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Universidade Federal de Roraima Centro de Ciência e Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo ARQ 046 – Acústica e Aplicações para o Conforto Ambiental Orientadora: Ayana Dantas de Medeiros COMPLEMENTARIEDADE ENTRE SISTEMAS DE FONTES NATURAIS E ARTIFICIAIS DE ILUMINAÇÃO Angélica Pereira Triani (IC)1 | Marília V. O. Nascimento (IC)2 | Ohana Pereira da Silva (IC)3 Resumo Este artigo descreve os métodos de Iluminação Artificial Suplementar Permanente para Interiores (IASPI) e o Percentual de Aproveitamento da Luz Natural (PALN) e tem por objetivo explanar as estratégias utilizadas para formar um eficiente sistema de integração da luz natural com a luz artificial. O estudo foi realizado por meio de referências bibliográficas que aplicaram o IASPI e o PALN em estudos de caso que comprovavam a eficácia de ambos os métodos. Constatou-se por meio da comparação das duas técnicas que o IASPI possui caráter subjetivo enquanto que o PALN apresenta maior rigor técnico. Os dois se mostraram eficientes e devem ser aplicados de acordo com o equilíbrio luminoso exigido por cada tipo de projeto. Palavras-chave: IASPI. PALN. Luz natural. Luz artificial. Sistemas de integração. Introdução A luz é um importante elemento na concepção arquitetônica, pois, além de ser fundamentalmente útil, é também uma diretriz que garante ao espaço valores conotativos que 1 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima Email: angelicatriani@hotmail.com 2 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima Email: mariliaonascimento@yahoo.com.br 3 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima Email: ohanapereira96@gmail.com mailto:angelicatriani@hotmail.com mailto:mariliaonascimento@yahoo.com.br mailto:ohanapereira96@gmail.com possibilitam a qualificação do ambiente no qual se vive. Isso se deve ao fato de que a presença da luz revela a definição dos contornos e proporciona a percepção sobre o relevo, textura e cor. Barnabé (2008) aborda que para alguns arquitetos ela é apenas um componente que condiciona a parte luminotécnica do projeto, enquanto que para outros é material construtivo similar ao concreto e ao tijolo. Para os antigos mestres ela era elemento prioritário, funcional, estético, poético e simbólico, sem o qual não poderia existir Arquitetura. Utilizar a luz natural como geratriz na concepção do projeto implica em torná-la um fomento de propostas, envolvendo ao mesmo tempo uma série de outras determinantes diretamente relacionadas a ela, como o clima e a mutabilidade das características luminosas de acordo com as estações do ano. Por esse motivo, essas condicionantes são fundamentais para o modelar arquitetônico, a fim de garantir a valorização do ambiente projetado. Essa qualificação do espaço garantida por meio da luz é imprescindível para o conforto ambiental. Barnabé (2008) afirma que uma “boa luz” não só facilita as funções de ver e reconhecer, como também melhora o bem-estar físico, auxilia a concentração e evita o cansaço precoce. Segundo Dondis apud França (2013), a visão tem papel essencial no quadro sensorial do ser humano, pois é esse sentido que recebe mais de 80% de todas as sensações e apreende formas e volumes através da presença da luz. Para garantir esse conforto luminoso, o arquiteto tem à sua disposição elementos estruturais e estratégias arquitetônicas que possibilitam um melhor aproveitamento da luz natural e sua integração com a luz artificial, conferindo ao ambiente uma nova “atmosfera” por meio da intervenção luminosa. Assim, como afirma França (2013), o proveito da luz diurna e dos raios solares propiciam ambientes mais salubres e influenciam diretamente na qualidade de vida e bem-estar dos usuários. Além disso, projetos que possuem como diretriz a luz natural apresentam significativa redução no consumo de energia elétrica. Viana e Gonçalves apud França (2013) constatam que um edifício não residencial que segue essa diretriz é capaz de gerar uma redução no consumo energético na ordem de 30 a 70%. Ou seja, a exploração da iluminação natural garante não só o conforto ambiental, como também contribui para uma Arquitetura sustentável. Diante disso, esse trabalho busca apresentar métodos que utilizam a integração da luz natural com a luz artificial como diretriz no projeto, a fim de explanar a interdependência entre ambas e mostrar que essa associação é fundamental para sanar o problema da variação de luz ao longo do dia e no período noturno. Metodologia Através de pesquisa bibliográfica percebeu-se que existem métodos para projetos de iluminação natural, como por exemplo, a elaboração da carta solar, mascaramento e o método dos lumens para iluminação natural. Da mesma maneira há, também, métodos para a elaboração de projetos de iluminação artificial, como o estudo da curva fotométrica e o método dos lumens para a iluminação artificial e o método pontual. A escolha de um método que integre de fato a luz natural e a artificial se torna fundamental para que a luz natural seja aproveitada ao máximo nas edificações. Assim, neste artigo apresentam-se os métodos IASPI e PALN, os mais conhecidos que abrangem a integração desses dois sistemas, de modo a fomentar o conhecimento acerca do assunto. Resultados e discussão Conforme a NBR 5461/91 - Iluminação, luz é a faixa de radiação das ondas eletromagnéticas visíveis ao olho humano e está compreendida entre as radiações infravermelhas, de maior comprimento de onda, e as radiações ultravioletas, de menor comprimento de onda. Os raios luminosos não são visíveis, a sensação de luminosidade se dá em decorrência da reflexão desses raios por uma superfície. Assim, iluminância é a luz incidente e luminância é a luz refletida (VIANNA apud FRANÇA, 2013). Método IASPI Iluminação Artificial Suplementar Permanente para Interiores (IASPI) foi desenvolvido na Inglaterra no Building Research Station, e é um método que tem como premissa a luz do dia como fonte principal de iluminação, complementando-a com luz artificial nas partes mais profundas do ambiente, preservando o atributo da iluminação diurna (CISBE apud PECCIN, 2002). Segundo Vianna & Gonçalves apud Lemos (2016) o IASPI é baseado “nas considerações subjetivas da aparência do local assim como na previsão dos níveis necessários de iluminância”. O método é orientado pelas seguintes hipóteses: • Em relação à luz natural, a grande variação da iluminância que ocorre ao longo de um dia típico não afeta o desempenho visual mesmo quando esta se encontra abaixo da aceitação recomendada, devido a habilidade de adaptação da visão humana; • As iluminâncias de tarefa são as recomendadas pelas IESNA (Illuminating Engineering Society of North America), e as iluminâncias gerais são 1/3 da iluminância recomendada para tarefa visual; • A luz elétrica pode ser usada para suplementar a luz natural com sucesso quando esta for insuficiente (TOLEDO, 2008). Primeiramente, o ambiente deve ser dividido em zonas de diferentes níveis de iluminância, destacando onde há necessidade da implementação de iluminação artificial para a execução de uma determinada tarefa. Essa iluminação suplementar, de acordo com este método, deve ter um nível de iluminância alto suficiente para balancear as partes do ambiente iluminadas naturalmente e as partes iluminadas artificialmente (RUTTEN apud LUCENA, 2015). Robbins apud Lucena (2015) afirma que não existem normas para a divisão das zonas de iluminação, mas sugere que as zonas sejam divididas a partir da proporção 3:1. Deste modo, dentro de uma mesma zona não deve haver diferença entre os valores mínimos e máximos de 3 vezes o valor mínimo, gerando um contraste confortável ao olho humano. Por fim, após definidas as zonas de iluminação, deve-se escolheras estratégias de controle de iluminação artificial para as mesmas. De acordo Ghisi e Robbins (apud Toledo, 2008) podem ser utilizados três sistemas integrados de luz natural e artificial: • No primeiro, chamado de “liga e desliga manual”, a iluminação artificial é ligada sempre que a Iluminância interior produzida pela luz natural for inferior que a do projeto; • O segundo sistema é o “liga e desliga automático” que utiliza de fotocélulas que desligam a iluminação artificial sempre que os níveis de iluminação natural forem superiores que a iluminância especificada em projeto; • O último sistema, mais eficaz, é a dimerização, onde a iluminação artificial é ajustada gradativamente ao passo que os níveis de iluminação natural aumentam ou diminuem. Deste modo, este método promove uma redução no consumo de energia elétrica, uma vez que se evita o uso da iluminação artificial sem necessidade. Método PALN O percentual de aproveitamento da luz natural (PLAN) é a variável utilizada para avaliar e comparar o desempenho das diversas opções de controle da iluminação artificial. Através dela também é possível estimar a quantidade de energia economizada com a utilização da luz natural. Ou seja, determinar o PLAN é estabelecer o intervalo de tempo no qual a luz natural poderá substituir ou complementar a luz artificial dentro do horário de utilização do espaço considerado (SOUZA, 2003). A principal variável que influencia no cálculo do PALN é a estratégia de controle de iluminação adotada, para o qual foram escolhidos três tipos: interruptor liga/desliga automático; interruptor de passo automático; e a dimerização contínua automática. O primeiro pode também ser chamado de interruptor de dois passos e se caracteriza por apagar as luzes quando a iluminância natural é igual ou maior que a iluminância de projeto4 (passo 1) e ascender as luzes quando a luz natural é menor que a iluminância de projeto (passo 2). O segundo é um controlador de três passos utilizado em luminárias que possuem duas lâmpadas. No passo 1 as duas lâmpadas estão desligadas, no passo 2 uma delas é ligada e no passo 3 ambas são acionadas. Já o sistema de dimerização consiste em dois tipos: o primeiro controla a diminuição contínua do fluxo luminoso sem permitir que a lâmpada apague por 4 Quantidade de lux determinado de acordo com o tipo de ambiente em estudo. completo e o segundo funciona de forma semelhante ao primeiro, com a diferença de que neste pode-se desligar todo o sistema. Num estudo de caso, o cálculo do PALN para cada tipo de estratégia de controle de iluminação aqui citada deve também considerar outras variáveis como iluminância de projeto, as condições do céu (claro, parcial e encoberto), o mês, a fachada orientada para o leste, a iluminação unilateral com a janela total e o horário da utilização do ambiente. SOUZA (2003) demonstrou as fórmulas matemáticas utilizadas para obter o PALN de cada tipo de estratégia empregada e obteve as seguintes constatações: • O cálculo do PALN para um sistema de controle automático liga/desliga não apresenta aproveitamento da luz natural por complementação, mas sim por substituição, pois não ocorrem passos intermediários entre a emissão do fluxo luminoso total com a inexistência de fluxo luminoso artificial (SOUZA, 2003); • O cálculo do PALN para um sistema de controle automático de 3 passos considera uma nova variável denominada fator de economia (FE), que para esta estratégia pode assumir três valores distintos. Quando a iluminância média da luz natural for maior que a iluminância de projeto, o sistema de iluminação artificial estará desligado, possibilitando um fator de economia de 100%. Quando a iluminância média da luz natural for menor que a iluminância de projeto e maior ou igual a 50% desta, o sistema artificial fornecerá 50% do seu fluxo máximo e apresentará um fator de economia de 50%. Já quando a iluminância média da luz natural for menor que a iluminância mínima que o sistema de iluminação artificial pode fornecer, o mesmo estará acionado com a sua capacidade máxima, não permitindo economia de energia (SOUZA, 2003); • O cálculo do PALN para um sistema de controle automático dimerizável torna o FE variável de acordo com a quantidade e as características da iluminância natural a cada hora do dia. Assim, o fluxo luminoso artificial somado ao fluxo luminoso da luz natural produzirá a iluminância de projeto (SOUZA, 2003). Considerações finais Este artigo apresentou dois métodos que visam a integração da luz natural com a luz artificial de modo que seja possível alcançar edificações energeticamente eficazes. Foi constatado que a técnica IASPI possui um caráter subjetivo, uma vez que não existem regras para as divisões das zonas de iluminação, o que pode prejudicar no equilíbrio entre a luz natural e a luz artificial. Por este motivo, esse método é recomendado quando não se necessita de uma precisão luminosa em determinado espaço, ao mesmo tempo que, devido a sua fácil execução, torna-se possível aplica-lo em várias tipologias de projeto. Em contrapartida, o PALN se mostrou mais rígido tecnicamente, pois utiliza fórmulas matemáticas para calcular o percentual de aproveitamento da iluminação natural e da economia de energia para cada sistema de luz artificial empregado. Assim, este método é indicado para projetos com maior rigor que visam obter dados específicos acerca da eficiência luminosa e energética do espaço planejado. Portanto, as estratégias IASPI e PALN se mostraram eficientes no aproveitamento da luz natural e na redução do consumo de energia elétrica. Além disso, o sistema de dimerização indicou melhor resultado em ambos, por se adaptar facilmente as variações de iluminação natural no decorrer do dia em diversas condições. Por fim, a implementação de ambos os métodos proporcionará uma transição luminosa mais agradável entre o dia e a noite, gerando um ambiente mais confortável visualmente. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5461:1991: Iluminação. Rio de Janeiro, 1991. BARNABÉ, Paulo Marcos Mottos. A luz natural como diretriz de projeto. Maio de 2008. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1518- 95542007000200005&script=sci_arttext#top21>. Acesso em: 10 jul. 2017. FRANÇA, José Geraldo Ferreira. A importância do uso da iluminação natural como diretriz nos projetos de arquitetura. Julho de 2013. Disponível em: <file:///D:/Usu%C3%A1rios/Ang%C3%A9lica/Downloads/8f3b18518a0198beff3449f539436d17.p df>. Acesso em: 24 maio 2017. LEMOS, Eduardo Antonio Correia Pinto de. Sistemas de iluminação artificial e eficiência energética: iniciativas para a redução do consumo de energia elétrica em ambientes laborais. Revista On-line IPOG Especialize, dezembro 2016. LUCENA, Mariana C. Melo. Iluminação em salas de aula do centro de tecnologia da Universidade Federal da Paraíba: Um estudo de caso. Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT: João Pessoa, 2015. PECCIN, Adriana. Iluminação Hospitalar Estudo de Caso: espaços de internação e recuperação. Dissertação (Mestrado) – UFRS/FAU: Porto Alegre, 2002. SOUZA, Marcos Barros. Potencialidade de aproveitamento da luz natural através da utilização de sistemas automáticos de controle para economia de energia elétrica. 2003. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/84935/193338.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 jul. 2017. TOLEDO, Beatriz Guimarães. Integração de iluminação natural e artificial: métodos e guia prático para projeto luminotécnico. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2008. http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1518-95542007000200005&script=sci_arttext#top21 http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1518-95542007000200005&script=sci_arttext#top21 file:///D:/Usuários/Angélica/Downloads/8f3b18518a0198beff3449f539436d17.pdffile:///D:/Usuários/Angélica/Downloads/8f3b18518a0198beff3449f539436d17.pdf https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/84935/193338.pdf?sequence=1
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