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Alice Bastos Semiologia do Sistema Urinário Anamnese Uma parte dos pacientes com lesão renal apresenta queixas que não guardam relação direta com os rins ou com o trato urinário; Podem surgir manifestações como: astenia, náuseas, vômitos, anorexia, anemia e irritabilidade neuromuscular. Sinais e sintomas Alterações da micção e do volume Em condições normais de saúde e em clima ameno, uma pessoa adulta normal elimina de 700 a 2.000 mL de urina por dia; A capacidade da bexiga normal é de 400 mL a 600 mL; O indivíduo tende a esvaziá-la quando a quantidade de urina chega a 200 mL. Diurese inferior a 400 mL/dia ou menos de 20 mL/h; Pode decorrer de: Redução do fluxo sanguíneo renal (desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca); Lesões renais (glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda). Volume urinário inferior a 100 mL/24 h; As causas são: Obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres; Necrose cortical bilateral; Insuficiência renal aguda grave. Volume urinário superior a 2.500 mL/dia; Pode acontecer por dois mecanismos: Diurese osmótica: decorrente da excreção de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreção de água; Incapacidade de concentração urinária. É a micção associada à sensação de dor, queimor ou desconforto; As causas são: Cistite; Prostatite; Uretrite; Traumatismo geniturinário; Irritantes uretrais; Reação alérgica. É a necessidade súbita e imperiosa de urinar. É o aumento da frequência miccional, com intervalo entre as micções inferior a 2 h e sem que haja concomitante aumento do volume urinário; É provocada por redução da capacidade da bexiga, dor à distensão vesical ou por comprometimento da uretra posterior; As causas são: Infecção; Cálculo; Obstrução; Alterações neurológicas; Várias condições psicológicas e fisiológicas (principalmente o frio e a ansiedade). Ç Ocorre quando há um intervalo maior para que apareça o jato urinário; Para conseguir urinar, o paciente faz um esforço maior que em condições normais; Indica geralmente obstrução do trato de saída da bexiga. Alice Bastos É quando o ritmo de diurese se altera, havendo necessidade de esvaziar a bexiga durante a noite; Reflete a perda da capacidade de concentrar a urina; Pode ocorrer na fase inicial da insuficiência renal crônica e nos pacientes com insuficiência cardíaca ou hepática que retêm líquido durante o dia, principalmente nos membros inferiores; Quando eles se deitam à noite, o excesso de líquido retido retorna à circulação, resultando em aumento da diurese. Ç É a incapacidade de esvaziar a bexiga, apesar de os rins estarem produzindo urina normalmente e o indivíduo apresentar desejo de esvaziá-la; Pode ser: Aguda: o indivíduo, que até então urinava satisfatoriamente, passa a sentir a bexiga distendida, tensa e dolorosa; Crônica: existe gradual dilatação da bexiga, pode não ocorrer dor e o paciente queixa-se de polaciúria, hesitação, gotejamento e não tem consciência da distensão vesical; Também pode ser: Completa: o indivíduo é incapaz de eliminar sequer quantidades mínimas de urina; Incompleta: caracteriza-se pela permanência na bexiga de determinada quantidade de urina depois de finalizado o ato miccional (quase sempre é crônica); Causas principais: obstrução no nível da uretra ou do colo vesical, como ocorre na estenose uretral, na hipertrofia e nas neoplasias de próstata e na bexiga neurogênica. É a eliminação involuntária de urina; Causas: bexiga neurogênica, cistites e esforços; Incontinência paradoxal: nos idosos, é provocada pela hipertrofia prostática grave; A próstata aumentada de volume impede a passagem de urina até que o acúmulo de líquido aumente a pressão intravesical o suficiente para vencer a resistência interposta pela uretra prostática; Incontinência por transbordamento: acontece em pacientes com lesão no neurônio motor aferente da bexiga, causando grande resíduo urinário; A incontinência ocorre no limite da distensibilidade viscoelástica da bexiga. Alterações da cor e aspecto da urina A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia do amarelo-claro ao amarelo-escuro, conforme esteja diluída ou concentrada. É a ocorrência de sangue na urina, podendo ser macro ou microscópica; O aspecto da urina depende da quantidade de sangue e do pH; Pequena quantidade de sangue tinge a urina de marrom-escuro (cor de “Coca-Cola”) quando o pH é ácido; Na urina alcalina, a hemoglobina conserva sua cor vermelha viva por mais tempo; Pode ser: Total: Ocorre em afecções locais ou sistêmicas que comprometem os rins: glomerulonefrite aguda, hipertensão arterial maligna, necrose tubular aguda, rins policísticos, infarto renal, leptospirose, malária, anemia falciforme, síndrome de coagulação intravascular disseminada, neoplasias, cálculos e uso de anticoagulantes; Inicial: Mais comumente associada a lesões situadas entre a uretra distal e o colo vesical; Terminal: Mais comumente associada a lesões do trígono vesical; Os sintomas que acompanham a hematúria são importantes para o diagnóstico de sua causa; Ex.: febre, calafrios, disúria, cólica renal. Alice Bastos É a ocorrência de hemoglobina livre na urina; É uma condição que acompanha as crises de hemólise intravascular (malária, leptospirose, transfusão incompatível, icterícia hemolítica). Decorre da destruição muscular maciça por traumatismos e queimaduras, e após exercícios intensos e demorados como maratonas e nas crises convulsivas. É consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem coloração vermelho- vinhosa da urina, algumas horas depois da micção. A urina pode apresentar precipitação de diversos tipos de cristais (cristalúria), sendo mais frequentes os de ácido úrico, oxalato de cálcio e uratos amorfos, quando a urina é ácida, e, quando a urina for alcalina, carbonatos e fosfatos de cálcio. Há a formação de depósito esbranquiçado, quase sempre com odor desagradável; Está associada à infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Ocorre quando há quantidade anormal de leucócitos na urina, que pode conferir aspecto turvo a esta; As infecções urinárias são as causas mais comuns. Decorre da eliminação aumentada de proteínas na urina, presente em glomerulonefrites, nefropatia diabética, nefrites intersticiais; Mais comumente, é causa por urina muito concentrada associada a um fluxo rápido do jato urinário. Mau cheiro O odor característico de urina decorre da liberação de amônia; Um simples aumento da concentração de solutos na urina pode determinar cheiro desagradável; Fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela existência de pus ou por degradação de substâncias orgânicas; Alguns medicamentos (vitaminas, antibióticos) também alteram o odor da urina. Dor A dor renal característica situa-se no flanco ou região lombar, entre a 12ª costela e a crista ilíaca; Às vezes ocorre irradiação anterior; A dor é descrita como uma sensação profunda, pesada, de intensidade variável, fixa e persistente, que piora com a posição ereta e se agrava no fim do dia; Geralmente não se associa a náuseas e/ou vômitos; Causas: síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda, nefrite intersticial, pielonefrite aguda e obstrução urinária aguda. Dor decorrente de obstrução do trato urinário, com dilatação súbita da pelve renal ou do ureter, que se acompanha de contrações da musculatura lisa dessas estruturas; Alice Bastos Em seu início, pode haver apenas uma sensação de desconforto na região lombar ou no flanco, irradiando-se vagamente para o quadrante inferior do abdome do mesmo lado; Rapidamente, essa sensação de desconforto evolui para dor lancinante, de grande intensidade, acompanhada de mal-estar geral, inquietude, sudorese, náuseas e vômitos; O paciente fica inquieto no leito ou levanta-se à procura de uma posição que lhe traga algum alívio; A dor costuma começar no ângulo costovertebral, acometer a região lombar e flanco, irradiando-se para a fossa ilíaca e região inguinal, alcançando o testículo e o pênis, no homem, e o grande lábio, na mulher; A dor é em cólica, com fases de espasmos dolorosos que podem durar vários minutos, seguindo-se de alívio, geralmente incompleto; Existem algumas variantes clínicas da cólica renal: Se a obstrução for na junção ureteropélvica, a dor costuma situar-se no flanco e irradiar-se para o quadrante superior do abdome ou mesmo para a região inguinal homolateral; A obstrução ureterovesical ocasiona sintomas de irritação do trígono vesical, representados por disúria, urgência e frequência, podendo sugerir cistite; Cálculo obstruindo o final do ureter pode causar dor persistente no testículo e pênis, ou no grande lábio vaginal, do mesmo lado, sem, entretanto, apresentar sintomas de irritação vesical. É a dor originada no corpo da bexiga que geralmente é percebida na região suprapúbica; Quando decorre de irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia-se para a uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor. É a emissão lenta e dolorosa da urina; É decorrente de espasmo da musculatura do trígono e colo vesical; É perceptível quando há inflamação vesical intensa. É decorrente normalmente da infecção aguda da próstata, que causa dor perineal intensa, sendo referida no sacro ou reto. Edema É uma manifestação comum em pacientes portadores de doença renal; Causas mais comuns: glomerulonefrite aguda, síndrome nefrótica, insuficiência renal aguda e crônica. Generalizado, porém mais intenso na região periorbitária pela manhã, quando o paciente acorda; Ao final do dia, se o paciente estiver deambulando normalmente, predomina nos membros inferiores; Decorre da retenção de sal e água em consequência das lesões glomerulares; Em crianças, o aparecimento do edema costuma ser súbito, podendo ser acompanhado de manifestações de insuficiência cardíaca congestiva; Na glomerulonefrite crônica, a existência e a intensidade do edema são muito variáveis, podendo estar ausente ou manifestar-se apenas como edema periorbitário pela manhã. É generalizado e mais intenso que o da glomerulonefrite, podendo chegar à anasarca, especialmente em crianças; Quando o estado geral do paciente é bom e ele deambula, é comum observar-se, pela manhã, intenso edema facial; No fim do dia, são as pernas que estão edemaciadas; É frequente a ocorrência de ascite; A intensidade do edema pode variar de acordo com a ingesta de sal. De pequena intensidade, quase sempre restrito à região periorbitária pela manhã. Alice Bastos Decorre geralmente da hiper-hidratação. É muito variável, modificando-se conforme a causa determinante; Depende também da fase da doença, do grau do distúrbio funcional ou de alterações que ocasionam a descompensação clínica. Febre e calafrios Principais causas: pielonefrite, cistite e prostatite; Nas infecções agudas, a febre costuma ser elevada e vir acompanhada de calafrios, dor lombar ou suprapúbica; Nas infecções crônicas, a temperatura está discretamente aumentada ou com elevações intermitentes, às vezes acompanhadas de calafrios. Exame físico Exame dos rins O exame físico deve começar pela inspeção do abdome, dos flancos e das costas, com o paciente sentado; Em seguida, deve-se fazer a palpação e a compressão dos ângulos costovertebrais; Posteriormente, efetua-se a percussão com a face interna da mão fechada, chamada de “punho- percussão”; Deve ser realizada ausculta abdominal, que será útil na verificação de sopros abdominais; A palpação dos rins é feita com o paciente em decúbito dorsal; Enquanto uma das mãos procura explorar os quadrantes superiores do abdome, a outra mão, espalmada, “empurra” o flanco correspondente de baixo para cima, na tentativa de trazer o rim para uma posição mais anterior (palpação bimanual); OBS.: os rins normais são praticamente inacessíveis à palpação; O polo inferior pode ser palpável em crianças e em adultos magros com musculatura abdominal delgada; Rins facilmente palpáveis denotam, em geral, aumento de volume (hidronefose, neoplasia ou cistos) ou pelo fato de serem anormalmente móveis (ptose renal) ou por estarem deslocados por neoplasias retroperitoneais; Durante a palpação dos rins, é necessário avaliar a sensibilidade renal; Pode ser avaliada por meio da compressão com as pontas dos dedos. Exame dos ureteres Pela palpação profunda da parede abdominal anterior, é possível determinar dois pontos dolorosos quando existe infecção ou obstrução dos ureteres; O superior fica na parte média dos quadrantes superiores direito e esquerdo; O inferior fica nas fossas ilíacas direita e esquerda, próximos à região suprapúbica. Exame da bexiga A bexiga vazia não é palpável, porém pode haver hipersensibilidade na área suprapúbica ao se fazer a palpação; Retenção urinária aguda ou crônica, levando à distensão vesical, pode ser percebida por inspeção, palpação e percussão da região suprapúbica; Observam-se reação dolorosa intensa, ocorrência de abaulamento no hipogástrio, massa lisa e firme na linha média. Exame da próstata É feito pelo toque retal. Alice Bastos Sumário de Urina É um exame complementar; O exame deve ser feito em urina recém-coletada, no meio do jato urinário, em frasco limpo; A melhor amostra para exame é a primeira urina da manhã, por ser mais concentrada e ter pH mais baixo; O exame tem início pela avaliação de cor, turvação e odor da urina; Utilizam-se métodos físico-químicos para análise da densidade, do pH, pesquisa de proteínas, glicose e cetonas; O sedimento urinário é examinado ao microscópio. É a medida que reflete a concentração urinária de solutos; Os rins eliminam urina com densidade específica que varia de 1,001 a 1,040. Varia entre 4,5 e 8,0; pH urinário abaixo de 6,0 pode ser considerado normal; pH acima de 8,0 sugere a ocorrência de infecção, alcalose sistêmica, acidose tubular renal ou uso de acetazolamida. A presença de proteína na urina (proteinúria) em quantidade superior a 30 mg/dl está acima dos valores normais. Concentrações elevadas de glicose na urina estão associadas a diabetes melito, glicosúria renal, síndrome de Fanconie, uso dos inibidores seletivos do cotransporte renal de sódio-glicose. São facilmente detectáveis quando o organismo metaboliza glicídios de modo incompleto. É um derivado incolor da bilirrubina que é, em parte, excretado com as fezes e, em parte, reabsorvido e excretado com a urina. A positividade do teste baseia-se na capacidade de bactérias gram-negativas transformarem nitratos em nitritos. É examinado para identificar células, cilindros e bactérias; Sedimento rico sugere doença glomerular. Considera-se normal a presença de até 2 hemácias por campo de grande aumento ou até 8.000/ml de urina; Quando em quantidade superior, tem-se hematúria microscópica. Podem ser observados até 3 por campo de grande aumento ou até 10.000/ml de urina; Em caso de infecção, o seu número está aumentado; Leucocitúria ou piúria: elevação anormal do número de leucócitos na urina. As células epiteliais de descamação são encontradas ocasionalmente e, em mulheres, podem ser numerosas. Em condições normais, a urina não contém bactérias ou fungos. O seu aparecimento na urina é comum; Ácido úrico: são os mais comuns, com coloração que varia de amarelo a amarronzado; Oxalato de cálcio: são transparentes; Alice Bastos Cristais contendo fosfato: se formam em urinas alcalinas; Cistina: cristais são raros e indicam a existência de uma doença metabólica (cistinúria); Cristais de estruvita: podem ser encontrados em litíase associada a infecções urinárias por bactérias produtoras de uréase. São corpos proteicos que assumem a forma do segmento do néfron onde são formados; Cilindros hialinos: podem ser encontrados em ausência de doença renal; Cilindros granulosos: têm a forma e a constituição dos hialinos, porém incluem restos celulares que sofreram degeneração; São indicativos de doença tubular ou glomerular; Cilindros céreos: ocorrem na doença renal crônica, na necrose tubular aguda e na glomerulonefrite aguda acompanhada de oligúria; Não estão presentes em rins sadios; Cilindros leucocitários: são encontrados nas pielonefrites e na nefrite intersticial; Cilindros de células epiteliais: são presentes na fase poliúrica da insuficiência renal aguda; Cilindros hemáticos: sua presença indica glomerulonefrite em atividade.
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