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1 CAMPUS SANTANA DO LIVRAMENTO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Economia Monetária Aula III Sistema Monetário Cap. 1: SIMONSEN & CYSNE Cap. 2: CARVALHO ET AL. Prof.: Pierre Joseph NELCIDE 2 Conteúdo do capítulo: O banco central e suas funções típicas O balancete do banco central e do sistema monetário O multiplicador monetário Criação e destruição da base monetária Criação e destruição de meios de pagamento Operações de criação e destruição de meios de pagamento 3 2.1 BANCO CENTRAL: ORIGEM E FUNÇÕES Origem A história mostra que os bancos centrais modernos descendem de bancos privados que financiaram o Estado e o desenvolvimento econômico, em troca de favores especiais e do monopólio de emissão. Estes bancos foram criados originariamente para dar elasticidade ao crédito, adquirindo graus de autonomia e objetivos diferenciados em vários períodos. Este é o caso, por exemplo, do Banco da Inglaterra 4 (fundado em 1694) e do Federal Reserve (1913), nos Estados Unidos. O Federal Reserve System (FED) foi criado em 1913, com o objetivo de facilitar o desconto de títulos comerciais e realizar a inspeção dos bancos privados, numa época em que os fluxos monetários irregulares e a escassez de moeda e crédito dificultavam o crescimento econômico. A obrigação de manter a estabilidade de preços não estava entre os objetivos iniciais do banco. Tal objetivo somente aparece na forma de lei em 1977. 5 A crise de 1929 levou a uma série de mudanças fundamentais nos estatutos do FED, as quais tiveram como objetivo fortalecer a sua autoridade e a independência do sistema, em virtude dos fortes interesses econômicos e pressões políticas particulares. Os bancos privados, tidos como responsáveis pela grande depressão e por suas severas consequências, tiveram suas influências sobre as decisões do FED reduzidas a partir de então. 6 No Brasil entre 1964 (quando foi criado o Banco Central do Brasil) e março de 1986, o Banco do Brasil era, para fins de determinação da base monetária, consolidado ao Banco Central do Brasil. Ao conjunto formado pelo Banco do Brasil e Banco Central do Brasil dava-se a denominação de “Autoridades Monetárias”, ou de “Banco Central do tipo misto”. 7 A segunda denominação provém do fato de as Autoridades Monetárias apresentarem ao mesmo tempo, em seu passivo e ativo, contas típicas de Banco Central e de bancos comerciais. Neste sistema, por exemplo, as Autoridades Monetárias recebiam depósitos à vista do público (os depósitos à vista efetuados no Banco do Brasil, então diretamente contabilizados na base monetária). 8 Em função disto, as reservas em caixa das Autoridades Monetárias apresentavam valores estatisticamente não desprezíveis, pois o Banco do Brasil tinha que manter numerário para saldar os cheques diretamente apresentados aos caixas de suas agências. 9 Hoje em dia, como o Banco Central do Brasil não recebe depósitos à vista, as disponibilidades de caixa mantidas pelo Banco Central são desprezíveis para fins de estatísticas monetárias, fazendo com que o papel-moeda emitido coincida com o papel-moeda em circulação (o que não implica dizer que estes conceitos sejam equivalentes – a distinção conceitual permanece). 10 Com a extinção deste sistema híbrido, ao início de 1986, o Banco do Brasil passou a ser considerado um banco comercial como outro qualquer, implicando numa mudança nos valores da base monetária, do multiplicador bancário e da diferença entre o papel-moeda emitido e o papel-moeda em circulação. De forma geral, quando deixaram de ser privados e se tornaram instituições públicas, os bancos centrais passaram a ser criticados pela excessiva proximidade em relação aos governos. 11 Segundo os seus críticos, esta proximidade tornaria a moeda refém de grupos políticos e criaria, sobretudo nas democracias, ameaças inflacionárias permanentes. Para conter essas ameaças inflacionárias, difundiu-se, a partir dos anos 80, a tese da independência do Banco Central que se apoia, em grande medida, na crença de que existiria uma verdadeira função original e natural das autoridades monetárias, que é perseguir unicamente a estabilidade de preços. 12 A crença de que existe uma função natural e original dos bancos centrais não é, contudo, corroborada pela história, tal como foi visto. Funções Qualquer Banco Central possui algumas funções típicas: Emissor de papel-moeda e controlador da liquidez da economia; Banqueiro dos bancos; Regulador do sistema financeiro e; Depositário de reservas internacionais do país. 13 Emissor de Papel-moeda e Controlador de Liquidez: O Banco Central detém o monopólio de emissão de papel-moeda e de cunhagem de moedas metálicas. O Banco Central pode, ainda, controlar a quantidade de papel- moeda em circulação, isto é, o tamanho da base monetária. Pode também inibir a criação de moeda pelos bancos comerciais. Sendo assim, pode controlar a liquidez da economia. 14 Banqueiro dos Bancos: O Banco Central é responsável pela compensação de cheques, realiza o transporte de cédulas e moedas metálicas aos bancos, mantém parte das reservas dos bancos, entre outras atividades de auxílio ao sistema bancário. A função de emprestador de última instância é decorrente da posição de banqueiro dos bancos e que, portanto, deve zelar pela saúde do sistema financeiro. 15 O Banco Central deve socorrer os bancos comerciais e as instituições financeiras em dificuldade, concedendo liquidez aos mesmos através de empréstimos ou redescontando títulos. Regulador do Sistema Monetário e Financeiro: Muitos bancos centrais regulam as operações dos bancos comerciais e de instituições financeiras, tais como os bancos de investimento. 16 Supervisionam os negócios bancários para proteger os depósitos dos clientes e para garantir a solvência de cada banco em particular de forma a impedir possíveis crises sistêmicas. O Banco Central pode exigir capital mínimo para a instalação de um banco, pode estabelecer limites para certas operações com o intuito de impedir que os bancos se exponham excessivamente a situações de risco. 17 O Banco Central pode restringir ou impedir certas operações, pode realizar inspeções regulares e intervenções em instituições mal administradas etc. Depositário de Reservas Internacionais: O Banco Central pode deter grande parte das reservas internacionais do país. 18 Os agentes econômicos residentes e não residentes realizam transações. O Banco Central deve reter moeda estrangeira para atender a demanda daqueles que têm compromissos a saldar no exterior e evitar possíveis situações de escassez de divisas, que elevam demasiadamente a taxa de câmbio e que, no limite, impõem a decretação de moratória (suspensão temporária do pagamento de compromissos no exterior). 19 Ademais, possuindo uma quantidade considerável de reservas, o Banco Central pode, em certa medida, tentar controlar a taxa de câmbio realizando operações de compra ou venda no mercado de divisas internacionais. Cabe destacar, entretanto, que com a globalização desses mercados, tal possibilidade de controle foi bastante reduzida. 20É importante saber, ainda, que parte das reservas em posse do Banco Central são investidas, Ex: em títulos do Tesouro Americano, com objetivo de obter ganhos de juros e aumentar a quantidade total de divisas. 21 2.2. O BALANCETE DO BANCO CENTRAL E DO SISTEMA MONETÁRIO Entre os recursos monetários, a mais importante rubrica é a quantidade de papel-moeda emitido. Como já foi visto, a quantidade de recursos emitidos menos a caixa do Banco Central é igual à base monetária; então, optou-se por escriturar essa última conta que aparece no lado do passivo do balancete do Banco Central (Quadro 2.1). 22 A base monetária pode ser dividida em duas subcontas: papel-moeda em poder do público e encaixes totais em moeda dos bancos (ou reservas bancárias). O Banco Central também pode tomar empréstimos no exterior. 23 As principais contas do ativo do balancete do Banco Central são as seguintes: Reservas internacionais; Títulos públicos; Redescontos e empréstimos aos bancos. 24 Algumas das funções típicas do Banco Central são expressas nas contas do seu balancete. A função de emissor de papel- moeda é expressa pela conta base monetária. A função de emprestador de última instância aparece na conta redescontos e empréstimos. 25 A função depositário das reservas internacionais é expressa na conta reservas internacionais, com valor expresso em moeda nacional de acordo com a taxa de câmbio. É importante notar ainda que é através da aquisição de títulos públicos comprados diretamente do Tesouro Nacional que o Banco Central pode desempenhar eventualmente a função de financiar o governo. 26 É através da aquisição ou venda de títulos em carteira que o Banco Central pode controlar a taxa de juros da economia e a quantidade de meios de pagamento. O sistema monetário é aquele conjunto de instituições que pode criar meios de pagamento, isto é, o Banco Central e os bancos comerciais. 27 O balancete do sistema monetário é a soma algébrica do balancete do Banco Central com o balancete dos bancos comerciais (Quadro 2.2). 28 O balancete de um banco comercial foi apresentado nas aulas passadas, e transcrevendo-o (Quadro 1.2): 29 O balancete do conjunto dos bancos comerciais de uma economia possui a mesma estrutura do balancete acima reapresentado (Quadro 1.2). Assim, pode-se efetuar a soma algébrica deste balancete (considerando-o como representativo do conjunto de bancos comerciais) e o balancete do Banco Central apresentado no Quadro 2.1. 30 Quando se efetua o agrupamento das contas, percebe-se que as rubricas (2) e (14) do ativo têm o mesmo valor das contas do passivo (16.2) e (9), respectivamente. Portanto, podem ser excluídas. As contas (16.1) e (6) podem ser agrupadas em uma única conta, os meios de pagamento. As demais contas do passivo se constituem nos recursos não monetários do sistema bancário. 31 2.3. O MULTIPLICADOR MONETÁRIO A quantidade ofertada de base monetária é estabelecida pelo Banco Central. A demanda pela base monetária é realizada pelo público e pelos bancos. Os bancos demandam base pela necessidade de manter reservas (encaixes). O público demanda base para transformá-la em meios de pagamento. 32 A questão relevante é que a quantidade total de meios de pagamento é um múltiplo da base monetária. A explicação para esse fato é que não é somente o Banco Central que cria meios de pagamento, os bancos comerciais também o fazem. 33 Os bancos possuem essa prerrogativa porque o público aceita os depósitos à vista (moeda escritural) como meios de pagamento. Então, como os bancos sabem que nem todos os clientes desejam sacar ao mesmo tempo seus depósitos, criam moeda escritural em uma quantidade superior às reservas que possuem. Consequentemente, os meios de pagamento tornam-se um múltiplo da base monetária. 34 O Gráfico 2.1 apresentado a seguir descreve essas relações entre a base monetária e os meios de pagamento e entre as reservas bancárias (os encaixes) e os depósitos à vista. A parte da base monetária que é demandada pelo público (papel- moeda) não é multiplicada, mas os bancos multiplicam a parte que demandam. 35 O multiplicador monetário é a razão meios de pagamento/base monetária. É positivo e, em geral, maior que 1 (um). 36 Os meios de pagamento são definidos por: 𝑀𝑃 = 𝑃𝑀𝑃𝑃 + 𝐷𝑉𝐵𝐶 Então 𝑃𝑀𝑃𝑃 = 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 A base monetária é definida por 𝐵 = 𝑃𝑀𝑃𝑃 + 𝐸𝑇 Então 𝑃𝑀𝑃𝑃 = 𝐵 − 𝐸𝑇 Logo, 𝑃𝑀𝑃𝑃 = 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 = 𝐵 − 𝐸𝑇 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 = 𝐵 − 𝐸𝑇 37 𝐵 = 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 + 𝐸𝑇 Dividindo-se cada termo desta última equação por MP, obtém-se: 𝐵 𝑀𝑃 = 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 + 𝐸𝑇 𝑀𝑃 𝐵 𝑀𝑃 = 𝑀𝑃 𝑀𝑃 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 + 𝐸𝑇 𝑀𝑃 𝐵 𝑀𝑃 = 1 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 + 𝐸𝑇 𝑀𝑃 Dividindo-se e multiplicando-se o último termo por 𝐷𝑉𝐵𝐶, tem-se: 𝐵 𝑀𝑃 = 1 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 + ( 𝐸𝑇 𝑀𝑃 ) ∗ ( 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝐷𝑉𝐵𝐶 ) 38 Chamando-se a razão 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 de d e a razão 𝐸𝑇 𝑀𝑃 de e, pode-se reescrever esta última equação da seguinte forma: 𝐵 𝑀𝑃 = 1 − 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 + ( 𝐸𝑇 𝐷𝑉𝐵𝐶 ) ∗ ( 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑀𝑃 ) 𝐵 𝑀𝑃 = 1 − 𝑑 + 𝑒 ∗ 𝑑 𝐵 𝑀𝑃 = 1 − 𝑑(1 − 𝑒) 𝑀𝑃 = 𝐵 [1 − 𝑑(1 − 𝑒)] 39 Assim, o multiplicador monetário é: 𝛼 = 1 [1 − 𝑑(1 − 𝑒)] Logo, uma variação da base monetária multiplicada por 𝛼 é igual à variação dos meios de pagamento, isto é: ∆𝑀𝑃 = 𝛼∆𝐵 40 Ex: se o multiplicador monetário de uma economia é 1,54 e o Banco Central fez a base monetária variar em 100 milhões de unidades monetárias, então, os meios de pagamento foram expandidos em 154 milhões de unidades monetárias. O Banco Central do Brasil divulga mensalmente o valor do multiplicador monetário. O multiplicador monetário é função de duas variáveis d e e. Quanto maior o valor de d, maior será o multiplicador. Quanto maior o valor de e, menor será o multiplicador. 41 Assim, pode-se dizer que: 𝛼 = 𝑓(𝑑, 𝑒) 𝛿𝛼 𝛿𝑑⁄ > 0 𝛿𝛼 𝛿𝑒⁄ < 0 O entendimento econômico: Quando a quantidade de reservas bancárias em relação ao total de depósitos à vista (e) é aumentada, dada uma quantidade de depósitos à vista em relação ao total de meios de pagamento (d), menor será o multiplicador α. 42 Isto pode ocorrer quando, por exemplo, o Banco Central decide elevar as reservas compulsórias dos bancos. Assim, com uma quantidade menor de reservas livres para realizar negócios, os bancos tendem a reduzir a oferta de crédito ao público, independentemente da sua demanda. 43 O coeficiente e representa o percentual fixado legalmente de quanto dos depósitos à vista devem ser recolhidos ao Banco Central e, além disso, reflete a aversão dos bancos a ter que recorrer a auxílios do Banco Central em virtude de uma eventual insuficiência de encaixes de negócios. Logo, se as taxas de juros das operações de redesconto tornam-se punitivas e as reservas compulsórias se elevam, o coeficiente e aumenta e o multiplicador α diminui. 44 Pode-se dizer então que o coeficiente e é representativo das decisões do Banco Central(em relação ao percentual de reservas compulsórias) e da decisão de como os bancos administram os seus ativos (a concessão de empréstimos) e seus passivos (a emissão de depósitos à vista). Quando a quantidade de depósitos à vista em relação ao total de meios de pagamento (d) é aumentada, dada uma quantidade de reservas bancárias em relação ao total de depósitos à vista (e), maior será o multiplicador α. 45 Isto pode ocorrer quando, por exemplo, os bancos comerciais adotam políticas de concessão de crédito mais agressivas. Se existem tomadores de crédito insatisfeitos, tal política creditícia de oferta mais ampla aumentará a quantidade de meios de pagamento da economia. Em outras palavras, aumentará a quantidade de depósitos à vista em relação ao papel-moeda em poder do público. 46 Pode-se dizer, portanto, que o coeficiente d é representativo da decisão de como os bancos administram os seus ativos (a concessão de empréstimos) e os seus passivos (a emissão de depósitos à vista), assim como da decisão do público de demandar meios de pagamento na forma de depósitos à vista (isto é, demandar empréstimos) 47 Em suma, o Banco Central pode controlar a quantidade de meios de pagamento da economia (de acordo com a fórmula 𝐵𝛼 = 𝑀 ) de duas formas isoladamente ou utilizando-as de maneira complementar. 48 Em primeiro lugar, o Banco Central pode controlar diretamente a base monetária tal como será visto a partir da próxima seção. Em segundo lugar, pode tentar controlar o multiplicador monetário fazendo-o diretamente através da variação do percentual das reservas compulsórias em relação aos depósitos à vista, isto é, controlando diretamente o valor da razão e. 49 O Banco Central pode também interferir indiretamente sobre o valor da razão d, impondo taxas punitivas nas operações de redesconto e empréstimos aos bancos comerciais. Com taxas punitivas em vigor, é provável que os bancos comerciais adotem políticas creditícias mais cautelosas (reduzindo o valor de d) em função do encarecimento em obter reservas junto ao Banco Central, quando necessárias. 50 As taxas das operações de socorro oficial também podem influenciar indiretamente e. Sob condições em que vigoram taxas punitivas, é possível que os bancos adotem políticas mais conservadoras de retenção de reservas de negócios (elevando o valor de e) para evitar que sejam obrigados a incorrer em operações de redesconto e empréstimos. 51 A relação entre a base monetária e o multiplicador pode ser representada graficamente. No eixo vertical do Gráfico 2.2 estão representados os meios de pagamento e, no eixo horizontal, a base monetária. 52 A inclinação da função M está relacionada com o valor do multiplicador, que é no mínimo de 450, isto é, igual a 1 (um). Pela fórmula do multiplicador, pode- se concluir que o multiplicador somente será igual a 1 (um), quando d for igual 0 (zero) ou quando e for igual a 1 (um). 53 O significado econômico de d ser igual a 0 (zero) é que não existem depósitos à vista nesta economia. O significado econômico de o coeficiente e ser igual a 1 é que o total de depósitos à vista existentes é plenamente conversível em papel-moeda para todos os clientes simultaneamente. É improvável que uma economia tenha o seu multiplicador monetário igual a 1 (um). 54 2.4. CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DA BASE MONETÁRIA Uma regra prática é visualizar a base monetária como uma conta-resíduo no seu respectivo balancete. Assim, uma variação da base monetária somente ocorrerá como resultado da diferença entre variações no valor das contas que estão do lado do ativo e variações do valor das contas do passivo não monetário do balancete do Banco Central. O Box 2.4 resume esta regra prática. 55 56 A base monetária será expandida quando, por exemplo, o Banco Central compra dólares (e não realiza nenhuma operação que altere a magnitude do seu passivo não monetário). Quando o Banco Central vende títulos públicos (e não promove nenhuma alteração do seu passivo não monetário), reduz o tamanho da base monetária. 57 Quando não se utiliza a regra prática da conta-resíduo, pode-se incorrer no erro de avaliar que um aumento dos encaixes compulsórios aumentaria a base monetária (dado que a base monetária é a soma de encaixes totais bancários com papel-moeda em poder do público). Um aumento dos encaixes compulsórios não altera diretamente a base monetária porque não alterou o valor de qualquer conta do ativo do Banco Central, nem o valor de qualquer conta do seu passivo não monetário. 58 Uma outra regra prática importante é que deve haver uma transação que envolva moeda para que a base monetária possa ter seu valor modificado. 59 2.6. OPERAÇÕES DE CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE MEIOS DE PAGAMENTO Dez exemplos das possibilidades de variação do estoque de meios de pagamento da economia: 1. Ao fim de um dia, um empresário se dirige a um banco comercial com a receita do seu negócio e faz um depósito à vista. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Nenhuma conta do ativo do balancete do sistema 60 monetário teve seu valor alterado, assim como nenhuma conta do passivo não monetário. 61 2. Um empresário se dirige a uma empresa de factoring e troca todos os cheques pré-datados que recebeu por recursos em moeda manual. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Não houve nenhuma operação que envolvesse o setor monetário da economia e o público não bancário. 62 3. Um indivíduo vende ações ao banco comercial de que é cliente e recebe como pagamento um depósito à vista na sua conta-corrente. Houve criação de meios de pagamento. Houve uma variação positiva do valor do ativo do sistema bancário, que resultou de uma operação entre o setor monetário da economia (o banco comercial) e o público não bancário (o cliente) e que envolveu um ativo não monetário (as ações) e um ativo monetário (o depósito à vista). 63 4. Um banco de investimento compra dólares de um exportador. O pagamento é feito em moeda cash. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Tal operação não foi realizada entre o setor monetário da economia e o público não bancário, mas sim entre o setor financeiro não monetário (o banco de investimento) e o público não bancário (a empresa exportadora). 64 5. Uma empresa vende os títulos públicos que possui a um banco comercial. O pagamento é feito em moeda manual. Nesta operação houve criação de meios de pagamento. Houve uma variação positiva do valor do ativo do sistema bancário que resultou de uma operação entre o setor monetário da economia (o banco comercial) e o público não bancário (a empresa) e que envolveu um ativo não monetário (os títulos) e um ativo monetário (moeda manual). 65 6. Um banco comercial vende parte dos imóveis que possui a um banco de investimento. O pagamento é feito em moeda cash. Nesta operação houve destruição de meios de pagamento. Houve uma variação negativa do valor do ativo do sistema bancário, que resultou de uma operação entre o setor monetário da economia (obanco comercial) e o público não bancário (o banco de investimento) e que envolveu um ativo não monetário (os imóveis) e um ativo monetário (moeda manual). 66 7. Os donos de uma empresa da área de informática dividem a sua propriedade vendendo ações aos seus empregados. A compra das ações é feita em cheques. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Não houve nenhuma operação que envolvesse o setor monetário da economia e o público não bancário. 67 8. O Banco Central realiza uma operação de empréstimo direto a um banco comercial que está em dificuldade. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Não houve nenhuma operação que envolvesse o setor monetário da economia e o público não bancário. 68 9. Taxas de limpeza urbana são recolhidas por um banco comercial que deposita esses recursos na conta da prefeitura. Nesta operação não houve criação nem destruição de meios de pagamento. Nenhuma conta do ativo do balancete do sistema monetário teve seu valor alterado, assim como nenhuma conta do passivo não monetário. 69 10. Um banco comercial vende dólares a importadores. O pagamento é feito em moeda corrente. Nesta operação houve destruição de meios de pagamento. Houve uma variação negativa do valor do ativo do sistema bancário que resultou de uma operação entre o setor monetário da economia (o banco comercial) e o público não bancário (empresas de importação) e que envolveu um ativo não monetário (reservas internacionais) e um ativo monetário. 70 Exercícios Indique se as proposições abaixo são verdadeiras ou falsas: (0) Empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais determinam aumento de igual montante nos meios de pagamento. (1) Quanto maior for o coeficiente de reservas dos bancos comerciais e menor for a preferência do público por papel-moeda (proporção da moeda em poder do público em relação aos meios de pagamento), maior será o multiplicador da base monetária. 71 (2) Em uma economia em que as reservas bancárias atingem 100% dos depósitos à vista o multiplicador monetário é igual a 0. (3) Sendo meios de pagamento definidos como M1, um aumento na relação moeda em poder do público/depósito à vista reduz o multiplicador monetário. (4) Se a razão reservas/depósitos à vista é de 25% e a razão moeda em poder do público/depósitos à vista é de 50%, o multiplicador monetário é 2.
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