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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO BACHARELADO EM CIÊNCIAS POLICIAIS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA ® Al Of PM 118307-9 – Rodrigo Ayres Branco Arruda Al Of PM 121775-5 – Rogério Santos de Melo O EPI DO MOTORISTA POLICIAL MILITAR E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE OCUPACIONAL – INTERAÇÃO COM A ERGONOMIA E OUTROS ASPECTOS DA ATIVIDADE PROFISSIONAL São Paulo 2020 Al Of PM 118307-9 – Rodrigo Ayres Branco Arruda Al Of PM 121775-5 – Rogério Santos de Melo O EPI DO MOTORISTA POLICIAL MILITAR E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE OCUPACIONAL – INTERAÇÃO COM A ERGONOMIA E OUTROS ASPECTOS DA ATIVIDADE PROFISSIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, como parte dos requisitos para a obtenção do Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Orientador - Maj PM Renato Zanetti Galerani São Paulo 2020 Al Of PM 118307-9 – Rodrigo Ayres Branco Arruda Al Of PM 121775-5 – Rogério Santos de Melo O EPI DO MOTORISTA POLICIAL MILITAR E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE OCUPACIONAL – INTERAÇÃO COM A ERGONOMIA E OUTROS ASPECTOS DA ATIVIDADE PROFISSIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, como parte dos requisitos para a obtenção do Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. (X) Recomendamos disponibilizar para pesquisa (X) Não recomendamos disponibilizar para pesquisa (X) Recomendamos a publicação (X) Não recomendamos a publicação DEDICATÓRIA Dedicamos o presente trabalho: Primeiramente ao nosso DEUS, Criador e Mestre, Todo Poderoso, que a todos os momentos nos sustentou e sustenta em nossas vidas, bem como as nossas famílias, abençoando, protegendo e acima de tudo estando presente em cada um nós, dando-nos força para superar todas as batalhas, agregando sabedoria e discernimento. Aos nossos familiares que sempre nos apoiaram em nossas ações, desde o ingresso na Polícia Militar do Estado de São Paulo, como Soldados, até a tão almejada vaga na Academia de Polícia Militar do Barro Branco e o nosso sonho de sermos oficiais. Aos nossos amigos e companheiros de farda, desde os colegas da nossa turma de Soldados, até nossa turma, Aspirantes 2020, que com certeza, nos ajudaram a crescer e superar barreiras juntos. A todos os nossos instrutores, comandantes e professores da Academia do Barro Branco, que sempre tiveram a paciência de nos ensinar com destreza todo o conhecimento necessário para nos tornarmos oficiais. AGRADECIMENTOS Ao Major PM 900312-6 Renato Zanetti Galerani que sempre nos apoiou e orientou com maestria, calma e dedicação, proporcionando a realização deste trabalho sem grandes dificuldades. Ao Major PM 910361-9 Wladimir Borges de Freitas, idealizador do tema proposto, que nos auxiliou muito para a elaboração deste trabalho, transmitindo todo o seu conhecimento e disponibilizando seu tempo para nos ajudar. “Ele (Deus) é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar onde cheguei. Muitas pessoas têm essa capacidade, mas não têm a oportunidade. Ele a deu pra mim, não sei porque. Só sei que não posso desperdiçá-la” Ayrton Senna da Silva RESUMO O referido tema representa condições indesejadas no trabalho e qualidade de vida do policial militar, no qual se fazem necessárias ações que propiciem a busca por uma condição melhor. A finalidade é de que o mesmo exerça suas funções com qualidade, esta indispensável na instituição, prevenindo queda de rendimento e baixas, de maneira que o policial militar consiga manter ou melhorar sua saúde na vida profissional e na vida pessoal. Para tanto, o presente trabalho é focado na saúde e bem-estar do motorista, e também é válido para o patrulheiro. Ambos exercem sua função com esforço além do seu limite, pois um dos fatores que traz desgaste ao policial é o clima territorial do Estado de São Paulo, que possui grande amplitude térmica (clima subtropical). As elevadas horas de trabalho ininterrupto são outro fator de desgaste, uma vez que o motorista trabalha ao menos 12 horas por dia, alternando com 36 horas de folga, muitas vezes preenchidas com trabalhos extras em convênios da Polícia Militar, com os Municípios ou com o próprio Estado. Durante todo o desempenho do serviço, o militar embarca e desembarca da viatura diversas vezes, carregando seu Equipamento de Proteção Individual (EPI), colete e cinturão que comporta os diversos acessórios, entre arma de fogo, carregadores, lanterna e outros, para o cumprimento do múnus constitucional de preservação da ordem pública. É voltada para esses equipamentos que se faz necessária uma análise da visão subjetiva dos policiais e técnica-objetiva da relação entre os EPI do motorista policial militar e a ergonomia desses equipamentos, no que tange à aplicabilidade, eficiência e efetividade, e dos malefícios causados à saúde laboral do policial militar. Palavras-chave: Polícia Militar. Saúde. Bem-estar. EPI. Ergonomia. ABSTRACT This theme represents unwanted conditions at work and the quality of life of the military policeman, in which actions are necessary to promote the search for a better condition. The purpose is that he performs his duties with quality, which is indispensable in the institution, preventing loss of income and casualties, so that the military police can maintain or improve their health in professional and personal life. To this end, the present work is focused on the health and welfare of the driver, and is also valid for the patrol driver. Both perform their function with effort beyond its limit, because one of the factors that brings wear to the police is the territorial climate of the State of São Paulo, which has great thermal amplitude (subtropical climate). The long hours of uninterrupted work are another factor of attrition, as the driver works at least 12 hours a day, alternating with 36 hours off, often filled with extra work in agreements of the Military Police, the Municipalities or the state itself. During the entire performance of the service, the military embarks and disembarks the car several times, carrying his Individual Protection Equipment (EPI), vest and belt that includes the various accessories, including firearms, porters, flashlight and others, to fulfill the constitutional task of preserving the public order. It is focused on these equipments that it is necessary an analysis of the subjective view of the police and the objective technique of the relationship between the military police driver's EPI and the ergonomics of this equipment, regarding the applicability, efficiency and effectiveness, and the harm caused to the police. occupational health of the military police officer. Keywords: Military Police. Health. Wellness. EPI. Ergonomics. RESUMEN Este tema representa las condiciones no deseadas en el trabajo y la calidad de vida del policía militar, en el que las acciones son necesarias para promover la búsqueda de una mejor condición. El propósito es que desempeñe sus funciones con calidad, lo cual es indispensable en la institución, evitando pérdidas de ingresos y bajas, para que la policía militar pueda mantener o mejorar su salud en la vida profesional y personal. Con este fin, el presente trabajo se centra en la salud y el bienestar del conductor, y también es válido para el conductor de la patrulla. Ambos realizan su función con esfuerzo más allá de su límite, porque uno de los factores que trae desgaste a la policía es el clima territorial del Estado de São Paulo, quetiene una gran amplitud térmica (clima subtropical). Las largas horas de trabajo ininterrumpido son otro factor de desgaste, ya que el conductor trabaja al menos 12 horas al día, alternando con 36 horas de descanso, a menudo lleno de trabajo adicional en los acuerdos de la Policía Militar, los municipios o el Estado en sí mismo. Durante todo el desempeño del servicio, los militares embarcan y desembarcan el automóvil varias veces, llevando su Equipo de Protección Individual (EPI), chaleco y cinturón que incluye varios accesorios, incluyendo armas de fuego, porteadores, linterna y otros, para cumplir con la tarea constitucional de preservar el orden público Se enfoca en estos equipos que es necesario un análisis de la visión subjetiva de la policía y la técnica objetiva de la relación entre el EPI del conductor de la policía militar y la ergonomía de este equipo, con respecto a la aplicabilidad, eficiencia y efectividad, y el daño causado a la policía. salud ocupacional del oficial de policía militar. Palabras clave: Policia Militar. Salud. Bienestar. EPI. Ergonomía. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Armaduras medievais. ............................................................................ 17 Figura 2 – Elmos. .................................................................................................... 17 Figura 3 – Esqueleto humano. ................................................................................ 25 Figura 4 – Coluna vertebral ..................................................................................... 26 Figura 5 – Disco intervertebral. ............................................................................... 27 Figura 6 – Vista superior das vértebras. .................................................................. 28 Figura 7 – Cifose, escoliose e lordose, respectivamente. ....................................... 32 Figura 8 – Colete utilizado pela PMESP. ................................................................. 38 Figura 9 – Partes componentes do colete balístico. ................................................ 40 Figura 10 – Camadas de material balístico sobrepostas sendo cortadas com máquina de costura industrial. ................................................................ 41 Figura 11 – Detalhes do tecido balístico em camadas sobrepostas, formando o painel. ..................................................................................................... 41 Figura 12 – Capa externa frontal. .............................................................................. 42 Figura 13 – Capa externa dorsal. .............................................................................. 43 Figura 14 – Capa externa do painel balístico frontal e detalhe da etiqueta. .............. 43 Figura 15 – Capa externa do painel balístico dorsal. ................................................ 44 Figura 16 – Disposição dos equipamentos usados por um PM no cinturão. ............. 46 Figura 17 – Breve descrição da funcionalidade do colete tático. ............................... 47 Figura 18 – Configuração para combinação colete tático, cinturão e coldre com sistema de fixação da plataforma de coxa. ............................................ 48 Figura 19 – Suspensório militar. ................................................................................ 49 Figura 20 – Suspensório militar ostensivo (esquerda) e dissimulado (direita)........... 50 LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1. Distribuição da variável Idade em anos. .................................................... 54 Tabela 2. Distribuição da variável Peso em quilogramas. ......................................... 54 Tabela 3. Distribuição da variável Tempo de motorista em anos. ............................. 54 Tabela 4. Porcentagens das respostas às questões ................................................. 57 Tabela 5. P- valores para o teste de independência qui - quadrado (x2) ................... 58 Gráfico 1 – Distribuição das respostas para a questão 1. ......................................... 55 Gráfico 2 – Distribuição das respostas para a questão 2 .......................................... 55 Gráfico 3 – Distribuição das respostas para a questão 3 .......................................... 55 Gráfico 4 – Distribuição das respostas para a questão 4 .......................................... 55 Gráfico 5 – Distribuição das respostas para a questão 5 .......................................... 56 Gráfico 6 – Distribuição das respostas para a questão 6 .......................................... 56 Gráfico 7 – Distribuição das respostas para a questão 7 .......................................... 56 Gráfico 8 – Distribuição das respostas para a questão 8. ......................................... 56 Gráfico 9 – Coeficientes de Pearson para o grau de correlação entre as questões. ................................................................................................ 59 Quadro 1 – Relação de atendimentos da Junta de Saúde com parecer Licença, por CID ano 2013 ................................................................................... 33 Quadro 2 – Relação de atendimento da Junta de Saúde com parecer Restrição, por CID ano 2013 ................................................................................... 34 Quadro 3 – Comparação do nível de proteção exigido na norma NIJ Standard 0101.04 e NIJ Standard – 0101.06. ........................................................ 62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Al Of Aluno Oficial APMBB Academia de Polícia Militar do Barro Branco Bol G PM Boletim Geral da PMESP Cmt G Comandante Geral CAES Centro de Autos Estudos de Segurança Pública CAEx Centro de Avaliações do Exército CBC Companhia Brasileira de Cartuchos CCB Comando do Corpo de Bombeiros Cel Coronel CID Classificação Internacional de Doenças CFO Curso de Formação de Oficiais CPA Comando de Policiamento de Área CPC Comando de Policiamento da Capital CPI Comando de Policiamento do Interior CPM Comando de Policiamento Metropolitano CSM/AM Centro de Suprimento e Manutenção de Armamento e Munição DEJEM Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar DP Desvio Padrão EB Exército Brasileiro EM/PM Estado Maior da PMESP (1ª a 6ª Seção) EPI Equipamento de Proteção Individual EVA Ethylene Vinyl Acetate (material composto de borracha) FAEMA Faculdade de Educação e Meio Ambiente Maj Major NIJ National Institute of Justice OPM Organização Policial Militar PM Policial Militar PMESP Polícia Militar do Estado de São Paulo TCC Trabalho de Conclusão de Curso Ten Cel Tenente Coronel SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 13 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................... 14 1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 14 1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................... 15 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 16 2.1 EVOLUÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL .............. 16 2.2 HISTÓRIA DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO ................. 18 2.3 O POLICIAL MILITAR ..................................................................................... 19 2.3.1 Regime de Trabalho do Policial Militar .............................................. 20 2.4 COLUNA VERTEBRAL ................................................................................... 24 2.4.1Anatomia da coluna vertebral ............................................................. 27 2.4.2 Fisiologia da coluna vertebral ............................................................ 29 2.4.3 Alterações degenerativas ................................................................... 31 2.4.4 Lombalgia e cervicalgia ...................................................................... 32 2.4.5 Problemas na coluna vertebral e a PMESP ....................................... 33 2.4.6 Reabilitação .......................................................................................... 35 2.4.7 Ergonomia ............................................................................................ 35 2.4.7.1 Design ergonômico .................................................................. 36 2.5 COLETE À PROVA DE BALAS ...................................................................... 38 2.5.1 Norma da National Institute of Justice ............................................... 44 2.6 O CINTURÃO TÁTICO.................................................................................... 45 2.7 O COLETE TÁTICO ........................................................................................ 47 2.8 O SUSPENSÓRIO MILITAR ........................................................................... 49 3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................................... 51 4 MATERIAIS E MÉTODO........................................................................................ 52 5 RESULTADOS ....................................................................................................... 54 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 61 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 64 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65 13 1 INTRODUÇÃO Desde o surgimento da formação dos exércitos, há uma preocupação em defender seus infantes através de equipamentos que visam à proteção da integridade física, em especial a criação da “armadura” utilizada no combate corpo a corpo, protegendo contra flechas, lanças e golpes de espadas dos inimigos. Ao longo do tempo, vários materiais foram utilizados para este fim, partindo desde o couro, ferro e aço, até o descobrimento das fibras sintéticas, utilizadas atualmente, que combinam leveza e proteção, fazendo com que o pesado e desconfortável “colete a prova de balas” tenha se tornado um popular equipamento de proteção individual indispensável às forças policiais de todo o mundo. A Polícia Militar do Estado de São Paulo, baseada na tríade filosófica dos Direitos Humanos, Gestão pela Qualidade e Polícia Comunitária, muito faz para a melhoria dos armamentos e equipamentos utilizados por sua tropa, a fim de fazer frente à realidade diária de combate ao crime e preservação da ordem pública. 1.1 JUSTIFICATIVA Tendo em vista o aumento da quantidade de policiais militares que se afastam dos serviços operacionais por adquirirem problemas médicos, causados na maioria dos casos por problemas ortopédicos, sobretudo na coluna e região lombar, relacionados ao uso dos equipamentos de proteção individual, como colete de proteção balística e cinturão operacional, aliados ao peso dos equipamentos e acessórios, desde arma, carregadores de munições, algemas, e demais itens necessários a uma boa atuação policial. Faz-se necessário o presente estudo para revisão e aperfeiçoamento do equipamento de proteção, visando contribuir de forma efetiva e eficaz na produtividade operacional, diminuindo, dessa forma, impactos negativos na saúde laboral do policial militar, estando alinhado com o Planejamento Estratégico da Instituição nas áreas de gestão de pessoal, logística e saúde, visto que dentre os inúmeros objetivos apresentados, podemos citar “focar na maior oferta e na qualidade de serviços” e “valorizar o policial militar”. 14 1.2 OBJETIVOS Posto isto, este estudo alinha-se a tais objetivos, uma vez que o desenvolvimento de medidas que possam melhorar o desempenho e segurança individual do policial militar em muito poderá contribuir para uma maior oferta e qualidade de serviço, bem como a própria valorização do policial militar. 1.2.1 Objetivo Geral Para tal, o objetivo geral do presente estudo é apresentar a relação estabelecida de causa e efeito entre os equipamentos de proteção individual (EPI) e acessórios, que são fixados ao corpo dos policiais através do cinto tático e colete balístico, assim como suas consequências por extensiva exposição de carga horária a saúde laboral a que são submetidos os motoristas de viaturas policiais, realizando pesquisas de campo para compreender os efeitos na saúde do motorista policial militar no cumprimento de sua missão; Além de pesquisar os malefícios impostos pela postura ergonômica causados pelos EPI trazidos ao motorista policial militar no exercício de sua função na atualidade, e assim apresentar soluções a curto, médio e longo prazo na melhora de condições de trabalho do policial militar, com o fito de diminuir o número de baixas médicas do policial militar e melhorar sua qualidade de vida. O referido tema demonstra condições indesejadas na qualidade de vida e trabalho do policial militar o qual se fazem necessárias ações que propiciem a busca para uma melhor condição, com a finalidade de que este exerça suas funções com qualidade, esta que se faz indispensável na instituição policial militar, prevenindo baixas e queda de rendimento do profissional militar, de maneira que o policial consiga manter ou melhorar sua saúde e leve essa melhora para vida pessoal e profissional. 15 1.2.2 Objetivos Específicos Para tanto, o presente trabalho é focado na saúde e bem-estar do motorista, no entanto vale também para o patrulheiro uma vez que ambos exercem sua função valendo-se de esforço que vai além do seu limite, pois alguns dos fatores que trazem desgaste ao policial é o clima territorial do Estado de São Paulo, que possui uma grande amplitude térmica (clima subtropical). As elevadas horas de trabalho ininterrupto também são um fator de desgaste uma vez que o motorista trabalha por ao menos 12 horas por dia, alternando com 36 horas de folga, estas que muitas vezes são preenchidas com trabalhos extras em convênios da Polícia Militar, com Municípios ou com o próprio Estado. Durante todo o serviço desempenhado o militar embarca e desembarca da viatura por diversas vezes carregando seu EPI, colete e o cinturão com o coldre que serve para a acomodação da arma e voltado para esses equipamentos se fazem necessária uma análise da visão subjetiva dos policiais e técnico-objetiva da relação entre os equipamentos de proteção individual do motorista policial militar e a ergonomia desses equipamentos, no que tange a aplicabilidade, eficiência e efetividade, aos malefícios causados à saúde laboral do policial militar. Neste cenário de trabalho e o ambiente aos quais os profissionais são submetidos e desempenham a atividade policial, vê-se que, além de desenvolverem suas atividades em condições de sobrecarga física e mental, usam equipamentos de proteção individual que são objetos de reclamações pelo excessivo desconforto, agravados pela fadiga e estresse, características peculiares à atividade, e ainda, intensificadas pelas altas temperaturas climáticas, além da zona de conforto térmico, caracterizando fatores que influenciam seu desempenho, emergindo, portanto, a importância da ergonomia, que elenca os aspectos físicos, relacionados com as características da anatomia humana e biomecânica em sua relação a atividade física; os aspectoscognitivos, o qual refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações com a atividade desempenhada (IIDA, 2005). 16 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 EVOLUÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Desde os primórdios da história da civilização, na formação de pequenas aldeias, o homem primitivo verificou a necessidade de se proteger contra intempéries como o frio, chuva e defesa de invasores inesperados, e para tal atividade diária, além da extração de frutos silvestres e outros comestíveis, recorreram também à caça de animais selvagens, para extrair a carne para o alimento e utilizassem a pele como vestes. Para atender esta necessidade, além de se utilizarem de objetos de proteção contra predadores como barreiras de proteção e pedras, utilizavam também armas de ataque, como lanças e o arco e flecha, as quais foram mais difundidas ao longo do tempo, devido a maior eficácia. Com a chegada da Idade Média, foi constatada além da necessidade de proteção coletiva, uma maior proteção individual do homem contra os ataques inimigos, com a utilização de armaduras, escudos e elmos pelos cavaleiros medievais. A armadura era a vestimenta destinada à proteção pessoal em uma batalha. As armaduras eram geralmente de metal, mas também de cotas de malha, peitorais de aço, tiras de couro, bambu e laca. O elmo era uma espécie de capacete para proteção do crânio. No início de seu desenvolvimento, tais armaduras eram muito mais leves e simples, acumulando, com o passar do tempo, vários outros acessórios, o que acabou por torná-las consideravelmente pesadas, algo em torno de 30kg para as mais elaboradas, mas estas eram reservadas a reis e príncipes, pois eram demasiadamente caras e, portanto, menos utilizadas. O soldado raso geralmente utilizava simples coletes de couro e peles (Figura 1 e 2). O tipo básico de armadura era a chamada armadura de malha, formada por milhares e milhares de pequenos anéis de ferro interligados sem solda ou rebite, e que envolvia o combatente dos pés à cabeça, ela era eficiente para prevenir cortes e arranhões, e permitia uma liberdade de movimentos maior do que os outros tipos mais complexos. O modelo de armadura popularmente conhecido, era a "armadura de placa", composta de uma ou mais placas de metal sem qualquer tipo de cobertura ou forro, 17 referidas como armaduras brancas pelo fato de o metal estar exposto e reluzir a luz do sol. Tais peças surgiram por volta do século XIII, e possuíam um elmo, couraça, grebas (para a parte inferior da perna), manoplas, espaldar (para os ombros), braços, pernas e escarpe, para os pés. Figura 1 – Armaduras medievais. Fonte: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2018/11/as-armaduras-de-placas-xiii- xvi.html Figura 2 – Elmos. Fonte: http:// www.infoescola.com/historia/armaduras-medievais/ Segundo Moraes (1998), originalmente, os escudos eram feitos de couro endurecido de formas várias, posteriormente, passaram a ser fabricados de madeira, http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2018/11/as-armaduras-de-placas-xiii-xvi.html http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2018/11/as-armaduras-de-placas-xiii-xvi.html http://www.infoescola.com/historia/armaduras-medievais/ 18 ao mesmo tempo em que as pontas das flechas passaram a ser feitas de pedras e alguns metais mais moles. Com o desenvolvimento da metalúrgica primitiva, começaram a surgir os primeiros escudos de bronze e, logo em seguida, os de ferro. Consta que, em 1894, na Alemanha, um alfaiate de nome Dowe teria inventado uma espécie de peitilho confeccionado com placas de aço temperado para proteção contra balas de rifles militares da época e o próprio inventor exibiu sua invenção em feiras e participou de vários testes, porém, não despertou interesse das forças germânicas e, sem sucesso, caiu no esquecimento (VASCONCELOS; PORTO, 2007). Durante as 1ª e 2ª Guerras Mundiais houve total descaso com o conceito de segurança individual da tropa, que só foi retomado pouco antes da guerra do Vietnã, onde renasceu o conceito de armadura, devido ao desenvolvimento de novos aços, ligas metálicas e fibras plásticas que podiam deter projéteis de baixa velocidade, de onde surgiram pesados jaquetões que protegiam os soldados de estilhaços de granadas. Foi na década de 60 que engenheiros desenvolveram o colete à prova de balas, macio diferente das armaduras antigas; o equipamento de proteção balística era mais leve e fácil de vestir, ajudando a mobilidade e protegendo com maior eficácia. A partir daí, os coletes à prova de balas evoluíram, sendo desenvolvidos em diversos materiais, até os dias atuais. 2.2 HISTÓRIA DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO Criada no período Imperial, a Polícia Militar, instituição quase bicentenária é, atualmente, uma instituição reconhecida como referência nacional e internacional em serviços de segurança pública. No ano de 1831, após a reunião do conselho da Província de São Paulo presidida pelo Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, realizada em 15 de dezembro daquele ano, foi criado o corpo da Guarda Municipal Permanente, com um efetivo composto por 100 homens a pé e 30 a cavalo. A milícia paulista, nos seus 188 anos de existência, foi organizada e reorganizada diversas vezes. Inicialmente, recebeu o nome de Guarda Municipal 19 Permanente. No século XX, foi denominada Força Policial, Força Pública, entre outras denominações. Em 1906, o governo do Estado de São Paulo contratou uma missão de militares franceses para instruírem a Polícia militar em um processo voltado à modernização da instituição. A missão Francesa permaneceu até 1924, influindo na organização e na formação do caráter da Policia Militar, aliando a estética militar ao serviço de policiamento ostensivo voltado para as necessidades comunitárias. Finalmente em 09 de abril de 1970, após a unificação da Força Pública com a Guarda Civil de São Paulo, a polícia paulista recebeu o nome de Polícia Militar do Estado de São Paulo. Fundada nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que se traduzem no respeito à dignidade da pessoa humana e na defesa intransigente dos direitos humanos, persiste nos dias atuais, mantendo na Policia Militar uma visão humanista, voltada para a formação moral e patriótica do policial militar, com dedicação incansável à instrução, para bem servir à comunidade paulista e brasileira. 2.3 O POLICIAL MILITAR A Polícia Militar é composta por policiais fardados e equipados incumbidos de prevenir as condutas criminosas e zelar pela ordem pública, atuando primordialmente na prevenção do crime, devendo estar sempre à disposição do Estado, ou seja, o policial não pode se omitir diante de fatos que exijam sua intervenção, e precisa estar sempre preparado para servir à comunidade. O policial militar é também um integrante do meio social onde vive e atua, e sofre inúmeras influências desse meio (RODRIGUEZ-AÑEZ, 2003). Neste contexto o policial militar, é submetido a condições fatigantes em seu turno de trabalho, pois é exigido um nível elevado de saúde tanto física quanto mental para suportar as cargas impostas no ambiente militar, que podem comprometer sua qualidade de vida, saúde e bem estar físico e psicológico, além da exposição a conflitos armados, nos quais se expõem e podem perder a vida, o que se configura em um risco epidemiológico da profissão militar. Extensas jornadas de trabalho, problemas ergonômicos, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos, que, reconhecidamente, são considerados fatores de risco ocupacional. 20 Na execução do policiamento ostensivo, as modalidades mais utilizadas são a pé e motorizado, as quais demandam que durante o exercício da função, o policial permaneça em pé, caminhe ou conduza a viatura durante muitas horas,e durante boa parte do período carrega materiais e equipamentos pesados, além de em atendimento de algumas ocorrências se fazer necessária a utilização da sua força muscular de forma exaustiva, sendo exigida para tal rapidez, percepção, memória, prudência, observação, concentração, precisão física e psicológica, sendo exposto cotidianamente a situações desfavoráveis (RODRIGUEZ-AÑEZ, 2003). 2.3.1 Regime de Trabalho do Policial Militar O regime de trabalho policial militar é especial e foi instituído pela Lei nº 10.291, de 26 de novembro de 1968, alterado pela Lei Complementar nº 1.188, de 27 de novembro de 2012, e caracteriza-se na seguinte conformidade pela prestação de serviços em condições precárias de segurança e as chamadas a qualquer hora; pelo cumprimento de horário irregular; por situações extraordinárias da tropa (sobreaviso, prontidões, etc). O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Faço saber que nos termos do § 1º do Artigo 24 da Constituição do Estado eu promulgo a seguinte lei: Artigo 1º - Fica instituído, na Secretaria da Segurança Pública, o Regime Especial de Trabalho Policial, destinado aos ocupantes dos cargos, funções, postos e graduações indicados nesta lei. § 1º - O Regime Especial de Trabalho Policial de que trata este artigo caracteriza-se: (NR) 1 - pela prestação de serviços em condições precárias de segurança, cumprimento de horário irregular, sujeito a plantões noturnos e a chamadas a qualquer hora; (NR) 2 - pela proibição do exercício de atividade remunerada, exceto aquelas: (NR) a) relativas ao ensino e à difusão cultural; (NR) b) decorrentes de convênio firmado entre o Estado e municípios para a gestão associada de serviços públicos, cuja execução possa ser atribuída, mediante delegação municipal, à Polícia Militar; (NR) 3 - pelo risco de o policial tornar-se vítima de crime no exercício ou em razão de suas atribuições. (NR) § 2º - O exercício, pelo policial militar, de atividades decorrentes do convênio a que se refere o item 2, alínea “b”, do § 1º deste artigo dependerá: (NR) 1 - de inscrição voluntária do interessado, revestindo-se de obrigatoriedade depois de publicadas as escalas de serviço; (NR) 2 - de estrita observância, nas escalas de serviço, do direito ao descanso mínimo previsto na legislação em vigor. (NR) 21 É determinado por horário de expediente administrativo, escala de serviço operacional ou administrativo. O horário de serviço de patrulhamento, em situação normal, é definido em escalas de serviço e pauta-se nos seguintes parâmetros: I - compreendido: a. no mínimo 6 (seis) horas; e b. no máximo 12 (doze) horas; II - os serviços que por suas peculiaridades exigirem duração superior ao estabelecido no inciso I, alínea b, deverão ter duração exclusiva e tão somente, de 24 (vinte e quatro) horas; III - os períodos de folga deverão obedecer as seguintes situações: a. no mínimo 2 (duas) vezes o número de horas trabalhadas no período de serviço previsto em escala, não se considerando o período de instrução constante do artigo 6º; b. no máximo 5 (cinco) vezes o número de horas trabalhadas no período de serviço previsto por escala, desde que não ultrapasse 48 (quarenta e oito) horas; IV - as escalas de serviço deverão ser estabelecidas de tal forma que o quociente entre o período de folga e o período de serviço resulte em número inteiro. BOL G Nº 202, DE 20 DE OUTUBRO DE 1995 [...] Artigo 6º - Aos períodos de serviço, em regime de escala, com duração de 08 (oito) horas, poderão ser acrescentados até 30 minutos, para instrução e ou avaliação. Artigo 7º - Todo policial militar deverá cumprir a Jornada de trabalho semanal de, no mínimo, 40 (quarenta) horas, adaptável às peculiaridades de cada OPM. Artigo 8º - As OPM que, devido às suas peculiaridades necessitarem de regime de trabalho diverso do estabelecido por esta Portaria, deverão apresentar suas propostas e razões, para análise do EM/PM e posterior decisão do Cmdo G. Artigo 9º - Todas as OPM deverão ter seu pessoal discriminado em horário de expediente administrativo, escalas de serviço e eventuais afastamentos. Artigo 10º - Os órgãos de Direção Geral, de Direção Setorial e os CPM, CPI e CCB deverão adequar as respectivas Ordens, Notas, Instruções e Diretrizes fr presente publicação. Artigo 11º - Os servidores civis do Estado que prestam serviço na Policia Militar, cumprirão Jornada de trabalho conforme determina a legislação própria e contratos de trabalho, sendo que as dúvidas deverão ser sanadas junto à Diretoria de Pessoal. Artigo 12º - Esta Portaria entrara em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, em especial a publicação constante do Boletim Geral 133, de 15 de Julho de 1994. [...] O regime de trabalho operacional na Polícia Militar é definido por escalas, podendo ser a de 6 horas de trabalho por 18 de folga; 12 por 48 ou até mesmo 24 por 72. Porém, devido à incerteza desse ofício e seu regime de dedicação exclusiva, as jornadas de percurso ao trabalho ou até mesmo os momentos de folga podem ser transformados em trabalho (FRAGA, 2006). 22 A carga de trabalho pode ser considerada como o resultado da inter-relação entre os elementos do processo de trabalho e os reflexos no corpo do trabalhador durante a atividade de trabalho, que podem ocasionar dores, lesões e adoecimentos como um nexo causal biopsíquico. A carga de trabalho compreende todas as condições de trabalho, as quais incluem o tempo que o trabalhador utiliza para desenvolver as tarefas, assim como as posturas exigidas: longos períodos em pé, em posições curvadas ou sentado (ROCHA et al., 2014). As cargas de trabalho se subdividem em: físicas, químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas. Em relação às cargas físicas são considerados o ruído, calor, frio, umidade, iluminação, entre outros. As cargas químicas são os pós, fumaça e gases. Cargas biológicas são os micro-organismos, fluidos e secreções. As cargas mecânicas estão relacionadas aos instrumentos de trabalho, que sem a devida manutenção o seu uso pode resultar em acidentes de trabalho. As cargas fisiológicas derivam-se do esforço físico e posições incômodas e inadequadas. Já as cargas psíquicas estão relacionadas à organização do trabalho como, situações de tensão, monotonia, repetitividade, falta de autonomia no ambiente de trabalho (KIRCHHOF et al., 2011). O policial durante sua jornada de trabalho transporta equipamentos que, em geral, são: arma de porte médio, algemas, rádio portátil, cassetete, entre outros equipamentos, que pesam em torno 2,1kg (SIMÕES, 2003). Outra questão desfavorável a saúde física deste profissional, é o colete balístico, equipamento de proteção individual que pode pesar entre 1,6kg a 2,6kg. Se adicionado a um excesso de peso corporal e dependendo do preparo físico dos policiais, pode agir como fator limitante para o bom desempenho da função, bem como colaborar para o aparecimento de sinais de cansaço, dores nos membros inferiores e nas costas (SIMÕES, 2003). Em uma pesquisa realizada por Maciel (2009), em relação à identidade que os próprios policiais tinham de si, houve uma grande recorrência da afirmação acerca da impossibilidade da dissociação entre a “identidade militar” e a “identidade civil”, uma vez que, conforme o pensamento dominante entre esses agentes, “o policial é policial vinte e quatro horas por dia”, devendo estar sempre pronto a resolver as demandas que a sociedade lhe colocar, mesmo que apenas pelo acionamento de colegas de profissão para atender alguma ocorrência policial. Paschoarelli e Menezes (2009) lembraram que o desempenho do papel de profissional de segurança pública ocorre num ambiente violento, de riscos e tensões, 23 e que leva esses profissionais a receber uma sobrecarga emocional, fatigante e desconfortável, em situações adversas e estressantes. E ressalta a importânciado Estado em priorizar investimentos em equipamentos de segurança, entre estes o colete à prova de balas, que apesar de sua eficácia é alvo frequente de reclamações em relação ao desconforto, excesso de peso, entre outros fatores. A atividade do policial militar apresenta uma predisposição natural a acometimentos de dores lombares, pois a jornada de trabalho, o tempo na posição ereta, o uso de equipamento e a submissão ao stress emocional da própria profissão, colaboram para um quadro bastante favorável ao aparecimento da lombalgia (TAVARES NETO et al., 2013). A dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão real ou potencial. Pode ser classificada segundo sua origem em nociceptiva (somática ou visceral) ou neuropática e também pode ser classificada segundo determinação temporal em dor aguda ou crônica. A dor nociceptiva é uma resposta a uma lesão tecidual, acompanhada de inflamação, já a dor neuropática origina-se devido a lesões do sistema nervoso central. A dor aguda surge do trauma de tecidos moles e a dor crônica persiste por um tempo além do esperado para um dano tecidual (KLAUMANN et al., 2008). Além desses aspectos preocupantes apontados entre outros, Simões (2003) cita ainda sobre a atividade policial: (...) A eficiência da ação policial exige rapidez, clareza e precisão física e psicológica. Para a execução do trabalho militar ostensivo, os processos de locomoção mais utilizados no policiamento são à pé e motorizado, e eventualmente, aéreo, montado, e em embarcações. O policial durante sua jornada de trabalho além de expor seu próprio corpo as condições mais desfavoráveis possíveis, age em 51 terrenos acidentados, compartimentos exíguos e em temperaturas anormais (submetendo-se à desconforto térmico). Muitas vezes, ainda trabalha sob iluminação deficitária (originando desconforto visual e dificuldade de atuação), como também atua no tráfego intenso de veículos e/ou pedestres, submetendo-se a ruídos constantes (o que causa interferência direta nas suas atividades cognitivas, além de fisiologicamente causar o aumento da produção dos hormônios que são considerados “hormônios de estresse”, taquicardia, alterações no sono - mesmo horas após o contato com o ruído -, desconforto, exasperação, indisposição, ansiedade e depressão) e a produtos químicos (inspirando fumaças, gases e vapores tóxicos, exigindo a capacidade máxima do pulmão para oxigenar o sangue). Ainda neste contexto podem ocorrer agressões físicas devido à detenção de agentes, objetos perfurantes (projétil de arma de fogo) e objetos cortantes. Seu trabalho físico envolve movimentos rápidos, ágeis e precisos. A coordenação motora se faz necessária como qualidade física que permite o militar continuar a ação de vários grupos musculares na realização de uma série de movimentos com o máximo de eficiência, na execução de tarefas que exijam atos motores 24 como correr, pular, puxar, levantar ou caminhar rapidamente (SIMÕES, 2003). É preciso considerar tanto os aspectos de organização do trabalho quanto às situações de risco as que esses profissionais estão expostos, principalmente pelo aumento significativo da violência e pela precarização do trabalho (SILVA; VIEIRA, 2008). 2.4 COLUNA VERTEBRAL Sendo uma das estruturas principais do corpo humano, a maior parte dos EPI tem o seu peso distribuído pela coluna vertebral, isso significa que vários efeitos recaem sobre ela, efeitos esses que podem causar grandes prejuízos a médio e longo prazo. Tendo isso em mente, aquele que estuda os EPI deve em um primeiro momento ter a compreensão sobre a coluna vertebral e como esse órgão sofre as influencias dos equipamentos. Dessa forma, as principais referências para estudar esse assunto são o Atlas da Anatomia Humana de Netter (2015) e a Anatomia orientada para a Clínica, de Moore et al. (2011). Ambas as obras descrevem com detalhes a anatomia humana, frutos de anos de trabalho e investigação médica. De início, o esqueleto é a estrutura básica do corpo humano, tendo como principal função a sustentação e é dividida em axial e apendicular, conforme se observa na Fig. 3. 25 Figura 3 – Esqueleto humano. Fonte: Moore et al. (2011). O corpo humano é formado por aproximadamente 206 ossos, além de cartilagens, tendões e ligamentos. Cada um desses ossos tem nomes, formatos e tamanhos diferentes, alguns são extremamente pequenos, enquanto outros, como o fêmur, podem ter até 50cm. A coluna vertebral, também conhecida como espinha dorsal, faz parte desse sistema, sendo formada por um conjunto de pequenos ossos nomeados vértebras que se sobrepõe umas as outras desde o cóccix até o crânio, onde ela finaliza na vértebra Atlas (C1). Sendo assim, ela é: O conjunto das vértebras e dos discos intervertebrais forma a coluna vertebral, o esqueleto do pescoço e do dorso, que é a principal parte do esqueleto axial (isto é, os ossos articulados do crânio, coluna vertebral, costelas e esterno). A coluna vertebral estende-se do crânio até o ápice do cóccix. No adulto, tem 72 a 75 cm de comprimento, sendo aproximadamente um quarto formado pelos discos intervertebrais, que estão situados entre as vértebras e as mantêm unidas (MOORE et al., 2011). 26 Figura 4 – Coluna vertebral Fonte: Netter (2015). Além disso, a coluna vertebral é formada da seguinte forma: No adulto, a coluna vertebral normalmente tem 33 vértebras, organizadas em cinco regiões: 7 vértebras cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 4 coccígeas. Só há movimento significativo entre as 25 vértebras superiores. Das 9 vértebras inferiores, as 5 vértebras sacrais estão fundidas nos adultos formando o sacro e, após aproximadamente 30 anos de idade, as 4 vértebras coccígeas se fundem para formar o cóccix. O ângulo lombossacral está situado na junção dos eixos longos da região lombar da coluna vertebral e do sacro. As vértebras tornam-se maiores gradualmente, à medida que a coluna vertebral desce até o sacro, e depois tornam-se progressivamente menores em direção ao ápice do cóccix (MOORE et al., 2014). 27 Sendo essencial o destaque para o disco fibroso e espesso de cartilagem, conhecido como disco intervertebral que: “oferecem fixações fortes entre os corpos vertebrais, unindo-os em uma coluna vertebral semirrígida contínua e formando a metade inferior da margem anterior do forame intervertebral” (MOORE et al., 2014). Figura 5 – Disco intervertebral. Fonte: Netter (2015). 2.4.1 Anatomia da coluna vertebral A coluna vertebral é dividida em cinco partes principais, sendo a região do pescoço chamada de coluna cervical, composta pelas vértebras cervicais CI até CVII; a região do tórax intitulada coluna torácica, com as vértebras torácicas da TI até a TXII; a região da lombar, localizada na parte inferior das costelas, sendo a coluna lombar, composta por vértebras lombares da LI até a LV; a região sacral, que é composta pelo sacro, um conjunto de cinco vértebras interligadas subdivididas em SI até SV e; finalmente o cóccix a parte final da coluna vertebral localizada após o osso da pélvis. A conexão entre as vértebras é protegida pelo disco intervertebral, sendo que a formação das vértebras cria um espaço, chamado forame, onde se situa a coluna vertebral: O arco vertebral e a face posterior do corpo vertebral formam as paredes do forame vertebral. A sucessão de forames vertebrais na coluna vertebral articulada forma o canal vertebral, que contém a medula espinal e as raízes dos nervos espinais, juntamente com as membranas (meninges), a gordura e os vasos que os circundam e servem (MOORE et al., 2014). 28 A medula espinhal é uma das partes mais importantes da coluna vertebral. Sendo uma continuação do cérebro, ela faz parte do sistema nervoso central, ligando diretamente o cérebro com as terminaçõesnervosas que dão continuidade pelo corpo, e se prologando até a altura da primeira vértebra lombar. Após essa região ela continua na forma de filetes nervosos, que é conhecida como “cauda equina”. É pela medula que são transmitidas as informações sobre tudo que recebemos diariamente do mundo exterior. Assim a medula nervosa é parte central da condução de informações do sistema nervoso de animais complexos. Ambas, a medula nervosa e a causa equina são envoltos por uma membrana conhecida como dura mater, e, Moore: anatomia orientada para clínica explica que entre a dura mater e ambas a medula e a causa equina, circula o líquido céfalo- raquidiano (líquor). Todas as estruturas que estão contidas nesse espaço conhecido como canal medular, que, tendo uma forma triangular, mede aproximadamente 17 a 19mm na região da lombar. Figura 6 – Vista superior das vértebras. Fonte: Netter (2015). Ainda, como é possível observar na Fig. 6, cada vértebra possui uma reentrância de cada um dos lados, que juntas criam um orifício ovalado é nomeado de Forame Vertebral, próximo ao disco intervertebral e do canal medular. A nomenclatura dos ossos da coluna vertebral, quando se refere às regiões cervicais, torácicas, lombares e sacrais é sempre a letra inicial da região, como 29 indicativo do nome, seguido de um número que numera as vértebras de cima para baixo, então sendo as cervicais 1 até a 7, e assim por diante. O cóccix, sendo o osso final da coluna vertebral, é fundido e representa uma parte única na base da coluna vertebral. Ainda sobre a espinha dorsal, há os ligamentos essenciais como o longitudinal anterior: Ligamento longitudinal anterior é uma faixa fibrosa forte e larga que cobre e une as faces anterolaterais dos corpos vertebrais e discos intervertebrais. O ligamento estende-se longitudinalmente da face pélvica do sacro até o tubérculo anterior da vértebra CI e o osso occipital anteriormente ao forame magno são as partes superiores, os ligamentos atlantoaxial e atlantoccipital anteriores. Embora seja mais espesso na face anterior dos corpos vertebrais (as ilustrações costumam mostrar apenas essa parte), o ligamento longitudinal anterior também cobre as faces laterais dos corpos até o forame intervertebral. Esse ligamento impede a hiperextensão da coluna vertebral, mantendo a estabilidade das articulações entre os corpos vertebrais. O ligamento longitudinal anterior é o único ligamento que limita a extensão; todos os outros ligamentos intervertebrais limitam formas de flexão (MOORE et al., 2014). Bem como o ligamento longitudinal posterior: É uma faixa muito mais estreita, um pouco mais fraca, do que o ligamento longitudinal anterior. O ligamento longitudinal posterior segue dentro do canal vertebral ao longo da face posterior dos corpos vertebrais. Está fixado principalmente aos discos intervertebrais e menos às faces posteriores dos corpos vertebrais de C II ao sacro, frequentemente unindo gordura e vasos entre o ligamento e a superfície óssea. Esse ligamento resiste pouco à hiperflexão da coluna vertebral e ajuda a evitar ou redirecionar a herniação posterior do núcleo pulposo. É bem suprido por terminações nervosas nociceptivas, de dor (MOORE et al., 2014). 2.4.2 Fisiologia da coluna vertebral A coluna vertebral possui quatro funções. Primeiramente, como já foi dito anteriormente, a coluna vertebral é o eixo de sustentação principal da estrutura corporal. Em segundo lugar o corpo faz uso da sua movimentação para realizar movimentos complexos tanto de flexão e extensão, como no sentido lateral e rotacional. Aqui, deve-se atentar para o fato de que para esses movimentos acontecerem, é necessário um deslocamento tanto da porção posterior (que é menor) como da anterior (que é maior). Em seguida, a coluna vertebral é importante na postura e locomoção. Por fim, verifica-se que a coluna vertebral tem a função da condução das estruturas nervosas, que se encontram no canal vertebral e nos 30 foramens intervertebrais. Essa medula nervosa, como já foi explicada no capítulo anterior inicia como medula espinhal, na cervical e se encerra na região lombar, onde ela perdura na forma de cauda equina. Essa cauda equina é composta por raízes nervosas, que são prolongamentos os nervos motores e sensores da espinha dorsal. Essas raízes se mostram de dois gêneros, sendo a raiz sensitiva (aferente) e a motora (eferente), as quais juntas constituem o gânglio nervoso. O SNP [Sistema Nervoso Periférico] é contínuo, do ponto de vista anatômico e operacional, com o SNC [Sistema Nervoso Central]. Suas fibras aferentes (sensitivas) conduzem impulsos nervosos dos órgãos dos sentidos (p. ex., os olhos) e dos receptores sensitivos em várias partes do corpo (p. ex., na pele) para o SNC. Suas fibras eferentes (motoras) conduzem impulsos nervosos do SNC para os órgãos efetores (músculos e glândulas) (MOORE et al., 2014). No local do encontro entre as fibras, elas se comunicam com o nervo sinovertebral, que se divide em uma porção anterior e posterior, sendo que a anterior tem a função sensora, que da a percepção da pressão do núcleo discal contra o anel fibroso do disco. É através dessa função eu se percebe a posição do eixo verbal. É nítido, que tendo essas funções de sustentação, e fazendo grande parte da movimentação da região central do corpo de um adulto, a pressão exercida sobre a coluna vertebral nas atividades diárias é grande. Os discos e as estruturas entre as vértebras sofrem a ação constante da força do corpo e dos agentes externos, de forma que quanto maior a carga transportada pela coluna (seja por sobrepeso corporal, ou por excesso de equipamentos), maior será o esforço dessas estruturas em manter a coluna vertebral intacta. O corpo possui como mecanismo de defesa para que não ocorra a lesão desse órgão: as dores regionais e irradiadas para membros periféricos, todos decorrentes do processo inflamatório radicular. Assim, a movimentação da coluna vertebral somada sofre um efeito de grande sobrecarga, e possui uma grande amplitude de movimento, como descrita em Moore: A orientação das articulações dos processos articulares permite alguns movimentos e restringe outros. Com exceção talvez de C I–C II, nunca há movimento isolado em um único segmento da coluna. Embora os movimentos entre vértebras adjacentes sejam relativamente pequenos, sobretudo na região torácica, a soma de todos os pequenos movimentos 31 produz considerável amplitude de movimento da coluna vertebral como um todo (MOORE et al., 2014). 2.4.3 Alterações degenerativas Devido à importância de compreender os efeitos da sobrecarga no Policial Militar, é importante que o pesquisador tenha em seu conhecimento as patologias que não possuem uma origem direta nessa situação. Nessa linha, existem patologias que são provocadas pela má formação, ou pelo desgaste natural da coluna vertebral. Para entender essas patologias, deve-se primeiro estudar a formação natural da coluna vertebral, e suas curvaturas originárias: A coluna vertebral em adultos tem quatro curvaturas que ocorrem nas regiões cervical, torácica, lombar e sacral. As cifoses torácica e sacral são côncavas anteriormente, enquanto as lordoses cervical e lombar são côncavas posteriormente. Quando se observa a face posterior do tronco, principalmente em vista lateral, as curvaturas normais da coluna vertebral são mais aparentes (MOORE et al., 2014). Ainda que essas curvaturas sejam naturais, algumas atividades podem influenciar na deformação exagerada dessas características, nas quais características da fisiologia podem influenciar nessa deformação, tais quais gravidez nas mulheres e gordura abdominal aumentada nos homens podem ocasionar essas mudanças. Aqui é possível aferir que a sobrecarga de equipamento pode surtir o mesmo tipo de efeito. Assim, a curvatura forado normal pode gerar efeitos clínicos como hiperlordose ou o “dorso curvo”. Além disso, existe a possibilidade da coluna possuir uma deformação em formato de “S” quando os ossos da coluna vertebral sofrem uma deformação de curvatura lateral, esse efeito é nomeado de escoliose. 32 Figura 7 – Cifose, escoliose e lordose, respectivamente. Fonte: Pardubsky (2014). 2.4.4 Lombalgia e cervicalgia Ainda sobre as alterações na curvatura da coluna vertebral, a lombalgia é a dor ocasionada por inflamação na lombar, ou a ciatalgia, que é “a dor provocada a partir da inflamação de raízes nervosas da coluna lombar e que é irradiada aos membros inferiores.” Esses dois fenômenos são frequentemente causadas por efeitos mecânicos derivados de estilo de vida, seja ele o esforço exagerado (crônico ou agudo), ou a manutenção da postura adequada, e até mesmo o sedentarismo. Eles também podem ser causados pela por efeitos traumáticos como acidentes. Todos eles efeitos aos quais os policiais militares estão frequentemente expostos. Existe também a possibilidade da hérnia de disco: “A hérnia (protrusão) do núcleo pulposo gelatinoso para o interior ou através do anel fibroso é uma causa bem reconhecida de lombalgia e de dor no membro inferior” (MOORE et al., 2014). No entanto, há muitas outras causas de lombalgia; além disso, as hérnias costumam ser achados casuais em indivíduos assintomáticos. Finalmente, o corpo se acomoda para suportar essas pressões: Como o peso que sustentam aumenta em direção à extremidade inferior da coluna vertebral, as vértebras lombares têm corpos grandes, sendo responsáveis pela maior parte da espessura da região inferior do tronco no plano mediano. Seus processos articulares estendem-se verticalmente, com as faces articulares orientadas sagitalmente no início (começando abruptamente nas articulações de TXII com LI), mas passando a uma orientação mais coronal à medida que a coluna desce (MOORE et al., 2014). 33 2.4.5 Problemas na coluna vertebral e a PMESP É nítido que a exposição dos policiais militares aos mais diversos efeitos e prejuízos da coluna é constante, e, por esse motivo, a PMESP vem sofrendo bastante com o efetivo se ausentando do serviço por problemas advindos de lesões na coluna vertebral. Observa-se que artigos científicos vem discutindo a relevância desses problemas ortopédicos entre os policiais militares, a exemplo disso, tem-se o escrito por Santos et al. (2016): Um estudo realizado no Comando de Policiamento do Interior do Estado de São Paulo, que analisou as doenças que acometeram os policiais de janeiro a dezembro de 2014, concluiu que as doenças ortopédicas foram as que obtiveram maior prevalência. Sobre esse sistema, Pardubsky (2014) investigou e relatou a alta quantidade de policiais militares com afastamentos devido a problemas de coluna. Seus dados obtidos do Setor de Ortopedia do Hospital da Policia Militar revelam a grande quantidade de licenças médicas relacionadas à coluna. Na maior parte dos casos, as restrições de serviço estão ligadas a dores, nas regiões do pescoço e dorso e a transtornos ligados aos discos lombares e outros discos intervertebrais. No quadro abaixo, é possível visualizar uma estatística das restrições e licenças médicas concedidas em 2013 na PMESP; o Código Internacional de Doenças (CID) encontra-se logo a seguir. Quadro 1 – Relação de atendimentos da Junta de Saúde com parecer Licença, por CID ano 2013 RELAÇÃO DE ATENDIMENTOS DA JUNTA DE SAÚDE COM PARECER LICENÇA, POR CID ANO 2013 M51 354 M53.2 10 M54 403 M51.0 52 M53.3 0 M54.2 6 M51.1 201 M53.8 0 M54.3 0 M51.2 20 M53.9 0 M54.8 0 M51.3 11 10 M54.9 0 M51.4 1 409 M51.8 1 M51.9 20 660 Fonte: Pardubsky (2014). 34 Quadro 2 – Relação de atendimentos da Junta de Saúde com parecer Restrição, por CID ano 2013 RELAÇÃO DE ATENDIMENTOS DA JUNTA DE SAÚDE COM PARECER RESTRIÇÃO, POR CID ANO 2013 M51 513 M53.2 5 M54 1274 M51.0 57 M53.3 0 M54.2 26 M51.1 269 M53.8 0 M54.3 1 M51.2 42 M53.9 0 M54.8 0 M51.3 9 5 M54.9 0 M51.4 4 1301 M51.8 4 M51.9 33 931 Fonte: Pardubsky (2014). Legenda da CID: M51 Outros transtornos de discos intervertebrais M51.0 Transtornos de discos lombares e de outros discos intervertebrais com mielopatia M51.1 Transtornos de discos lombares e de outros discos intervertebrais com radiculopatia M51.2 Outros deslocamentos discais intervertebrais especificados M51.3 Outra degeneração especificada de disco intervertebral M51.4 Nódulos de Schmorl M51.8 Outros transtornos especificados de discos intervertebrais M51.9 Transtorno não especificado de disco intervertebral M53 Outras dorsopatias não classificadas em outra parte M53.0 Síndrome cervicocraniana M53.1 Síndrome cervicobraquial M53.2 Instabilidades da coluna vertebral M53.3 Transtornos sacroccígeos não classificados em outra parte M53.8 Outras dorsopatias especificadas M53.9 Dorsopatia não especificada M54 Dorsalgia M54.0 Paniculite atingindo regiões do pescoço e do dorso M54.1 Radiculopatia M54.2 Cervicalgia M54.3 Ciática M54.4 Lumbago com ciática M54.5 Dor lombar baixa 35 M54.6 Dor na coluna torácica M54.8 Outra dorsalgia M54.9 Dorsalgia não especificada 2.4.6 Reabilitação Lima e Santos, de 2019, apresentam as qualidades da fisioterapia na reabilitação dos policiais militares: A fisioterapia é uma importante modalidade para a reabilitação desses PM‟s, pois a prática da fisioterapia deve sempre avaliar, examinar e testar indivíduos com algum comprometimento fisiológico, mecânico que cause limitação das atividades e restrições, sendo assim, a fisioterapia dispõe de várias técnicas e métodos que são capazes de determinar um diagnóstico, prognostico e traçar um plano de tratamento e promover o alívio dos sintomas, restaurar a integridade tissular e possibilitar o retorno desses profissionais as suas atividades mais rapidamente. Sabendo da dificuldade na reabilitação dos policiais militares com doenças ortopédicas, o pesquisador deve questionar quais métodos podem ser utilizados para prevenir essas doenças, e uma das respostas para tanto está na ergonomia. 2.4.7 Ergonomia Para definir a ergonomia, tem-se o trabalho de Dul e Weerdmeester (2017), intitulado Ergonomia Prática que a descreve como: “Resumidamente, pode-se dizer que a ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de maquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho”. Em suma, a ergonomia projeta os materiais de maneira ideal, melhorando as condições e, no que é foco desse trabalho, a saúde de seus usuários. Se a ergonomia é uma ciência que investiga a melhora das condições de trabalho, é de se esperar que entre suas atribuições se inclua uma maneira de solucionar os problemas de sobrecarga na coluna vertebral dos Policiais Militares. Se a sobrecarga e os problemas ortopédicos dela decorrentes afastam uma grande quantidade de policiais militares do serviço, o desenvolvimento da ergonomia e a 36 melhor adequação dos instrumentos de trabalho não só trarão resultados na qualidade de vida do militares, mas também na produtividade da PMESP, por diminuir o absenteísmo decorrente dos problemas ortopédicos. Por esses motivos, a ergonomia passou a ser uma preocupação constante nas empresas, desenvolvendo cada vez mais soluções para os equipamentos dos funcionários e na Polícia Militar isso não poderia ser diferente. Vários trabalhos vêm pesquisando a melhora da qualidade dos EPI para os policiais militares. Esses EPI são específicos de cada trabalho, sendo necessários para garantir a integridade físicados funcionários, eles são mais conhecidos entre os operários de construtoras ou fábricas, incluindo equipamentos de proteção visual (óculos de proteção), ou capacetes e luvas. No caso da Polícia Militar, os EPI são bem diferentes desses, pois eles focam na proteção específica do ambiente de trabalho policial, aqui os dois mais importantes são o cinturão de equipamentos e o colete de proteção balística, ambos serão trabalhados mais especificamente. Nessa linha, para que a ergonomia dos equipamentos se mantenha correta, Pardubsky (2014) destaca a necessidade de mecanismos e dispositivos de ajuste, para que todos os equipamentos estejam perfeitamente ajustados ao corpo. Isso é extremamente importante, principalmente quando a nossa preocupação é com a qualidade de vida, pois as qualidades da ergonomia não surtirão efeito caso os equipamentos não estejam perfeitamente ajustados. 2.4.7.1 Design ergonômico Se existe a necessidade de distribuir adequadamente o peso dos Equipamentos de Proteção Individual junto ao corpo, bem como o seu correto ajuste para que sua utilização seja correta, fica claro que o design adequado dos materiais é essencial para cumprir com essa função. Assim, já tendo clara a importância da Ergonomia no desenvolvimento das atividades e na preservação da saúde do policial militar, pode-se atentar para os detalhes sobre como ela se desenvolve. Pardubsky (2014) fala sobre como a ergonomia apresenta duas formas básicas de funcionamento, a Ergonomia de Correção e a Ergonomia de Concepção. No primeiro caso, a ergonomia funciona apontando correções necessárias no meio de trabalho, como o próprio nome diz, corrigindo de acordo com as necessidades do 37 trabalhador. No segundo caso, a pesquisa intensa sobre os meios, equipamentos e necessidades, aponta a maneira como o trabalho deve ser desenvolvido, bem como seus equipamentos. Agindo dessa forma, a ergonomia pode prever os problemas que serão encontrados durante a execução do trabalho, e dimensionar de que forma os novos produtos, métodos ou processos podem ser feitos para melhorar, tanto a produtividade como o bem estar dos funcionários. Em se falando de design ergonômico e, principalmente sua aplicação na Polícia Militar, deve-se dar destaque ao trabalho de Vasconcelos e Porto (2008), pois, os autores, utilizando-se em grande parte do trabalho de Reis (2006) apresentam a essência dos princípios da ergonomia aplicada. Assim, deve-se destacar que o desenvolvimento do design ergonômico é, em grande parte, o desenvolvimento tecnológico dos materiais utilizados, assim sendo, quanto mais existe a necessidade de buscar a proteção e a segurança dos trabalhadores, maiores são os investimentos e fazer dessa segurança um processo confortável e que ela própria não traga prejuízo para a saúde dos Policiais Militares. Para explicar o design ergonômico, Paschoarelli e Silva (2006) dizem: “... sendo a aplicação do conhecimento ergonômico no projeto de dispositivos tecnológicos, com o objetivo de alcançar produtos e sistemas seguros, confortáveis, eficientes, efetivos e aceitáveis. Dessa forma, pode-se afirmar que no desenvolvimento tecnológico do século XXI, a atenção das empresas em desenvolver produtos que tenham uma preocupação com todos esses elementos e que ofereça proteção para os seus funcionários é a tendência das ultimas décadas. Vasconcelos e Porto (2008) também afirmam que o design ergonômico deve se fundamentar na pesquisa cientifica multidisciplinar, de forma que apontando os reais problemas ergonômicos encarados pelos usuários sejam combatidos de forma a melhorar a qualidade de vida. Com isso em mente, os autores desenvolvem uma proposta de análise ergonômica com produtos já existentes. Como o trabalho deles discute o desenvolvimento do colete de proteção balística, ou colete a prova de balas, o assunto trabalhado é de grande relevância para esse atual trabalho, que faz a investigação quanto a esse mesmo material, bem como o cinturão de uso policial. 38 2.5 COLETE À PROVA DE BALAS O colete de proteção balística é um equipamento destinado a oferecer proteção ao tronco do policial, quanto a ameaças de impacto de projeteis de armas de fogo. Além da definição técnica (colete de proteção balística nível III-A) é, também, conhecido pelas designações de “colete à prova de balas”, “colete de proteção” ou “colete de proteção à prova de balas”, geralmente seguido da referência ao nível de proteção. Nesta obra, já foi discutindo anteriormente a importância do desenvolvimento dos equipamentos de defesa do homem, tendo sua utilização nas mais diversas missões. Sendo o resultado da evolução com foco a defesa contra as armas de fogo, forças de segurança, tanto pública quanto nacional, desenvolveram diversos designs e modos de utilizar esses coletes. Esses equipamentos devem ser analisados especificamente por sua função na proteção individual das tropas. Figura 8 – Colete utilizado pela PMESP. Fonte: Autoria própria. 39 Na Fig. 8, observa-se o principal modelo de colete utilizado pela tropa da PMESP, descritos nas Especificações Técnicas nº CSMAM-002/17, de março de 2017, sendo de uso operacional, com abertura lateral e classificado no nível de proteção balística III-A, com normatização de aprovação exigida pelo Ministério da Defesa – Exército Brasileiro, por meio do Centro de Avaliações do Exército ((CAEx) Campo de Provas de Marambaia – Rio de Janeiro), abrangendo todos os níveis de ameaças inferiores ao ora requisitado e estabelecido na norma. Deverá possuir ainda, capa confeccionada em material de qualidade, oferecendo adequado ajuste ao corpo, para utilização ostensiva, de forma a não comprometer nenhuma área de proteção, otimizando a relação existente entre resistência e comodidade de uso, com liberdade para movimentos. Os painéis de proteção balística deverão apresentar materiais balísticos especiais, classificados no nível de proteção III-A, sendo um dorsal e outro frontal. Estes painéis podem ser confeccionados em materiais diversos, à escolha do fabricante, tais como fibras de aramida ou de polietileno, nas construções, trama e urdume, multiaxial ou unidirecional, em suas diversas versões e gramaturas, ou pela combinação de materiais desde que todos os materiais utilizados nas combinações mantenham os mesmos padrões de qualidade e vida útil, sendo compulsório o acondicionamento destes painéis em invólucro termoselado com a capacidade de repelir líquidos Vasconcelos e Porto (2008) explicam a composição do colete à prova de balas: Basicamente, um colete à prova de balas é constituído uma capa externa feita de duas camadas de tecido comum, como o terbrim, que acondicionam os dois painéis balísticos, um frontal e outro dorsal, estes constituídos de diversas camadas de tecido balístico, que são revestidos por uma capa. 40 Figura 9 – Partes componentes do colete balístico. Fonte: Vasconcelos e Porto (2009). Assim, o colete pode ser observado como composto de duas partes essenciais, um painel balístico composto de camadas sobrepostas de um tecido resistente de forma a impedir a passagem de projéteis de armas de fogo (idem), e uma capa que abriga esses painéis. Vasconcelos e Porto (2009) também explicam que os painéis de proteção são feitos industrialmente e são cortados por máquinas de costura industriais conforme moldes definidos. Tendo suas extremidades costuradas de maneira a permanecerem sobrepostos, e envelopados por duas camadas de tecido não removível, esse tecido (geralmente náilon) protege o painel principalmente da umidade, tanto da chuva como o suor do corpo. 41 Figura 10 – Camadas de material balístico sobrepostas sendo cortadas com máquina de costura industrial. Fonte: Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) apud Vasconcelos e Porto (2009). Figura 11 – Detalhesdo tecido balístico em camadas sobrepostas, formando o painel. Fonte: Vasconcelos e Porto (2009). Os autores indicam que seguindo a norma internacional da National Institute of Justice (NIJ), o painel balístico deve oferecer uma etiqueta com informações da seguinte forma: De forma legível e indelével, em cor contrastante com o nome, logotipo ou outra identificação do fabricante; uso: Masculino ou Feminino; modelo; tamanho PP, M, G ou GG; nível de proteção e certificado de conformidade com a Norma NIJ Standard 0101.04; número de série; data de fabricação; data de validade da proteção balística; munições que suporta (calibre, velocidade, peso e características do projétil); instruções de uso e conservação dos painéis balísticos. 42 Em contrapartida com os painéis balísticos que possuem uma grande quantidade de regras de aplicação, corte e identificação, as capas tanto a frontal como a dorsal não possuem a mesma normatização. Elas são geralmente confeccionadas em um tecido resistente, que pode ser um misto de algodão e poliéster, conforme citado por Vasconcelos e Porto (2008), geralmente fechadas em forma de um envelope por velcros, e conectadas por tiras do mesmo tecido também por velcros. No caso dos coletes da PMESP, na capa frontal estão os encaixes para os velcros da parte dorsal, de maneira a garantir a integridade do colete, além de um velcro para o posicionamento de uma tarjeta de identificação do Policial Militar, e o logo da PMESP. Figura 12 – Capa externa frontal. Fonte: Autoria própria. 43 Figura 13 – Capa externa dorsal. Fonte: Autoria própria. Figura 14 – Capa externa do painel balístico frontal e detalhe da etiqueta. Fonte: Vasconcelos e Porto (2009). 44 Figura 15 – Capa externa do painel balístico dorsal. Fonte: Vasconcelos e Porto (2009). 2.5.1 Norma da National Institute of Justice De maneira a garantir que o equipamento de segurança cumpra com a sua função, e que sua produção não seja feita em detrimento a segurança nacional, o colete a prova de balas é um produto controlado pelo Ministério da Defesa – Exército Brasileiro, fato que foi regulamentado através da Portaria nº 18, de 19 de dezembro de 2006 (Anexo A). Sendo assim todas as normas quanto à avaliação técnica, fabricação, aquisição, importação e o descarte do produto são regulamentados por ela. Dessa forma, a norma considera “a prova de balas” qualquer peça de vestimenta que faça uso de material balístico e que ofereça proteção contra o disparo de projéteis. Assim, independente do material utilizado, ele deve atender a norma dos Estados Unidos da América, a NIJ, que estabelece exigências mínimas de desempenho dos coletes para proteção do tronco. A NIJ 0101.04 é o que regula os procedimentos técnicos relativos ao colete. Entre as normatizações, destaca-se a classificação dos coletes em sete níveis de desempenho balístico, sendo relativos ao tipo de projétil de arma de fogo máximo que o colete consegue proteger. Essa classificação é nomeada em ordem progressiva de resistência, combinando um numeral (geralmente românico), progressivo do tipo I até o tipo IV, por vezes combinado com a letra “A”, que determina a redução em relação ao nível citado, de tal forma que o nível IIA oferece uma proteção inferior ao nível II. Assim os tipos são: Tipo I, Tipo IIA, Tipo II, Tipo IIIA, Tipo III, Tipo IV e Especial. 45 Ainda é importante destacar que os níveis de proteção são progressivos, de maneira que, sempre o nível superior oferece proteção os tipos inferiores, de forma que o Tipo II oferece resistência aos mesmos projéteis do Tipo IIA e do Tipo I, e ainda aos do Tipo II. Além disso, segundo essa norma, ainda existe o grau de restrição quanto ao uso desse colete, de forma que existem coletes de uso permitido, e de uso restrito. Vale destacar que os efeitos do projétil de arma de fogo são relativos a penetração do mesmo no corpo, de forma que, além de oferecer resistência e impedir o projétil de transfixar o colete, é essencial que exista uma limitação quanto ao tanto que o projétil pode deformar a placa de proteção balística, para evitar que o projétil perfure o corpo junto com a placa de proteção, ainda provocando danos. Dessa forma, a norma limita a deformação ao máximo de 44mm, o que é possível tecnicamente devido a maneira como as fibras do tecido balístico absorvem e dissipam a velocidade do projétil. Isso posto, o colete ajuda a impedir a penetração e o impacto do projétil, neutralizando ou minimizando o trauma no corpo do usuário. 2.6 O CINTURÃO TÁTICO Atualmente a polícia passa por mudanças na forma dos equipamentos. A crescente necessidade de conciliar a proteção pessoal com a facilidade de acesso aos múltiplos materiais necessários para o serviço policial militar no dia a dia requer soluções para responder a ambos os problemas. Na PMESP, os policiais são equipados com um colete a prova de balas que fornece a proteção necessária para o serviço, conjugado com um Cinturão Tático, que é basicamente um sinto onde são dispostos os diversos equipamentos necessários para o serviço policial. Esse cinturão geralmente é equipado com os itens básicos, sendo de fácil acesso a todos os momentos para o policial, isso geralmente inclui uma série de bolsos e coldres para transportar: arma de fogo, carregadores, rádio, algemas, uma arma de incapacitação neuromuscular ou um espargidor de gás e lanterna. Conforme descrito por Pardubsky (2018): É de suma importância ressaltar que o colete tático trata-se de uma conjugação, em nossa realidade interna corporis, do colete balístico já existente, com o EPI completo do policial militar, que é composto por um 46 cinturão feito de couro ou de náilon, com os compartimentos para a colocação do armamento, dos carregadores, lanternas, espargidor de gás pimenta e diversos outros necessários ao cumprimento diuturno de preservação da ordem pública. Porém alguns itens menos usuais geralmente são movidos para as mochilas, como os talões de notificações, luvas ou blocos de anotações e pranchetas. Todos esses materiais têm o acesso limitado ao policial militar, que fica restrito a ter em seu acesso apenas o essencial. Figura 16 – Disposição dos equipamentos usados por um PM no cinturão. Fonte:http://sobrevivenciapolicial.blogspot.com/2011/10/operacoes-policiais-em- baixa.html Para LIMA e SANTOS (2019), profissionais policiais militares, durante sua carreira, devem manter o condicionamento físico elevado. A ocorrência de lesões relacionadas a pratica de atividade física e considerada como problema de saúde pública em países desenvolvidos. É comum ao policial, em sua rotina de trabalho, carregar consigo pistola de um quilo, mais um fuzil de pouco mais de 5kg a 7kg, dois carregadores de um quilo, em média, cada um, acrescentando, ao seu corpo, um colete de aproximadamente 3kg a 5kg, totalizando uma carga adicional de aproximadamente 15kg. O maior problema com o cinto tático é a má distribuição de peso pelo corpo do policial. O cinturão tático causa grande prejuízo à coluna do policial, por distribuir todo o peso dos equipamentos apenas na cintura do usuário, causando lesões ortopédicas a médio e longo prazo. http://sobrevivenciapolicial.blogspot.com/2011/10/operacoes-policiais-em-baixa.html http://sobrevivenciapolicial.blogspot.com/2011/10/operacoes-policiais-em-baixa.html 47 2.7 O COLETE TÁTICO Em substituição ao cinturão e ao colete balístico, uma solução mais recente que vem sido desenvolvida é uma espécie de combinação dos dois, o colete tático. No colete tático, a distribuição dos equipamentos acontece por meio dos mesmos tipos de bolsos utilizados no cinturão, mas dispersos através da capa do colete balístico. Isso trás resultados proveitosos em vários aspectos, em primeiro lugar, por garantir o fácil
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