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Semiologia do sistema urinário ANAMNESE Uma boa história clínica é a principal chave para o diagnóstico das doenças do sistema urinário. ● Uma parte dos pacientes com lesão renal apresenta queixas que não guardam relação direta com os rins ou com o trato urinário. É o que acontece nas afecções nas quais este órgão vai sendo lesado insidiosamente até atingir grave deterioração da função renal. ● Surgem variadas manifestações incluindo astenia, náuseas, vômitos, anorexia, anemia e irritabilidade neuromuscular. Em contrapartida, os pacientes costumam atribuir aos rins sintomas que não decorrem de lesões do sistema urinário, como a dor lombar por alterações da coluna vertebral, a poliúria por hiperglicemia e a hematúria por distúrbio na coagulação do sangue As perguntas gerais sobre a história urinária incluem: ● Você sente dificuldade para urinar? ● Com que frequência você urina? ● Precisa levantar à noite para urinar? Com que frequência? ● Qual é o volume de urina eliminado durante a noite? ● Sente dor ou ardência? ● Alguma vez já teve dificuldade em chegar a tempo no banheiro? ● Já houve extravasamento de urina? ● Já urinou de forma involuntária? ● Percebe quando a bexiga está cheia e quando a micção ocorre? A eliminação involuntária de urina, ou falta de percepção da micção, sugerem déficits cognitivos ou neurossensoriais. ● Deve-se perguntar às mulheres se a ocorrência de tosse súbita, espirros ou o riso provoca alguma eliminação de urina Aproximadamente metade das mulheres jovens referem esta experiência, antes mesmo de terem filhos. Um extravasamento ocasional não é necessariamente significativo. As mulheres apresentam, com frequência, enfraquecimento do assoalho pélvico, com suporte muscular inadequado da bexiga e da uretra proximal, além de alterações no ângulo entre a bexiga e a uretra. ● As causas incluem partos vaginais e cirurgias. Condições locais capazes de afetar o esfíncter uretral interno, como atrofia pós-menopausa da mucosa e infecções uretrais, também podem contribuir. Incontinência de estresse ocorre por diminuição da pressão intra uretral. O esfíncter uretral fica enfraquecido, de modo que aumentos transitórios na pressão intra-abdominal elevam a pressão da bexiga a níveis que ultrapassam a resistência uretral. ● A incontinência de estresse nos homens pode ocorrer após cirurgia da próstata. Deve-se perguntar aos homens de idade mais avançada: ● Tem dificuldade em começar a urinar? ● Precisa ficar próximo ao vaso sanitário para urinar? ● Houve alguma alteração na força ou no tamanho de seu jato urinário, ou no esforço que precisa fazer para urinar? ● Hesita ou interrompe a micção no meio? ● Há gotejamento de urina mesmo depois de acabar de urinar? Esses problemas são comuns em homens com obstrução parcial do trato de saída vesical por causa de hiperplasia prostática benigna; também são observados no estreitamento uretral. ANATOMIA Os órgãos genitais externos masculinos compreendem o pênis, a bolsa escrotal, os testículos, os epidídimos, os cordões espermáticos e os canais deferentes. ● Os órgãos genitais internos são a próstata, as vesículas seminais e a bexiga. ● A uretra mantém estreitas relações anatômicas e funcionais com os órgãos genitais internos e externos. As infecções dos órgãos sexuais masculinos são frequentes e devem ser abordadas de duas maneiras: 1. caracterizando a estrutura mais comprometida (cistite, uretrite, prostatite, orquite), o que pode ser feito pelas manifestações clínicas predominantes; 2. observando o sistema geniturinário em sua totalidade, porque, em consequência das características anatomofuncionais deste sistema, a tendência dessas infecções é acometer as estruturas adjacentes. É o que se denomina “infecção urinária”. A porta de entrada são as vias urinárias baixas. A uretra distal apresenta uma microbiota bacteriana. A bexiga é normalmente estéril. Tanto os fatores bacterianos quanto os do hospedeiro são importantes na patogenia das infecções urinárias. ● As anormalidades estruturais (fimose, estenose uretral, refluxo vesicoureteral, hiperplasia benigna da próstata) interferem intensamente na patogenia e na evolução dessas infecções. ● O esvaziamento incompleto da bexiga, por exemplo, por obstrução mecânica ou distúrbio neurológico, provoca estase da urina, facilitando sobremaneira o crescimento de microrganismos. ● Procedimentos invasivos, especialmente cateterismo vesical e cistoscopia, provocam traumatismos e introduzem bactérias causando infecções, muitas vezes difíceis de erradicar. Nos homens, as manifestações clínicas mais comuns de uretrite são ardor à micção, disúria e corrimento, cujas características podem sugerir a provável etiologia: ● Corrimento purulento, profuso, é sugestivo de blenorragia; ● Corrimento esbranquiçado sugere uretrite não gonocócica. As cistites manifestam-se por disúria, polaciúria, urgência e dor suprapúbica. ● Febre é uma possibilidade, mas sua presença deve levantar a suspeita de que a infecção acomete, também, os rins e as vias urinárias altas (pielonefrite) A sintomatologia da prostatite crônica é menos exuberante e a infecção pode, inclusive, permanecer assintomática. ● Deve-se valorizar o corrimento uretral aquoso e o desconforto perineal SINAIS E SINTOMAS ALTERAÇÕES DE MICÇÃO E VOLUME URINÁRIO Em condições normais de saúde e em clima ameno, uma pessoa adulta normal elimina de 700 a 2.000 mℓ de urina por dia. A capacidade da bexiga normal é de 400 a 600 mℓ e o indivíduo tende a esvaziá-la quando a quantidade de urina atinge 200 mℓ. OLIGÚRIA: excreção de um volume de urina inferior às necessidades de excreção de solutos. Clinicamente, convencionou oligúria uma diurese inferior a 400 mℓ/dia ou menos de 20 mℓ/hora ● redução do fluxo sanguíneo renal: desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca ● lesões renais: glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda ANÚRIA: caracteriza-se por volume urinário inferior a 100 mℓ /24 horas. ● Obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres, na necrose cortical bilateral e na insuficiência renal aguda (IRA) grave. POLIÚRIA: corresponde a um volume urinário superior a 2.500 mℓ/dia. ● Como o volume de cada micção está limitado pela capacidade vesical, verifica-se maior número de micções, inclusive à noite. ● A medida do volume urinário de 24 horas é importante para confirmar a presença Existem dois mecanismos básicos de poliúria: 1. por diurese osmótica - excreção de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreção de água (ex: diabetes melito descompensado) 2. por incapacidade de concentração urinária (diabetes insípido). Na insuficiência renal crônica, quando o comprometimento renal ainda é moderado, também ocorre poliúria: ● Diurese osmótica (devida à uremia) ou por incapacidade de concentração urinária, quando as lesões comprometem a medula renal, como ocorre na pielonefrite crônica. DISÚRIA: Nomenclatura dada à micção associada à sensação de dor, queimor ou desconforto. ● Ocorre em cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturinário, irritantes uretrais, reação alérgica. POLACIÚRIA: caracteriza- se pelo aumento da frequência miccional, com intervalo entre as micções inferior a 2h e sem que haja aumento do volume urinário, traduz irritação vesical. ● Por redução da capacidade da bexiga, dor à distensão vesical ou por comprometimento da uretra posterior. ● Decorrem de várias causas, tais como infecção, cálculo, obstrução, alterações neurológicas e em várias condições psicológicas e fisiológicas, principalmente o frio e a ansiedade. NOCTÚRIA: Caracteriza -se quando o ritmo de diurese se altera, havendo necessidade de esvaziar a bexiga durante a noite. ● Normalmente não se acorda à noite para urinar ou no máximo uma vez → ritmo de formação de urina decresce no período noturno. TENESMO VESICAL: vontade frequente de urinar e sensação de não esvaziamento completo da bexiga, percebido quando háinflamação vesical intensa podendo provocar a emissão lenta e dolorosa de urina, chamada estrangúria, e que é decorrente de espasmo da musculatura do trígono e colo vesical. ALTERAÇÕES DE COR E ASPECTO DA URINA A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia do amarelo claro ao amarelo escuro, conforme esteja diluída ou concentrada. URINA AVERMELHADA Hematúria: significa presença de sangue na urina. O aspecto da urina depende da quantidade de sangue e do pH. ● A hematúria macroscópica é facilmente identificável pelo paciente a olho nu. ● A hematúria microscópica só é detectada microscopicamente e através de tiras reagentes. ● Medicamentos como rifampicina e fenazopiridina provocam cor vermelha alaranjada → exame microscópico permite a identificação das hemácias, se for hematúria Hemoglobinúria: presença de hemoglobina livre na urina, condição que acompanha as crises de hemólise intravascular (malária, leptospirose, transfusão incompatível, icterícia hemolítica). Mioglobinúria: decorre da destruição muscular maciça por traumatismos e queimaduras, e após exercícios intensos e demorados como maratonas e nas crises convulsivas. Porfirinúria: consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem coloração vermelho vinhosa da urina, algumas horas depois da micção. ● A beterraba e alguns medicamentos podem tingir a urina de vermelho. URINA TURVA Sendo uma solução supersaturada, algumas horas após emitida e guardada em um vaso, a urina pode apresentar precipitação de diversos tipos de cristais (cristalúria). ● Este tipo de urina turva pode predispor a urolitíase. Urina turva, formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável → infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Piúria: ocorre quando há presença de quantidade anormal de leucócitos na urina, que pode conferir aspecto turvo a esta. ● As infecções urinárias ou em pacientes com glomerulonefrite aguda. URINA COM AUMENTO DE ESPUMA Decorre da eliminação aumentada de proteínas na urina → Glomerulopatias, nefropatia diabética, nefrites intersticiais. ● A hiperfosfatúria também pode determinar essa alteração. Mais comumente é causada por uma urina muito concentrada associada a um fluxo rápido do jato urinário. MAU CHEIRO O odor característico de urina decorre da liberação de amônia. ● Fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela presença de pus ou por degradação de substâncias orgânicas. ● Medicamentos (vitaminas, antibióticos) também alteram o odor da urina. DOR A dor originada no sistema urinário pode assumir características diversas. Os tipos principais são DOR NOS RINS Toda dor lombar ou no flanco, ou mesmo nas costas, costuma ser interpretada pelos pacientes como originária dos rins. ● Com muita frequência, é de natureza extra renal, provocada por espasmo da musculatura lombar, alterações degenerativas das vértebras (espondiloartrose) ou comprometimento do disco intervertebral. DOR LOMBAR E NO FLANCO: dor renal característica situa-se no flanco ou região lombar, entre a 12 a costela e a crista ilíaca, e às vezes ocorre irradiação anterior. ● O parênquima renal é insensível, não ocasionando dor. ● A distensão da cápsula renal dá origem a esta dor na região lombar e no flanco, por ser comum a inervação com esta parte do tronco ● É descrita como uma sensação profunda, pesada, de intensidade variável, fixa e persistente, que piora com a posição ereta e se agrava no fim do dia. ● Geralmente não se associa a náuseas e/ou vômitos. ● Pielonefrite e nefrolitíase CÓLICA RENAL E CÓLICA URETRAL: dor decorrente de obstrução do trato urinário, com dilatação súbita da pelve renal ou do ureter, que se acompanha de contrações da musculatura lisa destas estruturas. ● Pode haver apenas uma sensação de desconforto na região lombar ou no flanco, irradiando para o quadrante inferior do abdome do mesmo lado. ● Esse desconforto evolui para dor lancinante, de grande intensidade, acompanhada de mal estar geral, inquietude, sudorese, náuseas e vômito. A dor da cólica renal costuma começar no ângulo costovertebral, atingir a região lombar e o flanco, irradiando se para a fossa ilíaca e região inguinal, alcançando o testículo e o pênis, no homem, e o grande lábio, na mulher. ● Dor em cólica, com fases de espasmos dolorosos que podem durar vários minutos, seguindo de alívio, geralmente incompleto. ● O desaparecimento súbito da dor, ocasionado pela resolução natural da obstrução, é importante no diagnóstico diferencial. Existem algumas variantes clínicas da cólica renal, conforme a altura da obstrução: ● Obstrução na junção ureteropélvica: a dor costuma situar- se no flanco e irradiar- para o quadrante superior do abdome ou mesmo para a região inguinal homolateral; ● Obstrução ureterovesical: sintomas de irritação do trígono vesical, representados por disúria, urgência e frequência, podendo sugerir cistite. ● Cálculo obstruindo o final do ureter: pode causar dor persistente no testículo e pênis, ou no grande lábio vaginal, do mesmo lado, sem dar sintomas de irritação vesical. DOR HIPOGÁSTRICA OU DOR VESICAL: dor originada no corpo da bexiga que geralmente é percebida na região suprapúbica. ● Quando ela decorre de irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia- se para uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor. ● A retenção urinária completa aguda acompanha -se de dor intensa na região suprapúbica e intenso desejo de urinar Estrangúria ou tenesmo vesical: percebido quando há inflamação vesical intensa. Podendo provocar a emissão lenta e dolorosa de urina (estrangúria) decorrente de espasmo da musculatura do trígono e colo vesical. DOR PERINEAL: Decorrente normalmente da infecção aguda da próstata, causa dor perineal intensa, sendo referida no sacro ou no reto. Pode causar também estrangúria. EDEMA O edema é definido como um aumento do volume do líquido intersticial. ● Quando maciço e generalizado, o excesso de fluidos é chamado anasarca (presença de ascite, edema periorbitário e edema de membros inferiores) Quando leve a moderado, apresenta-se mais comumente como edema de membros inferiores, identificado através do sinal de Godet (ou sinal do cacifo). ● Realiza -se uma pressão digital sobre a pele por cinco segundos. ● Se o edema estiver presente haverá a formação de uma pequena depressão na região pressionada que não se desfaz imediatamente após a descompressão. Uma variedade de condições clínicas está associada, incluindo insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrítica e nefrótica, doenças venosas e linfáticas. ● É comum em pacientes portadores de glomerulopatias como síndrome nefrítica, síndrome nefrótica, lesão renal aguda e doença renal crônica. Na doença renal crônica, a presença e a intensidade do edema são muito variáveis, podendo estar ausente ou manifestar-se apenas como edema periorbitário pela manhã. O paciente relata que acorda com os “olhos empapuçados”. FEBRE E CALAFRIOS Nas infecções agudas acometendo o trato urinário, a febre costuma ser elevada acompanhando-se de calafrios, dor lombar ou suprapúbica. ● As principais causas são a pielonefrite e a prostatite. ● Nas infecções crônicas, a temperatura está discretamente aumentada ou com elevações intermitentes, às vezes acompanhadas de calafrios. ● O adenocarcinoma renal costuma acompanhar -se de febre, que até mesmo pode ser a única manifestação clínica da doença EXAME FÍSICO URINÁRIO EXAME DOS RINS INSPEÇÃO: O exame físico do sistema urinário deve começar pela inspeção do abdome, dos flancos e das costas, estando o paciente sentado. AUSCULTA: deve ser realizada ausculta abdominal que será útil na verificação de sopros abdominais como ocorre na estenose de artérias renais. ● Utiliza- se o diafragma do estetoscópio para a ausculta de mesogástrio e hipocôndrios. PERCUSSÃO:posteriormente, efetuar a percussão com a face interna da mão fechada, chamada “punho percussão”. Sinal de Giordano → sensação dolorosa aguda ou em pontada, desencadeada pela punho percussão na região lombar, mais especificamente na altura da loja renal, entre a 12 a vértebra e a 3 a lombar. ● Sugere pielonefrite ou litíase urinária, mas pode ser de origem musculoesquelética. PALPAÇÃO: deve-se fazer a palpação e a compressão dos ângulos costovertebrais. A palpação dos rins é feita com o paciente em decúbito dorsal da seguinte maneira: ● Enquanto uma das mãos procura explorar os quadrantes superiores do abdome, a outra mão, espalmada, “empurra” o flanco correspondente de baixo para cima, na tentativa de trazer o rim para uma posição mais anterior (palpação bimanual). ● Em pessoas magras, o polo inferior do rim direito (normal) pode ser palpado na inspiração, o que, geralmente, não acontece com o rim esquerdo. Tendo em conta suas características anatômicas, especialmente sua localização retroperitoneal, os rins normais são praticamente inacessíveis à palpação. ● Entretanto, o polo inferior pode ser palpável em crianças e em adultos magros com musculatura abdominal delgada. ● Quando os rins estão aumentados, torna-se possível palpá- los e, até mesmo, percebê- los à inspeção, se o aumento for muito grande, principalmente em crianças ou no caso de rins policísticos em adultos. Nestes casos percebe -se abaulamento do flanco. Rins facilmente palpáveis denotam, em geral: ● aumento de volume: hidronefrose, neoplasia ou cistos ● por serem anormalmente móveis: ptose renal ● por estarem deslocados por neoplasias retroperitoneais. Aumento de ambos os rins decorre geralmente de doença policística ou de hidronefrose bilateral. Durante a palpação dos rins deve- se avaliar a sensibilidade renal. Muitas vezes a compressão com as pontas dos dedos pode ser suficiente para despertar dor. EXAME DOS URETERES Pela palpação profunda da parede abdominal anterior podem- se determinar dois pontos dolorosos quando existe infecção ou obstrução dos ureteres. ● O superior fica na parte média dos quadrantes superiores direito e esquerdo, e o inferior, nas fossas ilíacas direita e esquerda, próximos à região suprapúbica. A reação dolorosa à palpação profunda destes chamados “pontos ureterais” tem significado diagnóstico, especialmente quando estão presentes outros dados sugestivos de comprometimento do trato urinário alto EXAME DA BEXIGA A bexiga vazia não é palpável, porém pode haver hipersensibilidade na área suprapúbica ao se fazer a palpação. ● Retenção urinária aguda ou crônica levando à distensão vesical pode ser percebida pela inspeção, palpação e percussão da região suprapúbica. ● Se houver retenção urinária, observa-se reação dolorosa intensa e presença de um abaulamento no hipogástrio. ● À palpação observa-se massa lisa e firme na linha média (globo vesical). Em mulheres, o esvaziamento vesical por cateterismo poderá ser necessário para o diagnóstico diferencial com cisto do ovário INFECÇÃO URINÁRIA É uma condição clínica de ocorrência muito comum, com elevada prevalência em mulheres de todas as idades e, no homem, nos extremos da vida. ● A infecção pode apresentar -se sob diversas formas, localizações e modos de evolução. ➧ Pielonefrite aguda: infecção bacteriana do sistema urinário alto (rins e pelve renal) → febre alta de aparecimento súbito, calafrios e dor no flanco. ➧ Pielonefrite crônica → ataques recorrentes de infecção, geralmente associados a diminuição da função renal. ➧Infecções do sistema urinário baixo (cistite, uretrite, prostatite) caracterizam-se por disúria, polaciúria e urgência. ➧ Cistite e pielonefrite aguda podem ocorrer conjuntamente. A infecção urinária pode ser recorrente por recidiva ou reinfecção. ● Recidiva: recorrência de bacteriúria ocasionada pelo mesmo microrganismo, nas 3 semanas após o tratamento. ● Reinfecção ocorre após a cura aparente, mas com cepas diferentes. PIELONEFRITE AGUDA: caracteriza-se pela invasão bacteriana aguda do rim e da pelve renal e costuma ser unilateral. O aparecimento da infecção pode estar associado: ● Ocorrência de algum tipo de obstrução do sistema urinário, como hipertrofia prostática em homens e obstrução ureteral pelo útero gravídico em mulheres. ● Cálculos, neoplasias e malformações anatômicas também predispõem a infecção A pielonefrite caracteriza-se pelo: ● Aparecimento súbito de febre (39 a 40°C), calafrios, náuseas e vômito; mal estar, taquicardia e hipotensão arterial ● Dor em um ou em ambos os flancos, com irradiação para a fossa ilíaca e região suprapúbica. ● Pode haver disúria, polaciúria, urgência e eliminação de urina turva, denotando a presença de cistite associada. ● Dor e contração muscular no ângulo costovertebral e região lombar costumam ocorrer ao exame físico. No sexo feminino, a pielonefrite é comum na primeira infância ou no início da fase de atividade sexual, porque a uretra, sendo mais curta e sujeita a traumas, torna- se mais vulnerável a infecções. ➧ Recuperação completa é comum em pacientes sem afecções subjacentes que facilitem a manutenção ou o reaparecimento da infecção, principalmente litíase e obstrução urinária. ● Em algumas condições, contudo, os sintomas desaparecem, mas a bacteriúria persiste, transformando em infecção crônica. ➧ Em pacientes diabéticos, a infecção aguda pode ser suficientemente grave para causar necrose de papila renal. PIELONEFRITE CRÔNICA Surge após um episódio inicial de pielonefrite aguda ou cistite, principalmente associada a obstrução urinária, presença de cálculo, hipertrofia prostática, bexiga neurogênica e refluxo vesicouretral ● As lesões fibróticas decorrentes da infiltração inflamatória uni ou bilateral levam a uma redução do tecido renal funcionante. ● Quando a infecção é unilateral, o rim normal compensa a redução da função do rim comprometido. Os sinais e sintomas (polaciúria, dor lombar) podem sugerir que a origem da doença seja no sistema urinário. ● É comum o paciente não apresentar queixa atribuível ao aparelho urinário → fraqueza geral, apatia, perda de peso ou sintomas relacionados com a uremia. ● A hipertensão arterial pode ser o achado dominante. CISTITE E URETRITE: infecção urinária restrita à bexiga e/ou uretra, caracterizada por polaciúria, disúria, urgência e piúria. ➧ A cistite provoca desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica. ○ A irritação da parede vesical causa contração espasmódica da bexiga ○ Paciente tem desejo de urinar + dor, mesmo quando o órgão está vazio ou imediatamente após a micção (estrangúria). ○ A urina pode apresentar-se turva e com odor desagradável. ➧ Na uretrite aguda, observa -se queimor intenso ou dor durante a micção. Observa- se, também, corrimento uretral purulento entre as micções. SÍNDROME URETRAL AGUDA: condição em que mulheres apresentam disúria, polaciúria e leucocitúria, embora com colonização não significativa de bactérias na urocultura (abaixo de 100.000 colônias/mℓ). PROSTATITE: dor na região sacra e perineal, que se acompanha de desconforto retal e testicular; piúria e hematúria costumam ocorrer. ➧ A prostatite bacteriana aguda produz manifestações sistêmicas de bacteremia com febre alta e calafrios, acompanhando- se de disúria e polaciúria. ● O toque retal acompanha- se de dor intensa, devido ao aumento de volume da glândula, o que torna a cápsula tensa. ➧ Na prostatite bacteriana crônica, o paciente pode ser assintomático, com próstata de tamanho normal e indolor ao toque retal SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica decorre de processo inflamatório do capilar glomerular. Caracteriza-se por: ● Disfunção renal de início abrupto ● Graus variáveis de hematúria e proteinúria ● Hipertensão arterial ● Edema discreto a moderado (membros inferiores e periorbital) ● Oligúria Na formação do edema da síndrome nefrítica, além da retenção de sódio e água por desequilíbrio glomerulotubular,se destaca o aumento da permeabilidade capilar. ● Em geral, ocorre proteinúria, em quantidade variável, desde menos de 500 mg/dia a 4 ou mais gramas em 24 horas, dependendo do grau de comprometimento da taxa de filtração glomerular (TFG). ● Com a piora da função renal, a proteinúria pode diminuir de intensidade. A biópsia renal auxilia na caracterização do tipo de glomerulonefrite (GN) e a gravidade da evolução pode correlacionar-se com os danos estruturais. GLOMERULONEFRITE AGUDA PÓS- ESTREPTOCÓCICA reação inflamatória dos glomérulos renais em resposta à infecção por cepas nefritogênicas de estreptococos beta hemolíticos do grupo A. ● As manifestações clínicas costumam ter início súbito, com aparecimento de hematúria macroscópica e edema cerca de 1 a 3 semanas após uma infecção estreptocócica da garganta ou de pele. ● É mais comum em crianças de 2 a 6 anos, mas pode ocorrer em pessoas de qualquer idade. O quadro clínico da glomerulonefrite aguda caracteriza-se pela ocorrência de hematúria com urina vermelho-amarronzada, cor de café ou coca- cola. OUTRAS GLOMERULONEFRITES AGUDAS PÓS- INFECCIOSAS Várias doenças infecciosas de natureza viral, bacteriana e parasitária estão associadas ao aparecimento de síndrome nefrítica aguda. A formação de complexos imunes exerce papel importante no aparecimento das lesões glomerulares: ● Endocardite infecciosa aguda e subaguda ● Estados sépticos em geral ● Malária, esquistossomose e leishmaniose ● Hepatite e caxumba podem evoluir SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica consiste na associação das seguintes manifestações: ● Proteinúria (superior a 3,5 g/24 h), ● Hipoalbuminemia (albumina sérica inferior a 3,5 g/dℓ) ● Edema generalizado (anasarca). ● Hipercolesterolemia ● Pode ser acompanhada de hiperlipidemia e hipercoagulabilidade. Alterações da permeabilidade da membrana basal glomerular (perda da seletividade) são responsáveis pela perda de proteínas na urina ● Quando a proteinúria é superior a 3,5 g/24 h, a excreção urinária de albumina ultrapassa a capacidade do fígado de sintetizar essa proteína, resultando em hipoalbuminemia. Situações fisiológicas, a membrana basal glomerular não permite a perda de grandes quantidades de proteínas → Podócitos formam uma barreira de cargas, albumina não passa Em relação ao edema da síndrome nefrótica, os seguintes mecanismos têm sido propostos: 1. Hipoalbuminemia com redução da pressão oncótica do plasma, com passagem do líquido para o interstício e edema; 2. Redução do fluxo plasmático renal efetivo ativa o sistema renina angiotensinaaldosterona, ocasionando retenção de sódio e de água e persistência do edema; 3. Diminuição da pressão oncótica do plasma e do interstício, ocorrendo de forma paralela, com pouca mudança no gradiente de pressão oncótica transcapilar. As anormalidades do metabolismo lipídico incluem níveis elevados de colesterol, triglicerídeos e de apolipoproteínas B, contendo VLDL e LDL. ● Essas alterações decorrem principalmente da redução da sua depuração e, em menor grau, do aumento da sua biossíntese. ● Alterações do metabolismo lipídico na síndrome nefrótica resultam em “nefrotoxicidade lipídica” e outras complicações, como aterosclerose, doenças cardiovasculares e tromboembolismo. A diminuição dos níveis plasmáticos de proteínas ocasiona redução das substâncias transportadas ligadas à albumina. ● Os níveis de tireoxina, vitamina D, transferrina e antitrombina III podem estar baixos, causando distúrbios metabólicos como hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, anemia hipocrômica microcítica e hipercoagulabilidade. Uma das complicações de maior gravidade é justamente a predisposição à hipercoagulabilidade, manifestada por fenômenos trombóticos. CAUSAS DE SÍNDROME NEFRÓTICA PRIMÁRIA ● Doença das lesões mínimas - causa desconhecida, pode ocorrer por infecções virais, alergia, AINES e neoplasias ● Glomerulosclerose segmentar e focal - causa desconhecida ou associada a outras condições, como obesidade mórbida, anemia falciforme, uso de medicamentos (AINES e pamidronato), de heroína, refluxo vesicoureteral e AIDS. ● Glomerulonefrite membranosa - pode ocorrer como doença primária (70 a 80%) ou secundária a várias condições clínicas, entre as quais incluem infecções, lúpus eritematoso sistêmico, neoplasias ou medicamentos ● Glomerulonefrite membranoproliferativa CAUSAS DE SÍNDROME NEFRÓTICA SECUNDÁRIA ● Diabetes mellitus ● Lúpus eritematoso sistêmico ● Amiloidose ● Pré Eclâmpsia ● Síndrome da imunodeficiência humana adquirida Hepatite viral (B e C) ● Doenças parasitárias: malária, sífilis ● Neoplasias malignas ● Drogas/medicamentos (heroína, anti inflamatório não esteroide, penicilamina, interferona, pamidronato, antibióticos) ● Obesidade ● Nefropatia crônica do enxerto ● Anomalias genéticas
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