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Sistema Financeiro Nacional Sistema Financeiro Nacional Sandro Wollenhaupt Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Sandro Wollenhaupt é mestre em Administração pela Universidade Fernando Pessoa de Portugal/Universidade do Vale do Itajaí, especialista em Estratégia Empresarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). É professor de graduação e pós-graduação nas áreas de Economia e Finanças. Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) W864s Wollenhaupt, Sandro. Sistema fi nanceiro nacional / Sandro Wollenhaupt. – Canoas : Ed. ULBRA, 2011. 112p. 1. Sistema fi nanceiro. 2. Mercado de capitais. 3. Economia. I. Título. CDU: 330 Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado José Édil de Lima Alves Astomiro Romais Andrea Eick André Loureiro Chaves Cátia Duizith Dados técnicos do livro Fontes: Minion Pro, Offi cina Sans Papel: off set 90g (miolo) e supremo 240g (capa) Medidas: 15x22cm Projeto Gráfi co: Humberto G. Schwert Editoração: Roseli Menzen Capa: Juliano Dall’Agnol Supervisão de Impressão Gráfi ca: Edison Wolf Gráfi ca da ULBRA Janeiro/2012 ISBN Sumário Apresentação .............................................................. 7 1 | Economia e fi nanças: conceitos básicos .......................... 9 2 | Sistema Financeiro Nacional: segmentos normativo e supervisor ............................................................. 23 3 | Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo .......... 39 4 | Mercado de Capitais ................................................... 53 5 | Abertura de capital e avaliação de ações ....................... 67 6 | Gestão baseada em valor ........................................... 77 7 | Mercado de câmbio .................................................... 87 8 | Sistema Financeiro Internacional ................................. 99 Apresentação Estimados alunos! O objetivo principal desta etapa é proporcionar a vocês conhecimentos necessários do Sistema Financeiro Nacional, Internacional e dos Mercados de Câmbio e de Capitais, envolvendo principalmente suas estruturas e os órgãos que os compõem. Serão estudados assuntos envolvendo o processo de abertura de capital de um empresa e modelos de gestão voltados à geração de riqueza para o acionista. Ao final de cada capítulo, algumas perguntas são apresentadas para fixar os conceitos, e uma referência bibliográfica comentada é sugerida para maior aprofundamento. Espero que os objetivos propostos à disciplina sejam alcançados e que os assuntos aqui tratados passem a ser de domínio permanente de vocês, futuros profissionais do mercado. Boa leitura. Sandro Wollenhaupt 1 Economia e finanças: conceitos básicos A economia está presente no dia a dia de todas as pessoas. Para que possamos compreendê-la, é necessário conhecer alguns conceitos fundamentais. Segundo Lagioia (2009), o Estado exerce sua atividade através de uma série de medidas conhecidas como políticas econômicas, objetivando promover o desenvolvimento econômico, garantir o pleno emprego e sua estabilidade, equilibrar o volume financeiro das transações econômicas com o exterior, a estabilidade de preços e o controle da inflação, e promover a distribuição das riquezas e das rendas. Neste capítulo vamos analisar a importância da política econômica na intermediação financeira. 1.1 Política econômica Para Lagioia (2009), dependendo dos seus objetivos, a política econômica pode ser chamada de: • estrutural – quando visa modificar a estrutura econômica do país, chegando a regular o funcionamento dos mercados, extinguir ou criar empresas públicas e alterar a distribuição de renda; • de estabilização conjuntural – quando objetiva administrar uma depressão econômica, combater a inflação e a escassez de produtos; 10 Economia e fi nanças: conceitos básicos • de expansão – quando visa à manutenção ou à aceleração do desenvolvimento econômico. As principais políticas econômicas pelo Estado são: • política monetária; • política fiscal; • política cambial e comercial; • política de rendas. Os objetivos fundamentais destas políticas devem se identificar com a política econômica global do governo. 1.1.1 Política monetária Ela pode ser definida como o controle da oferta da moeda e das taxas de juros que garantem a liquidez ideal de cada momento econômico. A política monetária tem como objetivo controlar a oferta de moeda na economia. Determinar a quantidade de moeda (dinheiro) na economia é função do Conselho Monetário Nacional – CMN, com participação do Banco Central do Brasil – Bacen. Ao determinar a quantidade de dinheiro, tem-se a formação da taxa de juros, ou seja, a taxa de juro pode ser simplificadamente interpretada como sendo o “preço do dinheiro”. Num sistema econômico, a moeda representa os meios de pagamentos. Estes, na sua forma mais líquida, podem ser representados pelo papel-moeda e pelos depósitos à vista nos bancos comerciais. Tanto as cédulas e as moedas metálicas quanto os valores existentes em contas bancárias representam os meios de pagamentos. No Brasil, a política monetária tem sido conduzida com base no regime de metas de inflação, em que a autoridade monetária orienta suas decisões de acordo com os valores realizados e projetados para a inflação, analisando diversos cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. 11Economia e fi nanças: conceitos básicos A política monetária, ao controlar os meios de pagamentos, está visando estabilizar o nível de preços geral da economia. Os governos que necessitam diminuir a taxa de inflação reduzem a oferta monetária e aumentam a taxa de juros. Esse mecanismo controla os níveis de preços. Mas, se a taxa de juros permanece elevada por um período longo, a economia pode deixar de ter um crescimento econômico, redundando, assim, em baixos níveis de emprego. O Bacen pode alterar os meios de pagamento (oferta de moeda) utilizando- se de quatro instrumentos: • operação de mercado aberto ou open market – designação genérica de qualquer mercado de livre acesso. No Brasil este termo é utilizado, restritamente para o conjunto de operações realizadas com títulos de emissão do governo, normalmente de curto prazo e utilizado como instrumento de política monetária. Através das operações de “open market” as autoridades monetárias procuram manter o controle dos meios de pagamento do sistema econômico; • depósito compulsório – são depósitos sob a forma de reservas bancárias que cada banco comercial é obrigado legalmente a manter junto ao Banco Central. É calculado como um percentual sobre os depósitos à vista nos bancos comerciais. Quanto maiores os depósitos compulsórios, maior o nível de reservas obrigatórias dos bancos junto ao Banco Central. Os recursos destinados aos empréstimos sofrem uma diminuição e provocam com isso a criação de moeda bancária (valores depositados nos bancos). A taxa de juros sofre um aumento, sendo o inverso também verdadeiro. Para diminuir a liquidez do Sistema Financeiro, o Banco Central eleva a taxa de compulsório. Com menos recurso para emprestar dos bancos comerciais, o crescimento da economia como um todo é afetado; • operações de redescontoou empréstimo de liquidez – é um empréstimo que o Bacen fornece aos bancos para atender às suas necessidades momentâneas de caixa. A taxa cobrada sobre esses empréstimos é chamada de taxa de redesconto. Um aumento da taxa de redesconto indica que os bancos sofrerão maiores custos, caso tenham problema de liquidez. Neste caso, as instituições irão aumentar suas reservas e diminuir o crédito, aumentando o custo para se obter meios de pagamento, ou seja, a taxa de juros; 12 Economia e fi nanças: conceitos básicos • controle e seleção do crédito – constituem um instrumento que impõe restrições ao livre funcionamento das forças de mercado, pois estabelece controles diretos sobre o volume e o preço do crédito. Tal contingenciamento do crédito pode ser feito por: controle do volume e destino do crédito; controle das taxas de juros; fixação de limites e condições dos créditos. Ele pode estender-se não só aos bancos comerciais, mas, também, às outras instituições financeiras não monetárias, atingindo outros passivos financeiros que não moeda. Nas economias modernas, quem oferece moeda ao público são as autoridades monetárias, em função das necessidades dos agentes econômicos. O conjunto de moeda manual (ou moeda corrente), depósitos à vista (moeda escritural ou bancária) e quase-moedas formam os meios de pagamentos de uma economia. As quase-moedas são ativos que, apesar de não constituírem moeda, funcionam como moeda. Constituem exemplos os depósitos a prazo as cadernetas de poupança, os bônus do Banco Central, títulos privados e outros títulos do governo federal, que podem ser transformados em moeda ao cabo de algum tempo. Existem, portanto, vários conceitos de meios de pagamentos, dependendo das quase-moedas incluídas, como está explicitado a seguir: • M0 = papel-moeda em poder do público (inclui as moedas metálicas e exclui a parte do papel-moeda guardada no caixa das autoridades monetárias e dos bancos, denominados encaixes bancários); • M1 = M0 + os depósitos à vista nos bancos, ou moeda escritural; • M2 = M1 + fundos e depósitos especiais remunerados + títulos do governo em poder do público; • M3 = M2 + depósitos das cadernetas de poupança; • M4 = M3 + inclui os depósitos a prazo fixo (CDB/RDB) nas instituições financeiras e os demais títulos privados, como as Letras de Câmbio e Letras Hipotecárias, excluídos os títulos públicos e privados já incluídos nos Fundos de Curto Prazo. 13Economia e fi nanças: conceitos básicos Os agregados M2, M3 e M4 são considerados quase-moedas, por não possuírem a mesma liquidez do papel-moeda (M0) e dos depósitos à vista. 1.1.2 Política fiscal O principal instrumento de política econômica do setor público refere-se à política fiscal. Esta, por sua vez, consiste na elaboração e organização do orçamento do governo, o qual demonstra as fontes de arrecadação e os gastos públicos a serem efetuados em um determinado período (exercício). A política fiscal visa atingir a atividade econômica e assim alcançar dois objetivos inter-relacionados, a saber, estimular a produção, ou seja, o crescimento econômico, e combater, se for o caso, a elevada taxa de desemprego. Refere-se, portanto, a todos os instrumentos de que o governo dispõe para a arrecadação de tributos (política tributária) e o controle de suas despesas (política de gastos), ou seja, consegue alterar o volume das receitas e dos gastos públicos através dos instrumentos fiscais. Estes instrumentos são: • impostos (receita) – os impostos podem ser classificados em duas categorias: impostos diretos – incidem diretamente sobre a renda e a propriedade das unidades familiares e das empresas. Exemplos: IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física), IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica), IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) e os impostos indiretos – são tributos que oneram as transações intermediárias e finais. São incorporados ao processo produtivo e, portanto, incidem indiretamente sobre o contribuinte (consumidor). Exemplos: ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e ISS (Imposto sobre Serviços); • despesas do governo (gastos) – as despesas do governo podem ser divididas em: consumo – gastos com salário, administração pública, funcionalismo civil e militar; transferências – benefícios pagos pelos institutos de previdência social, sob a forma de aposentadoria, salário- escola, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço); subsídios – são pagamentos feitas pelo governo a algumas empresas públicas ou 14 Economia e fi nanças: conceitos básicos privadas; investimentos – gastos com aquisição de novas máquinas, equipamentos, construção de estradas, pontes, infraestrutura; • orçamento do governo – o resultado das operações de receita menos os gastos do setor público representam o orçamento do governo. Este saldo pode ser classificado em três esferas: orçamento equilibrado – ocorre quando o total das receitas em valores monetários de um determinado período for exatamente igual ao total de gastos em valores monetários; orçamento superavitário – as receitas superam os gastos em valores monetários em um determinado exercício do governo; orçamento deficitário – as receitas são inferiores aos gastos. As políticas monetária e fiscal representam meios alternativos diferentes para as mesmas finalidades. A política econômica deve ser executada através de uma combinação adequada de instrumentos fiscais e monetários. 1.1.3 Política cambial e comercial São as políticas que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da economia. A política cambial refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo, através do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio. O mercado de câmbio (divisas) é formado pelos diversos agentes econômicos que compram e vendem moeda estrangeira conforme suas necessidades. Empresas que vendem mercadorias ou ações no exterior estão aumentando a oferta de moeda estrangeira, em particular o dólar, pois sua receita ocorre em moeda estrangeira. Empresas que compram bens ou ações no exterior estão demandando moeda estrangeira, pois seus gastos ocorrem em dólares. Neste sentido, o preço da moeda estrangeira em relação à moeda nacional é determinado neste mercado. Este preço é chamado de taxa de câmbio (R$/US$). Se o câmbio estiver em R$ 2,50, significa que são necessários R$ 2,50 reais para comprar um dólar. Se este subir para R$ 3,00 por dólar, ocorreu uma desvalorização da moeda local (real) em relação à moeda estrangeira (dólar). O preço da moeda estrangeira elevou-se. 15Economia e fi nanças: conceitos básicos Assim, se o preço sobe devido a um aumento da demanda por dólar, dizemos que ocorreu uma desvalorização do real frente ao dólar. Precisa-se de mais reais para comprar a mesma quantidade de dólares. Se o preço desce devido a um aumento da oferta de dólares, dizemos que ocorreu uma valorização do real frente ao dólar. Menos reais serão necessários para comprar a mesma quantidade de dólares. Cabe explicar que as relações econômicas, comerciais e financeiras dos agentes de determinado sistema econômico, como os agentes de outro sistema econômico (normalmente país), são registradas na Balança de Pagamentos. Eventuais déficits no Balanço de Pagamentos são decorrentes do fato de a entrada de divisas (dólares) ser inferior à saída de divisas. Este fato é resultado de dois desequilíbrios. O primeiro é que se importam bens e serviços menos do que se consegue exportar, resultando em uma saída de divisas maior do que a entrada. O segundo desequilíbrio é causado pelo lado financeiro, onde não se consegue atrair recursos (dólares) em quantidade suficiente para pagar as contas em dólar. A política comercial diz respeito aos instrumentos e incentivos às exportações e/ou estímulos e desestímulos à importação, ou seja, refere-se aos estímulos fiscais (crédito-prêmio do ICMS, IPI, etc.) e creditícios (taxas dejuros subsidiadas) às exportações e ao controle das importações (via tarifas e barreiras quantitativas sobre importações). 1.1.4 Política de rendas É a política que o governo exerce, estabelecendo controles diretos sobre a remuneração dos fatores diretos de produção envolvidos na economia, tais como salários, depreciações, lucros, dividendos e preços dos produtos intermediários e finais. Os principais objetivos dessa política são: propiciar ganhos de poder aquisitivo aos salários, no caso de controle de outros preços; redistribuir a renda; garantir a renda mínima a determinados setores ou classes sociais; reduzir o nível das tensões inflacionárias, visando à estabilidade dos preços. 16 Economia e fi nanças: conceitos básicos 1.2 A intermediação financeira A intermediação financeira é a atividade que tem a finalidade de viabilizar o atendimento das necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos, manifestadas pelos agentes econômicos carentes de recursos, aplicando ao mesmo tempo o excedente monetário dos agentes superavitários, com mínimo de riscos. Segundo Pinheiro (2005), as precondições para a existência da intermediação financeira são: • superação do escambo; • existência da moeda; • excedente financeiro; • bases institucionais para o funcionamento do mercado de intermediação financeira; • existência de agentes econômicos dispostos a trocar ativos monetários por ativos financeiros, dados os riscos e ganhos reais possíveis. A existência da intermediação financeira baseia-se nas imperfeições apresentadas pelo mercado que provocam a superioridade dos custos associados ao investimento direto nos mercados de valores quando comparados aos custos de intermediação. Além disso, existem alguns fatores que inviabilizam a intermediação e afastam os ofertadores dos tomadores, como a falta de garantia, o volume de necessidade de capital e o prazo. Cumprindo um papel importante na transformação de ativos financeiros, a intermediação financeira, através dessas transformações implica algumas funções econômicas, a saber: • redução do risco mediante a diversificação; • adequação às necessidades de emprestadores e tomadores; • gestão do mecanismo de pagamentos. 17Economia e fi nanças: conceitos básicos Os intermediários financeiros procuram compatibilizar as necessidades dos agentes superavitários e deficitários, minimizando ou até eliminando alguns problemas que dificultam as negociações, como, por exemplo, a importância dos prazos e dos riscos. A figura 1 apresenta o processo de intermediação financeira. Figura 1 – Processo de intermediação financeira. AGENTES ECONÔMICOS SUPERAVITÁRIOS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS AGENTES ECONÔMICOS DEFICITÁRIOS • Famílias • Empresas • Governo • Famílias • Empresas • Governo • Famílias • Empresas • Governo Fonte: Pinheiro, 2005. A renda oferecida pelo sistema de produção não é homogênea, e isso leva à existência de agentes superavitários (que têm excedentes de renda porque a renda é maior que o consumo e, assim, dispõem de poupança) e deficitários (que não dispõem de excedentes de renda porque o consumo é igual ou superior à renda), que necessitam de crédito para complementar suas necessidades de consumo. Os agentes superavitários que desejam aplicar suas poupanças para maximizar ganhos recorrem ao mercado financeiro, investindo economias em títulos para receber ganho ao final de determinado período. Essa oferta de recursos pelos superavitários irá financiar as necessidades dos deficitários, que buscam o mercado financeiro para obter créditos para complementar sua renda. Com isso, podemos afirmar que o mercado financeiro transfere as poupanças dos agentes superavitários para os deficitários de uma economia. Nas operações realizadas entre agentes superavitários e deficitários, nem sempre o montante que os ofertadores conseguem acumular é igual às necessidades dos demandantes de recursos. O fato de os intermediários financeiros captarem recursos de vários ofertadores possibilita que eles obtenham recursos suficientes para redistribuição, suprindo as necessidades de cada um de seus clientes (demandantes). Um problema até então já solucionado pelos intermediários financeiros era o prazo das operações. Com a capacidade de represar os recursos canalizados pelos agentes superavitários e de multiplicar a moeda, transformando-a em 18 Economia e fi nanças: conceitos básicos crédito, formam um fundo com volume suficiente para aumentar os prazos de negociação. Com isso, torna-se possível oferecer prazos menores para quem está aplicando recursos e prazos maiores para quem está captando recursos. O risco envolvido nas negociações entre agentes superavitários e deficitários também representa um grande problema, pois, geralmente, quem está aplicando seus recursos procura obter uma maior rentabilidade com o menor risco possível, e quem está tomando recursos procura obter o menor custo oferecendo um mínimo de garantias possível. Assim, cria-se uma incompatibilidade entre as necessidades de risco e, consequentemente de preços. Os intermediários financeiros conseguem compatibilizar essas necessidades mediante a capacidade de: • reduzir o risco por meio de conhecimento ou critério técnico para as pessoas que estão captando; • não concentrar todo o dinheiro em uma empresa ou pessoa somente (princípio da diversificação). Assim, surge a necessidade de se estabelecerem pessoas e instituições especializadas na tarefa de conectar o tomador com o ofertador. Além disso, segundo Pinheiro (2005), a atuação dos intermediários financeiros traz diversos benefícios ao sistema econômico, entre eles: • devido ao seu elevado grau de especialização e sofisticação, os intermediários financeiros podem oferecer produtos e serviços mais adequados para uma clientela diferenciada; • ao conectar-se com vários ofertantes e tomadores de recursos, os intermediários podem aumentar a agilidade e reduzir custos através da escala com que trabalham; • ao manejar um grande fluxo de informações sobre os ofertadores e os tomadores, os intermediários financeiros podem evitar a alocação de recursos de forma improdutiva; • os intermediários financeiros promovem a liquidez do mercado à medida que viabilizam o fluxo de negociação com ativos financeiros. 19Economia e fi nanças: conceitos básicos Referência comentada WALSH, Carl; STIGLITZ, Josephe. Introdução a macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. O livro Introdução à macroeconomia integra os recentes desenvolvimentos associados à inovação e à economia digital recorrendo a exemplos da nova economia. Além disso, a organização do livro foi aperfeiçoada, permitindo que um curso completo de macroeconomia seja dado recorrendo apenas aos primeiros 15 capítulos. Os restantes tratam de matéria opcional, que os professores poderão utilizar de acordo com o tempo disponível e os objetivos do curso. Conteúdo: Parte 1 – Introdução – Macroeconomia e a perspectiva econômica, Pensando como um economista, O sistema de preços, Famílias, empresas e resultados de mercado, Objetivos e indicadores macroeconômicos. Parte 2 – Macroeconomia do pleno emprego – O modelo de pleno emprego, Moeda, bancos e crédito, Finanças públicas e economia aberta no pleno emprego, Crescimento e produtividade. Parte 3 – Flutuações macroeconômicas – Introdução às flutuações macroeconômicas, Despesa agregada e renda, Demanda agregada e inflação, Inflação e desemprego, Papel da política macroeconômica, Política econômica na economia aberta. Parte 4 – O Sistema Financeiro – Guia do investimento para estudantes, Sistema Financeiro Internacional, Controvérsias de política macroeconômica, Política fiscal, déficits e superávits orçamentários, Desenvolvimento e transição. Autoestudo 1. Relacione as colunas. a) Política fiscal ( ) Instrumento da política de relações comerciais e financeiras entre um país e o conjunto dos demais países, está fundamentalmente baseada na administraçãoda taxa de câmbio e no controle das operações cambiais. 20 Economia e fi nanças: conceitos básicos b) Política monetária ( ) Os principais objetivos dessa política são: propiciar ganhos de poder aquisitivo aos salários, no caso de controle de outros preços; redistribuir a renda; garantir a renda mínima a determinados setores ou classes sociais; reduzir o nível das tensões inflacionárias, visando à estabilidade dos preços. c) Política de rendas ( ) É a política de receitas e despesas dos governos federal, estaduais e municipais. Envolve a definição e a aplicação da carga tributária exercida sobre os agentes econômicos, bem como a definição dos gastos do governo. Quando as receitas são superiores à soma das despesas, diz-se que o governo tem um superávit fiscal primário e, caso sejam inferiores, um déficit fiscal primário. d) Política cambial ( ) Conjunto de medidas adotadas pelo governo visando adequar os meios de pagamentos disponíveis às necessidades da economia do país. Uma das principais funções da política monetária é o controle da oferta de moeda e das taxas de juros, a fim de que sejam atingidos os objetivos da política econômica do governo. A atuação do governo procura regular a moeda circulante no mercado financeiro, o que ocasiona reflexos nas taxas de juros. 2. A intermediação financeira é a atividade que tem a finalidade de viabilizar o atendimento das necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos, manifestadas pelos agentes econômicos carentes de recursos, aplicando ao mesmo tempo o excedente monetário dos agentes superavitários, com o mínimo de riscos. A partir disso, quais são as precondições para a existência da intermediação financeira? 21Economia e fi nanças: conceitos básicos 3. Quais são as funções econômicas da intermediação financeira? 4. Que precondições são necessárias para a existência da intermediação financeira? Respostas: 1. d, c, a, b. 2. a) superação do escambo; b) existência da moeda; c) excedente financeiro; d) bases institucionais para o funcionamento do mercado de intermediação financeira; e) existência de agentes econômicos dispostos a trocar ativos monetários por ativos financeiros, dados os riscos e ganhos reais possíveis. 3. a) redução do risco mediante a diversificação; b) adequação às necessidades de emprestadores e tomadores; c) gestão do mecanismo de pagamentos. 4. a) superação do escambo; b) existência da moeda; c) excedente financeiro; d) bases institucionais para o funcionamento do mercado de intermediação financeira; e) existência de agentes econômicos dispostos a trocar ativos monetários por ativos financeiros, dados os riscos e ganhos reais possíveis. Referências ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano Guasti. Curso de administração fi nanceira. São Paulo: Atlas, 2008. LAGIOIA, Umbelina C. T. Fundamentos do Mercado de Capitais. São Paulo: Atlas, 2009. PINHEIRO, J. L. Mercado de Capitais: fundamentos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2005. ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2003. 2 Sistema Financeiro Nacional: segmentos normativo e supervisor Para avaliar o grau de desenvolvimento de um determinado país, há vários indicadores econômicos. Um deles, sem dúvida alguma, é o tamanho e a diversificação de seu Sistema Financeiro. Um Sistema Financeiro forte e bem diversificado é uma condição necessária para atrair as poupanças das unidades superavitárias, sejam estas nacionais ou estrangeiras. É nesse contexto que vamos descrever a atual estrutura do Sistema Financeiro Nacional, começando pelos antecedentes históricos até os órgãos que compõem o segmento normativo. 2.1 Antecedentes históricos A história do Sistema Financeiro organizado no Brasil é muito recente. Isso poderia ser explicado pela tendência estatizadora que remonta à cultura colonial portuguesa escravista. O primeiro Banco do Brasil foi fundado em 1808 com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, vindo a falir em 1829. O Império não sobreviveu ao impacto do término da escravatura em 1888. Não obstante, os primeiros governos republicanos foram militares, mantendo a cultura de poder do Estado. Após a Primeira Grande Guerra, acentuou-se o pensamento nacionalista que daria origem à liderança de Getúlio Vargas, por três décadas, incluindo uma tomada revolucionária do poder. O Brasil começava sua industrialização, 24 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor mas permanecia basicamente um exportador de café. Os grandes projetos de industrialização foram viabilizados com investimentos estatais, destacando- se Petrobras, Companhia Siderúrgica Nacional e Rede Ferroviária Federal. Relembre-se que, com a criação do monopólio estatal do petróleo, a única refinaria privada existente no Rio de Janeiro, a Refinaria de Manguinhos, foi excepcionalmente autorizada a funcionar, mas proibida de expandir seu volume de refino. Antes da década de 1960, os brasileiros investiam principalmente em ativos reais (imóveis), evitando aplicações em títulos públicos ou privados. A um ambiente econômico de inflação crescente – principalmente a partir do final da década de 1950 – se somava uma legislação que limitava em 12% ao ano a taxa máxima de juros, a chamada Lei da Usura, também limitando o desenvolvimento de um Mercado de Capitais ativo. Essa situação começa a se modificar quando o governo que assumiu o poder em abril de 1964 iniciou um programa de grandes reformas na economia nacional, dentre as quais figurava a reestruturação do mercado financeiro, quando diversas novas leis foram editadas. Entre aquelas que tiveram maior importância para o Mercado de Capitais podemos citar a Lei n. 4.537/64, que instituiu a correção monetária, através da criação das ORTN, a Lei n. 4.595/64, denominada Lei da Reforma Bancária, que reformulou todo o sistema nacional de intermediação financeira e criou o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central e, principalmente, a Lei n. 4.728, de 14/4/1965, primeira Lei de Mercado de Capitais, que disciplinou esse mercado e estabeleceu medidas para seu desenvolvimento. A introdução da legislação acima referida resultou em diversas modificações no mercado acionário, tais como: a reformulação da legislação sobre bolsa de valores, a transformação dos corretores de fundos públicos em sociedades corretoras, forçando a sua profissionalização, a criação dos bancos de investimento, a quem foi atribuída a principal tarefa de desenvolver a indústria de fundos de investimento. Com a finalidade específica de regulamentar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários, as bolsas de valores, os intermediários financeiros e as companhias de capital aberto, funções hoje exercidas pela CVM, foi criada uma diretoria no Banco Central – Diretoria de Mercado de Capitais. 25Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Ao mesmo tempo, foram introduzidos alguns incentivos para a aplicação no mercado acionário, dentre as quais destacamos os Fundos 157, criados pelo Decreto Lei n. 157, de 10/2/1967. Estes fundos eram uma opção dada aos contribuintes de utilizar parte do imposto devido, quando da Declaração do Imposto de Renda, em aquisição de quotas de fundos de ações de companhias abertas administrados por instituições financeiras de livre escolha do aplicador. Com o grande volume de recursos carreados para o mercado de acionário, principalmente em decorrência dos incentivos fiscais criados pelo governo federal, houve um rápido crescimento da demanda por ações pelos investidores, sem que houvesse aumento simultâneo de novas emissões de ações pelas empresas. Isso desencadeou o boom da Bolsa do Rio de Janeiro, quando, entre dezembro de 1970 e julho de 1971, houve uma forte onda especulativa e as cotações das ações não pararam de subir. Após alcançar o seu ponto máximo em julho de 1971, iniciou-se um processo de realização de lucros pelos investidores mais esclarecidos e experientes que começarama vender suas posições. O quadro foi agravado progressivamente quando novas emissões começaram a chegar às bolsas, aumentando a oferta de ações, em um momento em que muitos investidores, assustados com a rapidez e a magnitude do movimento de baixa, procuravam vender seus títulos. O movimento especulativo, conhecido como “boom de 1971”, teve curta duração, mas suas consequências foram vários anos de mercado deprimido, pois algumas ofertas de ações de companhias extremamente frágeis e sem qualquer compromisso com seus acionistas, ocorridas no período, geraram grandes prejuízos e mancharam de forma surpreendentemente duradoura a reputação do mercado acionário. Apesar disso, notou-se uma recuperação das cotações, a partir de 1975, devido a novos aportes de recursos (as reservas técnicas das seguradoras, os recursos do Fundo PIS/Pasep, adicionais do Fundo 157 e a criação das Sociedades de Investimento, Decreto Lei n. 1.401, para captar recursos externos e aplicar no mercado de ações), além de maiores investimentos por parte dos fundos de pensão. Ao longo do tempo, vários outros incentivos foram adotados, visando incentivar o crescimento do mercado, tais como: a isenção fiscal dos ganhos 26 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor obtidos em bolsa de valores, a possibilidade de abatimento no Imposto de Renda de parte dos valores aplicados na subscrição pública de ações decorrentes de aumentos de capital e programas de financiamento a juros subsidiados efetuados pelo BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social aos subscritores de ações distribuídas publicamente. Foi dentro desse quadro de estagnação e tentativa de recuperação do mercado acionário que, em 1976, foram introduzidas duas novas normas legais, ainda em vigor: a Lei n. 6.404/1976, nova Lei das Sociedades Anônimas que visava modernizar as regras que regiam as sociedades anônimas, até então reguladas por um antigo Decreto-Lei de 1940 e a Lei n. 6.385/76, segunda Lei do Mercado de Capitais que, entre outras inovações, que criou a CVM e introduziu no mercado uma instituição governamental destinada exclusivamente a regulamentar e desenvolver o Mercado de Capitais, fiscalizar as bolsas de valores e as companhias abertas. Não obstante todos esses incentivos, o Mercado de Capitais não teve o crescimento esperado, ainda que em alguns momentos tenha havido um aumento na quantidade de companhias abrindo seu capital e um volume razoável de recursos captados pelas empresas através de ofertas públicas de ações tenha ocorrido durante a década de 1980. Apesar da experiência pioneira para atrair capitais externos para aplicação no Mercado de Capitais brasileiro, representada pelo Decreto-Lei n. 1.401/76, o processo de internacionalização do mercado chega ao país no final da década de 1980, sendo seu marco inicial a edição da Resolução do CMN n. 1.289/87 e seus anexos. A partir de meados da década de 1990, com a aceleração do movimento de abertura da economia brasileira, aumenta o volume de investidores estrangeiros atuando no Mercado de Capitais brasileiro. Além disso, algumas empresas brasileiras começam a acessar o mercado externo através da listagem de suas ações em bolsas de valores estrangeiras, principalmente a New York Stock Exchange, sob a forma de ADRs – American Depositary Reciepts com o objetivo de se capitalizar através do lançamento de valores mobiliários no exterior. Ao listar suas ações nas bolsas americanas, as companhias abertas brasileiras foram obrigadas a seguir diversas regras impostas pela SEC – Securities and Exchange Commission, órgão regulador do Mercado de Capitais norte- 27Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor americano, relacionadas a aspectos contábeis, de transparência e divulgação de informações, os chamados “princípios de governança corporativa”. A partir daí, as empresas brasileiras começam a ter contato com acionistas mais exigentes e sofisticados, acostumados a investir em mercados com práticas de governança corporativa mais avançadas que as aplicadas no mercado brasileiro. Ao número crescente de investidores estrangeiros soma-se uma maior participação de investidores institucionais brasileiros de grande porte e mais conscientes de seus direitos. Com o passar do tempo, o Mercado de Capitais brasileiro passou a perder espaço para outros mercados devido à falta de proteção ao acionista minoritário e a incertezas em relação às aplicações financeiras. A falta de transparência na gestão e a ausência de instrumentos adequados de supervisão das companhias influenciavam a percepção de risco e, consequentemente, aumentavam o custo de capital das empresas. Algumas iniciativas institucionais e governamentais foram implementadas nos últimos anos com o objetivo de revitalizar o mercado brasileiro de capitais, aperfeiçoando a sua regulamentação, e assegurando maior proteção ao investidor e a melhoria das práticas de governança das empresas brasileiras. Destacam-se entre elas a aprovação da Lei n. 10.303/01 e a criação do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de Governança Corporativa pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). 2.1.1 A Reforma da Lei das Sociedades Anônimas A Lei n. 6.404/76 passou por uma reforma significativa em 2001, empreendida pela Lei n. 10.303, de 31 de outubro. As alterações ocorridas tocam em alguns temas fundamentais do direito societário, em especial no que diz respeito às companhias abertas. Dentre os mais importantes, citaríamos os seguintes: • nova proporção entre ações ordinárias e preferenciais (art. 15, §2º); • alteração no regime de preferências e vantagens atribuídas às ações preferenciais (art. 17); • reforço da disciplina relativa aos acordos de acionistas (art. 118, §§ 6º a 11); 28 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor • retorno do direito dos titulares de ações ordinárias à oferta pública obrigatória quando da alienação de controle (tag along), ao preço de 80% do valor pago por ação integrante do bloco de controle (art. 254-A); • necessidade de realização de oferta pública obrigatória para fechamento de capital de companhia aberta (art. 4º, §§ 4º e 5º e art. 4-A); • direito de certas minorias acionárias detentoras de determinado percentual de participação elegerem, por votação em separado, representantes no Conselho de Administração e Fiscal (art. 141, §§ 4º a 8º e art. 161, §4º). Um dos principais objetivos da reforma da lei foi o fortalecimento dos direitos das minorias acionárias. É interessante observar que a maior parte das empresas que vieram a mercado a partir de 2004, ano que marcou a retomada das emissões de valores mobiliários, não se limitou às novas disposições trazidas pela reforma. Com efeito, grande parte dessas empresas terminou por consagrar em seus estatutos, voluntariamente, dispositivos ainda mais benéficos, sob o ponto de vista dos acionistas minoritários, do que aqueles introduzidos pela reforma de 2001. Assim, por exemplo, a quase totalidade das novas companhias tem seu capital composto exclusivamente por ações ordinárias e, quando existem ações preferenciais, estas frequentemente dispõem de vantagens financeiras superiores às exigidas pela legislação, além do direito de voto em certas operações fundamentais, como é o caso das re-estruturações societárias. Da mesma forma, é cada vez mais comum que os estatutos aumentem para 100% o direito ao tag along conferido aos acionistas ordinaristas e, em alguns casos, também aos preferencialistas. 2.1.2 O Novo Mercado No final dos anos 90 era evidente a crise de grandes proporções pela qual passava o mercado de ações no país. A título de exemplo, o número de companhias listadas na Bovespa tinha caído de 550 em 1996 para 440 em 2001. O volume negociado após atingir US$ 191 bilhões em 1997, recuara para US$ 101 bilhões em 2000 e US$ 65 bilhões em 2001. Além disso, muitas companhias fechavam o capital e poucas abriam. 29Sistema FinanceiroNacional: segmento normativo e supervisor É nesse cenário que a Bovespa cria o Novo Mercado como um segmento especial de listagem de ações de companhias que se comprometam voluntariamente a adotar as boas práticas de governança corporativa. Numa necessária adaptação à realidade do mercado de ações brasileiro, são criados dois estágios intermediários: Níveis I e II, que, juntos com o Novo Mercado, estabelecem regras que envolvem melhorias na divulgação de informações, nos direitos dos acionistas e na governança das companhias. A ideia que norteou a criação do Novo Mercado tem seu fundamento na constatação de que entre os diversos fatores que contribuíam para a fragilidade do Mercado de Capitais brasileiro, destacava-se a falta de proteção aos acionistas minoritários. A percepção, por parte dos investidores, de que corriam riscos que não eram apenas aqueles associados ao negócio da companhia, por não estarem adequadamente protegidos pela regulamentação, fazia com que eles aplicassem pesados descontos sobre os preços das ações, reduzindo o seu valor de mercado. Isso elevava o custo de capital das empresas e gerava um ciclo vicioso, pois também as afastava do mercado. Entendeu-se que a valorização e a liquidez das ações negociadas no mercado seriam influenciadas positivamente pelo grau de segurança que os direitos adicionais concedidos aos acionistas poderiam oferecer e pela qualidade das informações prestadas ao mercado pelas empresas. Por isso, é esperado que as companhias cujas ações estejam listadas em algum dos segmentos diferenciados de governança corporativa, nas quais os riscos não ligados ao negócio são minimizados, apresentem prêmios de risco consideravelmente reduzidos, implicando valorização do patrimônio de todos os acionistas. 2.2 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional O Sistema Financeiro Nacional pode ser entendido como o conjunto de instituições e órgãos que regulam, fiscalizam e executam as operações relativas à circulação da moeda e do crédito. Ele é composto por três segmentos, um normativo, um supervisor e outro operativo. A figura 2 apresenta a estrutura do Sistema Financeiro Nacional. 30 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Figura 2 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Órgãos Normativos Entidades Supervisoras Operadoras Conselho Monetário Nacional Banco Central do Brasil Instituições fi nanceiras captadoras de depósitos à vista Demais intermediários fi nanceiros e administradores de recursos de terceiros Comissão de Valores Mobiliários Bolsas de valores e bolsas de mercadorias Sociedades corretoras Conselho Nacional de Seguros Privados Superintendência de Seguros Privados IRB – Brasil Resseguros Sociedades seguradoras Sociedade de capitalização e entidades abertas de previdência complementar Conselho Nacional de Previdência Complementar Secretaria de Previdência Complementar Entidades fechadas de Previdência Complementar (fundos de pensão) Fonte: adaptado de Banco Central, 2011. 2.2.1 Segmento normativo O segmento normativo é composto pelos seguintes órgãos: • o Conselho Monetário Nacional – CMN; • o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP; • o Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC. Conselho Monetário Nacional – CMN Instituído pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, é o órgão responsável por expedir diretrizes gerais para o bom funcionamento do SFN. Integram o CMN o ministro da Fazenda (presidente), o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o presidente do Banco Central do Brasil. Dentre suas funções estão: • adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia; 31Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor • regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; • orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; • zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa. A partir dessas funções básicas, o CMN fica responsável por todo um conjunto de atribuições específicas, cabendo destacar: • autorizar as emissões de papel-moeda; • aprovar os orçamentos monetários preparados pelo Bacen; • fixar diretrizes e normas da política cambial; • disciplinar o crédito em suas modalidades e as formas das operações creditícias; • estabelecer limites para a remuneração das operações e dos serviços bancários ou financeiros; • determinar as taxas do recolhimento compulsório das instituições financeiras; • regulamentar as operações de redesconto de liquidez; • outorgar ao Bacen o monopólio de operações de câmbio quando o balanço de pagamento o exigir; • estabelecer normas a serem seguidas pelo Bacen nas transações com títulos públicos; • regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização de todas as instituições financeiras que operam no país. Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP O Conselho Nacional de Seguros Privados é órgão responsável por fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados; é composto pelo ministro da Fazenda (presidente), representante do Ministério da Justiça, representante do Ministério da Previdência Social, superintendente da Superintendência de 32 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Seguros Privados, representante do Banco Central do Brasil e representante da Comissão de Valores Mobiliários. Dentre as funções do CNSP estão: • regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao SNSP, bem como a aplicação das penalidades previstas; • fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro; • estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro; prescrever os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas operações e disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor. Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC O Conselho Nacional de Previdência Complementar é um órgão colegiado que integra a estrutura do Ministério da Previdência Social e cuja competência é regular o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar. 2.2.2 Segmento supervisor O subsistema supervisor tem a função de fiscalizar e controlar as normas que foram elaboradas pelas autoridades monetárias. Este segmento é composto pelos seguintes órgãos: • o Banco Central – Bacen; • a Comissão de Valores Mobiliários – CVM; • a Superintendência de Seguros Privados – Susep; • a Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc. 33Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Banco Central – Bacen O Bacen é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, que também foi criada pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É o principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional, tendo por objetivos: • zelar pela adequada liquidez da economia; • manter as reservas internacionais em nível adequado; • estimular a formação de poupança; • zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do Sistema Financeiro. Dentre suas atribuições estão: • emitir papel-moeda e moeda metálica; • executar os serviços do meio circulante; receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; • realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; • regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; • efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais;• exercer o controle de crédito; exercer a fiscalização das instituições financeiras; • autorizar o funcionamento das instituições financeiras; • estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras; • vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. 34 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Sua sede fica em Brasília, capital do país, e tem representações nas capitais dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Pará. Comissão de Valores Mobiliários – CVM A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, instituída pela Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. É responsável por regulamentar, desenvolver, controlar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários do país. Para este fim, exerce as funções de: • assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; proteger os titulares de valores mobiliários; • evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado; • assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido; assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; • estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; • promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas. Superintendência de Seguros Privados – Susep A Superintendência de Seguros Privados é um autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda; é responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização. Dentre suas atribuições estão: • fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de Previdência Privada Aberta e Resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; 35Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor • atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; • zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; • promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição; zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado; • disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas; • cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por este forem delegadas; • prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP. Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). A PREVIC atua como entidade de fiscalização e de supervisão das atividades das entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar, observando, inclusive, as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar. Referência comentada AZEVEDO, Simone; BARCELLOS, Marta. Histórias do Mercado de Capitais no Brasil. Rio de Janeiro: CAMPUS, 2010. Dos primórdios da bolsa de valores à evolução do mercado e aos episódios que marcaram a presença do país no cenário internacional, Simone Azevedo e Marta Barcellos apresentam a história do Mercado de Capitais do Brasil. Por 36 Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor meio de entrevistas, relatos e depoimentos realizados com personalidades que fizeram parte da trajetória da bolsa de valores no país, os leitores poderão ter acesso a depoimentos e a memórias de personagens como Delfim Netto até os antigos presidentes da bolsa, que mostram como foi possível vencer os obstáculos para que a bolsa chegasse ao que é hoje. Autoestudo 1. O Sistema Financeiro Nacional pode ser entendido como o conjunto de instituições e órgãos que regulam, fiscalizam e executam as operações relativas à circulação da moeda e do crédito. Ele é formado por três segmentos. Quais são eles? 2. O segmento normativo é composto por três órgãos. Quais são eles? 3. Relacione as colunas. a) Conselho Monetário Nacional ( ) fi xar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. b) Conselho Nacional de Seguros Privados ( ) é um órgão colegiado que integra a estrutura do Ministério da Previdência Social. c) Conselho Nacional de Previdência Complementar ( ) adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia. 4. O Bacen é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, criada em dezembro de 1964. É o principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e o responsável por garantir o poder de compra da moeda além de possuir alguns objetivos. Quais são eles? 37Sistema Financeiro Nacional: segmento normativo e supervisor Respostas: 1. Segmentos normativo, supervisor e operativo. 2. Conselho Monetário Nacional, Conselho Nacional de Seguros Privados e Conselho Nacional de Previdência Complementar. 3. a, c, b. 4. a) zelar pela adequada liquidez da economia; b) manter as reservas internacionais em nível adequado; c) estimular a formação de poupança; d) zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do Sistema Financeiro. Referências BANCO CENTRAL DO BRASIL. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 18 jan 2011. FORTUNA, Eduardo. Mercado fi nanceiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. LAGIOIA, Umbelina C. T. Fundamentos do Mercado de Capitais. São Paulo: Atlas, 2009. PORTAL DO INVESTIDOR. História do Mercado de Capitais. Disponível em: <http://www.portaldoinvestidor.gov.br>. Acesso em: 16 jan 2011. 3 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo Neste capítulo vamos analisar as funções e os objetivos das instituições que compõem o segmento operativo do Sistema Financeiro Nacional e que são normatizados pelo Conselho Monetário Nacional, pelo Conselho Nacional de Seguros Privados e pelo Conselho de Gestão de Previdência Complementar. De acordo com Lagioia (2009), o segmento operativo aplica as normas e cria as condições operacionais para implementá-las. Este segmento é composto por instituições financeiras públicas e privadas que atuam no Sistema Financeiro, as quais podem ser agrupadas em três grupos: • as que são normatizadas pelo Conselho Monetário Nacional; • as que são normatizadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados; • as que são normatizadas pelo Conselho de Gestão de Previdência Complementar. 40 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo 3.1 Instituições normatizadas pelo Conselho Monetário Nacional 3.1.1 Instituições captadoras de depósitos à vista São instituições que captam a poupança dos agentes superavitários e fornecem sob a forma de empréstimos ou financiamentos aos agentes deficitários. De acordo com informações do Banco Central, fazem parte desse grupo as seguintes instituições: • bancos múltiplos com carteira comercial – os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições financeiras, por intermédiodas seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima. As instituições com carteira comercial podem captar depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a expressão “banco”; • bancos comerciais – os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral. A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o qual pode também captar depósitos a prazo. Deve ser constituído sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão “banco”; • Caixa Econômica Federal – a Caixa Econômica Federal, criada em 1861, está regulada pelo Decreto-Lei n. 759, de 12 de agosto de 1969, 41Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo como empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda. Trata-se de instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista, realizar operações ativas e efetuar prestação de serviços. Uma característica distintiva da Caixa é que ela prioriza a concessão de empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social, saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte. Pode operar com crédito direto ao consumidor, financiando bens de consumo duráveis, emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, bem como tem o monopólio do empréstimo sob penhor de bens pessoais e sob consignação e tem o monopólio da venda de bilhetes de loteria federal. Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos os recursos oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH); • cooperativas de crédito – as cooperativas de crédito observam, além da legislação e normas do Sistema Financeiro, a Lei n. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. Atuando tanto no setor rural quanto no urbano, as cooperativas de crédito podem se originar da associação de funcionários de uma mesma empresa ou grupo de empresas, de profissionais de determinado segmento, de empresários ou mesmo adotar a livre admissão de associados em uma área determinada de atuação, sob certas condições. Os eventuais lucros auferidos com suas operações – prestação de serviços e oferecimento de crédito aos cooperados – são repartidos entre os associados. As cooperativas de crédito devem adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “cooperativa”, vedada a utilização da palavra “banco”. Devem possuir o número mínimo de vinte cooperados e adequar sua área de ação às possibilidades de reunião, controle, operações e prestações de serviços. Estão autorizadas a realizar operações de captação por meio de depósitos à vista e a prazo somente de associados, de empréstimos, repasses e refinanciamentos de outras entidades financeiras, e de doações. Podem conceder crédito, somente a associados, por meio de desconto de títulos, empréstimos, financiamentos, e realizar aplicação de recursos no mercado financeiro. 42 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo 3.1.2 Bolsa de valores As bolsas de valores são sociedades anônimas ou associações civis, com o objetivo de manter local ou sistema adequado ao encontro de seus membros e à realização entre eles de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa. 3.1.3 Bolsas de mercadorias e futuros As bolsas de mercadorias e futuros são associações privadas civis, com o objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e operacionalizar um mercado de derivativos livre e transparente, que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices, taxas de juro, moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou variável macroeconômica cuja incerteza de preço no futuro possa influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários. 3.1.4 Sociedades corretoras São instituições financeiras membros da bolsa de valores, constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por cotas de responsabilidade limitada. 3.1.5 Outros intermediários financeiros São instituições administradoras de recursos de terceiros. Esse grupo é composto pelas seguintes instituições: • agências de fomento – têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e de giro associado a projetos na Unidade da Federação onde tenham sede. Devem ser constituídas sob a forma 43Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo de sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle de Unidade da Federação, sendo que cada Unidade só pode constituir uma agência. Tais entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no Banco Central, contratar depósitos interfinanceiros na qualidade de depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras instituições financeiras. De sua denominação social deve constar a expressão “agência de fomento” acrescida da indicação da Unidade da Federação Controladora. É vedada a sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional. As agências de fomento devem constituir e manter, permanentemente, fundo de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor de suas obrigações, a ser integralmente aplicado em títulos públicos federais; • associações de poupança e empréstimo – as associações de poupança e empréstimo são constituídas sob a forma de sociedade civil, sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao mercado imobiliário e ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). As operações passivas são constituídas de emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósitos de cadernetas de poupança, depósitos interfinanceiros e empréstimos externos. Os depositantes dessas entidades são considerados acionistas da associação e, por isso, não recebem rendimentos, mas dividendos. Os recursos dos depositantes são, assim, classificados no patrimônio líquido da associação e não no passivo exigível; • bancos de câmbio – os bancos de câmbio são instituições financeiras autorizadas a realizar, sem restrições, operações de câmbio e operações de crédito vinculadas às de câmbio, como financiamentos à exportação e importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio, e ainda a receber depósitos em contas sem remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio eletrônico pelo titular, cujos recursos sejam destinados à realização das operações acima citadas. Na denominação dessas instituições deve constar a expressão “banco de câmbio”; • bancosde desenvolvimento – os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas pelos governos estaduais e 44 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo têm como objetivo precípuo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao financiamento, a médio e a longo prazos, de programas e projetos que visem a promover o desenvolvimento econômico e social do respectivo estado. As operações passivas são depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e de Títulos de Desenvolvimento Econômico. As operações ativas são empréstimos e financiamentos, dirigidos prioritariamente ao setor privado. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima, com sede na capital do estado que detiver seu controle acionário, devendo adotar, obrigatória e privativamente, em sua denominação social, a expressão “banco de desenvolvimento”, seguida do nome do estado em que tenha sede; • bancos de investimentos – os bancos de investimento são instituições financeiras privadas especializadas em operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “banco de investimento”. Não possuem contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. As principais operações ativas são financiamento de capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de empréstimos externos; • Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES – o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado em 1952 como autarquia federal, foi enquadrado como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, pela Lei n. 5.662, de 21 de junho de 1971. O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Suas linhas de apoio contemplam financiamentos de longo prazo e custos competitivos, para o desenvolvimento de projetos de 45Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no país, bem como para o incremento das exportações brasileiras. Contribui, também, para o fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e desenvolvimento do Mercado de Capitais. A BNDESPAR, subsidiária integral, investe em empresas nacionais através da subscrição de ações e debêntures conversíveis. O BNDES considera ser de fundamental importância, na execução de sua política de apoio, a observância de princípios ético-ambientais e assume o compromisso com os princípios do desenvolvimento sustentável. As linhas de apoio financeiro e os programas do BNDES atendem às necessidades de investimentos das empresas de qualquer porte e setor, estabelecidas no país. A parceria com instituições financeiras, com agências estabelecidas em todo o país, permite a disseminação do crédito, possibilitando um maior acesso aos recursos do BNDES; • companhias hipotecárias – as companhias hipotecárias são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade anônima, que têm por objeto social conceder financiamentos destinados à produção, reforma ou comercialização de imóveis residenciais ou comerciais aos quais não se aplicam as normas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Suas principais operações passivas são: letras hipotecárias, debêntures, empréstimos e financiamentos no país e no exterior. Suas principais operações ativas são: financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais, aquisição de créditos hipotecários, refinanciamentos de créditos hipotecários e repasses de recursos para financiamentos imobiliários. Tais entidades têm como operações especiais a administração de créditos hipotecários de terceiros e de fundos de investimento imobiliário; • cooperativas centrais de crédito – as cooperativas centrais de crédito, formadas por cooperativas singulares, organizam em maior escala as estruturas de administração e suporte de interesse comum das cooperativas singulares filiadas, exercendo sobre elas, entre outras funções, supervisão de funcionamento, capacitação de administradores, gerentes e associados, e auditoria de demonstrações financeiras; 46 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo • sociedades de crédito, financiamento e investimento – as sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas por financeiras, foram instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda n. 309, de 30 de novembro de 1959. São instituições financeiras privadas que têm como objetivo básico a realização de financiamento para a aquisição de bens, serviços e capital de giro. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão “crédito, financiamento e investimento”. Tais entidades captam recursos por meio de aceite e colocação de Letras de Câmbio; • sociedades de crédito imobiliário – as sociedades de crédito imobiliário são instituições financeiras criadas pela Lei n. 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no financiamento habitacional. Constituem operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança, a emissão de letras e cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são: financiamento para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “crédito imobiliário”; • sociedades de crédito ao microempreendedor – as sociedades de crédito ao microempreendedor, criadas pela Lei n. 10.194, de 14 de fevereiro de 2001, são entidades que têm por objeto social exclusivo a concessão de financiamentos e a prestação de garantias a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas, com vistas a viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequeno porte. São impedidas de captar, sob qualquer forma, recursos junto ao público, bem como emitir títulos e valores mobiliários destinados à colocação e à oferta públicas. Devem ser constituídas sob a forma de companhia fechada ou de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “sociedade de crédito ao microempreendedor”, vedada a utilização da palavra “banco”; 47Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo • administradoras de consórcios – as administradoras de consórcio são pessoas jurídicas prestadoras de serviços relativos à formação, organização e administração de grupos de consórcio, cujas operações estão estabelecidas na Lei n. 5.768, de 20 de dezembro de 1971. Ao Banco Central do Brasil, por força do disposto no art. 33 da Lei n. 8.177, de 1º de março de 1991, cabe autorizar a constituição de grupos de consórcio, a pedido de administradoras previamente constituídas sem interferência expressa da referida autarquia, mas que atendam a requisitos estabelecidos, particularmente quanto à capacidade financeira, econômica e gerencial da empresa. Também cumpre ao Bacen fiscalizar as operações da espécie e aplicar as penalidades cabíveis. Ademais, com base no art. 10 da Lei n. 5.768, o Bacen pode intervir nas empresas de consórcio e decretar sua liquidação extrajudicial. O grupoé uma sociedade de fato, constituída na data da realização da primeira assembleia geral ordinária por consorciados reunidos pela administradora, que coletam poupança com vistas à aquisição de bens, conjunto de bens ou serviço turístico, por meio de autofinanciamento; • sociedades de arrendamento mercantil – as sociedades de arrendamento mercantil são constituídas sob a forma de sociedade anônima, devendo constar obrigatoriamente na sua denominação social a expressão “arrendamento mercantil”. As operações passivas dessas sociedades são emissão de debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. Suas operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de direitos creditórios e, principalmente, por operações de arrendamento mercantil de bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil; • sociedades corretoras de câmbio – as sociedades corretoras de câmbio são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “corretora de câmbio”. Têm por objeto social exclusivo a intermediação em operações de câmbio e a prática de operações no 48 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo mercado de câmbio de taxas flutuantes. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil; • sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários – as sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Dentre seus objetivos estão: operar em bolsas de valores, subscrever emissões de títulos e valores mobiliários no mercado; comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros; encarregar-se da administração de carteiras e da custódia de títulos e valores mobiliários; exercer funções de agente fiduciário; instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento; emitir certificados de depósito de ações e cédulas pignoratícias de debêntures; intermediar operações de câmbio; praticar operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes; praticar operações de conta margem; realizar operações compromissadas; praticar operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e de terceiros; operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil. Os fundos de investimento, administrados por corretoras ou outros intermediários financeiros, são constituídos sob forma de condomínio e representam a reunião de recursos para a aplicação em carteira diversificada de títulos e valores mobiliários, com o objetivo de propiciar aos condôminos valorização de quotas a um custo global mais baixo. A normatização, concessão de autorização, registro e a supervisão dos fundos de investimento são de competência da Comissão de Valores Mobiliários; • sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários – as sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “distribuidora de títulos e valores mobiliários”. Algumas de suas atividades: intermedeiam a oferta pública e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado; administram e custodiam as carteiras de títulos e valores mobiliários; instituem, organizam e administram fundos e clubes de investimento; operam no mercado 49Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo acionário, comprando, vendendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive ouro financeiro, por conta de terceiros; fazem a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias; efetuam lançamentos públicos de ações; operam no mercado aberto e intermedeiam operações de câmbio. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil. 3.2 Instituições normatizadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados 3.2.1 Sociedades seguradoras São entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas em pactuar contrato, por meio do qual assumem a obrigação de pagar ao contratante (segurado), ou a quem este designar, uma indenização, no caso em que advenha o risco indicado e temido, recebendo, para isso, o prêmio estabelecido. 3.2.2 Resseguradores Entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que têm por objeto exclusivo a realização de operações de resseguro e retrocessão. O resseguro é o seguro das seguradoras. É um contrato em que o ressegurador assume o compromisso de indenizar a companhia seguradora (cedente) pelos danos que possam vir a ocorrer em decorrência de suas apólices de seguro. Quando uma seguradora aceita um risco superior à sua capacidade financeira, para garanti-lo, precisa repassar a totalidade, ou parte dele, a uma resseguradora que concorda em indenizá-la por eventuais perdas que venha a sofrer em função das apólices de seguro que vendeu. A retrocessão é a operação feita pelo ressegurador e que consiste na cessão de parte das responsabilidades por ele aceitas a outro, ou outros resseguradores. 50 Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo 3.2.3 Sociedades de capitalização São entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de capitalização) que têm por objeto o depósito periódico de prestações pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo contratado, o direito de resgatar parte dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente; conferindo, ainda, quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro. 3.2.4 Entidades abertas de previdência complementar São entidades constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. São regidas pelo Decreto-Lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, e pela Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001. As funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador são exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). 3.3 Instituições normatizadas pelo Conselho de Gestão de Previdência Complementar Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) são organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos, e são acessíveis, exclusivamente, aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, entes denominados patrocinadores, ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. As entidades de previdência fechada devem seguir as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução n. 51Sistema Financeiro Nacional: segmento operativo 3.121, de 25 de setembro de 2003, no que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios. Referência comentada AGUSTINI, Carlos Alberto Di. Mercado de Capitais e análise de ações. São Paulo: Globus, 2010. Este livro apresenta informações úteis para o investidor que quer tomar decisões que maximizem os ganhos e minimizem os riscos na bolsa de valores. A obra aborda os principais erros que podem ser cometidos pelo investidor inexperiente, apresenta a estrutura do mercado à vista e discute, com exemplos, os índices da bolsa de valores (em particular a BM&F e Bovespa S.A.). Além disso, são comparadas, de uma forma geral, escolas
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