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1 www.g7juridico.com.br MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS Ricardo Alexandre Direito Tributário Aula 02 ROTEIRO DE AULA ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS 3.1 Impostos e) Previstos em listas exaustivas, salvo para a União que pode exercer as competências residual e extraordinária. Art. 154, CF. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. Inciso I - Competência residual 2 www.g7juridico.com.br - A doutrina usa a palavra residual para se referir aos casos em que se adota a técnica de estabelecimento de listas com vários elementos, sendo que aquilo que não estiver previsto na lista (aquilo que “sobra”) pertencerá a uma determinada pessoa. Essa técnica é utilizada, por exemplo, pela Constituição Federal ao repartir as competências legislativas e administrativas (Ex.: Art. 25, CF e a competência residual dos estados da federação). Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. - No Direito Tributário, a competência residual para a instituição de impostos é da União. - Ao estabelecer lista de impostos nos artigos que tratam da competência tributária, a Constituição acaba por deferir a determinado ente a competência para tributar determinada riqueza. Assim acontece, por exemplo, com a propriedade de veículo automotor, que é riqueza sujeita a tributação pelos estados da federação. ATENÇÃO: Ao se tratar dos tributos que incidem sobre a propriedade, é preciso ter em mente que o CTN, ao dispor sobre essa classe de tributos, inclui também algumas manifestações de riqueza que não caracterizam exatamente a propriedade. Assim acontece com os Impostos de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) e os Impostos sobre a Transferência de Bens Imóveis (ITBI), que não incidem propriamente sobre a propriedade, mas sobre os Negócios Jurídicos Translativos de Propriedade. - São impostos que incidem sobre a propriedade: IPVA, IPTU e ITR - Dentre os impostos que incidem especificamente sobre propriedade, o IPTU guarda uma peculiaridade em relação aos outros. Ao contrário do que se possa imaginar, o “P” contido na sigla que define o imposto não corresponde a palavra propriedade, mas sim a palavra predial. O IPTU, assim, incide não só sobre a imóvel por natureza (territorial), mas também ao imóvel por acessão física (predial). Por outro lado, o ITR incide apenas sobre o terreno localizado na área rural. Tendo conhecimento dessas informações, é comum que se questione qual seria o imposto que incide sobre os prédios localizados em área rural, já que, em um primeiro olhar, estas manifestações de riqueza não são tributadas nem pelo ITR, nem pelo IPTU. De fato, o imóvel por acessão física localizado em área rural não sofre incidência de nenhum tributo por uma questão de lógica, relacionada ao desenho jurídico-legal atribuído ao ITR e ao IPTU. Quanto ao IPTU, parece claro que a sua incidência sobre 3 www.g7juridico.com.br imóveis rurais é totalmente descabida, em razão da ausência do elemento urbano nestes casos. Em contrapartida, em se tratando do ITR, a não incidência é justificada pela função marcadamente extrafiscal desse tributo. Assim, se o objetivo do ITR é desestimular a manutenção de propriedades improdutivas na área rural - motivo pelo qual a sua base de cálculo é o valor da terra nua! - não faz sentido que as incorporações realizadas ao solo pelo proprietário sejam levadas em conta para fins de inclusão no valor na base de cálculo, ainda que haja uma eventual diminuição no valor da alíquota. Afinal, se o legislador procedesse deste modo, ele estaria contradizendo a própria função do ITR dentro do sistema tributário. • E se o Brasil desejasse instituir um imposto sobre a propriedade predial rural? Neste caso, caberia à União, no uso de sua competência residual, estabelecer o tributo mediante lei complementar, uma vez que um imposto deste gênero não se encaixa nas competências dos outros entes federativos, além de ter base de cálculo e fato gerador distintos dos já previstos pela Constituição em seus dispositivos. LEMBRE-SE: Embora a regra seja a instituição de tributos por lei ordinária, existem 4 (quatro) tributos cuja a instituição se dá mediante lei complementar (= impostos residuais, contribuições residuais para a seguridade social, empréstimos compulsórios e imposto sobre grandes fortunas). - Quando se está diante da criação de uma vedação legal, a palavra OU tem sentido conjuntivo e não alternativo como usualmente lhe atribuímos. Esse sentido se aplica a vedação que a Constituição coloca como requisito para a criação dos impostos residuais, ao afirmar que a criação destes tributos só pode ser feita quando a base de cálculo OU o fato gerador deles for distinto dos já previstos no texto constitucional. - Deve haver uma correlação entre o fato gerador e a base de cálculo do tributo como forma de se garantir que a Pessoa Política que institui o tributo não está invadindo a competência tributária de outro ente da federação. - Se o tributo fosse cumulativo, isto é, incidisse em cascata, ele acabaria por encarecer os produtos que são produzidos de um modo mais sofisticado, isto é, mediante cadeias de produção mais longas. Isso acabaria por desestimular a produção deste tipo de mercadoria no Brasil, que, diga-se de passagem, já é baixa. Por isso, a não cumulatividade se aplica ao ICMS, IPI, PIS/COFINS (alguns casos) e, por disposição expressa, aos impostos 4 www.g7juridico.com.br residuais. Nesta última situação, porém, a exigência da não cumulatividade só faz sentido se o imposto residual incidir sobre a circulação de riquezas. RESUMINDO: A instituição de imposto residual depende: (i) da instituição ser feita por lei complementar; (ii) do tributo possuir base de cálculo e fato gerador distintos dos já previstos no texto constitucional; (iii) observação da não cumulatividade. f) Competência extraordinária - A competência extraordinária só é exercida em situações excepcionais, isto é, quando estiver ocorrendo situações de guerra externa ou sua iminência. Trata-se do Imposto Extraordinário de Guerra (IEG), cuja criação não precisa atender aos requisitos listados para a instituição dos impostos residuais. O IEG pode, inclusive, ter o mesmo fato gerador de tributos cuja competência pertencem a outros entes da federação (ex.: ICMS extraordinário de guerra), além de ser instituído mediante a edição de Medida Provisória em razão da situação de relevância e urgência a que usualmente se submete. Vale lembrar que não há, nesta hipótese, invasão de competência, mas sim uso de competência própria, que nasce supervenientemente a situação de exceção. ATENÇÃO: As situações de calamidade pública não autorizam a criação do IEG, mas apenas a instituição de empréstimos compulsórios. 3.2 Taxas a) Fato gerador - O fato gerador das taxas é o exercício do poder de polícia (taxa de polícia) ou prestação de determinados serviços (taxa de serviço). - ver definição do Art. 145, II da Constituição e detalhamento dos artigos 77 a 80 do CTN. 5 www.g7juridico.com.br Art. 145, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: [...] II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pelautilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; Art. 77, CTN. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas. (Vide Ato Complementar nº 34, de 1967) Art. 80, CTN. Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se compreendidas no âmbito das atribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios e a legislação com elas compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito público. - A taxa é sempre contraprestacional, isto é, pagamento por algo que o Estado faz para o contribuinte. - Trata-se de tributo VINCULADO, pois sua incidência depende, necessariamente, da atuação estatal. b) Base de cálculo - A base de cálculo das taxas é a grandeza que guarde correlação com o custo da atividade estatal, não podendo ser base de cálculo própria de imposto. - A taxa é sempre contraprestacional. Portanto, o ideal seria que o valor da taxa correspondesse exatamente aquilo que o Estado gasta para entregar determinada prestação a pessoa. Afinal, se assim não fosse, o Estado estaria atuando como se fosse um particular prestador de serviço, que tem como finalidade precípua o lucro. Contudo, também não é correto que o Estado preste serviço a pessoas específicas e determinadas e que toda a sociedade banque os serviços prestados àquela pessoa. Ocorre, porém, que o custo para a prestação de um determinado serviço não é sempre o mesmo, variando conforme a pessoa (ex.: taxa de coleta de lixo, que varia de acordo com a distância do imóvel ou a quantidade de lixo produzido). Em razão da dificuldade em se 6 www.g7juridico.com.br estabelecer um valor uniforme diante dessas peculiaridades, o STF já decidiu que o valor da taxa não precisa ser o valor exato do serviço. Para a Corte, o que não pode haver é uma completa desassociação com o custo do serviço, isto é, um valor que seja notoriamente exagerado, tendente a caracterizar o efeito confiscatório vedado pela Constituição. - Analisando o caso da taxa de lixo no município de São Carlos-SP, o STF determinou os parâmetros e limites interpretativos da regra que veda que as taxas tenham base de cálculo própria de imposto. Segundo a Corte, é possível presumir que imóveis maiores produzem mais lixo. Logo, quando se coloca o valor da taxa proporcional ao tamanho do imóvel, acaba-se por criar uma correlação com o custo do serviço, sendo esse modo de atuação por parte da Pessoa Política algo constitucional. Ou seja, utilizar-se de um elemento próprio da base de cálculo de imposto não é o mesmo que estabelecer-se uma identidade entre a base de cálculo da taxa e a do imposto, pois aí sim haveria inconstitucionalidade. Com efeito, é esse o entendimento consolidado pela Súmula nº 29 do STF: Súmula nº 29, STF: É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra. - No mesmo sentido, o STF entende que quando se calcula a taxa de lixo em função da área do imóvel, isso acaba graduando a taxa de acordo com a capacidade econômica presumível do proprietário. A doutrina controverte nesse aspecto, pois por mais que se entenda como algo bom o fato de se cobrar mais de quem pode pagar mais, essa ideia foi formulada levando-se em consideração os tributos que incidem sobre a riqueza das pessoas, o que não é o caso das taxas. O STF, no entanto, entendeu que a despeito da Constituição estabelecer o Princípio da Capacidade Contributiva como uma diretriz aplicável aos impostos, o texto constitucional não veda que a diretriz seja aplicada as demais espécies tributárias. 7 www.g7juridico.com.br RESUMINDO: (I) É lícito presumir que imóveis maiores produzem mais lixo; (II) Utilizar um dos elementos típicos da base de cálculo de imposto não é inconstitucional, desde que isso não implique em identidade integral e (III) O texto constitucional não veda a aplicação do Princípio da Capacidade Contributiva para outras espécies tributárias que não o imposto, sendo isso, em princípio, constitucional. c) Competência comum para a instituição das taxas - A competência para instituir taxas será da entidade política que prestar o serviço público ou exercer o Poder de Polícia que for definido em lei como fato gerador da taxa. Logo, não existem listas atributivas de competência neste caso. Art. 78, CTN. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966) Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. 3.2.1 Taxa de polícia a) Fato gerador - O Poder de Polícia é o exemplo mais claro do princípio da supremacia do interesse público. Com efeito, é por meio desse poder que o Estado vai limitar o exercício de direitos individuais para proteger o interesse público. É o Estado quem estabelecerá requisitos para que as pessoas possam conduzir veículos automotores, ou ainda, exigências para que um estabelecimento particular possa funcionar. No entanto, não basta cumprir os requisitos. É preciso comprovar o preenchimento das condições estabelecidas mediante os procedimentos exigidos pelo Poder Público; comprovação esta que pode ou não culminar na autorização para o exercício da atividade (ex.: permissão para dirigir, alvará de funcionamento, etc…). Independentemente da concessão ou não 8 www.g7juridico.com.br da autorização, a taxa é devida, uma vez que o parâmetro desta é o exercício do Poder de Polícia (= fato gerador) e não o ato administrativo voltado a autorizar a atividade (= consequência do exercício do Poder de Polícia). - É o exercício in concreto do Poder de Polícia que autoriza a cobrança da taxa. CASO DA RENOVAÇÃO DOS ALVARÁS DE LOCALIZAÇÃO QUANDO EXPIRADO O PRAZO - Quando se fala em taxa de localização, tem-se como base o exercício do Poder de Polícia pelo Poder Público voltado a verificar se determinado tipo de atividade pode ser exercido em um determinado local (ex.: vedações legislativas a casas de show em bairros totalmente residenciais). Os requisitos, porém, não se limitam ao local, mas se estendem para alcançar o funcionamento da atividade na região pretendida (ex.: limitações de horário e som para as casas noturnas em um bairro que é totalmente residencial). - O problema é que a taxa de funcionamento pode ser cobrada diversas vezes pelo Poder Público. A título de exemplo, se o município estabelecer que determinado alvará terá validade de 06 (seis) meses, a taxa será cobrada a cada nova fiscalização necessária a expedição denovo alvará. Ocorre, porém, que era comum da taxa ser cobrada em alguns municípios sem que o Poder Público comprovasse o exercício do Poder de Polícia, isto é, que houve de fato fiscalização no local antes da expedição do novo alvará. No início, o STF julgou os casos nesse sentido a favor dos contribuintes. Todavia, em momento posterior, analisando um caso não relacionado diretamente a matéria, a Corte acabou por alterar o seu entendimento. O caso, relativo a taxa de fiscalização ambiental do IBAMA, versava sobre a necessidade do IBAMA comprovar que realizou a fiscalização inerente ao cobrança da respectiva taxa. Segundo o Supremo, se um órgão público existe e tem servidores dotados de competência para fiscalizar determinada atividade, há de se presumir que a fiscalização aconteceu, não sendo necessária a fiscalização ostensiva para que seja lícito cobrar a taxa. Não há aqui cobrança de taxa independente do exercício do Poder de Polícia, mas sim cobrança da taxa com base na presunção de que o Poder de Polícia foi exercido. ATENÇÃO: A regularidade no exercício do Poder de Polícia equivale a consonância deste com o Direito. Para isso, o exercício deve ser (i) realizado por órgão competente, (ii) nos limites da lei aplicável, (ii) com observância do processo legal e (iv) sem abuso ou desvio de poder nas situações em que o ato for discricionário. 9 www.g7juridico.com.br 3.2.1 Taxa de serviço a) Fato gerador - É a UTILIZAÇÃO do serviço público ESPECÍFICO e DIVISÍVEL, que pode ser EFETIVA ou POTENCIAL. Vale lembrar que o serviço sobre o qual incide a taxa pode ser aquele PRESTADO AO CONTRIBUINTE ou POSTO À SUA DISPOSIÇÃO. Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: I - utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessidades públicas; III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. ATENÇÃO: Existem alguns serviços em que basta a utilização potencial para que haja a cobrança (ex.: taxa de coleta de lixo). Isso, no entanto, não pode ser generalizado, dado que existem outros serviços que só podem ser taxados se houver efetiva utilização. Assim acontece, por exemplo, com o exercício da Jurisdição que é custeado 10 www.g7juridico.com.br pela taxa judiciária (custas judiciais). Embora a Jurisdição seja serviço público disponível a todos, só paga a taxa aquele que dela se utiliza. - Os serviços cujo pagamento de taxa é independente da utilização são aqueles em que o Estado entende que devem ser obrigatoriamente utilizados pelo contribuinte (= utilização compulsória), sendo a cobrança desse tipo de tributo uma forma de se evitar comportamentos que trariam prejuízos à coletividade (ex.: não pode o contribuinte optar pelo não recolhimento do lixo pelo Poder Público, pois isso poderia colocar em risco a saúde da população). - A maneira como o CTN conceitua os atributos de ESPECÍFICO e DIVISÍVEL não é uma maneira muito clara. Por isso, o melhor é olhar para o entendimento da jurisprudência sobre o assunto. Voltando a reflexão do início da aula, seria injusto que toda a coletividade pagasse pela prestação de um serviço quando fosse possível identificar qual é a pessoa específica e determinada que se utiliza do serviço. Todavia, alguns serviços não tem seus usuários determinados de um modo particularizado, pois são prestados a população no geral. Exemplo é o serviço de segurança pública. Em casos como esses, não é possível cobrar taxa, pois não há como saber quem é o sujeito passivo do dever de pagar. Desta forma, para que o serviço seja considerado como ESPECÍFICO e DIVISÍVEL é necessário que o Estado saiba para quem está prestando o serviço da mesma forma que o contribuinte deve saber qual o serviço que está sendo prestado a ele quando do pagamento da taxa. - A especificidade do serviço significa que o Estado entrega ao contribuinte uma utilidade pública que o usuário consegue identificar em suas particularidades (ele sabe qual é o serviço que está sendo prestado!), ao passo que divisibilidade consiste na possibilidade do prestador identificar quem é o usuário e do usuário identificar quem é o prestador. Ex.: Não são apenas os moradores de imóveis situados em uma dada rua que gozam do serviço de iluminação pública, mas todos os que lá residem; em imóvel ou não. Logo, não pode o Estado cobrar taxa de iluminação pública dos proprietários de imóveis. CASO DA TAXA DE LIXO EM BH O município de Belo Horizonte instituiu taxa de lixo que seria devida tanto pela coleta de lixo em imóveis residenciais quanto para a limpeza de logradouros públicos. No tocante ao primeiro aspecto, não há dúvida de 11 www.g7juridico.com.br que a divisibilidade está presente. O mesmo, porém, não acontece com a identificação do usuário do serviço que está na rua. Por esta razão, não é lícita a cobrança de taxa nessa última hipótese. Súmula Vinculante nº 19: A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal. - Ao falar que a taxa deve incidir exclusivamente* sobre a coleta proveniente de imóveis**, o STF consegue garantir o atendimento dos requisitos da especificidade* e da divisibilidade**, respectivamente. 3.3 Contribuição de melhoria a) Fato gerador - O fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização imobiliária decorrente de obra pública (ver Art. 145, III, CF + Arts. 81 e 82 do CTN). Art. 145, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. Art. 81, CTN. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. Art. 82, CTN. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos mínimos: I - publicação prévia dos seguintes elementos: 12 www.g7juridico.com.br a) memorial descritivo do projeto; b) orçamento do custo da obra; c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição; d) delimitação da zona beneficiada; e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas; II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior; III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial. § 1º A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização. § 2º Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do montanteda contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o respectivo cálculo. b) Limites a contribuição de melhoria (vedação ao enriquecimento sem causa) ✓ Limite individual: A jurisprudência é pacífica no sentido de que a melhoria que justifica a cobrança de contribuição de melhoria é a melhoria no valor do imóvel. É a valorização que determinará o limite para a cobrança do tributo em relação ao particular. Ex.: O minhocão de São Paulo é um exemplo onde operou-se a desvalorização dos imóveis, cabendo ao Estado indenizar os moradores que sofreram com o prejuízo. Em outras palavras, a coletividade que, em tese, foi beneficiada com a obra pública, deverá agora arcar com os prejuízos. - Ao observarmos a contribuição de melhoria de um lado e a necessidade de indenização no caso do minhocão de outro, notamos uma clara aplicação do Princípio da Repartição Equânime dos bônus e dos ônus da atividade estatal. 13 www.g7juridico.com.br ✓ Limite total/geral: A contribuição de melhoria possui limites a sua cobrança pelo Estado, limite esse que há de ser extraído da quantia gasta pelo Estado na construção da obra. O objetivo é evitar o enriquecimento sem causa por parte do Estado. c) Competência comum para a instituição - Não existem listas atributivas de competência, pois quem realizar a obra, no âmbito de suas respectivas atribuições pode, legitimamente, instituir a CM. JURISPRUDÊNCIA: A contribuição de melhoria pode ser cobrada no caso de pavimentação asfáltica, desde que a cobrança da contribuição não seja voltada a manutenção do calçamento nas condições iniciais. LEMBRE-SE: A lei que institui a contribuição de melhoria deve entrar em vigor um ano antes da valorização imobiliária (= fato gerador), observando-se também a noventena. Tal lei deve tratar especificamente da obra em relação a qual se pretende exigir a contribuição, devendo detalhar todas as características do empreendimento público. Esse tipo de lei, portanto, não pode ser editada de modo genérico, como costumam fazer alguns municípios ao incluir a disposição legal em seu Código Tributário Municipal (CTM). 3.4 Empréstimos compulsórios a) Teoria da tripartição - Se a teoria adotada fosse a da tripartição, o empréstimo compulsório seria enquadrado na categoria dos impostos, com a peculiaridade de que seria necessário a devolução dos valores pelo Estado em momento posterior. Ex.: O empréstimo compulsório sobre a aquisição de combustíveis tinha o mesmo fato gerador do ICMS sobre combustíveis. b) Teoria da pentapartição - Na teoria da pentapartição, o empréstimo compulsório é considerado uma espécie tributária autônoma. 14 www.g7juridico.com.br c) Fato gerador - O fato gerador e as bases de cálculo devem ser definidos em lei complementar instituidora, o que é uma peculiaridade interessante desse tipo de tributo. Afinal, se levarmos em conta que a instituição do empréstimo responde a uma situação de urgência ou calamidade pública, isso nos poderia conduzir à conclusão errônea de que a sua instituição poderia se dar pela via da Medida Provisória, o que não é verdade. - O empréstimo compulsório pode ser instituído nas situações de: (i) guerra ou sua iminência; (ii) calamidade pública ou (iii) investimento urgente de relevante interesse nacional. - Quando o legislador resolve criar o empréstimo compulsório em uma das situações acima, ele deve escolher alguma situação de relevância econômica, a fim de definir tal situação como fato gerador do tributo. d) Competência exclusiva e indelegável da União para a instituição - A palavra exclusivo aqui se refere ao fato de um único ente concentrar toda a competência para definir toda a espécie tributária. Ninguém além da União pode instituir empréstimo compulsório. e) Hipóteses de instituição - As hipóteses dos incisos I e II estão separadas, pois o constituinte desejava que cada uma destas situações fosse submetida a regimes jurídicos distintos, especificamente no que toca a anterioridade. Como as situações do inciso I (guerra e calamidade) são mais graves, o legislador quis que elas não fossem submetidas aos princípios da anterioridade e da noventena. Art. 148, CF. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; 15 www.g7juridico.com.br II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b". Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. - Assim como todos os demais tributos que não possuem exceção expressa, o empréstimo compulsório com base na necessidade de investimento de caráter urgente deverá observar a anterioridade e a noventena, muito embora apenas a alínea “b” do Art. 150 esteja listada no dispositivo legal. Vale lembrar que o texto do artigo 148 é o texto original da Constituição promulgado em 1988, ocasião em que a anterioridade nonagesimal ainda não gozava de previsão no texto constitucional. - O parágrafo único do Art. 148 deixa claro que o empréstimo compulsório é tributo de arrecadação vinculada. Assim, se o empréstimo foi instituído em razão da iminência de guerra, mas esta não chegou a ocorrer, não podem os valores pagos a esse título serem destinados a resolução de um problema de calamidade pública, ainda que ambas as situações sejam situações que motivem a instituição do tributo. LEMBRE-SE: Quanto ao fato gerador, o empréstimo é tributo não vinculado, uma vez que a sua cobrança independe de qualquer atuação por parte do Estado. Art. 15, CTN. Somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode instituir empréstimos compulsórios: I - guerra externa, ou sua iminência; II - calamidade pública que exija auxílio federal impossível de atender com os recursos orçamentários disponíveis; III - conjuntura que exija a absorção temporária de poder aquisitivo. Parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as condições de seu resgate, observando, no que for aplicável, o disposto nesta Lei. - O inciso III foi o fundamento para o bloqueio das cadernetas de poupança feitas pelo Plano Collor. Ocorre, porém, que essa disposição é incompatível com a Constituição, motivo pelo qual ele NÃO FOI RECEPCIONADO pelo texto constitucional. 16 www.g7juridico.com.br ATENÇÃO: O Plano Collor não foi um caso de confisco, isto é, de incorporação do patrimônio do contribuinte pelo Estado sem pagamento de indenização. Não faz sentido falar que o fundamento da ação intentada por Collor era uma espécie de empréstimo compulsório e, ao mesmo tempo, colocá-la como uma hipótese de confisco. Até porque o objetivo era bloquear parte do patrimônio do contribuinte apenas temporariamente, devolvendo-o após o prazo de 1 (um) ano e 6 (seis) meses.