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Centro De Saude Mental_Barros_2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE TECNOLOGIA 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
ANA LETÍCIA AVELINO SILVA BARROS 
CENTRO DE SAÚDE MENTAL PELOS PRINCÍPIOS DA BIOFILIA 
Anteprojeto de um Centro de Saúde Mental para a cidade de Natal/RN 
NATAL / RN 
NOVEMBRO - 2019
2 
ANA LETÍCIA AVELINO SILVA BARROS 
CENTRO DE SAÚDE MENTAL PELOS PRINCÍPIOS DA BIOFILIA 
Anteprojeto de um Centro de Saúde Mental para a cidade de Natal/RN 
Trabalho Final de Graduação do Curso de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, apresentado no semestre 
letivo 2019.2 como requisito de obtenção do título 
de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. 
NATAL / RN 
NOVEMBRO - 2019 
Barros, Ana Leticia Avelino Silva.
 Centro de saúde mental pelos princípios da biofilia:
anteprojeto de um centro de saúde mental para a cidade de
Natal/RN / Ana Leticia Avelino Silva Barros. - Natal, RN, 2019.
 72f.: il.
 Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
 Orientadora: Luciana de Medeiros.
 1. Arquitetura hospitalar - Monografia. 2. Saúde mental -
Monografia. 3. Biofilia - Monografia. 4. Ambientes restauradores
- Monografia. I. Medeiros, Luciana de. II. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 725.51
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344
4 
ANA LETÍCIA AVELINO SILVA BARROS 
CENTRO DE SAÚDE MENTAL PELOS PRINCÍPIOS DA BIOFILIA 
Anteprojeto de um Centro de Saúde Mental para a cidade de Natal/RN 
Trabalho Final de Graduação do Curso de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, apresentado no semestre 
letivo 2019.2 como requisito de obtenção do título 
de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. 
Data de aprovação: __/__/____ 
BANCA EXAMINADORA 
____________________________________________ 
Professora Doutora Luciana de Medeiros – Orientadora 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
_____________________________________________ 
Membro Interno 
DARQ - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
_____________________________________________ 
Membro Externo 
NATAL / RN 
NOVEMBRO – 2019 
5 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente aos meus pais, Carlos e Maria José, por todo o carinho e 
educação que me deram diariamente ao longo dos anos. 
Aos meus irmãos, Beatriz e Paulo Vítor, e minha cunhada, Júlia, por auxiliarem no 
meu crescimento e, mesmo quando distantes, se fazerem presentes. 
Aos meus avós, por todo o amor incondicional que desde sempre me foi dado. 
À minha namorada, Bárbarah, por todo o carinho e cuidado que me possibilitaram 
chegar até aqui. Também à sua família, que desde o princípio me adotou como filha. 
Aos meus colegas de curso, especialmente Beatriz e Mansour, por serem minha 
família dentro da universidade. 
Agradeço também a todos os meus familiares, amigos e alunos, que contribuíram para 
o meu desenvolvimento e estiveram lá em cada etapa do processo.
Aos animais de estimação presentes em minha vida e aos que já se foram. 
À natureza, que nos deu a vida e que cuida de nós. 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Somos apenas hóspedes da natureza e 
devemos nos comportar de acordo. O homem 
hoje é a ‘praga’ mais perigosa que já devastou 
esta terra.” 
Friedensreich Hundertwasser 
7 
 
RESUMO 
Apesar de representar grande parte da população brasileira, os indivíduos sofrendo com 
transtornos mentais ainda enfrentam fortes dificuldades na busca por tratamento e ajuda 
profissional. O processo de terapia e cura pode ser extremamente desgastante, sensação essa 
potencialmente agravada pelas consequências do uso de espaços cuja arquitetura apresente 
atributos inadequados para a função de acolhimento e apoio a neuroatípicos. Ambientes 
intimidadores, áridos e desagradáveis contribuem negativamente para a relação do paciente 
com seu espaço de recuperação física e mental. Ao realizar o desenvolvimento de terapias em 
espaços propícios para a construção de relações agradáveis, de pertencimento, torna-se mais 
fácil a continuidade e qualidade do tratamento dos distúrbios mentais, colaborando para a 
recuperação do paciente. Os princípios da biofilia, a afinidade do ser humano com a natureza, 
podem entrar nesse aspecto facilitando, a partir de sua inserção nas diretrizes projetuais, a 
criação de ambientes agradáveis, prazerosos e acolhedores, os quais não colaborem 
negativamente ou mantenham-se neutros quanto aos tratamentos de problemas de natureza 
psicológica, mas sim sirvam como parte do processo de cura, de manutenção e recuperação da 
saúde mental de seus usuários. Dessa forma, o trabalho se propõe a analisar os princípios da 
arquitetura terapêutica voltada para ambientes de saúde mental a fim de desenvolver 
anteprojeto de um centro de saúde mental orientado pelos princípios da biofilia. 
 
Palavras-Chave: Arquitetura hospitalar; Saúde mental; Biofilia; Ambientes restauradores. 
 
 
 
 
 
 
 
8 
ABSTRACT 
Despite representing a large part of the Brazilian population, individuals suffering from 
mental disorders still face strong difficulties in seeking treatment and professional help. The 
process of therapy and healing can be extremely stressful, a sentiment that is potentially 
aggravated by the consequences of the use of spaces whose architecture has inadequate 
attributes for the welcoming and supporting of neurodivergent people. Sterile, intimidating 
and unpleasant environments hurt the patient's relationship with their space for physical and 
mental recovery. By carrying out the development of therapies in spaces that are adequate for 
the construction of pleasant connections, the continuity and quality of the treatment of mental 
disorders become easier, contributing to the patient's recovery. The principles of biophilia, the 
inclination of the human being towards nature, can enter this aspect by facilitating, when 
inserted in the project guidelines, the creation of pleasant and welcoming surroundings which 
do not negatively collaborate or remain neutral in face of treatments for psychological 
problems, but serve as part of the processes of healing, maintaining and recovering the mental 
health of its users. Thus, this paper proposes to analyze the principles of therapeutic 
architecture focused on mental health environments to develop the preliminary design of a 
mental health center guided by the principles of biophilia. 
Keywords: Hospital architecture; Mental health; Biophilia; Restorative environments. 
9 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1: Pintura de parede em jardim do Império Romano .................................................... 19 
Figura 2 - Lago artificial Paranoá e ponte Juscelino Kubitschek, Brasília............................... 20 
Figura 3 - Fotografia interna do Newport Health Center ......................................................... 24 
Figura 4 - Fotografia externa do Newport Health Center ......................................................... 24 
Figura 5 - Fotografia voo de pássaro de Clínica Viver Bem Psiquiatria .................................. 25 
Figura 6 - Pátio de Clínica Viver Bem Psiquiatria ................................................................... 26 
Figura 7 - Fachada de CAPS II Oeste ...................................................................................... 28 
Figura 8 - Croqui de implantação CAPS II Oeste .................................................................... 29 
Figura 9 - Vista superior de Lote 01 .........................................................................................32 
Figura 10 - Vista superior de Lote 02 ....................................................................................... 33 
Figura 11 - Rua dos Tororós e canteiro .................................................................................... 34 
Figura 12 - Localização do bairro de Lagoa Nova em Natal e localização do terreno no bairro
 .................................................................................................................................................. 35 
Figura 13 - Vegetação existente no terreno .............................................................................. 36 
Figura 14 - Ventilação predominante no terreno ...................................................................... 36 
Figura 15 - Trajetória do sol no terreno .................................................................................... 37 
Figura 16 - Zoneamento de entorno do terreno ........................................................................ 37 
Figura 17 - Setor de atividades silenciosas ............................................................................... 42 
Figura 18 - Setor de atividades barulhentas ............................................................................. 43 
Figura 19 - Setor de atendimento ............................................................................................. 43 
Figura 20 - Setor de espaço interno de convivência ................................................................. 44 
Figura 21 - Relação entre setores ............................................................................................. 45 
Figura 22 – Planta baixa preliminar da proposta ...................................................................... 46 
Figura 23- Croqui de implantação preliminar da proposta ....................................................... 47 
Figura 24 - Estudo volumétrico ................................................................................................ 48 
Figura 25 - Recorte de estudo volumétrico .............................................................................. 48 
Figura 26 - Volumetria em desenvolvimento ........................................................................... 49 
Figura 27 - Terreno com curvas de nível .................................................................................. 50 
Figura 28 – Implantação com passeios externos ...................................................................... 51 
Figura 29 - Planta de estacionamento ....................................................................................... 52 
Figura 30 - Implantação com rota de ambulância destacada .................................................... 53 
Figura 31 - Ambientes livres, restritos e parcialmente restritos ............................................... 54 
10 
 
Figura 32 - Planta baixa de bloco de acolhimento ................................................................... 55 
Figura 33 - Planta baixa do bloco de atividades coletivas ........................................................ 56 
Figura 34 - Planta baixa do bloco de atendimento ................................................................... 57 
Figura 35 - Tinta acrílica Coral Renova Creme ....................................................................... 58 
Figura 36 - Parede e jardineira em tijolo aparente ................................................................... 59 
Figura 37 - Madeiramento de cobertura em telha colonial ....................................................... 59 
Figura 38 - Cobertura em policarbonato e madeira .................................................................. 60 
Figura 39 - Cobertura do bloco de acolhimento ....................................................................... 61 
Figura 40 - Cobertura do bloco de atendimento ....................................................................... 61 
Figura 41 - Muro de alvenaria e madeira ................................................................................. 63 
Figura 42 - Gráfico de benefícios ............................................................................................. 65 
Figura 43 - Gráfico de malefícios ............................................................................................. 66 
Figura 44 - Horta elevada do Gramorezinho ............................................................................ 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento realizado com base em BRASIL 
(2015) ....................................................................................................................................... 39 
Tabela 2 - Dimensionamento de caixa d'água .......................................................................... 60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14 
1- A TEORIA DA BIOFILIA APLICADA À SAÚDE MENTAL ............................. 17 
2- REFERÊNCIAS PROJETUAIS ............................................................................... 23 
2.1 - NEWPORT HEALTH CENTER ......................................................................... 23 
2.2- CLÍNICA VIVER BEM ........................................................................................ 25 
2.3- CAPS II OESTE .................................................................................................... 26 
2.4- RESUMO DE DIRETRIZES ................................................................................ 29 
3- ANÁLISES INICIAIS DO PROJETO ..................................................................... 30 
3.1- CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA .............................................................. 30 
3.2- ESCOLHA DO TERRENO .................................................................................. 31 
3.2.1- CARACTERÍSTICAS DO TERRENO ................................................. 34 
3.2.2- CONDICIONANTES URBANÍSTICOS .............................................. 38 
4- EVOLUÇÃO DA PROPOSTA .................................................................................. 42 
4.1- SETORIZAÇÃO ................................................................................................... 42 
4.2- ESTUDOS DE IMPLANTAÇÃO ........................................................................ 44 
4.3- VOLUMETRIA E SOLUÇÃO FORMAL ........................................................... 47 
5- MEMORIAL DESCRITIVO ..................................................................................... 50 
5.1- IMPLANTAÇÃO, TOPOGRAFIA E ACESSOS ................................................ 50 
5.2- FLUXOS E RELAÇÕES FUNCIONAIS ............................................................. 53 
5.3- SOLUÇÕES GERAIS ........................................................................................... 58 
5.3.1- PAREDES .............................................................................................. 58 
5.3.2- COBERTURA ........................................................................................ 59 
5.3.3- PISOS E FORROS ................................................................................. 62 
5.3.4- ESQUADRIAS ...................................................................................... 62 
5.3.4- MUROS .................................................................................................. 62 
5.4- DIRETRIZES PAISAGÍSTICAS ......................................................................... 63 
13 
 
5.4.1- HORTA ORGÂNICA URBANA .......................................................... 65 
5.4.2- SETORIZAÇÃO DE JARDINS ............................................................ 66 
5.5- O NOME ...............................................................................................................68 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 69 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
INTRODUÇÃO 
De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que pelo menos 30% dos brasileiros 
tenham ou venham a ter problemas referentes à saúde mental, sendo a depressão, síndrome do 
pânico e ansiedade os principais problemas dessa categoria (BRASIL, 2019). Segundo a 
Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014), 
aproximadamente 700 milhões de pessoas no mundo sofrem de distúrbios de saúde mental, e 
os problemas dessa natureza ocupam metade das posições no ranking das dez principais 
causas de incapacidade. 
Apesar do estigma existente acerca da saúde mental e de todo o histórico de 
marginalização dos neurodivergentes, nas últimas décadas, a conscientização sobre o tema 
tem crescido, contribuindo para diminuir o tabu e tornar mais possível aos acometidos por 
problemas dessa categoria a busca por melhor qualidade de vida. 
A OMS por meio do Atlas de Saúde Mental 2017 divulgou que apesar de 139 países 
(mais de 70% das nações) terem instituído políticas e planos a respeito da saúde mental, 
menos da metade desses estão de acordo com a declaração dos direitos humanos, a qual 
enfatiza a necessidade de desviar o foco das instituições psiquiátricas e direcioná-lo a serviços 
baseados na comunidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). Os benefícios das 
práticas de desmanicomialização não são exclusivos aos pacientes e suas famílias, mas 
também abrangem a saúde pública e a economia dos países. Somente os problemas de 
depressão e ansiedade já custam à economia global mais de um trilhão de dólares a cada ano, 
um número que pode ser diminuído com as devidas políticas e investimentos visando à 
manutenção e recuperação da saúde mental dos indivíduos, uma vez que cada dólar 
despendido em tratamento desses transtornos mentais comuns reflete em um retorno de quatro 
dólares em melhores condições de saúde e trabalho, assim como evita os altos custos 
referentes à internação psiquiátrica de indivíduos (CHISHOLM et al., 2016). 
No Brasil, as políticas de desmanicomialização do sistema de saúde mental obtiveram 
um marco em 2001, quando foi sancionada a Lei Nº 10.216, comumente referida como Lei da 
Reforma Psiquiátrica. A lei em questão apresentava como diretriz principal a gradual 
desativação dos manicômios, inserindo os indivíduos com transtornos mentais na sociedade, 
além de garantir seu acesso a tratamento digno e de qualidade, assegurar que sua terapia se dê 
com respeito, livre de explorações e abusos, promover acesso a informações acerca das 
15 
doenças e tratamentos aos pacientes, prometer a preferência por tratamentos menos invasivos, 
entre outras políticas inclinadas ao tratamento digno dos pacientes e à busca por inclusão dos 
enfermos em suas comunidades. 
Após a Lei da Reforma Psiquiátrica, essas políticas foram gradualmente instauradas 
no sistema de saúde brasileiro, possibilitando à sociedade o usufruto de um sistema mais 
voltado à prevenção de casos extremos (em que a internação se faz necessária) e garantindo 
que, mesmo quando internados, os pacientes sejam tratados de forma a contribuir com sua 
recuperação. 
Entretanto, foi divulgado pelo governo federal brasileiro em 04 de fevereiro de 2019 
uma nota técnica baseada em portarias e resoluções publicadas nos anos de 2017 e 2018 (O 
GLOBO, 2019). Ele trazia, dentre outros pontos, novas políticas para o tratamento da saúde 
mental no Brasil, incluindo a compra de equipamentos de eletrochoque, inclusão de hospitais 
psiquiátricos na Rede de Atenção Psicossocial e a possibilidade de internação de crianças e 
adolescentes com distúrbios mentais. O documento em questão trouxe orientações que vão de 
encontro direto com as diretrizes apresentadas pela Lei da Reforma Psiquiátrica, 
apresentando-se como um retrocesso em toda a política social que tem passado por enormes 
avanços nas últimas três décadas. 
Duramente criticado por grande parte dos especialistas da área, o texto foi removido 
do ar dois dias após a publicação, entretanto, não é possível interpretar essa remoção como o 
fim dessas novas políticas. De acordo com o Ministério da Saúde, conforme relatado pelo 
jornal O Globo (2019), o documento, até o presente momento, ainda está em construção, 
atualmente em consulta interna ao Ministério visando à contribuição de diferentes setores e 
órgãos governamentais em seu desenvolvimento. 
Para os neuroatípicos, buscar ajuda profissional e o devido tratamento pode ser um 
processo extremamente desgastante, sensação essa agravada pelas configurações físicas de 
grande parte dos espaços de atendimento psicológico, psiquiátrico, neurológico e afins. Basta 
consultar o imaginário público acerca de ambientes de atenção ao doente mental para que seja 
rapidamente associado ao padrão de ambientes intimidadores, áridos e desagradáveis, 
características essas que contribuem negativamente para a relação do paciente com seu espaço 
de recuperação física e mental. 
16 
Durante muito tempo os locais de assistência à saúde mental foram tidos como 
espaços desagradáveis e inóspitos. Entretanto, mediante todas as mudanças ocorridas nas 
redes pública e privada de saúde mental, torna-se necessária a ressignificação desses espaços, 
a fim de converter os sítios de tratamento e o entendimento geral acerca deles em ambientes 
terapêuticos, de cura. Pois, quando em um espaço propício para a construção de relações 
agradáveis, de pertencimento, torna-se mais fácil a continuidade e qualidade do tratamento 
dos distúrbios mentais, colaborando para a recuperação do paciente. 
Os princípios da biofilia podem entrar nesse aspecto facilitando, a partir de sua 
inserção nas diretrizes projetuais, a criação de ambientes agradáveis, prazerosos e 
acolhedores, os quais não colaborem negativamente ou mantenham-se neutros quanto aos 
tratamentos de problemas de natureza psicológica, mas sim sirvam como parte do processo de 
cura, de manutenção e recuperação da saúde mental de seus usuários. 
Este trabalho apresenta a seguinte estrutura de pesquisa: 
 Objeto de estudo: Ambientes de assistência à saúde mental compreendidos
como recursos auxiliares à terapia em Natal/RN
 Objetivo geral: Elaborar o anteprojeto de um Centro de Saúde Mental privado
orientado pelos princípios da biofilia
 Objetivos específicos:
o Esclarecer a importância de espaços biofílicos na arquitetura
o Compreender as necessidades de espaços voltados para a manutenção
da saúde mental
o Aplicar os princípios da biofilia na criação de espaço restaurador
O texto é dividido em cinco principais capítulos. No primeiro capítulo é apresentada a 
teoria da biofilia relacionando sua aplicação na arquitetura voltada para a saúde, 
principalmente em ambientes de saúde mental. No segundo capítulo são apresentadas as 
referências projetuais analisadas. O capítulo seguinte mostra as análises iniciais do projeto, 
incluindo características da proposta e do terreno escolhido. O quarto capítulo expõe o 
processo evolutivo da proposta. O capítulo final apresenta o memorial descritivo da proposta 
final assim como as justificativas de algumas escolhas projetuais. 
17 
 
1. A TEORIA DA BIOFILIA APLICADA À SAÚDE MENTAL 
O entomologista e biólogo americano Edward Wilson, em seu livro Biophilia (1984) 
apresentou o termo “biofilia” como uma forma de explicar a relação entre as pessoas e a 
natureza, definindo o novo termo como a tendência inata ao ser humano de focar na vida e em 
seus processos. Beatriz Fedrizzi (2011), graduada em agronomia e doutora na área de 
paisagismo, apresenta o conceito de biofilia como referente à ideia que durante a evolução da 
espécie humanaos aspectos dos ambientes naturais foram críticos para a sobrevivência e 
seleção natural da espécie, e os seres têm sido preparados pelo processo evolutivo para 
interagir com o meio ambiente, aprendendo e retendo respostas positivas à natureza. 
Wilson (1984) defende a ideia da dualidade na existência humana entre a natureza e a 
máquina. Esse dualismo também foi mencionado pelo geógrafo sino-americano Yi-Fu Tuan, 
em seu livro Topofilia (1974), no qual ele discorre acerca da existência de um equilíbrio em 
um ambiente ideal, espaço esse constantemente buscado pelos seres humanos. 
Os seres humanos persistentemente têm procurado um meio ambiente ideal. Como 
ele se apresenta, varia de uma cultura para outra, mas em essência parece acarretar 
duas imagens antípodas: o jardim da inocência e o cosmo. Os frutos da terra 
fornecem segurança, corno também a harmonia das estrelas, que além do mais, 
fornecem grandiosidade. Deste modo nos movemos de um para outro: de sob a 
sombra do baobá para o círculo mágico sob o céu; do lar para a praça pública, do 
subúrbio para a cidade; dos feriados praianos para o deleite das artes sofisticadas; 
procurando um ponto de equilíbrio que não é deste mundo. (YI-FU TUAN, 1974, p. 
288). 
De acordo com Wilson (1984), o ser humano teria exageradamente negado a sua 
proximidade com a natureza, acelerando o curso da humanidade em direção à antípoda, 
representada pela máquina, e ignorando a necessidade de proporcionalidade entre os aspectos 
mencionados. A população estaria, então, enfrentando a precisão de retomar esse vínculo, 
enfraquecido pela extrema urbanização do meio em que se vive. Wilson (1984) defende a 
ideia que o Homo Sapiens naturalmente, desde a infância, foca sua atenção em si mesmos e 
em outros seres vivos, e esse desejo, chamado por ele de biofilia, dá-se de forma inata. 
Segundo o seu propositor, a tendência biofílica é facilmente evidenciada na vida cotidiana e 
também refletida em padrões culturais repetidos por sociedades ao redor de todo o mundo. 
Esses processos aparentam fazer parte das programações cerebrais. Eles são 
marcados pela rapidez e determinação com a qual nós aprendemos coisas específicas 
sobre certos tipos de plantas e animais. Eles são muito consistentes para serem vistas 
como o resultado de eventos puramente históricos sob uma tela mental em branco. 
(WILSON, 1984, p.85). 
18 
 
 O biólogo Charles Darwin, em 1832, durante visita ao Brasil, ao se deparar pela 
primeira vez com a floresta tropical em Niterói, RJ, exclamou ser quase impossível passar 
uma ideia adequada dos sentimentos superiores os quais são exaltados pela visão da natureza, 
mencionando a maravilha, o espanto e a devoção sublime como alguns dos sentimentos que 
enchem e elevam a mente nessas circunstâncias (PLEINS, 2013). Edward Wilson, em visita 
ao Suriname para estudar formigas e cupins, ao encontrar-se em um pequeno vilarejo próximo 
a uma floresta, decidiu explorar o bioma em questão. Ao adentrar a floresta, Wilson notou os 
efeitos estranhamente calmantes da sua imersão na natureza, a respiração e os batimentos 
cardíacos diminuindo e a concentração se intensificando (WILSON, 1984). 
Reações dessa natureza não são exclusivas aos estudiosos das ciências naturais. De 
acordo com Wilson (1984), é fácil verificar a presença da biofilia na vida cotidiana, uma vez 
que o ser humano se inclina naturalmente à exploração daquilo que é vivo. Ele defende sua 
teoria de que o humano sente uma necessidade intrínseca a si de explorar a vida, ainda que 
estejam presentes as adversidades do meio selvagem, como bichos venenosos e peçonhentos, 
plantas tóxicas e enormes riscos de doenças e acidentes impactarem a integridade física do 
explorador. Segundo Wilson, o naturalista moderno faz uso das ferramentas da vida 
urbanizada (medicamentos, repelentes, bússolas e outros equipamentos) para diminuir os 
riscos da selva, ao mesmo tempo em que possibilita o contato entre a pessoa e a natureza. 
As pessoas reagem mais rápida e plenamente aos organismos do que às máquinas. 
Eles vão entrar na natureza, explorar, caçar e cultivar, se tiverem a chance. Eles 
preferem entidades que são complicadas, crescentes e suficientemente imprevisíveis 
para serem interessantes. Eles estão inclinados a tratar suas engenhocas mais 
formidáveis como coisas vivas ou, pelo menos, adorná-las com águias, frisos florais 
e outros emblemas representativos da percepção humana peculiar da verdadeira vida. 
(WILSON, 1984, p. 116). 
O geógrafo Yi-Fu Tuan, assim como o ornitólogo e ecologista americano Gordon 
Orian e o microbiologista franco-americano René Dubos, apresentou a ideia do lugar ideal 
para o ser humano possuindo características semelhantes à de uma savana tropical (WILSON, 
1984). A humanidade tem investido suas energias no objetivo de reproduzir ambientes 
parecidos com savanas em seus jardins, buscando espaços abertos balanceados, formados de 
paisagens não estéreis, que apresentam ordem, mas não perfeita simetria (WILSON, 1984). 
Edward Wilson (1984) menciona ainda a teoria de Gordon Orian, a qual elenca três 
pontos principais que caracterizam o ambiente ancestral que o ser humano evolutivamente 
buscaria. Essas características seriam: a abundância de alimentação na própria savana (de 
19 
 
fontes animais e vegetais), alívio topográfico (pontos de vantagem em relação à segurança e 
abrigos naturais) e a presença de rios e lagos (que poderiam prover animais e plantas 
comestíveis para a alimentação). A associação desses três fatores constituiria o ambiente 
preferível: arborizado, localizado em proeminências e que possibilite visão de corpos de água. 
A preferência humana por essa tipologia natural não se daria apenas por motivos evolutivos, 
mas também por um senso estético comum o qual interpretaria essa constituição física como a 
situação mais agradável. 
Aqueles que exercem o maior grau de livre arbítrio, os ricos e poderosos, 
congregam-se em terras altas acima de lagos e rios e ao longo de penhascos 
oceânicos. Nesses locais, eles constroem palácios, vilas, templos e retiros 
corporativos. (...) Em Pompéia, os romanos construíam jardins ao lado de quase 
todas as pousadas, restaurantes e residências particulares, a maioria possuindo os 
mesmos elementos básicos: árvores e arbustos artisticamente espaçados, camas de 
ervas e flores, piscinas e fontes, e estatuária doméstica. (WILSON, 1984, p. 110). 
 Ainda no que remete às construções e intervenções arquitetônicas, Wilson (1984) 
elenca dois exemplos de aplicação da biofilia, ainda que desenvolvidos antes do início do uso 
dessa terminologia. O primeiro faz referência aos pátios internos em cidades do Império 
Romano, que, quando não possuíam espaço suficiente para suportar grande quantidade de 
vegetação, tinham suas paredes pintadas com imagens da natureza (animais e plantas) a fim 
de promover a sensação de maior integração entre os ambientes interno e externo (Figura 1), 
diminuindo o afastamento entre o ser civilizado e a natureza. 
Figura 1: Pintura de parede em jardim do Império Romano 
 
Fonte: Paul Williams, 2019 
20 
 
O segundo exemplo diz respeito a intervenções em maior escala, no contexto 
urbanístico. Em visita ao Brasil, a fim de explorar a savana brasileira, o cerrado, Wilson 
visitou a cidade de Brasília. Lá o biólogo pode, além de admirar os altos prédios e 
monumentos, discutir com cientistas brasileiros o cinturão verde e o lago artificial (Figura 2) 
que foram projetados e executados para atribuir à existência humana no local características 
mais toleráveis (WILSON, 1984). 
Não muito tempo atrás eu me juntei a um grupo de cientistas brasileiros em uma 
excursão pela savana de terras altas, o cerrado, ao redor da capital de Brasília. (...) 
Foi, todos concordaram, muito bonito. De tais sentimentos, Melville escreveu: “Se 
Niagara fosse uma catarata de areia, você viajaria seus mil quilômetros para vê-lo?”(WILSON, 1984, p. 113). 
Figura 2 - Lago artificial Paranoá e ponte Juscelino Kubitschek, Brasília 
 
Fonte: Wikipédia, 2019 
 
Tendo sido Brasília uma cidade encomendada, cujo desenho urbano original se fez de 
maneira estudada e planejada, é possível entendê-la como um exemplo prático das demandas 
que se fazem necessárias para garantir a vivência com maior qualidade, especialmente em 
uma região do país notadamente seca e árida. 
Com o desenvolvimento e a crescente urbanização dos grupos populacionais em todo 
o mundo, o estudo dos efeitos psicofisiológicos do ambiente nos usuários se tornou cada vez 
mais relevante. Distantes da realidade bucólica do meio rural, a vida em meio urbano e a 
dinâmica acelerada e árida dos grandes centros podem contribuir para existência de maiores 
níveis de estresse e outras emoções negativas no cotidiano dos habitantes. 
Os espaços podem auxiliar o aparecimento de sensações prejudiciais, assim como 
possuem a capacidade de promover sensações benéficas. A partir de trabalhos desenvolvidos 
por Roger Ulrich, Rachel Kaplan e Stephen Kaplan, surgiu o termo ambientes restauradores 
21 
 
como nomenclatura para espaços que contribuem com o desenvolvimento de emoções 
positivas em seus frequentadores (GRESSLER; GÜNTHER, 2013). 
Os estudos dos efeitos de ambientes restauradores se dividem em duas principais 
teorias: de redução do estresse (ULRICH, 1983) e de restauração da capacidade de atenção 
direta e melhora cognitiva (KAPLAN; KAPLAN, 1989). De acordo com Gressler e Günther 
(2013), apesar de distintas, as teorias não são excludentes, de forma que esses processos 
podem acontecer simultaneamente. A teoria de redução do estresse embasou diversas 
pesquisas, majoritariamente estudos relacionados ao bem-estar humano e à relação positiva 
com a natureza e os ambientes naturais (GRESSLER; GÜNTHER, 2013). 
Segundo a abordagem de Ulrich, estar cercado por fatores que estimulam a 
aproximação e desencorajam certos comportamentos é fundamental para o bem estar 
e a sobrevivência humana. As experiências de ambientes físicos, visualmente 
prazerosos, podem auxiliar na redução do estresse, uma vez que desencadeiam 
emoções positivas, mantêm o estado de atenção não vigilante, diminuem os 
pensamentos negativos e possibilitam o retorno à excitação fisiológica 
(physiological arousal) para níveis mais moderados. (...) Ulrich (1983) considerou 
alguns aspectos da natureza como capazes de promover recuperação psicofisiológica 
ao estresse, como a água e a vegetação, principalmente gramados e árvores. 
(GRESSLER; GÜNTHER, 2013, p. 489). 
A hipótese da Biofilia, desenvolvida por Edward Wilson (1984) reforça o conceito de 
Ulrich (1983) de reações psicofisiológicas positivas serem desencadeadas pelo contato com a 
natureza. O conceito de biofilia de Wilson (1984) também pode ser aplicado à teoria da 
restauração da atenção de Rachel e Stephen Kaplan, a qual explora como os ambientes podem 
servir como alívio para pessoas sofrendo de fadiga mental (após horas de concentração da 
atenção ou devido ao estresse da vida cotidiana), colaborando para o descanso mental e a 
retomada da atenção (GRESSLER; GÜNTHER, 2013). 
Apesar de não relacionarem os espaços restauradores com a natureza de forma tão 
direta como Ulrich (1983) e Wilson (1984), diversos dos aspectos ambientais estudados por 
Rachel e Stephen Kaplan que poderiam contribuir para a recuperação da atenção nos usuários, 
dentre eles a fascinação, extensão, afastamento e compatibilidade (GRESSLER; GÜNTHER, 
2013), podem ser encontrados na relação do ser humano com a natureza. 
S. Kaplan (1995) argumentou que os indivíduos necessitam de um esforço constante 
para não perderem o foco de sua atenção direta para algo mais interessante (...) 
desencadeando um processo de fadiga. Os efeitos negativos da fadiga provocada 
pela atenção direta são: a irritabilidade, a falta de habilidade para planejar, a 
sensibilidade reduzida para perceber sinais ligados às relações interpessoais, o 
22 
 
controle pessoal reduzido e o aumento de erros em atividades que exigem atenção 
direta. (GRESSLER; GÜNTHER, 2013, p. 489). 
As principais teorias referentes aos benefícios trazidos por ambientes restauradores 
para a realidade de seus usuários se estruturam na ideia que esses ambientes podem conferir 
aos frequentadores maior qualidade de vida, reduzindo os impactos negativos do meio urbano 
nos indivíduos. Roger Ulrich (1983), R. Kaplan e S. Kaplan (1989) em seus estudos relatam 
aumento da capacidade cognitiva, redução do estresse e restauração da capacidade de atenção 
direta em frequentadores de ambientes restauradores. Com o passar dos anos, os princípios da 
psicologia ambiental e os conceitos que guiam a elaboração de espaços restauradores têm sido 
aplicados, cada vez mais, na arquitetura hospitalar a fim de promover recuperação mais rápida 
e tratamento mais eficiente a pacientes. 
Das áreas da saúde, uma das que mais se beneficiaria da aplicação dos princípios de 
ambientes restauradores no tratamento dos pacientes é o campo da saúde mental. No contexto 
da saúde mental, os usuários se constituem majoritariamente de pacientes, familiares e 
profissionais da saúde, grupos os quais podem se beneficiar de locais que reduzam o estresse 
e promovam o bem-estar, principalmente para abrigar os processos de tratamento e cura dos 
pacientes. Ambientes restauradores também podem contribuir com o alívio da fadiga mental 
daqueles que lidam diariamente no âmbito pessoal e profissional com acometidos de doenças 
mentais. 
De acordo com Kaplan e Kaplan (1989), alguns dos efeitos negativos da fadiga mental 
incluem agir de forma imprudente, incompetente e não cooperativa, além de apresentar menor 
tendência a ajudar alguém em necessidade. Indivíduos sofrendo de fadiga mental também são 
mais agressivos, menos tolerantes e menos sensíveis a sinais ligados às relações interpessoais. 
Esses efeitos são indesejáveis a profissionais da saúde mental, aos pacientes, e aos seus 
familiares e acompanhantes, uma vez que o processo de diagnóstico e tratamento, bem como 
o dia a dia de neuroatípicos deve ser administrado de forma cautelosa, sempre levando em 
consideração os sentimentos e o bem-estar dos pacientes. 
A aplicação da hipótese da Biofilia (WILSON, 1984) na concepção de espaços 
voltados para o diagnóstico e tratamento de doenças mentais se faz relevante como uma 
estratégia de atribuir a esses espaços características de ambientes restauradores, contribuindo 
para maior qualidade dos serviços e terapias oferecidos, para a recuperação do paciente e a 
manutenção de seu lugar dentro da sociedade. O uso da natureza em ambientes de apoio à 
23 
 
saúde mental também pode contribuir para afastar o usuário do meio urbano, causador e 
complicador de diversas neuropatias, integrando-o a um local mais tranquilo, distante da 
aridez do meio urbano e da correria dos grandes centros. 
2. REFERÊNCIAS PROJETUAIS 
A fim de contribuir para o desenvolvimento de proposta de um centro de saúde mental 
orientado pelos princípios da biofilia, foram analisadas referências de edificações biofílicas, 
bem como projetos e instituições que apresentem usos focados em tratamento de saúde mental 
humanizado. 
2.1 NEWPORT HEALTH CENTER 
Localizado em Newport, Washington, o Newport Health Center, edificação de 
aproximadamente 1.600m², foi desenvolvido pela empresa NAC Architecture usando como 
princípio a ideia de cura pela natureza, utilizando do design biofílico para evoluir o processo 
de tratamento e recuperação dos pacientes. Apesar de não oferecer serviços de saúde mental, 
o projeto do Newport Health Center se faz relevante como referência nesta pesquisa por 
relacionar a arquitetura biofílica com o andamento terapêutico dos pacientes desde a 
concepção projetual. 
A edificação também apresenta características físicas e estéticas semelhantes ao 
idealizado para o Centrode Saúde Mental, utilizando-se de elementos da natureza para 
transmitir a ideia de imersão no meio ambiente. Conforme ilustra a Figura 3, o uso de madeira 
na estrutura da cobertura e no forro, associado às janelas amplas (as quais provém iluminação 
natural e visual das plantas externas) contribui para a sensação de estar em contato direto com 
a vegetação, mesmo dentro do edifício. 
24 
 
Figura 3 - Fotografia interna do Newport Health Center 
 
Fonte: NAC inc., 2019 
No exterior (Figura 4), o uso de pedras e madeira na composição das fachadas e o 
gabarito baixo atribuem à edificação caráter menos intimidador, afastando o conceito de 
arquitetura hospitalar pouco acessível. As qualidades tranquilizantes do Newport Health 
Center estão diretamente ligadas ao uso de materiais naturais, à relação modesta da 
construção com seu entorno e à presença de vegetação dentro do lote e nos seus arredores. 
Figura 4 - Fotografia externa do Newport Health Center 
 
Fonte: NAC inc., 2019 
25 
 
2.2 CLÍNICA VIVER BEM 
Apesar do termo cunhado por Wilson (1984), biofilia, não ser popularmente utilizado 
no contexto brasileiro de arquitetura e design, é possível encontrar exemplos da aplicação de 
propriedades da natureza em edificações brasileiras. Mesmo não usando termos da psicologia 
ambiental, a clínica Viver Bem Psiquiatria, localizada em Camboriú, Santa Catarina, anuncia 
como parte de suas estruturas área de lazer cercada por natureza e horta orgânica. De acordo 
com o site da instituição, a missão da empresa é de tratar pacientes neuroatípicos de forma 
humanizada a fim de promover saúde mental. 
Conforme ilustrado na Figura 5, a clínica mantém os espaços de jardim separados da 
região de fluxo de carros, colaborando para maior segurança dos pacientes no acesso às áreas 
externas. Além disso, faz uso de plantas habitualmente encontradas no Brasil, de forma que 
existe maior compatibilidade (GRESSLER & GÜNTHER, 2013) entre a realidade dos 
pacientes e a vegetação existente no lote. 
Figura 5 - Fotografia voo de pássaro de Clínica Viver Bem Psiquiatria 
 
Fonte: http://bemviverpsiquiatria.com.br/, 2019 
 A existência de mobiliário e passeios ao ar livre (Figura 6) estimula a apropriação do 
espaço externo por parte dos frequentadores da clínica, possivelmente aumentando o tempo 
gasto pelos pacientes e outros usuários em contato com a natureza. Ao maximizar a interação 
do público com os atributos restauradores do projeto, o aparecimento de efeitos 
psicofisiológicos provenientes dos espaços biofílico se torna mais provável. 
26 
 
Figura 6 - Pátio de Clínica Viver Bem Psiquiatria 
 
Fonte: http://bemviverpsiquiatria.com.br/, 2019 
Além das características físicas, a Clínica Viver Bem Psiquiatria foi utilizada como 
referência por apresentar serviços semelhantes ao desejado para o projeto do Centro de Saúde 
Mental. Na mesma edificação são ofertados diversos serviços terapêuticos, de forma a 
centralizar o tratamento dos pacientes de saúde mental em um só espaço. Devido à maior 
sensibilidade aos arredores causada por algumas neuropatias, o processo de adaptação do 
paciente a diferentes ambientes pode ser desgastante, dificultando o tratamento. Ao focar 
diferentes atividades em uma só edificação, de preferência de pequeno ou médio porte, 
aumenta-se a capacidade de apropriação do ambiente por parte do paciente, contribuindo 
positivamente com o processo de cura. 
Diferentemente da proposta para o Centro de Saúde Mental, a Clínica Viver Bem 
oferece internação para pacientes com distúrbios psiquiátricos ou dependência química. A 
concentração dos diferentes serviços em uma só edificação é mais comum quando existe a 
oferta de leitos. Ao utilizar a Clínica como referência no processo de desenvolvimento da 
proposta e listagem do programa de necessidades, devem ser desconsiderados os ambientes 
existentes na mesma voltados para o segmento de internação. 
2.3 CAPS II OESTE 
No contexto do SUS, a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) conta com pontos de 
atendimento para assistir pacientes de saúde mental, os CAPS (Centro de Atenção 
27 
 
Psicossocial), existentes em seis diferentes modalidades. Apesar do Centro de Saúde Mental 
que se propõe não fazer parte do SUS, optou-se por utilizar um CAPS como estudo de caso 
devido à proximidade dos usos realizados com o idealizado para a proposta. 
O CAPS II Oeste, localizado em Natal, no bairro de Lagoa Nova, faz parte da 
modalidade II desses pontos de atendimento. Essa modalidade trabalha com assistência ao 
portador de transtorno mental grave, funcionando pela manhã e pela tarde de segunda a sexta-
feira. De acordo com a direção do Centro de Atenção, a unidade possui, atualmente, cerca de 
mil prontuários abertos e por abrir, abrigando em média 50 pacientes por turno. 
Seguindo os princípios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, o objetivo do CAPS é 
a ressocialização dos pacientes, dispondo do apoio de equipe multidisciplinar. O CAPS II 
Oeste conta com psicólogo, psiquiatra, nutricionista, farmacêutico e terapeuta ocupacional. 
Aderindo proposta de tratamento terapêutico, é ofertado atendimento coletivo e individual 
pelos princípios do Projeto Terapêutico Singular (TPS). Esse projeto garante a adaptação da 
abordagem ao paciente respeitando suas necessidades individuais, uma vez que alguns 
pacientes precisam trabalhar a coletividade, ressocializando-os, enquanto outros precisam de 
abordagem de tratamento mais particular. Utilizando por princípio as orientações do 
Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), na realidade do CAPS deve ser mantida a ideia de um 
espaço de inclusão, de portas abertas (física e metaforicamente). Portanto, os espaços no 
CAPS II Oeste são de acesso majoritariamente livre aos pacientes, limitando a entrada em 
poucos casos. 
A ideia de organização e uso dos espaços é dificultada pela estrutura da sede, uma casa 
alugada pelo governo municipal a mais de treze anos. A título de exemplo, o banheiro dos 
funcionários, o único que dispõe de chuveiro, localiza-se dentro da sala administrativa. 
Havendo a necessidade de uso do chuveiro por parte dos pacientes, o banheiro dos 
funcionários (atualmente usado por funcionários dos sexos masculino e feminino) é 
disponibilizado. Dependendo do paciente, faz-se necessário atendimento mais privativo, 
necessidade essa dificultada pelo fluxo existente na sala administrativa para uso do banheiro. 
Outro obstáculo encontrado é a falta de espaço destinado aos funcionários, os quais 
almoçam no local de trabalho e raramente dispõem de tempo distantes dos frequentadores. A 
fim de oferecer aos funcionários um espaço para realização de refeições foi improvisada a 
28 
 
copa, entretanto, não existe a devida proteção solar nas aberturas, tornando o espaço 
desagradável e inviável para a permanência. 
O CAPS II Oeste, em particular, foi escolhido para uso como referência por dispor de 
uma fachada frontal (Figura 7) com forte presença de vegetação, indicando possível desejo 
dos responsáveis em estreitar o vínculo entre os frequentadores e a natureza, suposição 
confirmada em entrevista com Rafaela Pessoa, diretora da unidade. Durante a entrevista a 
importância do uso de natureza no tratamento de pacientes com transtornos mentais graves foi 
reforçado pela diretora. 
Figura 7 - Fachada de CAPS II Oeste 
 
Fonte: Google Maps, 2019 
Devido às limitações estruturais não é possível oferecer na casa muitas atividades com 
a natureza, porém, o CAPS II Oeste possibilita como parte dos serviços terapêuticos 
atividades de colaboração com as hortas orgânicas localizadas nos fundos do lote, conforme 
ilustrado pela Figura 8. Também são conduzidas, duas vezes por semana, visitas ao Bosque 
das Mangueiras, localizado a duas ruas de distância da sede do CAPS. Lá são oferecidas 
atividades de expressão corporal e atividade física, além da contemplação da natureza, como 
parte do tratamento. Asatividades no Bosque se fazem possíveis uma vez que o uso do 
território faz parte da proposta da RAPS para a ressocialização dos pacientes. 
 
29 
 
Figura 8 - Croqui de implantação CAPS II Oeste 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A diretora do CAPS II Oeste comentou a importância da adaptabilidade dos espaços. 
De acordo com ela, os ambientes são usados com múltiplas finalidades, uma vez que na 
realidade dos Centros de Atenção Psicossociais as necessidades do dia a dia são relativamente 
imprevisíveis. Salas originalmente destinadas ao atendimento individual de pacientes podem 
ser temporariamente revertidas para espaços de descanso dos clientes ou para locais de 
reuniões privadas com funcionários. Dessa forma, é importante certificar o cumprimento das 
demandas existentes em instituições dessa natureza a fim de evitar uso improvisado dos 
espaços, e, ao mesmo tempo, conferir aos espaços alguma adaptabilidade. 
2.4 RESUMO DE DIRETRIZES 
Os estudos expostos contribuíram para a listagem de elementos projetuais 
considerados desejáveis na proposta de centro de saúde mental pelos princípios da Biofilia. 
Apesar da proposta não fazer parte da RAPS, a leitura e a análise de manual desenvolvido 
pelo Ministério da Saúde para o desenvolvimento de projetos de CAPS (BRASIL, 2015) 
auxiliaram o processo de elaboração de diretrizes projetuais. 
30 
 
As diretrizes mais relevantes são: 
● Uso de materiais naturais 
● Visual aberta para vegetação e espaço externo 
● Edificação de único pavimento 
● Divisão entre rota do carro e espaço de livre trânsito de pedestres 
● Espaços de permanência em contato (direto ou indireto) com a natureza 
● Acesso livre de pacientes à maior parte da edificação 
● Ampla área verde 
● Circulação integrada aos espaços de convivência 
● Criação de espaço central unindo diferentes setores da edificação 
● Acessibilidade das áreas abertas a pessoas com mobilidade reduzida 
3. ANÁLISES INICIAIS DO PROJETO 
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA 
A ideia do Centro de Saúde Mental parte do princípio de reunir em um único 
estabelecimento diferentes segmentos do tratamento do paciente com transtorno mental. Ao 
centralizar atividades distintas em uma só edificação, o paciente teria a possibilidade de fazer 
do espaço uma extensão de seu lar. É imaginado o funcionamento do centro em horário 
comercial. 
A fim de permitir maior apropriação do espaço por parte dos pacientes, o centro deve 
apresentar características físicas não monumentais ou intimidadoras. Além disso, para manter 
relação de pertencimento dos clientes com o espaço, limita-se a quantidade de pacientes por 
turno em quarenta. 
Por meio da análise do manual do Ministério da Saúde para construção de CAPS 
(BRASIL, 2015) e das referências, bem como a listagem de funções imaginadas para o Centro 
de Saúde Mental foram identificadas algumas demandas relevantes à proposta. São elas: 
● Espaço para atendimento individual 
● Espaço para atendimento coletivo 
● Espaço para atividades coletivas 
● Espaço para yoga, meditação e outras atividades motoras 
● Espaço de acolhimento 
31 
 
● Espaço interno de convivência 
● Espaço externo de convivência 
● Espaço destinado a horta 
● Espaço para descanso de pacientes 
● Espaço restrito a funcionários 
3.2 ESCOLHA DO TERRENO 
Por se tratar de um estabelecimento privado, não há exigência de considerar a inserção 
da proposta dentro da Rede de Atenção Psicossocial, ainda assim, analisou-se a atual oferta de 
serviços de natureza semelhante a fim de estabelecer a área de intervenção da proposta. A 
partir dessa análise foi constatada a presença de CAPS nas principais regiões da cidade. 
A escolha do terreno teve como base a preferência por áreas centrais, com fácil acesso, 
área suficiente para implantação do edifício e características relacionadas à ambiência 
desejada ao entorno. Foram identificadas, a princípio, as zonas administrativas de preferência 
usando como princípio o conhecimento da autora de cada uma das áreas da cidade e o 
entendimento de quais seriam as zonas em que a proposta melhor se encaixaria. Dessa forma, 
foram identificadas a Zona Sul e a Zona Leste de Natal. 
Posteriormente, dos dezenove bairros que compõem essas duas zonas administrativas, 
foram elencados sete seguindo os mesmos critérios aplicados às zonas da cidade. Esses sete 
bairros foram, então, listados em ordem decrescente de compatibilidade com a proposta de 
uso. A listagem pode ser observada a seguir: 
● Lagoa Nova 
● Lagoa Seca 
● Candelária 
● Capim Macio 
● Nova Descoberta (especificamente a região referente a Morro Branco) 
● Ponta Negra 
● Tirol 
Por meio de uso das ferramentas Google Maps e Google Earth, foram buscados 
terrenos com áreas superiores a 2.000m², visto que, a fim de aplicar os princípios da biofilia e 
dispor de ampla área verde, o lote não poderia ter área muito reduzida. Cada um dos terrenos 
32 
 
foi analisado com base em diferentes características desejadas (mas não obrigatórias) no lote a 
ser escolhido. Essas características são: 
● Pouco ruído 
● Não muito tráfego ao redor 
● Não muito isolado 
● Espaçoso 
● Visual interessante 
Então, foram selecionados cinco terrenos que mais atendiam as características 
desejadas. Além dos aspectos mencionados, os cinco lotes tiveram seus entornos, sua 
topografia e suas características bioclimáticas analisadas, reduzindo as opções para apenas 
dois lotes. 
O Lote 01 (Figura 9), localizado na Vila de Ponta Negra, no encontro das ruas José 
Bragança e José Seledom, possui área de aproximadamente 3.300m² e é situado ao lado da 
ZPA (Zona de Proteção Ambiental) 6, o Morro do Careca. Dentre as desvantagens do lote 
podem ser citadas sua topografia acidentada e sua localização dentro de uma ilha de calor 
gerada pelo Morro do Careca. 
Figura 9 - Vista superior de Lote 01 
 
Fonte: Google Maps, 2019 
33 
 
O Lote 02 (Figura 10) é localizado no bairro de Lagoa Nova, no encontro entre a 
Avenida Lima e Silva e a Rua dos Tororós. Sua área também totaliza aproximadamente 
3.300m². Enquanto o diferencial do Lote 01 é sua localização visualmente privilegiada, 
facilitando a aplicação de aspectos biofílicos devido à ampla existência de vegetação no 
entorno, o maior diferencial do Lote 02 é sua localização privilegiada na cidade, em uma área 
central e com fácil acesso por veículo particular ou por meio de transporte público. 
Figura 10 - Vista superior de Lote 02 
 
Fonte: Google Maps, 2019 
Quanto à vegetação, a Rua dos Tororós, uma das três ruas a limitar o terreno, dispõe 
de canteiro consideravelmente arborizado na área próxima ao lote, conforme ilustra a Figura 
11. No interior do Lote 02 existem duas árvores frutíferas de grande porte (uma mangueira e 
um cajueiro), que podem ser utilizadas para aumentar o contato direto entre os usuários e a 
vegetação. 
34 
 
Figura 11 - Rua dos Tororós e canteiro 
 
Fonte: Google Maps, 2019 
Dentre as desvantagens do Lote 02 podem ser elencadas a proximidade com a 
movimentada Avenida Lima e Silva e o ruído proveniente do fluxo na avenida. Após análise 
dos dois lotes e comparação entre suas características, optou-se pelo Lote 02 para 
desenvolvimento da proposta de centro de saúde mental. 
3.2.1 CARACTERÍSTICAS DO TERRENO 
Trata-se de um lote de esquina, ocupa meio quarteirão e pode ser acessado por três 
vias. Ao Norte está a Rua Vicente Mesquita, ao Sul está a Avenida Lima e Silva e ao Oeste, a 
Rua dos Tororós. Localizado no bairro de Lagoa Nova (Figura 12), o terreno escolhido possui 
área de 3.323m² e situa-se a aproximadamente 1km de distância do CAPS II Oeste. 
35 
 
Figura 12 - Localização do bairro de Lagoa Nova em Natal e localização do terreno no bairro 
 
Fonte: Wikipédia, Google Maps (adaptado), 2019 
Durante análise do terreno foram identificados diversos exemplares de vegetação de 
médio e grande porte ainda em desenvolvimento, conformeilustrado pela faixa vermelha na 
Figura 13. Esses seres devem ser removidos e replantados em local adequado, uma vez que 
seu plantio se deu em local impróprio para vegetação desse porte, nos limites do lote. Foram 
identificadas, também, duas árvores frutíferas de grande porte que devem ser mantidas. 
Qualquer vegetação arbustiva ou rasteira existente no lote foi desconsiderada no decorrer do 
projeto devido à necessidade de movimentação do solo na construção e de adequação do solo 
para o plantio de outras espécies. Não existe qualquer construção ou uso atualmente do lote, 
que se encontra cercado por estrutura de madeira e arame farpado. 
36 
 
Figura 13 - Vegetação existente no terreno 
 
Fonte: Google Maps (adaptado), 2019 
Quanto aos condicionantes ambientais, foi identificada ventilação predominante 
proveniente do Sul e Sudeste (Figura 14), além de ruído oriundo da Avenida Lima e Silva, 
que limita o terreno a Sul. Uma vez que a principal origem de ruído coincide com a origem da 
ventilação, o fluxo de vento naturalmente leva o ruído para o interior do lote. 
Figura 14 - Ventilação predominante no terreno 
 
Fonte: Google Maps (adaptado), 2019 
37 
 
Tratando-se de um projeto para a cidade de Natal, deve ser considerada a trajetória do 
sol no céu (Figura 15) com pouca diferença em relação ao que aconteceria na linha do 
Equador. O sol realiza sua trajetória diária do Leste para o Oeste, oscilando ligeiramente do 
eixo a depender da época do ano. 
Figura 15 - Trajetória do sol no terreno 
 
Fonte: Google Maps (adaptado), 2019 
Em relação ao entorno, trata-se de uma área predominantemente residencial com a 
maior quantidade dos comércios e serviços localizados na Avenida Lima e Silva. Na Figura 
16 pode ser observada uma região verticalizada (em amarelo), apesar de a predominância ser 
de edificações residenciais baixas (em vermelho). 
Figura 16 - Zoneamento de entorno do terreno 
 
Fonte: Google Maps (adaptado), 2019 
38 
 
3.2.2 CONDICIONANTES URBANÍSTICOS 
Localizado em zona adensável, o coeficiente de aproveitamento aplicável ao lote é de 
3,0. Devido à extensa área do terreno (3.323m²) e às diretrizes de manter o porte da edificação 
limitado e ampla área verde livre de construção, não existe a previsão de se aproximar do 
coeficiente de aproveitamento máximo, da taxa de impermeabilidade máxima da região (0,8) 
ou do gabarito máximo (90m). 
As distâncias aplicáveis são de 3m para recuos frontais com a adição de h/10 a partir 
do segundo pavimento elevado e de 1,5 para os recuos laterais com a adição de h/10 a partir 
do segundo pavimento elevado. Devido à diretriz de manter a edificação em um único 
pavimento, os recuos não devem ser alterados, mantendo-os em 3m para cada uma das três 
fachadas limitadas por vias e em 1,5m para as três fachadas situadas aos fundos do lote. 
 
39 
 
3.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO 
 
Tabela 1 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento realizado com base em BRASIL (2015) 
Ambiente Atividade Ambiência desejada
Quantidade mínima 
obrigatória
Quantidade 
adotada
Área unitária 
mínima 
obrigatória
Área 
adotada
Área total
Recepção
Identificação e primeiro contato 
do público, recepcionar 
comportar e acomodar as 
pessoas que chegam ao centro
Espaço acessível, acolhedor, com 
mobiliário confortável e mesas para 
a recepção
1 1 30 30 30
Espaço 
interno de 
convivência
Promover encontro e interação 
entre usuários, familiares, 
visitantes
Espaço acessível, acolhedor, com 
mobiliário confortável para 
permanência, arranjado de forma a 
promover interação entre 
frequentadores
1 1 65 65 65
Sala de 
atendimento 
individual
Atendimento individual 
(entrevistas, consultas, terapia 
etc.)
Espaço aconchegante, que 
promova certo grau de privacidade 
e, ao mesmo tempo, fuja da ideia 
de ambiente hopistalar 
claustrofóbico, fechado, árido e 
sem vida.
3 5 9 9 45
Sala de 
atividades 
coletivas
Atendimento psicológico em 
grupo, atividades coletivas não-
motoras
Ambiente aconchegante, mobiliário 
confortável que possibilite 
adaptação da sala de acordo com a 
atividade
2 2 24 24 48
Sala de 
atividades 
motoras
Yoga, meditação e outras 
atividades motoras
Ventilação natural, iluminação 
natural, ambiente amplo e livre para 
customização de acordo com a 
atividade
- 1 - 50 50
Sala de 
oficinas 
artísticas
Pintura, desenho, artesanato
Ambiente iluminado, que estimule 
criatividade
- 1 - 35 35
Sala de 
leitura
Leitura individual e coletiva
Espaço confortável, mobiliário que 
possa ser utilizado em leitura 
coletiva assim como individual, 
ambiente iluminado
- 1 - 25 25
Sala de 
descanso
Descanso e cochilo de usuários
Espaço confortável com cadeiras 
reclináveis, deve passar sensação 
de tranquilidade
- 1 - 8 8
 
40 
 
Ambiente Atividade Ambiência desejada
Quantidade mínima 
obrigatória
Quantidade 
adotada
Área unitária 
mínima 
obrigatória
Área 
adotada
Área total
Cantina
Armazenamento e venda de 
lanches
- - 1 - 15 15
Espaço para 
refeições
Consumo de lanches 
provenientes da cantina ou 
levados pelos usuários
Espaço semi-aberto que possibilite 
integração visual com a natureza e 
mobiliário que promova interação 
entre frequentadores
- 1 - 30 30
Jardins 
internos
Integrar público e ambientes 
internos com a natureza, 
promover os benefícios da 
biofilia, promover a sensação de 
espaço aberto, natural
Espaço semi-aberto que possibilite 
integração visual com a natureza 
(física também, se possível)
Sala de 
reuniões
Reuniões entre funcionários, 
reuniões com pacientes e 
familiares, reuniões de 
planejamento etc.
Espaço agradável, que fuja à ideia 
de aridez
1 1 20 20 20
Sala para 
arquivos
Armazenar arquivos e 
documentos
- 1 1 5 5 5
Sala 
administrativ
a
Atividades competentes à equipe 
administrativa
- 1 1 22 22 22
Cozinha
Função de atividades coletivas 
com usuários
Ambiente iluminado (uso prioritário 
de iluminação natural), mobiliário 
configurado de forma a possibilitar 
interação dos usuários em 
atividades promovidas
1 1 16 30 30
Estar/Copa
Função de copa para 
funcionários
Espaço agradável, que possibilite o 
distanciamento dos funcionários 
dos pacientes
1 1 2,6 5 5
Banheiros 
adaptados 
para 
funcionários
Banheiros com dimensões que
seguem a NBR 9050.
- 2 2 4,8 4,8 9,6
Indeterminado
 
41 
 
Ambiente Atividade Ambiência desejada
Quantidade mínima 
obrigatória
Quantidade 
adotada
Área unitária 
mínima 
obrigatória
Área 
adotada
Área total
Almoxarifado Armazenar materiais - 1 1 5 5 5
Sala de 
utilidades
Limpeza de alguns objetos e 
armazenamento temporário de 
lixo comum
- 1 1 4 4 4
DML Armazenar material de limpeza - 1 1 2 2 2
ÁREA ÚTIL = 482,4
ÁREA CONSTRUÍDA = 627,12
Casa de gás
Abrigar tubulação de gás de 
cozinha
- 1 1 2 2 2
Abrigo 
externo de 
resíduos 
sólidos
Descarte de lixo comum - 1 1 4 4 4
Área externa 
para 
embarque e 
desembarqu
e
Chegada e saída de usuários
Ambiente convidativo à entrada, 
que não dê a impressão de 
embarque e desembarque de 
hospital ou shopping
Área de lazer 
externa com 
espaço para 
relaxar
Descansar, relaxar, entrar em 
contato com a natureza, 
convivência
Espaço aberto que possibilite 
integração física e visual com a 
natureza, mobiliário acessível que 
incentive a permanência dos 
usuários
Jardins 
externos
Integrar público com a natureza, 
promover os benefícios da biofilia
Espaço aberto que possibilite 
integração física e visual com a 
natureza, mobiliário acessível que 
incentive a permanência dos 
usuários
Horta 
orgânica
Cultivo de horta
Ambiente aberto que promova 
atuação dos pacientes no cultivo e 
manutenção da horta
ÁREA EXTERNA ÚTIL = 6
Indeterminado
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019
42 
 
4. EVOLUÇÃO DA PROPOSTA 
4.1 SETORIZAÇÃO 
Após a identificação das estruturas do terreno, os principaisambientes listados no pré-
dimensionamento foram organizados com base em suas características e divididos em três 
setores: atividades silenciosas; atividades barulhentas; e atendimento. Além dos ambientes 
principais, ambientes auxiliares foram agregados devido à compatibilidade com os espaços 
listados na setorização. 
A setorização das atividades silenciosas, conforme ilustrado pela Figura 17, separou 
em um dos setores as atividades que, preferencialmente, não deveriam receber alta incidência 
de ruído proveniente dos serviços e práticas conduzidos na própria edificação. Foi adicionado 
aos ambientes listados o almoxarifado devido à sua relação com a sala administrativa. O 
banheiro de funcionários, a sala de utilidades e a copa também foram encaixados juntamente 
às atividades silenciosas a fim de se localizarem em proximidade com as salas de maior uso 
dos funcionários. Esses três, por serem ambientes de acesso restrito, foram agrupados a fim de 
reduzir a impressão de diversos ambientes serem fora do alcance dos pacientes. 
Figura 17 - Setor de atividades silenciosas 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
Foram categorizadas como espaços de atividades barulhentas (Figura 18) as salas em 
que se conduzem atividades mais agitadas. Esse grupo de ambientes deve ser implantado de 
forma a não atrapalhar a condução das atividades silenciosas. Devido à existência de cozinha 
para realização de oficinas terapêuticas, em que os clientes participam do preparo de 
alimentos, e sala de oficinas artísticas, foi anexado o depósito de material de limpeza (DML), 
43 
 
assim como um banheiro com chuveiro para os clientes que realizam atividades mais 
dinâmicas ou que permanecem na edificação durante os dois turnos de funcionamento. 
O depósito de material de jardinagem, DMJ, foi agregado a esse setor devido à sua 
similaridade em uso com o DML. Esses ambientes de depósito são geralmente restritos aos 
funcionários responsáveis e apenas abertos para entrada e saída de materiais. Devido às 
características neurodivergentes do público do centro é especialmente recomendado que esses 
espaços fiquem trancados, longe do alcance dos pacientes. 
Figura 18 - Setor de atividades barulhentas 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
O setor de atendimento (Figura 19) é constituído por salas de atendimento médico ou 
terapêutico individual e coletivo. Conforme recomendado em entrevista com diretora do 
CAPS II Oeste, deve ser mantida a adaptabilidade dos ambientes, portanto, as salas de 
atendimento individual e as salas de atendimento coletivo não são designadas no projeto a 
alguma especialidade médica ou terapêutica, cabendo à administração atribuir aos usos e 
profissionais que se fazem necessários. Posteriormente foi observada a necessidade de 
adicionar banheiros a esse setor, apesar de terem sido julgados dispensáveis durante a 
setorização. 
Figura 19 - Setor de atendimento 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
44 
 
Os ambientes internos restantes foram, então, agregados ao setor denominado Espaço 
interno de convivência (Figura 20). Esses ambientes servem como apoio para a apropriação 
do espaço pelo paciente e entendimento do centro como uma extensão do seu lar. Por se tratar 
de um serviço privado, a cantina e o espaço de refeições substituem a cozinha e o refeitório 
para fornecimento de alimentos, considerado essencial em um CAPS. 
Figura 20 - Setor de espaço interno de convivência 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A sala de descanso pode ser utilizada tanto para situações de pacientes exaltados que 
precisem de um local mais reservado e tranquilo para se acalmar, como por usuários que 
desejam passar o dia no centro e usar o espaço para descanso e cochilos. 
4.2 ESTUDOS DE IMPLANTAÇÃO 
Com base na setorização realizada foram realizados diversos estudos de implantação 
tendo como diretrizes as seguintes: 
● Manter a ventilação cruzada; 
● Passar a ideia de espaço ao ar livre mesmo estando no interior da edificação, 
relacionar os setores de forma que os usos não interfiram negativamente entre si; 
● Criar espaço central de convivência; 
● Relacionar as duas árvores de grande porte no interior do lote com a edificação; 
● Distanciar a edificação da Av. Lima e Silva devido ao ruído; 
● Facilitar o trânsito entre espaços internos e externos; 
● Diminuir a interação dos pacientes com portas, limites e barreiras; 
● Aumentar a interação dos pacientes com a natureza; 
45 
 
A aplicação das diretrizes no terreno resultou, a princípio, em uma organização de 
setores, ilustrada a seguir na Figura 21. 
Figura 21 - Relação entre setores 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
Após a determinação das relações e posicionamento dos setores, foi desenvolvida, 
integrando a vegetação existente com o edifício, a planta baixa preliminar (Figura 22). Nessa 
planta são imaginados três blocos independentes (cada um contendo um dos setores), 
conectados por deque de madeira, possibilitando o fluxo livre dos pacientes entre o interior e 
exterior. 
46 
 
Figura 22 – Planta baixa preliminar da proposta 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
Jardins internos foram idealizados em dois dos três blocos e no pátio central, 
entretanto. Ainda não haviam sido definidos, nessa etapa, a estrutura a ser adotada ou se os 
jardins possuiriam aberturas verticais até a cobertura. 
A partir da espacialização dos ambientes e desenvolvimento da planta baixa preliminar 
foi possível conceber o estudo inicial de implantação do edifício (Figura 23), contando com 
espaço para horta orgânica e piscina nos fundos do lote e com estacionamento na parte ao Sul 
do terreno, próximo à Avenida Lima e Silva. 
47 
 
Figura 23- Croqui de implantação preliminar da proposta 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A edificação foi afastada da via mais movimentada a fim de diminuir o impacto do 
ruído proveniente do fluxo de carros. A piscina e a horta foram implantadas nos fundos do 
lote para conferir maior proximidade entre esses ambientes e os espaços de apoio (DMJ e 
banheiros com chuveiro). 
4.3 VOLUMETRIA E SOLUÇÃO FORMAL 
Após o desenvolvimento da proposta preliminar de planta baixa e implantação foi 
iniciado a evolução dos estudos volumétricos. Com o auxílio do software de modelagem 
Rhinoceros, os limites dos blocos e deques propostos foram representados em 3D para 
visualização (Figura 24). Foram integradas à modelagem as árvores de grande porte 
localizadas no interior do terreno a fim de estudar sua relação com a forma e escala dos 
blocos. 
48 
 
Figura 24 - Estudo volumétrico 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
Durante os estudos volumétricos foi identificada a necessidade de maior abraçamento 
das árvores por parte da edificação. Foram testados diferentes formatos de deque, chegando, 
finalmente, à definição de ampliar o deque traseiro e criar uma abertura na estrutura do piso 
em formato semicircular para encaixe da mangueira (Figura 25). 
Figura 25 - Recorte de estudo volumétrico 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
49 
 
Também foi identificada a necessidade de promover maior conexão entre os pontos do 
deque acarretando na sua ampliação nos fundos do lote, unindo seus dois segmentos que se 
estendem em direção à fachada traseira, originando uma possível rota atrás do bloco de 
atividades barulhentas. Optou-se por unir a varanda da fachada frontal, ponto da edificação 
mais próximo à Rua dos Tororós, com o restante do deque de madeira, criando uma única 
estrutura que permita o fluxo por todos os blocos da edificação em diferentes configurações. 
A essa região do deque também foi aplicado o princípio de incorporar as árvores por meio de 
aberturas semicirculares no piso. 
Quanto à cobertura, a princípio foi imaginado o uso de uma grande estrutura que 
servisse todos os blocos, entretanto, devido à necessidade observada de tornar o telhado mais 
aberto e promovera iluminação natural no espaço central, optou-se pelo uso de telhados 
individuais a cada um dos três segmentos da edificação. Para dois dos blocos é imaginado 
telhado aparente de quatro águas, enquanto para o outro é previsto o uso de platibandas. 
Uma vez que os blocos possuem coberturas independentes, prevê-se a instalação de 
cobertura mais baixa protegendo as regiões entre os blocos, o espaço de refeições e o 
embarque e desembarque de usuários. A Figura 26 demonstra o estágio intermediário de 
desenvolvimento da volumetria. 
Figura 26 - Volumetria em desenvolvimento 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
 
 
50 
 
5. MEMORIAL DESCRITIVO 
Neste capítulo serão apresentadas as escolhas projetuais, suas respectivas justificativas 
e quaisquer informações consideradas relevantes para a compreensão e execução da proposta 
de Centro de Saúde Mental pelos princípios da Biofilia. Serão relatados os materiais 
indicados, os fluxos previstos, as diretrizes paisagísticas recomendadas para total 
funcionamento do espaço conforme idealizado, bem como outras decisões projetuais. É válido 
reiterar, nesta etapa, a proposta do centro. 
Trata-se de um estabelecimento voltado para o tratamento de transtornos de saúde 
mental, o qual concentra diferentes segmentos do tratamento do paciente. É desejado o 
entendimento do espaço pelos usuários como uma extensão de seus lares. Para esse fim, a 
edificação deve apresentar características físicas tranquilizadoras e aconchegantes. Espera-se 
atingir o objetivo almejado por meio do cumprimento de diversas diretrizes elencadas durante 
o processo projetual, principalmente: forte contato com as plantas; uso de materiais naturais; e 
estrutura física não intimidadora, que promova socialização. O projeto apresentou, finalmente, 
área construída total de 727,273m², com quinze vagas para veículos. 
5.1 IMPLANTAÇÃO, TOPOGRAFIA E ACESSOS 
O terreno, o qual possui topografia irregular (Figura 27), apresentando declive máximo 
de aproximadamente 3m, deve sofrer movimentação de terra a fim de facilitar os percursos 
externos para usuários com mobilidade reduzida. 
Figura 27 - Terreno com curvas de nível 
 
Fonte: CAERN (adaptado), 2007 
51 
 
Pessoas com deficiência motora possuem, de forma geral, maior dificuldade de acesso 
a ambientes biofílicos devido à irregularidade de terrenos naturais. Ao elevar a topografia do 
terreno a níveis semelhantes aos encontrados na região próxima à Rua dos Tororós e instalar 
pavimentação formando passeios externos (Figura 28) mais acessíveis, é favorecido o contato 
entre a pessoa com mobilidade reduzida e a vegetação. 
Figura 28 – Implantação com passeios externos 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A fim de criar um ponto padronizado para ingresso no lote, o acesso principal de 
veículos e pedestres acontece pela Rua dos Tororós. Os condutores devem, então, optar por 
circular a área de embarque e desembarque e seguir (para saída pela Av. Lima e Silva ou para 
o estacionamento) ou irem diretamente para o estacionamento (Figura 29). São ofertadas 
quinze vagas, cumprindo com a quantidade mínima determinada pelo Anexo III do Código de 
Obras de Natal (2004). 
52 
 
Figura 29 - Planta de estacionamento 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A área de embarque e desembarque é protegida da chuva pela vegetação e por 
cobertura baixa de madeira e policarbonato. Suas características permitem o acesso e parada 
de ambulância, caso seja necessário (Figura 30). 
53 
 
Figura 30 - Implantação com rota de ambulância destacada 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
A implantação do projeto, a qual não sofreu muitas mudanças desde a proposta 
preliminar, foi orientada pelas diretrizes estabelecidas, necessidades de cada serviço oferecido 
e relações funcionais do centro. 
5.2 FLUXOS E RELAÇÕES FUNCIONAIS 
Os fluxos internos ao lote apresentam grande multiplicidade de configurações, uma 
vez que foi aplicado o princípio de livre acesso dos usuários à maior parte do prédio. Ao 
possibilitar aos pacientes maior liberdade no processo de uso e apropriação do espaço se 
espera facilitar sua adaptação ao centro e contribuir para a evolução da ressocialização. Os 
usuários devem, portanto, desenvolver uma leitura do espaço que não o relacione com 
ambientes de saúde áridos e impessoais, mas sim com locais onde se sintam confortáveis e à 
vontade. 
54 
 
O livre fluxo na edificação não significa, porém, aleatoriedade nos percursos. A 
configuração dos blocos e as relações entre setores procuram estimular o uso dos espaços de 
convivência, a interação entre frequentadores e o contato com a natureza. 
A Figura 31 ilustra os ambientes de acesso livre (em verde), restrito (vermelho) e 
parcialmente restrito (laranja). Os ambientes de acesso restrito com maior fluxo previsto 
foram agrupados a fim de diminuir a quantidade de barreiras encontradas pelos pacientes e de 
facilitar o controle das áreas restritas. O mesmo hall permite acessar a copa, a sala de 
utilidades e o banheiro dos funcionários, reduzindo a impressão de vários espaços estarem 
fora do alcance dos clientes. A sala de arquivos e o almoxarifado, também de acesso restrito, 
possuem entrada somente pela sala administrativa, de forma a simplificar o controle de fluxo. 
Os depósitos (de material de limpeza e de jardinagem) devem ser mantidos trancados, com 
alcance exclusivo aos funcionários responsáveis. A cantina é de acesso restrito aos 
funcionários responsáveis. 
Figura 31 - Ambientes livres, restritos e parcialmente restritos 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
55 
 
As relações funcionais no projeto acontecem de acordo com a divisão de setores 
mencionada no tópico 4.1: setorização. No bloco de acolhimento (Figura 32), previamente 
referido como bloco de atividades silenciosas, a recepção e a área de acolhimento funcionam 
no mesmo cômodo, simultaneamente, sem barreiras físicas delimitando o início e fim de cada 
espaço. As salas administrativa e de reuniões, por serem de uso voltado, principalmente, aos 
funcionários, situam-se lado a lado. A sala de leitura encaixa-se nesse bloco devido à 
condução de atividades silenciosas em seu interior. A prática de atividades silenciosas é o 
principal aspecto coesivo entre os mais relevantes ambientes do bloco de acolhimento. 
Figura 32 - Planta baixa de bloco de acolhimento 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
56 
 
O bloco de atividades coletivas (Figura 33), previamente referido como bloco de 
atividades barulhentas, contém três ambientes principais, todos com seus acessos orientados 
para os espaços de convivência. A cozinha terapêutica, na qual seriam realizadas ações 
coletivas de preparo de alimentos, possui proximidade com o espaço de refeições, uma vez 
que, mediante produção de alimentos com os pacientes, faz-se necessário espaço para o 
consumo. A sala de atividades motoras e a sala de oficinas artísticas foram posicionadas de 
maneira privilegiada quanto à ventilação, visto que, a depender dos materiais utilizados nas 
oficinas e das atividades motoras realizadas, a presença de ventilação cruzada se faz mais 
necessária. Os depósitos de material de limpeza e jardinagem e dois banheiros com chuveiro 
para o público foram anexados ao bloco devido às atividades físicas, de culinária, de artes e 
de jardinagem realizadas no setor e na área do jardim localizada em proximidade ao bloco. 
Figura 33 - Planta baixa do bloco de atividades coletivas 
 
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2019 
57 
 
Por último, o bloco de atendimento (Figura 34) reúne as salas de atendimento 
individual e coletivo. Ele dispõe de uma área central para espera a qual compactua com as 
diretrizes do projeto e permite ao paciente que participará do atendimento o afastamento das 
atividades mais enérgicas e o ingresso gradual em uma ambiência de maior tranquilidade e 
conforto. Cada um dos três blocos da edificação