Buscar

A atipicidade dos meios executivos no Código de Processo Civil Brasileiro de 2015

Prévia do material em texto

A atipicidade dos meios executivos no Código de Processo Civil Brasileiro de
2015
Bruna Saraiva da Rocha1
Em um breve relato introdutório é apresentado a antiga situação do ordenamento
jurídico brasileiro e suas consequências juntamente com a atual realidade da atividade
jurisdicional após CPC/2015 - Lei nº 13.105/2015. Era necessário encontrar uma forma de
deixar as “portas do Judiciário” mais acessíveis, sendo igualitária e socialmente justa, de
maneira eficaz, menos onerosa e mais rápida. Isso devido ao fato do Poder Judiciário estar
sofrendo de uma crise de intermináveis processos com execuções demoradas ou ineficazes.
Sendo os meios executivos atípicos - utilizados para qualquer execução, sem importar a
natureza da prestação devida- a contribuição para a evolução necessária do ordenamento
jurídico.
Devido ao fato do ordenamento jurídico brasileiro ter sido construído sob ideias
liberais, o Código de Processo Civil brasileiro de 1973 (CPC/1973) não poderia ser diferente.
A tipicidade dos meios executivos, nesse momento, controlava e delimita a interferência do
Estado-juiz na esfera jurídica dos particulares. O magistrado estava restrito a seguir
exatamente as medidas previstas no CPC/1973, sem qualquer liberdade para escolher outra
que seria mais eficaz e rápida.
Todas as reformas processuais que aconteceram depois da Constituição Federal de
1988 deram cada vez mais espaço e liberdade para a introdução de meios executivos
atípicos. Em 1994, a atipicidade dos meios executivos passou a ser utilizada quando a
natureza da prestação era a obrigação de fazer ou não fazer. À vista disso, alguns
doutrinadores já comentavam sobre a aplicação da atipicidade dos meios executivos. [...] não
há nenhuma razão para se dispensar um tratamento privilegiado , contudo pelo princípio da2
isonomia garantido pela Constituição Federal esse “tratamento privilegiado” deveria ser
estendido para todas as tutelas executivas independente da natureza do crédito a ser satisfeito.
Em 2002, a aplicação de meios atípicos foi ampliado até às obrigações de entregar coisa, com
isso o custo do processo e a constante lentidão da satisfação do direito exequendo seriam
2 Guerra (2003, página 152)
1 Bacharela em Direito pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
1
reduzidos . Infelizmente, mesmo depois de tantas melhorias, sob a vigência do CPC/1973,3
ainda não era possível aplicar corretamente a atipicidade dos meios executivos devido a sua,
ainda existente, generalização.
Entretanto, esse esforço na procura por um sistema que resolvesse todas as
necessidades das situações carentes de tutela não era apenas no Brasil, era uma busca
mundial. Vários ordenamentos processuais foram reformados para que a execução civil fosse
eficaz. Na França, foi criado um sistema específico para obrigações de fazer e não fazer, mas
seu alcance tornou-se geral abrangendo obrigações de qualquer natureza. Os Estados Unidos
da América, a persistente ineficiência dos meios executivos considerados ordinários de tutela
at law provocou a criação de um novo sistema que conseguia abranger a proteção dos outros
direitos que já existiam e os que ainda estariam por surgir, denominado Equity.
Com a criação de novos sistemas e leis, acarretou certas dúvidas e indagações sobre
as sobre o magistrado e a liberdade sobre o princípio da atipicidade dos meios executivos. O
magistrado tinha liberdade para determinar qualquer medida coercitiva, sub-rogatória,
mandamental ou indutiva necessária, obrigatoriamente motivada e fundamentada, para que
torna-se a situação justa, efetiva e feita em tempo razoável, independente da natureza da
situação. Não seria possível dar completa liberdade ampla e genérica, “uma carta branca”,
para que o magistrado elegesse o meio mais adequado à satisfação do direito do credor.
Mas, então, até que ponto iria sua liberdade? O ponto que limitaria as medidas seria
quando estas causasse prejuízo a direitos fundamentais daquele que for atingido por elas,
depois de esgotadas as medidas típicas e a observando o devido processo legal, sendo que o
magistrado deveria atuar com imparcialidade e razoabilidade. Assim, a medida iria invocar o
devedor causando a menor restrição possível a sua esfera jurídica.
As medidas atípicas representaram para o Brasil, e para todos os outros países que
realizaram mudanças processuais, um grande passo para atender de forma efetiva e adequada
os mais variados direitos carentes de tutela, independente da natureza da obrigação , tornando4
o processo mais rápido, eficiente e justo.
4 Oliveira Lima, 2016
3 Marinoni, 2004.
2

Continue navegando