneas dos pacientes não tratados. Cerca de 90% das primeiras recaídas ocorrem 
dentro de um ano, 94% ocorrem dentro de dois anos, e o resto pode ocorrer ao longo de 
quatro anos. Sífilis latente precoce é, portanto, definida como ocorrendo dentro de um 
ano de infecção, e sífilis latente tardia é definido como ocorrendo após um ano. O 
paciente com sífilis latente precoce é considerado infeccioso devido ao risco de 25% de 
 
19 
 
recidiva para sífilis secundária (MATTEI et al., 2012). 
Os estágios da sífilis adquirida estão resumidamente apresentados na Tabela 1. 
 
Tabela 1 – Estágios da Sífilis Adquirida 
Estágios da 
Sífilis 
Período de 
Incubação 
Sintomas Comentários 
Sífilis Inicial 
(Ocorre dentro de 
um ano de infecção) 
 
Primária 2-4 dias após a 
exposição 
Cancro indolor geralmente na genitália. 
Pode ocorrer também no períneo, ânus, 
reto, lábios, orofaringe e mãos, contudo 
pode ser assintomático 
O cancro desaparece 
espontaneamente, contudo é 
nessa fase que ocorre a 
disseminação generalizada da 
bactéria 
Secundária 2-8 semanas após o 
desaparecimento do 
cancro 
Inúmeras manifestações sistêmicas, 
incluindo erupção cutânea, febre, dor 
de cabeça, faringite e linfadenopatia, 
contudo pode ser assintomático 
A erupção cutânea normalmente 
é maculopapular, acometendo 
princalmente palma das mãos e 
plantas dos pés. 
Latente precoce Nenhum O diagnóstico requer (no ano 
anterior) soroconversão 
documentada ou aumento ≥4 
vezes no título não treponêmico; 
soroconversão documentada de 
um teste treponêmico, exposição 
sexual a uma pessoa com sífilis 
inicial ou contato sexual dentro 
dos últimos 12 meses 
Terciária Ocorre depois de um 
ano até décadas depois 
da infecção primária 
Envolvimento cardiovascular; Lesões 
granulomatosas em pele, ossos e 
órgãos 
A doença cardiovascular 
geralmente ocorre devido a 
vasculite de pequenos vasos ao 
redor da aorta torácica 
ascendente. 
Sífilis latente Infecção assintomática com 
exames físicos normais 
associados a achados sorológicos 
Latente Tardia Nenhum Casos que não são enquadrados 
nos critérios de sífilis latente 
precoce ou nos quais o tempo de 
infecção é desconhecido. 
Neurossífilis Infecção do Sistema Nervoso 
Central pelo T. pallidum 
Neurossífilis precoce Ocorre dentro do 
primeiro ano de 
infecção 
Geralmente envolve as meninges e a 
vasculatura do SNC. Meningite. 
Doença meningovascular. Acidente 
vascular 
Pode ocorrer simultaneamente 
com os sintomas da sífilis 
primária ou secundária. 
Neurossífilis Tardia Ocorre após o primeiro 
ano de infecção ou 
décadas depois. 
Geralmente envolve o cérebro, e a 
medula espinhal. Paresia geral. 
Demência. Tabes dorsalis. 
Atualmente pouco comum 
Fonte: Adaptado de CLEMENT, OKEKE, HICKS; 2014. 
 
 Sífilis terciária 
 
Ocorre aproximadamente em 30% das infecções não tratadas, após um longo 
período de latência, podendo surgir entre dois e 40 anos depois do início da infecção. A 
sífilis terciária é considerada rara, devido ao fato de que a maioria da população recebe 
indiretamente, ao longo da vida,antibiótico com ação sobre o Treponema pallidum e 
que levam à cura da infecção. Quando presente, a sífilis nesse estágio manifesta-se na 
forma de inflamação e destruição tecidual. É comum o acometimento do sistema 
 
20 
 
nervoso e cardiovascular. Além disso, verifica-se a formação de gomas sifílicas 
(tumorações com tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. 
As lesões causam desfiguração e incapacidade, podendo ser fatais (BRASIL, 2015). 
 
 Neurossífilis 
 
Acomete o SNC, o que pode ser observado já nas fases iniciais da infecção. Esse 
acometimento precoce, no entanto, ocorre por reação inflamatória da bainha de mielina, 
não havendo destruição anatômica das estruturas neurais. Estatisticamente, ocorre em 
10% a 40% dos pacientes não tratados, na sua maioria de forma assintomática, só 
diagnosticada pela sorologia do líquor, exteriorizando-se clinicamente em apenas 1% a 
2% como meningite asséptica (BRASIL, 2015). 
As sequelas da neurossífilis incluem tabes dorsalis (dor intensa em dermátomo e 
ataxia locomotora), pupilas de Argyll Robertson (abolição do reflexo pupilar à luz, sem 
prejuízo do reflexo de acomodação), paresias, convulsões e demência (ZUGAIB, 2012). 
 
2.3.2 Manifestações clínicas da sífilis congênita 
 
A infecção transplacentária é mais grave do que a adquirida, pelo fato de ser 
maciça. É chamada sífilis congênita recente quando as manifestações clínicas surgem 
antes do segundo ano de vida; depois desse período denomina-se sífilis congênita tardia. 
Ocorre morte perinatal em 40% das crianças infectadas, em geral por insuficiência 
hepática, infecção ou hemorragia pulmonar (AZULAY, 2013). 
A SC é causa de aborto, óbito fetal e morte neonatal em 40% dos conceptos. 
Mais de 50% das crianças infectadas são assintomáticas ao nascimento com 
manifestações clínicas iniciando até o terceiro mês de vida - SC recente (BRASIL, 
2013). Baixo peso ao nascer, desconforto respiratório, irritabilidade, choro débil, 
rinorréia sanguinolenta, linfadenopatia, osteocondrite, hepatoesplenomegalia, anemia, 
icterícia, trombocitopenia e pseudoparalisia (Parrot) são algumas das manifestações 
clínicas que podem ser encontradas. A neurossífilis é observada em 40 a 60% das 
crianças nessa fase (VERONESI, 2009). É válido lembrar que o acometimento neonatal 
pode cursar com lesões em órgãos internos, como pulmão (pneumonia Alba de 
Virchow), fígado (cirrose hipertrófica), baço e pâncreas, além de também cursar com 
 
21 
 
osteocondrite em ossos longos, como o fêmur, a tíbia e o rádio (ZUGAIB, 2012). 
As principais manifestações da sífilis congênita tardia incluem: tíbia em 
“lâmina de sabre”, articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em sela”, dentes 
incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), molares em 
“amora”, mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite intersticial, surdez 
neurológica e dificuldades no aprendizado (BRASIL, 2015). 
 
2.4 DIAGNÓSTICO 
 
Os testes laboratoriais para o diagnóstico da sífilis são divididos em duas 
categorias: provas diretas e provas sorológicas. O diagnóstico da sífilis depende da 
história do indivíduo, dos achados clínicos e da detecção de antígenos ou anticorpos por 
meio de testes laboratoriais, por isso, é necessário considerar a evolução da doença, as 
diferentes fases da infecção e o que cada teste disponível é capaz de detectar, a fim de 
utilizá-los adequadamente. Na sífilis primária e em algumas lesões da fase secundária, o 
diagnóstico poderá ser direto, isto é, feito pela demonstração do treponema. A utilização 
de testes sorológicos poderá ser feita a partir da segunda ou terceira semana após o 
surgimento do cancro, quando os anticorpos começam a ser detectados. O diagnóstico 
da sífilis sempre é realizado em duas etapas: triagem e confirmatória (AVELLEIRA; 
BOTINO, 2006; BRASIL, 2014). 
Com a finalidade de erradicar essa patologia durante a gestação, o Programa de 
Humanização do Pré-Natal e Nascimento do, do MS, preconiza a realização obrigatória 
de três testes de VDRL, sendo dois durante a gravidez: o primeiro na primeira consulta 
e o segundo na trigésima semana. O terceiro VDRL deve ser realizado no momento da 
admissão hospitalar, seja por qualquer intercorrência na gestação ou para assistência ao 
parto ou curetagem pós-aborto (LORENZI; FLAMINGHI; ARTICO, 2009). 
Para o diagnóstico da SC, além da realização dos testes imunológicos, deve-se 
considerar a história clínico-epidemiológica da mãe, o exame físico da criança e os 
resultados dos testes, incluindo os exames radiológicos. Os exames laboratoriais para 
auxiliar o diagnóstico da SC utilizam as mesmas metodologias descritas na sífilis 
adquirida, mas com particularidades de indicação e interpretação, uma vez que os testes 
treponêmicos são de uso limitado no recém-nascido, devido a presença de IgG maternos 
no sangue da criança, sendo indicado apenas após os 18 meses de idade e, nesse caso, 
 
22 
 
deve-se optar, incialmente ao nascimento, por testes não treponêmicos no sangue 
periférico do RN, que só terá significado quando o título encontrado for duas vezes 
maior que o título encontrado na amostra da mãe; o teste não reagente não exclui o 
diagnóstico caso persista a suspeita epidemiológica de ocorrência de sífilis, devendo ser 
repetido com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses, devido a possibilidade de soro conversão 
(BRASIL, 2015). 
Os critérios utilizados pelo MS para a definição de caso da sífilis congênita no 
Brasil são: 
 Primeiro critério: Toda criança, ou aborto, ou natimorto de mãe com evidência 
clínica para sífilis e/ou com sorologia não treponêmica reagente para sífilis com 
qualquer titulação, na ausência de teste confirmatório treponêmico, realizada no 
pré-natal ou no momento do parto ou curetagem, que não tenha sido tratado ou 
tenha recebido tratamento inadequado. 
 Segundo critério: Todo indivíduo com menos de 13 anos de idade com as 
seguintes evidências sorológicas: titulações ascendentes (testes não 
treponêmicos); e/ou testes não treponêmicos após seis meses de idade (exceto 
em situação de seguimento terapêutico); e/ou testes treponêmicos reagentes após 
18 meses de idade; e/ou títulos em teste não treponêmico maiores do que os da 
mãe. Em caso de evidência sorológica apenas, deve ser afastada a possibilidade 
de sífilis adquirida. 
 Terceiro critério: Todo indivíduo com menos de 13 anos de idade, com teste não 
treponêmico reagente e evidência clínica ou liquórica ou radiológica de sífilis 
congênita. 
 Quarto critério: Toda situação de infecção pelo Treponema pallidum em 
placenta ou cordão umbilical e/ou amostra da lesão, biópsia ou necropsia de 
criança, aborto ou natimorto. 
Para a definição do diagnóstico o MS recomenda que sejam realizados os 
seguintes exames: amostra de sangue (hemograma, perfil hepático e eletrólitos); 
avaliação neurológica, incluindo punção liquórica (células, proteínas, testes 
treponêmicos e não treponêmicos); radiografia de ossos longos; avaliação oftalmológica 
e audiológica (BRASIL, 2015). 
 
23 
 
2.4.1 Provas diretas 
 
As provas diretas que consistem na identificação do T. pallidum não são 
métodos de rotina laboratorial, pois grande parte das pessoas com sífilis apresenta-se 
assintomática ou não observam as lesões relacionadas à doença. Têm indicação na sífilis 
primária e secundária em lesões bolhosas, placas mucosas e condilomas, quando os 
microorganismos são muito numerosos. As provas diretas compreendem as técnicas de 
exame em campo escuro, pesquisa direta em material corado e imunofluorescência 
indireta (BRASIL, 2010). 
A adequada coleta do material da lesão, a preparação dessa amostra e a 
observação em campo escuro, permitem visualizar os treponemas móveis. A técnica 
apresenta sensibilidade de 74 a 86%, sendo que a especificidade pode alcançar 97% 
dependendo da experiência do avaliador e a correta execução de todos os procedimentos(BRASIL, 2010). 
Na pesquisa direta em material pode-se utilizar a coloração de Fontana-
Tribondeau, o método de Burri, a coloração de Giemsa e o método de Levaditi. No 
método de Fontana-Tribondeau o material é corado com a adição da prata. A prata por 
impregnação na parede do treponema torna-o visível. No método de Burri utiliza-se a 
tinta da China para corar e finalmente na coloração pelo corante Giemsa o T. pallidum 
cora tenuamente (palidamente), sendo difícil a observação do espiroqueta; e, por fim, o 
método de Levaditi usa-se a prata em cortes histológicos. Todos os métodos de 
coloração são inferiores ao campo escuro (AVELLEIRA; BOTINO, 2006). 
A técnica de imunofluorescência direta, chamado de DFA-TP (diret 
fluorescent-antibody testing for T. pallidum), representa outra forma disponível para a 
identificação do T. pallidum, com sensibilidade (73 a 100%) e especificidade (89 a 
100%) superiores à pesquisa em campo escuro. Ressalta-se que a sensibilidade dessas 
duas técnicas de avaliação microscópica varia de acordo com a adequação da técnica de 
coleta, o tempo de evolução (carga bacteriana) e a condição da lesão, bem como a 
realização ou não de tratamento específico anterior (WHO, 2015). 
 
2.4.2 Provas sorológicas 
 
Para o diagnóstico sorológico da sífilis podem-se utilizar os testes 
 
24 
 
treponêmicos e os não treponêmicos. O T. pallidum no organismo promove o 
desenvolvimento de dois tipos de anticorpos: as reaginas (anticorpos inespecíficos IgM 
e IgG contra cardiolipina), dando origem aos testes não treponêmicos, e anticorpos 
específicos contra o T. pallidum, que originaram os testes treponêmicos (AVELLEIRA; 
BOTINO, 2006; BRASIL, 2014). 
Os testes não treponêmicos (conforme Portaria GM/MS nº 3242, 30 dezembro 
2011) mais comumente utilizados e que possuem a metodologia de floculação são o 
VDRL (do inglês Venereal Disease Research Laboratory), RPR (do inglês, Rapid Test 
Reagin), USR (do inglês Unheated Serum Reagin) e TRUST (do inglês Toluidine Red 
Unheated Serum Test) (BRASIL, 2011). 
Caracterizam-se como testes treponêmicos os seguintes testes (conforme 
Portaria GM/MS nº 3242, 30 dezembros 2011): 
 Testes de Hemaglutinação e aglutinação passiva (T. pallidum 
Haemagglutination test – TPHA; Micro-Haemagglutination Assay for 
T. pallidum – MHATP; T. pallidum Passive Particle Agglutination test 
– TPPA); 
 Ensaio imunológico com revelação quimioluminescente e suas 
derivações – EQI (quimioluminescência); 
 Teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs – Fluorescent 
Treponemal Antibody-absorption); 
 Ensaio imunoenzimático (ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent 
Assay); 
 Western blot – WB; 
 Testes imunocromatográficos - Testes rápidos. 
Para a definição do diagnóstico são necessários exames treponêmicos e não 
treponêmicos, ficando a ordem de realização a critério do serviço de saúde. Entretanto, 
os pacientes deverão iniciar o tratamento com apenas um teste reagente, sem esperar o 
segundo teste (BRASIL, 2010). 
 
2.4.2.1 Testes treponêmicos (TPHA, FTA-Abs, EQL, ELISA ou testes rápidos) 
 
Os testes treponêmicos são qualitativos e definem a presença ou ausência de 
anticorpos na amostra, sendo utilizados para confirmação do diagnóstico, sendo de 
 
25 
 
pouca importância para o monitoramento de respostas à terapia tendo em vista que estes 
testes permanecerão positivos por toda a vida (AVELLEIRA; BOTINO, 2006). 
Deve-se tomar muito cuidado quanto à interpretação dos resultados desses 
testes sorológicos, uma vez que a identificação de um teste não treponêmico negativo e 
um treponêmico positivo é frequentemente uma indicação de doença recente 
previamente tratada, a menos que existam sinais óbvios de infecção primária atual 
(WHO, 2015). 
O teste com FTA veio sofrendo modificações na diluição e melhorando 
sensibilidade e especificidade até chegar ao FTA-Abs. Apresenta rápida execução e 
baixo custo, mas necessita de um microscópio fluorescente. O procedimento é formado 
por duas etapas. Na primeira etapa, o soro do paciente é colocado em contato com o 
substrato antigênico. Se os anticorpos estiverem presentes no soro, estes se ligam ao 
antígeno, formando um complexo antígeno-anticorpo. Na segunda etapa adiciona-se 
uma anti-gamaglobulina humana marcada com isotiocianato de fluoresceína. Se o 
complexo antígeno-anticorpo formou-se na primeira etapa, a anti-gamaglobulina 
marcada fluoresceína adere-se ao mesmo. Poderá ser observada uma reação positiva, 
com fluorescência verde maçã brilhante, através de um microscópio de fluorescência 
(WHO, 2015; AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). 
O TPHA consiste numa hemoaglutinação indireta com eritrócitos 
sensibilizados com antígenos de T. pallidum. Na presença de anticorpos específicos no 
soro as hemácias irão aglutinar-se para formar padrões característicos na placa de 
microhematinação. O ELISA indireto, que utiliza como antígeno extratos de T. 
pallidum, alguns com antígeno recombinante. A maior vantagem destes métodos é sua 
capacidade de processar grandes quantidades de amostras e a leitura objetiva, por ser 
automatizada. O Western-Blot é utilizado por escassos laboratórios e centros de 
referência (WHO, 2015). 
Os testes rápidos são práticos e de fácil execução, com leitura do resultado em, 
no máximo, 30 minutos. Podem ser realizados com amostras de sangue total colhidas 
por punção venosa ou por punção digital (BRASIL, 2015). 
 
2.4.2.2 Testes não treponêmicos (VDRL, RPR ou TRUST) 
 
Os testes não treponêmicos podem ser: qualitativos (rotineiramente utilizados 
 
26 
 
como testes de triagem para determinar se uma amostra é reagente ou não) ou 
quantitativo, utilizados para determinar o título dos anticorpos presentes nas amostras 
que tiveram resultado reagente no teste qualitativo e para o monitoramento da resposta 
ao tratamento (AVELLEIRA; BOTINO, 2006). 
O VDRL é o teste não treponêmico mais utilizado, tendo em vista a sua 
elevada sensibilidade 78 a 100% e a possibilidade de titulação, o que permite o 
acompanhamento sistemático do tratamento. Além da elevada sensibilidade, esse teste 
possui uma técnica simples, rápida e de baixo custo. As principais desvantagens 
referem-se aos possíveis resultados falso-positivos que podem ser observados durante a 
gravidez ou pela ocorrência de reações cruzadas com doenças autoimunes como lúpus 
eritematoso e artrite reumatóide, hanseníase, infecções bacterianas, doenças virais e 
infecções por protozoários, entre outras. Os resultados falso-negativos também podem 
ocorrer e podem ser explicados pelo efeito prozona (BRASIL, 2010; WHO, 2015). 
O efeito prozona trata-se da ausência de reatividade em uma amostra que, 
embora contenha anticorpos não treponêmicos, apresenta resultado não reagente quando 
é testada sem diluir – ou mesmo em baixas diluições. Esse fenômeno decorre da relação 
desproporcional entre as quantidades de antígenos e anticorpos presentes na reação não 
treponêmica, gerando resultados falso-negativos. O fenômeno de prozona é facilmente 
identificado fazendo-se o teste qualitativo com a amostra pura e diluída a 1:8 ou a 1:16 
(BRASIL, 2010). 
O VDRL apresenta uma técnica rápida de microfloculação, na qual utiliza 
antígenos extraídos de tecidos como a cardiolipina, um lípide derivado do coração de 
bovinos. A cardiolipina, quando combinada com lecitina e colesterol, forma 
sorologicamente um antígeno ativo, capaz de detectar anticorpos humorais presentes no 
soro durante a infecção sifilítica (WHO, 2015; AVELLEIRA; BOTINO, 2006). 
A titulação, geralmente, está mais elevada na fase secundária da doença. 
Observa-se redução dos títulos a partir do primeiro ano de evolução da doença, mesmo 
sem tratamento. Havendo o tratamento correto, observa-se a queda dos títulos após 
algumas semanas. A negativação geralmente ocorre entre nove e doze meses, podendo, 
no entanto, permanecer com títulos baixos por longos períodos de tempo, ou atépor 
toda a vida; é o que se denomina “memória” ou “cicatriz” sorológica. Assim, títulos 
baixos podem representar doença muito recente ou muito antiga, tratada ou não (WHO, 
2015). 
 
 
27 
 
 
2.5 TRATAMENTO 
 
O tratamento da sífilis depende do estágio de apresentação clínica, sendo o 
mesmo para o período gestacional e não gestacional. O fármaco de escolha é a 
penicilina benzatina, que age interferindo na síntese do peptidoglicano, componente da 
parede celular do Treponema pallidum, além de ser capaz de atravessar a barreira 
placentária e manter uma concentração sérica por tempo superior ao da reprodução da 
bactéria (BRASIL, 2010; AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). 
A concentração sanguínea eficaz é de 0,03μ/cm
3
 e deverá ser mantida por 
maior tempo que o da divisão do treponema. Portanto, a escolha recai sobre a penicilina 
benzatina (AVELLEIRA, 2006). Segundo normas do MS, para tratamento da sífilis 
primária, secundária e latente recente indica-se penicilina benzatina 2,4 milhões 
Unidades Internacionais (UI), intramuscular, em dose única (1,2 milhão UI em cada 
glúteo). Já na sífilis latente tardia ou latente com duração ignorada e sífilis terciária 
tardia a indicação é de penicilina benzatina 2,4 milhões UI, intramuscular, semanal, 
durante três semanas, totalizando 7,2 milhões UI (BRASIL, 2015). 
A alergia à penicilina na população geral e nas gestantes é um evento raro, 
correspondendo a 0,002%, segundo levantamento das evidências científicas constantes 
no relatório de recomendação da incorporação da penicilina na prevenção da sífilis 
congênita. Nos casos de alergia à penicilina, confirmados por meio da história clínica, 
poderá ser realizado dessensibilização, em ambiente hospitalar, com a penicilina V oral, 
conforme recomendações do MS, 2015. Caso essas medidas não sejam possíveis, 
deverão ser utilizadas drogas alternativas. A doxiciclina poderá ser utilizada na dose de 
200mg/dia por 15 dias em pacientes não gestantes ou ceftriaxona 1g/dia por 8 a 10 dias 
para gestantes e não gestantes (BRASIL, 2015). O tratamento de escolha para a gestante 
é a penicilina, sendo terapêutica tanto para a mãe como para o feto, uma vez que 
atravessa a placenta, sendo, portanto, capaz de prevenir a sífilis neonatal em 98% dos 
casos (ZUGAIB, 2012). 
O tratamento da sífilis durante a gestação é considerado inadequado na 
presença de pelo menos um dos seguintes critérios: tratamento realizado com outro 
medicamento diferente da penicilina; tratamento incompleto, mesmo tendo sido 
realizado com penicilina; tratamento realizado ou finalizado com período inferior a 30 
dias antes do parto; quando o parceiro não foi tratado ou tratado inadequadamente e 
 
28 
 
manteve contato sexual com a gestante sem usar preservativo; e, por fim, falta de 
informação confiável acerca do tratamento do parceiro (LORENZI; FLAMINGHI; 
ARTICO, 2009). 
O tratamento da sífilis congênita no período neonatal ocorre de acordo com a 
situação clínico-laboratorial da mãe e deve ser realizado de acordo com o seguinte 
algoritmo: 
 
Figura 1: Algoritmo para condutas frente à sífilis congênita e gestante com sífilis 
A1 - Presença de alterações clínicas e/ou imunológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas: Penicilina 
cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, IV, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 
horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias OU Penicilina G procaína 50.000 UI/kg, dose única diária, 
IM, durante 10 dias 
A2 – Presença de alteração liquórica: Penicilina cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, IV, a cada 12 
horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias 
A3 – Ausência de alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas, e teste não treponêmico 
não reagente no sangue periférico: Penicilina G benzatina, na dose única de 50.000 UI/Kg, IM; o 
acompanhamento é obrigatório, incluindo o seguimento com o teste não treponêmico sérico após 
conclusão do tratamento, porém na impossibilidade de garantir o acompanhamento, o RN deverá ser 
tratado com o esquema A1 
Fonte: Diretrizes para o controle da sífilis congênita. Brasília, 2015 
 
O MS reforça a necessidade de que o acompanhamento do RN deve ser 
realizado na puericultura para a detecção de sinais e sintomas clínicos. O pediatra, 
quando da alta hospitalar, deve esclarecer a mãe sobre os riscos da não identificação da 
 
29 
 
criança caso esta tenha sífilis (sequelas, principalmente surdez e déficit de 
aprendizagem, que são sutis, mas que podem se apresentar, de modo irreversível, no 
futuro) (BRASIL, 2015). 
Diante do desabastecimento de penicilina vivenciado pelos serviços de saúde a 
partir do ano de 2014, o MS recomenda que na indisponibilidade da droga a opção 
terapêutica para o tratamento da SC passa ser a ceftriaxona na dose de 25-50mg/kg/dia 
por 10 a 14 dias, porém ressalta que os dados são insuficientes com relação à eficácia de 
tratamentos não penicilínicos para SC. Assim, o RN ou a criança infectada deverão ser 
seguidos em intervalos mais curtos (a cada 30 dias) e avaliados quanto à necessidade de 
retratamento devido à possibilidade de falha terapêutica (BRASIL, 2015). 
 
2.6 EPIDEMIOLOGIA 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima no mundo mais de 1 milhão de 
casos de IST por dia. Ao ano, estima aproximadamente 357 milhões de novas infecções, 
entre clamídia, gonorréia, sífilis e tricomoníase. A presença de uma IST, como sífilis ou 
gonorréia, aumenta consideravelmente o risco de se adquirir ou transmitir a infecção por 
HIV. Em especial, a sífilis na gestação leva a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais 
por ano no mundo, e coloca um adicional de 215 mil crianças em aumento do risco de 
morte prematura (BRASIL, 2016). 
No período de 2010 a junho de 2016 foram notificados no Sinan um total de 
227.663 casos de sífilis adquirida, dos quais 62,1% foram casos residentes na região 
Sudeste, 20,5% no Sul, 9,3% no Nordeste, 4,7% no Centro-Oeste e 3,4% no Norte. Em 
2015, o número total de casos notificados no Brasil foi de 65.878, dos quais 37.056 
(56,2%) eram residentes na região Sudeste, 17.042 (25,9%) na região Sul, 6.332 (9,6%) 
na região Nordeste, 3.350 (5,1%) na região Centro-Oeste e 2.098 (3,2%) na região 
Norte. No mesmo período, a taxa de detecção no Brasil foi de 42,7 casos de sífilis 
adquirida/100 mil hab., taxa superada pelas regiões Sul (75,3 casos/100 mil hab.) e 
Sudeste (55,7 casos/100 mil hab.). Quanto às unidades da federação (UF), a taxa de 
detecção mais elevada, em 2015, foi observada no Rio Grande do Sul (111,5 casos/100 
mil hab.), e a mais baixa em Alagoas (3,8 casos/100 mil hab.) (BRASIL, 2016). 
Com relação à sífilis gestacional, no período de 2005 a junho de 2016, foram 
notificados no Sinan um total de 169.546 casos, dos quais 42,9% foram casos residentes 
 
30 
 
na região Sudeste, 21,7% no Nordeste, 13,7% no Sul, 11,9% no Norte e 9,8% no 
Centro-Oeste. Em 2015, o número total de casos notificados no Brasil foi de 33.365, 
dos quais 14.959 (44,8%) eram residentes na região Sudeste, 6.240 (18,7%) na região 
Nordeste, 6.005 (18,0%) na região Sul, 3.518 (10,5%) na região Norte e 2.643 (7,9%) 
na região Centro-Oeste (BRASIL, 2016). 
Quanto à sífilis congênita, no período de 1998 a junho de 2016, foram 
notificados no Sinan 142.961 casos em menores de 1 ano de idade, dos quais 64.398 
(45,0%) eram residentes na região Sudeste, 44.054 (30,8%) no Nordeste, 14.300 
(10,0%) no Sul, 11.846 (8,3%) no Norte e 8.363 (5,8%) no Centro-Oeste. Em 2015, 
foram notificados 19.228 casos de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade, a 
maioria dos quais (42,6%) residiam na região Sudeste, seguida pelo Nordeste (30,0%), 
o Sul (14,3%), o Norte (7,4%) e o Centro-Oeste (5,8%) (BRASIL, 2016). 
Em 2015, observou-se uma taxa de incidência da SC correspondente a 6,5 
casos/mil nascidos vivos no Brasil, sendo que as regiões Nordeste,Sudeste e Sul 
apresentaram as maiores taxas (6,9 casos/mil nascidos vivos), seguidas das regiões 
Centro-Oeste (4,5 casos/mil nascidos vivos) e Norte (4,4 casos/mil nascidos vivos). De 
2014 para 2015, as UFs que apresentaram maior aumento da taxa de incidência foram 
Santa Catarina (67,2%) e Rio Grande do Norte (53,0%). No Brasil, em geral, nos 
últimos 10 anos, em especial a partir de 2010, houve um progressivo aumento na taxa 
de incidência de sífilis congênita: em 2006, a taxa era de 2,0 casos/mil nascidos vivos; e 
em 2015, subiu para 6,5 casos/mil nascidos vivos (BRASIL, 2016). 
 
 
 
31 
 
3 OBJETIVOS 
 
3.1 OBJETIVO GERAL 
 
 Descrever a ocorrência e o perfil epidemiológico dos casos notificados de sífilis 
congênita no estado de Roraima no período de 2007 a 2015. 
 
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Apresentar a magnitude e a incidência da sífilis congênita no estado de Roraima 
no período de 2007 a 2015. 
 Levantar a incidência de SC por município de residência da mãe. 
 Descrever as características biológicas e sócias demográficas das mães. 
 Levantar a proporção de mães que realizam o pré-natal. 
 Identificar o momento do diagnóstico da sífilis gestacional entre os casos 
notificados. 
 Identificar a adequabilidade do tratamento da sífilis realizado na assistência ao 
pré-natal da mãe. 
 Identificar a realização do tratamento do parceiro. 
 Levantar as características laboratoriais, de tratamento e a evolução dos casos de 
SC. 
 
 
32 
 
4 METODOLOGIA 
 
4.1 DELINEAMENTO E POPULAÇÃO ALVO 
 
Trata-se de um estudo descritivo do tipo seccional, realizado no Estado de 
Roraima, extremo norte do Brasil, composto por 15 municípios, tendo como capital a 
cidade de Boa Vista. O último censo demográfico realizado no ano de 2010 pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificou 450.479 habitantes no 
estado com uma densidade demográfica de 2,01 habitantes por Km
2 
(IBGE, 2010). 
A população de estudo constitui-se de todos os casos de SC notificados no 
Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan) ocorridos em mães residentes 
em Roraima no período de 2007 a 2015. Foram excluídos os casos de mães não 
residentes no estado e os casos com diagnóstico descartado. 
A pesquisa foi realizada com dados obtidos do Sinan e do Sistema de 
Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), por meio da tabulação no TabWin do banco 
disponível no site www.saude.rr.gov.br/cgvs/, referentes ao período de 2007 a 2015. 
Para cálculo da estimativa da taxa de incidência de SC, tomou-se por numerador 
o número de crianças menores de um ano, abortos e natimortos notificados no Sinan 
com diagnóstico de SC, residentes em Roraima; e por denominador, o número de 
nascidos vivos registrados no Sinasc para o ano em questão, multiplicado por mil. Foi 
realizado ainda o cálculo da taxa de incidência por município de residência da mãe. 
Define-se como caso de SC, “toda criança, aborto ou natimorto de mãe com 
evidência clínica de sífilis e/ou sorologia não treponêmica reagente para sífilis, com 
qualquer titulação, na ausência de teste confirmatório treponêmico realizado durante o 
pré-natal ou no momento do parto ou curetagem, que não tenha sido tratada ou tenha 
recebido tratamento inadequado” (BRASIL, 2005). 
 
4.2 VARIÁVEIS E ANÁLISE ESTATÍSTICA 
 
As variáveis contidas na ficha de notificação/investigação do Sinan utilizadas 
para análise neste trabalho foram: idade, escolaridade, ocupação e raça materna, 
município de residência da mãe, número de consultas de pré-natal, momento do 
diagnóstico da sífilis na gestação e o tratamento instituído, tratamento do parceiro, 
 
33 
 
método diagnóstico materno e do recém-nascido (RN), tratamento do RN e evolução do 
caso, que serão apresentadas em números absolutos e porcentagens. 
Para análise dos resultados serão utilizados tabelas e gráficos construídos no 
Excel Office
®
 2010, a partir de dados disponíveis no site www.saude.rr.gov.br/cgvs/, e 
posteriormente interpretados e confrontados com a literatura consultada. 
Não serão utilizados testes de significância estatística ou de outros métodos de 
inferência, por se tratar de estudo descritivo sem o objetivo de testar hipóteses, mas tão 
somente descrever a situação epidemiológica no período analisado. 
O estudo foi realizado exclusivamente com dados secundários de acesso livre, 
garantindo-se a preservação da identidade dos sujeitos, com consonância com os 
preceitos éticos estabelecidos pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde CNS 
número 466, de 12 de dezembro de 2012, que trata de pesquisas envolvendo seres 
humanos. 
 
 
http://www.saude.rr.gov.br/cgvs/
 
34 
 
5 RESULTADOS 
 
Entre os anos de 2007 e 2015 o estado de Roraima notificou 252 casos de 
sífilis congênita, do quais 97,6% corresponderam aos nascidos vivos (246/252) e 3,4%, 
natimortos (6). Durante este período não foi notificado nenhum caso de aborto ou de 
sífilis tardia na criança. 
A taxa de incidência da SC em Roraima variou de 2,4 por 1.000 nascidos vivos 
em 2007 para 1,2 por 1.000 nascidos vivos em 2015, uma redução de 50% no período. 
Dados do país mostram movimento inverso, com aumento de 242,1% da taxa no 
período de 2007 (1,9 por 1.000 nascidos vivos) e 2015 (6,5 por 1.000 nascidos vivos) 
(Gráfico 1). 
 
Gráfico1: Distribuição dos casos de sífilis congênita de Roraima e taxa de incidência 
(por 1.000 nascidos vivos) de Roraima e Brasil, 2007 a 2015 
 
 
 
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Informações sobre 
Nascidos Vivos (SINASC), Secretaria Estadual de Saúde de Roraima. 
Boletim Epidemiológico - Aids e DST, SVS/MS, Ano VII - nº 1 - 27ª a 52ª - semanas epidemiológicas - 
julho a dezembro de 2009, Ano VII - nº 1 - 01ª a 26ª - semanas epidemiológicas - janeiro a junho de 2010. 
Boletim Epidemiológico – Sífilis, SVS/MS Ano V, VOL 47, Nº 35, 2016. 
 
Quando analisamos a taxa de incidência por município de residência da mãe 
observamos que o município de Iracema registrou a maior taxa no período de 13,6 por 
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Nº de casos de Sífilis
Congênita
23 28 14 50 27 39 45 13 13
Taxa de incidência
(1.000NV) RORAIMA
2,4 2,7 1,4 5,1 2,7 3,6 4,3 1,2 1,23
Taxa de incidência
(1.000NV) BRASIL
1,9 1,8 1,7 2,4 3,3 4 4,8 5,4 6,5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
 
35 
 
1.000 nascidos vivos no ano de 2013, seguido de Bonfim com 12,4 por 1.000 nascidos 
vivos em 2010 e São Luiz com 11,2 por 1.000 nascidos vivos em 2011. Na menor taxa 
no período foi registrada em Boa Vista no ano de 2015 (1,0 caso por 1.000 nascidos 
vivos). Na Tabela 2 estão detalhadas essas taxas por município e ano. 
 
Tabela 2 - Distribuição do número de casos de sífilis congênita e taxa de incidência por 
município de residência da mãe e ano no estado de Roraima, 2007 a 2015 (n=252) 
Município/ 
Incidência
1
 
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 
Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc Nº Inc 
Alto Alegre 1 2,6 1 1,9 1 1,9 3 5,1 - - - - 2 3,36 - - - - 
Amajari - - - - - - - - - - 2 6,4 1 3,3 - - - - 
Boa Vista 14 2,3 20 3,2 12 2 35 5,8 21 3,3 32 5 32 5 8 1,2 7 1,0 
Bonfim - - 1 3,3 1 4,2 3 12,4 1 3,5 1 3,2 2 6,4 - - - - 
Cantá - - 2 7,1 - - 3 10,7 1 3,2 - - - - - - 1 3,1 
Caracaraí - - 1 2,5 - - 3 8,2 - - 2 4,7 2 4,7 1 2,9 2 5,6 
Caroebe - - - - - - - - - - - - - - - - 1 7,3 
Iracema - - - - - - - - - - - - 2 13,6 1 8,5 - - 
Mucajaí 1 3,7 1 3,1 - - 1 3,2 - - - - 2 5,8 2 6,8 1 3,1 
Normandia 1 3,1 - - - - - - - - - - - - - - 1 2,7 
Pacaraima - - 1 3,7 - - 1 3,7 1 3,5 - - 1 3 - - - - 
Rorainópolis - - 1 3 - - 1 2,8 2 5,2 - - 1 2,4 1 2,3 - - 
São João da 
Baliza - - - - - - - - - - 1 8,6 - - - - - - 
São Luiz - - - - - - - - 1 11,2 - - - - - - - - 
Uiramutã - - - - - - - - - - 1 2,3 - - - - - - 
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Informações sobreNascidos Vivos (SINASC) e Secretaria Estadual de Saúde de Roraima. 
1
 - incidência por 1.000 nascidos vivos 
- sem ocorrência. 
 
Com relação ao município de residência destacamos que houve notificação de 
casos em todos os municípios, em pelo menos um ano, no período analisado, e que Boa 
Vista concentrou a maioria dos casos, correspondendo a 73,8% (186/252) das 
notificações para SC, seguida por Caracaraí com 4,3% (11), Bonfim com 3,5% (9), Alto 
Alegre, Cantá e Mucajaí com 3,2% (8), cada, Rorainópolis com 2,4% (6), Pacaraima 
1,6% (4), Iracema e Amajarí com 1,2% (3), cada, Normandia com 0,8% (2), Caroebe, 
São João da Baliza, São Luiz e Uiramutã com 0,4% (1), cada. Durante todo o período 
foram notificados seis casos de natimortos com SC, todos no ano de 2007, dos quais 
cinco ocorreram em mães residentes na capital e um no Cantá. 
As variáveis maternas selecionadas (Tabela 4) revelam que maior parte das 
mães das crianças notificadas, 62,7% (158/252), apresenta faixa etária entre 20 e 34 
 
36 
 
anos, seguido da faixa entre 15 e 19 anos, em 25,8% (19) dos casos; 0,4% (1) apresenta 
idade até 14 anos. Do total de casos, 83,7% das mães são de cor parda (211/252), 3,6% 
(9) são da raça negra e 6,0% (15) de etnia indígena. Quanto à escolaridade, 2,0% 
(5/252) delas são analfabetas, 4,8% (12) tiveram a escolaridade ignorada/branca, 42% 
(106) possuem ensino fundamental incompleto e 11,1% (28) o concluíram; apenas 0,4% 
(1) concluiu a graduação. 
 
Tabela 3: Distribuição das características maternas dos casos notificados de sífilis 
congênita no estado de Roraima, 2007 e 2015 (n=252) 
Características maternas Nº % 
Município de residência da mãe 
Alto Alegre 8 3,2 
Amajarí 3 1,2 
Boa Vista 186 73,8 
Bonfim 9 3,5 
Cantá 8 3,2 
Caracaraí 11 4,3 
Caroebe 1 0,4 
Iracema 3 1,2 
Mucajaí 8 3,2 
Normandia 2 0,8 
Pacaraima 4 1,6 
Rorainópolis 6 2,4 
São João da Baliza 1 0,4 
São Luiz 1 0,4 
Uiramutã 1 0,4 
Idade da mãe 
Branco 9 3,6 
Até 14 anos 1 0,4 
15-19 anos 65 25,8 
20-34 anos 158 62,7 
35-49 anos 19 7,5 
Raça/Cor da mãe 
Preta 9 3,6 
Amarela 17 6,7 
Parda 211 83,7 
Indígena 15 6,0 
Escolaridade da mãe 
Analfabeto 5 2,0 
Ensino fundamental incompleto 106 42 
Ensino fundamental completo 28 11,1 
Ensino médio incompleto 43 17,1 
Ensino médio completo 48 19,0 
Ensino superior incompleto 8 3,2 
Ensino Superior completo 1 0,4 
Ignorado/Branco 12 4,8 
Não se aplica 1 0,4 
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN) e Secretaria Estadual de Saúde de 
Roraima 
 
 
37 
 
No que se refere à assistência no pré-natal e ao diagnóstico da infecção 
materna, representados na Tabela 5, constatou-se que as mães realizaram pré-natal em 
83,3% dos casos (210/252) e 2,8% (7) tiveram esta informação ignorada/branco. O 
diagnóstico da infecção materna ocorreu no momento do parto/curetagem em 48% 
(148/252) dos casos, 37,7% (95) o diagnóstico foi realizado durante o pré-natal, 11,1% 
(28) após o parto, 2% (5) a informação foi ignorada/branco e 1,2% (3) não realizaram o 
diagnóstico. 
O teste não treponêmico (VDRL) realizado no momento da admissão 
hospitalar da mãe durante o parto/curetagem foi reagente em 96,8% (244/252) dos 
casos, não realizado em 1,2% (3) e ignorado/branco em 2,0% (5). 
 
Tabela 4: Distribuição das características da assistência ao pré-natal dos casos 
notificados de sífilis congênita no estado de Roraima, 2007 e 2015 (n=252) 
Características da assistência pré-natal Nº % 
Realização do pré-natal 
Sim 210 83,3 
Não 35 13,9 
Ignorado/ Branco 7 2,8 
Momento do diagnóstico de sífilis materna 
Durante o pré-natal 95 37,7 
No momento do parto/curetagem 121 48,0 
Após o parto 28 11,1 
Não realizado 3 1,2 
Ignorado/Branco 5 2,0 
VDRL da mãe no parto/curetagem 
Reagente 244 96,8 
Não reagente 3 1,2 
Não realizado 3 1,2 
Ignorado/Branco 2 0,8 
Adequabilidade do tratamento da mãe 
Adequado 7 2,8 
Inadequado 222 88,1 
Não Realizado 18 7,1 
Ignorado/Branco 5 2,0 
Tratamento do parceiro 
Realizado 18 7,1 
Não Realizado 212 84,1 
Ignorado/Branco 22 8,8 
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN) e Secretaria Estadual de Saúde de 
Roraima 
 
Quanto ao tratamento, em 88,1% (222/252) dos casos a mães receberam 
tratamento inadequado, 7,1% (18) não recebeu nenhum tipo de tratamento e 2% (5) 
tiveram a informação ignorada/branco. Além disso, o tratamento concomitante do 
parceiro só foi instituído em 7,1% (18) dos casos, confrontando com 84,1% (212) que 
 
38 
 
não receberam tratamento. 
Tabela 5: Distribuição das características dos casos notificados de sífilis congênita no 
estado de Roraima, 2007 a 2015 (n=252) 
Características dos casos notificados de sífilis congênita Nº % 
Resultado do VDRL em sangue periférico ao nascimento 
Reagente 113 44,9 
Não reagente 114 45,2 
Não realizado 18 7,1 
Ignorado/Branco 7 2,8 
Resultado do VDRL no líquor ao nascimento 
Reagente 3 1,2 
Não reagente 17 6,7 
Não realizado 212 84,1 
Ignorado/Branco 20 8,0 
Radiografia de ossos longos ao nascimento 
Com alteração 8 3,1 
Sem alteração 102 40,5 
Não realizado 127 50,4 
Ignorado/Branco 15 6,0 
Esquema de tratamento 
Penicilina G cristalina (10 dias de tratamento) 138 56,2 
Pecinilina G procaina (10 dias de tratamento) 5 2,0 
Penicilina G benzatina (dose única) 32 13,0 
Outro esquema 48 19,5 
Não realizado 15 6,1 
Ignorado/branco 8 3,2 
Evolução do caso 
Vivo 239 94,8 
Natimorto 6 2,4 
Óbito por outra causa 1 0,4 
Ignorado/branco 6 2,4 
Resultado do teste treponêmico após 18 meses 
Reagente 1 0,4 
Não reagente 3 1,2 
Não realizado 100 39,7 
Ignorado 148 58,7 
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN) e Secretaria Estadual de Saúde de 
Roraima 
 
As características dos casos de SC estão listadas na Tabela 6 e quanto à 
investigação diagnóstica identificamos que 90,1% (227/352) das crianças foram 
submetidas ao teste não treponêmico (VDRL) no sangue periférico, e destes 49,7% 
foram reagentes (113), 7,1% (18) não realizaram o exame e 2,8% (7) tiveram esta 
informação ignorada ou em branco. 
Com relação ao exame do líquor apenas 0,8% (20/252) realizaram e destes 
1,2% (3/252) foi reagente e 6,8% (17) não reagente. Quanto ao exame radiológico de 
ossos longos 43,6% (110/252) das crianças realizaram esse exame e em 3,2% (8/252) 
 
39 
 
teve alteração radiológica e em 40,5% (102) não apresentaram alterações, 50,4% (127) 
não realizaram o exame e 5,9% (15) a informação foi ignorada/branco. 
O tratamento foi instituído em 90,6% (223/246) dos casos, o uso de penicilinas 
alcançou 71,1% (175/246), com destaque a penicilina G cristalina em 10 dias de 
tratamento que foi utilizada em 56,2% (138) dos casos, a pencilina G procaína em 10 
dias de tratamento foi utilizada em 13% (32) e a penicilina G benzatina em dose única 
em 2% (5) e outro esquema foi utilizado em 19,5% (48). O tratamento não foi realizado 
em 6,1% (15) dos casos e os natimortos foram excluídos dessa análise. 
Na evolução do caso, 94,8% (239/252) estão vivos, 2,4% (6) foram natimortos, 
0,4% (1) teve óbito por outra causa e 2,4% (6) a informação é ignorada/branco. 
A realização do teste treponêmico após os 18 meses de vida, ocorreu em 
apenas 1,6% (4/252) dos casos, mostrando-se reagente em uma das amostras; não 
realizado em 39,7% (100) e 58,7 (148) a informação é ignorada/branco. 
 
 
 
40 
 
6 DISCUSSÃO 
 
O Sistema de vigilância epidemiológica da sífilis congênita está implantado nas 
27 UFs, conferindo 100% de representatividade no Brasil (BRASIL, 2007). Essa 
medida, portanto, quando utilizada corretamente a partir do comprometimento dos 
profissionais envolvidos no preenchimento adequado das fichas de 
notificação/investigação do Sinan torna-se uma importante ferramenta para o 
reconhecimento de eventuais falhas ou acertos na assistência à saúde. 
No Brasil, a sífilis é um problema desaúde pública tendo registrado 65.878 
casos em 2015, destes 50,6% (33.365) ocorreram em gestantes e 19.228 casos foram de 
sífilis congênita (BRASIL, 2016) uma taxa de transmissão vertical de 57,6%. A SC é 
considerada um evento sentinela da qualidade da assistência médica devido à eficácia 
do seu tratamento. Esses dados se referem aos casos notificados e não à magnitude real, 
pois se deve considerar a possibilidade de subnotificação. 
Segundo Campos (2010), apesar de ser um país com notificação compulsória 
para sífilis gestacional desde 2005 e sífilis congênita desde 1986, apresentou 32% e 
17,4% desses casos respectivamente notificados. Esse fato também foi apontado em um 
estudo local, no município de Boa Vista, em que houve discordância entre os dados, no 
ano de 2011, apresentados pela Unidade de Vigilância Epidemiológica (UVE) do 
Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth e o MS, correspondendo a uma 
subnotificação de sífilis congênita de 64% (LINS, 2014). 
A notificação compulsória de gestante com sífilis em todo o território nacional 
foi instituída por meio da Portaria nº 33 de 14 de julho de 2005. No Brasil, na última 
década, observou-se um aumento de notificação de casos de sífilis em gestante que pode 
ser atribuído, em parte, ao aprimoramento do sistema de vigilância epidemiológica e à 
ampliação da distribuição de testes rápidos. Neste contexto, a política de saúde 
denominada Rede Cegonha, instituída em 2011, contribuiu para a ampliação do acesso 
ao diagnóstico de sífilis em gestante no país. Vale salientar que, entre 2012 e 2015, o 
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DST, Aids e Hepatites Virais, da 
Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (DDAHIV/SVS/MS), 
aumentou em 5,5 vezes a distribuição de testes rápidos de sífilis, tendo sido verificada 
evolução de 1.126.235 para 6.169.145 testes (BRASIL, 2016). 
 
41 
 
 Os casos de sífilis congênita no estado Roraima merecem especial atenção. 
Apesar da diminuição de 50% da taxa de incidência no período investigado de 2007 (2,4 
por 1.000 nascidos vivos) a 2015 (1,2 por 1.000 nascidos vivos) e de estar abaixo da 
média nacional de 6,5 por 1.000 nascidos vivos para 2015, os resultados obtidos não 
estão em consonância com a meta da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) 
para eliminação da doença. Entre os Objetivos e Metas do Milênio, esperava-se uma 
incidência de sífilis congênita menor do que 0,5 por 1.000 nascidos vivos no ano de 
2015 (BRASIL, 2016). Como signatário de um acordo internacional para eliminar a 
sífilis congênita, o MS do Brasil tem empreendido ações para o alcance desse objetivo, 
com foco no tratamento adequado, integração com outros programas de saúde, sistemas 
de vigilância locais atuantes e consequente interrupção da cadeia de transmissão. Nesse 
sentido, para o alcance da meta proposta, são imprescindíveis melhorias na qualidade da 
vigilância epidemiológica, associadas à correta aplicação das condutas preconizadas 
para o atendimento de gestantes e RN acometidos pela doença (CARVALHO; BRITO, 
2014). 
 O município de Boa Vista, capital do estado, concentrou a maioria dos casos, 
correspondendo a 73,8% e a taxa de incidência em 2015 foi de 1,0 caso/mil nascidos 
vivos. Dados do MS para 2015 mostram que as UFs que apresentaram taxas de 
incidência de sífilis congênita superiores a taxa nacional (6,5 casos/mil nascidos vivos) 
foram: Rio de Janeiro (12,4 casos/mil nascidos vivos), Rio Grande do Sul (11,5 
casos/mil nascidos vivos), Sergipe (10,9 casos/mil nascidos vivos), Espírito Santo (9,1 
casos/mil nascidos vivos), Tocantins (9,1 casos/mil nascidos vivos), Rio Grande do 
Norte (9,0 casos/mil nascidos vivos), Ceará (8,7 casos/mil nascidos vivos), Pernambuco 
(8,5 casos/mil nascidos vivos), Piauí (7,8 casos/mil nascidos vivos), Alagoas (7,4 
casos/mil nascidos vivos) e Mato Grosso do Sul (7,2 casos/mil nascidos vivos) Entre as 
capitais, somente sete estão abaixo da media nacional (6,5 casos/mil nascidos vivos): 
Curitiba-PR (6,3 casos/mil nascidos vivos), Manaus-AM (6,3 casos/mil nascidos vivos), 
São Paulo-SP (5,9 casos/mil nascidos vivos), Rio Branco-AC (5,8 casos/mil nascidos 
vivos), Brasília- DF (4,4 casos/mil nascidos vivos), Goiânia-GO (3,6 casos/mil nascidos 
vivos),Macapá-AP (3,2 casos/ mil nascidos vivos) e Boa Vista (1,0 caso/mil nascidos 
vivos). Ressalta-se a taxa de incidência de Porto Alegre-RS (30,2 casos/mil nascidos 
vivos),que está 4,7 vezes mais alta que a taxa do Brasil (BRASIL, 2016). 
 No estudo de Carvalho (2014) a região metropolitana de Natal-RN concentrou 
43,8% dos casos e dispõem de uma rede assistencial em melhores condições, 
 
42 
 
comparativamente a outros municípios do interior, fato que justifica um maior número 
de notificações por essas localidades. A maior concentração do número absoluto de 
casos na capital também se deve à maior concentração da população do estado. Da 
mesma forma, espera-se uma concentração de casos em área urbana, onde reside a 
maior parte da população. Tal realidade demonstra a necessidade de melhorias e 
avanços na qualidade dos sistemas de informações, para que as informações produzidas 
possam, efetivamente, orientar a tomada de decisão no âmbito da Saúde. 
 Em Roraima, as maiores taxas de sífilis congênita foram observadas nos 
municípios menos populosos e com menos recursos, como o município de Iracema que 
registrou a maior taxa no período de 13,6 por 1.000 nascidos vivos no ano de 2013, 
Bonfim com 12,4 por 1.000 nascidos vivos em 2010 e São Luiz com 11,2 por 1.000 
nascidos vivos em 2011. Segundo Carvalho (2014) municípios com menor 
disponibilidade de recursos têm maiores chances de apresentar subnotificação em seus 
registros, condição que dificulta o real conhecimento da situação de saúde e 
consequentemente, o planejamento de ações e o monitoramento de indicadores. 
 No período estudado a maioria das mães, 62,7%, apresentaram idade entre 20 e 
34 anos, seguido de mães com idade entre 15 e 19 anos em 25,8% dos casos e 0,4% 
possuía menos de 15 anos. Segundo dados do Brasil (2016) os maiores percentuais de 
casos de SC, em 2015, ocorreram em crianças cujas mães tinham entre 20 e 29 anos de 
idade (51,8%), seguindo-se as faixas etárias de 15 a 19 anos (23,7%). 
Em estudo realizado por Freire (2014), na capital de Pernambuco, identificou 
que as gestantes que possuíam idade abaixo dos vinte anos estavam três vezes mais 
propensas a não realizar os exames VDRL no pré-natal que outras com idade superior, 
apresentando, portanto, impacto direto na adequabilidade do seguimento. Porém neste 
estudo, a realidade de mães com idade inferior a 20 anos só contempla um quarto das 
mães avaliadas no estudo, já que mais da metade delas possuem faixa etária de 20 a 29 
anos. 
Ainda sobre as características maternas, observou-se que 83,7% das mães são 
pardas, 3,6% pretas e 6% indígenas, refletindo uma importante participação da etnia 
indígena na composição populacional do estado de Roraima. Em relação a raça/cor das 
mães das crianças com sífilis congênita (BRASIL, 2016), a maioria se declarou como 
parda (54,5%), vindo em seguida as brancas (24,4%) e pretas (9,9%), portando Roraima 
apresentou um número bastante elevado de pardas comparado à média nacional. 
 
43 
 
 Quanto à escolaridade materna, 2% das mães eram analfabetas, 4,8% tiveram a 
escolaridade ignorada/branca, 42% cursaram parcialmente o ensino fundamental, 11,1% 
concluíram o ensino fundamental e apenas 0,4% concluiu o ensino superior. O 
predomínio de mães com baixo nível de escolaridade sugere que possivelmente, essas 
mulheres pertençam a estratos sociais menos favorecidos e contem com pouco acesso às 
informações necessárias para evitar a infecção e consequente transmissão vertical 
do Treponema palidum, ou, em caso de serem diagnosticadas com a doença, 
desconhecem a importância de um tratamento completo. No estudo de

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