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EIRELI: Capital mínimo, titularidade e desconsideração da personalidade jurídica

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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS 
Alexandre Gialluca 
Direito Empresarial 
Aula 02 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
 
6.3. Cabe desconsideração da personalidade jurídica ? 
 
Art. 980-A do CC/02. 
 
§ 4º “Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da 
empresa individual de responsabilidade limitada, não se confundindo em 
qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui” foi 
este revogado pelo dizer: “qualquer situação”. [VETADO] 
 
Enunciado nº 470 da V Jornada de Direito Civil - O patrimônio da empresa individual de 
responsabilidade limitada responderá pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o 
patrimônio da pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do instituto da 
desconsideração da personalidade jurídica. 
 
- Antes da MP 881/2019, a desconsideração da personalidade jurídica para a EIRELI era cabível em 
todos os casos de fraude, confusão patrimonial ou desvio de finalidade. Com a inserção do §7º ao Art. 
980-A do CC, a desconsideração só é autorizada nas hipóteses de fraude, o que torna o alcance do 
instituto excessivamente reduzido. 
 
Art. 980-A “§ 7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas 
dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que 
 
 
não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a 
constitui, ressalvados os casos de fraude.” MP 881/2019 
 
6.4. Capital mínimo 
 
a) Valor: uma das maiores dificuldades para se constituir uma EIRELI no Brasil está no valor do capital 
mínimo exigido pela lei, que é equivalente a 100 vezes o valor do salário mínimo federal. Além disso, 
não é possível estabelecer um prazo para a integralização futura do capital, como acontece na 
Sociedade Limitada. A integralização do capital mínimo deve ocorrer no ato de constituição da EIRELI 
(= “devidamente integralizado” = devidamente PAGO!). 
 
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será 
constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, 
devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior 
salário-mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) 
(Vigência) 
 
b) Formas de integralização: a integralização pode se dar tanto em DINHEIRO quanto em BENS (móveis 
ou imóveis). Com relação ao bem imóvel, vale lembrar que a sua transmissão do patrimônio da Pessoa 
Física para o da EIRELI com o objetivo de integralizar capital não atrai a incidência de ITBI, já que se 
trata de hipótese de imunidade especial. A única exceção, na qual haverá incidência, é nas situações 
em que o imóvel transmitido for utilizado pela EIRELI com finalidade comercial. 
 
Art. 156 da CF - Compete aos Municípios instituir impostos sobre: 
 
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens 
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, 
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; 
 
§ 2º - O imposto previsto no inciso II: 
 
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao 
patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a 
transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou 
extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade 
preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou 
direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; 
 
• É possível integralizar capital social com serviços na EIRELI? 
 
 
 
Não. Nos termos dos artigos 980-A, §6°c/c 1055, §2º do CC, não é possível a integralização de capital 
por meio de serviços na EIRELI, já que a ela se aplicam as regras da sociedade limitada de modo 
subsidiário. 
 
c) O pagamento/integralização deve ser feito no ato da constituição. 
 
- Só aquele que tem condições de integralizar o capital mínimo exigido pela lei de imediato é que pode 
constituir a EIRELI. 
 
d) Precisa ficar atualizando sempre o capital da pessoa jurídica com o aumento ulteriores do salário-
mínimo? 
 
- O valor do salário mínimo que deve ser tomado como referência para a integralização do capital 
mínimo da EIRELI é o vigente no ano em que ela foi constituída. Logo, não é necessário atualizar o 
capital da pessoa jurídica a cada aumento do valor do salário mínimo federal. 
 
6.5. Aplicação subsidiária 
 
Segundo o art. 980-A §6° a aplicação subsidiária da EIRELI são as regras de 
sociedade limitada. 
 
6.6. Quem pode ser titular ? 
 
• Temos 2 (duas) correntes: 
 
1ª corrente: somente P. Física. 
 
- Iniciada pela Instrução Normativa nº 117 do extinto DNRC e confirmada pela Instrução Normativa nº 
10 DREI, essa corrente afirma que a função da EIRELI é colocar fim a informalidade do empresário 
individual, oferecendo-lhe como benefício a limitação da responsabilidade. Essa posição busca se 
afirmar por meio da interpretação do Art. 980-A, §4º do CC, que faz menção apenas a Pessoa Natural. 
 
Obs.: o DNRC foi substituído pelo DREI (Departamento de Registro Empresarial e Integração) 
 
 
 
a) A instrução normativa 117 DNRC (Departamento Nacional de Registro de Comercio) – somente 
pessoa natural pode ser titular de uma EIRELI. 
 
- A Instrução Normativa nº 10 do DREI, item 1.12.11 do anexo V dispõe: “não pode ser titular de EIRELI 
a pessoa jurídica, bem assim a pessoa natural impedida por norma constitucional ou por lei especial”. 
 
b) A ideia da EIRELI é acabar com a informalidade do empresário individual 
 
c) A ideia é limitar a responsabilidade do empresário individual 
 
d) Redação dos §4° e §2°, 980-A: 
 
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade 
limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. 
(Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) 
 
§4º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da 
empresa individual de responsabilidade limitada, não se confundindo em 
qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui 
 
Enunciado da V jornada de Direito Civil nº 468: A empresa individual de responsabilidade limitada só 
poderá ser constituída por pessoa natural. 
 
• 2ª corrente: P. Física e P. Jurídica: 
 
a) Art. 980–A 
 
- Como o legislador optou por utilizar no caput o gênero PESSOA, não fazendo distinção entre as 
espécies, seria lícito presumir que qualquer pessoa pode ser titular. 
 
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será 
constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, 
devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior 
salário-mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) 
(Vigência) 
 
 
 
b) A lei não proíbe expressamente a pessoa jurídica de ser titular (Não há proibição legal) – Instrução 
normativa 117 do DNRC e Instrução normativa 10 DREI (não podem proibir essa titularidade); 
 
- As instruções do DNRC e do DREI extrapolaram a função de regulamentar ao impor restrição que a 
lei não previu, ferindo, desta forma, o princípio da legalidade. 
 
Constituição Federal/88, Art. 22. Compete privativamente à União legislar 
sobre: 
 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho; 
 
c) O art. 980-A, §6° prevê a aplicação subsidiária das regras de sociedade LDTA 
 
JURISPRUDÊNCIA: a 22ª vara Federal de SP, em sede de Mandado de Segurança no processo 
00174394720144036100, que deferiu a liminar permitindo o arquivamento de Alteração Social que 
transformava uma Sociedade Limitada reduzida a um único quotista pessoa jurídica em EIRELI5. Esta 
decisão foi confirmada pelo TRF da 3ª região, que manteve a liminar em sede de AI 0002895-
84.2015.4.03.000006 
 
IN 38/17 – DREI, 1.2.5 - Pode ser titular de EIRELI, desde que não haja 
impedimento legal: 
 
a) O maior de 18 (dezoito) anos, brasileiro(a)ou estrangeiro(a), que estiver 
em pleno gozo da capacidade civil; 
 
b) O menor emancipado → A prova da emancipação do menor deverá ser 
comprovada exclusivamente mediante a apresentação da certidão do 
registro civil, a qual deverá instruir o processo ou ser arquivada em separado. 
 
c) A pessoa jurídica nacional ou estrangeira; 
 
• INCAPAZ PODE SER TITULAR DE EIRELI? 
 
- O incapaz não pode iniciar como empresário individual, tendo em vista que para isso é necessário 
estar em pleno gozo da capacidade civil. Em contrapartida, nos termos da Instrução nº 38/17, o incapaz 
pode ser titular de EIRELI, desde que ele seja devidamente representado ou assistido conforme o grau 
de sua incapacidade e, além disso, não exerça a administração da EIRELI. 
 
 
 
d) O incapaz, desde que exclusivamente para continuar a empresa, nos termos do art. 974 do Código 
Civil e respeitado o disposto no item 1.2.6-A deste manual. 
 
d) O incapaz, desde que devidamente representado ou assistido, conforme o grau de sua incapacidade, 
e com a administração a cargo de terceira pessoa não impedida. 
 
- O Art. 974, §3º do CC prevê que o incapaz também pode ser sócio de sociedade, desde que 
observados os mesmos requisitos acima expostos para que ele seja titular de EIRELI, além do fato do 
capital social estar totalmente integralizado. Vale notar que esse último requisito (= integralização 
total do capital) não é exigido no caso da EIRELI em razão da integralização total do capital ser inerente 
a esse tipo societário. 
 
 
• MAGISTRADO PODE SER TITULAR DE EIRELI? 
 
CNJ / Consulta nº 0005350-37.2016.2.00.0000 
 
→ Fonte: www.conjur.com.br – 09 de maio de 2019 
 
- É incompatível com a magistratura a abertura de empresa individual de responsabilidade limitada 
(EIRELI), ainda que esta seja administrada por um terceiro. O entendimento, por maioria, foi firmado 
pelo Conselho Nacional de Justiça ao julgar consulta da Associação Nacional do Magistrados 
Estaduais (Anamages). 
 
- Prevaleceu o entendimento do relator, conselheiro Márcio Schiefler Fontes, de que a criação de 
Eireli cria para o titular da empresa interesses e obrigações que não se coadunam com a dedicação 
plena à judicatura e com a independência e imparcialidade necessárias ao desempenho da função 
jurisdicional. 
 
- De acordo com o voto, a incompatibilidade permanece mesmo com a designação de um terceiro 
como administrador, já que o controle continua com o titular, que é o único detentor de todo o 
capital social e o principal interessado no sucesso econômico da atividade explorada. 
 
 
 
“De igual modo, tem-se que a incompatibilidade permaneceria mesmo que a administração fosse 
conferida a pessoa diversa, pois é certo que o exercício individual da empresa, a decisão dos rumos 
da atividade, a fiscalização do administrador, a concentração integral do capital, a percepção de 
lucros e o interesse direto no êxito da Eireli continuariam com o seu titular, no caso, o magistrado”, 
diz o voto. 
 
6.7. Limitação da EIRELI por pessoa 
 
- Cada CPF autoriza a constituição de apenas uma única EIRELI. 
 
- A vedação, contudo, refere-se apenas a Pessoa Natural, sendo possível que a Pessoa Jurídica formada 
pelo titular constitua a EIRELI e dela seja a única sócia. Assim, uma EIRELI pode ser a única sócia de 
várias outras EIRELI’s sem que isso implique em violação da lei. 
 
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade 
limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. 
(Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) 
 
6.8. Administrador 
 
- Para saber quem pode ser administrador da EIRELI é necessário recorrer à aplicação subsidiária do 
regramento da sociedade limitada (Art. 980-A, §6º, CC). 
 
- Nos termos dos artigos 1060 e 1061 do CC, o administrador pode ser o (i) titular da EIRELI ou (ii) um 
terceiro não titular. 
 
6.9. “Transformação” 
 
- Quando o legislador introduziu a figura da EIRELI no Art. 980-A do CC, muitos dos que eram 
empresários individuais resolveram migrar para esse tipo societário buscando o benefício da 
responsabilidade limitada. O ato que concretiza essa mudança é o instituto da transformação, previsto 
no Art. 980, §3º do CC. A transformação tem lugar em todos os casos nos quais os requisitos para a 
constituição da EIRELI sejam observados por aquele que pretende a mudança. 
 
• Sociedade empresária pode recorrer à transformação? 
 
 
 
No caso da sociedade empresária, a transformação é mais difícil, visto que ela conta com dois sócios 
ou mais. Neste caso, o ato de transformação depende da transferência da integralidade das cotas 
sociais para um dos sócios, passando este a ser o titular da EIRELI. 
 
Art. 980-A § 3º - A empresa individual de responsabilidade limitada 
também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade 
societária num único sócio, independentemente das razões que 
motivaram tal concentração. 
 
- Vale destacar que a transformação do empresário ou da sociedade em EIRELI mantém o CNPJ do 
tipo societário anterior. Isso é uma vantagem em vários aspectos como, por exemplo, a contagem 
do tempo de constituição da empresa, que pode ser requisito para que a empresa contrate com a 
Administração Pública por meio de licitação. 
 
• É possível transformar a EIRELI em empresário individual ou em sociedade empresária? 
 
Sim. Embora não seja tão vantajoso, a transformação é possível também neste caso. 
 
 
 
6.10. EIRELI originária e a EIRELI derivada 
 
- A EIRELI originária é aquela que assim se constitui desde o início. 
 
- A EIRELI derivada é aquela que decorre do ato de transformação. 
 
6.11. Comparativo 
 
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL EIRELI 
PESSOA NATURAL PESSOA JURÍDICA 
RESPONSABILIDADE ILIMITADA RESPONSABILIDADE LIMITADA 
 
 
NÃO TEM CAPITAL MÍNIMO POSSUI CAPITAL MÍNIMO 
 
7. OBRIGAÇÕES EMPRESARIAIS 
 
- As obrigações empresariais equivalem ao conjunto de deveres que devem ser observados por aqueles 
que desenvolvem uma atividade empresarial. Tanto o empresário individual quanto a sociedade 
empresária e a EIRELI devem observá-las. 
 
7.1. Registro 
 
- O registro é a primeira de todas as obrigações empresariais. 
 
- Obrigatoriedade/Competência: todo aquele que é empresário individual, sociedade empresária ou 
EIRELI deve efetuar o registro na junta comercial. 
 
- Na atividade empresarial existe o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREN). O 
SINREN está dividido em dois órgãos: o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) e 
as Juntas Comerciais. Enquanto o DREI é órgão normatizador e fiscalizador de alcance federal, a junta 
comercial é órgão executor de alcance estadual. 
 
- O DREI fiscaliza as juntas comerciais, que são órgãos executores. 
 
 
• Tem alguma exceção ??? 
 
- O Art. 971 do CC traz o empresário rural como exceção a regra do registro obrigatório. Ou seja, 
para o empresário rural o registro é facultativo. 
 
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal 
profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e 
seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas 
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará 
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. 
 
 
 
 
 
 
b) Competência para julgamento de ato do presidente da junta comercial 
 
- No âmbito administrativo, a Junta Comercial está subordinada ao estado da federação ao qual ela se 
vincula. Todavia, tecnicamente, a sua subordinação é federal. 
 
JURISPRUDÊNCIA: 
 
RE 199793 / RS - RIO GRANDE DO SUL 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
 
Relator(a): Min. OCTAVIO GALLOTTI 
Julgamento: 04/04/2000 Órgão Julgador: Primeira Turma 
Publicação DJ 18-08-2000 PP-00093 EMENT VOL-02000-04 PP-00954 
Parte(s) 
RECTE.: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
RECDO.: INCOMEX S/A - CALÇADOSJuntas Comerciais. Órgãos administrativamente subordinados ao Estado, mas tecnicamente à 
autoridade federal, como elementos do sistema nacional dos Serviços de Registro do Comércio. 
Consequente competência da Justiça Federal para o julgamento de mandado de segurança contra 
ato do Presidente da Junta, compreendido em sua atividade fim. 
 
 
Informativo nº 0536 
Período: 26 de março de 2014. 
 
TERCEIRA SEÇÃO. DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME 
ENVOLVENDO JUNTA COMERCIAL. 
Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta prática de delito de falsidade ideológica 
praticado contra Junta Comercial. O art. 6º da Lei 8.934/1994 prescreve que as Juntas 
Comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição e, 
tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, órgão federal. Ao interpretar esse 
dispositivo legal, a jurisprudência do STJ sedimentou o entendimento de que, para se firmar 
 
 
a competência para processamento de demandas que envolvem Junta Comercial de um estado, é 
necessário verificar a existência de ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União, conforme 
determina o art. 109, IV, da CF. Caso não ocorra essa ofensa, como na hipótese em análise, deve-se 
reconhecer a competência da Justiça Estadual. Precedentes citados: CC 119.576-BA, Terceira Seção, 
DJe 21.6.2012; CC 81.261-BA, Terceira Secão, DJe 16.3.2009. CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti 
Cruz, julgado em 26/2/2014. 
 
c) Natureza Jurídica do Registro 
 
- A natureza jurídica do registro é variável. 
 
✓ EMPRESÁRIO: o registro é mera condição de irregularidade. Se o empresário não realizar o 
registro, ele não deixará de ser empresário. Apenas será tido como um empresário irregular. 
Em outras palavras, não é o registro que constitui a Pessoa Natural em empresário, mas sim o 
fato dela preencher os requisitos do Art. 966 do CC. 
 
Enunciado nº 198 da III Jornada de Direito Civil: “Art. 967: A inscrição do empresário na junta 
comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal 
providência. o empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do código 
civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante 
de expressa disposição em contrário”. 
 
Enunciado nº 199 – Art. 967: a inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador 
de sua regularidade, e não da sua caracterização. 
 
✓ EMPRESÁRIO RURAL: o registro tem natureza constitutiva, por força da redação do Art. 971 
do CC. Logo, o regime jurídico empresarial somente será aplicável ao empresário rural se ele 
realizar o registro. 
 
Enunciado nº 202 – ARTS. 971 E 984: o registro do empresário ou sociedade rural na junta comercial 
é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse 
regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. 
 
d) Principais consequências da ausência de registro 
 
 
 
• Dentre as principais consequências da ausência do registro, podemos destacar: 
 
(i) Não pode pedir recuperação judicial 
 
(ii) Não pode requerer a falência de terceiros 
 
(iii) Tratando-se de sociedade ou EIRELI, o sócio ou o titular respectivo terá responsabilidade ilimitada. 
 
 
Cuidado com pegadinhas!!! 
 
Exemplo: A sociedade empresária irregular não tem legitimidade ativa para pleitear a falência de 
outro comerciante, mas pode requerer recuperação judicial, devido ao princípio da preservação da 
empresa. ERRADO 
 
 
7.2. Escrituração dos livros comerciais 
 
A) Classificação dos livros 
 
• Livro Facultativo: são facultativos os livros que o empresário não está obrigado a escriturar (ex.: 
livro-caixa, livro-razão, livro conta corrente, etc…). 
 
• Livro Obrigatório 
 
• Obrigatório Especial: é aquele que o empresário está obrigado a escriturar apenas em 
casos excepcionais. 
 
• Obrigatório Comum: é o livro que todo empresário está obrigado a escriturar (ex.: livro-
diário). 
 
 
 
Art. 1.180 do CC/02: Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável 
o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração 
mecanizada ou eletrônica. 
 
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado 
para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. 
 
B) Consequências da escrituração irregular ou da ausência de escrituração 
 
- A ausência de escrituração não pode ser confundida com a irregularidade na escrituração. 
 
Novo Código de Processo Civil, Art. 417. Os livros empresariais provam 
contra seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos 
os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à 
verdade dos fatos. 
 
Novo Código de Processo Civil, Art. 418. Os livros empresariais que 
preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no 
litígio entre empresários. 
 
- A ausência de escrituração pode configurar crime; a irregularidade não. 
 
- Se a empresa entrar em crise e sofrer um processo de falência ou pleitear a recuperação (judicial ou 
extrajudicial), é bem possível que ela seja alvo de denúncia pela prática do crime falimentar previsto 
no Art. 178 da Lei 11.101/05. 
 
Art. 178 da Lei 11.101/05 - Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes 
ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação 
judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos 
de escrituração contábil obrigatórios: 
 
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui 
crime mais grave. 
 
C) Dispensa da escrituração 
 
- O pequeno empresário está dispensado de realizar a escrituração. Todavia, deve-se ter atenção para 
não se confundir o pequeno empresário com ME ou EPP. 
 
- A Microempresa, a Empresa de Pequeno Porte e o Microempreendedor Individual não constituem 
um 4º (quarto) tipo societário. Trata-se apenas de uma classificação realizada pelo legislador com o 
 
 
objetivo de conferir benefícios fiscais, previdenciários, dentre outros, a determinados empresários. 
Tais empresários podem se constituir de acordo com qualquer um dos 4 tipos societários, com exceção 
do Microempreendedor Individual (MEI), que só pode se constituir como empresário individual. O que 
os diferencia é o critério objetivo previsto nos incisos do Art. 3º da Lei nº 123/06. 
 
Art. 1.179 do CC/02: O empresário e a sociedade empresária são obrigados a 
seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na 
escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a 
documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e 
o de resultado econômico. 
 
§ 1° Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a 
critério dos interessados. 
 
§ 2° É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que 
se refere o art. 970. 
 
 
Microempresa (ME) Empresa de Pequeno Porte 
(EPP) 
Microempreendedor Individual 
(MEI) 
 
• Empresário 
individual 
• Sociedade 
empresária 
• EIRELI 
• Sociedade Simples 
 
 
• Empresário individual 
• Sociedade empresária 
• EIRELI 
• Sociedade Simples 
 
 
• Empresário individual 
 
 
 
 
Microempresa 
 
Empresa de Pequeno Porte 
 
Microempreendedor Individual 
 
 Valor igual ou inferior a 
R$ 360.000,00 
 
Valor superior a R$ 360.000,00 e 
igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 
 
Valor igual ou inferior a R$ 
81.000,00 
 
 
 
Art. 3° Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se 
microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a 
sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o 
empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 
2002 (Código Civil), devidamente registradosno Registro de Empresas 
Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde 
que: 
 
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta 
igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e 
 
II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, 
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e 
igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). 
 
Art.1º 
A Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, passa a vigorar 
com as seguintes alterações: Produção de efeito 
 
“Art. 3º.................................................................................. 
II – no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, 
receita bruta superior a R$ 360.000,00(trezentos e sessenta mil reais) e 
igual ou inferior a R$4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). 
 
D) Falsificação dos livros comerciais 
 
- A lei equipara o livro comercial a categoria dos documentos públicos, motivo pelo qual a sua 
falsificação faz com que o empresário incorra na prática de crime de falsificação de documento público. 
 
Art. 297 do CP - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou 
alterar documento público verdadeiro: 
 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. 
 
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado 
de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, 
as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento 
particular. 
 
E) Princípio da Sigilosidade 
 
- Os livros do empresário possuem informações muito importantes do ponto de vista 
empresarial/concorrencial. Por isso, a lei garante o sigilo destes documentos, ainda que tal regra 
comporte exceções pontuais. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp155.htm#art11
 
 
Art. 1.190 do CC/02: Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma 
autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar 
diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária 
observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei. 
 
• Exceções: 
 
a. Exibição total: a exibição total pode ser realizada somente quando a quebra do sigilo auxiliar 
o juiz a resolver questões relacionadas à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão 
à conta de outrem, ou em caso de falência. Em todo caso, é necessário requerimento da parte. 
 
Art. 1.191 do CC/02: O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros 
e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas 
à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de 
outrem, ou em caso de falência. 
 
Novo CPC, Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a 
exibição integral dos livros empresariais e dos documentos do arquivo: 
 
I - na liquidação de sociedade; 
 
II - na sucessão por morte de sócio; 
 
III - quando e como determinar a lei. 
 
b. Exibição parcial: pode ser determinada de ofício. 
 
Novo CPC, Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial 
dos livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao 
litígio, bem como reproduções autenticadas. 
 
Art. 1.193 do CC/02: As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da 
escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades 
fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos 
termos estritos das respectivas leis especiais. 
 
7.3. Demonstrativos contábeis periódicos 
 
a) Balanço patrimonial: é destinado a apurar os ativos e passivos da atividade empresarial. 
 
Art. 1.188 do CC/02: O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade 
e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, 
bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo 
e o passivo. 
 
 
 
B) Balanço de resultado econômico: é destinado a apurar o resultado da atividade empresarial em 
termos de lucros/perdas. 
 
“Art. 1.189 do CC/02: O balanço de resultado econômico, ou demonstração 
da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele 
constarão crédito e débito, na forma da lei especial.” 
 
7.4. Conservar em boa guarda toda a escrituração 
 
“Art. 1.194 do CC/02: O empresário e a sociedade empresária são obrigados 
a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais 
papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou 
decadência no tocante aos atos neles consignados.” 
 
8. NOME EMPRESARIAL 
 
8.1- Previsão Constitucional 
 
- O nome empresarial é garantido constitucionalmente. 
 
Art. 5°, XXIX da CF/88: a lei assegurará aos autores de inventos industriais 
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações 
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros 
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento 
tecnológico e econômico do País; 
 
8.2. Conceito 
 
- O nome empresarial é o elemento de identificação do empresário individual, sociedade empresária 
e da EIRELI no universo empresarial. O nome é necessário para participar de licitações, realizar 
contratos civis em geral, dentre outras modalidades de relação jurídica. 
 
8.3. Modalidades 
 
• Firma: pode ser (a) individual ou (b) social/razão social. 
 
• Denominação 
 
 
 
8. 4. Aplicação/Composição 
 
• Firma Individual 
 
✓ Aplicação: é aplicada para o empresário individual. 
 
✓ Composição: Nome civil do empresário (completo ou abreviado) 
 
 
Art. 1.156 do CC/02: O empresário opera sob firma constituída por seu nome, 
completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da 
sua pessoa ou do gênero de atividade. 
 
b) Firma Social 
 
✓ Aplicação: utiliza-se para a sociedade que possui sócio com responsabilidade ilimitada 
 
Ex.: sociedade em nome coletivo. 
 
✓ Composição: nome(s) do(s) sócio(s) (completo ou abreviado) 
 
 
Art. 1.157 do CC/02: A sociedade em que houver sócios de responsabilidade 
ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão 
figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e 
companhia" ou sua abreviatura. 
 
- Se a responsabilidade é ilimitada, o sócio responde com seus bens particulares pelas dívidas sociais. 
Logo, nada mais justo que o credor saiba quem é o sócio cujo patrimônio irá responder pela garantia 
de seu crédito. 
 
c) Denominação 
 
✓ Aplicação: aplica-se para a sociedade que possui sócio com responsabilidade limitada. 
 
✓ Composição: utiliza-se um elemento fantasia + ramo da atividade 
 
 
 
Ex.: Ki Fome Lanchonete, Divina Gula Doceria, etc... 
 
8.5. QUADRO GERAL 
 
 
Firma Denominação 
Empresário Individual (= 
responsabilidade ilimitada) 
TEM Não tem 
Sociedade em comandita 
simples (= o sócio comanditado 
tem responsabilidade ilimitada 
e o comanditário tem 
responsabilidade limitada). 
 
 
 
 
TEM 
 
 
Não tem 
Sociedade em nome coletivo (= 
todos os sócios tem 
responsabilidade ilimitada) 
 
TEM 
 
Não tem 
 
 
Firma Denominação 
 
S/A (= responsabilidade 
limitada) 
 
Não tem 
 
TEM 
Cooperativa (= 
responsabilidade limitada) 
 
Não tem 
 
TEM 
Sociedade LTDA TEM TEM (art. 1.158 CC) 
EIRELI TEM TEM (art. 980-A, §1°) 
 
 
Firma Denominação 
Sociedade em comandita por 
ações 
TEM TEM 
 
 
Sociedade em conta de 
participação (= sociedade 
despersonificada) 
Não tem Não tem 
 
 
✓ Sociedade anônima 
 
Art. 1.160. do CC/02: A sociedade anônima opera sob denominação 
designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade 
anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. 
 
 Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, 
acionista,ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da 
empresa. 
 
✓ Cooperativa 
 
 Art. 1.159 do CC/02 A sociedade cooperativa funciona sob 
denominação integrada pelo vocábulo "cooperativa” 
 
Obs. Cuidado com três exceções: 
 
✓ Sociedade limitada 
 
Art. 1.158 do CC/02: Pode a sociedade limitada adotar firma ou 
denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. 
 
§ 1° A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que 
pessoas físicas, de modo indicativo da relação social. 
 
§ 2° A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido 
nela figurar o nome de um ou mais sócios. 
 
§ 3° A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária 
e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a 
denominação da sociedade. 
 
✓ EIRELI, também pode ter firma ou denominação 
 
✓ Comandita por ações também pode ter firma ou denominação 
 
 
 
Art. 1.162 do CC/02: A sociedade em conta de participação não pode ter 
firma ou denominação. 
 
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território 
nacional, se registrado na forma da lei especial.

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