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TCC - Princípio da razoável duração do processo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO 
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO 
DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 KAENE TAINÁ MARIA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO COMO 
GARANTIA FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DA MOROSIDADE 
PROCESSUAL A LUZ DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENGENHEIRO COELHO 
2020 
 KAENE TAINÁ MARIA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO COMO 
GARANTIA FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DA MOROSIDADE 
PROCESSUAL A LUZ DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro 
Universitário Adventista de São Paulo do 
curso de Direito, sob orientação do prof. Dr. 
Antônio Roberto Sanches Júnior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENGENHEIRO COELHO 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São 
Paulo, do curso de Direito apresentado e aprovado em 24 de novembro de 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antônio Roberto Sanches Júnior 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antonio José Iatarola 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta monografia aos meus pais, 
Benedito e Edina, por seu amor 
incondicional e que em momento algum, 
deixaram de orar por mim. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 A Deus, primeiramente, por seu infinito amor e misericórdia que tem por mim, 
que não deixou-me desistir, frente as circunstâncias indesejadas deste ano difícil; 
 Aos meus pais, meus verdadeiros amores, que sempre se esforçaram a 
conceder-me este privilégio que é estudar e nunca deixaram de orar por mim; 
 Ao Centro Universitário Adventista de São Paulo por me acolher e conceder a 
oportunidade de chegar até aqui; 
 Ao meu orientador, prof. Dr. Antônio Roberto Sanches Júnior, por me auxiliar 
a desenvolver um bom trabalho; 
 Ao professor Antonio José Iatarola, por aceitar o convite de compor a banca 
de apresentação da monografia, ficando aqui todo o meu respeito e gratidão por esse 
tempo de aprendizado; 
 Ao meu namorado, Jhony Wesley, pela paciência, amor e amparo durante todo 
esse ano; 
 Aos meus amigos, Caroline, Paloma, Jéssika e Elton Jhonn que se tornaram 
família nestes tempo de curso. Amo vocês!; 
 Aos demais colegas de graduação, com os quais dividi alegrias, tristezas e 
aprendizado dentro de sala de aula; 
 À todas as pessoas das quais me auxiliaram durante os períodos memoráveis 
de colortagem, que me ajudaram e acreditaram em mim; 
 Aos meus tios Luzia e Arildo, que me deram carinho e confiança, e me ajudaram 
a conseguir chegar aqui; 
 A todos aquele que de forma direta ou indireta compartilharam comigo deste 
sonho, e particiaram para que eu o alcancasse, a estes, o meu muito obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Mas justiça atrasada não é justiça, senão 
injustiça qualificada e manifesta”. 
 
 
Rui Barbosa 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como finalidade o estudo da morosidade processual no Brasil 
pela ótica do princípio da razoável duração do processo e os mecanismos inseridos 
pela Lei nº 13.105/2015. Para isso, o primeiro capítulo buscou entender a crise que 
assola o Poder Judiciário, como se conceitua a base dos princípios constitucionais e 
estudou a Emenda Constitucional 45/2004 que reformou o Poder Judiciário visto que, 
foi um grande passo a inserção de tal princípio como garantia fundamental em nosso 
ordenamento jurídico. O segundo capítulo analisou o conceito do princípio como uma 
garantia fundamental, bem como a responsabilidade civil do Estado pela ineficácia na 
aplicação de tal princípio. O terceiro capítulo, por conseguinte, analisou os 
mecanismos inseridos no Código de Processo Civil de 2015 (Lei nº 13.105/2015), 
como um meio de aplicação efetiva desta garantia fundamental e os impasses 
encontrados no caso concreto. Por fim, como conclusão lógica, entendeu-se que 
muito embora o Código de Processo Civil tenha auxiliado, a passos lentos, a melhora 
da celeridade processual, há ainda muito a ser feito pelo Estado para que a 
morosidade não seja impeditiva à busca da efetiva justiça, vez que, uma justiça lenta 
não é justiça. 
 
 
 
Palavras chave: Princípio; Razoável Duração do Processo; Poder Judiciário; 
morosidade; Emenda Constitucional nº 45/2004. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The purpose of this work is to study the procedural slowness in Brazil from the 
perspective of the principle of reasonable duration of the process and the mechanisms 
inserted by the Law No. 13,105 / 2015. To this end, the first chapter sought to 
understand the crisis that plagues the Judiciary Power, how to conceptualize the basis 
of constitutional principles and studied the Constitutional Amendment 45/2004 that 
reformed the Judiciary since it was a great step to insert such principle as fundamental 
guarantee in our legal system. The second chapter analyzed the concept of the 
principle as a fundamental guarantee, as well as the State's civil liability for the 
ineffectiveness in applying this principle. The third chapter, therefore, analyzed the 
mechanisms inserted in the Civil Procedure Code of 2015 (Law No. 13,105 / 2015), as 
a means of effective application of this fundamental guarantee and the impasses found 
in the specific case. Finally, as a logical conclusion, it was understood that although 
the Civil Procedure Code has helped, in slow steps, the improvement of procedural 
speed, there is still much to be done by the State so that the delay is not impeding the 
search for effective justice, since a slow justice is no justice at all. 
 
 
Keywords: Principle; Reasonable Duration of the Process; Judiciary Power; slowness; 
Constitutional Amendment nº 45/2004. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS OU TERMOS OPERACIONAIS 
 
 
CEDH – Corte Europeia de Direitos do Homem 
CF – Constituição Federal 
CIDH – Corte Interamericana De Direitos Humanos 
CNJ – Conselho Nacional de Justiça 
CPC – Código de Processo Civil 
EC – Emenda Constitucional 
PJe – Processo Judicial Eletrônico 
TEDH – Tribunal Europeu de Direitos Humanos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11 
2 A CRISE NO PODER JUDICIÁRIO ................................................................................ 14 
2.1 Jurisdição, processo e procedimento – a base da aplicação dos princípios 
constitucionais .................................................................................................................. 18 
2.2 Distinções entre eficiência, efetividade, eficácia ....................................................... 22 
2.3 A Emenda Constitucional nº 45/2004 e o direito comparado .................................... 24 
3 TEMPO E PROCESSO ................................................................................................... 29 
3.1 O princípio da razoável duração do processo como um direito fundamental ......... 32 
3.2 Responsabilidade civil do Estado pelas dilações indevidas .................................. 42 
4 A REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 – necessidade de um novo 
código ................................................................................................................................. 46 
4.2 Aplicação do princípio a razoável duração do processo no Código de Processo Civil 
de 2015 ............................................................................................................................... 47 
4.3 Impasses encontrados em sua aplicação ................................................................. 55 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................58 
6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 61 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O Direito Processual Civil foi marcado, aos longos dos anos, pela grande 
influência da Constituição Federal, que traz um rol de garantias fundamentais 
inerentes ao processo. O Estado, como ente soberano, assumiu o direito-dever de 
exercer a jurisdição, com intuito de resguardar os direitos fundamentais e assim 
estabelecer pacificação social. 
Nesta perspectiva, a chamada “globalização” do meio social, econômico e 
cultural têm moldado as circunstâncias da realidade brasileira, haja vista que as 
promessas e garantias instituídas pela Constituição não asseguram de maneira 
substancial, igualdade material entre os jurisdicionados. Assim a massificação de 
demandas ajuizadas se tornou um problema patente, o que obrigou ao Estado garantir 
aos seus jurisdicionados o devido cumprimento de tais garantias, mesmo com 
problemas como a falta estrutura, de servidores, dificuldades financeiras, entre outros. 
Nessa conjuntura, a Constituição instituiu o princípio da razoável duração do 
processo como garantia fundamental, não podendo a morosidade ser um empecilho 
na busca incessante pela real justiça. Assegurou também, não apenas uma celeridade 
exacerbada, mas que as demais garantias fossem almejadas no caso concreto como 
a ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e devido processo legal. 
Este princípio, muito embora estivesse assegurado na Carta Magna desde 
2004, apenas com o passar dos anos é que se tem se tornado mais evidente e efetivo. 
Desta forma, a presente temática se revela de grande relevância para os estudiosos, 
tendo em vista ser assunto recorrente constar em um cenário mundial, buscando 
assim compreender como a efetividade se expõe no meio processual. 
E para que houvesse uma maior compreensão deste objeto de estudo, foi 
necessário a consulta em doutrinas que buscam compreender e demonstrar os 
desafios encontrados na realidade social brasileira e enfatizam quanto as 
necessidades de mudanças conservando, de todo modo, um viés dedutivo sob o 
estudo, utilizado com assiduidade em toda esfera acadêmica. 
Como é sabido, a litigiosidade tem crescido exponencialmente ao longo dos 
anos. A título de exemplo, só no ano de 2019, foram protocolados, em todo o território 
brasileiro cerca de 20,2 milhões de processos, demonstrando que essa intercorrência 
12 
 
e injustiças e insatisfações só cresce, acentuando ainda mais a crise que assola o 
poder judiciário (CNJ, 2020, p. 257). 
Observando isso, há, de certo modo, uma ambiguidade na aplicação das 
garantias, ainda mais com a inserção da Emenda Constitucional nº 45/2004 que 
institucionalizou o princípio a razoável duração do processo como uma garantia 
constitucional. Houve, diante disso, a necessidade de entender quais os mecanismos 
que o legislador adotou ao editar a Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo Civil). O 
intuito aqui não é entender a como a norma fundamental funciona ou criticar como o 
Judiciário pode aplicá-la ou não, e sim, como se revela o princípio da razoável duração 
do processo sendo este uma garantia fundamental e como se deu sua aplicação no 
Código de Processo Civil. 
A crítica que se faz é quanto a morosidade processual tendo em vista que 
as demandas processuais civis têm o condão de demorar anos no judiciário, 
entretanto, ao mesmo tempo, a legislação não prevê em sua redação nada quanto 
esta lentidão. Com a reforma da legislação, o que se busca é um equilíbrio entre 
aos princípios que norteiam os processos e a eficácia quando da sua aplicação 
no caso em concreto; nesse interim, é viável salientar que, quando se aplicam 
garantias fundamentais ao processo, em tese, deveria haver uma maior 
efetividade quanto resolução integral de mérito e uma eficácia entre o lapso 
temporal do ajuizamento da demanda e da prolação da sentença. 
Neste sentido, o presente trabalho atua com uma premissa maior a respeito da 
crise encontrada no Poder Judiciário quanto a morosidade processual e, como se dá 
o dinamismo processual e sua efetividade, perpassando pelas modificações que 
foram introduzidas com a Emenda Constitucional nº 45/2004, até que se adentre com 
mais profundidade ao ponto central de questionamentos que é o princípio da razoável 
duração do processo como um direito fundamental e seus reflexos no Código de 
Processo Civil. 
Para tanto, este trabalho optou por se desenrolar nos limites de três capítulos. 
O primeiro capítulo buscou compreender como a morosidade processual 
implica na lesão dos direitos da sociedade, na aplicação da jurisdição e na eficácia 
das garantias constitucionais, vez que o Estado, como detentor da jurisdição deve 
instituir os preceitos fundamentais nos processos em geral. De modo geral, a intenção 
foi demonstrar o que é o processo e como se deu de início o princípio da razoável 
duração do processo, com a inserção da Emenda Constitucional nº45/2004, que foi 
13 
 
primordial para a mudança de perspectiva quanto da celeridade processual e como o 
princípio ficou evidenciada no cenário mundial. 
O segundo capítulo teve a atenção voltada ao tempo processual, vez que 
tempo é a questão cerne da morosidade e se demonstra com grande influência visto 
que, se ocorrer demasiadamente lento, compromete uma solução justa e equitativa 
de mérito. Nesse aspecto, é importante salientar que, muito embora a discussão se 
denote quanto a uma celeridade, a inserção de outros princípios afim de dar 
efetividade a garantia do processo razoável não foi mitigada. 
No mais, houve a necessidade de se conceituar o princípio a razoável duração 
do processo como uma garantia fundamental, e como o Estado, soberano que é, se 
responsabiliza pela ineficiência de plano em suas atividades no atributo de aplicar este 
princípio no caso concreto. 
E essa aplicabilidade é o motivo do capítulo três, onde a inserção do princípio 
a razoabilidade foi inserido de maneira admirável no Código de Processo Civil de 
2015. Através da Emenda Constitucional nº 45/2004, surgiu a necessidade de 
reformular do código de 1973, vez que quando da sua vigência, temas como estes 
não eram retratados como uma necessidade. 
Vários foram os mecanismos utilizados pelo legislador afim de tornar o 
processo mais eficiente, trazendo ao lume uma justiça verossímil. No mais esta 
terceira parte também demonstra os impasses encontrados para implementação da 
razoabilidade do caso concreto, visto que a realidade brasileira por vezes se mostra 
distinta dos valores apregoados na Carta Magna. 
Nesse interim, concluiu-se que, há muitos problemas que marcam esta crise do 
judiciário, por vezes, muito mal compreendida pela sociedade, que, de certa maneira, 
exige seus direitos mais não adentra ao problema central, que repercute desde o 
aspecto econômico, estrutural e normativo também. 
No mais, foi um grande passo as modificações que marcaram a Lei nº 
13.105/2015 que, a passos lentos, vêm trazendo importantes resultados mas, está 
longe de ser o ideal. Justificar a morosidade neste campo processual é tentar, de certa 
forma, “tampar um buraco”, o que não traz aos jurisdicionados a justiça almejada. Há 
uma necessidade de reestruturação organizacional e normativa também, afim de o 
princípio a razoabilidade tenha sua essência imbuída na solução dos litígios. 
 
 
14 
 
2 A CRISE NO PODER JUDICIÁRIO 
 
 
A justiça, assim como suas garantias fundamentais representam um dos pilares 
mais sólidos do direito. A busca por tais garantias dar-se-á através de meios que 
assegurem ao indivíduo a eficácia da resolução do processo e a sua forma mais 
extensa de efetividade. 
Para que haja uma solução justa, é necessário a busca incessante por uma 
justiça mais valorativa e eficaz no âmbito processual, afim de entender como as 
implicações emodificações das leis e garantias fundamentais afetam a tramitação 
processual. Entretanto, há de se rememorar que “a ciência processual foi construída 
visando a concepção de um instrumento apto a alcançar determinados objetivos. 
Como é natural em toda evolução, houve distorções que perduram até hoje” 
(BEDAQUE, 2006, p. 33). 
De modo geral, a chamada “Crise do Poder Judiciário” parece não 
corresponder com as expectativas da sociedade, sendo importante relembrar que o 
sistema processual brasileiro, há tempos vem recebendo uma gama de críticas, sendo 
que algumas tecem a respeito dos mais variados recursos disponíveis, outras, no 
entanto, são por não conceder aos litigantes a agilidade esperadas nas demandas, 
implicando, desta forma em reformas que buscam a efetiva justiça (ROESLER, 2005; 
ESTEVEZ, 2007, p. 27). 
De outro modo, Claudia Rosane Roesler (2005), condiciona esta crise a 
“ineficiência do Judiciário no tratamento dos conflitos”; da politização de sua atuação, 
da interferência na atividade econômica do país e a um conservadorismo exacerbado 
na aplicação das leis no caso em concreto, havendo, assim, uma certa necessidade 
de reforma diante da deficiência de efetividade da prestação jurisdicional. 
Contudo, não é justificativa plausível para a lentidão jurisdicional, a falta de 
estrutura do poder judiciário, o grande fluxo de demandas, falta de juízes e servidores, 
o excesso de trabalho entre outros, uma vez que as leis e os procedimentos são 
alterados com vistas a efetividade e instrumentalidade dos processos – muito embora 
tais modificações não têm sido suficientes (ANNONI, 2007, p. 06; HOFFMAN, 2006, 
p. 23). 
Muito embora o Estado seja plenamente responsável pela garantia dos direitos 
fundamentais dos cidadãos, cabe a ele assegurar a segurança de seus atos, para que 
15 
 
o jurisdicionado não seja lesado em seu direito ao buscar a tutela jurisdicional, uma 
vez que ao assumir o papel de Estado Juiz, a sua função máxima é resolver os 
conflitos e garantir a efetiva justiça. Consoante o art. 37, § 6º da Constituição Federal 
de 1988, “o Estado é plenamente responsável pelos danos a que, por meio de seus 
agentes, der causa, bem como pelos danos que tinha o dever de evitar, quando se 
tiver omitido” (ANNONI, 2007, p. 06). 
De igual sorte, a sintetização deste grande percalço, está intimamente ligada a 
esta morosidade que a prestação jurisdicional apresenta. Silva e Costa (2019, p. 137) 
asseveram que, 
Embora se identifique um crescimento dos destinatários dos serviços 
de justiça nas últimas décadas, oportunizando, assim, ao menos em 
potencial, maiores possibilidades de proteção a direitos, as demandas 
judiciais se multiplicam, acentuam a taxa de congestionamento e, 
também, de impugnabilidade, o que representa um impacto na 
qualidade da prestação da tutela jurisdicional. 
 
Isso significa que para uma justiça uniforme e coerente, não basta apenas uma 
reforma processual, há que se ter em mente que a capacidade de reposta aos conflitos 
jurídicos, nem sempre basta para a sociedade moderna. 
Cláudia Rosane Roesler (2005) complementa esta ideia, ressaltando que a 
[...] atuação do Poder Judiciário se justifica e pode ser considerada 
adequada se atingir um nível razoável de efetividade na prestação da 
tutela jurisdicional. Esta exigência requer que o processo seja ao 
mesmo tempo capaz de viabilizar uma decisão justa, sob a ótica do 
devido processo legal e da ampla defesa, suficientemente célere para 
que concretize o direito discutido e sem um custo demasiado alto. 
 
Ou seja, esta morosidade encontrada no sistema estatal, compromete de 
maneira substancial sua eficácia nas ações cotidianas e nas resoluções de conflitos. 
Deve-se buscar “soluções para a frustrante ineficácia prática da tutela jurisdicional” 
(BEDAQUE, 2006, p. 32). 
Miguel Reale Junior (2004, p. 79) aponta que a morosidade da prestação 
jurisdicional é uma “forma de denegação da justiça”. Justiça esta que se apresenta 
como um dos princípios basilares o Estado Democrático de Direito, tendo em vista 
que o próprio preâmbulo da Constituição Federal de 1988, declara, ser esta um dos 
“valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”, e 
complementa o autor que “a presteza da prestação jurisdicional ser um direito que 
decorre da natureza das coisas, já reconhecido no dito popular: justiça tardia não é 
justiça”. 
16 
 
Por conseguinte, Barroso e Barcellos (2003, p. 149), comentam que um sistema 
jurídico que possa ser adotado como ideal está arraigado em um equilíbrio de 
distribuição dos princípios que norteiam o direito processual brasileiro, tendo estes 
princípios uma maior flexibilização para a busca da justiça no caso concreto. 
Fredie Didier Junior (2017, p. 110) no entanto, ao comentar a respeito desta 
morosidade, entende que quando se reconhece que há um direito fundamental ao 
devido processo, nota-se que este processo deva ser cumprido condicionando-o a 
uma série de atos obrigatórios para existência uniforme deste direito. O cumprimento 
de tais atos, muito embora desacelerem a continuidade do processo – cite-se a título 
de exemplo o contraditório e a ampla defesa – em momento algum devem ser 
rechaçadas ou minoradas. 
Em todo o caso, “é comum ouvir acerca do descrédito no Poder Judiciário e 
sobre casos de injustiça patente, a ponto de banalizar-se e crer-se tal fato como 
irremediável e normal”, mas, a tutela jurisdicional, muito embora esteja distante de um 
ideal pormenorizado, deve ser justa e equitativa, para que o sistema processual, 
revestido e condicionado pelo Estado-juiz traga os valores fundamentais estampados 
na Carta Magna. No entanto, Fredie Didier Junior (2017, p. 110) ressalta ser 
necessário fazer um alerta para que não haja discursos que preguem “a celeridade 
como valor”, tendo em vista que muito embora os processos da inquisição fossem 
ágeis, não há quem diga sentir saudade deles (HOFFMAN, 2006, p. 23). 
Acrescenta Miguel Reale Junior (2004, p. 78) que 
A intensa litigiosidade surgida após a promulgação da Constituição de 
1988, que se revelou ultrapassada para atender à demanda 
decorrente da constitucionalização de diversos novos direitos, aliada 
ao maior acesso ao Judiciário. Essas circunstâncias e o próprio 
crescimento econômico do país aumentaram a já existente crise de 
morosidade do Judiciário, fazendo nascer junto aos jurisdicionados a 
importância ainda maior da celeridade na prestação jurisdicional. 
 
No entanto, devemos admitir que as nuances da crise sejam restritas apenas 
as variáveis que conhecemos, não aplicando-se a nós um olhar amplo quando as 
necessidades da máquina púbica. É nítido que haja uma morosidade processual e 
procedimental, ou ineficiência e pouca transparência, mas, justificar todos os 
problemas ou criticá-los de maneira retrógrada, não mudará a realidade (RENAULT, 
2004, p. 96). 
Sérgio Rabello Tamm Renault (2004, p. 97) ainda complementa que, 
17 
 
A incorporação de novas tecnologias de informação, a 
desburocratização, a padronização de procedimentos racionais, a 
simplificação de sistemas operacionais, a capacitação de pessoal, o 
apoio a projetos de financiamento para a modernização são exemplos 
de iniciativas que podem tornar o Judiciário mais eficiente e ágil. 
 
Como fora dito, não há como se examinar e resolver o problema apenas como 
reformas dos meios processuais realizadas pelo Legislativo. A máquina judiciária 
carece de deficiências estruturais, gestão de serviços e finanças, formação de 
profissionais para atuação, “o mau funcionamento do contencioso administrativo, a 
inoperância de agências reguladoras com poderes efetivos de fiscalização e punição 
e a indevida utilização do Judiciário como instrumento de moratória da dívida pública”, 
entre as mais variadas causas que permeiam o Poder Judiciário.1 Analisar o princípio 
da razoável duração do processo, sob essa perspectiva,é uma tarefa um tanto quanto 
complexa, visto que são problemas e deficiências desconexos ao Processo Civil 
(ROQUE et al, 2014, p. 66). 
No entanto a eficiência e efetividade do Poder Público deve ser nossa principal 
preocupação, visto que daí decorre a justiça que o jurisdicionado busca. Muito embora 
haja uma morosidade exacerbada e, uma grande vastidão de problemas que dela 
emergem, as modificações realizadas pelo legislador com fito a aprimorar o sistema 
jurídico são de grande importância para todos. Diante disso, devemos entender os 
aspectos relativos a tais mudanças. 
 
 
 
1 No entanto, existe um grande paradoxo hoje, em relação ao poder público e a efetividade da tutela 
jurisdicional. “As estatísticas disponíveis sobre os processos judiciais que tramitam ou tramitaram no 
foro brasileiro, ainda que obtidas por métodos nem sempre científicos e por isso mesmo não 
seguramente confiáveis, dão conta de que, por exemplo, mais de 60% (sessenta por cento) dos feitos 
que tramitam no STF e STJ, os dois mais importantes tribunais do País, têm como protagonista o poder 
público, nas suas mais variadas formas de atuação, isto é, administração direta (União Federal, 
Estados, Distrito Federal e Municípios) e indireta (autarquias, empresas públicas, fundações públicas 
e sociedades de economia mista). Esse dado é preocupante porque, ao mesmo tempo em que o móvel 
político da reforma constitucional que culminou com a promulgação da EC 45/04, conhecida 
popularmente como Reforma do Judiciário, foi a lentidão e ineficiência do Poder Judiciário pela demora 
excessiva da prestação jurisdicional, do outro lado vê-se o poder público postergando a solução dos 
processos judiciais em razão dessa mesma demora. Tem interessado, portanto, ao poder público valer-
se da morosidade do Poder Judiciário para adiar o cumprimento de seus deveres constitucionais 
perante os administrados e cidadãos. Para que se dê efetividade à garantia constitucional da celeridade 
e duração razoável do processo judicial é necessário equipar-se o Poder Judiciário do aparato logístico 
de que precisa para dar cumprimento ao comando constitucional, constituído de melhoria da 
capacitação técnica dos juízes e dos elementos materiais necessários ao bom desempenho das 
funções dos magistrados e dos auxiliares da justiça” (NERY JUNOR; NERY, 2018, p. 34). 
18 
 
2.1 Jurisdição, processo e procedimento – a base da aplicação dos princípios 
constitucionais 
 
 
Apesar de encontramos com muito mais facilidade nos tempos atuais, a os 
meios de acesso à justiça, tal conceito tem se modificado e se solidificado com o 
passar do tempo. Cappelletti e Garth (2002, p. 10) comentam que, nos séculos 
anteriores, XVIII e XIX, existia uma teoria na qual, o Estado entendia que quando se 
tratava de um direito natural do ser humano, este não necessitava de uma proteção, 
ou seja, o Estado agia como um agente passivo, auxiliando a preservar o direito, mas 
que não poderia intervir na prática dos atos. 
Com o passar do tempo, os direitos humanos dos indivíduos, nesse contexto, 
sofreram intensas transformações durantes os séculos XVIII e XIX, geradas a partir 
do crescimento das sociedades, e não apenas isso, mas, houve a propagação da ideia 
de que haveria a necessidade de defesa coletiva, e não apenas em caráter individual 
(CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p.11). 2 
Assim, se institucionalizou neste contexto o poder judiciário como um meio de 
abolir a justiça privada muito característica desta época. O processo e a noção de 
jurisdição foram consequências de tais ações e da teoria tripartite, que foi mais 
difundida a partir de então (THEODORO JUNIOR, 2000, p. 146). 
Entretanto, conforme podemos vislumbrar, após anos, o Estado atribuiu a ele, 
o direito-dever único de exercício da jurisdição, ou seja, de proteção dos direitos 
fundamentais do ser humano, tais como a vida, a liberdade e o acesso à justiça, para 
o fim de que seus jurisdicionados possam ter seus direitos naturais, hoje conhecidos 
como fundamentais, protegidos. Assim, o Estado proibiu a autotutela e outras formas 
privadas de resolução de conflitos – muito embora esteja este se desincumbindo de 
seu dever primário de resguardar aos cidadãos, sendo improdutivo e insatisfatório e 
suas atribuições (HOFFMAN, 2006, p. 22). 3 
 
2 Nesse sentido, Cappelletti e Garth (2002, p.11), comentam que o acesso a justiça nada mais é do que 
um dos requisitos basilares intrínsecos dos direitos humanos, que podem alavancar a conquista por 
uma justiça igualitária. 
3 Trata-se de solução do conflito de interesses que se dá pela imposição da vontade de um deles, com 
o sacrifício do interesse do outro. Solução egoísta e parcial do litigio. O "juiz da causa:' é uma das 
partes (DIDIER, 2017, p 186). 
19 
 
Corolário a isso, o Estado, como soberano, detém assim o encargo de 
Legislador e de Juiz. Como juiz, lhe corresponde a função jurisdicional. Apesar de 
ambas as funções exprimirem o mesmo significado, há de se ressaltar que, 
essencialmente, a função de jurisdição recai sobre cada caso em singular, ou seja, 
“não trabalha para armazenar, mas por encomenda, sob medida” (CARNELUTTI, 
1942, p. 130). 
Conhecemos portanto a jurisdição como sendo um poder que o Estado detém 
de sua soberania, lhe conferindo a competência necessária afim de fazer justiça, e 
assim estabelecer dentro da sociedade, a paz social. 
 O estudo do direito processual, esta delineado no conceito da jurisdição, tendo 
em vista ser este um ramo da ciência jurídica que tem por finalidade estudar o 
processo que é o meio pelo qual a lei atua nos conflitos jurídicos existentes, afim de 
se obter justiça efetiva no caso concreto (THEODORO JÚNIOR, 2000, p. 145). 
De acordo com Estevez (2007, p. 15), “jurisdição é a palavra originada do latim, 
ius (direito) e dicere (dizer), de forma que a jurisdição nada mais é do que a função do 
Estado de dizer o direito”. Assim, compete ao Estado resolver os conflitos existentes, 
onde esse dever seja exercido em tempo razoável e concedendo as partes a 
prestação jurisdicional adequada aos parâmetros legais. 
Se esta é, de certa maneira, a manifestação do “poder estatal”, torna-se 
evidente que terá diferentes objetivos, sendo estes a busca por “fins sociais, políticos 
e propriamente jurídicos, conforme a essência do Estado” (MARINONI, ARENHART, 
MITIDIERO, 2017, p. 19). 
Complementam os autores Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 19), que a 
jurisdição, como um todo, deve refletir os ideias estampados na Constituição Federal, 
que em seu artigo 3º reflete os objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil como o de constituir uma sociedade livre, justa e solidária, para que assim, 
garanta o desenvolvimento nacional, erradique a pobreza e a marginalização, reduza 
as desigualdades sociais e regionais e, por fim, promova o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, cor, idade e toda e qualquer outras formas de 
discriminação (BRASIL, 1988). 
Nesse sentido, Cintra, Grinover e Dinamarco (2015, p. 165) aduzem que, 
[...] jurisdição é, ao mesmo tempo, poder, função e atividade. Como 
poder, é manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade 
de decidir imperativamente e impor decisões. Como função, expressa 
o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de 
20 
 
conflitos interindividuais, mediante a realização do direito justo e 
através do processo. E como atividade ela é o complexo de atos do 
juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei 
lhe comete. O poder, a função e a atividade somente transparecem 
legitimamente através do processo devidamente estruturado (devido 
processo legal). 
 
Para eles o Estado é provocado pela parte interessada, instaurando-se assim 
o processo, e o conduz com um único intuito de obter a prestaçãojurisdicional que 
reflete o interesse público e a pacificação social. 4 
Fica evidente neste interim, que a noção a respeito do processo tem como 
essência a Constituição Federal e os direitos fundamentais que dela decorrem. Assim, 
deve este revelar os valores constitucionais – segurança, efetividade, justiça e paz 
social – valores tais que não podem ser rechaçados para que através da técnica 
processual alcance sua real finalidade (BARROS; OLIVEIRA, 2014, p. 570; 
BEDAQUE, 2006, p. 40). 
Assim, Gonçalves (2018, p. 72) corrobora que “o processo é o instrumento da 
jurisdição, o meio de que se vale o juiz para aplicar a lei ao caso concreto”. Tal 
instrumento é utilizado para obtenção de um resultado final, onde há a prestação 
jurisdicional com fito de solucionar a lide instaurada. Complementando esta ideia, 
Humberto Theodoro Junior (2000, p. 146) assevera que a jurisdição em si é uma das 
funções estatais, e o processo por conseguinte, o instrumento utilizado para sua 
atuação. 
Fredie Didier Junior (2017, p. 36) ressalta que o conceito de processo está 
compreendido “como método de criação de normas jurídicas, ato jurídico complexo 
(procedimento) e relação jurídica”. 
O autor compreende que o processo é o exercício da jurisdição, onde existem 
situações jurídicas em que cabe a jurisdição tutelar tais situações que se 
consubstanciam no processo. Assim, todo o processo necessita de uma situação 
jurídica, não existindo um processo oco, “todo processo traz a afirmação de ao menos 
uma situação jurídica carecedora de tutela jurisdicional” (DIDIER, 2017, p. 45). 
Sumariamente, processo em síntese é um instrumento jurisdicional 
desenvolvido pelo Estado afim de intervir nos conflitos existentes e assim solucioná-
 
4 Para Chiovenda apud Arruda Alvim (2019, p. 88), “O critério realmente diferencia, correspondente, 
em outros termos, à essência das coisas, reside em que a atividade jurisdicional é sempre uma 
atividade de substituição; é – queremos dizer – a substituição de uma atividade pública a uma atividade 
alheia”. 
 
21 
 
los. Os sujeitos que participam, praticam atos pré-estabelecidos em lei, assim, unindo-
se tais atos de maneira ordenada, tem-se o chamado procedimento, que urge com o 
objetivo final, solucionar as controvérsias (BEDAQUE, 2006, p. 36). 
Desta feita, far-se-á necessário distinguir processo de procedimento. Para 
Cintra, Grinover e Dinamarco (2015, p. 317) a noção de processo tem como finalidade 
o exercício do poder jurisdicional do Estado; é um conjunto de atos que compõem as 
relações dos atos entre si e das relações entre os sujeitos. Em contrapartida, 
procedimento é a coordenação de tais atos que os sucedem; é o meio utilizado para 
que o processo se desenvolva; “conclui-se, portanto, que o procedimento (aspecto 
formal do processo) é o meio pelo qual a lei estampa os atos e fórmulas da ordem 
legal do processo”. 
De acordo com Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel 
Mitidiero (2017, p. 65), o processo é um procedimento que tem por fim uma resolução 
da demanda de forma adequada e também efetiva, e, para que isso ocorra, deve haver 
uma harmonia entre os direitos fundamentais contidos na lei. E complementando esta 
distinção, Fredie Didier Junior (2017, p. 68) assevera que o procedimento, “é o um 
conjunto de atos organizados tendentes a produção de um ato final”, ou seja, são os 
meios que se utiliza ao ajuizar uma ação para constituir um procedimento adequado, 
conforme os ditames legais. 
Neste contexto que tecem quanto ao processo, o Direito Processual Civil, como 
um dos ramos do direito, comporta as regras e os princípios que tratam 
fundamentalmente da jurisdição civil do Estado, onde a lei, quando aplicada no caso 
concreto, busca solucionar a lide a qual o Estado-juiz tem interesse (GONÇALVES, 
2018, p. 71). 
Assim, importa salientar que próprio Código de Processo Civil reforça esta 
compreensão a respeito do conceito de processo, dispondo em seu art. 14 que: "A 
norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em 
curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas 
consolidadas sob a vigência da norma revogada". Assim, aponta Fredie Didier Junior 
(2017, p. 36) que o legislador dá enfoque a "atos processuais praticados e as 
situações jurídicas consolidadas”, demonstrando que a jurisdição atua como um meio 
de aplicação da lei utilizando como instrumento, os processos (BRASIL, 2015). 
Neste interim, é fático evidenciar que os princípios norteiam os processos e por 
conseguinte, os procedimentos e assim, asseguram que as garantias fundamentais 
22 
 
sejam efetivadas. Os princípios são normas que necessitam ser aplicadas com a maior 
funcionalidade possível dentro do caso em concreto, ou seja, dentro destes 
procedimentos exigidos por lei. Aplicam-se assim, para que se garanta ao titular da 
ação uma solução não apenas integral e eficaz do direito, mas que seja efetiva, 
servindo de base para uma interpretação quanto aos procedimentos enumerados na 
legislação em comento (THEODORO JUNIOR et al, 2015). 
No mais, não há como se falar em efetividade, jurisdição, ou tampouco de 
processo, sem que seja embasada no ordenamento jurídico vigente a época de sua 
aplicação, o que será tratado mais adiante (PINHEIRO, 2012). 
 
 
2.2 Distinções entre eficiência, efetividade, eficácia 
 
 
É notória a necessidade de se fazer uma distinção terminológica quanto aos 
termos de efetividade, eficácia e eficiência, tendo em vista que não se tratam de 
terminações sinônimas e sim, distintas que causam grande impacto no teor jurídico 
quando aplicadas erroneamente, ou seja, se tratam de normas singulares e distintas. 
Bechara (2012, p. 84) aduz quanto a eficiência ao compará-la com uma virtude 
do direito, um meio de alcançar determinado efeito, mas não dando ênfase ao 
resultado predeterminado, e sim quanto a “ação necessária para alcança-lo”. No mais, 
há de ser ressaltado que só há como concluir, nessa concepção, se determinada ação 
foi ou não eficiente, quando conclusa, devido a forma com que esta deve ser 
empregada (DIDIER, 2013, p. 435.). 
Nesse sentido, aduz Fredier Didier Junior (2013, p. 435) que, 
Eficiente é a atuação que promove os fins do processo de modo 
satisfatório em termos quantitativos, qualitativos e probabilísticos. Ou 
seja, na escolha dos meios a serem empregados para a obtenção dos 
fins, o órgão jurisdicional deve escolher meios que os promovam de 
modo minimamente intenso (quantidade – não se pode escolher um 
meio que promova resultados insignificantes) e certo (probabilidade – 
não se pode escolher um meio de resultado duvidoso), não sendo lícita 
a escolha do pior dos meios para isso (qualidade – não se pode 
escolher um meio que produza muitos efeitos negativos paralelamente 
ao resultado buscado). 
 
Ou seja, a eficiência engloba todo o processo pelo qual deva percorrer 
determinada ação. De diferente modo, a efetividade se apresenta como uma 
23 
 
verdadeira materialização dos deveres legais inseridos na norma, se 
consubstanciando entre dever ser normativo e a uma realidade social. Representa, 
portanto, a função social do direito, por meio do qual, só se mostra efetivo o processo 
em que há um direito afirmado e reconhecido, ou seja, se dá com a satisfação integral 
do resultado final (BARROSO, 2006, p. 82). 
Note que, desta forma, podemos distinguir eficiência de efetividade. 
Fredier Didier Junior (2013, p. 436) explana que poderá um processo ter um 
resultado satisfatório, ou seja, efetivo, mas não ter tido uma conduta eficiente em seu 
percurso – por exemplo, quando há muitos resultados insatisfatórios ou até uma 
excessiva demora. No mais, o autor comenta que o contrário disso não há como 
existir, ou seja, não há como se ter um resultado naquele processo uma vez que este 
se deu de forma ineficiente.Fazendo uma relação entre ambas, Barroso (2006, p. 82) aduz que 
[...] é intuitivo que a efetividade das normas depende, em primeiro 
lugar, da sua eficácia jurídica, da aptidão formal para incidir e reger as 
situações da vida, operando seus efeitos que lhe são próprios. A 
efetividade das normas jurídicas resulta, comumente, de seu 
cumprimento espontâneo. 
 
Assim, efetividade é a “capacidade de produzir um efeito”, ou seja, o pleno 
direito de se fazer aquilo que está certo, estando este termo intrinsecamente adstrito 
a aplicabilidade das leis no caso concreto (OLIVEIRA; CHAVENCO, 2012, p. 320). 
Neste contexto fático, há também a eficácia dos atos jurídicos, que, segundo 
Barroso (2006, p. 81), “consiste em sua aptidão para produção de efeitos”. Segundo 
ele, um ato só eficaz quando possui idoneidade, ou seja, para que um ato jurídico seja 
eficaz, ele deve estar em consonância com a finalidade para o qual foi destinado. É 
eficaz, portanto, o ato que detém “`a aplicabilidade, exigibilidade ou executoriedade 
da norma”. 
Nesse sentido também é o entendimento de Fábio Ramazzini Bechara (2012, 
p. 84), que entende que a norma eficaz é aquela que condiz intrinsecamente com o 
resultado devendo ser idônea qualquer conduta adotada. “Assim, a eficácia se 
relaciona à capacidade de criação de situações jurídicas” (SILVA; COSTA, 2020, p. 
138). 
Conclui Pinheiro (2012) que, 
A efetividade, tanto do processo quanto da jurisdição, reclama a 
observância aos direitos fundamentais que constituem a garantia do 
devido processo legal. A grande preocupação das citadas teorias é 
24 
 
com os resultados (eficiência) da jurisdição. Contudo, não atacam o 
problema causador dessa ineficiência jurisdicional, embora o 
reconheçam, a saber: a falta de estrutura organizacional e 
tecnicamente qualificada do Judiciário. 
 
 
2.3 A Emenda Constitucional nº 45/2004 e o Direito Comparado 
 
 
No sistema processual brasileiro, conforme já sintetizado, há muito é criticado 
principalmente no que tange a morosidade jurisdicional, o que implicou de maneiras 
diversas, em reformas em todo o direito processual bem como na base constitucional, 
muitas destas desencadeadas pela EC 45/04, com a inserção do princípio a razoável 
duração do processo (ESTEVEZ, 2007, p. 27). 
Este instituto jurídico, muito embora esteja sendo aperfeiçoado no Brasil, não 
se trata de um instituo novo, na realidade, é notório vislumbrar que o direito a duração 
razoável da prestação jurisdicional de maneira efetiva e dentro de um prazo 
adequado, foi muito difundido por todo mundo, sendo reconhecido como um direito 
fundamental. 
No direito comparado, há também essa ocorrência quanto a este princípio em 
alguns documentos de alcance internacional. Assim, o primeiro deles a reconhecer o 
direito a efetiva e pronta prestação jurisdicional foi a Convenção Europeia de Direitos 
Humanos, que em seu artigo 6º, I, dispõe, desde 1950, que todo indivíduo tem o direito 
à prestação jurisdicional em prazo razoável (CABRAL, 2013, p. 103). 
Podemos observar, por exemplo, no direito Norte Americano, a 6º emenda 
assegura um julgamento rápido. Na Espanha, por conseguinte, a constituição pátria 
ressalva que deverá ser garantido aos seus jurisdicionados um processo ao qual não 
caiba dilações indevidas (CABRAL, 2013, p. 103). 
Estevez ressalta que na América Latina existem países que também 
positivaram tal conduta como é o caso da Argentina5 em seu no art. 43 e da Colômbia 
 
5 Podemos vislumbrar este cenário ainda nos dias atuais, como foi o recente caso na Argentina, em 15 
de novembro de 2019. “A Corte Interamericana de Direitos Humanos divulgou a condenação da 
Argentina por violação à duração razoável do processo no caso Perrone y Preckel Vs. Argentina. 
Tratava-se de dois agentes do governo que foram indevidamente detidos durante a ditadura militar 
argentina, sendo posteriormente presos e, um deles, Preckel, chegou a ser exilado. Buscaram a esfera 
administrativa e a judicial na tentativa de reparação, que, entre a etapa administrativa e a judicial, o 
caso demorou 13 (treze) anos e 4 (quatro) dias para ser solucionado, fixando como condenação a 
25 
 
no art. 86, que em suas Constituições, lograram em ratificar a duração razoável do 
processo (ESTEVEZ, 2007, p. 57). 
E há também tal positivação em países da Europa como é o caso Portugal que 
prevê, no art. 20, incisos 4 e 5 o mencionado direito “cujo objetivo sejam a defesa dos 
direitos e as garantias pessoais” (ESTEVEZ, 2007, p. 58).6 
A Alemanha é mais um destes exemplos de cumprimento do prazo razoável na 
tutela jurisdicional. E a Espanha não fica atrás, esta reflete uma real preocupação com 
seus jurisdicionados, tendo assegurado de maneira concreta o aludido princípio em 
sua Constituição (CABRAL, 2013, p. 104; ESTEVEZ, 2007, p. 59). 
Entretanto, muitos doutrinadores revelam que a principal influência para que 
este direito fosse resguardado no Brasil, surgiu de Itália. A partir do ano de 2011, a 
Constituição Italiana sofreu diversas mudanças (CABRAL, 2013, p. 103). 
Com a adesão do país à União Europeia, umas das praxes que deveriam ser 
adotadas pelo país, tendo em vista que se mantém expresso na convenção europeia 
dos direitos do homem, era a “proteção dos direitos do homem e das liberdades 
fundamentais” (HOFFMAN, 2006, p. 52). 
Paulo Hoffman alerta que, na verdade, tal previsão, muito embora já trouxesse 
um viés ao País, esta convenção “já demonstrava, há mais de 50 anos, a importância 
de que o julgamento das causas judiciais fosse dotado de mecanismos que 
permitissem uma demora que não ultrapassasse aquela estritamente necessária” 
(HOFFMAN, 2006, p. 55). 
Já o Brasil, seguindo os mesmos parâmetros adotados pela Itália, a duração 
razoável do processo foi um mecanismo empregado pelo país afim de que houvesse 
uma rápida prestação jurisdicional. Foi emergida no direito brasileiro por meio da 
Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da 
Costa Rica, datado do ano de 1969, em vigor desde 1978 mas apenas ratificado pelo 
Brasil apenas em 1992. O art. 8º, 1, do Pacto prevê que “toda pessoa a ser ouvida por 
 
obrigação de publicizar a sentença e pagar uma indenização pecuniária aos agentes (SILVA, 2020, p. 
289) 
6 4. “Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável 
e mediante processo equitativo” 
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos 
judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil 
contra ameaças ou violações desses direitos” (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, 
2015, p. 26/27). 
 
 
26 
 
juiz ou tribunal dentro de um prazo razoável (REBOUÇAS; SIERRA, 2014, p. 75; 
RODRIGUES, 2008, p. 07). 
Esta determinada previsão, foi assim adotada meio da Emenda Constitucional 
nº 45 de 30 de dezembro de 2004. Conforme vários doutrinadores pontuam, a referida 
emenda reformou constitucionalmente o poder judiciário e refletiu em todo sistema 
processual, em especial, o Processo Civil. Santana (2014, p. 15) comenta que a 
inclusão quanto ao princípio da razoável duração do processo, constante no art. 5º, 
inciso LXXVIII, foi uma das principais modificações trazidas afim de dar fiel 
cumprimento a tutela jurisdicional.7 
Assim, Fredie Didier Junior (2013, p. 108) ressalta quanto a elaboração da 
determinada emenda: 
Assim, a República Federativa do Brasil, sendo signatária desse Pacto 
de São José da Costa Rica, que adquiriu eficácia no plano 
internacional em 18 de julho de 1978. O Congresso Nacional editou o 
Decreto 27, de 26 de maio de 1992, aprovando o seu texto. O Governo 
Federal depositou, em 25 de setembro do mesmo ano, a Carta de 
Adesão ao mencionado pacto. Com a ulteriorpublicação do Decreto 
678 (09.11.1992), o Pacto de São José da Costa Rica foi promulgado 
e incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro. O procedimento de 
incorporação do tratado foi respeitado em seus mínimos detalhes. 8 
 
E complementa Walter dos Santos Rodrigues (2008, p. 07), 
Após longa e conturbada tramitação no Congresso – chegou a existir 
17 PECs sobre o judiciário tramitando no Senado Federal no ano 2000 
– foi aprovado um dos quatro projetos remanescentes, o de n.º 
29/2000, que se transformou na Emenda Constitucional n.º 45/2004 – 
que alterou o inciso LXXVIII do artigo 5º e muitos outros dispositivos –
, promulgada em 8 de dezembro de 2004 e que entrou em vigor na 
 
7 “Essa necessidade de reforma do Poder Judiciário, muito embora seja uma necessidade que decorre 
há anos, surgiu com maior intensidade em 1992, quando através da PEC96/1992 foram apresentadas 
propostas para uma melhor organização do sistema judiciário através de Hélio Bicudo. Importante 
mencionar que entre tal apresentação de proposta e a efetiva aprovação, decorreram-se 12 anos” 
(KLEIN; SANTOS, 2019, p. 47). 
8 “Mais tarde, essa inovação legislativa inspirou a criação jurisprudencial de critérios de medição e 
valoração da duração dos processos no âmbito do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o que, em 
minha opinião, revolucionou toda a questão da duração razoável do processo, como veremos dentro 
em breve. Foi o Instituto Brasileiro de Direito Processual quem sugeriu a inclusão da garantia da 
duração razoável do processo no texto constitucional, após a apresentação do Substitutivo Aloysio 
Nunes Pereira à, então, Proposta de Emenda Constitucional 96-A de 1992. Na Moção encaminhada 
ao Relator da proposta de Emenda da Reforma do Judiciário (dentre outros parlamentares), aprovada 
nas III Jornadas Brasileiras de Direito Processual Civil, realizadas em Salvador, de 14 a 18 de junho de 
1999, cujas propostas, elaboradas por comissão constituída pela diretoria conforme delegação dos 
participantes, estão datadas de 12 de julho do mesmo ano, sugeria explicitamente (dentre outras 
propostas) a previsão da garantia da duração razoável do processo, em consonância com Pacto de 
São José da Costa Rica. O Substitutivo Zulaiê Cobra, publicado em 13 de setembro de 1999, acolheu, 
sem mencionar expressamente o IBDP, esta e outras sugestões formuladas (mas não todas)” 
(RODRIGUES, 2008, p. 08). 
 
27 
 
data de sua publicação no Diário Oficial da União, em 31 de dezembro 
de 2004. (RODRIGUES, 2008, p. 07). 
 
Um outro ponto a se destacar é o fato de que, com a atual Constituição Federal, 
após a ratificação da EC nº 45/04, o § 3º do art. 5º passou a prever que “Os tratados 
e convenções internacionais sobre seres humanos que forem aprovados, em cada 
casa do Congresso Nacional, em dois Turnos, por três quintos dos votos dos 
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”, assim o Pacto 
de São José da Costa Rica passou a se revestir-se de status de Emenda (BRASIL, 
1988). 9 
Antes disso, muitos doutrinadores, por tempos, interpretaram os tratados 
internacionais como uma ampliação do rol de garantias fundamentais, que constavam 
na Constituição Federal de 1988, entretanto, para o Supremo Tribunal Federal, a 
recepção dos tratados internacionais deveriam receber o status de normas ordinárias, 
o que teria tido fim a partir do surgimento da EC 45/04 (ANNONI, 2007, p. 08). 10 
Outra criação que modificou nosso sistema processual e trouxe mudanças 
significativas para o direito através da EC 45/04, foi a introdução do CNJ – Conselho 
Nacional de Justiça, que através deste é feito o controle externo da magistratura. Para 
Cavalcanti (2012, p. 94), esta criação teve como principal anseio de atender as 
expectativas da sociedade e levar um Poder Judiciário mais eficiente. 
Através da criação deste órgão, foram celebrados diversos convênios com os 
tribunais, o que possibilitou a criação e desenvolvimento do PJe (Processo Judicial 
Eletrônico) (CAVALCANTI, 2012, p. 94). 
O PJe foi incorporado ao ordenamento jurídico através da Lei nº 11.419/06, que 
em 19 de dezembro de 2006 trazendo ao lume a informatização dos processos 
judiciais e transformando a forma procedimental de tramitação dos processos 
 
9 Comenta Arruda Alvim (2019, p. 732), que os tratados internacionais entre os quais não foram 
submetidos ao quórum do art. 5º, § 3º da Carta Magna, devem receber o status de norma supra legais, 
conforme entendimento do STF, o que, alguns ministros não compactuam, entendendo que todos os 
tratados deveriam receber um status constitucional. 
10 “Esta polêmica sobre a incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos, que 
supostamente teria sido resolvida pela inclusão do parágrafo terceiro ao artigo 5º, em razão da EC 
45/2004, não está longe de ser solucionada, uma vez que o novo parágrafo criou um óbice a tal 
incorporação, ao exigir que a aprovação do tratado dê-se nos mesmos termos exigidos às emendas 
constitucionais, constituindo uma verdadeira hierarquia normativa entre tratados. No que se refere ao 
tema deste ensaio, a questão do direito à razoável duração do processo, a partir da EC 45/2004, restou 
pacificada. A garantia até então tácita no texto constitucional e positiva em norma infraconstitucional, 
passou a integrar, formal e materialmente, o rol de direito e garantias fundamentais, atingindo o status 
de cláusula pétrea e, portanto, merecedora de toda tutela jurídica em prol de sua efetivação, inclusive 
contra o próprio Estado” (ANNONI, 2007, p. 08). 
28 
 
causando deste modo uma maior celeridade e eficiência da a partir da digitalização 
dos autos e incluindo de maneira mais incisiva do princípio da razoável duração do 
processo (CNJ, 2018, p. 15). 11 
Assim podemos vislumbrar que a Emenda Constitucional 45/2004 reformou de 
maneira incisiva o judiciário, fazendo com que de maneiras diversas o princípio da 
razoável duração dos processos fosse aplicado de modo incisivo ao ordenamento, 
transformando assim a justiça e sua forma de atuação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 Essa resolução trouxe um enorme impacto na realidade judicial, visto que o número de 
processos que tramitam eletronicamente passou de 30,4% no ano de 2013 e já são hoje, em 2019, 
90% (CNJ, 2020, p. 258). 
29 
 
3 TEMPO E PROCESSO 
 
 
O tempo na sociedade se perfaz de maneira democrática e desconhecida, 
muito embora os estudiosos busquem compreender suas variáveis. Entretanto, 
através do dinamismo da sociedade moderna, houve de maneira mais tendenciosa a 
exigência de uma maior aceleração dos recursos cabíveis ao Estado na aplicação da 
tutela jurisdicional, que encontrou-se em descompasso com medidas aplicáveis que 
até então eram realizadas de forma lenta e antiquada (CABRAL, 2013, p. 74). 
Para que tais medidas não continuassem a serem indesejáveis, tendo em vista 
que a aplicação do direito em si ainda levava em conta leis ultrapassadas, foi 
necessário que o Estado, como garantidor da justiça, adequasse seus meios de 
aplicação no caso concreto sendo este o processo. Assim, o processo, estando 
imbuído no tempo, é um fator eficácia ou ineficácia das relações processuais, sendo 
o meio mais viável para tentar solucionar o problema da morosidade do Poder 
Judiciário (BERALDO, 2010, p. 18; PINHEIRO, 2012). 
Esta ideia de morosidade está intimamente ligada com a concepção do 
processo, tendo em vista que a idealização instantânea de um processo, está longe 
do almejado, vez que para não haver uma lesão dos direitos, este processo necessita 
de um lapso temporal adequado para se desenvolver. Na obra de Marinoni, Arenhart 
e Mitidiero – Novo Curso de Processo Civil – (2017, p. 11), os autores comentam que 
“quanto maior a demorada resposta estatal a violações ou ameaças a direitos, mais 
distante ela tende a ser das necessidades do interesse objeto da proteção e maior o 
dano marginal que a parte que tem razão experimenta”. 
Ou seja, tempo processual é um mal necessário para aqueles que buscam o 
poder judiciário, sendo tangíveis as vezes em que há prejuízo para os litigantes em 
decorrência do inegável abuso por uma das partes em aproveitar-se do tempo para 
ferir o direito do outro. Luiz Guilherme Marinoni (2002, p. 38) afirma que “se o tempo 
do processo, por si só, configura um prejuízo a parte que tem razão, é certo que 
quanto mais demorado for o processo civil, mais ele prejudicará alguns e interessará 
a outros. 
 Deste modo, Yarshell (2004, p. 32) entende que “na visão clássica, o ônus do 
tempo necessário para a tramitação de um processo deveria ser suportado pelo 
autor”, o que geralmente não acontece, devendo ser ponderado que há uma certa 
30 
 
urgência e necessidade de que o tempo seja distribuído de maneira igualitária entre 
os litigantes, em nome do princípio da isonomia12, para que não haja injustiças por 
perda do direito diante da má distribuição do chamado tempo do processo 
(MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, 2017, p. 822). 
Há também, nesse sentido, uma necessidade intrínseca de que cada 
procedimento seja cumprido conforme as solenidades necessárias e que se conclua 
de maneira razoável tendo em vista que a morosidade poderá causar um grande 
agravo da efetiva tutela jurisdicional (ICLE, 2010, p. 45). 
Paulo Hoffman (2006, p. 17) ressalta a esse despeito que a espera processual 
é inevitável, entretanto, cabe ao Estado, como provedor a jurisdição, assegurar que 
os princípios norteadores do processo como o contraditório13, a ampla defesa14 e o 
devido processo legal15 sejam devidamente cumpridas e resguardados as partes e, 
que essa espera, mesmo que inevitável, não seja inadequada. 
De igual sorte, é o entendimento de Cristiano Heineck Schmitt (2011, p. 43), 
que assevera que não podemos entender como sinônimos uma razoável duração dos 
processos e as dilatações dos prazos processuais. Deve-se ter em mente que todos 
as etapas processuais devem ser cumpridas, afim de que esteja assegurado as partes 
a satisfação jurídica integral. 
 
12 O princípio da isonomia, consagrado no inciso I e caput, do art. 5º da CF/88, o qual se projeta 
sobre o direito processual, exigindo que ambas as partes, autor e réu, sejam tratadas com igualdade. 
Tal princípio, dada a importância que se reveste, é expressamente encampado também no plano 
infraconstitucional, pelo art. 7º e pelo inciso I do art. 139 do CPC. Isonomia assim significa “tratar 
igualmente iguais e desigualmente desiguais, na exata medida de suas desigualdades” (ARRUDA 
ALVIN, 2019, p. 72; NERY JUNIOR; NERY, 2018, p. 988). 
13 “O princípio do contraditório, também chamado de contraditório substancial ou da audiência 
bilateral, significa que o juiz não pode decidir sobre uma pretensão, sem ouvir a outra parte, contra a 
qual é deduzida”. Esta garantia se revela com fito a envolver todos os sujeitos do processo possam 
gozar de poderes para se defenderem e assegurar a que haja uma ampla possibilidade de influenciar 
a decisão do julgador, baseado em seus argumentos (ALVIM, 2018, p. 209; CABRAL, 2013, p. 80). 
14 “Ampla defesa constitui cláusula constitucional que garante o uso de instrumentos e 
mecanismos processuais para que demonstrem os envolvidos o acerto de seus argumentos e a 
procedência de suas teses, bem assim a produção de provas. Nesse cenário, a ampla defesa exige o 
respeito dos órgãos julgadores às opções estratégicas dos sujeitos processuais, desde que não firam 
a boa-fé. Esse respeito gera uma deferência natural ao prolongamento processual que não pode ser 
evitada totalmente, salvo pelo indeferimento de requerimentos impertinentes ou desnecessários e pela 
sanção aos atos de má-fé processual” (CABRAL, 2013, p. 80). 
15 “Devido processo legal exige o respeito ao encadeamento de atos processuais previsto em 
lei, uma garantia sem tamanho dos indivíduos de que todos devem saber aprioristicamente, caso sejam 
processados para supressão de sua liberdade ou seus bens, que o procedimento a ser seguido será 
aquele estabelecido na norma, e não outro escolhido ao talante do julgador do momento; que o litigante 
disporá de tais e quais e meios de prova, ou que o prazo para recorrer será daqueles exatos dias 
segundo o fixado na legislação, e não um prazo menor, definido caso a caso” (CABRAL, 2013, p. 80). 
31 
 
Assim, Antônio de Passo Cabral (2013, p. 81) destaca que um processo efetivo 
não significa sua rapidez. A celeridade, uma vez negligenciada visando apenas o 
resultado final das decisões é uma forma distorcida de se olhar para o direito 
processual. E o Relatório Analítico Propositivo do CNJ (2018, p. 20) acrescenta essa 
premissa, ressaltando que “tentar resolver tornar o processo mais célere, de maneira 
isolada, sem averiguar as implicações dessa modificação para a concretização das 
demais garantias do acesso à justiça justa, é motivo de maior retrocesso”. 
Danielle Annoni (2007, p. 04) elucida que não é apenas as garantias 
processuais que devem estar asseguradas no desenrolar do processo mas que a 
“resposta aos jurisdicionados seja justa, que se faça em um lapso temporal compatível 
com a natureza do objeto litigado. Do contrário, torna-se utópica a tutela jurisdicional 
de qualquer direito”. 
Desta forma, é crível notar que de um lado, deve haver uma razoabilidade 
quando se atenta a uma demanda, sendo inaceitável que um processo se delongue 
por vários anos. Entretanto, deve se atender uma certa medida para que o lapso 
temporal entre o ajuizamento da demanda e a prolação da sentença seja dado ao 
indivíduo uma segurança quantos aos atos praticados e sua resolução final (SOARES, 
2016, p. 15). 
Assim, se apresenta também o princípio da segurança jurídica, dentro desse 
arcabouço. O princípio da segurança jurídica busca dar aos atos processuais, não 
apenas a sua eficácia, mas a efetividade, com uma solução integral do mérito. Traz 
um viés quanto a estes atos processuais, uma vez que eles devem ser praticados 
objetivamente respeitando as normas e estabelecendo técnicas adequadas para que 
os resultados a serem produzidos não sejam inválidos e tragam a segurança capaz 
de viabilizar o ato processual (CÂMARA, 2017, p. 137). 
Frederico Augusto Leopoldino Koehler (2008, p. 17) faz uma ressalva quanto 
há um possível conflito entre tais princípios fundamentais, assegurando que muito 
embora alguns doutrinadores enfatizam que há um duelo entre o princípio da razoável 
duração do processo frente ao princípio da segurança jurídica, ele é apenas aparente, 
ou seja, na realidade o que necessita ser verificado é o caso concreto e a aplicação 
de um equilíbrio entre ambos, assim a resolução processual terá uma eficiência 
máxima – um processo rápido e uma justiça valorativa. 
Inegável é que quanto mais distante é a decisão final, mais utópico se mostra 
a sua eficácia e o seu direito a ser reconhecido. Nesse sentido, quanto ao tempo do 
32 
 
processo, a adequação deste é mais do que necessária para que se regulamente seu 
encerramento de maneira adequada e eficaz (ANNONI, 2007, p. 04; ICLE, 2010, p. 
44). 
Miguel Reale (2004, p. 79), alerta que não podem ser pregados a celeridade da 
justiça como um valor. Há de se ponderar que a celeridade, quando afastada dos 
demais critérios processualísticos, apenas revela a falha na sua prestação. Falha 
porque não se buscou aplicar ao caso concreto todos meios necessários para que o 
jurisdicionado apresente sua defesa, ou seja, o contraditório e a ampla defesa foram 
negados. “Nada pior do que a injustiça célere”. A celeridade, para o autor, assim como 
a morosidade, se não aplicadas de maneira eficaz, representam a verdadeira 
denegaçãoda justiça. 
A esse respeito, importa salientar que seria totalmente perverso, quando a 
parte interessada, vê seu direito perecer, diante da demora na conclusão ou diante da 
dilação injustificada dos prazos processuais (YARSHELL, 2004, p. 32; ICLE, 2010, p. 
57). 
Necessário se faz que a partir de tais premissas haja um ponto de equilíbrio 
entre a efetividade e eficácia dos direitos fundamentais frente a uma prestação 
jurisdicional justa e equânime (ICLE, 2010, p. 57). 
 
 
3.1 O princípio da razoável duração do processo como um direito fundamental 
 
 
Os direitos fundamentais estão diretamente associados a atuação processual, 
tendo como sua matriz básica a dignidade da pessoa humana16 “sendo este o núcleo 
intangível, caracterizando-se, essencialmente, pela aplicação imediata em nosso 
ordenamento jurídico, nos termos do art. 5º, § 1º da CF/88”. A existência material deste 
princípio atua em consonância com os demais princípios fundamentais aplicados ao 
processo uma vez que, agredir a um destes, é atuar em desfavor ao ser humano 
(ESTEVEZ, 2007, p. 34; MENDES, 2015, p. 400). 
 
16 Segundo os autores, Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2017, p. 360), “o princípio da dignidade da pessoa 
humana assume especial relevância como critério material para identificação de direitos fundamentais, 
visto que, tratando-se de uma exigência da dignidade da pessoa humana, não se haverá de questionar 
a fundamentalidade”. 
33 
 
Gilmar Mendes (2015, p. 401) comenta que a Constituição Federal, desde 1946 
garantia ao indivíduo a proteção a qualquer lesão ou ameaça aos seus direitos, tendo 
em vista que o valor da tutela judicial efetiva já estava apregoado em seu rol de 
garantias, para ele, “a duração indefinida ou ilimitada do processo judicial afeta não 
apenas e de forma direta a ideia de proteção judicial efetiva, como compromete de 
modo decisivo a proteção da dignidade da pessoa humana”. É devido portanto, 
analisar as questões relativas a esta “duração indefinida ou desmesurada do processo 
no contexto da proteção judicial efetiva” ante esta relação de dependência de um 
processo em tempo razoável e um processo efetivo. 
Nesse sentido, complementa Gabriel Barreira Bressan (2014, p. 96) a ideia de 
busca de um processo fundamentado na dignidade humana bem como nos valores 
fundamentais da Carta Magna, aduzindo que, 
Nesse diapasão, o processo se revela como um método de controle 
do poder e da manutenção do mínimo existencial, com o objetivo de 
conservar a dignidade da pessoa humana, bem como os demais 
fundamentos da república brasileira. Portanto, o processo não pode 
mais ser visto como sinônimo de direito formal, deve-se buscar um 
processo justo, substancializado pela existência de direitos 
fundamentais. 
 
O direito processual tem escopo de garantia fundamental, surgindo a 
necessidade de se adequar as novas tendências da sociedade, vez que há uma 
insatisfação quanto ao poder judiciário, que muito embora se baseie em garantir aos 
litigantes a justiça, há uma qualidade na prestação insatisfatória, devendo o Estado, 
como detentor soberano deste poder, garantir a tutela justa, adequada, satisfatória e 
principalmente tempestiva (ESTEVEZ, 2007, p. 34). 
O Código de processo Civil de 2015 enaltece essa preposição ao dispor em 
seu art. 1º que “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme 
os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República 
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” afim de que 
prevaleça a real justiça, assim, observa-se, como será exposto mais adiante, que o 
próprio CPC/2015 trouxe como premissa básica e fundamental defender ao valores 
apregoados na Constituição Federal de 1988. E, num contexto de celeridade 
processual, tendo em vista a luta incansável com a morosidade dos procedimentos 
jurídicos, vê-se que esta foi escrita visando a aceleração dos procedimentos, ou seja, 
a aplicação do princípio da razoável duração do processo (BRASIL, 2015). 
34 
 
Assim, para que houvesse um processo em consonância com os valores 
fundamentais, a justiça elaborou medidas com o viés de que a morosidade processual 
não fosse mais um empecilho em todo o trâmite, tendo em vista que não pode haver 
espaço para lentidão no judiciário. Desta feita, não cabe ao direito apenas positivar as 
garantias fundamentais, e sim torná-las mais eficazes (CNJ, 2018, p. 15; OLIVEIRA; 
CHAVENCO, 2012, p. 312; ICLE, 2010, p. 41). 
Desta forma, o princípio da razoável duração do processo, nesta conjuntura a 
respeito da celeridade processual, é um dos meios capazes de enfrentar este impasse 
e ajudar a modificar as questões atinentes a morosidade das demandas judiciais. 
Pode ser encontrado em tratados e leis internacionais, dentre eles, a Convenção 
Americana de Direitos Humanos de 1969, conhecida como “Pacto de São José da 
Costa Rica”, ao qual o Brasil é signatário e prevê em seu texto que “Toda pessoa tem 
direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um 
juiz ou tribunal competente [...]” (CABRAL, 2013, p. 75). 
Em nosso sistema constitucional, aduz CABRAL (2013, p. 78), que nas 
constituições passadas, como de 1934 e 1946, esboçavam em seu texto, de maneira 
sucinta, quanto ao princípio da razoável duração do processo aduzindo que “a lei 
assegurará o rápido andamento dos processos nas repartições públicas [...]”. Muito 
embora tal princípio tenha sido tratado brevemente, é somente com o advento 
Constituição de 1988, e posteriormente com a Emenda Constitucional nº 45/2004 é 
que a lei começa a dar importância a tal premissa (CABRAL, 2013, p. 78). 
Assim estabelece o art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal: “A todos, no 
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e 
os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. 
Ao discorrer sobre tal modificação Antônio de Passo Cabral (2013, p. 82) 
conceitua este princípio da seguinte forma: 
[...] A duração “razoável” do processo é aquela em que, atendidos os 
direitos fundamentais, permita uma tratativa da pretensão e da defesa 
em tempo adequado, sem descuidar da qualidade e sem que as 
formas do processo representem um fator de prolongamento 
imotivado do estado de incerteza que a litispendência impõe às partes. 
 
Este princípio não se mantém explícito apenas no meio judicial, é encontrado 
também em processos administrativos, perfazendo uma economia e uma celeridade 
dos meios de sua tramitação. Ademais, um processo que se prolongasse 
demasiadamente, tornaria utópico o direito buscado pelo jurisdicionado, se tornando 
35 
 
inócua desta forma a atividade jurisdicional (ARRUDA ALVIM, 2019, p. 242; CRUZ e 
TUCCI, 2018, p. 89). 
Virgínia Icle (2010, p. 41), ao abordar sobre determinado tema, aduz que, 
O direito a razoável duração do processo decorre diretamente da ideia 
de “devido processo legal”, não se constituindo, por assim dizer, como 
um direito novo no ordenamento jurídico. É reflexo da preocupação 
dos operadores de direito em ver efetivado suas pretensões 
processuais em tempo hábil, ou seja, de tal maneira que o Poder 
Judiciário consiga corresponder à demanda processual dentro de um 
prazo admissível sem, contudo, ferir os demais princípios processuais. 
 
Insta salientar que tal princípio não se restringe apenas a noção de processo 
efetivo, ao qual o tempo gasto atribuído ao seu trâmite traga qualidade de tempo e em 
seus atos, mas cabe ao Estado, como detentor da jurisdição, garantir que essa 
atribuição de tempo e a prestação de seus deveres esteja condizente com os direitos 
humanos e os instrumentos necessários ao efetivo processo. Cruz e Tucci (2018, p. 
90) complementa que se torna quase impossível vislumbrar de que maneira ocorre a 
violação a este determinado princípio, devendo ser analisado o caso concreto (ICLE, 
2010,p. 42). 
O conceito da aplicação desta forma, deve refletir de maneira tangível aos 
preceitos fundamentais estampados na carta magna afim de que a sua aplicação 
ocorra de maneira efetiva e sua possível ineficácia não seja mais um dos grandes 
motivos ao desprestígio do Poder Judiciário (YARSHELL, 2004, p. 33). 
Cruz e Tucci (2018, p. 90) assevera que a inércia do órgão jurisdicional ou o 
comportamento dos demandantes causa uma morosidade inaceitável ao processo em 
si – o que nas mais variadas ocasiões, torna a aplicação do princípio inócua no caso 
concreto – e que a grande demanda processual, não se apresenta como uma 
“justificativa plausível para a lentidão da tutela jurisdicional”. 
Antonio de Passo Cabral (2013, p. 81) destaca que um processo efetivo não 
significa sua rapidez. A celeridade, uma vez negligenciada, visando apenas o 
resultado final das decisões é uma forma distorcida de se olhar para o direito 
processual. Assim, o Relatório Analítico Propositivo do CNJ (2018, p. 20) acrescenta 
ao destacar que “tentar resolver tornar o processo mais célere, de maneira isolada, 
sem averiguar as implicações dessa modificação para a concretização das demais 
garantias do acesso à justiça justa, é motivo de maior retrocesso”. 
Desta forma, é crível notar que de um lado, deve haver uma razoabilidade 
quando se atenta a uma demanda, sendo inaceitável que um processo se delongue 
36 
 
por vários anos. Entretanto, ser razoável nem sempre significa ser rápido. Deve se 
atender uma certa medida para que o lapso temporal entre o ajuizamento da demanda 
e a prolação da sentença seja dado ao indivíduo uma segurança quantos aos atos 
praticados e sua resolução final (SOARES, 2016, p. 15). 
No mesmo sentido entende-se por solução integral do mérito no Código de 
Processo Civil, um aproveitamento total dos procedimentos adotados, buscando uma 
primazia do julgamento do mérito isto é, que a tutela jurisdicional não siga apenas um 
formalismo quanto aos seus atos, porque a celeridade por si só, gera um processo 
deficiente, sem uma justiça efetiva (THEODORO JUNIOR et al, 2015, p. 120). 
Também há aqueles que se aproveitam de maneira infeliz da morosidade 
processual, para “descumprir leis, desrespeitar contratos e não cumprir deveres e 
obrigações, criando um ciclo vicioso no qual, quanto maior a duração do processo 
pelo seu excessivo número, em mais casos é o Judiciário obrigado a intervir “, gerando 
desconforto aos litigantes e uma enorme insegurança jurídica (HOFFMAN, 2006, p. 
23). 
No caso de haver essa demora injustificada dos processos, há de se tomar 
algumas cautelas nos julgamentos, conforme ressalta Yarshell (2004, p. 32), quais 
sejam: 
(i) antecipar tutela em favor do titular do direito provável; 
(ii) liberar a execução subtraindo o efeito suspensivo de recurso 
pendente de julgamento (e que seja portador de tal eficácia); 
(iii) adotar as providências necessárias para que, se não terminado 
o processo, seja dado à parte um resultado em tempo razoável. 
 
Essas cautelas evidenciam mecanismos de aplicação deste princípio, afim de 
evitar que as dilações indevidas sejam um retrocesso. No mais, esses mecanismos 
revelam real interesse do legislador, vez que foram aplicados ao Código de Processo 
Civil de 2015, como será abordado posteriormente. 
No mais, para que haja total compreensão do princípio a razoável duração do 
processo há de se ressaltar que não poderá haver no processo as chamadas “dilações 
indevidas. As dilações indevidas 
[...] são os atrasos ou delongas que se produzem no processo por 
inobservância dos prazos estabelecidos, por injustificados 
prolongamentos das “etapas mortas” que se separam da realização de 
um ato processual de outro, sem subordinação a um lapso temporal 
previamente fixado e, sempre, sem que aludidas dilações dependam 
da vontade das partes ou de seus mandatários (CRUZ e TUCCI, 2018, 
p. 90) 
 
37 
 
O direito a um processo sem dilações indevidas é, na sua íntegra, um direito 
que tem por finalidade garantir que o trâmite judicial se desenvolva dentro do estrito 
tempo necessário para a consecução dos atos. Para Virginia Icle (2010, p. 58), tais 
dilações indevidas não devem ocorrer dento do processo para que este possa ter 
todos seus atos praticados e não haja qualquer lesão ao direito buscado. Deve-se ater 
a um equilíbrio entre a eficácia e a celeridade afim de que tais atrasos injustificados 
não ocorram, uma vez que deverá o Poder Judiciário bem como o Estado garantir que 
o trâmite processual ocorra dentro dos parâmetros da normalidade, assim, o cidadão 
que busca o seu direito não será afetado. 
O mencionado princípio contido no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal não 
revela apenas dilações indevidas mais os meios materiais e técnicos para que sua 
tramitação ocorra em tempo hábil. Nesse diapasão, muito embora haja os mais 
variados meios de interpretação e implementação deste princípio, é notório que “a 
velocidade do Judiciário Brasileiro extrapola os limites do que seria imaginado como 
razoável”, permitindo aferir em um conceito generalizado que não há de pronto a 
existência deste princípio no ordenamento jurídico pátrio (CRUZ e TUCCI, 2019, p.10; 
ESTEVEZ, 2007, p. 39). 
Assim, o tempo do processo, ou seja, o tempo pelo qual ele percorre é fator 
preponderante para aferir se há ou não uma morosidade inaceitável. Francisco 
Fernandes de Araújo apud Rafael Fernandes Estevez (2007, p. 39) aduz que, 
O ideal seria obedecer aos prazos previstos pela própria lei, pois se o 
legislador os adotou já foi de caso pensado e não aleatoriamente. 
Contudo, considerando determinados fatores surgidos posteriormente 
à edição da lei, é possível que venham a dificultar um pouco mais a 
entrega da prestação jurisdicional nos prazos fixados, nascendo, 
então, uma certa dificuldade para fixar o que seria um prazo razoável 
para cada caso concreto. 
 
Para Frederico Augusto Leopoldino Koehler (2008, p. 47) para se aferir qual 
tempo ideal seria necessário para tramitação de um processo ou como poderia ser 
realizada esta somatória, poderiam ser analisados os prazos estabelecidos pelo 
legislador no Código de Processo Civil, o que será analisado adiante, tendo em vista 
que os prazos adotados utilizaram de maneira a acompanhar as mudanças sociais. 
No entanto, anteriormente a isso, a própria Corte Europeia de Direitos do 
Homem, em 1987, ao estudar o caso concreto da aplicação do mencionado princípio 
e, assim, analisar casos em que a aplicação deste se perdeu ao longo de sua 
38 
 
tramitação, estabeleceu três critérios afim de que não haja as chamadas dilações 
processuais indevidas, e assim, possam ser cumpridos os prazos estabelecidos17. 
Assim deverá ser analisado no caso concreto os fatores: “a) da complexidade do 
assunto; b) do comportamento dos litigantes: e c) da atuação do órgão jurisdicional” 
(CRUZ e TUCCI, 2018, p. 90). 18 
Para que se tenha, desta forma, reconhecido a existência ou ausência do 
princípio a razoável duração do processo, no caso concreto, deverão estar presente 
todos os critérios, de maneira conjunta e objetiva (BERALDO, 2010, p. 38). 
Quanto ao primeiro critério, a jurisprudência da Corte de Estrasburgo, entendeu 
que a complexidade da causa – um dos critérios a ser aplicado afim de aferir se um 
processo está condizente com sua razoável duração – deverá ser: 
a) Uma inédita questão jurídica, a demandar estudo aprofundado 
sobre o assunto; ou, 
b) De exigência de especial dedicação do órgão judicante, como, por 
exemplo, em caso em que haja pluralidade de partes e pedidos 
suficientes por si só para tonar vagaroso o processamento do feito 
(BERALDO, 2010, p. 39). 
 
Assim, a título de exemplo, ações que possuírem uma complexidade maior, não 
receberão um julgamento sumário, haja vista muitas vezes ser necessário dilação 
probatória como uma perícia técnica especializada, a dificuldade de citação de 
variados

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