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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO ACADÊMICO JOSÉ RENATO PAULINO DE SALES SÍFILIS GESTACIONAL E CONGÊNITA: análise epidemiológica dos fatores relacionados às notificações no estado do Rio Grande do Norte Natal-RN 2021 JOSÉ RENATO PAULINO DE SALES SÍFILIS GESTACIONAL E CONGÊNITA: análise epidemiológica dos fatores relacionados às notificações no estado do Rio Grande do Norte Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Enfermagem na atenção à saúde Linha de pesquisa: Vigilância à saúde Orientadora: Profª Dra. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Natal-RN 2021 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial Bertha Cruz Enders – Escola de Saúde da UFRN - ESUFRN Sales, José Renato Paulino de. Sífilis gestacional e congênita: análise epidemiológica dos fatores relacionados às notificações no estado do Rio Grande do Norte / José Renato Paulino de Sales. - 2021. 129f.: il. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Natal, RN, 2021. Orientadora: Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho. 1. Sífilis congênita - Dissertação. 2. Gravidez - Dissertação. 3. Vigilância epidemiológica - Dissertação. 4. Rio Grande do Norte - Dissertação. I. Carvalho, Jovanka Bittencourt Leite de. II. Título. RN/UF/BS-Escola de Saúde CDU 616-002.6 (813.2) SÍFILIS GESTACIONAL E CONGÊNITA: análise epidemiológica dos fatores relacionados às notificações no estado do Rio Grande do Norte Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito para obtenção do título de Mestre. Natal, 24 de fevereiro de 2021 PRESIDENTE DA BANCA Professora Dra. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN) BANCA EXAMINADORA Professora Dra. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN) Professora Dra. Gracimary Alves Teixeira (Escola de Saúde da UFRN) Professor Dra. Danielle Vieira Dantas (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN) Professora Dra. Mônica Cecília Pimentel de Melo (Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF) Julgamento: APROVADO, em 24 de fevereiro de 2021. DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação a minha mãe Joana Anchiêta, fonte inesgotável de amor, inspiração, de investimentos e de esforços para a realização de todos os meus sonhos. Aos meus familiares, em especial meus irmãos que me apoiaram e acreditaram que eu poderia ir além na busca pelo conhecimento. Aos meus amigos que sempre se fizeram presentes e dando todo o apoio necessário nos momentos de angústia, estresse, alegrias nesses dois anos de Mestrado. A todos aqueles que partilharam suas experiências e estiveram comigo na construção deste trabalho, destacando-se o grupo de pesquisa e minha orientadora. A todos os profissionais engajados na assistência e vigilância à sífilis que se dedicam diariamente à promoção da saúde materno-infantil. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus e a sua proteção Divina na minha vida. A cada dia reafirmo a certeza que sinto de estar constantemente acompanhado e protegido. Até hoje não me deixou viver ou sentir o que não poderia suportar, e me conduziu nos momentos mais difíceis, mostrando caminhos e companheiros verdadeiramente presentes nessa jornada, mesmo distantes fisicamente. Aos meus pais Joana Anchiêta e José Paulino (in memorian) vigilantes e incansáveis, que vivem e viveu comigo os acertos e os erros, contribuindo para a realização de mais uma conquista. Agradeço todo o investimento na minha formação profissional e pessoal, ajudando e acreditando nos meus projetos de vida e estudos, mesmo quando esses pareciam inviáveis. Os conceitos morais, éticos, a educação, o respeito ao outro, o meu jeito de ser, toda a cultura adquirida, foram aprendizados conquistados graças ao empenho de vocês, ajudando a me tornar o que hoje sou. Não tenho palavras para agradecer. Serei eternamente grato. Aos meus irmãos, Fernandes, Jucilene, Josiana, Fábio e Netinho, sem o apoio e o amor de vocês nada seria possível, obrigado por acreditarem em mim e nos meus sonhos, por me amarem independente de qualquer coisa e por estarem comigo sempre, mesmo que em pensamento. Ao meu grupo de pesquisa “Saúde e sociedade”, em especial a Sylvia, Thais, Wilma, Rayrla e Glauber pelo apoio e torcida durante todo esse percurso e acreditando que eu seria capaz de concretizar mais um projeto de vida. Em especial, a Prof. Dra. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho, que se mostrou muito mais que uma pesquisadora incrível, mas uma grande parceira de jornada, me tranquilizando e me acolhendo sempre que precisava, foi uma grande honra ser seu orientado. Agradeço pela orientação deste estudo, sem a qual não chegaria aos caminhos aqui percorridos. Obrigado pela paciência dedicada e correções sempre tão pertinentes, orientando a realização de mais um sonho. A Gracimary “minha co-orientadora”, se assim posso dizer, por todo o companheirsmo, incentivo e força durante o final dessa jornada e por todo o apoio técnico no que diz respeito a pesquisa quantitativa e no desafio que foi me descobrir em um campo totalmente novo. Obrigado por cada palavra, sugestão e indicação de caminhos a seguir, fico feliz por concluir mais essa etapa da minha vida. Ao meu “rolezinho”, Valéria, Carol, Renata, Bruno e Isabelle por toda cumplicidade e identificação quase que espontânea, sem vocês com certeza essa jornada não teria sido a mesma e acredito que foram meu alicerce para conseguir chegar até aqui, e, além disso, por me fazer sentir em casa mesmo há quilômetros de distância, vocês são essenciais em minha vida. Obrigado pela parceria e cumplicidade. Amo vocês! Aos meus colegas de mestrado, principalmente a turma de Mestrado 2019 por todo incentivo para não desistir jamais deste sonho, pelas discussões durante as disciplinas, pela parceria e por todos os momentos de descontração, com certeza a melhor turma de todas do PPGENF. A todos os meus amigos, os mais presentes ou mesmo aqueles distantes, os que não deixaram para trás o carinho e a amizade verdadeira, pois tem sido muito importante e prazeroso conviver e estar com vocês ao longo dessa caminhada. Aos professores doutores que integraram a banca examinadora, nos nomes de Gracimary, Mônica Cecília e Daniele, concretizando o ritual de defesa desta dissertação, contribuindo e conferindo a excelência deste estudo. As melhores coisas da vida não são aquelas que duram a vida toda, mas sim, aquelas que temos vontade de lembrar por toda a vida. (Renato Sales) SALES, J. R. P. SÍFILIS GESTACIONAL E CONGÊNITA: análise epidemiológica dos fatores relacionados às notificações no estadodo Rio Grande do Norte. Natal, 2021. Dissertação de Mestrado. 129f. Departamento de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2021. RESUMO O estudo teve como objetivo geral analisar os fatores relacionados aos casos notificados de sífilis gestacional e congênita no estado do Rio Grande do Norte. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa epidemiológica, do tipo descritivo e ecológico, proveniente de dados secundários, tendo como área de abrangência o estado do Rio Grande do Norte, realizada no ano de 2020. A amostra foi composta a partir dos critérios de elegibilidade e totalizou 1892 notificações de sífilis em gestantes e 2101 para sífilis congênita no período de 2014 a 2018. A coleta de dados ocorreu de outubro a dezembro por meio do banco do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Os dados foram organizados no programa Microsoft Excel para tabulação e a análise estatística por intermédio do software Statistical Package for the Social Sciences versão 23.0 gratuita. Para análise estatística, foram utilizados os testes de Qui-quadrado ou exato de Fisher, bem como calculadas os Odds Ratio com respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), assim como por teste t independente e Kruskal Wallis seguida por Student Keuls. A significância adotada foi de p<0,05. Por fim, diferenças estatísticas entre os valores gastos (R$) de internamento entre a sífilis gestacional e congênita foram obtidas, quando paramétricos, por teste t independente e quando rompido pressuposto gaussiano por Mann-Whitney e como medida de qualidade de ajuste do modelo logístico foi utilizado o teste de Hosmer e Lemeshow, no qual p > 0,05. Inerente aos aspectos éticos, a pesquisa foi conduzida de acordo com a Resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, e como o estudo fez o uso de dados secundários, foi dispensada a análise do Comitê de Ética e Pesquisa. O perfil materno registrado aponta mulheres com idade média de 20 a 29 anos (50,0%), pardas (57,9%), com baixa escolaridade (61,2%). A análise do pré-natal identificou predomínio do diagnóstico materno no terceiro trimestre gestacional (40,0%), (12,1%) não realizou o pré-natal e realização de testes não treponêmicos (82,6%) e treponêmicos (49,5%) reagentes no momento do parto. No tocante ao tratamento materno, apenas (3,3%) apresentaram tratamento adequado e (18,6%) dos parceiros foram tratados concomitantemente às gestantes. Nos desfechos relativos às crianças, (98,5%) apresentaram diagnóstico de sífilis congênita recente e (1,1%) de óbitos pelo agravo. Ao que concerne às internações, apresentou um número médio de 79,2 por sífilis congênita com um valor médio de custos de R$ 4.217 por menor. Conclui-se que a transmissão vertical esteve relacionada a perdas de oportunidades diagnósticas e terapêuticas, uma vez que os recursos públicos estão sendo aplicados, com ênfase maior, nos custos com o tratamento do agravo em detrimento na prevenção da doença, por meio da realização do pré-natal de qualidade. A elaboração de estratégias para detecção precoce e adesão ao tratamento da doença devem ser adotadas, tendo em vista o fortalecimento da assistência e a quebra na cadeia da transmissão vertical da sífilis, além de se evitar e/ou minimizar os internamentos de crianças em decorrência da sífilis congênita. Palavras-chave: Sífilis. Gravidez. Sífilis Congênita. Cuidado Pré-Natal. Serviços de Vigilância Epidemiológica. Enfermagem. SALES, J. R. P. GESTATIONAL AND CONGENITAL SYPHILIS: epidemiological analysis of factors related to notifications in the state os Rio Grande do Norte. Natal, 2021. Masters Dissertation. 129f. Departamento de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2021. ABSTRACT The general objective of the study was to analyze the factors related to the reported cases of gestational and congenital syphilis in the state of Rio Grande do Norte. This is a research of quantitative epidemiological approach, of the descriptive and ecological type, originating from secondary data, having as its coverage area the state of Rio Grande do Norte, carried out in the year 2020. The sample was composed based on the criteria of eligibility and totaled 1892 notifications of syphilis in pregnant women and 2101 for congenital syphilis in the period from 2014 to 2018. Data collection took place from October to December through the bank of the Notifiable Diseases Information System. The data were organized in the Microsoft Excel program for tabulation and statistical analysis using the free Statistical Package for the Social Sciences software version 23.0. For statistical analysis, Chi-square or Fisher's exact tests were used, as well as Odds Ratio with respective 95% confidence intervals (95% CI), as well as by independent t-test and Kruskal Wallis followed by Student Keuls. The significance adopted was p <0.05. Finally, statistical differences between the values spent (R$) for hospitalization between gestational and congenital syphilis were obtained, when parametric, by independent t test and when the Gaussian assumption was broken by Mann-Whitney and as a measure of the quality of adjustment of the logistic model the Hosmer and Lemeshow test was used, in which p> 0.05. Inherent to ethical aspects, the research was conducted in accordance with Resolution No. 510/16 of the National Health Council, and as the study used secondary data, the analysis of the Ethics and Research Committee was dispensed with. The registered maternal profile points to women with an average age of 20 to 29 years (50.0%), brown (57.9%), with low education (61.2%). The analysis of prenatal care identified a predominance of maternal diagnosis in the third gestational trimester (40.0%), (12.1%) did not perform prenatal care and performed non-treponemal (82.6%) and treponemal tests (49 , 5%) reagents at delivery. Regarding maternal treatment, only (3.3%) had adequate treatment and (18.6%) of the partners were treated concomitantly with pregnant women. In the outcomes related to children, (98.5%) had a diagnosis of recent congenital syphilis and (1.1%) of deaths from the disease. With regard to hospitalizations, it presented an average number of 79.2 for congenital syphilis with an average cost of R $ 4,217 for less. It is concluded that vertical transmission was related to the loss of diagnostic and therapeutic opportunities, since public resources are being applied, with a greater emphasis, on the costs of treating the disease at the expense of preventing the disease, through the realization of the disease. quality prenatal care. The development of strategies for early detection and adherence to the treatment of the disease must be adopted, with a view to strengthening care and breaking the chain of vertical transmission of syphilis, in addition to avoiding and / or minimizing hospitalizations of children as a result of congenital syphilis. Keywords: Syphilis. Pregnancy. Congenital syphilis. Prenatal care. Epidemiological Surveillance Services. Nursing. LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Descrição das variáveis de sífilis gestacional do estudo........................... 61 Quadro 02 – Descrição das variáveis de sífilis congênita do estudo............................. 63 LISTA DE FIGURAS Figura A – Etapas de seleção amostral dos casos de sífilis gestacional entre 2014 à 2018. Natal-RN, 2021 (n=1892)......................................................................................... 59 Figura B – Etapas de seleção amostral dos casos de sífilis congênita entre 2014 à 2018. Natal-RN, 2021 (n=2101)................................................................................................... 59 Figura 01 – Distribuição das notificações de sífilis em gestantee congênita entre janeiro de 2014 a dezembro de 2018. Natal/RN, 2020 (Gestante n=1892; Congênita n=2101)............................................................................................................................... 71 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição das notificações de sífilis em gestante e congênita em número total de casos e (%) entre janeiro de 2014 e dezembro de 2018. Natal/RN, 2020 (Gestante n=1892; Congênita n=2101)......................................... 68 Tabela 2 – Distribuição das notificações de sífilis em gestante e congênita em média e desvio padrão entre janeiro de 2014 e dezembro de 2018. Natal/RN, 2020 (Gestante n=1892; Congênita n=2101)........................................................... 72 Tabela 3 – Distribuição das variáveis maternas segundo dados sociodemográficos. Natal/RN, 2021 (n=1892)........................................................ 73 Tabela 4 – Momento do diagnóstico e da notificação da sífilis gestacional. Natal/RN, 2021 (n=1892)........................................................................................ Tabela 5 – Momento gestacional da notificação da sífilis gestacional no período de 2014 a 2018. Natal/RN, 2021 (n=1892)............................................................. 75 77 Tabela 6 – Aspectos clínicos e laboratoriais da detecção da sífilis gestacional. Natal/RN, 2021 (n=1892)........................................................................................ 78 Tabela 7 – Características do tratamento medicamentoso das gestantes e parceiros sexuais. Natal/RN, 2021 (n=1892)........................................................ 80 Tabela 8 – Distribuição por faixa etária dos casos de sífilis congênita entre janeiro de 2014 a dezembro de 2018. Natal/RN, 2021 (Congênita n=2101).......... 83 Tabela 9 – Casos confirmados de sífilis congênita segundo diagnóstico final, realização do pré-natal e evolução do caso. Natal/RN, 2021 (n=2101).................. 83 Tabela 10 – Distribuição das internações de crianças por sífilis congênita e outras causas entre 2014 a 2018. Natal-RN, 2021................................................... 86 Tabela 11 – Distribuição dos gastos com internação de crianças com sífilis congênita e outras causas entre 2014 a 2018. Natal-RN, 2021............................... 87 LISTA DE SIGLAS DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde IST Infecções Sexualmente Transmissíveis OMS Organização Mundial de Saúde OPAS Organização Pan-Americana de Saúde PHPN Programa de Humanização do Pré-natal SESAP/RN Secretaria Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte SC Sífilis Congênita SG Sífilis em Gestante SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação SUS Sistema Único de Saúde TR Teste Rápido USF Unidade de Saúde da Família VDRL Venereal Disease Research Laboratory VE Vigilância Epidemiológica ESF Estratégia Saúde da Família SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 17 2 Objetivos................................................................................................................. 23 2.1 Geral......................................................................................................................... 23 2.2 Específicos............................................................................................................... 23 2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................. 24 3.1 Aspectos históricos da sífilis.................................................................................. 24 3.2 Aspectos conceituais e epidemiológicos sobre a sífilis......................................... 26 3.2.1 Epidemiologia.......................................................................................................... 31 3.2.2 Transmissão.............................................................................................................. 36 3.2.3 Manifestações clínicas............................................................................................. 37 3.2.4 Diagnóstico.............................................................................................................. 38 3.2.5 Tratamento............................................................................................................... 41 3.3 Atuação do enfermeiro na prevenção e detecção da sífilis gestacional e congênita................................................................................................................. 43 3.4 Aspectos históricos e atuação do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no Brasil...................................................................................................... 48 3.5 Aspectos históricos e evolução da Saúde Pública voltada à sífilis no Brasil..... 52 4 PERCURSO METODOLÓGICO........................................................................ 56 4.1 Tipo de estudo......................................................................................................... 56 4.2 Cenário da pesquisa............................................................................................... 57 4.3 População e amostra.............................................................................................. 58 4;3.1 Critérios de inclusão................................................................................................. 60 4.3.2 Critérios de exclusão................................................................................................ 60 4.4 Variáveis do estudo................................................................................................ 60 4.4.1 Variáveis da Sífilis Gestacional............................................................................... 61 4.4.2 Variáveis da Sífilis Congênita.................................................................................. 63 4.5 Coleta de dados....................................................................................................... 64 4.6 Análise dos dados................................................................................................... 65 4.7 Aspectos éticos e legais........................................................................................... 66 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES......................................................................... 67 5.1 Incidência da sífilis gestacional e congênita............................................................ 68 5.2 Caracterização materna segundo variáveis sociodemográficas............................... 72 5.3 Análise das ações do pré-natal e dos fatores relacionados à transmissão vertical... 74 5.3.1 Triagem para detecção do agravo............................................................................ 75 5.3.2 Tratamento da sífilis em gestante............................................................................. 80 5.4 Desfechos da transmissão vertical........................................................................... 82 6 CONCLUSÃO........................................................................................................ 92 7 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 96 ANEXOS.............................................................................................................................. 125 ANEXO A – Ficha de notificação de sífilis em gestantes.................................................... 126 ANEXO B – Ficha de notificação de sífilis congênita.........................................................128 17 1. INTRODUÇÃO A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), causada pela bactéria gram-negativa do grupo das espiroquetas, denominada Treponema pallidum, de caráter sistêmico, curável e exclusiva da raça humana, mas que quando não tratada precocemente traz sequelas irreversíveis, como cegueira ou até a morte (ANDRADE et al., 2018; BRASIL, 2018; MARQUES et al., 2018; GUIMARÃES, 2018). Essa IST apresenta-se nas formas adquirida, congênita (SC) e em gestante (SG) (LAFETÁ et al., 2016; BRASIL, 2019a). No que tange as gestantes, a sífilis pode levar a desfechos como abortamento, perda fetal, morte neonatal, baixo peso ao nascer, além de complicações precoces e tardias nos nascidos vivos, em mais de 50% dos casos, além disso, aumenta significativamente o risco de co-infecções a exemplo da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Sua transmissão se dá pela via sexual e vertical predominantemente, de alta prevalência e deve ser notificada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (ANDRADE et al., 2018; BRASIL, 2018; MARQUES et al., 2018). Esse agravo tem variadas manifestações clínicas e distintos estágios de evolução (sífilis primária, secundária, latente e terciária), com atividades de características clínicas, imunológicas e histopatológicas diferentes. No período gestacional, o risco da doença acometer o feto varia de 30% a 100% se não tratada adequadamente, levando-se em consideração a fase em que se encontra a patologia na gestante e em qual trimestre da gestação. (MACIEL et al., 2017; BRASIL, 2019a). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) são estimados a ocorrência de cerca de 12 milhões de casos novos de sífilis diagnosticados em todo o mundo anualmente (BRASIL, 2018). Esse aumento dos casos vem sendo exponencial em países como Estados Unidos e Canadá, principalmente em mulheres em idade fértil, com taxa de incidência da sífilis congênita de 9,2/100.000 casos no ano de 2013 passando para 23,3/100.000 em 2017. No Canadá, esse valor na taxa de incidência era de 5,0/100.000 casos em 2010, passando para 9,3/100.00 em 2015, o que configura um aumento de 85,6%, levando a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais e colocando em risco de morte 18 prematura mais de 200 mil crianças (NEWMAN et al., 2013; BRASIL, 2018; CHOUDHRI et al., 2018). Na América Latina e Caribe, estima-se que entre 166.000 e 344.000 crianças nasçam com sífilis congênita anualmente (OMS, 2015; BRASIL, 2017a; WHO, 2017; BRASIL, 2019b). Ainda segundo a OMS, o Brasil apresenta taxas de sífilis semelhante à de outros países. Os números de casos da infecção são preocupantes e a infecção precisa ser controlada. Nesse ínterim, em 2019 foram notificados no SINAN 152.915 casos de sífilis adquirida (taxa de detecção de 72,8/100.000 casos), o qual diminuiu em relação a 2018 (taxa de detecção de 75,8/100.00 casos); 61.127 casos de sífilis em gestantes (taxa de detecção de 20,8/1.000 nascidos vivos) que também diminui em comparação ao ano anterior (21,4/1.000 nascidos vivos); 24.130 casos de sífilis congênita (taxa de incidência de 8,2/1.000 nascidos vivos) com redução no número em relação a 2018 (9,0/1.000 nascidos Vivos); e 173 óbitos por sífilis congênita (taxa de mortalidade de 5,9/100.000 nascidos vivos), o qual diminuiu se comparado ao ano anterior (8,2/100.000 nascidos vivos) (BRASIL, 2019b; BRASIL, 2020a). No Estado do Rio Grande do Norte-RN, em 2019, foram notificados 1717 casos de sífilis adquirida (taxa de detecção de 49,0 casos/100.000 habitantes); 923 casos de sífilis em gestantes (taxa de detecção de 21,6/1.000 nascidos vivos); 594 casos de sífilis congênita (taxa de incidência de 13,9/1.000 nascidos vivos); e 1 óbito por sífilis congênita (coeficiente de mortalidade de 2,3/100.000 nascidos vivos). No período de 2011 a 2019, percebe-se que a taxa de incidência de sífilis congênita aumentou 2,6 vezes, passando de 5,2 para 13,9 casos por mil nascidos vivos; a taxa de detecção de sífilis em gestantes aumentou 5,5 vezes, passando de 3,9 para 21,6 casos por mil nascidos vivos e a taxa de detecção de sífilis adquirida aumentou 9,4 vezes, passando de 5,2 para 49,0 casos por 100 mil habitantes (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). Diante de tal realidade, no Brasil há metas para a redução da sífilis gestacional e a transmissão vertical, por meio da política de prevenção da morbimortalidade materno-infantil do Pacto pela Saúde de 2006. (AZEVEDO et al., 2017; FERREIRA et al., 2018; TEXEIRA et al., 2018). Além disso, a Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, buscando a 19 longitudinalidade e integralidade do cuidado dos indivíduos e a prevenção de agravos (BRASIL, 2006; BRASIL, 2012a; BRASIL, 2015a; BRASIL, 2016a). Dentro desse escopo de atividades, se insere a atenção pré-natal, a qual tem em seus protocolos a triagem da sífilis na gestante bem definidos (HEBMULLER et al., 2015; GOMES et al., 2019). Pode-se destacar que a ocorrência de sífilis na gestação e consequentemente a congênita expressam uma fragilidade da atenção pré-natal realizada na Atenção Básica, evidenciado pelas altas taxas de transmissão vertical devido ao seu rastreamento tardio, com detecção posteriormente nas maternidades, além de gerar maior taxa de ocupação nos alojamentos conjuntos e custos para o serviço público (RODRIGUES et al., 2016; CARDOSO et. al., 2018). Defluente de tal circunstância, o acompanhamento das gestantes durante o pré-natal possui um menor custo e maior efetividade, uma vez que os investimentos para a sobrevivência de crianças nascidas por agravos maternos, a exemplo da sífilis congênita, são mais dispendiosos, pois necessitam de serviços especializados e de alta complexidade (COSTA et al., 2013; FERRARI et al., 2014; BONI; PAGLIARI, 2016). Tais complicações trazem custos significativos para os serviços de saúde, com valores três vezes superiores aos cuidados aplicados a uma criança sem a infecção, necessitando ainda de acompanhamento por período prolongado e profissionais especializados. (COSTA et al., 2013; SONDA et al., 2013). Contudo, no cenário atual, existem algumas fragilidades na dinâmica operacional dos serviços de saúde para a implementação das recomendações para o controle da sífilis, uma dessas está relacionada à qualidade da assistência prestada a essas mulheres durante o período gestacional (RODRIGUES et al., 2016). Diante dessa realidade, percebe-se uma lacuna do conhecimento quando se trata de estudos que elucidem acerca dos custos com a prevenção e diagnóstico da sífilis gestacional em relação a hospitalização para o tratamento da sífilis congênita a nível nacional e no Estado do Rio Grande do Norte-RN. Nesse intento, a vivência enquanto profissional enfermeiro, atuante na assistência direta de enfermagem, juntamente com experiências comuns com a temática realizadas durante as reuniões do Grupo de Pesquisa Saúde e Sociedade, do contexto de saúde em que se encontra a população no tocante a sífilis, 20 especialmente na gestação e no seu concepto e da realização de trabalhos científicos sobre o assunto em estudo, houve a aproximação e interesse no desenvolvimento da temática. Assim, houve a aproximação e o interesse do pesquisador em desenvolver o referido estudo com o intuito de conhecer os sistemas de informação, a exemplo, o de Vigilância Epidemiológica (VE), o qual tem sido a principal fonte de informações para o conhecimento da magnitude da sífilis gestacional e consequentemente da sífilis congênita, além do monitoramento das recomendações pelo MS e outras entidades, a exemplo da OMS. Nessa perspectiva, a avaliação dos dados dos sistemas de informação consiste numa atividade fundamental que possibilitaráuma melhor utilização dos recursos de saúde pública. Além dos motivos já elencados, a temática foi escolhida em razão das mulheres serem vulneráveis à sífilis por diversos fatores, dentre eles: desigualdades de gênero, início tardio do acompanhamento pré-natal e número consultas insuficientes, insucesso na condução dos casos com perda de oportunidade tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento, inexistência de aconselhamento da doença, falha no tratamento do parceiro e tratamento inadequado dos casos diagnosticados, além de ser uma doença infectocontagiosa, pelas altas taxas de prevalência dos casos de sífilis gestacional e congênita e por se configurar como um agravo de importância epidemiológica (FEITOSA, ROCHA, COSTA; 2016; MACÊDO et al., 2017; SANDES et al., 2019). Nessa perspectiva, esses fatores atuaram como estímulo para a necessidade de maior compreensão e aprofundamento científico sobre a sífilis gestacional e congênita no contexto estadual, assim como os fatores epidemiológicos que estão relacionados ao referido agravo. Diante desse contexto, com o intuito de se responder ao problema de pesquisa, indagou-se responder a seguinte pergunta: quais os fatores que estão relacionados aos casos notificados de sífilis gestacional e congênita no Estado do Rio Grande do Norte-RN? Qual o perfil epidemiológico dos casos notificados de sífilis gestacional e congênita no Estado do Rio Grande do Norte? Nesse ínterim, a sífilis gestacional e congênita são agravos de saúde passíveis de controle, com agente etiológico conhecido, modo de transmissão 21 definido e o tratamento de baixo custo e eficaz. A assistência pré-natal se configura como ferramenta imprescindível para o controle da patologia em estudo. Dessa forma, dados confiáveis dos sistemas de informação em saúde constituem ferramentas indispensáveis para a implementação de estratégias direcionadas aos pontos críticos de falhas do sistema no controle desse agravo, assim como oferecerá subsídios relevantes para a compreensão da magnitude que envolve o sistema de notificação da sífilis, como norte primordial para o controle desse agravo, justificando a importância da realização desse estudo. A atenção pré-natal de qualidade destaca-se como sendo o primeiro alvo a ser atingido quando se busca reduzir taxas de morbimortalidade materna e perinatal. O principal objetivo da atenção nesse período é acolher a mulher desde o início da gravidez propiciando bem-estar materno, fetal e o nascimento de uma criança saudável. A atenção pré-natal integra atividades primárias à saúde exigindo recursos de baixa complexidade e implementação de ações com eficácia reconhecida, o qual se configura como um das principais ferramentas do cuidado de enfermagem para a prevenção da sífilis gestacional e congênita. Além disso, o estudo enquadra-se na Área de Tecnologias para Qualidade de Vida, no setor “saúde”, previstas nas Áreas Prioritárias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações estabelecidas nas Portarias MCTIC n. 1.122/2020 e 1.329/2020, e tem como o objetivo contribuir para a melhoria dos serviços oferecidos para uma parcela significativa da população brasileira. A presente pesquisa também buscará fortalecer as ações de saúde desenvolvidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo no controle da sífilis, na medida em que fornecerá dados referentes à qualidade da assistência pré-natal, assim como poderá contribuir para redução da morbimortalidade materno-infantil no Estado do Rio Grande do Norte-RN inerente a este agravo. Portanto, funcionará como ferramenta de apoio à gestão, pois apresentará dados que poderão subsidiar as ações de controle da doença. A sífilis gestacional e congênita são temas de relevância biopsicossocial e científica para o desenvolvimento da prática/ciência em Enfermagem e, consequentemente, para os serviços de vigilância epidemiológica, por permitir o desvelar das informações advindas das fichas de notificações expressas no 22 SINAN, principalmente em virtude do aumento significativo dos casos de sífilis gestacional e congênita, no cenário nacional e estadual, o qual reflete diretamente no processo saúde-doença desta população. Isso posto, acredita-se que o estudo poderá trazer resultados de evidências científicas e epidemiológicas, reflexão para mudanças de atitudes dos gestores e profissionais de saúde que poderão contribuir para a ampliação de conhecimentos acerca da patologia em estudo e norteá-los no planejamento de assistência integral a saúde da mulher com sífilis, assim como do seu concepto, pois poderá fornecer ações de saúde mais direcionadas e provavelmente mais eficientes para notificação, diagnóstico e tratamento, com vistas para a redução do número de casos de mulheres com sífilis gestacional e consequentemente, de sífilis congênita. 23 2 OBJETIVOS 2.1 Geral • Analisar os casos notificados de Sífilis Gestacional e Congênita no Estado do Rio Grande do Norte. 2.2 Específicos • Identificar a incidência dos casos de notificações de sífilis gestacional e congênita no Estado do Rio Grande do Norte; • Caracterizar o perfil sociodemográfico das mulheres gestantes diagnosticadas com sífilis gestacional no Estado do Rio Grande do Norte; • Descrever os fatores que estão relacionados aos casos notificados de sífilis gestacional e congênita no estado do Rio Grande do Norte. • Comparar os custos com a prevenção e diagnóstico da sífilis gestacional com a internação para o tratamento da sífilis congênita. 24 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Aspectos históricos da sífilis A sífilis ou lues, como também é conhecida, é uma doença milenar, com mais de 500 anos de existência, tem seu início na Grécia Antiga através dos relatos de Hipócrates, entretanto, existem controvérsias quanto a sua origem. Uma das correntes teóricas afirma que a sífilis era endêmica na América e transportada para a Europa por meio dos marinheiros de Cristovão Colombo, em contrapartida, a segunda teoria, também chamada de Teoria do Velho Mundo, apontava que as treponematoses já existiam no território europeu, o qual se obteve considerável aumento e diferenciação o que permitiu a sua consequente transmissão sexual tornando-se assim uma epidemia (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; GARCIA, 2009; NETO et al., 2009; SILVA; ALMEIDA; SOUSA, 2011; FERREIRA, 2013; KALININ; NETO; PASSARELLI, 2016; GALL; LAUTENSCHLAGER; BAGHERI; 2016). Nesse contexto, os primeiros relatos da doença surgiram por volta de 1495, na Batalha de Fornovo, através de relatos e registros dos médicos venezianos que serviram no front, os quais descreviam os aspectos clínicos da patologia percebidos nos soldados, estes apresentavam lesões semelhantes com grãos de milho na região da glande e no prepúcio, além da presença de pústulas pelo corpo e dores localizadas em membros superiores e inferiores (SARACENI; LEAL; HARTZ, 2005; NETO et al., 2009; MOREIRA et al., 2017). A palavra sífilis surgiu pela primeira vez no ano de 1530 em um poema do livro Syphilis Sive Morbus Gallicus que significa “A sífilis ou mal gálico” do médico e poeta Girolamo Fracastoro. O poema relata sobre Syphilus, um pastor que havia amaldiçoado Apolo (um deus) e por isso foi punido com o nome da doença sífilis. No entanto, 16 anos passados, segundo pressuposto de Fracastoro, a transmissão da sífilis se daria por meio da relação sexual, porém o mesmo foi desacreditado (NETO et al., 2009, BRASIL, 2010a; BRASIL, 2014; BRASIL, 2016b). Diante disso, a sífilis teve sua disseminação pela Europa por volta do final do século XV e início do século XVI e, por vários séculos foi uma doença 25 negligenciada e sem medidas de controle efetiva (ARORA et al.,2016). Tal circunstância provavelmente se devia ao fato de sua disseminação ser vinculada à prática da prostituição. Já em meados do século XIX ela ressurge e seu crescimento a torna uma endemia preocupante a nível mundial (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; GARCIA, 2009; FERREIRA, 2013; GOGARTEN et al., 2016; SANTOS, 2017). Em 1905, Fritz Richard Schaudinn e Paul Erich Hoffman descobriram o agente etiológico da sífilis, o qual se caracterizou como um importante avanço da ciência e a denominaram Spirochaeta pallida, mas só no ano seguinte que o primeiro teste sorológico foi disponibilizado, o qual fez uso da técnica de fixação de complemento e o antígeno para a reação foi obtido através do extrato hepáticode de um feto de mãe contaminada com sífilis (GOGARTEN et al., 2016). Apresenta-se como um aspiral fino com a presença de flagelos que ajudam na locomoção, espiras regulares (entre 10 e 15) e pontas afiladas, possuindo aproximadamente 8 micrômetros de comprimento podendo variar no tamanho e quantidade de espiras (SARACENI et al., 2005; MAGALHÃES et al., 2011; FERREIRA, 2013; VASCONCELOS et al., 2016, BRASIL, 2017b; VÁZQUEZ, 2018; BRASIL, 2019c). No entanto, somente no ano de 1928 foi descoberta a penicilina por Alexander Fleming, a qual foi utilizada pela primeira vez 13 anos depois de seu descobrimento como forma de tratamento de uma septicemia, o que provocou uma mudança na história da sífilis e de outras doenças bacterianas (MORAES; ARAÚJO; BRAGA, 2016). Além disso, foi evidenciado no ano de 1943 que todos os estágios da sífilis eram sensíveis a penicilina, o que tornou essa medicação a melhor escolha para o tratamento e utilizada até os dias atuais (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; NETO et al., 2009; BERGER; DEAN, 2014; GILBERTSON; GELPIR; TUCKER, 2015; REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017; NASCIMENTO, 2018). Isso posto, até meados do século XX, foi observado um declínio na incidência de casos de sífilis principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Em contrapartida, nos países desenvolvidos por volta dos anos 90, percebeu-se um aumento no número de casos notificados, supostamente devido à associação com a infecção pelo HIV. Ademais, a sífilis acometia igualmente homens e mulheres, 26 manifestando-se em todas as faixas etárias e responsabilizada pela maior parte dos casos de aborto, por mais da metade dos casos de mortinatalidade e por 80% dos casos de debilidade congênita (GARCIA, 2009; SHIMELLIS et al., 2015; SANTOS, 2017). Contudo, desde a descoberta da penicilina, a sífilis apresentou significativa redução em todo o mundo, no entanto, na década de 60, com as mudanças ocorridas na sociedade referente ao comportamento sexual e a introdução dos anticoncepcionais, fizeram com que o número de casos de sífilis aumentasse. No final dos anos 70, com o surgimento da Aids, houve um recrudescimento das IST, e a sífilis como uma doença que facilita a transmissão do HIV, ressurgiu levando ao interesse e a necessidade de estratégias mais efetivas para seu controle (AVELLEIRA, BOTTINO, 2006; MATTHES et al., 2012; GILBERTSON; GELPI; TUCKER, 2015; HOOK, 2017). No Brasil, desde a década de 1990, o Ministério da Saúde avalia a sífilis materna como um importante problema de saúde pública. Em 1993, foi proposto o projeto de eliminação da sífilis congênita, o qual foi desenhado seguindo a proposta de controle do agravo nas Américas, formulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com uma meta definida de incidência menor ou igual a 1 caso em 1.000 nascidos vivos, no entanto, ainda está distante de ser alcançada (MAGALHÃES et al., 2013; CARVALHO et al. 2015). Ao longo de sua história, a sífilis tem sido mistificada por extensas mudanças ao longo do tempo e pela evolução de uma série de respostas políticas e sociais, tendo sido desenvolvida por uma gama variada e crescente de programas preventivos e atividades intervencionistas em vários contextos, no esforço de trazer respostas ao impacto, cada vez maior dessa doença (GOGARTEN et al., 2016). 3.2 Aspectos conceituais e epidemiológicos sobre a sífilis A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível caracterizada por períodos de atividade e latência, sistêmica, infectocontagiosa e exclusiva dos seres humanos. Sua transmissão se dá de forma predominantemente sexual (sífilis 27 adquirida) ou por via transplacentária (sífilis congênita). É uma enfermidade venérea com altos índices de morbimortalidade neonatal devido a déficits ou ausência de tratamento oportuno e adequado (BRASIL, 2016b; ANDRADE et al., 2018; BRASIL, 2019a). O desenvolvimento dos sinais e sintomas da patologia é variável e complexo, podendo comprometer gravemente o sistema nervoso, o aparelho cardiovascular, respiratório e gastrointestinal, principalmente quando não tratadas, resultando nessas formas de maior gravidade (BRASIL, 2015a; LEITE et al., 2016; SALOMÃO, 2017; BRASIL, 2019a). Nesse ínterim, a sífilis apresenta as seguintes formas clínicas: a sífilis primária que se caracteriza pela presença geralmente de uma única lesão específica, o cancro duro como também é chamada, apresenta-se usualmente como pápula rósea de bordas rígidas com exulceração central e indolor, medindo de 1 a 2 cm de diâmetro, ocorre por volta de três semanas após o período de inoculação do agente, a qual regride espontaneamente em média de duas a seis semanas após o seu aparecimento, não deixando cicatriz. No homem, a lesão habitualmente se localiza na região prepucial e nas mulheres nos pequenos lábios, além da região anal em 90% a 95% dos casos, mas outras áreas também são acometidas como boca, língua, dedos e região mamária. Nessa fase, a maior parte dos casos costuma passar despercebido, as lesões são altamente infectantes devido à grande quantidade de espiroquetas do Treponema pallidum e os testes sorológicos podem dar falsos-negativos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; LEITE et al., 2016; SALOMÃO, 2017; PEELING et al., 2017; MOREIRA, 2018; SOUZA; RODRIGUES; GOMES, 2018). Na sífilis secundária, também chamada de segundo estágio da doença, caracteriza-se pelo acometimento sistêmico, pois o T. pallidum se dissemina pelo corpo, o que torna seus sinais e sintomas mais perceptíveis, geralmente surge por volta de quatro a dez semanas após o aparecimento do cancro duro e de forma geral seus sinais e sintomas aparecem em região de pele e mucosa, o qual o acometimento em região de palma das mãos e planta dos pés é muito característico. Dentre as suas principais manifestações clínicas, as lesões podem apresentar-se sob a forma de: maculas e pápulas eritematosas de cor branco acinzentadas, chamadas de roséola sifilítica, além disso, presença de alopecia em região occipitoparietal, poliadenomegalia generalizada, mialgia, artralgia, 28 anorexia, meningismo, hepatoesplenomegalia, faringite representam outros sintomas que podem se manifestar nessa fase da doença. A resolução espontânea dos sinais se dá em média de três a doze semanas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; LEITE et al., 2016; SALOMÃO, 2017; PEELING et al., 2017; MOREIRA, 2018; SOUZA; RODRIGUES; GOMES, 2018). Diante do exposto, caso a sífilis secundária não seja tratada ou seu tratamento tenha sido inadequado, a doença passa para um estado de latência (sífilis latente), caracterizada geralmente por ser um período assintomático, no qual os pacientes em sua grande maioria ficam livres dos sinais e sintomas, porém com resultados sorológicos positivos. O estágio de latência pode durar de um a trinta anos e configura-se como um período perigoso, pois os pacientes costumam acreditar estarem curados da doença, o qual aumenta o risco de transmissão principalmente quando estes são mulheres gestantes. Ademais, na sífilis latente recente que frequentemente costuma ser os doze primeiros meses após a fase da sífilis secundária,os pacientes acometidos são transmissores da doença, enquanto que na sífilis latente tardia a transmissão pelo infectado diminui (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; LEITE et al., 2016; SALOMÃO, 2017; PEELING et al., 2017; MOREIRA, 2018; SOUZA; RODRIGUES; GOMES, 2018). A sífilis terciária é a fase mais grave da doença, cerca de 15% a 40% dos pacientes infectados evoluirão para essa etapa devido a não realização do tratamento ou tratados inadequadamente, podendo esta se manifestar de 10 a 20 anos após a primo-infecção (mais de 3 anos de exposição a infecção). Nessa fase caracteriza-se pela destruição de tecidos moles, pele, sistema cardiovascular, nervoso, músculos, fígado, ossos, além disso, sua lesão característica é a goma ou granuloma, lesão ulcerada, nodular e indolor, altamente destrutivo com ausência total de treponemas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; LEITE et al., 2016; SALOMÃO, 2017; PEELING et al., 2017; MOREIRA, 2018; SOUZA; RODRIGUES; GOMES, 2018). No que concerne à sífilis congênita, ocorre quando as espiroquetas da bactéria T. pallidum através da disseminação sistêmica ultrapassam a barreira placentária, geralmente por volta da 9ª a 16ª semanas da gestação ou ao nascer quando o concepto entra em contato com lesões genitais infecciosas presentes no canal de parto da mãe, é transmitido também para a criança quando a mulher 29 gestante não realiza o tratamento adequado e oportuno e/ou não são tratadas e por reinfecção. É dividida em duas fases, a primeira chamada de sífilis congênita precoce (em crianças até 2 anos de idade diagnosticada) e a segunda conhecida por sífilis congênita tardia (após os 2 anos de idade), frequentemente a transmissão da sífilis materna para o concepto resulta em desfechos negativos, a exemplo do aborto, natimorto ou criança com malformações congênitas (BRASIL, 2015a; BRASILEIRO FILHO, 2017; NASCIMENTO, 2018; SOUZA; RODRIGUES; GOMES, 2018; GUERRERO; LUCIANI, 2019). Dentre as manifestações clínicas da fase aguda ou sífilis congênita recente estão inseridos: prematuridade, rash cutâneo, eritroblastose, periostite, erupções vesículo-bolhosas, osteocondrite, anemia, hepatoesplenomegalia, alteração no sistema nervoso central, baixo peso, nariz em sela, icterícia, lesões muco-cutâneas, febre, rinite, trombocitopenia, meningite, palidez dentre outros sintomas. Em relação aos sintomas clínicos da sífilis congênita tardia, encontram-se: bossa frontal de Parrot, tíbia em forma de lâmina de sabre, mandíbula curta, fronte olímpica, atresia da maxila, palato ogival, nariz em sela e a tríade de Hutchinson que é representada pela ceratite intersticial, dentes de Hutchinson, molares em amora e comprometimento do VIII par de nervo craniano, o que leva posteriormente a surdez, dentre outros sintomas (BRASIL, 2015a; BRASILEIRO FILHO, 2017; NASCIMENTO, 2018; MOREIRA, 2018). A sífilis no período gestacional e parto quando comparada as outras infecções que acometem as mulheres, tem uma maior taxa de transmissão vertical, isso acontece quando a gestante não tratada e/ou tratada inadequadamente transmite a sífilis para a criança (transmissão vertical), seja ela por via transplacentária ou pelo canal de parto, no qual o feto pode ser acometido gravemente, causar morte intrauterina ou mesmo um recém-nascido assintomático, porém infectado. (TUDDENHAM; GHANEM, 2015; BRASIL 2016b; MOREIRA, 2018). Nesse intento, a sífilis é uma doença prevenível, ao passo que essa mulher gestante infectada seja diagnosticada em tempo oportuno e devidamente tratada, assim como sua parceria sexual, quando está não ocorre sugere-se indicativo de falhas na assistência pré-natal. Isso posto, a atenção básica garante uma assistência de saúde especializada e de fácil acesso a todas as gestantes, através de medidas 30 preventivas e de tratamento, uma vez que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) passível de controle. (BRASIL, 2016b; MOREIRA, 2018). Em contrapartida, estudos sugerem que o principal fator responsável pela elevada incidência da sífilis congênita em todo o mundo é a assistência pré-natal inadequada (BRASIL, 2017c CAVALCANTE; PEREIRA; CASTRO, 2017). É importante também mencionar o fato de que há falta de atendimento adequado nas unidades de saúde, lacuna na abordagem dessa mulher gestante por parte de alguns profissionais de saúde. Além disso, os determinantes e condicionantes de saúde a exemplo da renda familiar, baixa escolaridade, raça/cor, abuso de álcool e outras drogas, história de IST, história de sífilis gestacional anterior, múltiplos parceiros sexuais também influenciam diretamente na continuidade desse tratamento ou subutilização do sistema de saúde por parte desses sujeitos (NONATO; MELO; GUIMARÃES, 2015; DOMINGUES; LEAL, 2016). Assim, um grande número de gestantes não chegam a realizar os testes sorológicos, dentre eles o teste para sífilis e as que o realizam não recebem o tratamento de forma adequada e/ou não tratadas (BRASIL, 2017c). Aproximadamente 50% das gestantes que se encontram em uma das situações anteriormente citadas podem transmitir a doença ao concepto, levando a resultados adversos como morte fetal, morte neonatal, prematuridade, baixo peso ao nascer ou infecção congênita (NONATO; MELO; GUIMARÃES, 2015; AZEVEDO et al., 2017). Nesse encadeamento, aponta-se ainda a dificuldade de acesso aos serviços de saúde que se configuram como fatores indutivos da eliminação ou até mesmo da diminuição desse agravo, como por exemplo: a não solicitação do exame sorológico para sífilis na gestante durante o pré-natal, assim como seus parceiros, a não eficácia na abordagem do casal para realização do tratamento, o que resulta em reinfecção e tratamento incompleto dessa gestante (JANIER et al., 2014; BRASIL, 2016b ; BRASIL, 2017c) Notadamente, os últimos anos vêm apresentando um aumento gradual na prevalência de sífilis na gestação e consequentemente uma ampliação no número de casos de sífilis congênita, tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento (BRASIL, 2018; BRASIL, 2019a). Nesse contexto, a atenção pré-natal se insere no escopo de atividades da Estratégia de Saúde da Família 31 (ESF), no qual tem em seus respectivos protocolos a triagem da sífilis na gestante, além do tratamento para a mulher e seu parceiro, quando testam positivos. Além disso, uma boa assistência pré-natal propicia num diagnóstico precoce, tratamento adequado para a gestante e seu parceiro, assim como melhores indicadores de saúde, o que posteriormente evita diagnósticos tardios, principalmente no âmbito hospitalar (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2019a). 3.2.1 Epidemiologia No Brasil, a sífilis mostra-se como um evento de alta magnitude e ainda apresenta indicadores desfavoráveis em termos do seu controle, apesar de sua evolução em relação às formas de diagnóstico, tratamento e prevenção, a qual gera também a necessidade de prioridade política para a sua abordagem, uma vez que representa um problema de saúde pública e de grande relevância até os dias atuais (BRASIL, 2020b). No tocante as ações de controle da sífilis seja ela adquirida, gestacional ou congênita, o estabelecimento das ações de vigilância epidemiológica deve ser encarado como uma estratégia com vistas à análise, o acompanhamento e à interpretação permanente dos dados representativos do contexto epidemiológico local, pois estes dados visam subsidiar gestores com informações relevantes para o planejamento e avaliação das políticas e ações públicas de saúde (TAYRA et al., 2007; COSTA et al., 2016; BRASIL, 2020b). Nesse contexto, nos últimos cinco anos foi observado no Brasil um aumento constante no número de casos de sífilis em gestantes, congênita e adquirida, que pode ser atribuído, em parte, pelo aumento da cobertura de testagem, com ampliação do uso de testes rápidos, redução do uso de preservativos,resistência dos profissionais de saúde a administração da penicilina na Atenção Básica, desabastecimento mundial de penicilina, entre outros. Além disso, o aprimoramento do sistema de vigilância pode se refletir no aumento de casos notificados. (BRASIL, 2017c; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2020b). Segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde no ano de 2019, a notificação dos casos de sífilis no Brasil tem aumentado significativamente, no entanto, no ano de 2019 apresenta decréscimo no número de casos. Em 2019 foram notificados 246.869 casos da doença, no qual 152.915 32 casos de sífilis adquirida; 61.127 de sífilis em gestante e 24.130 casos de sífilis congênita. Ademais, dados revelam ainda que se comparado ao ano de 2018 houve uma redução da taxa de detecção da sífilis adquirida de 78,8/100.000 casos para 72,8/100.000 casos; sífilis em gestantes de 21,4/1.000 para 20,8/1.000 nascidos vivos e na taxa de incidência de sífilis congênita de 9,0/1.000 para 8,2/1.000 nascimentos com vida (BRASIL, 2020a). Diante dos dados apresentados, percebe-se que em 2019, em comparação com o ano de 2018, observaram-se reduções de 3,3% na taxa de detecção em gestantes e de 8,7% na taxa de incidência de sífilis congênita. Houve também redução de 4,6% na taxa de detecção de sífilis adquirida (BRASIL, 2020a). De 2010 a junho de 2020, no Brasil, foram notificados no SINAN 783.544 casos de sífilis adquirida, dos quais 52,7% eram residentes na região Sudeste, 22,2% no Sul, 13,0% no Nordeste, 6,8% no Centro-Oeste e 5,2% no Norte. Vale ressaltar que no ano de 2019, no Brasil, notificaram-se 152.915 casos, a maioria dos quais 70.291 (46,0%) residia na Região Sudeste, seguidos pelo Sul 35.554 (23,3%), Nordeste 24.163 (15,8%), Centro-Oeste 12.286 (8,0%) e Norte 10.621 (6,9%) (BRASIL, 2020a). Entre 2018 e 2019, observou-se que o Brasil e algumas regiões apresentaram redução em suas taxas de detecção de sífilis adquirida. No país, a redução foi de 4,5% (de 76,2 para 72,8/100.000 casos). Houve também redução de 9,8% no Nordeste (de 46,9 para 42,3/100.000 casos), 3,6% no Sudeste (de 82,5 para 79,5/100.000 casos), 5,2% no Sul (de 125,1 para 118,6/100.000 casos) e 5,3% no Centro-Oeste (de 79,6 para 75,4/100.000 casos). A região Norte foi a única que mostrou aumento na taxa nesse mesmo período, com um incremento de 5,1% (de 54,8 para 57,6/100.000 casos). Com relação às capitais, 16 delas apresentaram taxa de detecção mais elevada que a nacional, no qual se destaca Natal (92,9/100.000 casos) (BRASIL, 2020a). No tocante a sífilis em gestantes, foram notificados no período de 2005 a junho de 2020 no SINAN 384.411 casos, dos quais 45,3% residiam na região Sudeste, 20,9% no Nordeste, 14,8% no Sul, 10,2% no Norte e 8,8% no Centro- Oeste. Diante disso, no ano de 2019 no Brasil, o número de casos notificados foi de 61.127, o que representa uma redução de 3,3% em relação ao ano anterior, dentre os quais 27.585 (45,1%) eram residentes na região Sudeste, 13.026 (21,3%) 33 no Nordeste, 9.383 (15.4%) no Sul, 6.026 (9,9%) no Norte e 5.107 (8,4%) no Centro-Oeste. Ressalta-se ainda que de 2018 para 2019 houve uma diminuição no número de notificações nas regiões Nordeste e Sudeste e aumento nas regiões Sul, Norte e Centro Oeste (BRASIL, 2020a). Em 2019, no Brasil, observou-se uma taxa de detecção de 20,8 casos de sífilis em gestantes por mil nascidos vivos (3,3% inferior à taxa observada no ano anterior). As taxas de detecção das regiões Sudeste (24,0/1.000 nascidos vivos) e Sul (23,7/1.000 nascidos vivos) foram superiores à nacional, e no Centro-Oeste a taxa apresentou-se igual à taxa brasileira (20,8/1.000 nascidos vivos). No último ano, constata-se que as regiões Norte, Sul e Centro-Oeste apresentaram aumento em suas taxas de detecção, e que as regiões Nordeste e Sudeste apresentaram diminuição. Em relação às capitais, Natal foi uma das capitais que apresentou taxas de detecção de sífilis em gestantes superiores a taxa nacional em 2019 (BRASIL, 2020a). Segundo o MS, de 1998 a junho de 2020 foram notificados no SINAN 236.355 casos de sífilis congênita em menores de um ano de idade, dos quais 105.084 (44,5%) eram residentes na Região Sudeste, 70.478 (29,8%) no Nordeste, 27.269 (11,5%) no Sul, 20.159 (8,5%) no Norte e 13.365 (5,6%) no Centro-Oeste. Em 2019, foram notificados 24.130 casos, a maioria dos quais (44,6%) residiam na Região Sudeste, seguidos pelo Nordeste (26,3%), Sul (13,7%), Norte (9,2%) e Centro-Oeste (6,1%). De 2018 para 2019, houve redução de 8,7% no número de notificações no Brasil. Com relação às regiões, a maior redução ocorreu na região Nordeste (19,1%), seguida das regiões Sul (6,4%) e Sudeste (5,3%). As regiões Norte e Centro-Oeste tiveram discreto aumento no número de casos notificados: em 2019, ambas apresentaram aumento de 0,3% em relação a 2018 (BRASIL, 2020a). Em 2019, observou-se uma taxa de incidência de 8,2/1.000 casos por nascidos vivos no Brasil, com a maior taxa na região Sudeste (9,4/1.000 casos), seguida da região Sul (8,3/1.000 casos), ambas acima da taxa nacional. Abaixo da taxa nacional estão as regiões Nordeste (7,6/1.000 casos), Norte (7,0/1.000 casos) e Centro- Oeste (6,0/1.000 casos) (BRASIL, 2020a). No Brasil, em geral, nos últimos 10 anos, houve um progressivo aumento na taxa de incidência de sífilis congênita: em 2009, a taxa observada era de 2.1 34 casos/1.000 nascidos vivos, chegou a 9,0 casos/1.000 nascidos vivos em 2018 e reduziu-se para 8,2 casos/1.000 nascidos vivos em 2019 (BRASIL, 2020a). No ano de 2019, 10 Unidades da Federação (UF) apresentaram taxas de incidência de sífilis congênita superiores à taxa nacional (8,2 casos/1.000 nascidos vivos), dentre eles, o Estado do Rio Grande do Norte-RN (12,3 casos/1.000 nascidos vivos) e dentre as capitais Natal (22,9/1.000 nascidos vivos) (BRASIL, 2020a). Desde 2018, ao se compararem as taxas de detecção de sífilis em gestantes com as taxas de incidência de sífilis congênita em cada uma das capitais, nota-se que, em 2019, nenhuma capital apresentou taxa de incidência de sífilis congênita maior do que a taxa de detecção de sífilis em gestantes, o que remete a possíveis diagnósticos e tratamentos em tempo oportuno e adequado para as mulheres gestantes e suas parcerias sexuais, realização de notificação e devido acompanhamento dos casos através do sistema de vigilância epidemiológica em todo o território brasileiro (BRASIL, 2020a). Diante dessa realidade, no Estado do Rio Grande do Norte, entre 2011 e 2019, foram registrados 7.534 casos de sífilis adquirida, sendo 3.863 (51,3%) do sexo masculino e 3.671 (48,7%). Em 2019, foram notificados 1717 casos de sífilis adquirida, o que representa um aumento de 3,4% em comparação ao ano anterior. (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). A taxa de detecção de sífilis adquirida em 2018 foi 47,7 casos por 100 mil habitantes, superior à taxa identificada no Nordeste (46,9/100.000 casos) (BRASIL, 2019b). Além disso, a taxa de detecção de sífilis adquirida passou de 5,2 casos por 100 mil habitantes em 2011 para 49,0 casos por 100 mil habitantes em 2019, o que revela um aumento de 843%, (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). No que diz respeito à sífilis em gestantes, de janeiro de 2009 a dezembro de 2019, foram notificados 3780 casos no Rio Grande do Norte, no qual o município de Natal concentrou 1.231 (32,6%) dos casos registrados. Nesse período, observa-se um aumento de 559% no registro de casos de sífilis em gestante no estado. Em 2019, foram notificados 923 casos de sífilis em gestantes, representando um aumento de 14% em comparação com 2018 (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). A taxa de detecção do estado, em 2018, foi de 17,4 casos/mil nascidos vivos inferior ao observado no Nordeste e no Brasil, que apresentaram, 35 respectivamente, 18,0 e 21,4 casos/mil nascidos vivos nesse ano (BRASIL, 2019b).A taxa de detecção de sífilis em gestante mostrou um expressivo crescimento, passando 2,9, em 2009, para 21,6 casos/mil nascidos vivos em 2019, um incremento de 645%. Esse aumento pode estar relacionado à ampliação do acesso ao diagnóstico na atenção básica; as mudanças nos critérios de definição de sífilis em gestante no final de 2017 que passou a ser notificada toda gestante com teste rápido positivo, além da obrigatoriedade da notificação durante o pré-natal, parto e puerpério, que antes só podia ser realizada durante o pré-natal e a sensibilização dos profissionais de saúde quanto à qualidade dos registros de notificação (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). No contexto da sífilis congênita, foram notificados 3976 casos de crianças de janeiro de 2009 a dezembro de 2019 no Estado do Rio Grande do Norte, no qual o município de Natal concentrou 1.760 (44,3%) do total de casos registrados no estado, sendo observado nesse período um aumento de 228% no registro de casos de sífilis congênita no estado. A taxa de detecção de sífilis congênita apresentou um expressivo crescimento, passando 3,7, em 2009, para 13,9 casos/mil nascidos vivos em 2019, um incremento de 275%. Assim, em 2019, foram notificados 594 casos de sífilis congênita, revelando um incremento de 1,9% no registro de casos em comparação com o ano anterior (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). Dito isso, A taxa de incidência de sífilis congênita no estado, em 2018, foi 12,5 casos por mil nascidos vivos, valor superior à taxa do Nordeste e do Brasil, que apresentaram, respectivamente, 9,6 e 9,0 casos/mil nascidos vivos nesse ano (BRASIL, 2019b). No período de janeiro de 2009 a dezembro de 2019, foram declarados, no SIM, um total de 35 óbitos por sífilis em crianças menores de 1 ano, o qual apresentou um coeficiente de mortalidade infantil por sífilis de 2,0/100.000 nascidos vivos, em 2009, para 4,7/100.000 nascidos vivos em 2019, revelando um aumento de 135% (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). Em 2018, o coeficiente de mortalidade, no estado, foi de 12,9 óbitos por 100 mil nascidos vivos, superior ao encontrado na região nordeste e no Brasil, que apresentaram 9,4 e 8,2 óbitos por 100 mil nascidos vivos respectivamente (BRASIL, 2019b). Diante disso, verificou-se uma expressiva diminuição no coeficiente de mortalidade em 2019, 36 com redução de 63,6% em comparação ao ano anterior (RIO GRANDE DO NORTE, 2020). 3.2.2 Transmissão Sífilis, IST infectocontagiosa sistêmica causada por uma espiroqueta, o Treponema pallidum, o qual tem seu desenvolvimento através da penetração da mucosa íntegra ou a pele lesionada e se dissemina pelo organismo, a qual pode ser transmitida por via sexual, vertical e/ou sanguínea, essa última tornou-se muito rara devido ao controle e testagem do sangue doado pelos hemocentros (BRASIL, 2017b; BRASIL, 2019c). Caracteriza-se por ser uma doença hidrossolúvel, ou seja, facilmente destruída por água, bem como por sabão e calor, não possui contágio elevado. Tal circunstância se evidencia pelo fato da chance de se adquirir a infecção por contato sexual com um infectado seja de uma em dez (AVELINO; PIMENTEL; GUSMÃO-FILHO, 2017). Defluente de tal, a sífilis congênita sucede-se da transmissão materno-fetal através da mulher gestante infectada em qualquer período da gestação e em qualquer fase da doença, com infecção ativa pela bactéria Treponema pallidum. Nesse contexto, a via transplacentária se configura como a mais comum, sobretudo no terceiro trimestre, pois o fluxo placentário está mais desenvolvido (FEITOSA; ROCHA; COSTA, 2016; PEELING, 2017; BRASIL, 2019a). Além do anteposto, existe a possibilidade de contaminação direta pela espiroqueta para o concepto durante a passagem pelo canal de parto, uma vez que existam lesões genitais nessa mulher gestante e através do aleitamento materno, desde que apresente lesões em região mamária. (FEITOSA; ROCHA; COSTA, 2016; PEELING, 2017; BRASIL, 2019a) Em contrapartida, quando a infecção acontece nos meses finais da gestação, há uma tendência de haver diminuição da morbimortalidade devido imunocompetência do feto que nesta fase está mais desenvolvido, bem como pela formação progressiva de anticorpos pela mãe, o que atenuará a infecção no concepto e, consequentemente, lesões mais tardias na criança. Além disso, nos casos em que a infecção materna é recente (sífilis primária ou secundária), a corrente sanguínea dessa mulher apresenta um maior número de bactérias 37 treponêmicas e, consequentemente um risco elevado de transmissão e gravidade (em torno de 70% a 100%). Contudo, essa gravidade decai progressivamente após gestações subseqüentes e sem tratamento oportuno e adequado (FEITOSA et al., 2016; BRASIL, 2017b; BRASIL, 2019a). 3.2.3 Manifestações clínicas A sífilis apresenta-se nas formas adquirida, gestacional e congênita, sendo a congênita de notificação compulsória em todo o território nacional desde a divulgação da Portaria nº 542/1986 de 22 de dezembro, a de sífilis em gestante mediante Portaria nº 33, de 14 de julho de 2005 e a de sífilis adquirida por meio da Portaria nº 2.472, de 31 de agosto de 2010 (BRASIL, 2018; BRASIL, 2019b). Nesse contexto, as manifestações clínicas da sífilis em gestantes são semelhantes as da sífilis adquirida que acomete a população geral. Dito isso, seu quadro clínico é variável, a depender: do tempo de exposição fetal ao treponema (duração da sífilis na gestação sem tratamento); da carga treponêmica materna; da virulência do treponema; do tratamento da infecção materna; da coinfecção materna pelo HIV ou outra causa de imunodeficiência. Esses fatores poderão acarretar aborto, natimorto ou óbito neonatal, bem como sífilis congênita sintomática ou assintomática ao nascimento (BRASIL, 2017b; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). No que concerne à sífilis congênita precoce, manifesta-se costumeiramente nos primeiros dois meses de vida do concepto, porém é mais evidente até a quinta semana. Nesse sentido, a diferenciação da sífilis em relação às outras infecções congênitas se dá através da presença das lesões de pele e mucosas, fato esse que corresponde à fase de secundarismo luético do adulto com a presença das sifílides. (AVELINO; PIMENTEL; GUSMÃO-FILHO, 2017; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). Isso posto, é sabido que os sintomas se desenvolvem em aproximadamente dois terços dessas crianças por volta de 3 a 8 semanas de vida, o qual a grande maioria apresentam sintomas por volta dos 3 meses de idade (FEITOSA; ROCHA; COSTA, 2016). Dentre os sinais mais comuns da sífilis congênita precoce, encontram-se: hidropsia fetal, lesões de mucosas: rinite serossanguinolenta, obstrução nasal, 38 fissura orificial; lesões de pele: rágades na região nasogeniana, condiloma plano; lesões ósseas: osteíte ou osteocondrite, periostite e matafisite caracterizada pelo sinal de Weimberg, essas se manifestam por choro ao manuseio e pseudoparalisia de Parrot; hepatoesplenomegalia, icitericia e anemia grave. A cororretinite apresenta-se com aspecto de sal com pimenta (AVELINO; PIMENTEL; GUSMÃO-FILHO, 2017; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). Nesse ínterim, de acordo com o MS em relação às manifestações clínicas da sífilis, observa-se, em ordem decrescente de frequência: hepatoesplenomegalia, prematuridade, lesões cutâneo-mucosas, como pênfigo palmoplantar, exantema maculopapular e rinite serossanguinolenta, lesões osseas (periostite, osteíte ou osteocondrite), adenomegalia generalizada, lesões pulmonares (pneumonia alba), lesões renais (síndrome nefrótica), edema/hidropsia, meningoencefalite assintomática e anemia (BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). Em relação aos casos mais graves (sífilis congênita maior), as principais manifestações clínicas apresentadas são: icterícia, anemia e lesão cutâneo-mucosas que costumam surgir nos primeiros dias de vida do concepto (AVELINO; PIMENTEL;GUSMÃO- FILHO, 2017; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). No tocante a sífilis congênita tardia, essa costuma surgir geralmente após os dois primeiros anos de vida da criança infectada e corresponde no adulto na terceira fase da sífilis. Essa fase consiste em apresentar lesões típicas que formam os estigmas, que ocorrem em consequência da substituição dos órgãos por tecido de granulação sifilítica. Dentre as manifestações clínicas, destacam-se de forma secundária: a lesões de pele, cicatrizes nasolabiais das rágades na face; a lesões de mucosas, goma do véu do paladar; a lesões ósseas, fronte olímpica, nariz em sela, maxila curta, palato em ogiva, molares em amora ou de Mozer, tíbia em sabre, sinal de Higoumenakis, que é alargamento da clavícula e dentes de Hutchinson; a lesões de mucosas, lesões do sistema nervoso central: disfunção de nervos cranianos, meningite, convulsões, diminuição da audição, dificuldades no aprendizado, hidrocefalia, anormalidades oftalmológicas que podem ocasionar cegueira e retardo mental (AVELINO; PIMENTEL; GUSMÃO-FILHO, 2017; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c). 3.2.4 Diagnóstico 39 No Brasil são preconizados protocolos e rotinas de diagnósticos de atendimento as gestantes com sífilis, dentre eles: diagnóstico e adequação do tratamento para sífilis, evidência clínica, laboratorial e radiográfica, além do histórico de infecções passadas e investigação de exposição recente (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2019a). Isso posto, o conhecimento da evolução da doença e suas diferentes fases de infecção se configuram como um achado importante, uma vez que, a história do indivíduo, seus dados clínicos e a detecção de antígenos ou anticorpos através de exames laboratoriais são estabelecidos por meio de protocolos ministeriais que ressaltam o diagnóstico de sífilis (JANIER et al., 2014; BRASIL, 2016b). No que concerne aos exames para o diagnóstico da sífilis, a escolha dos testes para sua detecção leva em consideração o estágio da doença (fase primária, latente, secundária ou terciária), assim como a sua potencialidade de diagnóstico fidedigno, sendo estes divididos em exames diretos e testes imunológicos (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2020b). Ademais, o diagnostico da sífilis é preconizado pela Portaria nº 2.012, de 19 de outubro de 2016 (BRASIL, 2016c). Assim, os exames diretos são aqueles em que se realiza a pesquisa ou detecção das espiroquetas em amostras coletadas diretamente das lesões, a exemplo da microscopia de campo escuro, o qual se configura como uma forma direta de averiguação da presença do T. pallidum na sífilis primária e secundária, com alto grau de sensibilidade, assim como, por imunofluorescência indireta (Fluorescent Treponemal Antibody-Absorption - FTA-Abs), ensaios imunoenzimaticos (como os testes Enzyme-Linked Immunossorbent Assay - ELISA), exame de material corado e biópsias (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2019a; BRASIL, 2020b). Além dos testes citados anteriormente, existem outros testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos do T. pallidum, chamados de testes treponêmicos, são importantes para o diagnóstico da sífilis, porém não indicados para o monitoramento da doença, como os testes de hemaglutinação (T. Pallidum Haemagglutination Test - TPHA) e aglutinação de partículas (T. Pallidum Particle Agglutination Assay - TPPA). O teste rápido, o qual pode ser realizado com amostras de sangue total colhidos através de punção venosa ou 40 punção digital são práticos e de fácil execução (JANIER et al., 2014; BRASIL, 2016b; BRASIL, 2020b). Por outro lado, os testes não treponêmicos detectam anticorpos não específicos anticardiolipina para os antígenos do T. pallidum, podendo ser qualitativos ou quantitativos. Diferentemente dos testes treponêmicos, esses são expressos em títulos e importantes para o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento, sendo o VDRL mais comumente utilizado, no entanto, no Brasil são utilizados também outros testes rotineiramente, como o RPR (Rapid Plasma Reagin) e o USR (Unheated-Serum Reagin) (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2020b). Diante do exposto, os casos de sífilis em gestantes poderão ser definidos da seguinte forma: mulheres assintomáticas com apenas um teste reagente, sem registro de tratamento prévio e, em caso de dois testes reagentes, independente de tratamento prévio; em gestantes sintomáticas, a definição do caso poderá ser feita com apenas um teste, treponêmico (com qualquer titulação) ou não treponêmico. Para determinar os casos de sífilis congênita, não mais será levado em consideração o tratamento da parceria sexual da mãe, as titulações para teste não treponêmicos deverão ser feitas em pelo menos duas diluições e as amostras para evidencia microbiológica poderão ser, também, de secreção nasal ou lesão cutânea (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2019c; BRASIL, 2020b). Destarte, o diagnóstico da sífilis congênita é dificultado pela transferência de anticorpos da classe IgG (treponêmicos e não treponêmicos), uma vez que estes positivam os testes sorológicos que são utilizados no diagnóstico da sífilis, sendo esse realizado com base clínica e laboratorial (AVELINO; PIMENTEL; GUSMÃO-FILHO, 2017). Além do anteposto, considera-se sífilis congênita as seguintes situações: todos os recém-nascidos de mães não tratadas ou inadequadamente tratadas; toda criança com VDRL positivo e uma alteração, tanto clínica, radiológica ou liquórica; VDRL maior ou igual a 4 vezes o título materno no parto; elevação da titulação de VDRL; RN com evidência laboratorial em material colhido de lesão, placenta ou cordão umbilical; morte fetal após 20 semanas ou com peso maior que 500 gramas cuja mãe sifilítica, foi incorretamente tratada ou não foi tratada; natimorto com sífilis (TAYRA et al., 2007; BRASIL, 2017a; BRASIL, 2019c; BRASIL, 2020b). 41 Em relação ao diagnóstico de neurossífilis, este é confirmado através de exame VDRL positivo no LCR. No entanto, existem outros casos considerados como neurossífilis, conforme se segue: aumento de celularidade com predomínio linfocitário e/ou proteinorraquia elevada no LCR associado à VDRL sérico positivo; RN com diagnostico de sífilis congênita, não sendo possível fazer punção lombar; ou filho de mãe soropositiva para sífilis e HIV (MARRA, 2015; FEITOSA; ROCHA; COSTA, 2016; MUSHER, 2016; TUDDENHAM, 2018; BRASIL, 2019c; BRASIL, 2020b). 3.2.5 Tratamento A penicilina é o medicamento de escolha para o tratamento da sífilis, especificamente a Benzilpenicilina benzatina, apesar de existir outros antibióticos no mercado. Contudo, quando se refere alergia, a alternativa é o uso da Doxiciclina 100 mg, Via Oral, de 12 em 12 horas, durante 15 dias (exceto para gestantes) nos casos de sífilis recente (primária, secundária e latente recente), Doxiciclina 100mg, 12/12h,VO, por 30 dias nos casos de sífilis tardia (sífilis latente tardia ou latente com duração ignorada e sífilis terciária); Ceftriaxona 2g IV, 1x/dia, por 10-14 dias, para gestantes e não gestantes, assim como para seu parceiro (BRASIL, 2020b). Nesse intento, a penicilina G benzatina pode ser utilizada em qualquer fase da sífilis adquirida. Na sífilis recente: primária, secundária e latente recente (com até 1 ano de evolução) – Benzilpenicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 milhões UI em cada glúteo), com teste não treponêmico trimestral (em gestantes, o controle deve ser mensal); na sífilis tardia: sífilis latente tardia (com mais de 1 ano de evolução) ou latente com duração ignorada e sífilis terciária - Benzilpenicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM, 1x/semana (1,2 milhão UI em cada glúteo) por 3 semanas, dose total 7,2 milhões UI, IM, com teste não treponêmico trimestral (em gestantes, o controle deve ser mensal) e em casos de neurossífilis é utilizada a Penicilina cristalina/potássica 18-24
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