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OS PERCALÇOS DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS PARA TRANSPLANTES NO BRASIL FRENTE AOS CONFLITOS ÉTICOS E MORAIS • Transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na substituição de um órgão ou tecido ineficiente em uma pessoa doente, por outro órgão ou tecido de um corpo em estado normal, seja de um doador vivo ou mesmo proveniente de um potencial doador (PD) diagnosticado com morte encefálica (ME). • Entre 2007 e 2016, o número de órgãos doados e de doadores na população brasileira aumentou (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). Porém... MUITAS PESSOAS AINDA MORREM NA FILA DE TRANSPLANTES. • Transplantes mais comuns: rim, fígado, pâncreas, coração, pulmão e intestino. Além dos órgãos, tecidos como córnea, pele e ossos também podem ser doados. QUEM PODE DOAR ÓRGÃOS? - Doador falecido – qualquer pessoa com morte encefálica diagnosticada. - Doador vivo – qualquer pessoa em saúde perfeita, entre 18 e 50 anos. • A doação de órgãos acontece somente mediante a autorização da família. • Dados do Ministério da Saúde mostram que no Brasil, atualmente, há cerca de 40 mil pessoas na fila de espera para doação de órgãos. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a taxa de recusa de doação de órgãos por parentes é de 43%, e a média mundial em torno de 25%. O Ministério da Saúde busca por meio de campanhas educativas a mudança dessa mentalidade, mas é um processo delicado que envolve a desinformação e a perda de uma pessoa querida. • No Brasil, o número de doadores vem crescendo. No primeiro semestre de 2017 aumentou quase 12%. O país passou de mais de 14 doadores para cada 1 milhão de pessoas, para mais de 16 por milhão de habitantes. DIFICULDADES PARA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS • Falta de informação • Preconceito • Falta de preparo de alguns profissionais da saúde • Crenças religiosas • Contraindicação médica QUESTÕES ÉTICAS E MORAIS NO TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS • Enfermeiros ou médicos são os responsáveis pela captação de órgãos para transplante e, diante disso, enfrentam conflitos de caráter ético e moral na sua atuação. • O processo de doação de órgãos está permeado por questões que envolvem a moral humana. Os relatos dos profissionais da saúde apontam para um processo de trabalho difícil e marcado por diversos conflitos, relacionados ao: significado da morte, significado da doação de órgãos, por estar com a família do doador, por cuidar do doador e por críticas ao processo de doação. • A ideia de morte perpassa alguns valores espirituais e filosóficos de cada pessoa atuam como elementos de amparo e conforto para possíveis angústias que a morte possa trazer. Assim, a espiritualidade pode auxiliar a pessoa a formular uma explicação racional à morte, pensá-la como uma passagem para outra vida ou renascimento. • Os profissionais da saúde, principalmente os enfermeiros, afirmam ser favoráveis à doação, entretanto questionam se seriam doadores. Esse comportamento ambíguo remete ao processo de doação e sua validade; um de seus questiona - mentos inclui o desencarnar, ou seja, a passagem para o mundo espiritual e a principal dúvida é se o espírito realmente já deixou o corpo no momento da doação. Esse é um tema obscuro do ponto de vista científico e impregnado de diferentes concepções religiosas. A validade do transplante também é um aspecto que marca a dúvida dos entrevistados que verificam no dia a dia as dificuldades e insucessos dos transplantes de órgãos, do ponto de vista dos transplantados, mesmo sabendo que é uma segunda chance de vida. • A decisão em doar órgãos reflete os valores e crenças da pessoa; requer um maior conhecimento de si própria, uma maturidade emocional e uma postura ética individual. • Estar com a família do doador torna o processo estressante. o profissional encontra-se diante de um dilema: respeitar a dor da perda dos familiares ou solicitar a doação dos órgãos, pois considera que o pedido da doação, naquele momento, poderá ser agressivo ao familiar, gerando incertezas quanto à validade do processo de doação. • A bioética apresenta-se como um caminho que deve possibilitar desvelar os significados para uma ação consciente, visto que tem em seus fundamentos a reflexão dos valores, que se expressam no agir humano e, assim, propõe que os profissionais ressignifiquem conceitos e sentimentos ao vivenciarem a perda e o sofrimento humano. SUGESTÕES DE REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL • Série “Grey´s Anatomy” aborda em vários episódios os dilemas que envolvem o processo de doação de órgãos. • “Sob Pressão”, seriado global, em um de seus episódios aborda a doação de órgãos. Bete, a mãe de um rapaz que dá entrada no hospital após um acidente de moto em que não usava capacete. Ela não consegue lidar com a dor de perder um filho, e recusa o diagnóstico do Dr. Evandro. O profissional afirma que o rapaz teve morte cerebral. Com a esperança de uma reversão no quadro, Bete não dá ouvido aos médicos, que procuram convencê-la a doar os órgãos do filho. • Filme “Coração e Alma” (2016): Sinopse: Três jovens saem para pegar umas ondas e ver o nascer do sol. No caminho de volta, eles sofrem um grave acidente. Um deles, Simon, é internado em estado grave. Depois de um período, sua morte cerebral é declarada e sua família decide que irá doar seus órgãos. • Filme “Um ato de Coragem” (2001): John Q. Archibald é um homem comum, que trabalha em uma fábrica e vive feliz com sua esposa Denise e seu filho Michael. Até que Michael fica gravemente doente, necessitando com urgência de um transplante de coração para sobreviver. • Edgar Morin, antropólogo, cientista político e filósofo, em sua obra O homem e a morte afirma que “É impossível conhecer o homem sem lhe estudar a morte, porque, talvez mais do que na vida, é na morte que o homem se revela. É nas suas atitudes e crenças perante a morte que o homem exprime o que a vida tem de mais fundamental”. • Música: “Gostava tanto de você”, de Tim Maia, deixa claro o sofrimento, a saudade diante de uma grande perda. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Agentes: - Ministério da Saúde - Conselhos Regionais de Medicina - Profissionais da saúde - Associação Brasileira de Transplante de Órgãos - Família Ações: - Promover campanhas durante todo o ano - Capacitar profissionais da saúde - Esclarecer a família - Dar apoio e acolhimento às famílias de potenciais doadores Modo: Por meio de... Por intermédio de... Mediante a... Através de... - cursos à distância ou presenciais. - vídeos e cartilhas esclarecedoras. - diálogo entre os profissionais da saúde e as famílias - mídias sociais e televisivas Efeito: A fim de... Para que... Para... Com o intuito de... Visando a... - atuar sobre as principais causas que impedem a doação de órgãos - promover a aceitação da família - as famílias de potenciais doadores compreendam que a doação permitirá que outra pessoa viva. - maior incidência de doação de órgãos. - os profissionais da saúde ajam com ética diante da situação delicada. Detalhamento PROPOSTA DE REDAÇÃO Texto 1 Falta de conhecimento sobre irreversibilidade da morte encefálica é principal causa de recusa de doação de órgãos Não é a falta de estrutura, mas a negativa familiar o principal motivo para que um órgão não seja doado no Brasil. De todas as mortes encefálicas e que, portanto, os órgãos poderiam ser transferidos para pacientes que correm risco de morte, pouco mais da metade se transforma em doação. O número é alto e cresceu de 41%, em 2012, para 47% em 2013, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). De acordo com o nefrologista José Medina Pestana, a principal justificativa das famílias para não doar órgãos é o fato de nunca terem conversado sobre o desejo de doar. “Por isso, insistimos que isso temque ser assunto de família”, diz o integrante da ABTO. Quando isso não é um assunto resolvido, cabe a uma equipe do hospital responsável pela captação de órgãos explicar à família que a morte encefálica já é a morte. Quando ela é decretada é porque ocorreu a parada definitiva e irreversível do cérebro e do tronco cerebral, o que provoca em poucos minutos a falência de todo o organismo. No Hospital São Paulo, coube a uma integrante desta equipe conversar com a professora de língua portuguesa Gizele Caparroz de Almeida, 50 anos. Na festa de Ano Novo, seu marido, Varlei de Andrade, sentiu uma forte dor de cabeça. Era mais uma vítima de um AVC hemorrágico. Na segunda-feira do dia 6 de janeiro deste ano, menos de uma semana após o AVC, Varlei morreu. “A gente não sabia o que era morte cerebral. A gente nunca tinha falado sobre doação de órgãos. Se tem um mito em família é o mito da morte. Ninguém está preparado para isto. Eu não estava”, lembra Gizele. “A enfermeira Tamires fez muito mais que uma captação de órgãos. Foi um apoio psicológico para todos nós. Explicou o que estava acontecendo, o que era morte cerebral, respondeu nossas perguntas. É uma situação irreversível, mas não sabíamos disso e ainda tínhamos esperança que ele se recuperasse de uma espécie de coma. Principalmente minha filha mais nova ainda tinha muitas esperanças de que o pai sobrevivesse", lembra Gizele. Após a conversa - em que participaram Gizele, as duas filhas (de 14 e 20 anos), o sogro e a cunhada - o fígado, os rins e a pele de Varlei foram doados. A família não pode doar o coração, pois os remédios durante a internação de cinco dias comprometeu a doação do órgão. “A doação é uma forma de transformar a dor em algo bom. As pessoas podem fazer algo bom de uma situação de extrema tristeza como esta que estou vivendo. Eu sei que é uma visão romântica, mas a doação ajuda a pensar que ele continua”, diz Gizele. “Estávamos casados há 25 anos, no ano passado fomos viajar, trocamos aliança. É uma dor imensa. A morte foi de uma hora para outra. A gente tem – e eu não vou falar tinha – uma família linda. Mas não tem ruptura quando se tem amor”, completa. No início de março, Gizele voltou a dar aula. “Acho que é melhor não parar, né?”. Na primeira semana de aula os alunos fizeram um projeto sobre o acidente de Santa Maria, onde mais de 200 pessoas morreram. “Os meus alunos escreveram crônicas lindas sobre o que aconteceu e um dos temas abordados foi a necessidade de muitos receberem doação de pele. Não tinha banco suficiente no Brasil”, lembra. Disponível em: http://www.abto.org.br/abtov03/default.aspx?mn=&c=1063&s= Texto 2 Brasil tem aumento no número de doação de órgãos e projeta recorde de transplantes Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, país teve crescimento de 7% no número de doações no primeiro semestre de 2018. O Brasil registrou um aumento de 7% nas doações de órgãos no primeiro semestre de 2018, informou o Ministério da Saúde. O número de doações subiu de 1.653 para 1.765 em comparação com o mesmo período do ano passado. Por conta destes números o ministério projetou um recorde no número de transplantes realizados no Brasil. A expectativa é sejam feitos 26.400 transplantes no país em 2018. http://www.abto.org.br/abtov03/default.aspx?mn=&c=1063&s= Desse total, 8.690 serão do que o ministério classifica como órgãos sólidos (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim e pâncreas rim). Se a meta for atingida, será um recorde em comparação aos últimos oito anos. O ministério espera alcançar recorde nos transplantes de fígado (2.222), pulmão (130) e coração (382) até o final de 2018. Os transplantes de medula óssea também podem alcançar seu maior número na série histórica (2.684). A mesma projeção aponta uma diminuição dos transplantes de córnea. Mas segundo o ministério é um reflexo da redução da lista de espera em alguns estados. Amazonas, Ceará, Goiás, Pernambuco e Paraná são considerados na situação de lista zerada. Fila de espera Atualmente, o Brasil tem 41.266 pacientes aguardando por um transplante. Segundo os dados do ministério, o número é menor que em 2017, quando havia 44 mil pacientes na espera. A coordenadora de Transplantes, Daniela Salomão, falou em nota sobre os números divulgados: "Com o esforço coletivo será possível atender cada vez mais brasileiros e fazer mais transplantes". Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2018/09/28/brasil-tem-aumento-no-numero-de- doacao-de-orgaos-e-projeta-recorde-de-transplantes.ghtml Texto 3 Código de Ética Médica Capítulo VI DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS É vedado ao médico: Art. 43. Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador, quando pertencente à equipe de transplante. Art. 44. Deixar de esclarecer o doador, o receptor ou seus representantes legais sobre os riscos decorrentes de exames, intervenções cirúrgicas e outros procedimentos nos casos de transplantes de órgãos. Art. 45. Retirar órgão de doador vivo quando este for juridicamente incapaz, mesmo se houver autorização de seu representante legal, exceto nos casos permitidos e regulamentados em lei. Art. 46. Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou de tecidos humanos. Texto 4 https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2018/09/28/brasil-tem-aumento-no-numero-de-doacao-de-orgaos-e-projeta-recorde-de-transplantes.ghtml https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2018/09/28/brasil-tem-aumento-no-numero-de-doacao-de-orgaos-e-projeta-recorde-de-transplantes.ghtml
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